ano4|número1|dez-jan-fev2014 distribuiçãogratuita|vendaproibida Ciganos,Sousa,Paraíba,2008 MÁRCIOMORAES OartistaplásticoefotógrafoMárcioMoraesnasceuemPatos, Paraíba(1970),masresideemSousahámuitosanos.Eleéum assíduoeeficienteobservador,atravésdesualentesegurae espontânea‒dascomunidadesquemargeiamascidades.Alí, aproveitapararegistrartantoohomemmaiscomum‒suas expressões,dores,medosetc.‒atéaarquitetura,objetose animaisquelheservemdeaconchegoeabrigo. Longedeseencantarcomaqualidadeestéticadesua produção,MárcioMoraesnuncaseafastadeseusvínculoseda afeiçãopelaspessoasdestascomunidades,lhesdandoo devidocaráterderegistrodocumental,algomuitoimportante nasuaobra. Daísurgiuasériederegistrosfotográficosquerealizouem tornodosciganosdacidadedeSousa,AltoSertãodaParaíba.E issograçasasuarelaçãodeamizadecomestacomunidade,em especialcomseuslíderesElánio,VicenteePedroMaia. Asfotografiasaquipublicadas,dasérieOsciganos,jáforam apresentadasemexposiçõesnaUniversidadeFederalde CampinaGrande(CampusdeSousa),naAliançaFrancesaJoão PessoaenoCentroCulturalBancodoNordeste,emSousaeno Cariri(Juazeiro,Ceará). [email protected] editorial Maisumavez,arevistaSegundaPessoaseguesuafirme determinaçãodeinsistirnareflexão,documentação,estudoe divulgaçãosobreartistas,instituiçõesemovimentosque fazem/fizeramhistórianaregiãonordestina,especialmente,eem outrasregiõesdopaís. Naverdade,oquenosmoveéanecessidadedeampliar(em todosossentidos)adiscussãodealgunstemas‒queparamuitos parecealgodesconhecidoe/ouperdidonamemória‒quesão determinantesparaacompreensãodeaçõesdaarte contemporâneaoudepolíticaspúblicasemáreasdaarteeda cultura,nonossocaso,nasartesplásticas,design,arquitetura, fotografia,modaeartesanato. EéumaalegriaqueaSegundaPessoa,selecionadanoEdital ProculturadeEstímuloàsArtesVisuais2010,daFunarte/ MinistériodaCultura,estásendodistribuída,regularmente,para instituiçõeseducacionaiseculturais,oficiaiseprivadas,emtodo oterritórionacional,alémdadisponibilizaçãodeseuconteúdo(e deediçõesanteriores)nainternet:www.segundapessoa.com.br. Nestaedição,hátextosqueesmiuçamahistóriadosmuseusde CampinaGrande,Paraíba,aomesmotempoquedetalhamseu acervo,emespecialosartigosdeFernandoMouraeRaul CórdulasobreonovoMuseudeArtePopulardaParaíba-MAPP, aserapresentadoaopúblicoemdatapróxima.Amuseóloga CristinaFreitasGomesfazumbeloapanhadosobreos”museus” deAssisChateaubriandnoNordeste.Maisumavez,háumartigo queaproximaartesvisuais-moda,dasprofessorasAlineBassoe MayrinneMeira,eoutro,deBertrandLira,sobreafotografiaea pinturanaParaíbadoiníciodoséculoXX. Índice FotografiaepinturanaParaíba:ligaçõesproveitosas porBertrandLira 4 Interfaces:aarteeamodaatravésdaroupacomo objetoartístico,porAlineTeresinhaBassoeMayrinne MeiraWanderley 10 Umdiadesol/Excala:Áquila,porFabríciaC.L.Jordão12 OretornodaBienaldeArtedaBahia,porAlmandrade16 AssisChateaubriandeosmuseusregionaisnoNordeste: osTrigêmeos,porMariaCristinadeFreitasGomes 17 Omuseuédopovo,porRaulCórdula22 3em1,porFernandoMoura28 Profissional:crítico,porCésarRomero30 JáadoutorandaFabríciaJordãopublicaestudosobreasobras UmdiadesoleExcala:Áquila,deChicoPereiraeCildoMeireles, respectivamente,produzidasnaParaíbaem1979,durantea existênciadoNAC/UFPB.Oartistaearquiteto,Almandrade,fala deassuntourgente:oressurgimentodaBienaldeArtedaBahia. E,porfim,oartistaeesteta,CésarRomero,”explica”ocríticode arte,queéeoquefaz... Boaleitura. Este projeto foi contemplado com o Prêmio Procultura de Estímulo àsArtes Visuais 2010 3 Fotografiaepinturana Paraíba:ligações proveitosas BertrandLira [email protected] Aperspectivarenascentistasignificouparaasociedade europeiaquatrocentistaosistemaderepresentaçãomais perfeitodentrodoidealpositivistadeobjetividade científicaemconfiguraçãonaqueleperíodo. Agrandemaioriadaspessoasqueprocuravaosestúdios fotográficosrecém-inauguradosnaEuropaenasAméricas, nosanos40doséculoXIX,nãoseimportavacomasfalhas 1 aindanãosuperadasdodaguerreótipo ,inventoanunciado aomundoa19deagostode1839,emParis,naAcademia FrancesadeCiênciaenaAcademiadeBelas-Artes.Atéo surgimentodafotografia,eramospintoresquemsaciavao desejodeumaclasseminoritáriadeseeternizarnum retrato. Acameraobscura,umainvençãodoséculoXV,foi,atéo adventodafotografia,instrumentoauxiliardospintores indispensávelnarepresentaçãodarealidadebaseadana perspectivarenascentista,tambémadotadapelafotografia. Estaperspectiva,segundoFrancastel(citadoporMachado, 1984,p.64),é“(...)apenasumdosaspectosdeummodo deexpressãoconvencional,fundadosobreumcerto estadodastécnicasedaordemsocialdomundoemdado momento.”Portanto,nãosendoaúnicaenemaforma “natural”derepresentaçãodomundo. GisèleFreund(1989)assinalaqueemmeadosdoséculo XVIII,antesmesmodaRevoluçãoFrancesa,aburguesia,no afãdeumaauto-afirmação,encontranoretrato encomendadoapintores,hátemposprivilégioda aristocracia,“umdaquelesatossimbólicospelosquaisos indivíduosdaclassesocialascendentetornavamvisível parasimesmoseparaosoutrosasuaascensãoese classificavamentreosquegozavamdeconsideração social.”(p.25).Foiaépocadaampladifusãodoretrato pintadoemminiaturaque,jábemaceitopelaaristocracia, cainogostodascamadasburguesas.Ummodismoseguido temposdepoispelaadoçãodofisionotraço,umamisturada técnicadorecortedasilhuetaedagravura. NasduasprimeirasdécadasdoséculoXIX,assinalaBoris Kossoy(1980)váriosespíritosempreendedores, trabalhandoindependentemente,naInglaterra,naFrança, naEscócia,naAlemanhaenoBrasil,sededicaramà pesquisadeummeiocapazderegistrarefixarasimagens projetadasnacameraobscura.Todoseles,usandosuportes equímicosdiferentes,realizaramquaseque simultaneamente,experiênciasbemsucedidasobjetivando aobtençãodefotografias.NoBrasil,HerculesFlorence, exímiodesenhistaepintor,executavaseustrabalhos (paisagenseretratos)comextremaobsessãopela representaçãofieldarealidade,inclinaçãoqueo impulsionouparaadescoberta(isolada),em1833,nonosso país. Ofisionotraço,segundoFreund(1989,p.31),“nadatema vercomadescobertatécnicadafotografia.Maspodeser consideradooseuprecursorideológico.”Suainvenção vematenderàdemandacadavezmaisnumerosadessas camadassociaisquepaulatinamentealcançavammaior prestígiopolíticoesocial.Ofisionotraçosignificoua produçãoemsériederetratos,apreçosacessíveisà pequenaemédiaburguesia,que“encontrouaíummeiode darexpressãoaoseucultodeindivíduo.”(p.25).A democratizaçãodoretrato,contudo,sóviria definitivamentecomafotografiapoisofisionotraço,com suaexecuçãomanual,nãopodiaatenderatodososestratos daburguesiaemuitomenosàgrandemaioriada população. Noâmbitodasnecessidadessociais,ainvençãoda fotografiaveiocoroaraaspiraçãodasociedadede racionalizararepresentaçãopictóricaatravésdaobtenção mecânicadaperspectivaartificialis(ourenascentista)que satisfez,porquasecincoséculos,“asnecessidades figurativasdacivilizaçãoocidental”(Machado,1984,p.63). AfotografianacidadedaParahybadoNorte,nomeanterior dacapitalJoãoPessoa,começouaperdergradativamente seucaráteritinerantenasduasprimeirasdécadasdoséculo XX(Lira,1997).OalemãoBrunoBourgard,aoseradicarna capital,assegurouumaclientelacujademanda,noentanto, nãoerasuficientementegrandeparamantê-loocupadoem tempointegral.Sobencomendaounão,viajavacom frequênciaaointeriordoestadoavisandoàsuaclientelada reaberturadoseuateliêquandodevoltaàcapital. Bourgard,alémdomais,passaadividiraclientelacom outrofotógrafoestrangeiroqueoptouporseestabelecer deveznacidadedaParahyba:osuíçoEduardLudolf Stuckert,queaquichegounosprimeirosanosdoséculo. 4 problemasparaentrarnossalõesdebelas-artes.Naterceira ExposiçãoGeraldeBelas-Artes,em1842,noRiodeJaneiro, aconteceuoqueVasquez(citadoporTurazzi,1995,p.111) consideroucomo“aprimeiraparticipaçãodafotografia numsalão,empédeigualdadecomapintura”,trêsanos antesdoquenaFrança. Afotopintura ComoBourgard,EduardStuckertcasou-secomuma paraibanaeseradicounacidadedaParahyba.Stuckertera cartógrafo,fotógrafoedesenhista,comespecialidadena técnicadebicodepena.Foicontratadocomoprofessorde desenhodoLyceuParahybano,dividindoessafunçãocom astarefasdeseuestúdioinstaladoàruaDuquedeCaxias, 325.Osfotógrafosquechamamosdeparaibanos(Pedro Tavares,WalfredoRodriguezeFredericoFalcão),iniciaram suasatividadescomafotografianoestadodesdeas primeirasdécadasséculoXXetinhamestreitasligações comaartepictórica.FredericoFalcãofoimaisfestejadopela imprensapelahabilidadecomospincéisdoquecomo fotógrafo.Nasdécadasseguintesoutrospintores,como OlívioPintoeJ.SerranoLyra,vãoassociarseusnomesà fotografia. Àparteessacontrovérsiadostatusdearteounãoda fotografia,elasótevealucrarcomahabilidadedesses pintoresedesenhistas.Afotopintura,atécnicadecoloração manualdaimagemfotográfica,surgiunosprimórdiosda fotografia,aindacomosdaguerreótipos.Oretoquedo negativo,umatécnicainventadapelofotógrafoalemão FranzHampstangleapresentadaaomundonaExposição UniversaldeParisde1855,popularizou-sedetalformaque raroseramosprofissionaisquenãotentassemexecutá-la. Osquenãopossuíamdestrezaparaadelicadatarefa, recorriamaprofissionaishabilidososparaestefim.Útilnão apenasnacorreçãodasfrequentesfalhascomunsao processofotográfico,oretoqueveiotambémpossibilitara manipulaçãodaimagemfotográficaparaacorreçãodas “falhasdanatureza”(retiradaderugas,manchasea suavizaçãodeformasdasfisionomiasmenosfotogênicas), alémdainserçãoouretiradadeobjetos,segundoavontade doclienteouaintençãodofotógrafo.Oretoque,para Freund(1989,p.75),“despojouafotografiadoseuvalor essencial”,masirrefutavelmente,lembraSusanSontag (1986,p.82),o“conhecimentodequeacâmarapodia mentirtornouoretratomuitomaispopular.” Arivalidadeentreapinturaeafotografiadatadesua invenção.Ospintoresderetratoaóleoseviramempouco temponacontingênciadeperderseumeiode sobrevivência.Afotografiavaibuscar,nessalegiãode deserdadosdapintura,seusprimeirosprofissionaisquevão utilizarnafotografiaaexperiênciaacumuladanapintura, conferindoaosseusprodutosumacabamentoartístico excepcional(Freund,1989,p.47).Essaadesãonãosedeu deformatãoespontâneacomopôdeparecer.Nãofoisem constrangimentoqueartistaspintoresseentregaramao meiomecânicodecopiaromundo,ondeo“gêniocriativo dohomemnãopodiainterferir”.Pormuitotempoa fotografiaviveu,naEuropa,esseembatecomparativocom apintura. Afotopinturaeoretoquetiveramusobastantedifundido naParaíbaentrenossosfotógrafos,doinícioatéadécada de50doséculopassado,quandooprocessoderevelação emcores,inventadoemmeadosdosanos30,aindanãoera realidadenoestado.FredericoFalcãoeOlívioPintoforam doisdessesquesenotabilizarampeladestrezanoretoquee pinturadefotografias.Aqui,apinturadevistaseretratos fotográficosnãoconsistiaapenasemconferiraotrabalho ummaiorrealismoàsimagensmas,umatentativadealçar oprodutoàcondiçãodearte. NaParaíba,osprofissionaisquesededicaramaessasduas vertentesdarepresentação(ospintoresfotógrafosou fotógrafospintores)nãoraroafirmavamternafotografia apenasummeiodesobrevivência,nãoaconsiderandouma artecomoapintura.Essaposturanãochegavaase caracterizarumarivalidadeentreospintoresefotógrafos. Primeiroporqueafotografianãoveioroubaroganha-pão dosnossospintores,comoaconteceunaEuropadadécada de1840.Umadascaracterísticasdatrajetóriadafotografia nopaís,segundoSolangeFerrazdeLima(1991,p.73),“éa ausênciadasdiscussõespolarizandofotógrafosepintores queportantosanosalimentaramaintelectualidade europeia.”NoBrasildessaépoca,afotografianãoteve ARevistaCaretadoRiodeJaneiro,de20dedezembrode 1913,saudouoartistaplásticoedepoisfotógrafoFrederico FalcãoFilhocomo“umjovemeesperançosopintor 5 parahybano”,quandoestevenoRioparaofereceraoentão deputadoJoãoMaximianodeFigueiredo,umretratodo conterrâneopintadoaóleo.Suahabilidadeemexecutar retratoscomperfeição,nestaenoutrastécnicas,éexaltada váriasvezesemdiversosveículosimpressosdaépoca.O articulistadojornalOOperário(11/10/1913)dacidadeda Parahyba,nãoconsideraFredericoFalcãoumartista “impeccavel,cujasproduccõescausemexcepcional assombro”masassinalaquehá“emvariossalõesdenossa terra,devidamenteemolduradas,asauthenticasprovas dotalentodesseartista,asquaessãobemacabados retratosexecutadosacrayon.” Nascidodeumafamíliapobre,FredericoFalcão,commuito esforço,seformouemDireitonacidadedeRecife.Avenda deseustrabalhosempintura,sobretudoretratos,foi,talvez, umaformaqueencontrouparacustearseusestudossem noentantodeixardeladoaaspiraçãodesetornarum artistareconhecido.Umaestratégiadoartistaera presentearautoridadescomquadrosondese apresentavamretratadasaóleo. Artistaatuante,FredericoFalcãoparticipoudascoletivas maisimportantesdaépoca(décadade10e20)com retratos,seutemapreferido,eoutraspinturas.O“Salon Filippéa”,emmarçode1924,parecetersidooeventono gênerodemaiorrepercussãonasociedadelocal,com grandedestaquenosjornaisONorte,AUnião,OCombate, AImprensa,OCorreiodaManhãenarevistaEraNova. Foramexpostasnosalão118obrasdecincoartistas:Amélia Theorga,VoltaireDalva,PintoSerrano,FredericoFalcãoe OlívioPinto.Comoretratista,FredericoFalcãochamoua atençãopelasuanotóriahabilidadeemretocarepintar retratos,unanimamentereconhecidaporseus contemporâneos. Jovemdesconhecida,fotografiadePedroTavares FredericoFalcão PedroTavares:deprojecionistadecinemaadesenhista, pintorefotógrafo AruaMacielPinheiro,em1918,passaacontarcomos trabalhosdosfotógrafosJulioMeiraePedroTavares instaladosna“conhecida”CasaColombo,nº73, especialistasemretoqueereproduções“executadospor processosespeciaeseaindaineditosnaParahyba.”Eles anunciamquerealizamtambém“comamaximaperfeição retratoscoloridoseampliaçõesemqualquertamanho”e queatendem“achamadosparaqualquerpontodacapital elogaresservidosporestradadeferro.”2 PedroDamiãoTavaresdeMelonasceua23defevereirode 1888,eantesdesetornarfotógrafo,trabalhoucomo projecionistadecinemanacidadedeGoiana,Pernambuco. Reconhecidocomoumvigorosodesenhistanatécnica “águaforte”,PedroTavareschegouaproduzirdesenhos animadosnosanos20,segundoFlávioTavares,netodo fotógrafoetambémartistaplástico.Comofotógrafo,Pedro Tavaresretratoupersonalidadesdomundosocialepolítico doestado. 6 tempoeaumestiloeaformadeculturaexpressadeum povo,português,lógico.Elequerdizerdoscasarões portuguesesàcidadedosseusdias.”.Trêsanosdepois,em abrilde1945,umanovaexposição,Praiasepraieirosde minhainfância,mostraumWalfredousandoatécnicade coloraçãodefotografiasnatentativadeconferirmaior realismoàsuadocumentaçãoouquemsabe,umtom artístico. AfamadeexcelenteretratistafezcomqueoGovernodo EstadoorequisitasseparaostrabalhosnoPalácioda Redenção.Porsuaslentes,passaramgovernantesque exerceramopodernoestadoaté1945.PedroTavarestinha tambémaincumbênciadedocumentarosacontecimentos relacionadosaoPalácio,cujosregistrosiriamparaas páginasdeAUnião,ojornaloficialdoGoverno.Umafunção quedeverialisonjearqualquerumera,paradoxalmente, motivodefrustraçãoeangústia.O“artistafotógrafo”sentia faltadotrabalhodeateliêenuncaescondeuodesejode voltarasededicaraessetipodefotografia.FlávioTavares, contaqueaslamentaçõesdoseuavôeramumaconstante nassuasconversas,oqueàsvezesotornavaamargurado. “Elenãoseconformavadeverseusantigosdiscípulos trabalhandonaquiloqueelegostavaeensinouafazer.”3 Afotografiacoloridasatisfaziaigualmenteaumgostosocial daépoca.WalfredoRodríguezassinaumretratodeRoberta Sobreiracoloridoàmão,ampliadoapartirdeuma fotografiaondeaparecemaentãogarotinhaRoberta,sua irmãeseupai,tiradaem1943noStudioLumière,como indicadonocarimbonoverso,umaexplícitahomenagem aocinema,suaoutragrandepaixão.Aúltimaexposição realizadaporWalfredo,ImagensdavelhaParaíba, aconteceunodia22dejulhode1967,naBibliotecaPública doEstado,naav.GeneralOsório,252. Fotógrafospintores,pintoresfotógrafos SeFredericoFalcãopoderiaserchamadodepintor fotógrafo(etalvezpreferisseassim),outrodesuageração provavelmenteficarialisonjeadoseochamassemde fotógrafopintor.Umagrandepartedamemóriavisualda Paraíbachegouaosdiasatuaisgraçasaoempenhoe dedicaçãodeWalfredoRodríguez,omaispolivalentedos nossosfotógrafos.Pintor,fotógrafo,cineasta,cronistae historiador,contribuiudeformasingularparaamemória iconográficadacidade.Suacontribuiçãoaocinemaéuma capítuloàparte. Apráticadecolorirfotografiasembrancoepreto,surgida naEuropalogoapóssuainvenção,foiumaespecialidade desenvolvidanaParaíbapelosfotógrafosoriundosdasartes plásticas.VimosqueFredericoFalcãosetornouumexperto dafotopintura.OlívioPinto,pintoreprofessordedesenho doLyceuParahybano,fezfamadomesmomodocomseus retratosepaisagenspintadas.Acreditamosqueessaprática setornourotineiranoestadoapartirdasegundadécadado séculoXX,nomomentoemqueFredericoFalcão,Pedro TavareseWalfredoRodríguezsetornaramtambém retratistasfotográficos. NãosesabeaocertoquandoWalfredoRodríguezcomeçou afotografar.Acredita-sequefoiiniciadopeloseuavô paterno,AntônioEmilianoRodríguezPereyra,queera fotógrafo.Oquenoslevaacrerquesejamdaautoriadoavô algumasdasfotografiasdacidadedaParahybadoséculo passado,cuidadosamentecolecionadaspelonetoWalfredo que,aindajovem,sededicariaàprofissãofotógrafo.Entre 1935e39,WalfredotrabalhouparaoServiçodoAlgodão comofotógrafodocumentarista,oquelherendeuuma exposiçãojáem1935,segundoinformaçãocontidano currículoresumidodeWalfredofornecidopelafamília. Pormaisquerelasquetenhahavidonatrajetóriada fotografiaparaseraceitanacategoriadebelas-artes,o intercâmbioentreartistasplásticosefotógrafosdatada apariçãodestarivalidade,ouseja,dainvençãodaprópria fotografia. Aolongodestepercurso,afotografiaeasbelas-artesse aproximaramdeváriasformas,sejanaassociaçãoentre profissionais,comofotógrafosepintores;sejanafusão dehabilidadesdistintasnumúnicoprofissional(o fotopintor,porexemplo);natrocaeapropriaçãode certastécnicas,ouaindanadefiniçãodeumaestética (Turazzi,1995,p.112). MachadoBittencourtregistramaisduasexposiçõesde WalfredoRodríguez:uma(talvezasegunda)abertanodia4 deoutubrode1942:“Dostemposdosazulejosebeiraisà cidadedehoje”,onde,segundoBittencourt(1989,p.85), Walfredoreporta“aumdadodearquitetura;(...)aum 7 Otrabalhocomafotografiafoiaatividademaispróximada pinturaqueJ.Lyraencontroucomomeiodesobrevivência. Conscientedasdificuldadesdeviverdapintura,J.Lyrase dedicavaàssuaspaisagens,naturezasmortasemarinhas comoumamadoraficionado.Noentanto,militou seriamentecomoutrosartistasparaofomentodasartes plásticasnaParaíba,fundando,em1946,juntamentecom EdésioRangeleJoséClerot,oCentrodeArtesPlásticasda Paraíba. Aparcelade“fotógrafosartistas”,noafãdesedistinguirdos chamadosfotógrafosdeofício,lançamãodeartifícios estéticosparaimprimirumtomartísticoaosseustrabalhos, nasegundametadedoséculoXIX.Vemdesteperíodoa distinçãoentreofotógrafoartistaeofotógrafodeofício (Freund,1989,p.93).Osprimeirosvãoteràsuadisposição porvoltade1900,umasériedeprocessosquevão possibilitarcadavezmaisumaintervençãopictóricana fotografiaparaobteroefeitoimpressionistadapinturaa óleo,àsemelhançadodesenho,daságuas-fortesede outrastécnicasantesexclusivasdapintura. Apartirdaí,Lyra,RangeleClerotdesenvolveramuma intensaatividadeformadoradenovosartistas,aexemplode ArchidyPicado,BrenoMattoseIvanFreitas.OCentro, instaladono1ºandardeumprédiodaruaBarãodoTriunfo, reunianomesimportantesdasartesplásticasdoestado. ArnaldoTavares(filhodofotógrafoPedroTavaresepaido artistaplásticoFlávioTavares),PintoSerrano,OlívioPinto, JoséCastordoRêgo,HermanoJosé,entreoutros, participavamassiduamentedasmemoráveisexcursõespara sepintaraoarlivre. ContemporâneodopintorefotógrafoFredericoFalcão, comquemdividiualgumasexposiçõescoletivasdepintura, OlívioPintofezhistóriacomseusretratosfotográficos coloridosamãoeseuspostaisdacapitaldaParaíba.Nasceu emMamanguapenodia1ºdemaiode1897.Foiprofessor dedesenhodoLiceuParaibano,nomeadoemnovembro 1926,esóseaposentouemmarçode1960.OseuFoto Pintura,talvezodeexistênciamaislonganacidade,foi abertoem1930.Porocasiãodaexposição“50anosda pinturaparaibana”‒ondesuaobra,marcadaoraporuma faseimpressionista,oraexpressionista,tevedestaque‒ JurandyMouraescreveuqueOlívioPinto“foiumdos pintoresmaisfestejados,tantonanossacidadecomono Recife(...)OlívioPintosemprefoiumespíritojoveme criativoeasuaparticipaçãonomovimentodeartes plásticasaquinaprovínciafoisempreintensa.“4 OCentrodeArtesdaParaíbarealizouemmaiode1947,um anoapósasuacriação,umagrandeexposiçãocoma participaçãodemaisde100trabalhosdeartistas paraibanosouradicadosnaParaíba.Foiaprimeiradeuma série,realizadaanualmente.J.Lyra,alémdeapresentartelas (comretratos,naturezamorta,paisagensemarinhas) nesseseventos,expôsaindaemNataleRecife.No14ºSalão dePinturadoRecife,emoutubrode1955,expôstrês quadros,conquistandoumamençãohonrosaeumprêmio concedidopelaUniversidadedePernambuco.Osalão reuniucercade60trabalhosdeartistasdeváriosestados. “OtriunfodopintorparaibanoJ.Lyra-grandeartistade umaprovíncia(...)honraeorgulha,sobremodo,aarte tabajara,dequeeleélegítimoeadmirávelexpoente.”5 Paraexecutarseusfamososretratosaóleo,J.Lyra convidavaomodeloaoseuestúdioparaantesfotografar.E assimfaziacomtodoseles,inclusivemendigose vendedoresdefrutas.RaulCórdulamencionaumaacirrada disputaentreosartistasElcirDiaseHermanoJosé,sobre qualdosdoisteriasidomelhorretratadopelopinceldo pintor.Lyravalorizavamuitomaissuapinturadoqueseu trabalhocomafotografia.Perguntadoseaartede fotografarseconciliavacomapintura,elerespondeu:“não seisefotografaréarte.Émaistécnica,masadmitoque sendoartistapossofazer.Paramimfoiumaatividade comercialinteiramentealienadaàpintura.”6A longevidadedoFotoLyrasótemparalelocomoFoto Pintura,oFotoStuckerteoFotoCondor.Porém,enquanto esteserampassadosdepaiparafilho(oumelhor,filhos),J. Lyraesteveàfrentedoseufotodurantetodasuaexistência. NaParaíba,artistasfotógrafoscomoFredericoFalcão,Pedro Tavares,WalfredoRodriguez,OlívioPintoeJ.SerranoLyra, antesdesededicaremàfotografia,eramtalentos reconhecidosnomanejocomospincéis.Afotografialhes deuachancedeaplicar(epopularizar)suasaptidõesnas artesplásticasparadeleitedosseusclientes.J.SerranoLyra, aoladodeFredericoFalcãoeOlívioPinto,foiumdosque maisdifundiuafotografiacoloridaartesanalmente. Fotógrafoepintor,J.Lyratinhaumapredileçãoporretratos, aosquaisimprimiaapuradoperfeccionismo.Lyraadvémde umafamíliadeartistas:JoséGracilianodeGoésLyra,seu avôpaterno,pintavaeesculpia.Pertenciatambémàfamília ospintoresefotógrafosJoãoPintoSerranoeOlívioPinto. 8 Breveconclusão Aorigemdotermoedacategoria“artesplásticas”,no sentidoda“modelabilidade”queumadeterminada matéria-primasedáàmanipulação,aexemplodaargilana esculturaedastintasnospincéis,estabeleceuma diferenciaçãodeoutrasformasmecânicas(automáticas)de representaçãocujorepresentantemaioréafotografia,por muitotempoalijadadostatusdearteemvirtudedoseu automatismo(Aumont,1993).EnquantonaEuropaessa contendafoiacirrada,noBrasil,eemparticularnaParaíba, seaconteceu,sedeudeformaatenuada,àsvezesexpressas maisemaspiraçõesemaproximarafotografiadoscânones estéticosdapintura,comopercebidasnaobradenossos fotopintores,doquenumverdadeiroconfrontoentreos defensoresdaspossibilidadesartísticasdafotografiaeos queaviamcomomeroaparatomecânicodereproduçãodo real. BertrandLiraéProfessorDoutordoDepartamentode ComunicaçãoemMídiasDigitaisdaUFPB,cineastaeautordolivro “FotografianaParaíba:uminventáriodosfotógrafosatravésdo retrato(1850-1950)“e“LuzeSombra:significaçõesimagináriasna fotografiadoexpressionismoalemão“. Notas 1.“Trata-sedeumaimagemúnicaepositiva,diretamente formadaemumaplacadecobrerevestidaporumacamadade pratacuidadosamentepolidaesensibilizadaporvaporesde iodo,quelheconferemumtomlevementedourado”(Turazzi, 1995,p.281). 2.AnúncionojornalAUnião,de2a21deabrilde1918. 3.Emdepoimentoaoautor,maiode1996. 4.JornalONorte,16/06/1971. 5.JornalOCorreiodaParaíba,10/10/1955. 6.EmentrevistaaoCadernofemininodojornalONorte, 05/10/1975. JoséLyraem1939 Mendigo,fotografiadeJoséLyra Referências AUMONT,Jacques.Aimagem.Campinas,SP:Papirus,1993. BITTENCOURT,Machado.AartefotográficadeWalfredo Rodriguez,in:Santos,Alex(Org.).WalfredoRodrigezea culturaparaibana.JoãoPessoa:EGN,1989. FREUND,Gisele.FotografiaeSociedade.Lisboa:Vega,1989. KOSSOY,Boris.HerculesFlorence:1833,adescobertaisolada dafotografianoBrasil.SãoPaulo:Duascidades,1980. LIRA,Bertrand.FotografianaParaíba:uminventáriodos fotógrafosatravésdoretrato(1850-1950).JoãoPessoa:Editora Universitária,1997 MACHADO,Arlindo.Ailusãoespecular‒introduçãoà fotografia.SãoPaulo:Brasiliense,1984. FERRAZ,Solange.Ocircuitosocialdafotografia:Estudode CasoII,in:Fabris,Annateresa(org).Fotografia:usosefunções noséculoXIX.SãoPaulo:Edusp,1991. SONTAG,Susan.Ensaiossobrefotografia.Lisboa:Publicações DomQuixote,1986. TURAZZI,MariaInês.Posesetrejeitos:afotografiaeas exposiçõesnaeradoespetáculo(1839-1889).RiodeJaneiro: Rocco,1995. 9 Interfaces:aarteea modaatravésdaroupa comoobjetoartístico MayrinneMeiraWanderley AlineTeresinhaBasso Consideraçõesiniciais CraftsedoArtNouveau,encampouumarenovaçãono trajefemininoutilizandoformaslineareseesbeltas, estabelecendoumnovovestuário,agoramaispróximoda arte‒ecriaseusKünstlerkleid,termoquepodeser traduzidopara“roupasdeartista”¹ou“vestidosartísticos”. EstasforamexpostasnaMostradeKrefeld,entãocentroda indústriatêxtildaAlemanha,quesetratavadeuma exposiçãode“RoupasDesenhadasporArtistaspara SenhorasModernas”(BARBOSA,2009,p.56).Deláparacá, ocorreramavançoseretrocessosnessasinterações. SegundoAcom, Esteartigoéprodutodepesquisasrealizadaspeloprojeto “Alinhavo”,desenvolvidojuntoaalunosdocursodeDesign deModadoUnipêpordoisanoseseismesesdeduração. Partedareflexãosobrearoupacomoobjetoeartefatoe suaspossibilidadesdeinterfacecomaarte.Aroupa,de formageral,despertainquietaçõesaoserinseridano universodasArtesVisuais,porsetratardealgotípicodo âmbitodamoda.Esta,porsuavez,éofenômeno mobilizadorderápidasmudançaspordefinição (LIPOVETSKY,2009),daíasreservasdesuainserçãona esferadasArtes. […]tantoarte,quantomodasãoprodutosdofazer humano,capazesdeprovocarassensaçõescatárticas dosublimeoriundasdabeleza.Ésemprecomamesma faculdadedejuízo,quejulgamosobelo,enãohácomo separarapurasensaçãodabelezaemdistintasocasiões estéticas(2010,p.276). Aanálisesituouaroupanaposiçãodeobjetoartístico, considerandoahistóriadaArteedaModa,bemcomoas característicassimbólicaseidentitáriasdaroupa, redundandonaseguintepolêmica:seriaamoda,arte?Ao mesmotempoemqueamodareclamaseuestatutode arte,ealgunsestilistassedenominamartistas,osconflitose debatesseintensificam,dandosinaisdequeocaminhoa serpercorridoporessapolêmicaéíngreme,longoeincerto. Contudo,nospareceinegávelasquestõesemcomumentre asduasesferas,earoupasemostraumaintercessão,da qualaarteseapropriaconscientementeapartirdoiníciodo séculoXX. Apartirdessasimbiose,ArteeModaproduzemnovos sentidos,que“sealteramouseamplificam,mastêm especificidadesprópriasquenãoseconfundem”(COSTA, 2009,p.75).Maisqueisso,oqueseconsideranesteestudo, équeelassãosimilaresnaformacomqueafetamos sentidosdoobservador(ACOM,2010),provocando experiênciasestéticassemelhantes. Édeseindagaroquepoderiadistinguiraroupa-modada roupa-arte.Conceberaroupacomoobjetoperpassante entreosdoiscampospodeesclarecerquestõesacercadas interaçõesarte-moda,observandoatenuidadedessa fronteira.Aqui,aroupasemostracomoumeloentreesses doisterritórios. Nãosepretendeaquiafirmarquemodaéarte,oumesmo quearteémoda.Porém,éimprescindívelrefletir brevementearespeitodestaideia.SegundoRicardo Resende(apudPRECIOSAeMESQUITA,2011,p.116)emseu artigointituladoMuseu,ArteeModa,“amoda,assimcomo aarte,temumpapelimportanteadesempenharna sociedadecontemporânea,odeagregareconscientizaras pessoas.Eseamodaéarteounãoparaalguns,pouco importaaqui.”.Müller(2000,p.15)vaialémedefendeque “existeumamodaquefazʼarteʼeumaartequefalada moda”. ARoupa,aArteeaModa RoupaeArtedesdesempreserelacionaram,umavezque, nassociedadesantigas,partindodadivisãodotrabalho, eramosartesãosqueficavamresponsáveispelaprodução daculturamaterialdaquelassociedades.Noentanto,foino séculoXXqueexpressivamenteaslinguagensforamse relacionandoeunificando,oferecendomutuamente contribuições. Nocontextoda“modaquefazarte”,defendidoporMüller (2000),podemosinseriramodaconceitual²ouautoral.Este desdobramentodamodacaracteriza-seporroupasquenão obedecemaumalógicafuncionalemercadológica,sendo produzidasapenasparafinsdepassarelaouafimde estabeleceroconceitodeumacoleção.Nessecontexto, consideramosModacomoumaexperiênciaestética, DeacordocomCosta(2009),jánaprimeiradécada,Henry VandeVelde,sobainfluênciadomovimentoArtsand 10 Notas torna-senecessáriosituararteemodaladoalado.Todavia nãosealmejaforçarumaconvergênciadasdisciplinasem ummesmoobjetivocomum,masapontaralgumasdesuas proximidadesecruzamentospossíveis. 1.ParaCosta(2009,p.9),otermo“roupadeartista“,“hoje designaumaproduçãoqueseinserenocampodosnovos meios,játendoestadopresenteemquasetodosos movimentosartísticosdoséculoXX“. 2.Vertentequesediferenciadamodacomercialpornãoter afinalidadedeserreproduzida.Aspeçasexpressamideiase conceitos,enãoprecisamsernecessariamente comercializadas. Arrematefinal Naslinhasanteriorespôde-seconstatarqueArteeModa sãoduasdisciplinasquefrequentementesecomunicame seaproximam.Dentreseusváriosdiálogospossíveis,a roupasemostracomoumobjetoricoemreflexõese possibilidadesdeexpressão,produtoradenovos significados,seredefinindoconstantementeporser múltipla.Comoartefatodelinguagemprópria,dilataas fronteirasdaquiloquesepercebecomomodaoucomo arte.Comomeiocambiável,aroupatemacapacidadede transitarlivrementeentreosdoisterritórios‒modaearte‒ consolidandoconexões. Referências ACOM,AnaCarolina.Experiênciaestética:amodaemalgumas intersecçõescomaartefuturistaesurrealista.In:Iara‒revista demoda,culturaearte,v.3,n.3.SãoPaulo:Senac,2010. Disponívelem:http://www.iararevista.sp.senac.br/arquivos/ noticias/arquivos/144/anexos/pdfpdf.pdf.Acessoem 28/04/2014,às19h20m. BARBOSA,ReginaSilva.OVestidodaReforma‒designe interdisciplinaridade.2009.101f.Dissertação(Mestradoem Design)‒UniversidadeAnhembi-Morumbi,SãoPaulo,2009. COSTA,CacildaTeixeirada.Roupadeartista:ovestuáriona obradearte.SãoPaulo:ImprensaOficialdoEstadodeSão Paulo:Edusp,2009. LIPOVETSKY,Gilles.OImpériodoEfêmero:amodaeseu destinonassociedadesmodernas.SãoPaulo:Companhiade Bolso,2009. MESQUITA,Cristiane;PRECIOSA,Rosane(Org.).Modaem Ziguezague:interfaceseexpansões.SãoPaulo:Estaçãodas LetraseCores,2011. MÜLLER,Florence.Arte&moda.ColeçãoUniversodaModa. SãoPaulo:CosacNaifyEdições,2000. Talvezmodanãosejaarteouartenãosejamoda,porém elasapresentamelementoscomuns,equepodemmuitas vezessemesclarouseconfundir,mesmosetratandode universoscomcaracterísticasprópriasemuitasvezes distintas.Asexperiênciasestéticasentreosdoiscamposnos fazperceberquesuasfronteirassão,nãoobstante, indefinidas. MayrinneMeiraWanderleyégraduadaemHistória,doutora emSociologia(PPGS/UFPB),professoradoCursoSuperiorde TecnologiaemDesigndeModadoUNIPÊ,orientadorae curadoradoprojetodepesquisa“Amodacomopatrimônio: museuvirtualderoupasdaParaíba“. AlineTeresinhaBassoéespecialistaemArtesVisuais:culturae criação(Senac,2011),mestraemArtesVisuaisnoprogramade Pós-graduaçãoemArtesVisuais(UFPB/UFPE),professorada UniversidadeFederaldoCeará,noCursodeDesigndeModa. 11 Umdiadesol/Excala: Áquila¹ FabríciaC.L.Jordão [email protected] AintervençãoUmdiadeSol,doartistaparaibanoChico Pereira,foirealizadaemtrêsetapas:naprimeiraforam feitosregistrosfotográficosdosbanhistasecomerciantes napraiadeTambaú,emJoãoPessoa.Emseguida,aofinal dodia,foicoletadotodoolixoeresíduosdeixadosnaorla marítimadeJoãoPessoa(aproximadamente6,5km).Num terceiromomento,olixocoletadoeacondicionadoem sacosplásticostranslúcidosfoiexpostoemestruturas quadriculares,feitascomestacasdemadeira,naPraça VicenteTrevas4.Duranteaintervenção,aindacomoparte doprojeto,foirealizadoumshow-performanceintitulado “Omitoéamensagem”,comabandaCincoEstrelas,cujo oscomponentesvestiamtangasdetecido,saiasdepalhae tinhamocorpocobertocomdesenhosgeométriconacor branca. ONAC/UFPBfoifundadoem1978emJoãoPessoapormeio deparceriaentreaFundaçãoNacionaldeArte(Funarte)ea UniversidadeFederaldaParaíba(UFPB).Seuprojetofoi elaboradoporPauloSérgioDuarteeAntonioDiasetinha comoprincipalobjetivoacriaçãodeumespaçovoltadoà difusãoeàproduçãoemartecontemporânea,numaregião quetradicionalmenteofereciaresistênciaaqualqueração atualizadoranocontextoartísticoenumauniversidadeque, hámaisdeumadécada,desenvolviaaçõesvoltadas, prioritariamente,paraaproduçãoartísticalocaleregional. Apesardaresistência,oNAC/UFPBapoiouedifundiuaarte experimentalbrasileiraemJoãoPessoa,viabilizando projetosartísticospoucocondicionadosaomercadodearte e/ouaosformatosinstitucionais.SegundoPauloSérgio Duarte,oNAC/UFPBrepresentouumimportantemarcona regiãoNordeste: Aproblemáticadolixoedousodedetritosnaarte,mesmo em1979,nãoeranovidade.Guardadasasdevidas diferençaseobjetivos,JosephBeuyscomseusanimais mortos,ossosesanguejáfaziaissobemantesdadécadade 1970,assimcomoArturBarriocomsuasTrouxas Ensanguentadasde19695.Aquestãofundamentalnesse trabalhonãoéoinusitadomaterialutilizado,massima maneiracomooartistaaproximaavidadaarteouaarteda vida,rompendocomoslimitesqueosseparadetalforma que,dificilmente,semoconhecimentopréviodaproposta doartista,poderíamosidentificaraintervençãocomoarte ouprecisarondeavidacomeçaeaartetermina. ONACfoiimportantecomomarcodoqueviriadepois ocorrer10,15anosmaistarde,commaisforçaem RecifedoqueatémesmoemJoãoPessoa,queerauma aberturainevitávelparanovaslinguagensnaarte contemporânea.[...]ONACcumpriuumpapel importantecomonúcleopioneironessedebate.² Dessemodo,entre1978e1985,oNúcleopromoveumais de60exposiçõesemsuasedeemuitasoutrasemespaços alternativosemJoãoPessoaenointeriordoEstado; realizoucursos,palestras,conferênciaseseminários; publicoulivrosdeartistas,revistasecatálogos;alémde fomentardiversosprojetosepesquisasartísticas;prestou consultoriaeassessoriaaespaçosalternativos.Emsuasede naRuadasTrincheiras‒umcasarãodoséculoXIX integradoaoCentroHistóricodacapital‒passaramAnna MariaMaiolino,JotaMedeiros,CildoMeireles,Tunga,Chico Pereira,HudnilsonJr,MarceloNietsche,FalvesSilva,Paulo Klein,PauloBruscky,AntonioDias,ArturBairro,3NÓS3, PauloRobertoLeal,VeraChavesBarcellos,GriseldaKluppel, DianaDomingues,CarlosBenderski,HildaSanches, UnhandeijaraLisboa,BenéFonteles,dentreoutros.3 Outradificuldadequeencontramosaonosdepararmos commateriaiscomuns,nessecasoolixo,comoartereside nofatodequeéprecisoentenderquenãoéolixoporsi mesmooobjetoartístico.Olixodácorpoàumsignificado, umaproblemáticaqueextrapolaasuamaterialidadeeque dizrespeitoàpoéticaeaosconceitosdoartista,os verdadeiros“objetosdearte”daproposta. Outropontocomplicadordaintervençãoéqueolixonão foideslocadoparadentrodeumainstituição,oquede certamaneiranosalertariadequeaquilosenãoeraarte tinhaalgumtipoderelaçãocomouniversoartístico.Foi expostoemumapraçadegrandemovimento,nafrentedo maisimportanteeluxuosohoteldacidade,frequentada pelaelitelocaleturistasmaisabastados.Emnenhum momentofoicomunicadoaostranseuntesquesetratava deumaintervençãoartística. DentreasdiversasaçõesfomentadaspeloNúcleono períodocompreendidoentre1978e1985,destaca-secomo objetodeanáliseasintervençõesurbanasUmdiadesole Excala:Áquila,ambasrealizadasem1979. 12 entreoNAC/UFPBeaprefeituradeJoãoPessoa‒teveseu projetopublicadonoALMANAC8. Considerando-sequeoshowfaziapartedoprojeto,não podemosdeixardefazerrelaçõesentreomaterialexposto, oespetáculoproduzidoeopúblicoobservador/ consumidordaintervenção.Aoconcebersuaintervenção juntoaumshow,essesimlargamentedivulgadoemfaixas ecartazesespalhadospelacidade,oartistapromoveum grandeespetáculoemtornodolixoexposto.Portanto,é possívelconsiderarquenessepontoseestabeleceuma relaçãoentreespetáculo/lixo/consumo.Olixo,umdos aspectosdoconsumo,passaporumprocessode espetacularização(fetichizaçãoeconsequente (re)auratização)aoseracondicionadoemsacosplásticos transparentesesuspensosemestruturasdemadeiras.Não seʻmisturavaʼcomopúblicoque,provavelmente,não conseguiaentenderosignificadodetodoaquelelixono meiodeumespetáculomusical,numapraçacomgrande fluxoepresençaturística. Aintervençãoconsistianademarcaçãonosolo,comtinta oucalbranca,deumtrapéziomedindoaproximadamente 30x20x10m,interrompidodedoisemdoismetros,emseus ladosopostosenãoparalelosentresi.Tendonestafaixa, sobreopontodeencontrodasduasdiagonaisdotrapézio umaplataformademadeira,deaproximadamente3mde altura,àqualseteriaacessoporumaescada,enaqualseria colocadaumatela. Estetrapéziodeveriaserquadriculadointernamentenuma progressãoaritmética,apartirdafórmulacriadapelo artista,demaneiraquepossuíssenassuasextremidades internas,respectivamenteumatravedefutebolmedindo 4x2m,umanão(homemmedindo1,40mdealtura)euma boladecourogrande(dotamanhodeumabolade basquete).Naoutraextremidade,umatravemedindo 2x1m,umgigante(homemmedindo2,0mdealtura)euma boladecouropequena(dotamanhodeumabolade futeboldesalão). Talvezoobjetivodoartistafosseprovocarsituaçõese estranhamentosquenolimiteevocassem,nostranseuntes, algumtipodereflexãoouquestionamentoemtornodo “consumodesenfreadonãoapenasdosmateriais industriais,mastambémdapróprianatureza[praia]”6. Comoafirmaoartistacomrelaçãoaoprojeto“éuma propostadereflexãodiantedocaosculturalestabelecido peladesinformaçãoepelapressãodoconsumo;éuma análisecríticadosistemaderelaçãoentreaspessoase delascomanatureza”7. Aindadeacordocomoprojeto,oanão,ogigante,astraves easbolasdeveriam,deacordocomumaanálise combinatória,circularpelotrapéziodemodoquedurante oitodias(tempodeduraçãoproposto),seformassem conjuntosqueviabilizassemdiferentesmaneirasde interaçãoentreosseiselementos(anão,gigante,bola pequena,bolagrande,travepequena,travegrande)que compõemaintervenção,assegurassequetodosos elementosinteragissementresi. Comessaafirmaçãopercebe-secomo,naconturbada décadadesetenta,asquestõesqueinteressavamaarte diziam,primeiramente,respeitoaosproblemasdomundo, queatingiamatodoseinterferiamdiretaouindiretamente nocontextonoqualoartistavivia.Aoartista,interessava produzirumaartepró-ativa,quealertasseapopulaçãoe tivesseumpodertransformador.Nessesentido,formas belaseharmoniosasnãoeramasmaisindicadasparadá corpoàpostura/consciênciacrítico-política,que modelavamoestarnomundodediversosartistasnaquele momento,comofoiocasodeChicoPereiraesuaarte incomum. Percebe-senessetrabalhoalgunsdesdobramentosde pesquisaanteriorEspaçosvirtuais:cantos,ondeoartista investigaosefeitosdeortogonalidadeapartirdeplanosde projeçõesnãoortogonais. Noentanto,diferentementedeEspaçosVirtuais‒emque espaçosvirtuaisforamconstruídosapartirdedesenhos geométricoseoobservadortinhaquesemoverpara encontraropontoexatodaortogonalidade‒emExcala: Áquila,oartistapropõeousodaperspectivaforadoreal, comaescaladetodososobjetossendodeformada.Tratasedamodificaçãodopontodevistacomquepercebemos JáapropostadeintervençãoExcala:Áquila,tambémde 1979,doartistacariocaCildoMeirelesapesardenãoter sidoexecutada‒porcontadeaumalegadoproblemade comunicaçãoque,suspeita-se,teveumcunhopolítico, 13 normalmenteascoisas,umavezqueoselementos colocadosnestesespaçossofremmodificaçõesemsuas proporçõeseescalasacadadiaquepassa.Essasmúltiplas perspectivasepontosdevistas,asdeformações,as modificaçõeseinstabilidadesteriamrelaçãooudiriamalgo sobreoestadoditatorialqueopaísviviaamaisdeuma década? ProjetodeExcala:Áquila,esboçodeCildoMeireles UmdiadeSol,deChicoPereira,FeirinhadeTambaú AssimcomoaintervençãoUmdiadesol,Excala:Áquila propõeumadesmistificaçãodofazerartístico.Sena primeiraintervençãoessadesmistificaçãoocorreatravésdo completoabandonodofazerartísticoepormeioda apropriaçãodeelementosdavidacomum,olixo,na segundasedáatravésdapossibilidade,queoartistanos oferece,deconhecertodooprocessoconstrutivo,enão apenascriativo,doqualaintervençãoéfruto. Nessadireção,oartista,aoreproduzirnaspáginasde ALMANAC,publicaçãoqueteriaamplacirculação,um projetoartísticoquefoisuspensopoucosdiasantesdesua realização,alémdedemonstraraimportânciadese estabelecercanaisalternativosparaacirculaçãoeadifusão daproduçãoartística,possibilitouqueaintervenção passasseaexistirmaterialmenteatravésdesua documentação.Aodisponibilizar,aograndepúblico,os cálculosmatemáticos,desenhosgeométricoseinstruções paraconstruçãoemontagemdaintervenção,oartista desfazconceitoscomoáureaegênio,tãopresentesna tradiçãoartística,demonstrandoocaráterlógicoeracional, portantohumano,dotrabalhodearteesua interdependênciacomomundomaterial. 14 Noentanto,ofatodeconhecermostodooprocessoe concepçãodotrabalhonãofacilitaacompreensãode Excala:Áquila,talqualcomoaconteceucomUmdiadesol, muitomenosdiminuiriaoestranhamentoquesentiríamos casoencontrássemostalestruturaemumadaspraçasda capitalparaibana.Nessesentido,tantoUmdiadesol quantoExcala:Áquiladialogamnamedidaemque,é possívelpensar,queambasdesenvolveminvestigaçõese questionamentosemtornodaontologiadaarte,colocando emchequediversasconcepçõespresentesnoregime estéticokantiano‒taiscomoaideiadogênio,da autoridadedoespectadorparafruirejulgaraarte,da autonomiadaarte,daartecomoprazerdesinteressado ‒promovendoampliaçõeserelativizaçõesdofazerartístico edolugar/funçãodaarte. Notas 1.EstetextofoipublicadooriginalmentenoCadernosde CulturadoGovernodoEstadodaParaíba,No.1,emMar-Abrde 2010.Paraestanovaversão,altereiquasenadanaformae muitonoconteúdo.Alémdecorrigirumououtroequívoco, melhoreimeuargumento,tornando-omaispreciso.Renovoos agradecimentosaDyógenesChavespeloconvite,tantona primeiraquantonasegundaedição,paracompartilharessas brevesconsiderações. 2.DUARTE,PauloSergio.EntrevistaconcedidaàIvairReinaldim, em05/2010,noRiodeJaneiro.In:REINALDIM,Ivair(Org.). DossiêEspaçoArteBrasileiraContemporânea‒ABC/Funarte. Arte&Ensaios.RiodeJaneiro,n.20,p.113-139,Jul.2010.p. 128-139. 3.Paramaisinformaçõessobreoprocessodecriaçãoea trajetóriadoNAC/UFPBverJORDAO,FabriciaC.L.ONúcleode ArteContemporâneadaUniversidadeFederaldaParaíba (1978-1985).2012.246f.Dissertação(MestradoemArtes Visuais)‒EscoladeComunicaçãoeArtes,UniversidadeSão Paulo,SãoPaulo,2012.Disponívelem:http://www.teses.usp. br/teses/disponiveis/27/27160/tde-01032013-113125/en.php 4.APraçaVicenteTrevasficaemfrenteaoHotelTambaú. ProjetadopelopremiadoarquitetoSérgioBernardes,oHotelfoi construídonoiníciodadécadade1970,comoumaestratégia governamentalparapromoveredinamizaroturismonacapital paraibana.Rapidamentetornou-seumsímbolodoprogressoe modernidade.Orgulhodosparaibanos,continuaater,ainda hoje,suaimagemreproduzidaemcartõespostais. 5.JAREMTCHUK,Dária.AnnaBellaGeiger:passagens conceituais.BeloHorizonte:C/Arte/EDUSP/FAPESP,2007. 6.SILVAJÚNIOR.FranciscoPereirada.Umdiadesol.In:GOMES, DyógenesChaves(ORG).NúcleodeArteContemporâneada Paraíba/NAC.RiodeJaneiro:FUNARTE,2004.(PP.30-32). 7.SILVAJÚNIOR.FranciscoPereirada.Umdiadesol.In:GOMES, DyogénesChaves(ORG).NúcleodeArteContemporâneada Paraíba/NAC.RiodeJaneiro:FUNARTE,2004.(PP.30-32). 8.Apublicação,organizadapelosartistasRaulCórdulaeChico Pereira,membrosdaequipeNAC/UFPB,foilançadaem1980. ContinhaumapanhadodasaçõesrealizadaspeloNúcleono períodode1978/1979,alémdetextos,registrosfotográficos, projetosdeartistasetc.Colaboraram,dentreoutros,Paulo Klein,CildoMeirelles,PauloSérgioDuarte,ArturBarrio,Paulo RobertoLealeTunga. 9.Oconceitode“artistacomoterrorista”foidesenvolvidopor GiogioAgambenem1970.AesserespeitoconferirAGAMBEN, Giorgio.Ohomemsemconteúdo.Tradução,notaseposfácio CláudioOliveira.2a.ed.BeloHorizonte:AutênticaEditora,2012. Assimsendo,aoretiraremdeseustrabalhos,apossibilidade dogozoestéticoeaautoridadedoespectadorparajulgar, tantoChicoPereira,comUmdiadesol,quantoCildo Meireles,comasuaExcala:Áquila,deslocamareflexão suscitadapelaartedoespectadordesinteressadoparao artistainteressado,situandooproblemaestéticoapartirda experiênciadoartistaedesuaatuaçãoconcretanomundo material,aquiaartepossuiumafunçãosocialeatuaçãoreal navidamaterial. Essemovimentodenãodissociaraartedavida,areveliado lugarreservadoparaestanoregimeestéticokantiano,só podeserexercidoporaquelesquecompreendema potênciadaarte.Foijustamenteofundamentoperigosoda arte,suacapacidadedeexporohomemaoterror,que motivouoaterrorizadoPlatãoabaniraarte/poetada cidade.Epormaisqueseinsistaemmanteraarteemum campoautônomo,osartistasterroristas9‒aquelesque reinseremnasubjetividadeartísticaumconteúdoenaarte umafunçãosocialeumacapacidadedeagirconcretamente omundo‒continuaramanosalertareapreservaropoder transformadordaarte,comopercebe-senasduas empreitadasacima. FabriciaC.L.JordãoédoutorandaemArtesVisuaisnaEscola deComunicaçãoeArtesdaUniversidadedeSãoPaulo(ECAUSP),ondedesenvolveapesquisa”AsArtesVisuaisnasações doItamaratyparaoConeSulduranteaGuerraFria”.Mestreem ArtesVisuais,tambémpelaECA/USP,compesquisa desenvolvidaemtornodaatuaçãodoNúcleodeArte ContemporâneadaUniversidadeFederaldaParaíba,no períodoentre1978a1985.Emnovembrode2010,foi premiadanaprimeiraediçãodoprêmioEstudosePesquisas sobrearteeeconomiadaartenoBrasil(ProgramaBrasilArte Contemporânea,daFundaçãoBienaldeSãoPaulo).Paraleloàs atividadesacadêmicas,atuacomoprodutoracultural,com ênfaseemprojetosvoltadoparaasartesvisuais.Possuiartigos publicadosemlivros,revistaseanaisdeeventosdaáreade ArtesVisuais. 15 OretornodaBienalde ArtedaBahia Almandrade [email protected] DepoisdesessõeslivresnoauditóriodoMuseudeArte ModernadaBahiaparadiscutirumapossívelmostrabianual deartesvisuais,a3ªBienaldaBahia,maisde45anosdepois da2ª,jánãoémaisumapromessa,estácomdatamarcada paraainauguração.Eraumareivindicaçãoeumfantasma querondavaoinconscientedosartistas,principalmenteos maisjovens.Asfalasforammuitas,faltaramosanalistas.Nos últimosquarentaanos,nãoavançamosnopensamento, nemconstruímos,ainda,umapolíticaculturalmaisefetiva, apesardoinvestimentonamobilizaçãodecomunidadese operáriosdaarteemtornodotema,nessePaís. futurodaBienalestavacondenado.AsegundaBienalfoi fechadalogoapósainauguração,emdecorrênciado momentopolíticocríticoquepassavaopaís.Amudança culturalesperadacomaindustrialização,nãopassoudeum sonho.Arealidadeculturalepolíticahojeéoutra,masé precisoconheceropassadoparadarumpassoadiante. Umamostradeartederepercussãonacionaléoobjetoda ansiedadedeartistaslocaiseacoisaprometidadoEstado quemereceumaatençãomaisdepurada,principalmente emtemposdebienais,curadoriaseresidênciasartísticas,a expectativaédiferentedadécadade1960.Asdiscussões promovidaspeladireçãodomuseuforamoportunas, colocaramsobreamesaquestõespertinentesque ultrapassaramaspossibilidadesdarealizaçãodamostra, como:asprópriasações,nãosódoMAM,comotambém dosoutrosmuseusdearte,oestágioemqueseencontraa formaçãodosartistaseaartenosdiashoje.Entrea burocraciadoseditais,asleisdeincentivoeasuperioridade domercado,osmuseusseencontramnumacordabamba, semrecursospararealizarseusprojetosemanteruma programaçãolivredepressõesexternasalheiasaos compromissosculturaisdainstituição. Orelatodequemvivenciouedequemacompanhouos acontecimentos,mesmodistantenotempo,dasBienaisda Bahiacolocaemcenaumcontextodiferentedomomento queestamosvivendo,esquecidonofundodamemória, importanteparaseretomarumaexperiência,comas referênciashistóricas.Ocenáriodasartesem1966e68era deumaBahiacentrodadescentralizaçãodaartebrasileira. Acrescenteindustrializaçãodonordeste,aSUDENE,o CentroIndustrialdeAratu,oBancodoEstadodaBahia inauguravamumanovaconsciêncianoBrasileacreditavasenumamudançanaculturadoNordeste,contexto favorávelparaaBienaldaBahia,amaisimportante exposiçãodeartedopaísdepoisdaBienaldeSãoPaulo. SeoMAMdeve,ounão,promoverumamostranacionalde arte,nãovemaocaso.Primeiroénecessárioqueele disponhadeumprojetocuratorialmaisamplocapazde driblaraburocraciaeaspressõesexternas.Odispositivode sustentaçãoparagarantirqueareferidamostranãoseja umagrandefestaisolada,queacabacomumaressacano diaseguinte.Afinal,museunãoéinstituiçãodecaridade paraadotar“artistascarentes”emuitomenoscasade eventosàdisposiçãodeproponentesepatrocinadoresque queremdivulgarsuasmarcas.Emboramuitassalasde exposiçãoseencontrematualmenteàesperadepropostas premiadasnasloteriasdoseditais,algunsprojetosaténem precisariamapelarprasorteparatervisibilidadee aprovação,sãonecessáriasaocircuitocultural. Nasegundametadedadécadade1960,houvenaBahia umaforçadevontadedeacompanharasdiversidadesda vanguardabrasileira.Nãohaviaumprocedimentode vanguarda,nemumpensamento,eramaisum inconformismocomasituaçãoemqueseencontravaa Bahiadiantedasinquietaçõesdosanos1960:Contracultura, Tropicália,experimentalismoeasrupturasdossuportes tradicionais.Avontadedeintercâmbiocomavanguarda resultounasBienaisdaBahia,quecontoucoma participaçãodasmanifestaçõesmaisimportantesdaépoca: Concretismo,Neoconcretismo,Tropicáliaetc.,fazendode Salvadorocentrodasartesplásticasbrasileiras.Chegoua provocarocenárioculturallocal,contrárioauma atualizaçãodomeiodeartebaiano.Comooregimepolítico dofinaldosanos60erapoucofavorávelaliberdade cultural,surgiuoAI-5ea2ªBienalfoifechada.Foiofimde umainiciativaquedeixouaartebrasileiradeluto. Depoisqueaculturafoidominadapelabarbárie,numa sociedadequeprivilegiaaproduçãodemercadorias culturais,opensamentofoiderrotadopelaindústriado entretenimentoeopoderdomercado.Quemacaba decidindooqueéarte,éomercado,comoapelo publicitário,eleimpõeovalorealegitimação.Asfeiras mobilizamosinvestidores,superaramemtermosde Semumprojetodecontinuidade,faltadeinteressepor mudançasporpartedeartistaecríticosdaculturalocal,o 16 AssisChateaubriande osmuseusregionais noNordeste:os Trigêmeos MariaCristinadeFreitasGomes [email protected] expectativaasbienaisdearte,queforamtransformadasem supermercadodeperiferia,comprodutosmaisemconta paraoconsumidordeclassemédia.Nãoseacreditamaisna linguagem,masnovalordetroca.Opensamentoéo líquidoderramadoquebrilhanasuperfíciedaobra,com prazodevalidadelimitado.Seoobjetodearteforumfalso brilhante,nãoimporta,satisfazàchamadaeconomia criativa. Acontribuiçãodemuitospôdelevaràconcretizaçãode umadasideiasdeAssisChateaubriand1‒acriaçãode museusdeartenoBrasil‒intentoqueteveinícionacidade deSãoPaulocomacriaçãodoMASP‒MuseudeArtede SãoPauloAssisChateaubriand,em02deoutubrode1947, sobaorganizaçãodoitalianoPietroMariaBardi,convidado pelomecenasparajuntosfundaremomuseu,cujahistória Bardipublicou,em1956,comotítulo“TheArtsinBrasil‒A NewMuseumatSãoPaulo”,editadopor“IlMilione”de Milãoe“Abrams”deNovaYork2. Opúblicodeformaçãoestranhaàhistóriadaarteprocura uminvestimentoseguro.Umabienaldearte,comouma feiradeautomóveis,senãoforumbancodeinformações confiável,trazparaomercadonovidadesparaestimularou chamaraatençãodoconsumidor.Mascomummínimode inteligência,podecontribuirparainformaretransformaro meiodearte,nestecaso,a3ªBienaldaBahiacomotema “Nordeste”,espera-secolocararegiãonocenárionacionale chamaraatençãoparaanecessidadedeum aprofundamentodalinguagemartísticanaregião.Embora oEstado,emnomedeumademocraciacultural,prefere investirnaformaçãodeproponentes,emcursosde preenchimentodeformuláriosedeformataçãodeprojetos, emdetrimentodacrítica,dainformaçãodeartista, formaçãodepúblico,capacitaçãoderecursoshumanose daqualificaçãodosespaçosculturais. TrigêmeoséotermoqueocríticoecuradorMarcusde LontraCostautilizouparaostrêsmuseuscriadospelo mecenatodeChatô,entreosanosde1966e1967,no Nordestebrasileiro3,porocasiãodaexposição“Coleçõesdo Brasil”,organizadaporele,erealizadanoCentroCulturaldo BancodoBrasildeBrasília,entreosdias9demarçoe15de abrilde2001,momentoemquetrouxeàcenaumconjunto deobrasdosacervosdoMuseudeArteAssis ChateaubrianddeCampinaGrande(MAAC),Paraíba;do MuseudeArteContemporâneadePernambuco(MAC),na cidadedeOlindaedoMuseuRegionaldeArtedeFeirade Santana,naBahia4. EstesmuseussãofrutosdaCampanhaNacionaldosMuseus Regionais5,pensadaporChateaubriandcomouma contribuiçãoparaalémdoeixoRio-SãoPauloemregiões menosprivilegiadas,designandoYolandaPenteadocomo presidente. AdiscussãoprébienalpromovidapeloMAM-Bahiavaleua pena,areconstruçãodahistóriaéfavorávelaopensamento, aculturalucra.Nemtudoéabsurdoebizarro.A3ªBienal deixoudeserumsonho,maisadiante,depoisde inaugurada,mereceumaavaliaçãocrítica. ParaCampinaGrandeforamenviadascentoedezenove obrasdearteregistradasnarelaçãoentregueaopresidente daFundaçãoUniversidadeRegionaldoNordeste-FURNe, professorEdvaldodoÓ,atualmentenomeadaFundação UniversitáriadeApoioaoEnsino,PesquisaeExtensão, instituiçãodesignadanaépocaparaadministraroacervoe criadoradoMAAC,apedidodeAssisChateaubriand6.A chegadadaobradePortinarifoirelatadaseparada, computandoumtotaldecentoevintepeças.Sãoobjetos dediversastécnicaseprocedimentosartísticos,com exemplaresdeproduçõesdedesenho,pintura,escultura, gravura,montagem,colagemeoutrosmeios,comunicando alinguagemvisualdaartedediferentesmomentose artistasdacenabrasileira,doAcademismoNeoclássico‒ Séc.XIXànovavanguardadadécadade1960,eobrasde artistasestrangeirosmodernosecontemporâneos. Almandradeéarquitetoeartistavisual. 17 Entreosneoclássicos,pinturasdoperíodoamadurecidode PedroAmérico,peçasdeRodolfoAmoedo,BatistadaCosta, AuréliodeFigueiredo;sobreoModernismonoBrasilobras deDiCavalcanti,AntonioGomide,IsmaelNéri,Vicentedo RêgoMonteiro,AnitaMalfatti,umPortinaridadécadade 50;dosanos60:AntonioDias,RubensGerchman,Pedro Escosteguy,RaulCórdulaFilho,artistasdaNovaFiguração estrangeira‒participantesdahistóricamostraOpinião65; abstratos,primitivoseoutrosícones.Doaçãoquecontou comaparticipaçãoefetivadoparaibanoDraultErnnany. ParaacriaçãodomuseudeFeiradeSantana, Chateaubriandteveoapoiodepersonalidadeseempresas daBahia;GovernodoEstado;daGaleriaQuerino,em SalvadoredapresençadeOdoricoTavares,diretordos DiáriosAssociadosnaBahia,quediretamenteparticipouda criaçãodomuseu,acompanhandoosentidodas determinaçõesdascampanhaspúblicascunhadaspelo mecenatodeChatô,quebuscavaincentivaraartepara beneficiaraaçãoculturaldosbrasileiros. Acervocompostoporartistasmodernosbrasileiros: expoentes,comoDiCavalcantieVicentedoRegoMonteiro; artistasdomodernismobaianocomoPanceti,Genarode Carvalho,Rescala,MárioCravoeCarlosBastos.Manabu MabeeTomieOhtake,aexemplodosabstracionistas; DjaniraeRaimundodeOliveira,consideradoomais universaldosartistasplásticosnascidoemFeiradeSantana. Tendocomodestaqueacoleçãoinglesa,trazidaporBardi, compostapor30obrasde28artistas,datadasentreas décadasde1950e1960.Formando-seoacervoinicialcom cercadecentoeoitentaobjetos. OMAACfoiinauguradoem20deoutubrode1967,em prédiohistóricoconstruídoem1924parasededaprimeira escolaestadualdeCampinaGrande,oGrupoEscolarSolon deLucena.AoGovernodoEstadodePernambuco,desde suafundação,gestordomuseucriadonacidadedeOlinda, foientregueumacervoorganizadoporLinaBoBardie PietroMariaBardi7esuainauguraçãofoiaprimeirados “trigêmeos”aacontecer.Em23dedezembrode1966foi instaladoemprédiohistóricodoséculoXVIII,projetadoem 1722parafuncionaroAljubedaDiocese. AindanoNordesteumacoleçãofoienviadaparaSãoLuís, querecebeuumaserigrafiasobretecidodeautoriadePablo Picasso10,entreobrasdeartistasderepercussãoregionale nacional,quehojefazempartedoacervodoMuseude ArtesVisuais,vinculadoaoMuseuHistóricoeArtísticodo Maranhão. Cercadecentoesetentaecincoobrasdearteforam enviadasaoMACdePernambuco8paradarinícioà formaçãodeseuacervo.Entreasobrasdearteenviadas pelaCampanha,umasériecomoitolitografiasdeDavid Hockney,intituladaHollywoodCollection,datadaem1965, expostaem“ColeçõesdoBrasil”erepresentativada figuraçãodosanos60.DoséculoXIX,obrasdeartistasdo academismoneoclássicobrasileiro,PedroAméricoestá presente;JoãoBatistadaCosta,registraumnu,uma paisagem,umanaturezamorta,umafigurahumana;Décio VilaresmostraumretratodaesposadoartistaRodolfo Amoedo.OpernambucanoTellesJúniorapresentaimagens depaisagensdaregião;EliseuViscontiinscritocomum autorretrato,umnueaimagemdaigrejadaCandelária,do RiodeJaneiro.Tambémrecebeuumpaineljaponêsdo séculoXVIIealgunsdesenhosiniciaisdeWaltDisney. OregionaldeFeiradeSantana9foiinauguradoa26de marçode1967,emprédioanteriormentedestinadoàFeira deGadoeposteriormenteaoGinásioMunicipal,reformado pelaPrefeituraMunicipaldeFeiradeSantanapararecebero museu,alifuncionandoaté1995,quandofoitransferido paraprédiohistórico,deestiloEclético,construídoem1916, equeabrigouaantigaEscolaNormaldacidade. BardicomentouqueChateaubriand,mesmoenfermo, empreendeusuavontadequantoàcriaçãodosmuseus regionaisecompouquíssimosrecursosdeu prosseguimentoaointento,convocando-oaajudá-lona construçãodestaideia,maselesemanifestoucontrário, poisnãoenxergavameiospossíveisàsuaconcretização,e utilizouasexpressões:“museusfantasmas”,“museussem base”e“infelizcampanha”,emopiniãosobreaquestão. Porém,aconselhando-secomEdmundoMonteiro,íntimo deChatô,decidiuentãonãoocontradizer,emvirtudede suadoença.ApontandoqueChateaubriandqueriacriarum museuemcadaestadobrasileiroequefossemmuseus comoodeSãoPaulo,naturalmentecomobrasdemenor importância.Museuspequenos,masbemmontados, dizendoaoamigoitalianoquejácontavacomadesõesdos governadoresdePernambuco,Maranhãoedeoutros Estados11.EassimBarditentouargumentar:“‒Calculeo 18 instituiçõeseducativaseculturais,intelectuais,auxiliaresde Chateaubriand;edificando-seumcomplexomuseológico afim,quepermiteumrecorteparaahistóriadamuseologia edosmuseusnoBrasil,especialmentenoquetratarda significação“museudearte”.Mostrandoosacervosdestes museusumconjuntoexpressivodacenaartísticabrasileira comofontedepesquisaedocumentaçãoedepotenciais paraexposiçãoeaçãoeducativo-cultural. mínimodecemobrasparacadaMuseuemultipliquepor dezqueacharáumtotaldemilobras.Ondeestão?Quanto custa?”.Chateaubriandbalançavaacabeçainsinuandoque Bardiestavaerrado.12 Os“museusfantasmas”,os“museussembase”,conforme insinuouBardi,seguiramseuspercursosehojeapresentam umperfilcomquestõesprópriasdeumprocessoqueno Brasilbuscaconquistarparâmetrosmuseológicosde funcionamentoadequadosàcriação,aoconhecimentoe participaçãodomuseu‒eporissoéimportanteodebate‒ quedevefocarcontribuiçãoaocrescimentosocialem benefíciodadiversidadehumanaereconciliaçãocomo meioambiente. FernandoMorais‒biógrafodeChateaubriand‒verificoua criaçãodosmuseusregionaiscomoumadesuasúltimas iniciativasequeosmuseuseapolíticaeramasúnicasações queoestimulavamemseusúltimosmomentosdevida.As duasúnicasatividadesquecontinuavamconsumindosuas energiascomoseeleestivessesão13.Comentandoainda sobreosmuseusregionaiscomo“espéciedefilhotesdo MASPespalhadosportodopaísededicados exclusivamenteàartebrasileira”14. Ressaltando-sequeAssisChateaubriandnãodeixousua regiãodenascimentosemacontribuiçãosociocultural implantadaporseumecenatocomoMASP,quea sociedadeurbanadoséculoXXviacrescer,mediantea expansãodaimportânciadainstituiçãomuseológicapor todoomundo;extrapolando,então,oeixoRio-SãoPauloe envolvendoumadasregiõesmenosfavorecidasdoBrasil. AlémdacriaçãonoNordeste,osregionaisocorreramainda noestadodeMinasGerais,nacidadedeAraxá,ondese fundouoMuseuDonaBeja(1965)‒MuseuHistóricode Araxá,voltadoparaahistóriadaregião,instaladoem casarãodoséculoXIX,comcaracterísticasarquitetônicasdo períodocolonialmineiro,adquiridoporChateaubriande quepertenceuaDonaBeja‒AnnaJacinthadeSãoJosé, importantepersonagemdacidadedeAraxá.EaGaleria Brasiliana(1966),nacapitalmineira,estabelecidajuntoa UFMG‒UniversidadeFederaldeMinasGerais,cujoacervo foiChateaubriandquemrecolheuetambémnomeou, tratando-sede“umarelíquialuso-brasileira”,15 compreendidaporobjetosartísticos,livrosedocumentos raros. Acriaçãodosregionaismarcasignificaçãoaoambiente musealbrasileiro,pois,alémdepreservar,pesquisare comunicarexemplaresdasartesvisuaispossibilita contribuiçãoaoacessosocialdeumsignificativo patrimôniodaculturaartística,numaoportunidadesem igual,quepermiteoconhecimentoeaparticipaçãodo cidadãonaconstruçãodahistóriapelosaberefazer artístico. MariaCristinadeFreitasGomesémuseólogadaSecretariada EducaçãodoGovernodaParaíba,lotada,atualmente,no MuseudeArteAssisChateaubriand-MAAC.Especialistaem AçãoEducativaeCulturalemMuseus,pelaUniversidade FederaldoEstadodoRiodeJaneiro-UniRioemestrenaáreade HistóriaeCríticadaArtepelaUniversidadeFederaldoRiode Janeiro-UFRJ,quandoabordouaobradosAnos60doartista AntonioDiasemsuadissertação.Pesquisaacriaçãodemuseus dearteporAssisChateaubriand,publicandoem2004um artigosobreoassuntonarevistaMusas‒RevistaBrasileirade MuseuseMuseologia,editadapeloIPHAN,Departamentode MuseuseCentrosCulturais.MembrofundadordoFórum NordestinodeMuseologiacriadoem1988,emJoãoPessoa,na FundaçãoCasadeJoséAmérico-FCJA.DiretoradoMuseuda FCJA,entre1987e1994.Desenvolvetrabalhosnaáreada Museologiarelacionadosàpreservação,investigaçãoe comunicação. NoSul,criou-seaPinacotecaRubemBerta,em06demarço de1967,nasededaRádioFarroupilhaeTVPiratini,em PortoAlegre,comumacervodecentoevinteecincopeças, nomeadaporChatô,primeiro,comoGaleriaBoitatá16, passandoaseradministradapelaPrefeituraMunicipalde PortoAlegre,deformaefetiva,em10denovembrode 1971,atualmenteaguardandoarestauraçãodeprédio históricode1893,deestiloeclético,queaabrigarádeforma definitiva.Obrasdaartebrasileiraeartistasingleses contemporâneosadvindosdacampanhafazempartedeste museu.17 Aparticipaçãodediferentessegmentosdasociedadena construçãodosmuseusincentivadosporAssis Chateaubriandabrangeuartistas,marchandes,políticos, empresários,banqueiros,empresascomerciaiseindústrias, 19 Notas 1.FranciscodeAssisChateaubriandBandeiradeMelo(18921968),paraibanodeUmbuzeiro,formadoemDireito, empresário,jornalistaerepórterporvocação.Personagemda históriabrasileiraquecolaborouparaaexpansãodosmeiosde comunicaçãonopaíscomafundaçãodosDiáriosAssociadose dasEmissorasAssociadas-complexocompostodecadeiasde jornais,revistas,estaçõesderádioetelevisão.Foitambém empreendedordefazendasdecaféerebanhosselecionados. Atuandocomopolítico-senadoreembaixadordoBrasilem Londres;incentivadordaculturaedaarteeamantedos museus.Estimuloutambémapuericulturaeaaviação.Ver biografia:MORAIS,Fernando.Chatô:oreidoBrasil,avidade AssisChateaubriand.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,1994; PONTUAL,Roberto.DicionáriodasartesplásticasnoBrasil.Rio deJaneiro:CivilizaçãoBrasileira,1969.VerbetesobreAssis Chateaubriand. 2.Ver:BARDI,PietroMaria.SodalíciocomAssisChateaubriand. SãoPaulo:SharpS/A;MuseudeArtedeSãoPauloAssis Chateaubriand,1982,p.5. 3.Ver:ABREU,Gilberto.Porumageografiadaarte.Jornaldo Brasil,RiodeJaneiro,04mar.2001. 4.Ver:LONTRACOSTA,Marcusdeetal.Catálogo.Coleçõesdo Brasil.Brasília:CentroCulturalBancodoBrasil,2001.03v. 5.Sobreacampanhaeosmuseuscriados,vertambém:BARDI, PietroMaria.Chateaubriand:fundadordemuseus.OCruzeiro, RiodeJaneiro,20abr.1968;FREITASGOMES,MariaCristinade. AcriaçãodemuseusdeartenoBrasilpelomecenatodeAssis Chateaubriand.In:MUSAS‒RevistaBrasileiradeMuseuse Museologia.InstitutodoPatrimônioHistóricoeArtístico Nacional,DepartamentodeMuseuseCentrosCulturais.v.1, n.1,RiodeJaneiro:IPHAN,2004,p.147-156;HOSSAKA,Luiz. Quadrosconstituemumtesourodahumanidade.Diáriode Pernambuco,Recife,23ago.1992;LOURENÇO,MariaCecília França.Museusacolhemmoderno.SãoPaulo:Editorada UniversidadedeSãoPaulo,1999.NEGRÃO,MariaCristinaG. HistóriadosmuseusnoNordestedoBrasiloudocolecionismo deNassauaoMuseuDidáticoComunitáriodeItapoã.Planode trabalhoparaseleçãoaocursodemestradodeHistóriada UniversidadeFederaldePernambuco,1994.22p.Digitado; NEIVA,Graça.Ummecenasnovelhoestilo.Entrevistacom DraultErnanny.ArteHoje.RiodeJaneiro,Riográficaeditora, ano1,n.9,p.38-41,mar.1978. MuseudeArteAssisChateaubriand,CampinaGrande RetratodeAssisChateaubriand,DimitriIsmailovitch,1968 6.SobreoMAACvertambém:ArteBrasileira:DoSéculoXIXao XX(Academismo,ModernoeAnos60)ColeçãoAssis Chateaubriand.MuseudeArteAssisChateaubriand;Fundação UniversitáriadeApoioaoEnsino,PesquisaeExtensão. CampinaGrande,12dez.2008.Folder.4p.Catálogogeraldo RetratodeDraultErnnany,DimitriIsmailovitch,1968 20 acervodedocumentos/objetosdoMuseudeArteAssis Chateaubriand-UEPB.CampinaGrande:MinistériodaCultura‒ Pronac;SEC/PB;MAAC;Ed.Marcone,1993;EdvaldodoÓ:foi ChateaubriandquemfundouoMAAC.DiáriodaBorborema, CampinaGrande,10dez.1992;LEVY,RuthNinaVieira;NEGRÃO, Cristina;SILVAJÚNIOR,FranciscoP.da.GaleriadoMuseude ArteAssisChateaubriand.MuseudeArteAssisChateaubriand; GovernodoEstadodaParaíba‒SEC;UniversidadeEstadualda Paraíba.CampinaGrande,23dez.1997.Folder.6p.;CÓRDULA FILHO,Raul;SILVAJÚNIOR,FranciscoPereirada.Osanos60: revisãodasartesplásticasdaParaíba.JoãoPessoa: MEC/Funarte;UFPB;Grafset,1979. ConservatóriodaUFMGexpõearteluso-brasileira.Notícias. UFMG.28out.2003.Disponívelem: http://ufmg.br/noticias/ev_28102003_brasiliana.shtml.Acesso em:29abr.2008. 16.NumaalusãoaosmuseusfantasmascitadoporBardi, ChateaubriandresolveutitularomuseudePortoAlegre primeirocomonomedeumfantasma,espéciedetouro furioso,chamando-odeGaleriaBoitatá,logomodificadoem virtudedamortedeRubemBerta,empresáriodaaviaçãoe colecionador,quejuntoaChateaubriandcriouestaPinacoteca. Ver:LOURENÇO,op.cit.,p.246. 17.Ver:AcervodaPinacotecaRubemBertaterálocaldefinitivo. RevistaMuseu.10set.2007;Monumentavairestaurar PinacotecadePortoAlegre.AconteceRS.26fev.2008. Disponívelem:http://www.sortimentos.com/rs/porto_alegre1093.htm.Acessoem:26fev.2008;PinacotecasMunicipais AldoLocattelieRubemBerta.Disponívelem:http://guias asemana.com.br/detail.asp?/Pinacotecas_Municipais.Acesso em:26fev.2008ePrefeituraMunicipaldePortoAlegre. Disponívelem:http://www.portoalegre.rs.gov.br/.Acessoem:6 fev.2010. 7.Ver:OMAC,em23dedezembrode2007,comemorouseus 40anos,prestandoumahomenagemaLinaePietroMaria Bardi,conformetextosobreaexposiçãocomemorativaOMAC SOMOSNÓS‒TodosNós!,aelesdedicada.Disponívelem: http://www.vetorcultural.com/nsomomac.html.Acessoem: 15/02/2008. 8.SobreomuseudePernambucovertambém:MUSEUDE ARTECONTEMPORÂNEADEPERNAMBUCO.Disponívelem: http://jc.uol.com.br/cultura/museus_olinda.php.Acessoem:26 abr.2008eMUSEUDEARTECONTEMPORÂNEADE PERNAMBUCO.Catálogo.MinistériodaEducaçãoeCultura, Funarte;SecretariadeTurismo,CulturaeEsportesde Pernambuco,Recife,1982. 9.Ver:AArteBrasileiradaColeçãoOdoricoTavares.Catálogo. MuseudeArtedaBahia,FundaçãoCulturaldaBahia.Out.1992 eMuseuRegionaldeArtecomemora40anoscomexposição deCésarRomero.AssessoriadoCentroUniversitáriodeCultura eArte,FeiradeSantana,27mar2007.Disponívelem:http:// www.uefs.br/portal/news/2007/museu-regional-de-arte-come. Acessoem:15fev.2007. 10.ObradePicassoérestauradapeloMuseuNacionaldeBelas Artes.Disponívelem:http://portal.iphan.gov.br,notícias, 02/03/2007Acessoem:30mar.2008. 11.BARDI,1982,op.cit.,p.122-124. 12.Ibid.p.123. 13.MORAIS,op.cit.,p.680. 14.MORAIS,loc.cit. 15.Ver:MUSEUDONABEJA-MuseuHistóricodeAraxá. FundaçãoCulturalCalmonBarreto.Disponívelem: http://usr.cd-graf.com.br/~barreto/musbeija.htm.Acessoem: 28fev.2008;SANTOS,Priscila.Relíquialusobrasileira.UFMG. Notícias.Disponívelem:http://barbela.grude.ufmg.br/gerus/ noticias.nsf/e76867f1f59135c98.Acessoem:29abr.2008;Uma galeriaqueretrataoBrasil.UFMG.Disponívelem:http://www. ufmg.br/boletim/bol1272/pag12.html.Acessoem:29abr.2008; 21 Omuseuédopovo RaulCórdulaFilho [email protected] documentação,emníveldeigualdadecomoutras disciplinas”. OConselhoMundialdeArtesanato(WorldCraftCouncilWCC),ONGfiliadaàUNESCOnacategoriaA,oquesignifica tervoznoConselhoConsultivo,realizouemVienasuaIX ConferênciaInternacional,em1980.OtemafoiO ArtesanatoeoFuturo,eomanifestogeradonaquele encontroseresumenaDeclaraçãodeVienaSobreoFuturo doArtesanatoescritoporumacomissãocompostapor artesãosdeváriasprocedências,museólogos,antropólogos, consultoreseoutrosespecialistasnoassunto.Omanifesto começaassim: TiveaoportunidadedeatuarnoWWCcomorepresentante doBrasilentreosanosde1976e1982,quandofinalmente incorporeioartesanatoàminhavidaprofissional‒não comoartesão,mascomopesquisador‒,especialmente quandoestivenoMéxicoem1976,paraparticipar,como observadordaRedeGlobo,daVIIConferênciaInternacional deArtesanatonospreparativosdacuradoriadoIIISalãode ArteGlobaldePernambuco‒OArtesanatoeoHomem. ParaarealizaçãodoSalãoconvidamososenhorTonatiúh Gutiérrez,naépocapresidentedoFondoNacionalParael FomentodelasArtesanías-Fonart.Foinestaocasiãoque Tonatiúh,membroativodoWCC,meconvidouparaa funçãoquedesempenheinoBrasil. Somososguardiõesdenossacultura,edevemos assumiraresponsabilidadedanossaidentidade expressanonossotrabalho,nãoaserviçodo consumidoranônimo,masdoserhumano. OcaráterculturaldaDeclaraçãodeViena,seconhecida hoje,causariaimpactonos“especialistas”brasileirosque dirigemseusesforçosparaos“negóciosdoartesanato”,e relegamaosegundoplanooartesanatocomoatividade humanabásicaefenômenoculturalfundamental.Os artesãoseoconjuntodesuasobrasprecisamdogoverno sim,masnãodeorientaçõesneoliberaisquevisemsomente onegócio,poisoartesanato,entreoutrospredicados,é umaatividadesocializante.Oartesãoprecisadeapoio humanoedecidadania,quesealcançaatravésdebens coletivoscomomoradia,escolaparaosfilhos,saneamento básicoepostodesaúde,pelomenos.Assimelepoderá trabalharcomserenidadeemantersuacasaesuafamília. Nadadissoédifícilnaatualconjunturapolíticabrasileira, poiscasa,escola,hospitalesaneamentofazempartedas conquistassociaisalcançadaspelopovonosgovernosdos últimosanos.Éprecisoapenasvontadepolítica. FiqueiummêsnoMéxicoobservandoofuncionamentodo Fonart,viajandoparaconhecerexperiênciasrealizadasem Puebla,Oaxaca,Guerreo.Depoisdisso,mantivecontato perenecomosorganismos,especialmenteosbrasileiros quetinhamnaépocaosrumostraçadospeloPrograma NacionalParaoDesenvolvimentodoArtesanato,criadoem BrasíliapelaparaibanaIsaMaia,funcionáriadealtoníveldo MinistériodoTrabalho.Achonecessáriasestasinformações paratraçarumalinhanotempoondeeupossacolocar subsídiosparaumapequenahistóriadasgestõespúblicas sobreoartesanatoparaibano,poistratamosaquideum museudaUniversidadeEstadualdaParaíba. Meuinteressepeloartesanato,naverdade,começouna décadade1960,quandoosVoluntáriosdaPaz‒Peace Corps,jovensamericanosbem-nascidosquefugiamdo Vietnã,cumpriamsuasmissõesassistencialistasatravésde residênciasnaAméricaLatina.Em1963,SteveHattenbach, designerrecém-formadonaPensilvânia,ensinavadesenho noDepartamentoCulturaldaUFPBondeeuerasupervisor. Tornei-meamigodeSteve,eatravésdelesoubedaatuação dedoisoutros”voluntários”:oartistaplásticoRoberto DʼAlessandroqueseestabeleceuemPatos,eRobertFrost emCatolédoRocha. AParaíbaacabadeganharummuseuparaconservare mostrarosobjetosrealizadosporseusartesãoseartistas popularesvisuais,musicaisepoetasdo“cordel“.Trata-sede umbelíssimoedifícioprojetadoporOscarNiemeyerna margemdoAçudeVelho,oespelhodʼáguadeCampina Grande.Estemuseudaculturapopularparaibana,aolado doMuseudeArteAssisChateaubriandquetemdimensão internacional,estádestinadoaseroelementochaveparao avançodaculturalocal,deraiz,comapotencialidadeque podeproporcionarumacasadeculturadestecalibre, voltadaparaamostragem,pesquisaeeducação.Aliás,a declaraçãodeVienareivindicava:“Odireitoàpesquisaeà RobertoprestavaassistênciaàComunidadedasPlacas, bairropaupérrimoàsmargensdaestrada,aumquilômetro dacidadedePatos.LáviviamDonaMariadosBichos,sua irmãFelisminaeorestodafamília,dosquaisaindame 22 lembrodeNevinha,querevisiteiem1980quando documenteiseutrabalho,eLucinhadosBichos,daterceira geração.Osbonecosdebarro,aartedetodaselas,têmtrês utilidades:ex-voto,oadornoeobrinquedo.FuiaPatosa convitedeRobertoefiqueichocadocomarealidade daquelaspessoas,extraordináriasartistasvivendoquasena miséria.Eraomeuprimeirocontatocomaarte“primitiva” brasileira.Porqueprimitiva?Porqueaquelarealidadeera paleolítica,osobjetosartísticosquecriavamestavamem umníveldepureza,rusticidadeebelezaencontradosna arterupestre‒emboraacomunidadeemqueviviam existissenoséculoXX,numacidademoderna.Duranteo anoquedeRobertoviveuemPatos,eleacompanhouo trabalhodeMariadosBichos,amaiscontundentedetodas elas,ecomprougrandepartedesuaproduçãoparadoara umafundaçãoamericana,oqueamenizou,masnãotantoe porpoucotempo,avidaduradaquelaspessoas. tradicional‒porqueexisteoartesanatocontemporâneo,ou metropolitano‒tornou-seumaalternativaválidaparaa sobrevivênciadoartesanato:aparceriadoartesanatocomo design,poisaliaoartesão,donodaprodução,eodesigner, organizadordaprodução.Estaquestãofoimuitodiscutida naépoca,quandoostécnicoseteóricospuristas consideravamistoumainvasãocultural.Porémestafoiuma alternativa‒existemvárias‒delevaroprodutoartesanalà classemédiaurbanasemdestruirofazerautêntico.nocaso, atecelagemdarede. Outroexemplodesucessodestaaliançaartesanato/design foialouçadebarroproduzidanoPiauí,noentornodaSerra daCapivara,ondetrabalhaaarqueólogaNiédeGuidon.A paneladebarrocomumdaregiãofoianalisadae redesenhada,ouredesignada,parasuaintroduçãono mercadodaclassemédiaurbana.Foramimplantadas correçõesnamatériaprimaenaqueima,permanecendoa rusticidadedaolariaoriginal.Noacabamentoempregou-se oesmalte,eosmotivospré-históricosdasgrutasdaregião forampintadascomomotivodecorativo.Aempresa francesaTok&StokcomercializaestesprodutosnoBrasil inteiro,apresentaaopúblicoumalouçaoriginal,resistente ebela. EmCatolédoRocha,RobertFrostaparelhouuma cooperativarecém-criadapelaArtesanatodoNordesteArtene,departamentodaSudenenaépoca.Tratava-sede umacooperativadetecelõesdetearesmanuaisusadospara tecerredesdedormir.Robertlevouparaelesummodelode produtocriadoespecialmenteparaoPeaceCorpspela tapeceiracolombianaOlgadeAmaral,àépocaumadas maioresfigurasdatapeçariamodernanomercado internacionaldearte. ExemplodeinsucessofoioqueomesmoRobertFrost tambémimplantounacooperativadeCatolé:atécnicaea produçãodaestampariaembatik,sistemaasiáticoe africanodeestamparemtecido,ondeseutilizanaÁsiaa ceradeabelha,enaÁfrica,agomademandioca.Foioutro sucessodemercado,mas,umfracassodopontodevistada preservaçãodaculturaque,aliás,nãochegavaasera preocupaçãodoPeaceCorps.Eletrouxeosdesenhosde fora,eeramkitchiescomopapagaios,araraseoutrostemas fáceisdeseremcompradosemMiami,porexemplo. Exógenoounão,oquefizeraminfluenciouomeioartístico deJoãoPessoa,aProfessoraDoutoraMadalenaZaccara montouumagaleriadeartechamadaGaleriaBatik. OprojetoencomendadopeloPeaceCorpsvisava desenvolvernúcleosdeartesanatoondeosVoluntáriosiam trabalhar.Seudesigntinhacomobaseasimplificaçãode umaredededormir,deondeforamretiradosospunhosea varanda,restandoentãoumretângulodetecido.Deste retângulofoieliminadaboaquantidadedefiosvisandoum desenhoformadopelosespaçosdeixados.Oacabamento erafeitocomripasquederamaoobjetoaformadeumbelo estandarte.Foiumsucessocomercialemtodosospaíses emqueoPeaceCorpsatuava.NaParaíbanãoseria diferente. NaParaíbativemosváriascooperativas,massomentetrês resistiramparaalémdoregimemilitar,queinviabilizoua Artene:asdeCatolédoRocha,dePatosedeJuripiranga.Na cooperativadePatossefaziamgamelaspintadasàmão, transformadasemobjetodeadornomudandoassimsua função.OobjetivoeraomesmodeCatolédoRocha:elevar opreçodeumobjetoproduzidoevendidoapreçovilpara EncontreiOlgadoAmaralnaConferênciadoMéxicoe trocamosideiassobreessetrabalho,queeraconhecido aquicomo“EstandartedeCatolédoRocha”.Foiumdos maisbemsucedidosexemplosdocasamentododesigner comoartesão.Esteaspectodoartesanato,levando-seem contaonívelsocioeconômicoqueabrigaoartesanato 23 teóricosdamatéria.Muitosepensouesetrabalhouapartir destetempo,pessoasdomeiointelectualeartístico,como ohistoriadorHugoMoura,opesquisadorBalduínoLélis,o professorFranciscoPereiraJúnior,opoetaJurandyMoura,a pintoraCeleneSitônio,entreoutros,engajaram-senas novasinteraçõescriadasentreoartesãoeasociedade.As açõesdestaépocaestãoregistradasemváriosdocumentos depositadospeloNuppo,àesperadeestudosparamelhor secompreenderessesesforços,quealémdoartesanatose estendeupelafarmacopéia,folguedos,culináriaeoutras formasdeexpressãoecostumespopulares. Vimososurgimentodeartistaseartesãosportodoo Estado.Apinturanaïf,categoriadeartealtamente expressivaevaliosa,sedesenvolveuapartirdeartistas comoAlexandreFilho,JoséLucenaesuafilhaLetícia Lucena,IreneMedeiros,LuizTananduba,AnaliceUchôa, ClóvisJúnior,AdrianoDias,DalvaOliveira,CéliaGondim, JosenildoSuassuna,IsaGalindo,MadrianoBasílio,Denise Costa,TitoLobo,MárcioBizerril,TadeuLyraeMariaLívia. introduzi-lonomercadodaclassemédia.Asmulheresdo BairrodasPlacas,lideradasporDonaNazira,pintavamnas gamelasqueoshomensentalhavamemmadeira.Patosde tornouumverdadeiroceleirodeartenaïfpintadanas gamelas,distribuídasevendidasportodooNordeste,com oapoiodaARTENE.Naprocurademotivosdecorativosfezseumdiaumconcursodedesenhoseumadasmulheres, quehaviamoradonolitoral,desenhouumcaranguejo.Era umlindodesenhodecaracterísticarupestrequepassoua serosímbolodacooperativaeaserpintadoportodaselas, cadaumacomsuaprópriaversão.Éoutroexemplode sucesso,sendoqueainterferênciasedeuapenasna concepçãodoobjeto:atransposiçãodousodapecuária paraadecoração,eaintroduçãodapinturana comunidade.Hojeacooperativanãomaisexiste,masafilha deNaziraéumapintoranaïfdegrandequalidade. Axilogravura,técnicafundamentalnacomunicaçãodo textopopular,sedesenvolveucomJoséCostaLeite,umdos últimosgrandescapistasdecordel,eJoséAltinocomsua artedeorigempopular,completariaouniversodessa expressãoquenuncaparoudecrescer,influenciando algunsartistaseruditos. ONordestebrasileirotemumatradiçãodeolariaquese estendedoLitoralaoSertão,comtradiçõesindígenas, africanaseportuguesas.NaParaíbatemoslocalidadescom tradiçãolouceiracomoaSerradoTalhado,emSantaLuzia doSabugí,grupooriundodeumquilombo,lideradopela louceiradeRitaPreta,quehojefuncionanoGalpãodas Louceiras;osintegrantesdasassociaçõesdeartesãosdo Cariri;elouceirasdaVárzeaedoBrejo,comoasde GuarabiraedeSantaRita,porexemplo. Desdeadécadade1960existemnaParaíbapolíticas públicasrelacionadasaoartesanato.Temosumahistória eloquentedeaçõestécnicaseartísticasquejustificameste momentoprodutivotãorico.NaSudene,criadapelo sociólogoparaibanoCelsoFurtado,houveum departamentodestinadoaoestudoeaodesenvolvimento doartesanato,aArtene,quefoiimplantadopelotécnico tambémparaibanoEdésioRangel,tambémpintor,que desenvolveuumprogramadecooperativasartesanaisno Nordeste.EmJoãoPessoa,caucionadospeloPrograma NacionaldeDesenvolvimentodoArtesanato,técnicosda UniversidadeFederaldaParaíba,tendoàfrenteaprofessora TerezaAquinoMontenegro,criou-seumalinhade pesquisasqueveioseconstituirnaSuperintendênciapara DesenvolvimentodoArtesanato-Sudart,quetinhapor objetivosistematizarumaaçãoparaorganizaçãodos artesãosemcooperativaseoensino-aprendizagem, chegandoacontratarartesãosparaestaatividade,hoje sabemosumaatitudeequivocada,quando,narealidade, nãoseriadestaformaamelhorcontribuiçãodaUFPBao artesanato. Ondeexisteolariaexistelouçaebonecodebarro. Sambemos,porém,queessaincidênciadiminuideacordo comadiminuiçãodapobreza,poisoleiroderivapara atividadesmaislucrativas.Oaparecimentodomercadode arte,fenômenobalizadopelocrescimentodaeconomia,dá vezàapariçãodacerâmicaartística,comoaconteceuem CaruarueTracunhaém,emPernambuco,enaperiferiade JoãoPessoa,comosmestresTotaeAbimael. AcerâmicaartísticadaParaíbasedesenvolveuemtorno destesmestresTotaeAbimael,edoartistaMigueldos Santosquesempreafirmousuaorigemnobarro.Miguelé nascidoemCaruaru.MigueleTotasãoescultores figurativosdegrandepeso,sendoMiguelartistadealcance nacionalquetambéméumdosnotáveispintores brasileiros.Chefedeumafamíliadeartistas,Migueléirmão deAntoniodosSantosetiodeChicodosSantos.Totafoi umdosnossosmaiscriativosescultoresceramistase tambémumdosmaisprofícuosceramistasutilitários, produtordejarrosepanelasqueeleconfeccionavacom qualidade.TotaépaidoartistaTemilsonRégis.Mestre Abimaelsededicouàformaçãodejovensaprendizesda arte,sendoeventualmenteassistentedeRosildadeSá, AomesmotempooReitorLynaldoCavalcantiinstalouaPró ReitoriaParaAssuntosExtraordináriosnaUFPB,dirigida peloprofessorIveraldoLucena,que,porsuavez,criouos NúcleosdeExtensãoePesquisa,entreelesoNuppo, destinadoapesquisarepromoveraculturapopular paraibana,queteveacoordenaçãodosprofessores OswaldoMeiraTrigueiroeJoséNiltondaSilva,importantes 24 Noartesanatodamadeiraencontramosescultores, especialmentesanteiros,entalhadores,miniaturistas, marcheteiros,carpinteirosemarceneiros.Começandopelos escultoresdesantosemnossamemóriapermanecemDona PaulinadeLagoaSeca,possuidoradeumdelicadoelimpo estilodecorte,quedeixouuma“dinastia”emseusfilhose netosquemantêmoGrupodeArtesanatoemMadeira PaulinaDiniz,eAnaPamplona,maisinfluenciadapelos santosbarrocos.ContinuandoatradiçãotemosMariada SilvaSantos(NeguinhadoCasserengue)eMaritôniode Sousa.Entreosescultoresdeoutrastemáticastemos Guariguazi,queeventualmenteabordaotemareligioso esculpindoaCeiadeJesuscomosApóstolosque,como OzielCoutinho,escultordeanimaisdaterraedepássaros, utilizaamadeirapolicromadaetambémtrabalhacomo marceneirodearmáriosestilosos.Alistadeescultoresse desenrolacomnomescomoGivanildoIsmael,SeuBento, LisSoares,LindinaldoNascimentoeosartesãosda AssociaçãodosArtesãoseArtistasdeSantaLuzia.Grande númerodosartesãosdamadeirasãominiaturistasnotáveis, acomeçarporJoséAlvesMonteiroeSeverinoFreire,que fazemminiaturasdebarcos,EdsonSilva,defazlocomotivas, FranciscoFélix,queminiaturizatratores,eosquefazem fachadaseinterioresdascasas,igrejasepontoscomerciais dointerior:BiagioGrisi,AdelsonElizário,Lamarckde Meneses,JoséMoraisSantos,CarlosAlbertoPaschoal, MárciaFelintoeEvanildaLima.Outrogrupodeescultores damadeiraconfeccionafloresefrutas,destacamosJosé BatistaBarreto. outragrandeexpressãodenossaartecerâmicaquese tornoudoutoraemartenaUniversidadeFederaldaBahia,e hojelecionanaUFPB.Temosoutrosescultoresceramistas domaisaltonível,comoChicoFerreiraquefazcommuita competênciaeoriginalidadeajunçãodaarteutilitáriade altonívelcomaartefigurativa,sendotambémpintor profícuo;MariadosMares,arteeducadoradegrande produçãoquedirigeseutrabalhonadireçãodoimaginário popular;GinaDantas,cujaspeçasnoslevamaumrico onirismoqueelaadornacomrequintadascamadasde adobe. Naáreadetecidosraros,desdesempreexisteumanotável produçãoderendasdeváriostipos,principalmenteas rendasdebilro,mastambémrendafilé,labirinto,frivolité, crochê,tecelagemartesanal,punhoevarandaderedede dormir,eoutras.Diz-sequeaondehárede(depescar)há renda,eisporquearendadebilro,especialmente,étão comumnaspraias.Ocorrequearedetambéméumarenda feitapelohomem.Otrabalhodohomemnaproduçãoda rendaseverificatambémnadesfiaduradeáreasdotecido, naconfecçãodasarmaçõesparaarendadelabirinto,ena feituradoinstrumental,comoalmofadaebilros. Amarchetariaéumaespecialidadedeexcelênciano artesanatoparaibano,comdestaqueparaFernando Valentim,mestredomarcheteedotorneamento,famoso porproduzirbolastorneadasondejuntadoistiposde madeira.Namarchetariadecaixaseoutrosobjetostemos AntoniodeLira,JailtondaCruz,MárioValentimeManuel Moura(Nezinho). Aaçãodosgovernosestaduaisrecentes,comdestaquepara ogovernodeCássioCunhaLima,queteveaseufavora açãointeligenteeativadesuaesposa,Sra.SílviaCunha Lima,alémdeconsolidarestesetorparticipouativamente paraacriaçãodasfeirasdeartesanato(oSalãodo ArtesanatoeArtePopulardaParaíba,porexemplo),daCasa doArtistaPopular,emJoãoPessoa,eesteMuseudeArte PopulardaParaíba-MAPP,concebidoporOscarNiemeyer, construídopelaUniversidadeEstadualdaParaíba,no reitoradodaprofessoraMarleneAlves,eagorafuncionando naadministraçãodoprofessorAntonioGuedesRangel Júnior. Arendaeacosturadãovezàfeituradebonecas,oubruxas depano,eoutrosobjetosdetecido.Nacriaçãoeconfecção debonecas,ondeaParaíbaépródiga,éimportante assinalaraobradeAneteCunha,criadoradefigurasfeitas detecidocaracterizadaspelaperfeiçãodeseusdetalhes.Foi elatambémquemaperfeiçoouaconfecçãodesantosde estopa,artesanatocaracterísticodaParaíba. OlavordocouroemtodooNordestetemseuápicena indumentáriaeosarreiosdosvaqueiros,ondeencontramos naParaíbaomestreceleiroFranciscoCorreiaNetoeos fazedoresdegibãodecourocomoSeverinoMacedo, fazedordechapéudecouroeMaurícioMassau,que confeccionaogibão,acalçaeopeitoral.Destacamos tambémCeleneSitônio,artesãeartistaplásticadeCampina GrandequeatuouemJoãoPessoaapartirdosanosde 1960,comopintoraenadécadade1970,confeccionando emcourobolsas,vestidos,chapéus,etambémmobiliário, queerampintadosetexturizadoscomtécnicadesua invenção.OCural,nomedagrifedeCelene,fezsucessoem todooBrasil.CeleneseaperfeiçoounaItáliaeatualmente trabalhacomdesigndemodanoRiodeJaneiro. Éfundamentalsecompreenderhojeosentidodeste trabalhoquesemostraeloquentementenolivro-catálogo “ArtesanatoeArtePopularnaParaíba”editadoem2007, concebidoporSílviaCunhaLima,tendoacuradoriade JaneteCosta,prefáciodeArianoSuassuna,apresentaçãode RosaTâniaBarbosadeMenezes,textosdeJoséNiltonda SilvaeJaneteLinsRodrigues,eopiniõesdeCássioe RonaldoCunhaLima.Éotestemunhodoprograma“Paraíba emSuasMãos”‒desenvolvidopelogovernadorCássio CunhaLima,tendoàfrenteDonaSílvia‒quetem 25 XilogravuradeJoséAltino,1971 PinturadeJoséLucena,1982 AnaPamplona CerâmicaartísticadeMadrianoBasílio(AcervoMAPP) PeçasdecerâmicadaARCA-AssociaçãodosArtesãosdoCaririOcidental(AcervoMAPP) CerâmicautilitáriadeNevinhaedeAurilândiaAndradeSousa(AcervoMAPP) 26 continuidadenogovernoRicardoCoutinhocoma denominaçãode”ProgramadoArtesanatoParaibano”, numaprovainequívocaqueaforçadaculturapopular paraibana,seuartesanato,suamúsicaesuapoética representamoquehádemaisoriginalesingularda mentalidadeedacriatividadedoseupovo.Comcerteza esteMuseudeArtePopulardaParaíbaéfrutodapaixão queosparaibanostêmporsuaartepopular,canalizadae realizadapelavontadepolíticadeumgoverno.Temosuma dádivaparapreservare,aomesmotempo,desenvolver. PinturadeAlexandreFilho,2001 Nestemuseunãoestãoapenasabrigadasasartesvisuais, eleéorepositóriotambémdenossamúsicapopular,quese podeouvirnoespaçodedicadoaJacksondoPandeiro,o maiorcriadordenossaidentidademusical,eoespaço dedicadoàliteraturadecordel,expressãobásicadenossa literatura,escritaeoral,quesubsidiaapoesiacantada,ou cantoria,etambémaconservaquandofazasvezesde registroimpressodenossaoralidadepoética.Ocordel também,pormuitotempoconservoueresguardoua xilogravuradesuascapas,dandovezàcriatividadede centenasdeartistas. Espera-sequeaUniversidadeEstadualdaParaíba,quejá possuioMuseuAssisChateaubriand,conduzaseuMuseu deArtePopularnãoapenascomoumtemplodaarte,isto poderia,comotempo,causarsuamortepelocansaço,pela repetiçãodamesmaimagem,eelesetornariaum mausoléudaarte.Esperamosqueelesejadinâmicocomo sãoosmuseusdehojeemdia,queelepossarenovarsuas exposições,aprofundarcadasegmento,oumelhorfazer recortesemseuacervoedeconvidarartistasdefora,para assimmantersemprevivoointeressenestepreciosoe únicomuseudenossaculturaderaiz. RaulCórdulaéartistavisualecríticodearte(ABCA/AICA).VicepresidenteparaoNordestedaAssociaçãoBrasileiradeCríticosde Arte-ABCA.Criadoredirigentedeinstituiçõesculturais:NAC/UFPB (JoãoPessoa);MuseudeArteAssisChateaubriand-MAAC(Campina Grande-PB);CasadaCultura(Recife);FundaçãoEspaçoCulturalda Paraíba-Funesc(JoãoPessoa);OficinaGuaianasesdeGravura (Olinda).FoirepresentantedoBrasilnaConferênciaMundialde Artesanato,México,1980.RepresentanoBrasilaAssociation CulturelleLeHors-Là,deMarselha(França).PublicouoslivrosAnos 60(Funarte,UFPB),MemóriasdoOlhar(ediçõesLinhaDʼÁgua), Fragmentos(ediçõesFunesc)eUtopiadoOlhar(Funcultura, Fundarpe,GovernodePernambuco). MestreTota(Foto:ChicoPereira),1976 27 3em1 Antesdeabrirasdependênciasaopúblico,o MuseudeArtePopulardaParaíbaexpõeno MACpeçasdoseuricoediversificadoacervo FernandoMoura [email protected] “(...)Aartequesaidasmãos Quevemdebocasementes Herançadosancestrais Entregueagorapragente Teráumportoseguro Paraexportarassementes” Comumamodernaroupagemarquitetônicaetecnológica, o“Museudos3Pandeiros”tambémirásediferenciardos outrosespaçosmuseológicosexistentesnoEstadopela dinâmicaexpositiva,renovandoregularmenteaspeças apresentadas,ampliandoocardápioinformativodisponível naredeabertadecomputadoreseterminaismidiáticos. “Diferentementedamaioriadosmuseus,oMAPPestaráem permanenteconstrução,cominfinitaspossibilidades estéticas,históricasecientíficas,mudandocenáriose enfoquesporciclosexpositivos”,asseveraoprofessore artistaFranciscoPereira,pró-reitordeCulturadaUEPB, responsáveltécnicopelaimplantaçãoegestãodoespaço. “Éumtrabalhoquesótemdataparacomeçar”,sentencia. Um“portoseguro”paraalongevaeinventivaarte paraibana,esculpidoemconcreto,ferroevidro, repousandosobreaságuasdoAçudeVelho,àentradade CampinaGrande.Ponto. Resumidamente,essapoderiaserumatraduçãolivre,em prosa,dosversosacima,trechodeumdoscordéisqueserá usadonomaterialdedivulgaçãodoMuseudeArtePopular daParaíba,àsvésperasdesuaaberturaaopúblico.Espaço delinhassinuosas,traçadasporOscarNiemeyer,oMAPP‒ ou“MuseudosTrêsPandeiros”,comorebatizariaa população‒abrigaráemseussalõespartedoacervo acumuladopelaUniversidadeEstadualdaParaíbanos últimos10anos,nasáreasdeartesanato,literaturade cordelemúsica,trêsdasprincipaisvertentesartísticasde umEstadoplenoemmodularsuasemoçõescomgraçae engenhopeculiares,hámaisdequatroséculos. Erguidoemtemporecorde,emapenas3anos,aedificação futuristafoioúltimoprojetoconcluídocomseucriador aindavivo,cujocarinhoeatençãocomaobrapareciaintuir abrevepartida.“Niemeyerchegouaachargraçaeaprovou oapelidodadopelapopulação”,relembraoreitorRangel Júnior,queacompanhariatodooprocessocomopró-reitor dePlanejamento,duranteagestãodaprofessoraMarlene Alves.“Foiumprivilégioparticipardessaconstrução,quejá nasceucomopatrimônioculturalbrasileiro,eseráuma honrariapoderentregá-laàvisitaçãopública,comtodoo zeloerigortécnicoemprestadopelacomunidade acadêmica,queseráaprincipalresponsávelporsuaguarda eusopermanente”,destaca,enfatizandoopapel vanguardistadacidade,queabrigaoutrosmuseus importantes,aexemplodoMuseuAssisChateaubriand, tambémsobatuteladaUEPB,acaminhodecompletar50 anos,em2017.“CampinaéummicrocosmodoNordeste”, chancela. Apaneladebarro,ogibãodecouro,ogalodelata,atoalha derenda,ocarrinhodemadeira,ochapéudepalha,a poesiadosfolhetos,otacodaxilogravuraeacantoriade feira‒“herançadosancestrais”‒estarãodisponíveispara deleiteeestudos,emmeioamilharesdeoutraspeçase manifestaçõesartísticasdasáreastemáticasprevistasno planomuseológico. Trêsemum Entreguesolenementeemdezembrode2012,osmeses subsequentesseriamocupadosnospreparativoslogísticos, ajustesdasdependênciasfísicas,organizaçãodos conteúdos,treinamentodemonitoresecorpotécnicoe aquisiçãodosequipamentosnecessáriosaobom funcionamentoesegurançadaunidademuseológica. Antesmesmodeabrirsuasportasaopúblico,porém,o MAPPirácompartilharumavolumosarepresentaçãodoseu acervo,comcercade2.000peçasdeartesanatodetodasas regiõesdaParaíba,demaisde16.000folhetosdecordel, vinculadosàBibliotecaÁtilaAlmeida,eamaisde5.000 itensdocumentaiseregistrossonorosdamúsicaparaibana, tendoJacksondoPandeirocomoepicentrodeumvigoroso movimentomusicaliniciadoaindanadécadade1950,cujas obrasehistóriasserãoexibidaseampliadascoma anexaçãodostrabalhoseperfisdepersonagensdocenário contemporâneo. Quandoestiverplenamenteativo,comvisitaçõese pesquisasregulares,oespaçoestaráaptoaatender demandasespecíficasdeprofessoreseestudantes universitários,darededeensinofundamentalemédio, alémdopúblicoemgeral... 28 OscarNiemeyer(FotografiadeCarlosMagno) Entreosdias13e25demaio,integrandoasatividades programadasemtodoopaísparaaSemanadosMuseus (de12a18),comandadapeloIbram,oMAPPestará expondo,nasdependênciasdeseucoirmão,oMuseuAssis Chateaubriand,nobairrodoCatolé,itensassociadosàs futuras3salasdos3Pandeiros.Daío“3em1”dotítulodo evento,quepretendeestabelecerosprimeirosdiálogos comacomunidadecampinenseeparaibana.“Porsermais amploeestaremplenofuncionamentohádoisanos,com todainfraestruturaelogísticamontada,aReitoriadecidiu ocuparesseespaçoparaapresentaraopúblicoamaior partepossíveldosacervosdos3Pandeiros,criando empatia,curiosidadeeinterlocuçãocomosfuturosusuários doMAPP,queirárestringiroacessodiretoàmaioriadas peças,porlimitaçõesfísicasecaracterísticasmuseológicas, priorizandoousovirtualdasfontes.DuranteaʻSemanados Museusʼ,essecontatoserámaisdireto,maislúdicoque técnico”,esclareceodiretordoequipamento,odesignere artistaÂngeloRafael. FotografiadeGeovaniSantos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Museu_de_Arte_Popular_da_Para%C3%ADba.jpg FotografiadeRuanaCarolina. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Museu_dos_Tr%C3%AAs_Pandeiros.jpg ComcuradoriasdoartistaplásticoeestetaRaulCórdula (Artesanato),daprofessoraJoseildaDiniz(Cordel)edo jornalistaFernandoMoura(Música),aexposição“3em1”‒ cujamontagemcênicaficaráacargodotambémartista plásticoDyógenesChaves‒servirá,ainda,como “laboratório”àsequipesenvolvidascomoprojeto, oportunidadeemquemonitoresserãoavaliados,peças serãoconferidaseselecionadas,registrosserãopromovidos einformaçõesserãochecadas,diminuindoapossibilidade dedesacertosquandoamáquinaestiveremplenovapor. Nessaocasião,também,alémdoestímuloàintimidadecom orepertóriomuseológico,serápossívelàcomunidade acadêmica,ligadaounãoàUEPB,identificarosfuturos objetosdeestudo,gerandooprópriocombustívelqueirá abastecer,pedagógicaeculturalmente,oMuseudeArte PopulardaParaíbanaspróximasdécadas.Aintençãoé manteros3Pandeirostocandoalémdoperíodojunino, perpetuandoafacetaartísticadeCampinaGrande,da Paraíba,doNordesteedoBrasil‒enãonecessariamente nessaordemdemarcação. FernandoMouraéescritorejornalista. 29 Profissional:crítico CésarRomero [email protected] informaçõeseacompanhasuasexperiênciasdoolhar, estudos,leituras,convíviocomosartistaseseusprodutos. Aspectossubjetivosnãodevemserutilizadoscomonormas, mascabeadisposiçãoracionaldeaceitardiversidades. Resalta-seoladointerpretativodocrítico,nemporisso menosimportante,postoqueseabraaodiálogo. Emresumoocríticodearteéoeloentreoartistaeo público.Nestaredução,parecetarefasimples.Masé extremamentecomplexa,envolvediversossaberes, múltiplasdisciplinas,pensarordenadoecapacidadede situarocriadoracomunidade,seucontextoeevolução.Um constantepromoverdeanálisesistêmica,examedetalhado doconjuntodetudoaquiloqueexistenoespaçoeno tempodavisualidade. Ocríticodeartecontribuicomahistóriadaarte, documentadoseutempo,formuladoentrecarátermúltiplo etambéminterdisciplinar.Afilosofia,sociologia, antropologia,historiografia,pedagogia,psicologia, literatura,contribuemnafundamentaçãodoconhecimento daarte.Umcríticodeartepodededicar-seexclusivamente apesquisas,históriadaarteeseusmovimentos,ser enciclopedistas,professoreseatividadesligadasàdoutrina davisualidade. Osprimeirosescritossobreobrasdearteeartistasvemda Gréciaantiga,comDurideDiSamonoséculoIVa.C.que dedicougrandepartedesuavidaescrevendosobreaarte doseutempo. Influenciadopelopensamentoclássico,aatuaçãodocrítico desenvolveu-secomoargumentaçãoinformativae comparativanoséculoXVIII,quandonoentusiasmode manifestaçõesartísticas,mudançasradicaisde comportamento,mercadoecrescimentodaimportânciada imprensaescrita.OfrancêsDenisDiderot(1713-1784)foio primeirocríticodeartemoderno.Escritor,enciclopedistae filósofo,iniciou-seem1759comocomentaristadeobrasde arteedosimpactosdossalõesparisiensesnoSalãoCarrédo Louvre.Atuoucomodifusordetendênciasartísticas, debatendoimpressões.Foiacélulainicialdogênero. Aocríticopragmáticocabemcuradorias,júrisdeseleçãoe premiaçãodecertamesartísticos,congressos,seminários, debates,formaçãodeacervosparticulareseinstitucionais, interlocuçãocomartistas,acompanhamentodecarreiras, palestraseorganizaçõesdecontextos.Nãoseconcebeum críticoimperativo,comosesuasobservaçõeseformade escreverfossemasmaisacertadas,maislógicas,demaior alcanceequesua“fórmula”deveriaseraplicadaporseus pares.Acríticadeartenãoéumaciência. NoBrasiloprimeirocríticofoiGonzagaDuque(1863-1911) quandoexploroutextosreflexivossobrearte,suafunçãoe utilidade.Antesdeleostextoserammeramentedescritivos, análisesbaseadosnoóbviovisível,comoumadissertação decolegialiniciático. Ocríticodearteéumespecialista,necessitadeinformações atualizadas,omundoglobalizadoesuaemergênciatrazem acadamomentonovosprodutos,investigaçõesedesafios. Nãosepodeestaremtodasasexposiçõesdomundoeo críticoemsuaatividadenosdiversoscontinentesonde atua,aproximaconhecimentosevalores. NaBahiaopioneirismoemcríticadeartecoubeaCarlos Chiacchio(1884-1947),mineirodenascimento,chegoua Salvadorcom11anos.Formou-seemmedicinaeexerceu múltiplasatividadesrelacionadasàcultura.Foiescritor, críticoliterárioeentre1928a1946escreveunagrande imprensabaiana,ressaltandooquehaviadeimportante nasáreasdeartesplásticas.Dentreaspublicaçõesde Chiacchio,destacam-seoslivrosBiocrítica(1941)e ModernistaseUltramodernistas(1951). Acríticadearteétambémumramodaliteratura,exemplos lapidaressãoostextosdeWalmirAyala,JaymeMaurícioe PauloMendesdeAlmeida.Otrabalhodocríticoébuscar estratégiasdecomunicabilidade,apoiandonos fundamentosdasciênciashumanas.E,sobretudo,despertar sentimentoseativaçãodointelectoedosórgãosdos sentidosaoprimeirocontatocomotrabalhoartístico. Aocríticodeartecabemanálisesbemfundamentadase critériosdejuízosdevalor,quesurgemcomoacúmulode CésarRomeroéartistaecríticodearte(ABCA/AICA). 30 Meninocigano,Sousa,Paraíba,2008 expediente SegundaPessoa RevistadeArtesVisuais Ano4,Número1‒Dez-Jan-Fevde2014 Editor-geral|DyógenesChavesGomes(ABCA/AICA) Jornalistaresponsável|WilliamPereiradaCostaDRT-PB792 Conselhoeditorial|DyógenesChavesGomes|Francisco PereiradaSilvaJúnior|GabrielaMarojaJalesdeSales| MadalenaZaccara|MariaCristinadeFreitasGomes|Paulo Rossi|PauloSérgioDuarte|RodolfoAugustodeAthaydeNeto |ValquíriaFarias|WilliamPereiradaCosta Projetográfico|DyógenesChaves|2ou4 Fotografia|ArquivoNAC/UFPB|ArquivoBertrandLira|Chico Pereira|GeovaniSantos|MárcioMoraes|RaulCórdula|Ruana Carolina Colaboradores|AlineTeresinhaBasso|Almandrade|Bertrand Lira|CésarRomero|FabríciaC.L.Jordão|FernandoMoura| MariaCristinadeFreitasGomes|MayrinneMeiraWanderley| RaulCórdula Impressão|UniGráfica Contatosparaenviodeartigosecolaborações: e-mail:[email protected] 2ou4Editora/RevistaSegundaPessoa RuaProtásioPontesVisgueiro,111,Jardim13deMaio JoãoPessoa-PB‒58025-680 Telefones:(83)3042.7979/8808.7877 www.segundapessoa.com.br Osartigospublicadossãodetotalresponsabilidadedeseus autores.OsinteressadosempublicarnaSegundaPessoa: devemobservarasnormasdepublicaçãonositedarevista. EstaediçãodeSegundaPessoa(ISSN2237.8081)foiimpressa emabrilde2014,naUniGráfica,utilizandoostiposdafamília KozukaGothiceCaslon,empapelpólen(90g/cm²),comuma tiragemde10.000exemplares,sobaresponsabilidadeda2ou4 Editora. Este projeto foi contemplado com o Prêmio Procultura de Estímulo àsArtes Visuais 2010 ISSN 2237-8081 9 772237 808001 10 Este projeto foi contemplado com o Prêmio Procultura de Estímulo àsArtes Visuais 2010