24POLÍTICA A GAZETA QUARTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2015 AS URNAS DE LONA VÃO VOLTAR? COMPARAÇÃO Gasto com urna eletrônica é menor que fundo partidário Ministro Dias Toffoli, do TSE, volta a pedir esforço do Congresso para eleições de 2016 BRASÍLIA O ministro Dias Toffoli, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou ontem que os valores para a Justiça Eleitoral adquirir novas urnas eleitorais com voto impresso são menores que os recursos destinados ao Fundo Partidário. O Tribunal estima que uma nova licitação para a atualização das urnas custará R$ 200 milhões ao Tribunal. “Esse valor que a Justiça Eleitoral está precisando é muito menor do que o fundo partidário”, disse. O valor atual do fundo, alimentado com recursos públicos e destinado aos partidos políticos, é de R$ 867 milhões. “Nós estamos muito esperançosos de que o Congresso, o Ministério do Planejamento, Tesouro Nacional e a Presidência irão garantir a exceção sobre esses recursos necessários para a continuidade das urnas e das eleições, que têm data marcada”, afirmou. Toffoli explicou que o NESTOR MÜLLER/ARQUIVO AG contingenciamento das verbas destinadas ao Judiciário,publicadonasegunda-feira, no Diário Oficial, representa mais de 80% das necessidades impostas àseleiçõesdoanoquevem. A Justiça Eleitoral teve corte de R$ 428,7 milhões no orçamento referente à previsão de 2015, o que, segundo o TSE, “inviabilizará as eleições de 2016 por meio eletrônico”. CONTABILIDADE R$ 200 milhões É a estimativa de gasto do TSE para compra de novas urnas eletrônicas. SOB PRESSÃO “Nossos órgãos técnicos vão estudar o problema para que nós possamos equacionar essa situação, uma vez que o voto eletrônico é muito importante” EDUARDO CARDOZO MINISTRO DA JUSTIÇA Nas eleições de 1989, com urnas de lona, pais levaram crianças para a votação “É sempre necessário reaquisição de novas urnas para repor antigas. Por exemplo, no Estado do Rio existem35milurnaseletrônicas que não podem mais serusadasporque,doponto de vista físico, não são mais Homero diz que Judiciário tem é que cortar “privilégios” Não há a menor chance de a urna eletrônica desaparecer das eleições municipaisde2016nopaís,avalia o presidente da seccionalcapixabadaOrdemdos Advogados do Brasil (OAB-ES), Homero Mafra. Para o dirigente, a portaria dos tribunais superiores não passa de estratégia de pressão política para manter seus orçamentos intactos à tesourada da União em meio ao ajuste fiscal. “Não acredito que o fim da urna eletrônica se concretize. Eu acho que os tribunais superiores têm outros custos para cortar, mas me parece estratégia de pressão para manter intacto o orçamento num tempo MARCELO PREST Homero: urna eletrônica vai continuar em uso de crise. Eu não acredito que isso se reflita nas eleições”, salienta Homero. Em verdade, segundo acrescenta o presidente da OAB local, não faz sentido o Tribunal Superior Eleito- ral (TSE) cortar recursos justamente na compra de urnas eletrônicas, quando o Judiciário, como um todo, goza de “privilégios” e podereduzirmuitasdespesas-emmanutençãoadministrativa, por exemplo. “Fica claro que a portaria publicada é uma medida com cálculos políticos. Há uma tradição de muitos privilégios no Judiciário, que é muito competente nisso. Certamente, há cortes a fazer em outras áreas. Veja o mundo que é o STJ (Superior Tribunal deJustiça)”,criticaHomero.“Ostribunaispoderiam cortar gastos sem afetar a vida da população”. (Rondinelli Tomazelli) úteis”, explicou o ministro. NEGOCIAÇÃO O advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, disse que esse é um assunto que o Congresso precisará resolver. “A decisão de en- tender o contingenciamento como obrigatório é de uma jurisprudência do TribunaldeContasdaUnião.O Congresso precisará discutir esse assunto e avaliar se deverá mantê-lo ou não”. O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, disse que o governo irá estudar a questão para viabilizar as urnas eletrônicas necessárias em 2016. “Nós vamos manter um diálogocomoPoderJudiciário. Nossos órgãos técnicos vão estudar o problema, temos que dialogar também comoPoderLegislativopara que nós possamos equacionar essa situação, uma vez queovotoeletrônicoémuito importante”, disse. O ministro Gilmar Mendes considera que o Judiciário vai precisar negociar o contingenciamento com com os outros Poderes. “É uma situação delicada, certamente isso vai ser objeto de negociação e terá que ser feita a devida avaliação”, apontouMendes,queacrescentou que talvez sejam necessários cortes em outros setores. (AE) Procurador eleitoral enxerga tentativa de pressão ao Planalto O procurador regional eleitoral Carlos Vinicius Cabeleira também não vê a menor chance de o Brasil voltar a usar urna de lona na eleição do próximo ano. Para ele, a ameaça de retorno às cédulas de papel não passa mesmo de pressão do Poder Judiciário para preservar repasses orçamentários. Do contrário, avalia, o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teria detalhado essa medida - o que não fez até agora. “A primeira impressão é que, realmente, usaram a portaria para mandar recado para o governoefazerumapressão paranãoteroorçamentoreduzido. O problema é que, no contexto atual, todos os MARCELO PREST Cabeleira: TSE deve explicação sobre portaria setores estão sofrendo cortes orçamentários, e não tem porquê a Justiça Eleitoral ser diferente”, assinala. Cabeleiraconsideraqueo JudiciárioligadoàUniãopode enxugar despesas em ou- tras áreas. Ademais, não há prova de que cédula em papelémaisbaratadoqueeleição digital. “Vai cortar justamente nas urnas? É estranho. Se não será com urna eletrônica, se pressupõe que em papel é mais barato?”. O procurador sempre tomou como mais econômica a votação eletrônica, que poupa dinheiro público, tempo de contagem e apuração, transporte... “Não teriasentidovotaçãoempapel por não ter dinheiro. O TSE deveria ter um estudo antes depublicaraportariaedeve uma explicação à sociedade. Se fosse com impressão acoplada, como o Congresso decidiu, seria outra historia”. (Rondinelli Tomazelli)