ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO EXTRATO BRUTO DA PLANTA SCUTIA BUXIFOLIA1 SCHNEIDER, Taiane2; ALVES, Camilla Filippi dos Santos2; LOPES, Leonardo Quintana Soares2; MOTT, Mariana Preussler3, MONTEIRO, Francielle Liz3, ZAGO, Adriana Maria3, STEFANON, Eliza Beti3, SANTOS, Roberto Christ Vianna2; 1 Trabalho de Pesquisa- UNIFRA; 2 Laboratório de Microbiologia, Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. 3 Laboratório de Farmacognosia, Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; ; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO A pesquisa de novos fármacos é extremamente importante nos dias atuais, devido à resistência dos microrganismos e da frequência extremamente elevada de infecções oportunistas. Tendo em vista estes problemas o presente trabalho teve como objetivo determinar a atividade antimicrobiana do extrato bruto da planta Scutia buxifolia. Para tal, foram utilizadas as técnicas de disco difusão e microdiluição. Os resultados mostraram que o extrato apresentou atividade contra oito microrganismos testados. Concluiu-se que os estudos com este extrato devem ter seguimento, devido aos resultados promissores encontrados. Este tipo de pesquisa é muito importante, devido a relevância clínica e científica que as plantas medicinais representam atualmente para a saúde pública e a busca de novos agentes terapêuticos deve ser sempre incentivada. Palavras-chave: Plantas medicinais; Disco difusão; Microdiluição. 1 INTRODUÇÃO Os recursos da flora vêm sendo utilizados pelo homem há milhares de anos para o tratamento de diversas patologias. A partir dos anos 1980 o interesse pela pesquisa de substâncias ativas a partir de fontes naturais para o desenvolvimento de novos fármacos, ressurgiu, devido aos avanços técnicos e o desenvolvimento de novos métodos de isolamento destas substâncias que permitiram maior rapidez na identificação de substâncias em amostras complexas (TUROLLA E NASCIMENTO, 2006). Nos dias atuais, os fitoterápicos são amplamente utilizados em diversos países e estima-se que cerca de 60% dos fármacos com atividades antimicrobianas e antitumorais, em fase 1 de pesquisa ou já comercializados, são de origem natural (SHU, 1998). Testes pré-clínicos com animais comprovaram as ações farmacológicas de alguns constituintes de plantas medicinais, entre eles, flavonóides, alcalóides, triterpenos, sesquiterpenos, taninos e lignanas (HAVSTEEN, 1983; CECHINEL, 1995). As plantas da família Rhamnaceae são conhecidas por sua variada classe de constituintes químicos, como alcalóides ciclopeptídicos, flavonóides, antocianinas, taninos, esteróides e triterpenos (MOREL et al, 1998; MARCHAND et al, 1968; MOREL et al, 1979; SHAH et al, 1986). Uma de suas espécies conhecidas é a Scutia buxifolia, e esta é utilizada como cardiotônico, hipotensora e diurética. É uma planta nativa da América do Sul, sendo encontrada principalmente no Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina (WASICKY et al, 1964). Popularmente, é conhecida como coronilha, espinho de touro, canela de espinho e laranjeira do mato (MENEZES, 1996). Porém poucos dados relatam uma possível atividade antimicrobiana. O presente trabalho teve como objetivo a determinação da atividade antimicrobiana do extrato bruto de Scutia buxifolia. 2 METODOLOGIA 2.1 Extrato brutos O material foi coletado e seco em estufa com circulação de ar a 40º C. Para obtenção do extrato aquoso, submeteu-se o pulverizado das partes das folhas da planta à extração aquosa por 30 minutos a temperatura de 70°C. Após o extrato foi concentrado em rotavapor a temperatura de 54ºC. Posteriormente foi armazenado a temperatura ambiente em frasco âmbar e sem exposição à luz, até sua utilização. 2.2 Meios de Cultura Para a cultura dos microrganismos foram utilizados os meios de cultura caldo Brain Heart Infusion (BHI) (Oxoid), ágar Nutriente e ágar Mueler Hinton (Oxoid). 2.3 Cepas microbianas Foram utilizadas vinte e duas cepas da bacterioteca do Laboratório de Microbiologia do Centro Universitário Franciscano, como pode ser visualizado na tabela 1. 2 TABELA 1 Microrganismos utilizados no estudo. Microrganismos Fonte Bacillus cereus ATCC 9634 Candida albicans ATCC 90028 Citrobacter freundii Isolado clínico Escherichia coli ATCC 8739 Enterococcus faecalis ATCC 29212 Klebsiella pneumoniae ATCC 700603 Listeria monocytogenes ATCC 7644 Pseudomonas aeruginosa ATCC 25619 Salmonella enteritidis Isolado Clínico Salmonella choleraesuis ATCC 10708 Staphylococcus aureus ATCC 6538 Staphylococcus saprophyticus Isolado Clínico Streptococcus sp. Isolado Clínico Proteus sp. Isolado Clínico Paenibacillus alginolyticus Isolados do ambiente Paenibacillus pabuli Isolados do ambiente Paenibacillus azotofixans Isolados do ambiente Paenibacillus borealis Isolados do ambiente Paenibacillus gluconolyticus Isolados do ambiente Paenibacillus validus Isolados do ambiente Paenibacillus thiaminolyticus Isolados do ambiente Paenibacillus larvae ATCC 4515 Os microrganismos armazenados em freezer -80°C foram repicados em caldo BHI, incubados em estufa à 37ºC ± 5°C, por 24 horas. Posteriormente, uma alçada contendo os microrganismos foi semeada em ágar Nutriente. Depois de 24 horas de incubação a 37°C ± 5°C, os microrganismos foram semeados em ágar Mueller Hinton. 3 2.4 Teste de Screening Primeiramente foi realizado um teste de screening, utilizando a técnica de disco difusão para avaliar a capacidade dos extratos em inibir o crescimento microbiano. Colônias isoladas de microrganismos foram inseridas em tubos de ensaio contendo solução salina estéril (0,9% de NaCl) e comparadas visualmente com a escala 0,5 de McFarland (equivalente a 1,5 x 108 UFC/mL). Posteriormente os microrganismos foram semeados com auxílio de um swab em ágar Muller Hinton, em todas as direções da placa de Petri, cobrindo toda a superfície do ágar, e em seguida, foram colocados os discos de papel filtro impregnados com uma concentração de 12 mg/ml do extrato da planta Scutia buxifolia. As placas de Petri foram incubadas por 24h a 37 °C em estufa bacteriológica e após este período foi observado a formação de halos. 2.5 Técnica de Microdiluição Bactérias de 24h que foram sensíveis (formaram halos) ao extrato, foram colocadas em salina estéril, até atingir 0,5 na escala Mac Farland. Todos os materiais utilizados no teste foram esterilizados em autoclave e o procedimento foi realizado em capela de fluxo laminar. A técnica de microdiluição (OSTROSKY et al, 2008) foi realizada em placas de noventa e seis poços e o teste foi realizado em triplicada. As placas foram incubadas a 37°C durante 24 horas e foi utilizado o Cloreto de 2,3,5 Trifeniltetrazolio (1%), em cada poço como revelador de crescimento bacteriano. As placas foram incubadas a 37°C, durante trinta minutos, para ação da substância reveladora. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Disco Difusão O extrato da Scutia buxifolia apresentou atividade antimicrobiana contra os seguintes microrganismos: Paenibacillus larvae, Citrobacter freundii, Bacillus cereus, Enterococcus faecalis, Candida albicans, Paenibacillus thiaminolyticus, Paenibacillus azotofixans e Paenibacillus pabuli. 4 Na tabela 2 são apresentados o desvio padrão e a média do tamanho dos halos de inibição formados após 24 horas de incubação. Tabela 2. Halos de inibição formados após 24 horas de incubação. Microrganismos Paenibacillus larvae Citrobacter freundii Bacillus cereus Enterococcus faecalis Candida albicans Paenibacillus thiaminolyticus Paenibacillus azotofixans Paenibacillus pabuli Média (mm) Desvio Padrão 12,78 0,03 8,78 0,83 16,27 0,30 12,60 0,08 9,58 0,66 13,03 0,06 8,47 0,01 9,19 0,59 3.2 Determinação da Concentração inibitória mínima Na tabela 3 estão distribuídas as concentrações inibitórias mínimas para cada microrganismo sensível à Scutia buxifolia. Tabela 3. Concentração inibitória mínima (CIM) Microrganismo CIM (mg/mL) Paenibacillus larvae 1,5 mg/ml Citrobacter freundii 1,5 mg/ml Bacillus cereus 1,5 mg/ml Enterococcus faecalis 1,5 mg/ml Candida albicans 1,5 mg/ml Paenibacillus thiaminolyticus 1,5 mg/ml Paenibacillus azotofixans 1,5 mg/ml Paenibacillus pabuli 1,5 mg/ml 5 CONCLUSÃO Os resultados apresentados neste trabalho são decorrentes de um estudo inicial do extrato bruto da planta Scutia buxifolia. Como foram obtidos resultados promissores, os estudos terão seguimento. A partir do extrato bruto da planta, estudaremos a fração que apresenta atividade antimicrobiana, em decorrência da importância que estes estudos apresentam nos dias atuais para a saúde pública. A pesquisa de novas plantas com atividades medicinais e a confirmação científica das já conhecidas, é muito importante, pois várias plantas são utilizadas sem o conhecimento adequado dos seus efeitos, que podem ser prejudiciais ou não à saúde humana. Além da utilização com fins terapêuticos, algumas dessas plantas são conhecidas há bastante tempo por fazerem parte da constituição de vários fármacos, alguns já utilizados na prática clínica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CECHINEL FILHO, V. Tese de Doutorado em Química – Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 1995. HAVSTEEN, B. Flavonoids, a Class of Natural Products of high Pharmacological Potency. Biochem. Pharmacol. v.32, p.1141-1148, 1983. MARCHAND, J.; MONSEUR, X. Peptide alkaloids, VII. 5. Myrianthines A, B and C, peptide alkaloids of Myrianthus arboreus P. Beauv. (Urticaceae). Ann Pharm. Fr, v. 26, p. 771, 1968. MENEZES, A.C.S. Dissertação de Mestrado- Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, 1996. MOREL, A.F. et al. Cyclopeptide Alkaloids of Scutia buxifolia (Rhamnaceae). Phytochemistry. v.47, p.125129, 1998. MOREL, A.F. et al. Peptide Alkaloids of Scutia Buxifolia. Phytochemistry, v.18, p. 473-477, 1979. OSTROSKY, E.A. et al. Métodos para avaliação da atividade antimicrobiana e determinação da concentração inibitória mínima (CMI) de plantas medicinais. Rev Bras de Farmacognosia. v.18, n.2, p. 301-307, 2008. SHAH, A.H. et al. Chemical Constituents of the Stem Bark of Zizyphus Spina-Christi. Fitoterapia, v.53, n.6, p.452-453, 1986. 6 SHU, Y.-Z. Recent natural products based drug development: a pharmaceutical industry perspective. J. Nat. Prod., Columbus, v.61, p.1053-1071, 1998. TUROLLA, M.S.R.; NASCIMENTO, E.S. Informações Toxicológicas de alguns fitoterápicos utilizados no Brasil. Rev Bras de Ciências Farmacêuticas. v.42, n.2, 2006. WASICKY, R.; WASICKY, M.; JOACHIMOVITS, R. Erstuntersuchungen na Coronilha – Scutia buxifolia Reissek. Planta Med. v.12, p.13-25, 1964. 7