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Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos
• NUPESDD-UEMS
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 16 • Julho 2015
VARIAÇÃO LEXICAL PARA “CIGARRO DE PALHA” E “TOCO
DE CIGARRO” NO AMAPÁ
Romário Duarte Sanches (UFPA)1
[email protected]
Abdelhak Razky (UFPA)2
[email protected]
RESUMO: Este trabalho objetiva mostrar as variantes linguísticas, para os itens lexicais cigarro de palha
e toco de cigarro, encontradas no corpus do projeto Atlas Geossociolinguístico do Amapá – ALAP, e
compará-los com os dados publicados no Atlas Linguístico do Brasil - ALiB. Como pressupostos teóricometodológicos, adotamos a dialetologia pluridimensional de Thun (2000), considerando também as
pesquisas no campo da geolinguística realizadas por Ferreira e Cardoso, Cardoso (2010) e Razky e Costa
(2011; 2014). A pesquisa segue a abordagem metodológica da geolinguística, numa perspectiva
pluridimensional, já que durante a análise dos dados não prevaleceu apenas o mapeamento das variantes
em seu espaço geográfico, mas também, levamos em consideração o aspecto social, neste caso,
considerando duas variáveis sociais: a idade e o sexo dos informantes. Para coleta de dados consideramos
10 localidades do estado do Amapá, como pontos de inquéritos, em cada localidade foram entrevistados 4
informantes. Para obtenção dos dados foi aplicado o questionário semântico-lexical do projeto ALiB, com
202 perguntas, no entanto, delimitamos apenas os itens cigarro de palha e toco do cigarro do campo
semântico convívio e comportamento social. Os resultados apontam que no estado do Amapá, o item
cigarro de palha apresentou 10 variantes, sendo que as mais recorrentes foram porronca, tabaco e
charuto. Já o item toco de cigarro apresentou 8 variantes, tendo como predominância a variante bagana.
A comparação entre os dados dos dois atlas linguísticos nos levam a sugerir que no norte do Brasil a
predominância lexical para a denominação de cigarro de palha e toco de cigarro se fazem pelos usos
recorrentes das variantes lexicais porronca e bagana que podem ocorrer tanto nas capitais como nas
demais localidades da região norte.
PALAVRAS-CHAVE: Dialetologia. Geolinguística. Variação lexical.
ABSTRACT: This work aims to show the linguistic variants, for lexical items cigarro de palha and toco
de cigarro, found in the corpus of the project Geossociolinguistic Atlas of Amapa - ALAP, and compare
them with data published in the Linguistic Atlas of Brazil - ALiB. As theoretical and methodological
assumptions, we adopted the multidimensional dialectology of Thun (2000), also considering research in
the field of geolinguistic performed by Ferreira and Cardoso, Cardoso (2010) and Razky and Costa (2011;
2014). The research follows the methodological approach of geolinguistic, from a multidimensional
perspective, as during the analysis of data not only prevailed the mapping of variants in their geographical
area, but also take into account the social aspect in this case considering two social variables: the age and
sex of informants. For data collection consider 10 locations state of Amapa such as points of surveys, in
each location were interviewed four informants. To obtain the data we used the semantic-lexical
questionnaire project ALiB, with 202 questions, however, we delimit only the items cigarro de palha
1
Graduado em Letras pelo Instituto de Ensino Superior do Amapá – IESAP. Especialista em Estudos
Linguísticos pela Universidade do Estado do Pará – UEPA. Mestrando em Letras com ênfase em
Linguística pela Universidade Federal do Pará – UFPA.
2
Mestrado e Doutorado em Linguística pela Université de Toulouse Le Mirail. Pós-doutorado Université
de Toulouse Le Mirail. Docente e pesquisador na Universidade Federal do Pará - UFPA.
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and toco de cigarro of the semantic field convívio e comportamento social. The results show that in the
state of Amapa, the item cigarro de palha presented 10 variants, with the most applicants were porronca,
tabaco and charuto. The item toco de cigarro had 8 variants, with the predominance to bagana variant.
Comparing data from the two linguistic atlas lead us to suggest that in northern Brazil lexical prevalence
for denomination of cigarro de palha and toco de cigarro are made by the appellants uses of lexical
variants porronca and bagana that can occur in both capitals as in other localities of the northern region.
KEYWORDS: Dialectology. Geolinguistic. Lexical variation.
1 Introdução
Atualmente, percebemos que as pesquisas sobre variação linguística no Brasil se
multiplicaram, ora pelo viés da sociolinguística, ora pelo viés da dialetologia e
geolinguística. Tais pesquisas, aos poucos, vão ganhando mais notoriedade e
reconhecimento nos espaços sociais, seja o midiático, seja o acadêmico-científico.
Este artigo objetiva descrever e mapear as variantes linguísticas para os itens
lexicais cigarro de palha e toco de cigarro encontradas no corpus do projeto Atlas
Geossociolinguístico do Amapá – ALAP, o que torna possível compará-los com os
dados já publicados no Atlas Linguístico do Brasil - ALiB.
Inicialmente, serão abordados aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa,
bem como a delimitação conceitual do que vem a ser dialetologia e geolinguística. Em
seguida, mostram-se os resultados obtidos e publicados no Atlas Linguístico do Brasil,
sobre as variantes lexicais para cigarro de palha e toco de cigarro. E por fim, serão
descritas e mapeadas as variantes lexicais para cigarro de palha e toco de cigarro no
Amapá, com base no corpus do projeto Atlas Geossociolinguístico do Amapá – ALAP.
2 Dialetologia e geolinguística
São diversas as definições que hoje encontramos para dialetologia e
geolinguística. Há aqueles que consideram a dialetologia como uma ciência e a
geolinguística como um método da dialetologia. Para Ferreira e Cardoso (1994), a
dialetologia é concebida como uma ciência que surgiu nos fins do século XIX, e que
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demonstra até os dias de hoje, um maior interesse pelos dialetos regionais, rurais e sua
distribuição e intercomparação.
Dubois (2006) define a dialetologia como uma disciplina:
O termo dialetologia, usado às vezes como simples sinônimo de
geografia linguística, designa a disciplina que assumiu a tarefa de
descrever comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos em que
uma língua se diversifica no espaço, e de estabelecer-lhe os limites.
Emprega-se também para a descrição de falas tomadas isoladamente,
sem referência às falas vizinhas ou da mesma família. (DUBOIS,
2006, p. 185).
Outras definições estão sendo bastante apreciadas em pesquisas que visam a
elaboração de atlas linguísticos, o principal percussor dessa nova linha de pensamento é
Harald Thun (2000). Este autor rompe a chamada dialetologia tradicional e traz novas
contribuições à área. Acreditamos que ele “inaugura” essa nova fase dos estudos
dialetais, denominada de dialetologia pluridimensional. Cardoso (2010) compartilha
dessas novas ideias e atualiza a definição de dialetologia. A autora afirma que “a
dialetologia é um ramo dos estudos linguísticos que assume a tarefa de identificar,
descrever e situar os diferentes usos em que uma língua se diversifica, conforme a sua
distribuição espacial, sociocultural e cronológica” (CARDOSO, 2010, p. 15).
Acerca destas prévias discussões do que vem a ser dialetologia e geolinguística,
nos delimitaremos as definições de Dubois (2006), pois este, também trata a
dialetologia como:
O estudo conjunto da geografia linguística e dos fenômenos de
diferenciação dialetal ou dialetação, pelos quais uma língua,
relativamente homogênea numa dada época, sofre no curso da história
certas variações – diacrônicas em certos pontos e de outra natureza
noutros – até terminar em dialetos, e mesmo em línguas diferentes.
Então, a dialetologia, para explicar a propagação ou não-propagação
desta ou daquela inovação, faz intervir razões geográficas (obstáculos
ou ausência de obstáculos), políticas (fronteiras mais menos
permeáveis), socioeconômicas, socioculturais (rivalidades locais,
noção de prestígio) ou linguísticas (influência de substrato, de
superestrato, de adstrato. (DUBOIS, 2006, p. 185-186)
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Sobre a definição de geolinguística, Dubois (2006) afirma ser parte da
dialetologia que se ocupa em localizar as variações das línguas umas com relação às
outras. Mais adiante o autor diz ser: “o estudo das variações na utilização da língua por
indivíduos ou grupos sociais de origens geográficas diferentes” (DUBOIS, 2006, p.
307).
A partir disso, assumimos a definição sistematizada por Cardoso (2010),
tratando a geolinguística como um método de que se utiliza da dialetologia para
localizar espacialmente as variações das línguas umas em relação às outras, podendo
situar socioculturalmente cada um dos falantes considerados.
De acordo com Iordan (1962), a geolinguística passou a ser considerada com
uma área de interesse dos estudos linguísticos somente no final do século XIX e início
do século XX, na Europa Ocidental. A partir de então, expandiu-se para outros
continentes, bem como a América Latina.
No Brasil, quando se fala em dialetologia e geolinguística, é importante salientar
alguns autores renomados que deram início a esses estudos. Ferreira e Cardoso (1994)
destacam, em especial, os trabalhos de Amadeu Amaral, Antenor Nascentes, Serafim da
Silva Neto e Nelson Rossi. Estes foram os primeiros dialetólogos que impulsionaram
novos estudos na área e principalmente na elaboração de inúmeros atlas linguísticos de
maior e menor domínio.
A partir dos estudos dialetais e geolinguísticos já publicados, e aqueles que ainda
estão em andamento, torna-se imprescindível a não referência a um dos maiores
projetos firmados no Brasil, e que segundo Callou (2010), foi um projeto cogitado há
mais de 50 anos, no entanto, colocado em prática a partir de 1996. Trata-se, sobretudo,
do projeto Atlas Linguístico do Brasil - ALiB.
O momento mais importante e que deu impulso para a construção do ALiB,
segundo Aguilera e Altino (2012), foi o Seminário Caminhos e Perspectivas para a
Geolinguística no Brasil realizado na Universidade Federal da Bahia em 1996.
Conforme Aguilera e Altino (2012), esse espaço foi favorável à construção do projeto,
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pois reuniu pesquisadores no campo da dialetologia e da sociolinguística, contando com
a presença dos autores de atlas linguísticos já publicados, até àquela época.
Após 18 anos, o Atlas Linguístico do Brasil já se encontra publicado,
parcialmente, pois até o momento foram publicados dois volumes (vol. 1. Introdução e
vol. II. Cartas Linguísticas 1). O lançamento do ALiB aconteceu no III Congresso
Internacional de Dialetologia e Sociolinguística, realizado na Universidade Estadual de
Londrina – UEL, em outubro de 2014.
A elaboração de um atlas nacional, como se caracteriza o projeto ALiB, sem
dúvida foi fundamental para instigar e incentivar a construção de novos atlas
linguísticos
de
dimensões
menores,
como
é
o
caso
do
projeto
Atlas
Geossociolinguístico do Amapá – ALAP, coordenado pelo prof. Dr. Abdelhak Razky e
profª. Me. Celeste Ribeiro.
Apresentaremos nas seções seguintes alguns estudos já realizados com os itens
lexicais cigarro de palha e toco de cigarro, a partir dos dados do ALiB. Em seguida
mostraremos as variantes lexicais encontradas nos dados do ALAP. Para que assim
possamos visualizar como estão distribuídas, no espaço geográfico e social, as variantes
linguísticas no Brasil e especificamente no Amapá.
3 Variação lexical de cigarro de palha e toco de cigarro no Brasil
Com os primeiros volumes do Atlas Linguístico do Brasil (CARDOSO et. al.,
2014), já conseguimos evidenciar resultados da variação fonética e lexical do português
falado no Brasil. Em relação ao item cigarro de palha e toco de cigarro, os estudos de
Razky e Costa (2014; 2011), mostram que o item lexical cigarro de palha apresenta 21
variantes lexicais distribuídas nas 25 capitais brasileiras. Sendo mais recorrentes as
variantes cigarro de palha, porronca, cigarro de fumo, palheiro e tabaco. Numa análise
do espaço geográfico, os autores destacam a variante cigarro de palha, onde o uso
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acontece em todas as regiões brasileiras, no entanto, concentra-se na região Centro-Sul
do Brasil3.
Na análise das variantes por regiões, Razky e Costa (2014) mostram que na
região norte, porronca e cigarro de palha são as mais frequentes. Enquanto no nordeste
tem-se a predominância de cigarro de fumo. E na região Centro-Sul predominam a
variante cigarro de palha e palheiro. Vejamos a seguir a Carta L16 do Atlas
Linguístico do Brasil (2014) que mostra as denominações registradas para cigarro de
palha nas capitais brasileiras.
Figura 01 – Variantes lexicais para cigarro de palha no Brasil
Fonte: Carta linguística extraída do Atlas Linguístico do Brasil (CARDOSO, et. al. 2014).
Como podemos notar na carta linguística acima, há certa delimitação geográfica
ao uso de algumas variantes, como foi bem analisado e descrito por Razky e Costa
3
A região geoeconômica Centro-Sul abrange os estados das regiões Sul e Sudeste (com exceção do norte
de Minas Gerais), além dos estados de Mato Grosso do Sul, sul do Tocantins e o do Mato grosso, e
Distrito Federal.
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(2014). Em uma análise da variação diageracional, os autores demonstram que a
variante tabaco ocorreu somente na fala dos informantes mais jovens. Já na análise da
variação diassexual, Razky e Costa (2014) afirmam que as cinco variantes mais
frequentes podem ocorrer independentemente do informante ser homem ou mulher. Na
análise diastrática, considerando a variável escolaridade, os autores mostram que as
variantes cigarro de palha e porronca podem caracterizar, numa mesma proporção, os
usos linguísticos de falantes com escolaridade fundamental ou superior.
Em relação ao item toco de cigarro, os autores afirmam que este apresenta 23
variantes distribuídas nas capitais brasileiras. Sendo que as mais frequentes são:
bagana, bituca e guimba. Segue abaixo a carta linguística do referido item.
Figura 02 – Variantes lexicais para toco de cigarro no Brasil
Fonte: Carta linguística elaborada por Razky et. al. (2011)
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A partir da elaboração da carta linguística, apresentada acima, Razky e Costa
(2011), numa análise do aspecto geográfico, inferem que há usos mais frequentes de
algumas variantes em determinadas regiões do Brasil. Por exemplo, na região norte
destaca-se a variante Bagana; no nordeste têm-se as variantes ponta, pióla, píuba, tóia e
resto; no centro-oeste aparece toco de cigarro; no sudeste tem-se guimba e no sul a
variante mais frequentes é xepa.
Em relação à análise de aspecto social, os autores destacam apenas 4 variantes:
bagana, guimba, toco de cigarro e bituca. Sobre a variação diageracional, os autores
mostram que as variantes bagana e guimba aparecem nas falas de pessoas mais idosas,
enquanto toco de cigarro e bituca nas falas de jovens. Quanto à variação diassexual,
considerando o número de ocorrências, não revela uma influência significativa sobre a
escolha de uma ou outra variante. Já à respeito da variação diastrática, Razky e Costa
(2011) mostram que bagana é mais recorrente em pessoas de nível fundamental e bituca
na fala de pessoas de nível superior.
4 Variação lexical para cigarro de palha e toco de cigarro no Amapá
Por meio dos dados já coletados do projeto ALAP, pretendemos neste artigo
mostrar a variedade linguística aplicada a dois itens lexicais, cigarro de palha e toco de
cigarro. Antes de explicitar os dados, vale ressaltar brevemente os procedimentos
metodológicos adotados. A pesquisa conta com 40 informantes distribuídos em 10
pontos de inquéritos (Macapá, Santana, Mazagão, Laranjal do Jarí, Porto Grande, Pedra
Branca do Amaparí, Tartarugalzinho, Calçoene, Amapá e Oiapoque). Os perfis desses
informantes são: 1 homem e 1 mulher entre 18 a 30 anos de ensino fundamental
incompleto e 1 homem e 1 mulher entre 50 a 75 anos de ensino
fundamental
incompleto. Para coleta de dados utilizamos o questionário semântico-lexical elaborado
pelo comitê científico do projeto ALiB (2001). Tal questionário contém 202 perguntas
divididas em 14 campos semânticos. Assim, nos delimitamos a analisar dois itens
lexicais do campo semântico convívio e comportamento social: cigarro de palha e toco
de cigarro.
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A análise dos dados se constituirá da seguinte forma: 1) inicialmente, serão
apresentados os dados em forma de cartas linguísticas, em que serão expostos os itens
lexicais investigados, sendo que nessas cartas será possível visualizar as variantes
encontradas no estado do Amapá; 2) após a demonstração dos dados serão feitas as
descrições das variantes e em seguida a análise em seu aspecto geográfico e social.
Ressaltamos que tal análise não abrangerá todas as variantes encontradas, e sim as de
maior frequência/ocorrência.
Para leitura das cartas é preciso lembrar que cada variante se encontrará
identificada por cores, na intenção de distingui-las. No que tange ao perfil do
informante, este será identificado pela cruz de estratificação (+) que indicará a posição
de cada um. Deste modo, diante deste símbolo, do lado esquerdo superior se encontrará:
informante homem, 18-30 anos, com ensino fundamental incompleto; do lado esquerdo
inferior: informante homem, 50-75 anos, com ensino fundamental incompleto; do lado
direito superior: informante mulher, 18-30 anos, com ensino fundamental incompleto;
do lado direito inferior: informante mulher, 50-75 anos, com ensino fundamental
incompleto. Apresenta-se a seguir a carta linguística 145.
Figura 03 – Variantes lexicais para cigarro de palha no Amapá
Fonte: Carta Linguística elaborada pelos autores.
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Diante da carta 145 referente à questão 145, objetivamos saber que nomes as
pessoas dão ao cigarro que se faziam antigamente, enrolado à mão? Por meio desta
pergunta, registramos 10 variantes lexicais: porronca, tabaco, charuto, tabacão,
cigarrinho de palha, cigarrinho, cigarro de palha, cigarro, trevo e ponta de borracha.
Em uma análise do espaço geográfico do item, observamos que as variantes mais
frequentes são: porronca 39%, tabaco 25% e charuto 16%. Sendo que porronca
aparece distribuída em quase todos os pontos de pesquisados. A variante tabaco aparece
com frequência em 7 localidade, somente em Mazagão, Porto Grande e Tartarugalzinho
não há registros do uso tabaco. Já a variante charuto também aparece em 7 localidades,
só não em Oiapoque, Amapá e Macapá. Vale ressaltar que apenas no município de
Oiapoque há a predominância, em todos os informantes entrevistados, da variante
tabaco.
Analisando o item cigarro de palha em seu aspecto social, constatamos que as
variantes porronca, tabaco e charuto, na figura 03, também mostram um perfil
linguístico. A primeira é identificada como mais frequência na fala de pessoas de
segunda faixa etária, independente da variável sexo. A segunda se mostra mais
recorrente na fala de homens e mulheres de primeira faixa etária. Já a terceira é marcada
predominantemente na fala dos homens de segunda faixa etária. Lembrando que todas
essas três variantes são de conhecimento de todos os informantes entrevistados.
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Figura 04 – Carta Linguística elaborada pelos autores.
Fonte: Carta Linguística elaborada pelos autores.
Analisando a carta 146 referente ao item 146, queríamos saber como as pessoas
chamam para aquele resto de cigarro que se joga fora? A partir disso, registramos no
total de 8 variantes: bagana, toco do cigarro, cortiça, biata, toquinho, pituca, resto do
cigarro e borra. A variante de maior frequência foi bagana com 77% de ocorrência. A
variante bagana está predominantemente distribuída em todos os pontos de inquéritos
(conforme a figura 04).
A carta linguística 146 também mostra que bagana é predominante na fala de
pessoas de segunda faixa etária, já que em FB aparece com 32% e MB com 29%,
enquanto FA com 26% e MA 13% de frequência. Desta forma, não constatamos que a
variante lexical bagana é uma variante exclusiva e determinada pela variável sexo, mas
a variável faixa etária supõe certa influência na fala dos informantes.
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5 Algumas considerações
Diante dos dados mostrados aqui, chegamos a concluir que para o item lexical
cigarro de palha, mapeado no Atlas Linguístico do Brasil (figura 01), constatamos três
variantes mais recorrentes na capital Macapá: porronca, cigarro de tabaco e cigarro de
palha. Enquanto nos dados do Atlas Geossociolinguístico do Amapá foram registrados:
porronca, tabaco e charuto. Notamos que nos dados dos dois atlas investigados, as
variantes lexicais porronca e tabaco aparecem em ambos. Ressaltamos também que nos
dados do ALAP há uma outra variante que não apareceu no dados do ALiB, charuto.
Essa comparação entre os dois atlas linguísticos nos leva a afirmar que no norte do
Brasil a predominância lexical para se referir a cigarro de palha corresponde ao uso da
variante lexical porronca que pode ocorrer tanto nas capitais como nas demais
localidades da região. Essa hipótese é sugerida, uma vez que registramos nas cidades
não capitais do estado do Amapá a predominância do uso da variante porronca.
Já em relação ao item toco de cigarro (figura 02), observamos que a
predominância de uso da variante bagana está concentrada no norte do Brasil e que
também é a variante mais recorrente no estado do Amapá (figura 04). Assim, inferimos
que bagana torna-se o uso lexical predominante para se referir a toco de cigarro na
região norte.
Referências
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Comitê Nacional do Projeto ALiB: Atlas Linguístico do Brasil.
Londrina: UEL, 2001.
Questionários.
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1998, Bruxelles. ACTES. Tübingen: Niemeyer, 2000. p. 367-388.
Recebido Para Publicação em 30 de maio de 2015.
Aprovado Para Publicação em 30 de julho de 2015.
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