V SEMINÁRIO INTERNACIONAL – POLÍTICAS CULTURAIS – 7 a 9 de maio/2014.
Setor de Políticas Culturais – Fundação Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro – Brasil
JONGUEIROS E CAXAMBUZEIROS NO ESPÍRITO SANTO PESQUISA, EXTENSÃO E POLÍTICAS DE SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL
Aissa Afonso Guimarães1
Osvaldo Martins de Oliveira2
RESUMO: O presente artigo consiste na apresentação da pesquisa e das ações de extensão
realizadas em agrupamentos jongueiros/caxambuzeiros no Espírito Santo, por meio de
programas de extensão da UFES (PROEXT/MEC/UFES), em 2012 e 2013. O trabalho teve
como objetivos: o mapeamento dessas comunidades e/ou grupos, a pesquisa e o registro
etnográfico das memórias dos jongueiros e suas referências culturais, e a articulação dos
processos organizativos dessas comunidades no estado do Espírito Santo, para construção das
políticas públicas no âmbito do patrimônio cultural, uma vez que o “Jongo no Sudeste” é um
bem registrado como patrimônio imaterial brasileiro pelo IPHAN desde 2005.
PALAVRAS-CHAVE: Jongos e Caxambus; Patrimônio Cultural; Espírito Santo;
Comunidades Afro-brasileiras.
Jongueiros e Caxambuzeiros no Espírito Santo – pesquisa, extensão e políticas de
salvaguarda do patrimônio cultural
Este artigo3 remete às experiências realizadas através dos Programas de Extensão,
realizados durante os anos 2012 e 2013, através dos Editais PROEXT (2011 e 2012) MEC/UFES, respectivamente “Territórios e territorialidades rurais e urbanas: processos
organizativos, memórias e patrimônio cultural afro-brasileiro nas comunidades jongueiras do
Espírito Santo” e “JONGOS E CAXAMBUS: culturas afro-brasileiras no Espírito Santo”4.
Esses Programas empreendem pesquisas sobre os processos organizativos, memórias e
patrimônio cultural das comunidades jongueiras no referido Estado, da mesma forma que
realizam ações de extensão voltadas para a mobilização dos agrupamentos estudados e para
elaboração de subsídios visando fomentar a construção das políticas públicas de salvaguarda
desses bens culturais no estado do Espírito Santo.
1
Doutora em Comunicação e Cultura – ECO/UFRJ. Professora Associada da Universidade Federal do Espírito
Santo (PPGA/CAR/UFES) e membro da equipe do “Programa JONGOS E CAXAMBUS: culturas afrobrasileiras no ES”.
2
Doutor em Antropologia pela PPGAS/UFSC, Professor Adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo
(DCSO/PGCS /UFES) e coordenador do Programa de Extensão “JONGOS E CAXAMBUS: culturas afrobrasileiras no ES”.
3
Este artigo retoma e amplia temas do texto Patrimônio e Salvaguarda - O Jongo/Caxambu no sul do ES.
(GUIMARÃES, 2012).
4
Os Projetos de Extensão respectivamente “Territórios e territorialidades rurais e urbanas: processos
organizativos, memórias e patrimônio cultural afro-brasileiro nas comunidades jongueiras do Espírito Santo”,
aprovado pelo Edital PROEXT 2011 (Cf. SigProj) e “Jongos e Caxambus – culturas afro-brasileiras no Espírito
Santo”, aprovado pelo Edital PROEXT 2012 (Cf. SigProj), foram ambos coordenados pelo antropólogo Osvaldo
Martins de Oliveira (PPGCS/DCSO/UFES).
1
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Os supracitados programas de extensão foram desenvolvidos em uma perspectiva
coletiva e interdisciplinar, com uma equipe composta por professores e alunos das áreas de
Antropologia/Ciências Sociais, de Artes e de Educação, envolvendo os Centros de Ciências
Humanas e Naturais (CCHN/UFES), Artes (CAR) e Educação (CE)5, com duração de doze
meses cada. No decorrer de dois anos foram realizados, pela equipe do programa:
identificação; mapeamento dos grupos/comunidades; extensa etnografia de todas as vinte e
quatro (24) agrupamentos do Espírito Santo; ações de mobilização comunitária para
construção de políticas de salvaguarda, através de oficinas regionais com lideranças e
representantes dos grupos, reuniões, participação em fóruns nacionais, e o Encontro Estadual
de Jongos e Caxambus, com o apoio do IPHAN/ES e da Secult/ES.
Analisamos o jongo/caxambu como elemento e/ou sinal diacrítico demarcador de
identidade social e resistência cultural, descrevendo o papel das lideranças na organização dos
grupos e a relação destes com agentes públicos, fundamental para assegurar a política de
salvaguarda desse bem cultural e o processo de reinvenção desta prática cultural na
contemporaneidade.
De acordo com o local em que é praticado, o jongo adquire outros nomes como
caxambu, batuque, tambor. Nas comunidades do sul do estado do Espírito Santo, o termo
caxambu é mais comumente utilizado pelos praticantes, para designar esta expressão cultural,
mas nos agrupamentos localizados na faixa litorânea se emprega a palavra jongo como termo
de identificação social. Optamos aqui pelo termo jongo, pela identificação do tema com
outras propostas de trabalho, que utilizam esta designação, inclusive a do IPHAN.
Cabe retomar aqui a trajetória histórica recente do jongo como patrimônio cultural,
desde que ele foi reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro6 e registrado no Livro das
Formas de Expressão, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN,
em 2005; no Dossiê Jongo no Sudeste foram identificadas comunidades nos estados do Rio de
5
Identificação da Equipe dos Programas de Extensão citados acima (Cf. Nota 4), titulação e vinculação de cada
um dos membros: Prof. Dr. Osvaldo Martins de Oliveira (DCSO/PGCS/UFES) - Coordenador; Profª Drª Aissa
Afonso Guimarães (PPGA/CAR/UFES) - Orientadora, Profª Drª Maria Aparecida Barreto (PPGE/CE/UFES,
coordenadora do NEAB/UFES) – Supervisora in memoriam; Prof. Dr. Sandro José da Silva
(PPGCS/DCS/UFES) – Co-orientador (integrante a partir do Edital PROEXT 2012); Patricia Rufino Gomes
Andrade (Doutorado em Educação – PPGE/CE/UFES, vice-coordenadora do NEAB/UFES) – Colaboradora;
Clair da Cunha Moura Junior (Mestrado em Artes – PPGA/CAR/UFES) – Colaborador; Luiz Henrique
Rodrigues (Graduação em Ciências Sociais) – Bolsista; Larissa de Albuquerque Silva (Graduação em Ciências
Sociais) – Bolsista; Rosana Henrique de Miranda (Graduanda em Ciências Sociais) – Bolsista, Jane Seviriano
Siqueira (Graduanda em Ciências Sociais) - Bolsista.
6
O reconhecimento foi consequência de uma série de ações de mobilização política das comunidades, como o
encontro de jongueiros, dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, desde 1996. E o Inventário de Referências
Culturais do Jongo do Sudeste do Brasil realizado pelo IPHAN, entre 2001 e 2005, sob a coordenação da
antropóloga Letícia Viana.
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Janeiro, de São Paulo e do Espírito Santo, “No litoral do Espírito Santo foram contatados
jongueiros de São Mateus e Conceição da Barra.” (IPHAN, 2007. p.19). A partir do
reconhecimento do Jongo como patrimônio cultural, da identificação por meio de pesquisas e
inventários no ES7, da articulação do Pontão do Jongo no Sudeste8 do qual passou a
participar, a representante do Jongo de São Benedito da cidade de São Mateus, outros grupos
de jongo foram identificados no estado do Espírito Santo. “As demandas e informações acima
referidas deram início às mobilizações para o primeiro Encontro de Grupos de JongoCaxambu no Espírito Santo, que ocorreu nos dias 03 e 04 de outubro de 2009.” (OLIVEIRA,
2011, p.6).
Atualmente, através do Programa de Extensão “Jongos e Caxambus: culturas afrobrasileiras no Espírito Santo”, vinte e quatro (24) grupos jongueiros/caxambuzeiros
receberam visitas e se tornaram conhecidos no ES por meio do referido Programa 9. O estado
do Espírito Santo é, em toda região sudeste, aquele que abriga o maior número de
comunidades jongueiras, embora a maioria delas, assim como uma comunidade em Minas
Gerais, na ocasião do registro realizado pelo IPHAN, não havia sido identificada,
possivelmente devido à invisibilidade social historicamente estabelecida a esses
agrupamentos e a outros fatores que interferem na manutenção desta prática em lugares
distintos.
O jongo como a maior parte das tradições afro-brasileiras, rearticulou seu universo
simbólico na diáspora, através de elementos de diferentes etnias. Uma vez que, o processo
histórico de escravidão no Brasil tentou não permitir a reorganização cultural por “nações”
africanas, devido ao desmantelamento das famílias; acrescido ainda de um relativo
confinamento em que viviam os negros escravizados nas fazendas. Este mesmo processo se
deu na América Central, como afirma Hall ao analisar a identidade do povo caribenho.
“Esse cordão umbilical é o que chamamos de “tradição”, cujo teste é o de fidelidade às
origens, sua presença consciente diante de si mesma, sua “autenticidade”. É, claro, um mito –
com todo o potencial real dos nossos mitos dominantes de moldar nossos imaginários,
influenciar nossas ações, conferir significado às nossas vidas e dar sentido à nossa história.”
(HALL, 2003, p. 29).
7
O projeto “Territórios Quilombolas no Espírito Santo”, coordenado pelo antropólogo Osvaldo Martins de
Oliveira identificou nove comunidades, sete no norte e duas no sul. Em 2009 a Superintendência Regional do
IPHAN tinha informações de doze grupos.
8
O Pontão de Cultura do Jongo no Sudeste, foi criado em 2006, é coordenado pela professora Elaine Monteiro e
tem sede na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói/RJ.
9
O quadro das comunidades/grupos jongueiros segue no final do texto deste artigo.
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Podemos observar nos agrupamentos jongueiros este suposto “ponto de origem
comum” do qual nos fala o autor, pois no jongo a referência à África se mantém por
intermédio das memórias, das histórias do “tempo do cativeiro”, da luta e da conquista pela
liberdade, transmitidas nas narrativas dos mestres e dos jongueiros velhos, assim como nos
cantos/pontos que invocam a memória, como este ponto cantado em várias comunidades:
“Tava dormindo/Angoma me chamou/Disse levanta povo/Cativeiro se acabou”
No Brasil, as senzalas e terreiros, inicialmente, delimitados como espaços de
confinamento, acabaram por se configurar como território de organização social e lugar de
afirmação da cultura negra, pois foi ali que muitas práticas de matriz africana foram
desterritorializados, empreenderam a partir de seus corpos e memórias um processo de
reconstrução de suas identidades e territórios. De maneira que as culturas, as festas, os rituais,
fazeres e saberes afro-brasileiros tem origem no aspecto da imaterialidade e da oralidade
dessas memórias.
“[...] porque entre nós, a identidade é irrevogavelmente uma questão
histórica. Nossas sociedades são compostas não de um, mas de muitos
povos. Suas origens não são únicas, mas diversas. [...] Longe de construir
uma continuidade com os nossos passados, nossa relação com essa história
está marcada pelas rupturas mais aterradoras, violentas e abruptas.” (HALL,
2003, p.30)
O jongo, como patrimônio imaterial, constitui-se na relação dinâmica dos elementos
estéticos relacionados à oralidade, à corporalidade e à musicalidade. “Como sugere o próprio
termo, a ênfase recai menos nos aspectos materiais e mais nos aspectos ideais e valorativos
dessas formas de vida.” (GONÇALVES, 2009, p.28) No caso do patrimônio imaterial, o
enfoque está no conjunto de elementos, nas relações entre eles, nos saberes, no universo
simbólico que se articula nas tradições, e especialmente nos mestres e detentores dos saberes,
e não diretamente nos bens e nas técnicas.
Nesta perspectiva, o jongo é uma tradição em que seus praticantes renovam seu vigor
através dos elementos estéticos, simbólicos e religiosos de memórias ancestrais, de heranças
trazidas no corpo, através do ritmo, da festa e do ritual; é a força tradicional de comunidades e
culturas de matriz africana que se atualiza ao som dos tambores e recria o repertório de signos
não-verbais.
Durante o ano de 2012 através do Programa de Extensão “Territórios e
territorialidades rurais e urbanas: processos organizativos, memórias e patrimônio cultural
afro-brasileiro nas comunidades jongueiras do Espírito Santo” foram realizadas pesquisas de
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campo para a identificação de comunidades, grupos e mestres. Na primeira etapa da coleta de
dados em campo foram visitados, identificados e mapeados dezesseis (16) grupos jongueiros
no ES, dez (10) na região sul e seis (06) no norte do estado; em 2013 através de Projeto de
Extensão “JONGOS E CAXAMBUS: culturas afro-brasileiras no Espírito Santo” foram
estabelecidos contatos, visitadas e mapeadas mais quatro (04) agrupamentos no sul e quatro
(04) no norte, somando ao todo vinte e quatro (24) comunidades jongueiras/caxambuzeiras no
ES; a maioria situada em comunidades rurais e em pequenas cidades. Os grupos são formados
por famílias remanescentes de quilombos e/ou por grupos sociais estabelecidos localmente
através de relações de pertencimento e de identificações étnicas e culturais.
A equipe deste Programa realizou mais de setenta (70) viagens às comunidades
jongueiras, para realizar entrevistas e registros em áudio e vídeo com os mestres, lideranças e
participantes; participar em reuniões, oficinas, eventos ritualísticos e encontros. Essas ações
do Programa visaram estabelecer diálogo com as lideranças, com objetivo de identificar suas
demandas, assim como o papel de lideranças e mestres na organização comunitária e na
integração com outros grupos. Tais ações procuraram também contactar possíveis parceiros
sociais locais, através das prefeituras e secretarias de cultura e educação municipais.
Além das viagens de mobilização nas comunidades, cinco eventos foram realizados
durante os anos de 2012 e 2013, quatro Oficinas de Mobilização Comunitárias, duas na região
sul e duas na região norte, sendo uma em cada ano, e o “II Encontro Estadual de Jongos e
Caxambus – Culturas Afro-Brasileiras no Espírito Santo” realizado no CEUNES/UFES, em
São Mateus, em 2012.
As relações institucionais estabelecidas foram fundamentais para a realização das
atividades do Programa, através do apoio logístico e organizacional para as ações de
mobilização junto às lideranças jongueiras do estado do ES, da Pró-Reitoria de Extensão da
UFES (PROEX/UFES), do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
através da Superintendência Regional do Espírito Santo e da Subsecretaria de Patrimônio
Imaterial da Secretaria Estadual de Cultura do Espírito Santo (SECULT)10. As oficinas
realizadas pelo programa tiveram o apoio das prefeituras, das localidades onde foram
10
Seguem os nomes dos gestores das respectivas instituições na ocasião dos programas de extensão;
PROEX/UFES - Aparecido José Cirillo (Pró-Reitor de Extensão); IPHAN/ES – Diva Maria Freire Figueiredo
(Superintendente/ES), Clair da Cunha Moura Junior (Consultor UNESCO), Aline Barroso Miceli (Chefe da
Divisão Técnica); SECULT – ES – gestores: Joelma Consuêlo Fonseca e Silva (Subsecretária de Patrimônio
Imaterial) e auxiliares Jefferson Gonçalves Correia, Letícia Camilo Silvares.
*Subecretaria de Patrimônio Imaterial foi extinta em 2014.
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realizadas, para utilização do espaço e hospedagem dos participantes em escolas públicas
municipais.
As oficinas tiveram como objetivo principal a construção e o acompanhamento
conjunto de políticas de salvaguarda para este bem cultural, o jongo. Os objetivos específicos
se dividiram em: facilitar a articulação e a troca de experiências entre os grupos de
Jongo/Caxambu; criar fóruns de interlocução dos mestres e lideranças com agentes públicos
para assegurar as políticas públicas, bem como informar aos grupos sobre o registro e a
salvaguarda; organizar atividades de capacitação de lideranças comunitárias para que possam
dialogar e articular ações com as instituições do Estado responsáveis pela salvaguarda do
patrimônio imaterial; além da produção de conhecimento e material para fins de pesquisa
acadêmica. Cabe ressaltar que em todos os eventos foi estimulada a participação dos jovens,
como forma de manter a transmissão por gerações e possibilitar a ampliação das articulações
e produção de conhecimento a partir das novas gerações de jongueiros.
A I Oficina da região Sul foi realizada no distrito de Celina, nos dias 16 e 17 de Junho
de 2012, município de Alegre, no espaço da CIEC “Jaci Kobbi Rodrigues”, cedido pela
Prefeitura de Alegre para realização da Oficina Sul, onde o anfitrião foi o grupo Caxambu do
Horizonte, do mestre Antônio Raimundo, e contamos com a presença de cerca de cinquenta
jongueiros e caxambuzeiros representando onze grupos mobilizados. Além do apoio do
IPHAN, as Prefeituras de Anchieta, Cachoeiro de Itapemirim, Itapemirim, Jerônimo Monteiro
e Muqui realizaram o transporte dos mestres e integrantes dos grupos.
A I Oficina de Organização Comunitária da região norte ocorreu nos dias 25 e 26 de
agosto de 2012, no distrito de Santana, município de Conceição da Barra no espaço escolar
“Deolinda Lages”, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação e Associação de
Folclore de Conceição da Barra. A oficina contou com a participação de cerca de quarenta
pessoas e teve como anfitrião o Grupo de Jongo de São Bartolomeu, do bairro Quilombo
Novo da vila e distrito de Santana.
As oficinas mobilizaram e articularam os grupos para “II Encontro Estadual de Jongos
e Caxambus: culturas afro-brasileiras no Espírito Santo” que ocorreu nos dias 20 e 21 de
outubro de 2012, no espaço do Centro Universitário Norte da UFES (CEUNES), na cidade de
São Mateus-ES e contou com a participação de mais de trezentas pessoas. O Encontro teve
como anfitrião o Grupo de Jongo de São Bendito, da cidade de São Mateus, liderado pela
Mestre Nêga, Dilzete Nascimento, estiveram presentes representantes da UFES, IPHAN,
SECULT, MINC e das Secretarias de Educação de Conceição da Barra e de São Mateus. E
jongueiros representantes dos grupos dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
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Gerais, articulados no Pontão de Cultura do Jongo, respectivamente Paulo Rogério da Silva, o
Rogério de Oxóssi da comunidade de Miracema (RJ), Jeferson Alves de Oliveira, o Jefinho da
comunidade do Tamandaré (SP), e a Maria Nossa, Maria das Dores Ferreira da Silva, do
bairro Santo Onofre em Carangola (MG).
O II Encontro foi fundamental para aproximação, debate e articulação dos grupos da
região sul e da região norte, assim como para a interlocução com os gestores das instituições
responsáveis pelas políticas públicas de proteção aos bens culturais. Nesta ocasião também foi
realizada a solenidade de entrega aos mestres, pela Superintendente Regional do IPHAN/ES,
do registro e da titulação do Jongo com patrimônio imaterial.
Na plenária final foram aprovadas as propostas e as diretrizes dos jongueiros para as
políticas de salvaguarda, já discutidas anteriormente nas oficinas regionais; como resultado
das atividades e debates foi elaborada, redigida e assinada por todos os mestres presentes no
Encontro, a “CARTA DE PROPOSTAS DOS GRUPOS DE JONGOS E CAXAMBUS DO
ESPÍRITO SANTO PARA A SALVAGUARDA DE SEU PATRIMÔNIO CULTURAL”.
Este documento composto de vinte e um (21) itens contem reivindicações e propostas comuns
à maioria dos grupos; e é um importante documento para reivindicação de políticas públicas;
esta Carta foi apresentada e entregue pelos representantes dos jongueiros do estado do ES à
representação do Iphan em Brasília, durante da “II Reunião de Avaliação da Salvaguarda de
Bens Registrados como Patrimônio Cultural do Brasil”, organizada e promovida pelo IPHAN
e ocorrida em Brasília de 08 a 10/11/2012.
No ano de 2013, o Programa “Jongos e Caxambus” deu continuidade às atividades
anteriores, realizou mais de vinte viagens ao campo para o acompanhamento de festividades,
rituais e visitas a campo com vistas à pesquisa etnográfica, foram realizadas mais duas
oficinas regionais de mobilização comunitária (norte e sul),
quando foram realizadas
atividades de cartografia, com objetivo de produzir material didático sobre os temas de
“identidade, memória e organização comunitária” dos agrupamentos de jongos e caxambus.
Para orientar as atividades de cartografia tivemos a colaboração do geógrafo Antônio de
Oliveira Júnior, tudo isso foi expresso pelos agrupamentos na forma de desenhos, diagramas e
croquis, que serão empregados para ilustrar as publicações que dizem respeito à transmissão
dos saberes nesses agrupamentos, pela equipe do programa “Jongos e Caxambus”. Além de
retomarem os itens da Carta de Propostas dos grupos de Jongos e Caxambus do Espírito Santo
para a salvaguarda de seu patrimônio cultural, os jongueiros e caxambuzeiros defenderam a
particularidade de cada grupo referente às suas identidades, memórias, organização e ritmos.
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A II Oficina de Mobilização Comunitária da região Sul ocorreu nos dias 25 e 26/05, na
Escola Municipal “São Mateus”, na comunidade de São Mateus, no município de Anchieta,
onde reuniu cerca de oitenta (80) integrantes dos grupos de jongos e caxambu do sul do
estado, a oficina teve como anfitrião o Grupo Tambores de São Mateus, de Mestre Renélio,
Renélio Santos Mendes; nesta oficina contamos com a participação da Coordenadora do
Pontão de Cultura do Jongo, professora Elaine Monteiro (UFF/Niterói). A II Oficina de
Mobilização Comunitária da região Norte foi realizada nos dias 31/08 e 01/09, na Vila de
Itaúnas, no município de Conceição da Barra, quando reuniu cerca de quarenta (40)
integrantes dos agrupamentos jongueiros e teve como anfitrião o Grupo de São Benedito e
São Sebastião comandado por Seu Preto-Velho, Benedito Conceição Filho.
Os resultados das ações do programa podem ser observados em três planos: 1º) nas
mobilizações e articulações locais e regionais dos grupos em relações às políticas públicas; 2º)
na elaboração de documentos e na produção de conhecimento e fomento à pesquisa nos
campos antropológico, artístico e educacional apresentados em forma de artigos em eventos e
publicados em revistas acadêmicas; 3º) em conclusões e defesas de monografias, dissertação e
tese.
A visibilidade da produção de conhecimentos proposta por este programa teve início,
em 2012, em eventos de representação do projeto como a “II Reunião de Avaliação da
Salvaguarda de Bens Registrados como Patrimônio Cultural do Brasil”, ocorrida em Brasília
de 08 a 10/11/2012; e no XIV Seminário de Extensão (SEXT), realizado em Ouro Preto/MG,
em julho de 2013. Três trabalhos acadêmicos defendidos e aprovados sobre o tema: a
monografia de conclusão do curso de Ciências Sociais da bolsista Larissa Albuquerque Silva
(2012); a dissertação de mestrado, de Clair de Moura Júnior (2013); e a tese de doutorado, de
Patrícia Gomes Rufino (2013). Assim como apresentações de trabalhos acadêmicos em
eventos científicos, em forma de artigos; e publicações; conforme as Referências produzidas
pelos pesquisadores do programa, a seguir no final deste artigo.
Nos dias 12 e 13 de dezembro de 2013, o Programa realizou em conjunto com o
Comitê Quilombos da Associação Brasileira de Antropologia, sob a coordenação do professor
Osvaldo Martins de Oliveira, o Seminário Nacional: Os direitos dos quilombos e o dever do
Estado Brasileiro - Análises dos 25 anos da Constituição Federal de 1988. Os integrantes da
equipe do Programa apresentaram trabalhos, somando seis (6) artigos no prelo para
publicação.
Conforme dissemos acima, os pesquisadores do Programa continuam atuando na
finalização dos produtos. O grupo de estudos e trabalhos se encontra semanalmente, para
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sistematização do banco de dados do material coletado e realização de debates sobre os textos
produzidos para a futura publicação sobre os saberes e fazeres dos mestres e dos
agrupamentos jongueiros. Nesta publicação constarão o calendário das festividades das
comunidades; a Carta dos Jongueiros do ES; os produtos das cartografias construídas pelos
jongueiros, sobre “identidade, memória e organização comunitária”, e diversos capítulos
sobre as histórias e memórias de cada um dos grupos, escritos pelos pesquisadores da equipe e
convidados, como material didático a ser retornado aos agrupamentos e comunidades.
Quadro dos Grupos Jongueiros/caxambuzeiros da região Norte do ES - 201411
NNome do Grupo
Mestre e/ou
liderança
1
Jongo de São Bartolomeu
Jocelino Guilherme
(Tatu)
Jongo de São Sebastião e São
Benedito
Benedito Conceição
Filho (Seu Preto
Velho)
2
CCidade/Localidade
Conceição da Barra
(Bairro Quilombo Novo –
Distrito de Santana)
Conceição da Barra
(Itaúnas)
3
Jongo de São Benedito das
Piabas
Benedito Paixão dos
Conceição da Barra
Santos (Santos Reis) (Comunidade das Barreiras)
4
Jongo de Santo Antônio
Antônio do
São Mateus (Comunidade de
Nascimento (Tonhão)
São Cristovão)
5
Jongo de Santa Bárbara
Gessy Cassiano
Conceição da Barra
(Comunidade Quilombola de
Linharinho)
6
Jongo de São Benedito
Dilzete Nascimento
(Nêga)
São Mateus
(Bairro Sernamby)
7
Tambor de São Benedito do
Guaxe (Congo)
Benedito
Linhares
(Distrito de Guaxe)
8 Jongo São Cosme e Damião
Conceição da Barra
(Porto Grande)
11
Cf. Nota 8.
Utilizamos a nomenclatura “Jongo de Memória” para designar comunidades onde não tem grupo em atividade,
no momento, mas onde ainda residem mestres, descendentes, participantes, os tambores ou mesmo onde resiste a
memória do jongo/caxambu.
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Quadro dos Grupos Jongueiros e Caxambuzeiros da região Sul do ES - 2014
Nome do Grupo
1
Caxambu do Horizonte
Jongo Tambores de São
Mateus
Jongo de São Benedito Sol e
3
Lua
2
4
Caxambu da Velha Rita
5
Caxambu de Santa Cruz
6
Caxambu Alegria de Viver
7
Jongo Mestre Wilson Bento
Jongo Chrispiniano Balbino
8
Nazareth
Mestre e/ou
liderança
Antônio Raimundo da
Silva
(Pai Antônio)
Cidade/Localidade
Alegre
(Celina)
Renélio Santos Mendes
Anchieta
(São Mateus)
Hudson
Anchieta
Niercina Ferreira de
Paula Silva
(D. Isolina)
Maria Laurinda Adão
(D. Laurinda)
Canuta Caetano
(D. Canutinha)
Anísio Bento
Quequê
Cachoeiro de Itapemirim
(Morro Zumbi)
Cachoeiro de Itapemirim
(Monte Alegre)
Cachoeiro de Itapemirim
(Vargem Alegre)
Itapemirim
Itapemirim
(Bairro Santo Antônio)
Jerônimo Monteiro
(Andorinha)
Sebastião Azevedo dos
Santos (Sebastiãozão)
Roney Rosa Silva
Muqui
10 Caxambu da Família Rosa
(Sarney)
Jorge dos Santos (Seu
Presidente Kennedy
Jongo de Cacimbinha e Boa
11
Jorginho)
(Cacimbinha e Boa Esperança)
Esperança
Divino São Lourenço (Córrego
Jair Isaias Gomes
12“ Jongo de Memória”
Amarelo)
Mimoso do Sul
Caxambu de Santo Antônio de
Francisco (Chiquinho)
13
Muqui - “Jongo de Memória”
(Santo Antônio de Muqui)
Mimoso do Sul
Carlos
14“ Jongo de Memória”
(Dona América)
Alfredo Chaves
Maria Helena
15 Jongo de São Benedito
9
Caxambu de Andorinhas
REFERÊNCIAS:
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Org.). Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos.
Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
ALCÂNTARA, Renato de. A tradição da narrativa no Jongo. - Rio de Janeiro: UFRJ /
Faculdade de Letras, 2008. Dissertação de Mestrado.
ANDRADE, Patricia Gomes Rufino. Olhares sobre Jongos e Caxambus: Processos
educativos nas práticas religiosas afro-brasileiras. (Or. Maria Aparecida Corrêa Santos
Barreto), Vitória: PPGE/UFES, 2013. Tese Doutorado.
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BANDEIRA, Maria de Lourdes. Território negro em espaço branco: estudo antropológico
de Vila Bela. São Paulo: Brasiliense, 1988.
BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro:
Contra Capa, 2000.
CAMARGO, Célia Reis. A construção da memória na sociedade global. Identidades
sociais:
local
x
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Jongueiros e Caxambuzeiros no Espírito Santo – Pesquisa