Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 VARIAÇÃO LEXICAL PARA “CIGARRO DE PALHA” E “TOCO DE CIGARRO” NO AMAPÁ Romário Duarte Sanches (UFPA)1 [email protected] Abdelhak Razky (UFPA)2 [email protected] RESUMO: Este trabalho objetiva mostrar as variantes linguísticas, para os itens lexicais cigarro de palha e toco de cigarro, encontradas no corpus do projeto Atlas Geossociolinguístico do Amapá – ALAP, e compará-los com os dados publicados no Atlas Linguístico do Brasil - ALiB. Como pressupostos teóricometodológicos, adotamos a dialetologia pluridimensional de Thun (2000), considerando também as pesquisas no campo da geolinguística realizadas por Ferreira e Cardoso, Cardoso (2010) e Razky e Costa (2011; 2014). A pesquisa segue a abordagem metodológica da geolinguística, numa perspectiva pluridimensional, já que durante a análise dos dados não prevaleceu apenas o mapeamento das variantes em seu espaço geográfico, mas também, levamos em consideração o aspecto social, neste caso, considerando duas variáveis sociais: a idade e o sexo dos informantes. Para coleta de dados consideramos 10 localidades do estado do Amapá, como pontos de inquéritos, em cada localidade foram entrevistados 4 informantes. Para obtenção dos dados foi aplicado o questionário semântico-lexical do projeto ALiB, com 202 perguntas, no entanto, delimitamos apenas os itens cigarro de palha e toco do cigarro do campo semântico convívio e comportamento social. Os resultados apontam que no estado do Amapá, o item cigarro de palha apresentou 10 variantes, sendo que as mais recorrentes foram porronca, tabaco e charuto. Já o item toco de cigarro apresentou 8 variantes, tendo como predominância a variante bagana. A comparação entre os dados dos dois atlas linguísticos nos levam a sugerir que no norte do Brasil a predominância lexical para a denominação de cigarro de palha e toco de cigarro se fazem pelos usos recorrentes das variantes lexicais porronca e bagana que podem ocorrer tanto nas capitais como nas demais localidades da região norte. PALAVRAS-CHAVE: Dialetologia. Geolinguística. Variação lexical. ABSTRACT: This work aims to show the linguistic variants, for lexical items cigarro de palha and toco de cigarro, found in the corpus of the project Geossociolinguistic Atlas of Amapa - ALAP, and compare them with data published in the Linguistic Atlas of Brazil - ALiB. As theoretical and methodological assumptions, we adopted the multidimensional dialectology of Thun (2000), also considering research in the field of geolinguistic performed by Ferreira and Cardoso, Cardoso (2010) and Razky and Costa (2011; 2014). The research follows the methodological approach of geolinguistic, from a multidimensional perspective, as during the analysis of data not only prevailed the mapping of variants in their geographical area, but also take into account the social aspect in this case considering two social variables: the age and sex of informants. For data collection consider 10 locations state of Amapa such as points of surveys, in each location were interviewed four informants. To obtain the data we used the semantic-lexical questionnaire project ALiB, with 202 questions, however, we delimit only the items cigarro de palha 1 Graduado em Letras pelo Instituto de Ensino Superior do Amapá – IESAP. Especialista em Estudos Linguísticos pela Universidade do Estado do Pará – UEPA. Mestrando em Letras com ênfase em Linguística pela Universidade Federal do Pará – UFPA. 2 Mestrado e Doutorado em Linguística pela Université de Toulouse Le Mirail. Pós-doutorado Université de Toulouse Le Mirail. Docente e pesquisador na Universidade Federal do Pará - UFPA. 414 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 and toco de cigarro of the semantic field convívio e comportamento social. The results show that in the state of Amapa, the item cigarro de palha presented 10 variants, with the most applicants were porronca, tabaco and charuto. The item toco de cigarro had 8 variants, with the predominance to bagana variant. Comparing data from the two linguistic atlas lead us to suggest that in northern Brazil lexical prevalence for denomination of cigarro de palha and toco de cigarro are made by the appellants uses of lexical variants porronca and bagana that can occur in both capitals as in other localities of the northern region. KEYWORDS: Dialectology. Geolinguistic. Lexical variation. 1 Introdução Atualmente, percebemos que as pesquisas sobre variação linguística no Brasil se multiplicaram, ora pelo viés da sociolinguística, ora pelo viés da dialetologia e geolinguística. Tais pesquisas, aos poucos, vão ganhando mais notoriedade e reconhecimento nos espaços sociais, seja o midiático, seja o acadêmico-científico. Este artigo objetiva descrever e mapear as variantes linguísticas para os itens lexicais cigarro de palha e toco de cigarro encontradas no corpus do projeto Atlas Geossociolinguístico do Amapá – ALAP, o que torna possível compará-los com os dados já publicados no Atlas Linguístico do Brasil - ALiB. Inicialmente, serão abordados aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa, bem como a delimitação conceitual do que vem a ser dialetologia e geolinguística. Em seguida, mostram-se os resultados obtidos e publicados no Atlas Linguístico do Brasil, sobre as variantes lexicais para cigarro de palha e toco de cigarro. E por fim, serão descritas e mapeadas as variantes lexicais para cigarro de palha e toco de cigarro no Amapá, com base no corpus do projeto Atlas Geossociolinguístico do Amapá – ALAP. 2 Dialetologia e geolinguística São diversas as definições que hoje encontramos para dialetologia e geolinguística. Há aqueles que consideram a dialetologia como uma ciência e a geolinguística como um método da dialetologia. Para Ferreira e Cardoso (1994), a dialetologia é concebida como uma ciência que surgiu nos fins do século XIX, e que 415 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 demonstra até os dias de hoje, um maior interesse pelos dialetos regionais, rurais e sua distribuição e intercomparação. Dubois (2006) define a dialetologia como uma disciplina: O termo dialetologia, usado às vezes como simples sinônimo de geografia linguística, designa a disciplina que assumiu a tarefa de descrever comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos em que uma língua se diversifica no espaço, e de estabelecer-lhe os limites. Emprega-se também para a descrição de falas tomadas isoladamente, sem referência às falas vizinhas ou da mesma família. (DUBOIS, 2006, p. 185). Outras definições estão sendo bastante apreciadas em pesquisas que visam a elaboração de atlas linguísticos, o principal percussor dessa nova linha de pensamento é Harald Thun (2000). Este autor rompe a chamada dialetologia tradicional e traz novas contribuições à área. Acreditamos que ele “inaugura” essa nova fase dos estudos dialetais, denominada de dialetologia pluridimensional. Cardoso (2010) compartilha dessas novas ideias e atualiza a definição de dialetologia. A autora afirma que “a dialetologia é um ramo dos estudos linguísticos que assume a tarefa de identificar, descrever e situar os diferentes usos em que uma língua se diversifica, conforme a sua distribuição espacial, sociocultural e cronológica” (CARDOSO, 2010, p. 15). Acerca destas prévias discussões do que vem a ser dialetologia e geolinguística, nos delimitaremos as definições de Dubois (2006), pois este, também trata a dialetologia como: O estudo conjunto da geografia linguística e dos fenômenos de diferenciação dialetal ou dialetação, pelos quais uma língua, relativamente homogênea numa dada época, sofre no curso da história certas variações – diacrônicas em certos pontos e de outra natureza noutros – até terminar em dialetos, e mesmo em línguas diferentes. Então, a dialetologia, para explicar a propagação ou não-propagação desta ou daquela inovação, faz intervir razões geográficas (obstáculos ou ausência de obstáculos), políticas (fronteiras mais menos permeáveis), socioeconômicas, socioculturais (rivalidades locais, noção de prestígio) ou linguísticas (influência de substrato, de superestrato, de adstrato. (DUBOIS, 2006, p. 185-186) 416 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 Sobre a definição de geolinguística, Dubois (2006) afirma ser parte da dialetologia que se ocupa em localizar as variações das línguas umas com relação às outras. Mais adiante o autor diz ser: “o estudo das variações na utilização da língua por indivíduos ou grupos sociais de origens geográficas diferentes” (DUBOIS, 2006, p. 307). A partir disso, assumimos a definição sistematizada por Cardoso (2010), tratando a geolinguística como um método de que se utiliza da dialetologia para localizar espacialmente as variações das línguas umas em relação às outras, podendo situar socioculturalmente cada um dos falantes considerados. De acordo com Iordan (1962), a geolinguística passou a ser considerada com uma área de interesse dos estudos linguísticos somente no final do século XIX e início do século XX, na Europa Ocidental. A partir de então, expandiu-se para outros continentes, bem como a América Latina. No Brasil, quando se fala em dialetologia e geolinguística, é importante salientar alguns autores renomados que deram início a esses estudos. Ferreira e Cardoso (1994) destacam, em especial, os trabalhos de Amadeu Amaral, Antenor Nascentes, Serafim da Silva Neto e Nelson Rossi. Estes foram os primeiros dialetólogos que impulsionaram novos estudos na área e principalmente na elaboração de inúmeros atlas linguísticos de maior e menor domínio. A partir dos estudos dialetais e geolinguísticos já publicados, e aqueles que ainda estão em andamento, torna-se imprescindível a não referência a um dos maiores projetos firmados no Brasil, e que segundo Callou (2010), foi um projeto cogitado há mais de 50 anos, no entanto, colocado em prática a partir de 1996. Trata-se, sobretudo, do projeto Atlas Linguístico do Brasil - ALiB. O momento mais importante e que deu impulso para a construção do ALiB, segundo Aguilera e Altino (2012), foi o Seminário Caminhos e Perspectivas para a Geolinguística no Brasil realizado na Universidade Federal da Bahia em 1996. Conforme Aguilera e Altino (2012), esse espaço foi favorável à construção do projeto, 417 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 pois reuniu pesquisadores no campo da dialetologia e da sociolinguística, contando com a presença dos autores de atlas linguísticos já publicados, até àquela época. Após 18 anos, o Atlas Linguístico do Brasil já se encontra publicado, parcialmente, pois até o momento foram publicados dois volumes (vol. 1. Introdução e vol. II. Cartas Linguísticas 1). O lançamento do ALiB aconteceu no III Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística, realizado na Universidade Estadual de Londrina – UEL, em outubro de 2014. A elaboração de um atlas nacional, como se caracteriza o projeto ALiB, sem dúvida foi fundamental para instigar e incentivar a construção de novos atlas linguísticos de dimensões menores, como é o caso do projeto Atlas Geossociolinguístico do Amapá – ALAP, coordenado pelo prof. Dr. Abdelhak Razky e profª. Me. Celeste Ribeiro. Apresentaremos nas seções seguintes alguns estudos já realizados com os itens lexicais cigarro de palha e toco de cigarro, a partir dos dados do ALiB. Em seguida mostraremos as variantes lexicais encontradas nos dados do ALAP. Para que assim possamos visualizar como estão distribuídas, no espaço geográfico e social, as variantes linguísticas no Brasil e especificamente no Amapá. 3 Variação lexical de cigarro de palha e toco de cigarro no Brasil Com os primeiros volumes do Atlas Linguístico do Brasil (CARDOSO et. al., 2014), já conseguimos evidenciar resultados da variação fonética e lexical do português falado no Brasil. Em relação ao item cigarro de palha e toco de cigarro, os estudos de Razky e Costa (2014; 2011), mostram que o item lexical cigarro de palha apresenta 21 variantes lexicais distribuídas nas 25 capitais brasileiras. Sendo mais recorrentes as variantes cigarro de palha, porronca, cigarro de fumo, palheiro e tabaco. Numa análise do espaço geográfico, os autores destacam a variante cigarro de palha, onde o uso 418 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 acontece em todas as regiões brasileiras, no entanto, concentra-se na região Centro-Sul do Brasil3. Na análise das variantes por regiões, Razky e Costa (2014) mostram que na região norte, porronca e cigarro de palha são as mais frequentes. Enquanto no nordeste tem-se a predominância de cigarro de fumo. E na região Centro-Sul predominam a variante cigarro de palha e palheiro. Vejamos a seguir a Carta L16 do Atlas Linguístico do Brasil (2014) que mostra as denominações registradas para cigarro de palha nas capitais brasileiras. Figura 01 – Variantes lexicais para cigarro de palha no Brasil Fonte: Carta linguística extraída do Atlas Linguístico do Brasil (CARDOSO, et. al. 2014). Como podemos notar na carta linguística acima, há certa delimitação geográfica ao uso de algumas variantes, como foi bem analisado e descrito por Razky e Costa 3 A região geoeconômica Centro-Sul abrange os estados das regiões Sul e Sudeste (com exceção do norte de Minas Gerais), além dos estados de Mato Grosso do Sul, sul do Tocantins e o do Mato grosso, e Distrito Federal. 419 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 (2014). Em uma análise da variação diageracional, os autores demonstram que a variante tabaco ocorreu somente na fala dos informantes mais jovens. Já na análise da variação diassexual, Razky e Costa (2014) afirmam que as cinco variantes mais frequentes podem ocorrer independentemente do informante ser homem ou mulher. Na análise diastrática, considerando a variável escolaridade, os autores mostram que as variantes cigarro de palha e porronca podem caracterizar, numa mesma proporção, os usos linguísticos de falantes com escolaridade fundamental ou superior. Em relação ao item toco de cigarro, os autores afirmam que este apresenta 23 variantes distribuídas nas capitais brasileiras. Sendo que as mais frequentes são: bagana, bituca e guimba. Segue abaixo a carta linguística do referido item. Figura 02 – Variantes lexicais para toco de cigarro no Brasil Fonte: Carta linguística elaborada por Razky et. al. (2011) 420 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 A partir da elaboração da carta linguística, apresentada acima, Razky e Costa (2011), numa análise do aspecto geográfico, inferem que há usos mais frequentes de algumas variantes em determinadas regiões do Brasil. Por exemplo, na região norte destaca-se a variante Bagana; no nordeste têm-se as variantes ponta, pióla, píuba, tóia e resto; no centro-oeste aparece toco de cigarro; no sudeste tem-se guimba e no sul a variante mais frequentes é xepa. Em relação à análise de aspecto social, os autores destacam apenas 4 variantes: bagana, guimba, toco de cigarro e bituca. Sobre a variação diageracional, os autores mostram que as variantes bagana e guimba aparecem nas falas de pessoas mais idosas, enquanto toco de cigarro e bituca nas falas de jovens. Quanto à variação diassexual, considerando o número de ocorrências, não revela uma influência significativa sobre a escolha de uma ou outra variante. Já à respeito da variação diastrática, Razky e Costa (2011) mostram que bagana é mais recorrente em pessoas de nível fundamental e bituca na fala de pessoas de nível superior. 4 Variação lexical para cigarro de palha e toco de cigarro no Amapá Por meio dos dados já coletados do projeto ALAP, pretendemos neste artigo mostrar a variedade linguística aplicada a dois itens lexicais, cigarro de palha e toco de cigarro. Antes de explicitar os dados, vale ressaltar brevemente os procedimentos metodológicos adotados. A pesquisa conta com 40 informantes distribuídos em 10 pontos de inquéritos (Macapá, Santana, Mazagão, Laranjal do Jarí, Porto Grande, Pedra Branca do Amaparí, Tartarugalzinho, Calçoene, Amapá e Oiapoque). Os perfis desses informantes são: 1 homem e 1 mulher entre 18 a 30 anos de ensino fundamental incompleto e 1 homem e 1 mulher entre 50 a 75 anos de ensino fundamental incompleto. Para coleta de dados utilizamos o questionário semântico-lexical elaborado pelo comitê científico do projeto ALiB (2001). Tal questionário contém 202 perguntas divididas em 14 campos semânticos. Assim, nos delimitamos a analisar dois itens lexicais do campo semântico convívio e comportamento social: cigarro de palha e toco de cigarro. 421 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 A análise dos dados se constituirá da seguinte forma: 1) inicialmente, serão apresentados os dados em forma de cartas linguísticas, em que serão expostos os itens lexicais investigados, sendo que nessas cartas será possível visualizar as variantes encontradas no estado do Amapá; 2) após a demonstração dos dados serão feitas as descrições das variantes e em seguida a análise em seu aspecto geográfico e social. Ressaltamos que tal análise não abrangerá todas as variantes encontradas, e sim as de maior frequência/ocorrência. Para leitura das cartas é preciso lembrar que cada variante se encontrará identificada por cores, na intenção de distingui-las. No que tange ao perfil do informante, este será identificado pela cruz de estratificação (+) que indicará a posição de cada um. Deste modo, diante deste símbolo, do lado esquerdo superior se encontrará: informante homem, 18-30 anos, com ensino fundamental incompleto; do lado esquerdo inferior: informante homem, 50-75 anos, com ensino fundamental incompleto; do lado direito superior: informante mulher, 18-30 anos, com ensino fundamental incompleto; do lado direito inferior: informante mulher, 50-75 anos, com ensino fundamental incompleto. Apresenta-se a seguir a carta linguística 145. Figura 03 – Variantes lexicais para cigarro de palha no Amapá Fonte: Carta Linguística elaborada pelos autores. 422 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 Diante da carta 145 referente à questão 145, objetivamos saber que nomes as pessoas dão ao cigarro que se faziam antigamente, enrolado à mão? Por meio desta pergunta, registramos 10 variantes lexicais: porronca, tabaco, charuto, tabacão, cigarrinho de palha, cigarrinho, cigarro de palha, cigarro, trevo e ponta de borracha. Em uma análise do espaço geográfico do item, observamos que as variantes mais frequentes são: porronca 39%, tabaco 25% e charuto 16%. Sendo que porronca aparece distribuída em quase todos os pontos de pesquisados. A variante tabaco aparece com frequência em 7 localidade, somente em Mazagão, Porto Grande e Tartarugalzinho não há registros do uso tabaco. Já a variante charuto também aparece em 7 localidades, só não em Oiapoque, Amapá e Macapá. Vale ressaltar que apenas no município de Oiapoque há a predominância, em todos os informantes entrevistados, da variante tabaco. Analisando o item cigarro de palha em seu aspecto social, constatamos que as variantes porronca, tabaco e charuto, na figura 03, também mostram um perfil linguístico. A primeira é identificada como mais frequência na fala de pessoas de segunda faixa etária, independente da variável sexo. A segunda se mostra mais recorrente na fala de homens e mulheres de primeira faixa etária. Já a terceira é marcada predominantemente na fala dos homens de segunda faixa etária. Lembrando que todas essas três variantes são de conhecimento de todos os informantes entrevistados. 423 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 Figura 04 – Carta Linguística elaborada pelos autores. Fonte: Carta Linguística elaborada pelos autores. Analisando a carta 146 referente ao item 146, queríamos saber como as pessoas chamam para aquele resto de cigarro que se joga fora? A partir disso, registramos no total de 8 variantes: bagana, toco do cigarro, cortiça, biata, toquinho, pituca, resto do cigarro e borra. A variante de maior frequência foi bagana com 77% de ocorrência. A variante bagana está predominantemente distribuída em todos os pontos de inquéritos (conforme a figura 04). A carta linguística 146 também mostra que bagana é predominante na fala de pessoas de segunda faixa etária, já que em FB aparece com 32% e MB com 29%, enquanto FA com 26% e MA 13% de frequência. Desta forma, não constatamos que a variante lexical bagana é uma variante exclusiva e determinada pela variável sexo, mas a variável faixa etária supõe certa influência na fala dos informantes. 424 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos • NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015 5 Algumas considerações Diante dos dados mostrados aqui, chegamos a concluir que para o item lexical cigarro de palha, mapeado no Atlas Linguístico do Brasil (figura 01), constatamos três variantes mais recorrentes na capital Macapá: porronca, cigarro de tabaco e cigarro de palha. Enquanto nos dados do Atlas Geossociolinguístico do Amapá foram registrados: porronca, tabaco e charuto. Notamos que nos dados dos dois atlas investigados, as variantes lexicais porronca e tabaco aparecem em ambos. Ressaltamos também que nos dados do ALAP há uma outra variante que não apareceu no dados do ALiB, charuto. Essa comparação entre os dois atlas linguísticos nos leva a afirmar que no norte do Brasil a predominância lexical para se referir a cigarro de palha corresponde ao uso da variante lexical porronca que pode ocorrer tanto nas capitais como nas demais localidades da região. Essa hipótese é sugerida, uma vez que registramos nas cidades não capitais do estado do Amapá a predominância do uso da variante porronca. Já em relação ao item toco de cigarro (figura 02), observamos que a predominância de uso da variante bagana está concentrada no norte do Brasil e que também é a variante mais recorrente no estado do Amapá (figura 04). Assim, inferimos que bagana torna-se o uso lexical predominante para se referir a toco de cigarro na região norte. Referências AGUILERA, V.; ALTINO, F. Para um atlas pluridimensional: pesquisa e pesquisadores. São Paulo: Alfa, v. 56, p. 871-889, 2012. CALLOU, D. Quando a dialetologia e sociolinguística se encontram. In: Estudos Linguísticos e Literários. Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura da Universidade Federal da Bahia. Salvador: UFBA, v. 41, 2010. p. 29-45. CARDOSO, S (et. al.). Atlas Linguístico do Brasil: cartas linguísticas 1. Londrina: EDUEL, 2014. CARDOSO, S. Geolinguística: tradição e modernidade. São Paulo: Parábola, 2010. Comitê Nacional do Projeto ALiB: Atlas Linguístico do Brasil. Londrina: UEL, 2001. 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