A COMUNICAÇÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
ALPESTRE – RS: PROCESSOS INTERNOS E FORMAS
DE APRESENTAÇÃO AO PÚBLICO
Dirceu Hermes1
Francieli Vanessa Pereira2
Resumo. O presente trabalho verificou, através de pesquisa realiza em
2009, como a Prefeitura Municipal de Alpestre-RS realiza a comunicação
com a sociedade através dos meios de comunicação de massa, sem a
presença de uma assessoria de imprensa. Buscou-se também estudar junto
aos responsáveis pelos meios de comunicação quais os materiais que
recebem da prefeitura e como ocorre o contato com a mesma. A análise dos
textos referentes à prefeitura publicados nos jornais O Alto Uruguai, de
Frederico Westphalen e Jornal Ametista, de Planalto também fez parte do
estudo para que avaliássemos a estrutura das notícias e fizéssemos a
relação com as respostas das entrevistas. A análise dos dados, coletados
através das entrevistas, a observação e análise do que foi publicado nos
jornais, permite verificar a existência de uma lacuna na comunicação da
administração municipal com a sociedade, que será suprida, conforme os
próprios entrevistados, com o trabalho de um profissional qualificado, da
área do jornalismo.
Palavras-Chaves: Executivo municipal de Alpestre, assessoria de
imprensa, meios de comunicação.
1
Introdução
As administrações públicas sejam em âmbito federal, estadual ou municipal são
extremamente importantes, pois a cada administrador compete deveres e direitos
1
Dirceu Luiz Hermes é graduado em Letras pela Unoesc e Mestre em Comunicação pela Universidade
Metodista de São Paulo. É professor e pesquisador dos cursos de Comunicação Social – Publicidade e
Propaganda, Comunicação Social – Jornalismo e Produção Áudio Visual da Unochapecó. É professor e
pesquisador lotado na Área de Ciências Sociais e Aplicadas da Unochapecó.
[email protected]
2
Francieli Vanessa Pereira é jornalista formada pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó –
Unochapecó. [email protected]
para manter a sociedade de forma organizada. No caso do Executivo municipal, que
foi o foco do nosso trabalho, o prefeito juntamente com o vice-prefeito e secretários
devem zelar pelo bom funcionamento do serviço público. Mas, de nada adianta estas
pessoas desenvolverem diversos projetos, obras e demais tarefas que lhes
competem se estas não forem divulgadas para a sociedade, ou então, forem
divulgadas de forma superficial.
Para entender melhor como a comunicação ocorre nas administrações públicas
municipais, especialmente em um município de pequeno porte, estudamos, no
primeiro semestre de 2009, a comunicação realizada na Prefeitura Municipal de
Alpestre - RS. O município possui, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) 8.972 habitantes. Alpestre localiza-se na região Norte do Rio
Grande do Sul e pertence à Associação dos Municípios da Zona da Produção
(AMZOP), formada por 45 municípios.
A intenção, no âmbito geral, foi verificar como a Prefeitura Municipal de Alpestre
realiza a comunicação com a sociedade através dos meios de comunicação de
massa, sem a presença de uma assessoria de imprensa. Para isso realizamos
entrevistas com o prefeito, secretários e responsável pela comunicação, com o
objetivo de identificar quais as tarefas que este responsável desenvolve, como
elabora e executa as mesmas; identificar quais as fontes internas de informação que
este responsável utiliza; detectar o nível de satisfação destas pessoas em relação ao
trabalho desenvolvido;
verificar a compreensão que as mesmas possuem de
assessoria de imprensa e comunicação e verificar a estratégia que orienta a
comunicação da prefeitura. Também realizamos entrevistas com os responsáveis
pelos principais jornais que circulam no município e com os responsáveis pelas
emissoras de rádio com maior audiência para saber, principalmente, quais os
materiais que recebem da prefeitura, como organizam e veiculam e qual a
contribuição que uma assessoria de imprensa no Poder Público daria aos meios de
comunicação. A análise de notícias sobre a administração municipal também foi
realizada, para verificar entre outros aspectos, a estrutura destas notícias e para
relacionarmos as respostas das entrevistas com a realidade.
2
A informação como dever do poder público
A Constituição Federal de 1988 estabelece como um dos fundamentos do Estado
brasileiro democrático o direito à informação. No inciso XXX (2000) também está
assegurado o acesso às informações de órgãos públicos, como por exemplo, de
prefeituras. Além disso, a Constituição também trata, no Artigo 37 (2000), dos
princípios inerentes à administração pública, entre os quais, a publicidade. Este
princípio exige ampla divulgação dos atos praticados pelo Poder Público. Para isso, a
administração pública deve disponibilizar e manter canais que possibilitem que os
cidadãos tenham efetivo acesso às informações.
A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, e eficiência e, também, o seguinte: & 1º. a publicidade
dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação
social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores
públicos (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2007, p.41; 44).
Esses princípios são fundamentais em qualquer órgão público. Porém, muitas
vezes, observa-se um descaso em relação a comunicação dos governos. Os
administradores públicos não a observam como um meio de interagir com a
população. Conforme Rego apud Liedtke (2002, p.33), “[...] a comunicação social do
governo transforma, transmite, sustenta imagens, cria e estabelece pólos de
motivação e satisfação, desfaz equívocos, e atenua pontos de tensão”.
Em pleno século XXI, é imprescindível que os cidadãos estejam bem informados,
que as administrações públicas façam da comunicação uma ferramenta para abrir
caminhos e para buscar uma relação integradora com cada pessoa. Novaes (1994)
destaca que uma democracia verdadeira é construída a partir do momento que todos
tiverem igual acesso, ou as mesmas oportunidades em matéria de informação.
3
Comunicação institucional,
comunicação pública
comunicação
governamental
e
Quando tratamos sobre comunicação é importante fazermos a distinção entre três
tipos:
comunicação
institucional,
governamental
e
pública.
A
comunicação
institucional, segundo Liedtke (2002), é um tipo de comunicação que parte de um
sujeito estabelecido através de uma organização, como por exemplo, uma empresa,
órgão público, entidade que preste qualquer tipo de serviço. A comunicação
governamental para este autor é um instrumento de valorização das ações do Poder
Público, um processo de troca e de sustentação. Além de diferenciarmos a
comunicação institucional e governamental é necessário diferenciar comunicação
política de comunicação pública. Conforme Oliveira, que recorre a Brandão (apud
MATOS, 2007),
[...] a comunicação política ou marketing político busca atingir a
opinião pública, quase sempre com métodos publicitários, buscando
respostas rápidas e efeitos imediatos que podem ser auferidos nas
pesquisas e que sempre se mostram efêmeros. [...]. A comunicação
pública, ao contrário, se faz no espaço público, sobre tema de
interesse público. É a informação cívica e que inclui a
accountability.
Diante disso podemos afirmar que os governos em qualquer nível devem optar
pela utilização de um desses três tipos de comunicação.
Com relação a
comunicação governamental Liedtke (2002) aponta que esta não pode ser realizada
com base no improviso, deve ser organizada por um conjunto de profissionais que
engloba assessores de imprensa (jornalistas), relações públicas e publicitários. Cada
profissional dentro da sua área utilizará uma variedade de instrumentos de
comunicação que servirão para dinamizar o contato e a interação com os diversos
públicos.
Observamos que o autor defende que a comunicação seja trabalhada por um grupo
composto por pessoas com formações diversas. Neste grupo, como destacado, estão
os jornalistas (assessores de imprensa). Conforme Chaparro (2003), o jornalista
americano Ivy Lee iniciou em 1906 o que hoje chamamos de assessoria de imprensa
ou assessoria de comunicação. Chaparro (2003) salienta que Lee estabeleceu um
conjunto de regras ético-morais no tratamento com a imprensa, com o objetivo de
estabelecer uma relação de confiança com os veículos de comunicação. Lee também
comprometeu-se a fornecer apenas notícias e a colocar-se a disposição dos
jornalistas quando solicitado, para respostas honestas e verdadeiras.
No livro Assessoria de imprensa - teoria e prática, Kopplin; Ferrareto (2001, p.18)
especificam que assessoria de imprensa está ligada fundamentalmente “a
necessidade de se divulgar opiniões e realizações de um indivíduo ou grupo de
pessoas e a existência daquele conjunto de instituições nos meios de comunicação
de massa”. Conforme os autores, a assessoria de imprensa teve início na China em
202 a.C, mesmo que de forma precária, através das cartas circulares que
apresentavam as decisões e realizações da dinastia Han. A Acta diurna, veículo
informativo do Fórum romano criado em 69 a.C, também representa os primeiros
passos da assessoria de imprensa.
4
A comunicação nos governos
Nos governos a assessoria de imprensa surgiu, segundo Kopplin; Ferrareto (2001),
em 1829, para servir ao presidente dos Estados Unidos, Andrew Jackson. A iniciativa
foi de Amos Kendall que organizou o setor de Imprensa e de Relações Públicas da
Casa Branca, editando ainda o primeiro house-organ do governo dos EUA, o The
Globe.
No Brasil, o governo de Nilo Peçanha, em 1909 começou a sistematizar as
informações jornalísticas da área pública com a organização da estrutura do
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, criando a Secção de Publicações e
Bibliotheca para integrar serviços de atendimento, publicações, informação e
propaganda.
Duarte (2003) aponta que na primeira metade do século XX começaram a ser
organizados serviços de divulgação em níveis federal e estaduais.
Após períodos de turbulência, com a Ditadura e o com Golpe Militar, a
comunicação utilizada nesses períodos começou a passar por modificações no
governo de Ernesto Geisel. O Presidente apesar de ser uma pessoa fechada era
comprometido com a idéia de desenvolvimento. Com a colaboração do general
Golbery do Couto e Silva criou a Assessoria de Imprensa e Relações Públicas,
“dando ênfase, como se pôde observar, ao aspecto jornalístico e não mais
privilegiando o conceito de „vender imagem positiva” (TORQUATO, 2002, p.17).
Destaca-se que o Golpe de 64 também foi prejudicial a imagem dos assessores
de imprensa, pois estes deveriam esconder qualquer acontecimento que pudesse
causar dano ao presidente e seus aliados. Essa imagem negativa começou a ser
modificada com a eleição de Tancredo Neves, em 1985. Durante a enfermidade do
Presidente, o jornalista Antônio Britto, então assessor de imprensa da Presidência,
facilitava o acesso dos jornalistas às fontes não oficiais.
No ano de 1979, o governo de Figueiredo criou a Secretaria de Comunicação
Social (SECOM) em nível de ministério. Segundo Torquato (2002), o jornalista Said
Farhat foi o responsável pela idéia e posterior implantação da SECOM. “[...] e a
estrutura, imitada pelos governos estaduais e municipais, deu origem ao atual modelo
de comunicação governamental do País. Iniciava-se a profissionalização da
comunicação no setor público” (p.17).
No Rio Grande do Sul, o Palácio Piratini foi pioneiro na organização de uma
assessoria de imprensa, no governo de Leonel Brizola.
Autores analisados durante a pesquisa apontaram a atual situação da
comunicação dos governos. É importante destacarmos as palavras de Matos3. A
autora defende que nesses últimos 20 anos, a comunicação no Executivo não foi
vista
e
nem
entendida
como
um
processo
e
nem como
uma
política.
“Conseqüentemente, o discurso é reciclado de acordo com as circunstâncias, de
acordo com as questões candentes do momento: não se definiu a comunicação
como processo de reconstrução da cidadania”.
Martinez (2003) faz uma análise mais pontual sobre a comunicação nos governos
municipais e ressalta que os mesmos são carentes destas estruturas, que em geral
ocorrem de forma improvisada. A autora também destaca que em muitas prefeituras
a comunicação é realizada por pessoas sem condições. Perante este aspecto
Torquato declara (2002) ser imprescindível que as estruturas comunicacionais tanto
do governo federal ou dos governos estaduais e municipais sejam conduzidas por
profissionais qualificados. Estes têm as condições necessárias para dar tratamento
adequado aos fatos e transformá-los em notícias.
Os profissionais que atuam nas assessorias de imprensa têm a disposição uma
série de ferramentas para ligar o assessorado com a mídia e com os meios de
comunicação. Duarte (2003) apresenta uma série de atividades que podem ser
trabalhadas pelas assessorias. Ele lembra que muitas delas deverão ser adaptadas a
cada realidade. Entre as atividades destacam-se a entrevista, os vários tipos de
releases, como o padrão, de opinião, dirigido, especial, entre outros. A elaboração de
periódicos e programas de rádio, chamados de house-organs, o clipping e o press-kit
também compõem esta lista.
5
Alpestre: história e meios de comunicação
Alpestre localiza-se na Região Norte do Rio Grande do Sul. A emancipação da vila
de Alpestre ocorreu, de acordo com Schutkoski (1989), em 1963, pela lei nº 4.688, de
26/12/63, com o desmembramento de Iraí, pelo governador Ildo Meneghetti. A
3
MATOS, Heloiza. Comunicação Pública, democracia e cidadania: o caso do legislativo. Disponível em:
http://www.ucb.br/comsocial/mba/Heloiza.doc
primeira administração foi instalada em 13 de abril de 1964 e tinha como prefeito
Arlindo de Souza e vice-prefeito Aldo Sperry.
Alpestre, em 2009 estava com 44 anos e é administrada pelo prefeito Valdir José
Zasso (PDT) e pelo vice, Danilo Carnetti (PP). Conforme o censo 2007 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tem 8.972 habitantes. A
etnia predominante é a polonesa, seguida da italiana, alemã e luso-brasileira. A
receita do município, conforme a Secretaria Nacional do Tesouro, em 2003 era de
R$ 5.889.996,06.
Alpestre possuia uma emissora de rádio, a Rádio Comunidade 104.3 FM e o
estúdio 4 da Rádio Ametista AM. Também são destaques no município o Jornal
Ametista, de Planalto, que circula quinzenalmente e aborda apenas assuntos de
Alpestre e Planalto e o jornal semanal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen, que
é o único com circulação regional. Além desses jornais circulam na cidade os jornais
Correio do Povo e Zero Hora, ambos de Porto Alegre e Folha Nativa, de Iraí. Na área
rural existem assinaturas apenas do O Alto Uruguai e do Correio do Povo.
Além desses meios a população também tem a disposição uma agência dos
Correios. Em sete localidades do interior existem postos de distribuição de
correspondências. Nesta lista de meios de comunicação de massa também não
podemos deixar de citar a telefonia. O meio urbano conta com uma estrutura
completa quanto a este serviço, tanto fixo quanto móvel. Em contrapartida, o interior
enfrenta dificuldades devido ao relevo acidentado que dificulta a implantação de um
serviço de qualidade.
Outro meio que está ganhando espaço em Alpestre é a internet. Atualmente cerca
de 250 famílias utilizam a rede mundial de computadores, incluindo ADSL e via rádio.
Praticamente todas as localidades do interior têm a disposição internet via rádio com
mensalidades a partir de R$ 30,00.
Consideramos que estes são os meios de comunicação de massa existentes em
Alpestre. Quanto ao termo “massa” autores como Thompson (1998) exemplificam a
contraditoriedade existente na utilização do mesmo. Conforme o autor, esse termo
reporta-se ao uma audiência de milhares e até milhões de indivíduos que pode ser
aplicado apenas para alguns produtos da mídia, como filmes e programas populares
de TV. “Durante as fases iniciais do desenvolvimento da imprensa escrita periódica, e
em alguns setores das indústrias da mídia hoje (por exemplo, algumas editoras de
livros e revistas), a audiência foi e permanece relativamente pequena e
especializada” (idem, 1998, p.30). Em Alpestre um exemplo é a análise da
quantidade de assinaturas dos jornais, as quais são efetuadas por uma audiência
relativamente pequena e especializada, como por exemplo, professores.
6
A comunicação no executivo municipal de alpestre
A estrutura administrativa do município é formada pelo prefeito Valdir José Zasso
(PDT), pelo vice-prefeito Danilo Carnetti (PP) e por sete secretários.
A Prefeitura de Alpestre não conta atualmente com uma assessoria de imprensa,
que segundo a Fenaj (1994, p.12)
[...] trata-se de serviço especializado privativo dos jornalistas. De
natureza essencialmente dinâmica e versátil, a AI é responsável por
múltiplas atividades e desempenha papel estratégico na política de
comunicação dos assessorados.
No Executivo municipal de Alpestre, como verificamos nas entrevistas, cada
secretaria elabora materiais e os envia aos meios de comunicação, ou então, as
informações são repassadas à agente administrativo Sandra Matioski, que muitas
vezes torna-se a responsável pela comunicação, para que a mesma organize e envie
esse material aos veículos.
Além disso, observamos que os textos referentes a
administração publicados nos jornais não seguem critérios jornalísticos na
elaboração, o que pode prejudicar a compreensão por parte do leitor. Em muitos
casos os jornalistas dos veículos de comunicação, ou então, quem desenvolve o
trabalho nos mesmos
precisa revisar o material para conferir as informações e
corrigir erros ortográficos.
Lembramos que os jornalistas dos veículos de comunicação não têm a função de
utilizar o material que recebem na íntegra. Reforçamos que a função do release, nas
redações é servir de pauta. Por outro lado, é função do assessor de imprensa
remeter releases com informações claras e precisas, facilitando desta forma o
trabalho do jornalista nas redações. Também deve-se zelar pela imagem da
administração e do próprio profissional. Se a assessoria é improvisada, remete a
imagem que tudo na administração é primário e improvisado.
Verificamos também que a falta de uma estrutura comunicacional organizada
prejudica o contato com os diferentes meios de comunicação, ou seja, os espaços na
imprensa não são explorados de forma adequada. Um exemplo é a Rádio Ametista
AM, de Planalto. Segundo a jornalista responsável pela programação da emissora,
Patrícia Zanella, as prefeituras da região, inclusive de Alpestre, dificilmente enviam
materiais jornalísticos para serem divulgados.
É importante considerar que o rádio é um dos meios de comunicação com maior
penetração entre a população de Alpestre, especialmente da zona rural. Esse
aspecto deveria ser levado em consideração pelas pessoas que enviam os materiais
aos veículos de comunicação, pois conhecer quais os principais meios que a
população tem acesso também é garantir que a mensagem da administração chegue
a cada um, sem distinção.
Conforme apontaram o prefeito, secretários e responsável pela comunicação da
prefeitura, a comunicação da administração iria melhorar através do trabalho de um
assessor de imprensa, que na visão dos entrevistados deveria ser um jornalista. Para
preencher as lacunas existentes na comunicação dos governos, autores como
Liedtke (2002) e Lopes (2000) também enfatizam que a estrutura comunicacional dos
mesmos deveria ser formada por uma assessoria de imprensa composta por
profissionais de comunicação social, como por exemplo, jornalistas. Kopllin; Ferrareto
(2001, p.18) destacam que a assessoria de imprensa está ligada fundamentalmente
“a necessidade de divulgar opiniões e realizações de um indivíduo ou grupo de
pessoas e a existência daquele conjunto de instituições nos meios de comunicação
de massa”.
Para divulgar as realizações de pessoas ou entidades, os profissionais de
assessoria realizam a comunicação pautados em estratégias definidas, isso facilita a
comunicação. Com os serviços de uma assessoria, especialmente os governos, têm
a possibilidade de tornar mais transparente suas ações, projetos e aplicação do
dinheiro público, seja para a imprensa, para os cidadãos ou para os próprios
funcionários. Vale destacar as palavras de Monteiro (2003, p.147):
[...] o ato de prestar contas via mídia tem, hoje, outra conotação. Ela
não se limita ao aspecto simplista de „fornecer o recibo para quem
paga a conta‟, mas incorpora o conceito de accountability que rege as
relações entre governo e cidadão, entre burocracia e clientela, numa
sociedade democrática.
Conforme observamos, o prefeito de Alpestre, Valdir José Zasso e demais
entrevistados ressaltaram que a comunicação realizada atualmente não é a mais
adequada e que o trabalho de um profissional seria o ideal para melhorar a situação,
porém Zasso demonstra que a organização de uma estrutura comunicacional,
formada por uma assessoria de imprensa, composta por profissionais de
comunicação, como jornalistas, não é uma das prioridades da administração. Desta
forma, a comunicação da prefeitura tende a se desgastar mais a cada dia, tanto com
relação ao contato com os meios de comunicação, como com relação à população,
que não tem garantido de forma plena o direito de acesso às informações do Poder
Público, através dos veículos de comunicação de massa.
Cristovam Buarque declara no livro Assessoria de imprensa e relacionamento com
a mídia: teoria e técnica, “[...] sem uma boa assessoria de imprensa, raro órgão
público ou político sobrevive por muitos anos na atividade pública” (2003, p.21).
Considerando as palavras de Buarque e dos demais autores estudados na pesquisa,
podemos afirmar que no setor público a comunicação deve ter papel de destaque,
deve ser vista como uma política pública essencial, pois os governos, seja na esfera
municipal, estadual ou federal são responsáveis por desenvolver uma série de
serviços. Além disso, trata-se de um compromisso social das instituições, “elas
devem informar o povo sobre suas ações prestando contas à sociedade do que é
feito com o dinheiro do contribuinte; como prestadoras de serviços, devem manter a
população ciente do que é feito em seu benefício” (LIEDTKE, 2002, p.29).
Mais do que qualquer outro Poder, o Executivo municipal por estar mais próximo
do cidadão, por conhecer os indivíduos e a realidade na qual estão inseridos, tem o
dever de manter abertos os canais de comunicação e de aperfeiçoar a estrutura
comunicacional para tornar cada vez mais transparente o que ocorre nas gestões
públicas. Uma comunicação planejada além de informar melhor a população gera
credibilidade para a administração junto aos meios de comunicação.
Como destacamos as assessorias de imprensa formadas por profissionais tendem a
realizar uma comunicação planejada para que realmente a mensagem chegue até os
meios de comunicação e por conseqüência a população e desta forma atinja os
objetivos propostos. Para isso os profissionais dispõem de diversas ferramentas,
como por exemplo, entrevistas, releases, clipping, press-kit e outros. É importante
destacar que é papel da assessoria a escolha dos melhores instrumentos para
desenvolver o trabalho. Cabe ressalvar que essa escolha deve ser feita levando-se
em consideração o perfil da empresa ou instituição para a qual o serviço será
desenvolvido.
No momento que a Prefeitura de Alpestre realmente possibilitar aos cidadãos o
acesso às informações, no caso desta pesquisa, através dos meios de comunicação
de massa, com uma estrutura que trabalhe a comunicação de maneira planejada e
organizada, garantindo desta forma o aprofundamento de questões prioritárias
também veremos destacado o verdadeiro sentido da palavra democracia.
Resgatamos as palavras de D‟Avila (1990, p.1) que conceituam pontualmente o que
é democracia. “A palavra „democracia‟ significa literalmente „governo do povo‟”. Essa
designação surgiu na Grécia clássica, onde governo – kratia e povo – demos.
Consideramos portanto, que a comunicação deve ser vista pelos administradores
públicos, seja da Prefeitura de Alpestre, como de demais órgãos públicos, como um
bem valioso e também como uma necessidade. Hoje, a comunicação realizada de
forma eficaz e planejada, principalmente no setor público, representa um
compromisso social das entidades que, segundo Torquato (2002) contribui na
construção da cidadania.
A comunicação como base de cidadania: função: direito à
informação. A
comunicação deve ser entendida como um dever da administração
pública e um direito dos usuários e consumidores dos serviços.
Sonegar tal dever e negar esse direito é um grave erro das entidades
públicas. ( p.44).
Ao parar para refletirmos observamos que a palavra público, que aparece logo
após aos termos Poder, setor e órgão, por si só já tem uma forte conotação, que se
respeitada faria a diferença em qualquer sociedade. Habermas no livro Mudança
estrutural da esfera pública (1984) evidencia que “chamamos de „públicos‟ certos
eventos quando eles, em contraposição às sociedades fechadas, são acessíveis a
qualquer um” (1984, p.14). O autor deixa claro mais uma vez o sentido da palavra
público, ou seja, as administrações públicas devem tornar públicos para todos o que
ocorre. No entanto, o sentido da palavra em discussão, como podemos perceber,
acaba esquecido ou pouco valorizado pelos administradores, que muitas vezes estão
mais preocupados em realizar obras ou então “ficar quietos no seu canto” para não
serem questionados pela população. Encontramos em Liedtke (2002) uma discussão
sobre esta questão. Segundo o autor ,
[...] a eficiência de uma instituição não depende somente de suas
ações; não basta contemplar os interesses de seus sujeitos/objetos.
O êxito também depende de uma boa comunicação, que deve ter
uma estrutura aparelhada e planejada para atender todas as
demandas informativas (p.31).
Consideramos que diante da realidade da comunicação da Prefeitura de Alpestre, a
implantação de um serviço de assessoria de imprensa seria fundamental, conforme
apontaram nas entrevistas alguns dos responsáveis pelos meios de comunicação. De
acordo com os mesmos, os profissionais que atuariam na assessoria ampliaram os
contatos com os meios, organizariam melhor os materiais, com isso a população
também ganharia. Torquato (2002), conforme discutimos, enfatiza os apontamentos
dos entrevistados. De acordo com o autor é imprescindível que as estruturas
comunicacionais tanto do governo federal ou dos governos estaduais e municipais
sejam conduzidas por profissionais qualificados. Estes têm as condições necessárias
para dar tratamento adequado aos fatos e transformá-los em notícias.
Portanto, os assessores de imprensa (jornalistas) são os profissionais mais
indicados para trabalhar a questão da comunicação tanto com a sociedade quanto
com os meios de comunicação. Para os repórteres e editores são uma espécie de
ponto de apoio, mas para que isso ocorra, precisam agir de forma qualif icada,
estabelecendo aproximação eficiente entre fontes de informação e imprensa. É
importante destacar, que os assessores auxiliam jornalistas a publicar informações
confiáveis e facilitam o contato com o assessorado. Também orientam o cliente na
compreensão da necessidade de manter uma relação transparente com a imprensa e
quais as vantagens desse procedimento.
Pelo exposto, é possível perceber a importância de uma comunicação planejada
nas instituições públicas, pois se o Poder Público tem por objetivo servir à sociedade,
ela merece um tratamento digno. Portanto, a informação torna-se fundamental no
dia-dia do cidadão, pois, através dela o acesso aos serviços públicos e a satisfação
das necessidades elementares são facilitados. Desta forma, cabe a qualquer governo
“criar canais de diálogo com a sociedade, fornecendo à população informações de
interesse público, utilizando, para isto, principalmente a imprensa, entre outros meios
de comunicação de massa” (LIEDTKE, 2002, p.32-33).
7
considerações finais
O objetivo principal desta pesquisa foi verificar como a Prefeitura Municipal de
Alpestre-RS realiza a comunicação com a sociedade através dos meios de
comunicação de massa, sem a presença de uma assessoria de imprensa. Para
trabalharmos esta questão de forma aprofundada construímos o arcabouço teórico
com temas diretamente ligados ao Poder Público. Discutimos por exemplo, a
organização dos Três Poderes em nível federal, estadual e municipal, o espaço
público e o espaço privado, a informação como dever do Poder Público, democracia,
informação e participação no Executivo municipal, entre outras questões relevantes
para o estudo.
É importante lembrar que a Constituição Federal de 1988 garante o acesso às
informações de órgãos públicos. Portanto é dever de qualquer instituição pública
informar a população sobre seus atos, prestar contas. Possibilitar o acesso às
informações públicas também é garantir o fortalecimento da democracia.
Esse acesso às informações públicas não pode ser realizado com base no
improviso. Conforme autores como Torquato (2002) e Lopes (2000), destacados
durante a pesquisa, a comunicação seja do governo federal, ou dos governos
estaduais e municipais deve ser realizada pelas assessorias de imprensa, formada
por jornalistas. Liedtke (2002) destaca que além de jornalistas, é indicado, que as
estruturas comunicacaionais também sejam compostas por relações públicas e
publicitários. Porém, ainda observamos no setor público, a falta de formação
específica para a atividade, fazendo com que a comunicação pública mostre-se
majoritariamente empírica, feita na base de tentativa e erro.
Em consonância com os apontamentos acima, destacamos as colocações de
Martinez (2003) sobre a comunicação no Executivo municipal. De acordo com a
autora, os governos municipais são carentes de uma estrutura de comunicação e
esta geralmente ocorre de maneira improvisada. Tais apontamentos puderam ser
constatados na Prefeitura Municipal de Alpestre. O estudo de caso mostrou que a
administração é carente de uma estrutura que garanta à população o acesso às
informações através dos meios de comunicação de massa, sem a presença de uma
assessoria de imprensa.
Diante destas colocações reforçamos a idéia de que o trabalho de um assessor de
imprensa é fundamental nos órgãos públicos. Pois os profissionais de assessoria
têm a disposição uma série de ferramentas para aproximar assessorado, mídia e
comunidade. Entre elas destacamos o release. O release é a base do trabalho do
jornalista em assessoria de imprensa. É através dele que se leva as informações até
os meios de comunicação e o assessor de imprensa (jornalista), visto como
divulgador da informação, elabora a notícia, a qual contém características próprias de
ser um relato objetivo de fato ou acontecimento recente, preferencialmente inédito, e
que envolve algo de interesse para a sociedade como um todo ou para públicos
específicos (leitor, telespectador ou ouvinte).
Destacamos que caso o release e as demais ferramentas que a assessoria dispõe
fossem utilizadas a imagem da Prefeitura de Alpestre perante os meios de
comunicação seria diferente. Ou seja, uma comunicação realizada por profissionais,
que procuram dinamizar o trabalho através da utilização de diferentes recursos eleva
a confiança não apenas da imprensa, como também da população e do público em
geral. Além disso, o assessor de imprensa é uma espécie de ponto de apoio para
repórteres e editores, desde que haja de forma qualificada, estabelecendo
aproximação eficiente entre fontes de informação e imprensa. Os assessores
também auxiliam jornalistas a publicar informações confiáveis e ajudam no contato
com o assessorado. Esse agir de forma qualificada será responsável pelos bons
resultados da entidade perante os meios de comunicação e o público. Um desses
resultados é a maior visibilidade pública da instituição.
Portanto, espera-se de maneira urgente que os administradores, em especial o
prefeito deixem o discurso, “a comunicação precisa melhorar e deve ser feita por uma
pessoa qualificada” e “antes de contratarmos mais pessoas devemos reorganizar
nossa estrutura”, para passarem à prática, pois diante deste contexto administração e
população estão perdendo. A população por não ter acesso pleno à informação e a
administração por se distanciar cada vez mais dos munícipes.
Hoje, a comunicação realizada de forma eficaz e planejada, principalmente no
setor público, representa um compromisso social das instituições que contribui na
construção da cidadania. Essa comunicação é construída, conforme os autores
destacados no estudo, pelas assessorias de imprensa, pelos profissionais jornalistas.
Mas, tudo isso só dará resultados se os profissionais agirem como instrumento da
sociedade e não como fabricadores da imagem das empresas, instituições e
dirigentes.
Consideramos que esta pesquisa não finaliza o debate sobre como a Prefeitura
Municipal de Alpestre realiza a comunicação, pelo contrário, busca contribuir e
incentivar novos estudos, como por exemplo, junto à população para verificar se esta
percebe a lacuna comunicacional verificada por esta pesquisa, outro caminho seria
uma análise minuciosa sobre o tratamento dos releases enviados pela prefeitura,
com o objetivo de verificar o critério de notícia utilizado, já que não existe uma
assessoria de imprensa atuando na administração.
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