Nº: Nome: Est. Literários 3º ano Rev. Gabarito – Inter. Poema I Wilton Turma: Out/10 O que você deve saber sobre INTERPRETAÇÃO DE TEXTO (POEMA) I “Confidência de Itabirano” é um dos muitos poemas em que aparecem as marcas de origem de Carlos Drummond de Andrade, característica recorrente na produção poética do modernista. Itabira é a “província onde nasceu o homem e se criou o poeta” e é de lá que Drummond recolhe fragmentos de sua história pessoal, de sua família e transforma tudo isso em matéria poética. Confidência do Itabirano O poema está estruturado em quatro estrofes de tamanhos variados. Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Já na primeira estrofe, especificamente nesses dois primeiros versos, o eu lírico informa ao leitor que não só nasceu em Itabira, como, “principalmente”, nasceu nessa cidade. Essa distinção é importante. O advérbio “principalmente” denota a importância que o eu lírico atribui ao fato de ter nascido em Itabira e não em outro local qualquer. Itabira do Mato Dentro está presente em grande parte da obra drummoniana. Esse “modo mineiro de ver a vida” confere à poesia do modernista uma singularidade tal que o poeta chegou a reconhecer no conjunto de sua obra uma “marca” de seu estado natal, ou como ele próprio gostava de afirmar, um “selo de Minas”. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. A produção de fortes imagens metafóricas, tão comum em Drummond, aparece neste terceiro verso, quando o eu lírico se autodenomina “de ferro”. Essa metáfora é explorada de maneira peculiar, recorrendo aos minérios que enriqueciam a Itabira do artista. O eu lírico atribui seu jeito de ser e sua cosmovisão a uma base material, concreta. O sujeito poético julga-se “de ferro”, duro e inflexível, devido ao fato de ter nascido em Itabira. Essa cidade ficou conhecida em sua época áurea pelo potencial aurífero e, posteriormente, pelo potencial ferrífero, motivos de orgulho para seus habitantes. Noventa por cento de ferro nas calçadas. O poeta se refere ao próprio solo de Itabira, rico em ferro. Oitenta por cento de ferro nas almas. Grande parte da “alma” do eu lírico é composta pelo “ferro” de Itabira, ou seja, pela marca dessa cidade na personalidade dele. A principal atividade econômica da cidade mineira era o ferro, por isso seus habitantes estavam “contaminados” pela “dureza” e “tenacidade” desse minério. Observação: mesmo quando Drummond se muda definitivamente para o Rio de Janeiro a fim de assumir o cargo de chefe de gabinete, convidado pelo então Ministro da Educação e Saúde Pública 1 Gustavo Capanema, o poeta não perde contato com suas origens. No Rio de Janeiro, Drummond intensifica sua carreira intelectual (sem deixar de lado sua carreira como funcionário público). E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. Esse “alheamento” citado no verso marca o tempo presente do eu lírico. O passado representa uma fuga. O presente é o tempo do individualismo – característica das grandes metrópoles modernas – e de um ritmo de vida que leva o eu lírico ao isolamento. A poesia recupera um tempo de sensibilidade. É marca freqüente em Drummond a oposição entre o tempo passado e o presente. Se o passado se identifica com o prazer, o presente é a expectativa do vazio que leva o eu lírico a temer o futuro incerto. Segunda estrofe A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, Essa segunda estrofe é aberta com um verso que sugere ausência de amor. O eu lírico tem vontade de amar, mas não há concretização desse sentimento. vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. O poeta mescla ao seu olhar nostálgico uma dose de ironia e amargura, mostrando Itabira como uma cidade “de noites brancas” onde nada de muito inovador ocorre e onde não há horizontes. Aqui, se presentifica uma dupla imagem: literalmente, uma Itabira sem horizontes, sem montanhas, aspecto geográfico bastante característico de Minas Gerais, e a ausência total de perspectivas dessa pequena cidade do interior. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. Nesses versos, os verbos “sofrer” e “diverte” estabelecem uma antítese. Embora a saudade da cidade natal faça o eu lírico sofrer, é também motivo de diversão. Terceira estrofe De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: Nessa terceira estrofe, o eu lírico instaura um interlocutor, marcado pelo pronome “te”. Dessa forma, parece demonstrar uma necessidade de compartilhar suas lembranças. Esse interlocutor poderia funcionar como uma testemunha capaz de reconhecer, por meio de objetos (“prendas”), os bons momentos vividos em Itabira. esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; Metonímia do orgulho itabirano de possuir minas de ouro e ferro. este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; referência à religiosidade itabirana e à figura do santeiro Alfredo Duval, muito presente no universo infantil de Drummond. este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; Tal apego às lembranças materiais denota uma necessidade de reter na memória os bons momentos de outrora. 2 este orgulho, esta cabeça baixa... Esse último verso da terceira estrofe apresenta duas prendas pouco convencionais: o “orgulho” e a “cabeça baixa”, o travo amargo da vida de Drummond. As reticências sugerem que outras heranças, como a solidão, poderiam compor esse verso. Quarta estrofe Tive ouro, tive gado, tive fazendas. A quarta e última estrofe é iniciada por uma curiosa gradação que denota um poder econômico conquistado paulatinamente. Hoje sou funcionário público. Esse verso estabelece uma oposição em relação ao anterior. Ser “funcionário público” adquire um sentido de decadência econômica do eu lírico. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! A progressão iniciada com o primeiro verso desta estrofe alcança seu ápice nesses versos finais nos quais uma realidade é manifestada de forma explícita. A adversativa “mas” sugere que Itabira é muito mais do que “apenas uma fotografia na parede” porque ainda suscita dor no eu lírico, sentimento intensificado pela exclamação. Trata-se, em outras palavras, do retorno do “enterrado vivo” de que nos fala Drummond em outro poema seu: “É sempre no passado aquele orgasmo,/é sempre no presente aquele duplo,/é sempre no futuro aquele pânico./(...) E sempre no meu sempre a mesma ausência.” (“O enterrado vivo” In Fazendeiro do ar) (ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética, Record, Rio de Janeiro, 1993) 3 Interpretação de texto (poema) no VESTIBULAR Muitos concursos vestibulares trabalham com questões elaboradas a partir de textos estruturados em versos e estrofes. Além da produção poética brasileira, os elaboradores das questões dos concursos vestibulares utilizam como base canções do rico repertório musical brasileiro. Neste tópico, exploramos o poema “Confidência do Ibatirano”. Antes de iniciar o estudo dos versos que compõem esse poema, retome alguns aspectos da produção drummondiana. Procure situar o poeta no contexto do Modernismo brasileiro (segunda fase). A questão a seguir, proposta pela UFBA, parte da canção “Trilhos urbanos”, de Caetano Veloso. Além de analisar as afirmativas sobre o texto, presentes na questão 1, estabeleça uma relação entre a canção de Caetano e as temáticas semelhantes que aparecem nas produções de Manuel Bandeira e de Drummond quando ambos abordam, respectivamente, Recife e Itabira em seus versos. 1) UFBA – 2009 INSTRUÇÃO: Assinale as proposições verdadeiras e some os números a elas associados. TRILHOS URBANOS O melhor o tempo esconde, longe, muito longe Mas bem dentro aqui, quando o bonde dava a volta ali No cais de Araújo Pinho, tamarindeirinho Nunca me esqueci onde o imperador fez xixi Cana doce Santo Amaro, gosto muito raro Trago em mim por ti, e uma estrela sempre a luzir Bonde da Trilhos Urbanos vão passando os anos E eu não te perdi, meu trabalho é te traduzir Rua da Matriz ao Conde no trole ou no bonde Tudo é bom de vê, seu Popó do Maculelê Mas aquela curva aberta, aquela coisa certa Não dá prá entender o Apolo e o rio Subaé Pena de Pavão de Krishna, maravilha, vixe Maria Mãe de Deus, será que esses olhos são meus? Cinema transcendental, Trilhos Urbanos Gal cantando o Balancê Como eu sei lembrar de você VELOSO, C. Trilhos urbanos. 1989. Disponível em: <http://letras.com.br/caetano-veloso/44784>. Acesso em: 5 jul. 2008. 1) Constituem afirmações verdadeiras sobre o texto: (01) Em “Trilhos Urbanos”, Caetano Veloso manifesta-se sobre o passado, a partir de modelos que o presente lhe oferece. (02) Na primeira estrofe, as noções de tempo e lugar se confundem na evocação do poeta. (04) No verso 3, o “tamarindeirinho” — diminutivo afetivo — aparece no cenário como testemunha de fatos ocorridos no passado. (08) No verso 12, ao referir-se a “Apolo” e ao “rio Subaé”, o poeta relaciona um monumento da cultura clássica a um patrimônio natural. 4 (16) Nesse poema-canção, as palavras do poeta demonstram a indissociabilidade do tripé sujeito, história e lugar. (32) No texto em estudo, os valores da terra são desqualificados pelo enunciador. (64) Nos versos de Caetano, a pluralidade de sentidos sugerida pela expressão “Trilhos Urbanos” permite ao leitor articular a idéia objetiva de uma empresa de transporte com representações poéticas dos caminhos de uma cidade determinada. Resposta: 02+04+08+16+64 94 Analise com atenção a questão sobre a canção “As vitrines”, de Chico Buarque. Mostre aos alunos que, na canção, a cidade é mostrada pelo eu lírico como um “lugar de perigo” e que o poeta trabalha com a “coisificação” humana. 2) UFBA – 2009 AS VITRINES Eu te vejo sair por aí Te avisei que a cidade era um vão — Dá tua mão — Olha pra mim — Não faz assim — Não vai lá não Os letreiros a te colorir Embaraçam a minha visão Eu te vi suspirar de aflição E sair da sessão, frouxa de rir Já te vejo brincando, gostando de ser Tua sombra a se multiplicar Nos teus olhos também posso ver As vitrines te vendo passar Na galeria, cada clarão É como um dia depois de outro dia Abrindo um salão Passas em exposição Passas sem ver teu vigia Catando a poesia Que entornas no chão BUARQUE, C. As vitrines, 1981. Disponível em: <http://www,chicobuarque.com.br/letras/asvitrin_81.htm>. Acesso em: 5 jul. 2008. A leitura do poema-canção “As Vitrines” permite afirmar: (01) A cidade é mostrada como lugar de perigo. (02) O enunciador, na primeira pessoa, dirige-se à mulher amada, colocando-se como seu protetor. (04) A idéia associada a “vitrines” acentua o aspecto da mercantilização de seres e objetos na cidade. (08) O temor do sujeito apaixonado diante da possibilidade de coisificação da mulher amada é percebido no texto. (16) A relação entre os termos “letreiros” (v. 7), “colorir” (v. 7) e “Embaraçam” (v. 8) expressa o deslumbramento do poeta com o mundo citadino. (32) Chico Buarque, ao dizer “Passas sem ver teu vigia” (v. 19), se apresenta como um poeta encantado por sua musa, que o ignora. (64) A repetida referência a “vitrines” reflete o fascínio que elas exercem sobre o poeta. Resposta: 01+02+04+08+32 47 5 O poema a seguir foi retirado do livro Cadernos Negros - Os Melhores Poemas, compilação que reúne textos selecionados de volumes de uma série de dezenove obras. Os poemas presentes na coletânea trabalham com a reflexão sobre a cultura dos afro-brasileiros. Temas como a fome, a violência urbana, a luta da mulher, a exclusão aparecem nos muitos poemas do livro. O poema a seguir, denominado “Zumbi”, também faz parte dessa coletânea: As palavras estão como cercas/em nossos braços/Precisamos delas./Não de ouro,/mas da Noite/do silêncio no grito/em mão feito lança/na voz feito barco/no barco feito nós/no nós feito eu./No feto/Sim,/20 de novembro/é uma canção/guerreira. (http://bayo.sites.uol.com.br/poemas_abelardorodrigues.htm. consultado no dia 24 de maio de 2009, às 11h01). O poeta que escreveu “Zumbi” se chama Abelardo Rodrigues e é co-fundador do Quilombhoje. 3) UFBA – 2009 LINHAGEM Eu sou descendente de Zumbi Zumbi é meu pai e meu guia Me envia mensagens de orum Meus dentes brilham na noite escura Afiados como o agadá de Ogum Eu sou descendente de Zumbi Sou bravo valente sou nobre Os gritos aflitos do negro Os gritos aflitos do pobre Os gritos aflitos de todos Os povos sofridos do mundo No meu peito desabrocham Em força em revolta Me empurram pra luta me comovem Eu sou descendente de Zumbi Zumbi é meu pai e meu guia Eu trago quilombos e vozes bravias [dentro de mim Eu trago os duros punhos cerrados Cerrados como rochas Floridos como jardins ASSUMPÇÃO, C. de. Linhagem. In: QUILOMBHOJE (Org.). Cadernos Negros: os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998. p. 31. Sobre o sujeito poético, nesse poema, é correto afirmar: (01) Situa-se na esfera de um ser envolvido com uma religiosidade tradicional africana. (02) Aparece como uma figura multifacetada, que tende a acentuar tanto a igualdade quanto a diferença entre ele e Zumbi. (04) É fruto de um nascimento predestinado, que tem como objetivo de vida a preservação de sua individualidade. (08) Herda uma condição adversa, mas tem consciência de que nasceu para alterar a ordem encontrada. (16) Revela-se um ser ambivalente, que não permanece ligado ao tempo e ao espaço que lhe deram origem. (32) Assume uma posição coletiva com ideal de pacificação social e imposição de uma crença mítica. (64) Confessa que as suas características advêm de sua origem e dela resulta uma espécie de missão que ele tem de cumprir. Resposta: 01+08+64 73 A produção de Cazuza situa-se no contexto do rock dos anos 1980 e 1990. No site oficial do artista (www.cazuza.com.br) há um texto em que Cazuza aborda sua produção e cita a canção “Ideologia”. Se houver tempo, leia-o: “A minha música faz parte de uma história que começou quando o meu avô, dono de um engenho em Pernambuco, resolveu morar em cima do areal do Leblon (Rio de Janeiro), como terceiro morador da região. Ali nasceu meu pai, João Araújo, que se casou com uma moça linda, Lucinha, que cantava como um passarinho. Uma mulher que se tornou importante no cenário musical e que teve, numa das primeiras novelas da televisão, sua gravação da música "Peito vazio" (de Cartola) incluída na trilha sonora. Gostava de vê-la cantando e penso que isso influiu muito no meu futuro. 6 Meu pai também pesou muito. Ele sempre transou disco e, quando eu era menino, tinha a casa cheia de artistas. Eram cantores que chegavam e saíam o tempo todo. Conheci Elis Regina, os Novos Baianos, Jair Rodrigues, que gostava de brincar de me jogar para o alto, e outros cantores. Na nossa casa, se respirava música o tempo todo. Naquele tempo, queria ser um grande arquiteto e só me interessava em ficar fazendo mapinhas da cidade, traçando ruas e desenhando edifícios. Essa mania acabou quando resolvi fazer vestibular e percebi que não dava pra matemática. Como fazia mapas, fazia poesia às escondidas de meus pais, porque era um romântico, um cara cheio de dores-de-cotovelo. (...) Aos 17 anos, comecei a descobrir que minhas poesias podiam ser letras de músicas, mas só assumi isso aos 23 anos, quando entrei no Barão Vermelho. Antes disso, procurei conhecer tudo sobre teatro, pois sabia que era um bom veículo pra me tornar cantor. Fui falar com o Perfeito Fortuna, do Circo Voador, para entrar no seu curso de teatro. Comecei, então, a ensaiar a peça do curso, "Pára-quedas do coração". Cheguei a me empolgar no dia da estréia, quando o Léo Jaime, que também estava na peça, me falou que conhecia um grupo musical que estava se formando e procurando um vocalista. Era um tal de Barão Vermelho. Fui, no dia seguinte, ao encontro deles e minha história começou. Dei de cara com quatro garotos fazendo um som que era um esporro: Roberto Frejat (guitarra), Maurício Barros (teclados), Dé (baixo) e Guto Goffi (bateria). O Dé tinha 16 anos e os mais velhos eram o Frejat e o Guto, que tinham 18. Eles não sabiam que eu era filho do presidente da Som Livre. Eram apenas um bando de garotos que não se tocavam para quem fosse o filho desse ou daquele pai importante. Queriam apenas fazer som, sucesso e despertar a atenção do público. Começamos em showzinhos por aí, em noitadas underground. (...) Mas aconteceu que o Caetano Veloso estreou no Canecão o show "Uns", incluindo no repertório "Todo amor que houver nessa vida", música de Frejat com letra minha. Logo depois, estouramos "Pro dia nascer feliz", do nosso segundo disco, e, em seguida, veio "Bete Balanço", tema do filme de Lael Rodrigues. Nosso terceiro LP, "Maior abandonado", nos deu um disco de ouro. Aí, a batalha estava ganha. (...) Estávamos prestes a entrar em estúdio para gravar o quarto LP quando resolvi cair fora. Foi ótimo para os dois lados. A dor acabou, continuei superamigo deles, minha parceria com o Frejat ficou melhor ainda e "it’s only rock’n’roll and we like it"! (...) Pra compor, não planejo absolutamente nada. Acho que sou a pessoa mais desorganizada que você pode imaginar. Tudo me acontece de supetão, porque nunca sei como a coisa vai sair. Agora, quando a inspiração vem, sou caxias mesmo, muito sistemático. Quando sento à mesinha para trabalhar, faço mesmo. Se a idéia não pinta, puxo por ela até acontecer. Só sou disciplinado para trabalhar. Pode ser até as quatros horas da manhã. Mas se começo uma letra, ela tem que sair. Depois fico semanas melhorando as imagens, as rimas. Desde o primeiro disco com o Barão, o Zeca me chama a atenção para o meu lado transgressivo. Em minhas letras sempre me desnudei. Ele dizia:"Vá com calma, estamos em 82, a barra está heavy. Diga tudo que passar pela tua cabeça, mas quer você queira, ou não queira, vou mandar para a censura letras diferentes, bem inofensivas. Eles liberam, depois você canta e grava o que quiser cantar." Quase sempre deu certo. Isto porque, no caso de "Só as mães são felizes", eu bobeei e mandei a letra certa. Vetaram, é lógico. Não entenderam que era uma coisa moralista, pós-Nelson Rodrigues. (...). (...) Minhas influências literárias são completamente loucas. Nunca tive método de ler isso ou aquilo. Lia tudo de uma vez misturando Kerouac com Nelson Rodrigues, William Blake com Augusto dos Anjos, Ginsberg com Cassandra Rios, Rimbaud com Fernando Pessoa. Adorava seguir Carlos Drummond de Andrade em seus passeios por Copacabana. Me sentia importante acompanhando os passos daquele Poeta Maior pelas 7 ruas à tarde. Mas meu livro de cabeceira foi sempre "A descoberta do mundo", de Clarice Lispector. Adoro acordar e abri-lo em qualquer página. Para mim, sempre funciona mais que o I Ching. As minhas letras têm muito desses ‘bruxos’ todos. (...) A minha ideologia é a da mudança. Nada de partido político. É a coisa de mudar o Brasil, em qualquer dimensão. Eu não tenho partido, sério. Mas estou com as pessoas que podem mudar alguma coisa, dou a maior força. Sou socialista por vocação, por natureza, por amor mesmo. Porque acho que o socialismo está no meio, está entre o comunismo ditatorial e o capitalismo selvagem, num ponto onde a iniciativa privada pode dar alguma coisa também. Quando fiz "Ideologia", nem sabia o que isso queria dizer, fui ver no dicionário. Lá estava escrito que indica correntes de pensamentos iguais e tal… A música, por sua vez, é muito pessimista, porque, na verdade, é a história da minha geração, a de 30 anos, que viveu o vazio todo. É meio amarga porque a gente achava que ia mudar o mundo mesmo e o Brasil está igual; bateu uma enorme frustação. Nos conceitos sobre sexo, comportamento, virou alguma coisa, mas deixamos muito pelo caminho. A gente batalhou tanto e agora? Onde chegamos? Nossa geração ficou em que pé? (...) os problemas do Brasil parecem ser os mesmos desde o descobrimento. A renda concentrada, a maioria da população sem acesso a nada. A classe média paga o ônus de morar num país miserável. Coisas que, parece, vão continuar sempre. Nós teríamos saída, pois nossa estrutura industrial até permitiria isso. O problema do Brasil é a classe dominante, mais nada. Os políticos são desonestos. A mentalidade do brasileiro é muito individualista: adora levar vantagem em tudo. Educação é a única coisa que poderia mudar este quadro. Brasileiro é grosso e mal-educado, porque não pensa na comunidade, joga lixo na rua, cospe, não está nem aí. Este espírito comunitário viria com a cultura. Acho que o socialismo talvez possa trazer este acesso maior à cultura de massa. Fazer como o Mao Tsé-tung fez com a China. Educar todo mundo à força. Temos que estudar, ler, ter acessos a livros.” (http://www.cazuza.com.br/sec_textos_list.php?language=pt_BR. Consultado em 24 de maio de 2009, às 11h17) UERJ – 2009 COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE NÚMEROS 04 A 8. Ideologia Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Freqüenta agora as festas do “Grand Monde” Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Agora assiste a tudo em cima do muro Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver 8 Eu quero uma pra viver CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988 www.cazuza.com.br Questão 4 Nos dois primeiros versos, a palavra partido é empregada com significados diferentes. Esta repetição produz, no texto, o seguinte sentido: (A) revela o nível de alienação do sujeito poético (B) reafirma a influência coletiva na esfera pessoal (C) acrescenta elementos pessoais a um tema social (D) projeta um sentimento de desencanto sobre a política Resposta: D Questão 5 Em duas estrofes, a expressão mudar o mundo é utilizada em um verso e repetida no verso seguinte entre parênteses. A repetição e o uso dos parênteses, no contexto, sugerem que o eu poético, com o passar do tempo, foi levado a: (A) um desvio de personalidade (B) uma postura de acomodação (C) uma afirmação da identidade (D) uma busca de autoconhecimento Resposta: B Questão 6 A palavra “ideologia” é dicionarizada ora como “conjunto de idéias, pensamentos, doutrinas e visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo”, ora como “conjunto de idéias que visa à manipulação e à alienação das pessoas”. Os versos que melhor se relacionam à primeira e à segunda acepções, respectivamente, são: (A) “Os meus sonhos foram todos vendidos” / “Eu vou pagar a conta do analista” (v. 4 e 19) (B) “Meus heróis morreram de overdose” / “É um coração partido” (v. 10 e 2) (C) “Eu quero uma pra viver” / “Freqüenta agora as festas do ‘Grand Monde’” (v. 13 e 9) (D) “Meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll” / “(Mudar o mundo)” (v. 18 e 22) Resposta: C Questão 7 O texto apresenta uma visão melancólica em relação à realidade. Esse tom melancólico, no conjunto do texto, constrói-se principalmente com apoio no seguinte elemento: (A) a menção à morte dos heróis (B) a crítica às estruturas da sociedade (C) o desejo da crença em uma ideologia (D) a contraposição entre passado e presente Resposta: D Questão 8 E as ilusões estão todas perdidas (v. 3) Este verso pode ser lido como uma alusão a um livro intitulado Ilusões perdidas, de Honoré de Balzac. Tal procedimento constitui o que se chama de: (A) metáfora (B) pertinência 9 (C) pressuposição (D) intertextualidade Resposta: D As questões a seguir estão relacionadas ao poema que estudamos neste tópico. Aproveite os testes para verificar como você se sai. UFJF – 2009 Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade, abaixo, para responder às questões de 9 a 12. Confidência do Itabirano Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas! E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes... E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! ANDRADE, Carlos Drummond. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 2002. Questão 9 Ao reelaborar, poeticamente, sua cidade de origem em “Confidência do Itabirano”, Carlos Drummond de Andrade expressa sua identidade com Itabira. Em qual palavra pode-se melhor visualizar essa identificação? a) porosidade b) trabalho c) fotografia d) ferro e) herança Resposta: D Questão 10 O poema, como o próprio título diz, evidencia uma confidência, ou seja, a revelação de um segredo, de algo íntimo. Pode-se ler que a confidência do poeta é o fato de ele ainda carregar Itabira consigo, ainda “pertencer”. Qual verso melhor expressa essa confidência? a) “Principalmente nasci em Itabira”. b) “De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:” c) “Tive ouro, tive gado, tive fazendas.” d) “Mas como dói!” e) “Itabira é apenas uma fotografia na parede.” Resposta: D 10 Questão 11 No verso “Itabira é apenas uma fotografia na parede”, o termo APENAS permite: a) ressaltar o quanto o poeta está fisicamente distante de Itabira, uma vez que ele saiu de lá há muito tempo, sem nunca mais voltar. b) enfatizar o fato de Itabira ser uma cidade pequena, de interior, portanto, não merecedora de maior destaque em sua vida atual. c) destacar o não desejo do poeta de retornar a Itabira, mantendo-a, por isso, somente como registro fotográfico em sua parede. d) acentuar que, como o poeta viveu muitos anos em Itabira, os valores ali adquiridos permanecem com ele. e) salientar a contradição entre a vida que o poeta teve em Itabira no passado, com ouro, gado e fazendas, e a atua,l de funcionário público. Resposta: A Questão 12 Na poesia de Drummond, é comum observar a emergência de um sentimento que pode expressar uma tentativa de ruptura com suas origens, mas sempre marcado pela não realização total desse movimento. Em linguagem poética, isso se revela quase sempre pelo uso de antíteses ou paradoxos. Essa afirmativa pode ser constatada em qual das opções abaixo? a) “Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro” b) “A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,” c) “Este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;” d) “Oitenta por cento de ferro nas almas.” e) “E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,” Resposta: E A canção a seguir apresenta um grau de sofisticação bastante elevando. Leia-a e retome as noções de paralelismo sintático, elipse e paradoxo. UERJ – 2008 COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE NÚMEROS 13 a 16. Qualquer canção Qualquer canção de amor É uma canção de amor Não faz brotar amor E amantes Porém, se essa canção Nos toca o coração O amor brota melhor E antes Qualquer canção de dor Não basta a um sofredor Nem cerze um coração Rasgado Porém, inda é melhor Sofrer em dó menor1 Do que você sofrer Calado Qualquer canção de bem Algum mistério tem É o grão, é o germe, é o gen2 Da chama E essa canção também 11 Corrói como convém O coração de quem Não ama CHICO BUARQUE In: CHEDIAK, Almir. Chico Buarque song book 3. Rio de Janeiro: Lumiar. Vocabulário: 1dó menor – um dos tons musicais 2gen – relativo a origem, nascimento Questão 13 A coerência é determinada, entre outros fatores, por elementos que contribuam para a progressão do texto. Na letra da canção de Chico Buarque, a coerência do texto decorre da utilização dos seguintes recursos: (A) marcação rítmica, repetição vocabular, paralelismo sintático (B) marcação rítmica, repetição vocabular, multiplicidade temática (C) repetição vocabular, paralelismo sintático, multiplicidade temática (D) marcação rítmica, paralelismo sintático, multiplicidade temática Resposta: A Questão 14 A pluralidade de sentidos, característica da linguagem poética, pode ser obtida por meio de vários mecanismos, como, por exemplo, a elipse de termos. Esse mecanismo está presente, de modo mais marcante, no seguinte verso: (A) “E amantes” (v. 4) (B) “E antes” (v. 8) (C) “Rasgado” (v. 12) (D) “Calado” (v. 16) Resposta: B Questão 15 Diferentes relações lógicas são estabelecidas entre as orações que compõem as estrofes do texto. Na segunda estrofe, essas relações expressam as idéias de: (A) adição, contraposição e comparação (B) negação, anterioridade e adversidade (C) finalidade, contrariedade e consecução (D) proporcionalidade, intensidade e conclusão Resposta: A Questão 16 Na última estrofe do texto, o mistério a que se refere o eu lírico indica uma construção paradoxal. Os elementos que compõem esse paradoxo são: (A) início e fim (B) alegria e dor (C) música e silêncio (D) criação e destruição Resposta: D 12