- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROJETO DE FIM DE CURSO Autores: Daniel de Queiroz Rocha Luiz Felipe Ferreira Calfa Análise da Estrutura de Formação de Preços no Mercado de Gás Natural Rio de Janeiro Agosto de 2003 ________________________________________ ROCHA, DANIEL DE QUEIROZ CALFA, LUIZ FELIPE FERREIRA ANÁLISE DA ESTRUTURA DE FORMAÇÃODE PREÇOS NO MERCADO DE GÁS NATURAL [Rio de Janeiro] 2003 p. 48 v 29,7cm (DEI-EE/UFRJ, Engenharia de Produção, 2003) Projeto de Fim de Curso – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Industrial, Curso de Engenharia de Produção 1 – Gás Natural, 2 – Formação de Preços. I Agradecimentos sinceros a Abelardo de Sá Neto pelas orientações e oportunidades de aprendizado oferecidas. E à Agência Nacional de Petróleo que incentivou este estudo durante todas suas fases de desenvolvimento. II Resumo do Projeto de Fim de Curso apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica do Departamento de Engenharia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro como um dos requisitos necessários para a obtenção de grau de Engenheiro de Produção. ANÁLISE DA ESTRUTURA DE FORMAÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO DE GÁS NATURAL Daniel de Queiroz Rocha Luiz Felipe Ferreira Calfa Agosto 2003 Orientador: Abelardo de Sá Neto Palavras Chaves: Gás Natural; Formação de Preços Este trabalho descreve o panorama do complexo mercado de gás natural. Seu objetivo é comprar o estágio de desenvolvimento do mercado brasileiro com os modelos mais maduros apresentados ao redor do mundo. Os Modelos de competição e as conseqüentes estruturas de precificação são o foco das análises realizadas. III - ÍNDICE 1 2 3 4 5 6 Introdução.............................................................................................................................................1 Princípios Básicos – Gás Natural .........................................................................................................3 2.1 Caracterização do Gás Natural ................................................................................................................ 3 2.1.1 O que é Gás Natural...................................................................................................................... 3 2.1.2 Composição Média ....................................................................................................................... 4 2.1.3 Principais Propriedades................................................................................................................. 5 2.2 Caracterização da Indústria do Gás Natural............................................................................................. 6 2.2.1 Indústria do Gás Natural no Brasil................................................................................................ 6 2.2.2 A Regulação da Indústria do Gás Natural no Brasil ................................................................... 12 2.2.3 A Cadeia Produtiva do Gás Natural ............................................................................................ 15 Estruturas Tradicionais de Formação de Preços .................................................................................21 3.1 Situação de Monopólio .......................................................................................................................... 21 3.1.1 Introdução e Conceitos Básicos de Precificação......................................................................... 21 3.1.2 Entendendo melhor Conceito do Netback Value ........................................................................ 22 3.1.3 Fatores que justificam o Monopólio ........................................................................................... 26 3.2 Condição de Competição ....................................................................................................................... 27 3.2.1 Modelos de Competição.............................................................................................................. 28 3.2.2 Determinação de Preços.............................................................................................................. 30 3.2.3 Regulação Governamental .......................................................................................................... 34 3.2.4 Conseqüências da Competição e Tendências.............................................................................. 36 Análise de Precificação do Gás Natural : Caso Brasil........................................................................38 4.1 Caracterização do Mercado ................................................................................................................... 38 4.2 Estágio de Desenvolvimento ................................................................................................................. 38 4.3 Estrutura de Preços ................................................................................................................................ 41 Conclusão ...........................................................................................................................................45 Bibliografia.........................................................................................................................................49 Páginas da Internet Visitadas (Junho 2001 a Junho 2003) ........................................................................... 49 1 Introdução A recente situação de racionamento de energia elétrica e seus drásticos impactos sócioeconômicos representam o principal fator de motivação para a realização deste trabalho. Tal conjuntura chamou atenção para o nítido desbalanceamento da matriz energética brasileira, principalmente no que se refere ao gás natural. Este estado de desequilíbrio pode ser facilmente constatado pela simples observação da participação deste energético no total da demanda de energia quando comparada a outros países do mundo. Esses valores atingem os níveis de 43% na Holanda, 28% na Inglaterra e na Itália, 18% na Alemanha, 12% na França e 6% na Espanha, enquanto no Brasil não ultrapassa a marca de 4.5%. Várias são as razões que explicam a pouca penetração do gás natural em nosso país, ligadas à limitações de ordem física, econômica e institucional. Essa problemática, conjugada à importância crescente que vem assumindo o gás natural enquanto fonte de energia adaptada às exigências ambientais de nosso tempo, motivaram o estudo para a elaboração de um projeto final que habilita a graduação em engenharia de produção. O trabalho que se segue tem como objetivo caracterizar o mercado de gás natural no Brasil e no mundo focando-se na análise de sua estrutura de formação de preços. Inicialmente, passa pela conceituação dos modelos tradicionais de precificação, relacionando as características dos modelos com o estágio de desenvolvimento de alguns países que os adotam. A partir da visão teórica dos possíveis modelos de formação de preços, o trabalho é direcionado à análise do caso Brasil. Nesta parte final do estudo, não somente caracteriza-se o mercado brasileiro, mas também identifica-se seu estágio de 1 desenvolvimento e suas possíveis ações de modo a atingir um estágio de competição em um futuro próximo. 2 2 2.1 Princípios Básicos – Gás Natural Caracterização do Gás Natural 2.1.1 O que é Gás Natural O gás natural é um hidrocarboneto de origem semelhante ao petróleo e carvão que surge de um lento processo de decomposição anaeróbia (em ausência de oxigênio) a altas temperaturas e pressão. Assim como o petróleo, o gás natural depende de condições bastante específicas para que sua formação e acúmulo sejam viáveis. Tais condições podem ser resumidas da seguinte forma: Condições para formação de Gás Natural: A formação do gás natural e da maioria dos hidrocarbonetos depende da decomposição de matéria orgânica. Por isso, é necessário que haja uma sobreposição de várias camadas sedimentares que, ao longo de milhões de anos, sofreram a ação de altas temperaturas e pressão, de modo a formar o combustível fóssil em questão. Condições para o acúmulo de Gás Natural: O acúmulo de gás natural em um reservatório que possa ser aproveitado depende de ações tectônicas e erosivas que com o passar dos tempos viabilizaram a formação de armadilhas ou trapas capazes de aprisionar o gás natural. Tais formações rochosas são compostas basicamente pelas estruturas presentes na Figura 1 a seguir: Source Rock ou Rocha Geradora: Rocha que contém o material orgânico que se transformará nos combustíveis fósseis; Reservoir Rock ou Rocha Reservatório: Rocha porosa capaz de armazenar os combustíveis fósseis; Seal ou Rocha Selante: Rocha impermeável que evita a dissipação dos combustíveis; Fault ou Falha: Falha geológica que delimita a área do reservatório. 3 Figura 1: Condições de Formação de uma Trapa Fonte: American Petroleum Institute: www.api.org - Dezembro de 2002 2.1.2 Composição Média Deve-se assinalar que não existe um só tipo de gás natural, pois sua composição varia bastante entre jazidas, o que não impede, no entanto, que se faça uma primeira distinção importante. Pode-se destacar sua composição média, atentando-se para o fato de possuir como composto básico o metano e o etano. Tabela 1: Composição do Gás Natural Brasileiro Componentes Metano Etano Propano I-Butano N-Butano Pentano Nitrogênio (N2) Dióxido de Carbono (CO2) Fração Molar (%) 91,80% 5,58% 0,97% 0,03% 0,02% 0,10% 1,42% 0,08% Fonte: Companhia Paraibana de Gás: www.pbgas.com.br Dezembro de 2002 4 2.1.3 Principais Propriedades Na natureza, o gás natural pode ser encontrado em duas categorias: associado e não associado. O gás associado é aquele que, no reservatório, está dissolvido no óleo ou sob a forma de capa de gás. Neste caso, a produção de gás é determinada basicamente pela produção de óleo. O gás não associado ou livre é aquele que, no reservatório, está livre ou em presença de quantidades muito pequenas de óleo. Nesse caso só se justifica comercialmente produzir o gás. Dentre as propriedades do gás natural, vale ressaltar que possui uma temperatura de combustão elevada, sendo assim de queima mais precisa. Além disso, o estado gasoso do energético permite o controle da pressão e da vazão, facilitando assim a gestão da mistura ar/gás e oferecendo uma flexibilidade de utilização bastante grande. Mais leve do que o ar, o gás natural também é muito seguro uma vez que dissipa-se facilmente na atmosfera em caso de vazamento. Outra importante característica do gás natural é o limite de inflamabilidade em mistura com o ar superior a outros gases combustíveis. Os limites de inflamabilidade podem ser definidos como as percentagens mínima e máxima de gás combustível em composição com o ar, a partir das quais a mistura não irá inflamar-se e permanecer em combustão. O limite inferior representa a menor proporção de gás em mistura com o ar que irá queimar sem a aplicação continua de calor de uma fonte externa. Em proporções menores ao limite inferior a combustão cessa quando interrompida a aplicação de calor. O limite superior é a proporção de gás na mistura a partir da qual o gás age como diluente e a combustão não pode se auto-propagar. Para o Gás Natural, os limites de inflamabilidade inferior e superior são, respectivamente, 5% e 15% do volume. Uma das mais valorizadas características do gás natural, no entanto, é a de ser considerado como um energético limpo. Após extraídos o vapor d’água (a fim de evitar o congelamento do gás a baixa temperatura e pressão) e as moléculas mais pesadas (que possuem elevado valor econômico), restam poucos resíduos, principalmente em relação 5 a outros derivados de petróleo ou ao carvão. Na maior parte das vezes são encontradas apenas pequenas quantidades de enxofre e dióxido de carbono. Nas grandes cidades, o gás natural diminui drasticamente a emissão de compostos de enxofre e a geração de cinzas ou detritos poluentes que geralmente são produzidos na utilização de outros combustíveis. Outras de suas vantagens operacionais são a reduzida necessidade de paradas para a manutenção dos equipamentos e o fato de dispensar condições perigosas de estocagem. O gás natural é, portanto, menos poluente, sua combustão é completa e não exige grandes tratamentos para ser transportado e consumido. 2.2 Caracterização da Indústria do Gás Natural 2.2.1 Indústria do Gás Natural no Brasil A partir da década de 50, iniciou-se a formulação da política energética brasileira tendo em vista a fase de desenvolvimento econômico pela qual o País estava passando. Essa política, seguindo o exemplo de economias industrializadas, baseou-se na utilização intensiva do petróleo, em função de sua oferta abundante e dos baixos preços. Além disso, a energia hidráulica se apresentou com uma grande importância, como resultado das condições hídricas extremamente favoráveis. Nesta mesma década, o uso do gás natural destinava-se prioritariamente à reinjeção nos reservatórios com o objetivo de elevar a recuperação do óleo. Já na década seguinte, a fim de obter um maior aproveitamento econômico do emprego do gás, a Petrobras instalou duas Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGN) na Bahia. Devido aos choques do petróleo (1973 e 1979) os preços do petróleo no mercado internacional subiram substancialmente, levando a uma reformulação da política energética brasileira. Foram então implantados diversos programas de utilização de fontes internas, além de investimentos em atividades de exploração e produção de petróleo, e adotadas medidas de racionalização e substituição de seus derivados. Foram também construídas usinas hidrelétricas de grande porte (Itaipu e Tucuruí), além do 6 desenvolvimento de um programa nuclear. Desta forma, o Brasil procurava substituir as fontes importadas e reduzir a vulnerabilidade do país a mudanças no cenário externo. A partir de 1973, o gás natural passou a ser utilizado na indústria petroquímica, mas só em 1978, quando foi implantado o Pólo Petroquímico do Nordeste, houve um importante aumento na utilização deste energético como matéria-prima em substituição ao nafta, que tem um alto valor no mercado internacional. Foi definido, a partir de 1977, que o gás natural seria utilizado prioritariamente como matéria-prima na produção de fertilizantes (elevado interesse estratégico como insumo agrícola) e petroquímicos (maior valor agregado). Desta forma, a política de preços do gás, que até então adotava o mesmo preço de venda, independente do seu uso final, passou a contemplar níveis diferenciados a depender de sua utilização. Vale destacar que o consumo de gás para fertilizantes, petroquímicos e redutores siderúrgicos compreendia quase 50% do consumo total de gás. Nesta mesma época, o gás utilizado como combustível na indústria e na geração de energia teve o seu preço fixado em paridade térmica com o óleo combustível BTE1, acrescidos de 10%. Já na década de 80, devido a elevação da produção de petróleo no país, houve um aumento significativo na produção de gás natural. Sendo assim, a Petrobras passou a adotar a estratégia de incentivo a utilização deste energético, o que foi decisivo para desenvolver a indústria do gás no Brasil. O nível de preços foi então alterado, passando a equivaler ao óleo combustível ATE2. Isto serviu como um estímulo para as grandes indústrias, que passaram também a utilizá-lo. O volume de gás consumido, sem contar o uso interno da Petrobras, teve uma elevação de 2,4 milhões de m³/dia em 1982 para 6,7 milhões de m³/dia em 1987. Neste período de início da implantação da indústria gás natural no Brasil, a sua produção baseava-se prioritariamente em gás associado e, por isso, apresentava custos relativamente baixos. Além disso, os custos de transferência também se mostraram relativamente baixos devido a proximidade dos mercados consumidores aos pólos de produção. 1 A sigla BTE é bastante utilizada no mercado de gás natural e significa baixo teor de enxofre. Assim como a sigla BTE, utiliza-se ATE para designar o alto teor de enxofre presente no óleo combustível, o que o torna mais barato. 2 7 Deste período em diante, o cenário de consumo do gás se modificou, uma vez que, devido ao baixo nível de preços adotado surgiu uma demanda reprimida que, por falta de uma oferta abundante, não era até então desenvolvida. Tabela 2: Evolução da Indústria do Gás Natural até Anos 50 Lenha como principal fonte energética Anos 50 Anos 60 Formulada a Política Energética Brasileira Petrobras instala duas UPGN na Bahia - Utilização intensiva do petróleo devido a oferta abundante e preços baixos Inicia-se o incentivo ao aproveitamento do GN - Grande Importância para energia hidráulica Anos 70 Reformulação da Política Energética Brasileira Anos 80 Aumento da produção de petróleo no Brasil: Razão: Cheques do Petróleo Medidas: Utilização de fontes internas Construção de hidrelétricas Aumento significativo na produção de GN Incentivo a utilização do GN GN iniciado na petroquímica - GN como forma de recuperação sec. de óleo Fonte: Análise dos Autores Além disso, tanto os custos de produção quanto os de transporte tenderam a aumentar: os primeiros devido à exploração de jazidas de gás não associadas a partir de águas profundas e os segundos como resultado do afastamento das regiões de produção dos mercados consumidores. Esta situação indicou a necessidade do preço do gás refletir a sua equivalência com derivados mais nobres ou energias alternativas mais caras que sejam utilizadas nos segmentos industriais pela sua alta qualidade e não pelo seu preço. Em 2002, o consumo de GN no Brasil já ultrapassa 24 milhões de m3/ dia, incluindo as vendas para as Companhias Distribuidoras Locais (CDLs) e o consumo próprio da Petrobras. Em relação à demanda, o consumo de GN ainda é cerca de 4% da matriz energética nacional, sendo a categoria industrial a que representa um consumo equivalente a 80% do total e uma grande perspectiva de crescimento. Segundo decisão do governo, pretende-se elevar a participação do gás na energia consumida no país para aproximadamente 10% em 2005 e 12% em 2010. 8 Figura 2: Projeção da Matriz Energética para o Brasil Fonte: Ministério de Minas e Energia: www.mme.org.br – Projeção da Matriz Energética 2002 – 2022 O planejamento governamental de médio prazo prevê a necessidade de investimentos da ordem de R$ 6 a 7 bilhões/ano para expansão da matriz energética brasileira, em atendimento à demanda do mercado consumidor. Figura 3: Níveis de Consumo de Gás Natural Níveis de Consumo de Gás EUA Chile Europa Ocidental Argentina Cone Sul Consumo projetado para 2008 Brasil 0 0.5 1 1.5 2 2.5 Mil m3 per capita (anual) Fonte: Ministério de Minas e Energia: www.mme.org.br – Dezembro de 2002 9 Para o futuro, algumas alterações devem ocorrer na estrutura dos investimentos em energia, incluindo a instalação de centrais termelétricas a gás natural, que exigem prazos de implementação e investimentos menores que as hidrelétricas. Durante o ano de 2002, a ANEEL concedeu 103 autorizações para operação de empreendimentos termelétricos, dentre as quais 13 unidades que utilizam como combustível o gás natural e que somam um total de 1247.4 MW de potência. Estas 13 unidades operadas com gás natural representam 28% da potência total fornecida pelos 103 empreendimentos termelétricos autorizados em 2002, o que confirma as projeções de crescimento da representatividade do gás natural na matriz energética brasileira. Tabela 3: Autorizações de Empreendimentos Termelétricos a Gás Natural concedidos pela ANEEL em 2002 Item Empreendimento 1 2 3 4 5 UTE EnergyWorks Rhodia Ster UTE LATASA Aureliano Chaves UTE Paraíba Ambev UTE Camaçari UTE - EnergyWorks Pirelle Feira de Santana UTE - Central de Cogeração EnergyWorks Pirelle Gravataí UTE Anhanguera UTE Petroflex Engevix - Brus 1 Engevix-Blu4 Contagem UTE Bariri 6 7 8 9 10 11 12 13 Potência(MW) 10,70 5,09 191,76 5,26 5,26 Combustível Exercício 2002 Gás Natural Gás Natural / Óleo Diesel Gás Natural/Oleo Comb. Gás Natural Gás Natural 5,50 Gás Natural 7,50 278,29 25,00 7,52 11,00 19,30 675,20 Gás Natural Gás Natural Gás Natural Gás Natural e alternativo óleo diesel Gás Natural Gás Natural e alternativo óleo diesel Gás Natural Município(s) UF Cabo de Santo Agostinho Cabo de Santo Agostinho Betim João Pessoa Camaçari PE PE MG PB BA Feira de Santana BA Gravataí Limeira Duque de Caxias Brusque Blumenal Contagem Bariri RS SP RJ SC SC MG SP Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica: www.aneel.org.br – Dezembro de 2002 Em suma, o mercado brasileiro de GN pode ser descrito como incipiente em função da sua baixa penetração na matriz energética. Entretanto, a abertura do mercado de petróleo e gás, a reformulação do setor em prol da concorrência e as mudanças na política energética do país em favor de um maior aproveitamento do gás, representam 10 uma mudança acentuada que exigirá dos agentes de mercado a adoção de estratégias extremamente competitivas. 11 2.2.2 A Regulação da Indústria do Gás Natural no Brasil Com relação ao marco regulador da indústria de gás no país, a primeira referência deve ser feita à própria Constituição Federal, a qual estabelece, em seu artigo 25 (com o texto dado pela Emenda Constitucional nº5, de 15/08/1995), que cabe aos estados da federação explorar os serviços locais de gás canalizado (desta forma, entende-se que os Estados, sendo Poder Concedente, devem ser também os responsáveis pela regulação nesta atividade). Desta forma, a regulação na indústria brasileira de gás natural se encontra sob responsabilidade tanto da esfera federal quanto da estadual. Isto posto, deve-se observar a Legislação básica dos setores de petróleo e gás natural, introduzida por meio da Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, a Lei do Petróleo. A Lei estabelece os princípios básicos que norteiam as atividades que compõem as indústrias de petróleo e gás natural, muito dos quais estão apenas explicitados, devendo ser, posteriormente, regulamentados pela ANP, também criada pela mesma Lei. O Artigo 8º estabelece que a ANP deve "promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo". Neste sentido, suas principais atribuições são: Obedecer aos princípios definidos na política energética nacional, dando ênfase à proteção dos interesses dos consumidores, quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos; Estabelecer os blocos a serem licitados, bem como elaborar os editais para estas licitações; Autorizar o exercício das demais atividades da cadeia; No caso de não haver acordo entre as partes, a ANP deve estabelecer tarifas que remunerem o serviço prestado, bem como arbitrar o conflito entre os agentes; A fiscalização das atividades da cadeia pode se dar diretamente ou mediante convênios. 12 A ANP é, portanto, responsável pela regulação das atividades de produção, importação e transporte de gás natural. Regulamentação do Livre Acesso3 O artigo 58 da Lei 9.478/97 introduziu no país o princípio do livre acesso aos dutos e terminais marítimos destinados à movimentação de petróleo, seus derivados e gás natural. Desde novembro de 1998, a Portaria ANP 169/98 vem sendo o instrumento de regulamentação deste artigo no que se refere ao uso por terceiros dos dutos de transporte de gás natural no país. Com relação às definições de capacidade, a principal mudança está na introdução da Capacidade Não Utilizada, a qual passa a ser explicitamente definida como a capacidade relevante para a prestação do serviço não firme (STNF). Apesar de permitir o STNF em Capacidade Disponível, a Portaria 169 não trazia a questão tratada de forma explícita. Figura 4: Livre Acesso – Introdução da Capacidade Não Utilizada Ponto de Recepção Ponto de Entrega TRANSPORTADOR CAPACIDADE MÁXIMA Capacidade Contratada Volume Transportado CARREGADOR Capacid. Disponível Capacidade Não Utilizada Capacidade Contratada Ociosa (repasse de 90% receita) STNF STF INTERESSADO Fonte: Agência Nacional do Petróleo: www.anp.gov.br – Janeiro de 2003 Dentre outros tópicos modificados obtidas através da Regulamentação do Livre Acesso podemos citar a Oferta e Alocação de Capacidade, Limitação à Participação do Carregador Dominante, Cessão de Capacidade, Investimentos em Expansão do Sistema, 3 Corresponde ao uso, por terceiros interessados, de dutos de transporte e terminais aquaviários destinados à movimentação de petróleo e seus derivados, existentes ou a serem construídos, mediante remuneração adequada ao titular das instalações. O livre acesso às instalações classificadas como de Transporte (q.v.), estabelecido no artigo 58 da lei nº 9.478/97, foi regulamentado pela ANP através das Portarias nº 115/00, 251/00 e 255/00. 13 “Uso ou Perda”, Critérios Tarifários, Repasse de receita e Informações disponibilizadas pelo Transportador. Adicionalmente aos aspectos supramencionados, também é de responsabilidade da ANP a regulamentação das questões de distribuição do gás natural, preços do gás para distribuidores, preços do gás importado e preços do gás para termelétricas. As versões integrais destas regulamentações podem ser encontradas na homepage da ANP. 14 2.2.3 A Cadeia Produtiva do Gás Natural O setor de Exploração e Produção de Óleo e Gás Natural é denominado como setor de Montante ou Upstream Sector, enquanto os setores de Processamento de Óleo e Gás Natural, de Estocagem e Transporte de Produtos Derivados do Óleo e do Gás Natural e os setores de Estocagem e Distribuição de Derivados do Óleo e Gás Natural são denominados de setores de Jusante ou Downstream Sector. Figura 5: Setores da Cadeia Produtiva do Gás Natural Setor a Jusante ou Downstream Sector Setor a Montante ou Upstream Sector Exploração Exploração Pesquisa e Perfuração Produção Produção Aproveitamento do Gás Transporte Transporte Evacuação da Produção Armazenagem Armazenagem Esquema de modulação que equilibre Oferta e Demanda Distribuição Distribuição Distribuição ao Consumidor Final Fonte: Análise dos Autores No Brasil, a comercialização de energia só pode ser realizada pelos produtores e importadores, de acordo com a regulamentação dos órgãos federais. Ambos são encarregados de conduzir a matéria-prima, dentro dos padrões exigidos, até os citygates das transportadoras. Mediante a uma concessão da União, os produtores são os responsáveis pelas etapas de exploração, extração e processamento do gás natural. Como as atividades de importação e exportação também são de monopólio da União, os importadores precisam de uma licença para atuarem neste segmento. 15 Figura 6: Cadeia Produtiva do Gás Natural – Esquema Resumo Fonte: Gás e Energia: www.gaseenergia.com.br - Dezembro de 2002 Exploração O primeiro passo na atividade de exploração do gás natural é a verificação de sua existência através da condução de programas sísmicos nas bacias sedimentares para pesquisa de reservatórios e rochas com capacidade de geração e armazenamento de hidrocarbonetos. Caso o resultado da pesquisa seja positivo, um novo poço será perfurado para confirmar a existência de acumulação de hidrocarboneto. Após a confirmação de acumulação, será necessário analisar a viabilidade econômica de exploração através do teste de formação e avaliar a possibilidade de produção a partir do poço. O ultimo estágio é desenvolver o reservatório através de novos poços e colocar o campo de petróleo descoberto em produção. 16 Figura 7.1: Reserva Brasileira Provada de Gás Natural - (106 m³) Reserva Provada 450,000 300,000 150,000 0 1999 2000 Terra 2001 2002 Mar Fonte: Agência Nacional do Petróleo: www.anp.gov.br - Fevereiro de 2003 Figura 7.2: Reservas Brasileiras Totais de Gás Natural - (106 m³) Reservas Totais 450,000 300,000 150,000 0 1999 2000 Terra 2001 2002 Mar Fonte: Agência Nacional do Petróleo: www.anp.gov.br - Fevereiro de 2003 Produção O gás natural, assim como o óleo cru, precisa ser tratado antes de ser vendido no mercado. Utilizando os dados do reservatório como base, são estabelecidas as curvas teóricas de produção e infra-estrutura para produção. Assim que o gás natural (associado e não-associado) é retirado do reservatório, são separadas as partes líquidas (água e hidrocarbonetos líquidos) e partículas sólidas (sujeira, resíduos de corrosão). Se o teor de enxofre da amostra for excessivo, o gás também passará por unidades de eliminação de enxofre. Após cumpridas estas etapas, o gás natural será transportado para as unidades de processamento de gás natural (UPGN). Parte do gás natural extraído 17 pode ser usado para incremento da produção de óleo, através de métodos de recuperação secundária (injeção de gás). Nas UPGNs, o gás natural passa por outros estágios até estar pronto para comercialização. Primeiro, o gás é desidratado para remover o vapor existente e passa por um processo de absorção através de resfriamento ou turbo-expansão, separando as frações mais pesadas para atender os requerimentos de mercado e do meio-ambiente. O resultado final é a produção de gás natural residual (metano e etano), gás liquefeito (propano e butano – também conhecido como gás de cozinha) e C5+ (gasolina natural – transportadas para as refinarias para posterior processamento). |Figura 8: Produção Total de Gás Natural no Brasil - (10³ m³) 18,000,000 12,000,000 6,000,000 1999 2000 2001 2002 Fonte: Agência Nacional do Petróleo: www.anp.gov.br - Fevereiro de 2003 Deduzindo-se da Produção Total os volumes destinados à reinjeção em poços de petróleo, queima de gás natural e consumo próprio, chegamos à seguinte evolução do volume de gás natural disponível: 18 Figura 9: Gás Natural Disponível no Brasil – Terra e Mar (10³ m³). 9,000,000 6,000,000 3,000,000 1999 2000 Mar 2001 2002 Terra Fonte: Agência Nacional do Petróleo: www.anp.gov.br - Fevereiro de 2003 Transporte No estado gasoso, o gás natural é transportado através de gasodutos de transporte ou em casos excepcionais, em cilindros de alta pressão (por exemplo, gás natural comprimido). No estado líquido, pode ser transportado por navio, barcaças e caminhões criogênicos a –160ºC, tendo seu volume reduzido em 600 vezes para facilitar a armazenagem. No ultimo caso, o gás deve ser re-vaporizado em equipamentos apropriados para viabilizar a sua utilização. Além dos gasodutos de transporte, existem os de transferência e de distribuição. Os gasodutos de transferência são de uso particular do proprietário ou explorador das facilidades, conduzindo a matéria-prima até o local de processamento ou utilização. De forma semelhante, os gasodutos de distribuição levam o gás canalizado recebido das transportadoras até os usuários finais. A armazenagem do gás natural é realizada no próprio sistema de dutos de transporte e sua capacidade varia de acordo do tamanho deste sistema. Quanto mais compacto este sistema de dutos, menor a capacidade de armazenagem. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo - ANP, o transporte de gás natural canalizado só pode ser realizado por empresas que não comercializam o produto, ou seja, que não podem comprar ou vender GN, com exceção dos volumes necessários ao 19 consumo próprio. Desta forma, as transportadoras se responsabilizam exclusivamente pelos serviços de transporte até os pontos de entrega. Tabela 4: Malha de Escoamento de Gás Natural Nacional – Dutos de Transporte Gasoduto Guamaré - Cabo Pilar - Cabo Guamaré - Pecém Atalaia - Catu Santiago - Camaçari I Santiago - Camaçari II Candeias - Camaçari Aratu - Camaçari Lagoa Parda - Aracruz Aracruz - Vitória Serra - Viana Cabiúnas - Reduc Reduc - Regap Reduc - Esvol Esvol - Tevol Esvol - São Paulo RBPC - Capuava RBPC - Comgás Betim- Ibirité Início de Operação 1986 N/A 1998 1974 1975 1992 1981 1970 1983 1984 1997 1982 1996 1986 1986 1988 1993 1993 2002 Diâmetro Extensão Movimentação (pol) (km) (mil m3/dia) 12 12 12 / 10 14 14 18 12 10 8 8 8 16 16 18 14 22 12 12 12 424 203.6 382 232 32 32 37 20 38 73.8 30 183 357 95.2 5.5 325.7 37 1.5 0.1288 841 N/A 92 1,051 816 1,353 376 73 634 461 69 7,402 824 3,207 630 2,017 108 1,028 Fonte: Agência Nacional do Petróleo: www.anp.gov.br - Fevereiro de 2003 Distribuição A distribuição é o último estágio da cadeia, onde o gás alcança o consumidor em suas residências, áreas comerciais e industriais (como matéria prima, combustível e redutor de aço) ou setores automobilísticos. Neste estágio, o gás deve atender a padrões estreitos de especificação e ser praticamente livre de contaminantes para evitar problemas nos equipamentos em que será utilizado como combustível ou matéria-prima. Sempre que necessário, o gás natural deve ser odorizado para simplificar a detecção em caso de vazamento. De acordo com a Constituição Federal e a Lei Nº 9.478, a distribuição de gás canalizado com fins comerciais junto aos usuários finais é de exploração exclusiva dos Estados, exercida diretamente ou através de concessões. 20 3 3.1 Estruturas Tradicionais de Formação de Preços Situação de Monopólio 3.1.1 Introdução e Conceitos Básicos de Precificação O petróleo é uma commodity negociada em bases mundiais e seu transporte é relativamente fácil e barato. Por sua vez, o gás natural é uma fonte de energia de uso praticamente regional, devido, basicamente, a seus elevados custos de transporte. Nos países onde a indústria do gás natural ainda está amadurecendo, o mercado é regulado e a produção de gás deve atender os requisitos estabelecidos nos contratos de fornecimento, sem a flexibilidade que existe na comercialização do petróleo. Desta forma, as relações entre os produtores e compradores de gás são mais próximas do que no mercado de petróleo e derivados. A natureza da precificação ao longo da cadeia é consideravelmente distinta entre mercados competitivos de gás natural e situações de regulamentação e monopólio. Para compreender como a competição interfere na precificação, e nos preços propriamente ditos, é importante primeiro entender como funciona a precificação em monopólios de gás natural. Quando uma única empresa do setor de downstream conquista o direito de monopólio sobre o transporte e venda do gás, a empresa pode a princípio determinar preços ao usuário final com base nos custos da cadeia (ex: o custo de aquisição do gás mais uma margem para os custos de operação e um retorno sobre o capital) ou com base nos valores de mercado do gás em competição com outros combustíveis. A última abordagem, por definição, envolve uma discriminação do preço de acordo com os diferentes perfis de demanda dos usuários finais, o que determina suas alternativas práticas para selecionar o combustível a ser empregado, assim como os custos de utilização de outros combustíveis. Esta prática pode levar a significativas margens de lucro, já que o netback value pode exceder bastante os custos de atender categorias específicas de consumidores. Esta discriminação de preços inevitavelmente resulta em subsídios entre diferentes categorias de consumidores, ou seja, a categoria que possui 21 menores custos de atendimento e que, por sua vez, gera maiores lucros, subsidia a categoria que possui maiores custos de atendimento. Freqüentemente, o governo ou autoridades reguladoras limita a extensão a qual as empresas de gás podem aplicar a metodologia de netback value para precificação do gás natural. Como conseqüência, empresas de monopólio de gás natural em vários países aplicam um mix entre precificação baseada nos custos da cadeia e a abordagem netback value. 3.1.2 Entendendo melhor Conceito do Netback Value O princípio fundamental para composição dos preços do gás natural é o netback value, ou seja, o preço do gás ao longo da cadeia é calculado a partir do preço que o gás deve ser disponibilizado para o usuário final, que é estabelecido através de comparação com o preço de outros energéticos regulados pelo governo. Para calcular este preço em cada etapa da cadeia, são retirados todos os custos de distribuição, transmissão, armazenagem do gás e impostos, mais um lucro razoável para as companhias transmissoras e distribuidoras. No caso do Brasil o preço do gás natural deve chegar ao usuário final com preços 10% inferiores ao óleo combustível. Desta forma, fica claro que o netback value é um modelo de precificação característico de situações de monopólio, já que a base para formação dos preços é um energético semelhante e regulado pelo governo. A precificação através do netback value garante um retorno mínimo para as empresas envolvidas nesta indústria e consegue-se ganhar participação no mercado concorrendo com outros combustíveis. Companhias distribuidoras e transmissoras de gás no mercado internacional, normalmente, concordam com este princípio e, ao estabelecerem contratos de longo prazo, determinam que o preço do gás deve seguir este fundamento. A Figura 10 apresenta um exemplo de precificação em função do netback value, detalhando todas as etapas de formação do preço a partir do usuário final até chegar ao preço praticado pelo produtor. O preço 1 (P1) é calculado com base em energéticos controlados pelo governo. No caso da Figura 10, o preço do gás natural ao usuário final 22 (P1) deve ser 10% inferior ao preço do óleo combustível. Para calcular o preço que o distribuidor deve pagar por esse gás na fronteira (P2), retiram-se de P1 os custos da distribuidora e uma margem razoável. O gás que é entregue ao distribuidor na fronteira foi produzido em alguma localidade fora do país e transportado através de um gasoduto desde o produtor até a fronteira. Assim, para calcular o preço do produtor (P3), retiramse de P2 os custos da transportadora e uma margem razoável. Desta forma, o preço do produtor foi calculado partindo do preço ao usuário final e retirando-se todos os custos e margens ao longo da cadeia, por isso a denominação netback value. Figura 10: Netback Value - Ilustrativo Fonte: Análise dos Autores Em situações onde o monopólio ainda predomina e existe um número pequeno de grandes fornecedores, a abordagem de netback value tornou-se a base tradicional pra a precificação do gás ao longo da cadeia. O preço pago pela companhia de gás ao produtor (doméstico ou estrangeiro) é negociado com base na média ponderada do preço do gás considerando os diferentes valores de netback para cada segmento de cliente. Existem a princípio três valores de netback a serem ponderados: os usuários de gás natural existentes, os novos usuários de energia (ex. fábricas novas que estão sendo construídas) e os usuários de óleo combustível existentes sem capacidade de queima de gás (valor de mercado para os que teriam altos custos de substituição de combustível). 23 O preço negociado na fronteira vai corresponder a um nível que se situe entre o maior e o menor valor de mercado, ponderado em função dos diferentes usuários finais. O preço base normalmente é indexado ao preço de derivados de petróleo (óleo diesel, óleo combustível) ou simplesmente atrelado ao preço do petróleo, para garantir que ao longo do tempo de vida do contrato os preços vão efetivamente permanecer de acordo com seus valores de mercado. A Figura 11 apresenta um gráfico que ilustra como é feita esta ponderação do netback value e o ajuste de margem dos fornecedores em função dos segmentos de cliente, considerando o valor de mercado do gás natural. Na primeira coluna estão os preços que os três principais segmentos de cliente estão dispostos a pagar. Na segunda coluna estão discriminados os componentes de custo total desde a produção até o transporte e distribuição ao usuário final. O preço mínimo de venda do gás ao usuário final deve ser suficiente para cobrir todos os custos da cadeia e garantir margem razoável para seus participantes. O preço máximo de venda corresponde ao preço que o gás pode custar para não perder mercado.. Preços acima do patamar máximo significam que seria interessante aos atuais usuários de gás natural a utilização de óleo combustível como energético base. (ex: conversão da planta industrial de gás natural para óleo combustível). De forma análoga, preços abaixo deste patamar máximo podem vir a ser atraentes tanto para os usuários atuais de gás natural quanto para novos usuários de energia. A atratividade destes preços irá ser diretamente proporcional a margem aplicada pelas companhias de transporte e distribuição. Naturalmente, para conquistar novos consumidores de energia, necessita-se de um preço mais competitivo do que para manter os usuários atuais. Desta forma, uma política de preços interessante para a indústria do gás em desenvolvimento é estabelecer um preço que cubra todos os custos e margens da cadeia (acima do nível mínimo) e que seja abaixo do nível necessário para atrair novos clientes. 24 Figura 11: Netback Value x Mercado NetBack Value x Mercado $/Btu Preço Máximo de Venda do GN Área ideal para um mercado em desenvolvimento Maior atratividade para novos usuários Atuais Usuários de Gás Natural Margem de Acordo com Política de Preços das cias. de Transporte e Distribuição Novos Usuários de Energia Preço Mínimo de Venda do GN Impostos e Custos Agregados do GN Custo de Transporte e Distribuição do GN Atuais Usuários de Óleo Combustível Custo Base do GN Expectativa do Mercado Custos do Gás Natural Fonte: Adaptada de International Energy Agency : www.iea.org – Novembro de 2002 Com o desenvolvimento da industria do gás natural é possível que os preços praticados sejam suficientemente altos para garantir retorno aos investidores e ainda assim se situem na faixa necessária para fazer com que usuários de óleo combustível invistam em tecnologias de conversão para gás natural. O entendimento dos fatores mencionados acima é de suma importância para que o gás natural seja competitivo quando comparado aos demais combustíveis e garanta participação significativa na matriz energética do país. Em conjunto com os conceitos de netback value é fundamental a compreensão de como funcionam os contratos de gás na situação de monopólio, para que possamos analisar e entender as modificações que a competitividade poderia trazer para a indústria de gás natural. 25 Os contratos de gás natural são distintos dos contratos de óleo. Ao contrário destes, o gás não é negociado como uma commodity em bases mundiais mas sim, possui seu preço dependente de paramétricas de reajuste e composição de preço de contratos de longo prazo. Tendo em vista proteger o produtor e o consumidor de gás (que não corre risco de passar por problemas de abastecimento), os contratos realizados entre os players da cadeia são do tipo “take or pay”. Isso significa que as quantidades de gás natural acordadas no contrato deverão ser pagas ao fornecedor independente da retirada do produto, ou seja, se houver uma queda na demanda por gás natural e o distribuidor não necessitar do volume de gás contratado, ainda assim ele precisará pagar por esta incerteza. Vale ressaltar que, atualmente, cerca de 85% do gás consumido no Brasil é produzido localmente. Em muitos casos, por falta de compradores, significativos volumes de gás são simplesmente queimados nos flares dos poços de produção. 3.1.3 Fatores que justificam o Monopólio Um investimento desta natureza é percebido pela maioria dos investidores como sendo de alto risco, em termos de custos de infra-estrutura e potencial de mercado. Dados os altos investimentos iniciais e também os elevados custos marginais, o financiamento geralmente procura garantias sobre a utilização dos gasodutos no longo prazo. Estas garantias são normalmente possíveis devido a uma combinação de contratos de longo prazo com grandes consumidores, como plantas termelétricas, e concessões regionais de monopólio sobre o fornecimento de gás natural (algumas vezes o país inteiro). Uma empresa de monopólio de transporte de gás natural é geralmente capaz de conseguir contratos, pelo menos em mercados industriais não regulados, se a empresa for capaz de estabelecer os preços de gás com base em combustíveis concorrentes para cada segmento de mercado. Esse tipo de determinação gera preços em média superiores do que os praticados em mercados competitivos. 26 O preço médio mais elevado pago pelo gás quando comparado aos preços de um mercado competitivo é justificado pelo benefício externo de disponibilizar ao país uma boa diversificação dos energéticos fornecidos. O valor desta diversidade, no entanto, é difícil de mensurar. Na prática, os governos que buscam promover o desenvolvimento estimulado das infraestruturas de gás natural podem também fazer uso de taxação de energia para dar ao gás natural vantagem competitiva sobre os demais combustíveis. Figura 12: Fatores que Justificam o Monopólio Altos Altos Custos Custos de de Infra-Estrutura Infra-Estrutura Incerteza Incerteza do do Mercado Mercado Instabilidade Instabilidade em emRelação Relaçãoaa Regulamentação Regulamentação Ri Riscos scos Inerentes Inerentes ao ao Projeto Projeto Investimento de Alto Risco Fase de Estruturação do Mercado Monopólio Natural Exclusividade de um player no mercado para assegurar volume de vendas Garantias sobre a utilização da infra-estrutura no longo prazo para justif icar os investimentos Taxação de energia para dar ao gás natural vantagem competitiva sobre os demais combustíveis Fonte: Análise dos Autores 3.2 Condição de Competição Ao contrário do monopólio, recém descrito neste estudo, o estado de competição tende a ser desenvolvido em mercados mais maduros e evoluídos. Isto ocorre uma vez que nestes mercados, o grande montante requerido inicialmente em investimentos de infraestrutura já foi naturalmente depreciado e em conseqüência disto, tanto os custos marginais de produção quanto os riscos inerentes à indústria puderam ser reduzidos drasticamente. A partir deste momento, os investimentos neste mercado passam a obter um maior retorno e devido a isto, torna-se viável a entrada de novos “players” na indústria de gás natural, caracterizando a condição de competição. (WEBB, CHRIS, 1999) 27 Tanto a estrutura quanto a dinâmica do mercado competitivo são completamente distintas do mercado monopolista. No monopólio não se percebe qualquer incentivo para que os agentes da cadeia minimizem seus custos ou maximizem suas performances de modo a diminuir os preços ou melhor servir os consumidores finais. Já na condição de competição, todos ao participantes da cadeia produtiva são naturalmente obrigados a perseguir tais melhorias caso contrário, sua sobrevivência no negócio torna-se impossível. Isto ocorre uma vez que os consumidores finais podem escolher seus fornecedores e naturalmente tenderão a procurar vantagens competitivas entre eles. Este processo de busca pela melhoria contínua tende a incrementar cada vez mais a estrutura competitiva do mercado. A medida que novos “entrantes” são percebidos, o mercado se torna mais complexo, novas formas de competição e abordagens comerciais são desenvolvidas e um novo ponto de equilíbrio entre as forças atuantes é buscado. Figura 13: Condição de Competição e o Equilíbrio de Mercado Condição de Competição e o Equilíbrio de Mercado Como o equilíbrio será mantido? Oferta Oferta Melhor Equilíbrio Demanda Demanda Efeito Margens de Lucro o çã nta e lam gu Re Preços Preços & Margens Margens Causa Causa BALANÇA OU EQUILÍBRIO Competição Efeito Competição Fonte: Análise dos Autores 3.2.1 Modelos de Competição Os modelos de competição são responsáveis por tornar o preço do commodity gás natural extremamente concorrido, possibilitando a execução de contratos diversificados e mais vantajosos para o consumidor final. Tais modelos são pautados na existência de um centro de comercialização, que é responsável pela determinação do preço do commodity a partir das ofertas dos diferentes produtores que atendem a determinada região (mercado spot). Além disso, no estado de competição é esperado que todos combustíveis tenham seu preço livre do controle governamental o que viabiliza também a concorrência inter-energética. Outra característica importante deste mercado 28 competitivo é o fato da tarifa de transporte ser cobrada de forma proporcional à distância, ao contrário da tarifa postal utilizada no monopólio. Os vários tipos de mercados competitivos existentes no mundo podem ser divididos em dois grandes modelos: o de “Competição Duto-Duto” e o de “Competição Livre Acesso”. O primeiro deles é percebido quando duas ou mais empresas responsáveis por gasodutos competem no mesmo mercado regional. Estas empresas têm como alvo de vendas os grandes consumidores industriais e as companhias locais de distribuição. Este modelo é considerado bem mais limitado haja vista que seus consumidores geralmente compram o gás através de contratos de longo prazo, o dificulta a dinâmica de competição. Esta estrutura competitiva encontra-se atualmente em vigor na Alemanha. Já o segundo modelo, representa o real mercado competitivo pois baseia-se no livre acesso de terceiros aos dutos, tendo estes apenas que controlar os serviços de transporte. Este modelo mais avançado, ainda pode ser dividido em dois níveis: o nível de Competição Total e o nível de Competição no Atacado. O nível de Competição Total representa o modelo alcançado até o momento apenas pelo Reino Unido e denota a total independência entre o transporte e venda do gás natural seguido do livre acesso expandido até mesmo para as linhas de distribuição locais. O nível de Competição no Atacado representa um estágio intermediário entre a Competição Duto-Duto e a Competição Total. Este nível de competição vem sendo exercido por vários países como Estados Unidos, Canada, Austrália e Argentina. Todos este modelos e níveis de competição recém citados representam naturais estágios de desenvolvimento de um mercado de gás natural. Na Figura 14 a seguir, pode-se perceber as principais características dos mercados desde seu modelo monopolista até sua total maturação. 29 Figura 14: Estágios Tradicionais de Desenvolvimento da Competição Estágios Tradicionais de Desenvolvimento da Competição Monopólio Monopólio Linhas de transmissão e distribuição controladas e livres de competição Existência da Obrigação de Fornecimento Preço de Venda Regulado Competição Competição Duto-Duto Duto-Duto Possibilidade de competição a partir da construção de novos dutos de transmissão Vendas diretas para grandes consumidores e distribuidores locais Preço de Venda Regulado Competição Competição No No Atacado Atacado Livre Acesso às linhas de Transmissão Transportes independentes das vendas de gás das cias detentoras de gasodutos Principalmente Grandes Consumidores e Distribuidores Locais podem optar entre fornecedores Controle de Preço Inexistente na Venda do Gás Competição Competição Total Total Livre Acesso às linhas de Transmissão e de Distribuição Transportes e Vendas independentes em todos os níveis da cadeia Pequenos Consumidores Finais livres para escolher seus Fornecedores Controle de Preço Inexistente na Venda do Gás Fonte: International Energy Agency: www.iea.org – Dezembro de 2002 O mercado brasileiro de GN pode ser descrito como incipiente, função da sua baixa penetração na matriz energética e da pequena extensão dos gasodutos em um país de dimensões continentais. A análise de sua regulação deve ter este ponto presente como pano de fundo, relativizando as comparações com países onde tal indústria é mais desenvolvida, ressaltando a necessidade de conceder incentivos para atrair agentes para o setor. A indústria do gás natural no Brasil ainda apresenta um modelo monopolista com algumas poucas características de competição. 3.2.2 Determinação de Preços As estruturas de formação de preços variam naturalmente com o grau de complexidade e maturidade dos modelos de competição. Quanto mais evoluído se demonstra o mercado, mais dinâmica passa a ser sua estrutura de formação de preços e mais instável o equilíbrio entre demanda e oferta de gás natural. No modelo de competição mais simples, ou seja, na Competição Duto-Duto, o fator determinante na formação dos preços é a capacidade dos consumidores finais de trocar 30 de companhias transmissoras, uma vez que este é o único fator de competição deste modelo. Por ser um modelo bastante simples e limitado no tocante a competitividade, os fornecedores acabam por perseguir o sistema Netback Value Price do monopólio entretanto, a pequena ameaça de competição faz com que diminuam suas margens e se preocupem com a entrada de novos “players” com vantagens competitivas para o consumidor final. Nos modelos de Competição Livre Acesso a determinação dos preços se dá de forma bastante dinâmica e baseada exclusivamente na interação da oferta e demanda, representadas respectivamente pelos interesses dos fornecedores e consumidores finais. Uma vez que no Livre Acesso, ao contrário do monopólio, só existe um preço para o commodity por região, a diferença de preços entre diferentes localidades deve ser representada apenas pelo custo de transporte entre estas. Assim sendo, o preço cobrado ao consumidor final será representado pela quantia estipulada para o commodity nos centros de comercialização, acrescida dos custos de transporte, distribuição e quaisquer outros serviços a depender da localização do consumidor. Vale ressaltar, que nos modelos de Competição no Atacado, as parcelas referentes a distribuição não se encontram livres a competição e são estipuladas de acordo com a política de preços das Distribuidoras Locais que são controladas por órgão reguladores do governo. No curto prazo a curva da demanda por gás natural sofre a influência dos seguintes fatores: Necessidade sazonal de utilização de gás por parte do consumidor residencial e pequeno consumidor. Esta demanda é geralmente determinada pelo clima. Necessidade de utilização de gás para o uso em termelétricas seja devido a um grande pico de demanda ou por falta de capacidade de geração e energia elétrica a partir de outras usinas independentes do gás natural. Capacidade dos consumidores de alternar ou até mesmo trocar o gás natural por outros energéticos combustíveis. Em geral os consumidores não possuem esta habilidade no curto prazo, entretanto, grandes consumidores já começam a apresentar esta possibilidade de alternar a alimentação de suas plantas de processo. 31 Fatores geológicos e geográficos que determinem a facilidade e potencialidade de produção ou aquisição do energético. Já o lado da oferta, os seguintes fatores são observados: Política de produção dos produtores, que pode estimular o incremento da produção ou visar o atraso da mesma a partir de estratégias econômicas; Interesse dos fornecedores em estocar o gás natural de modo a aproveitar um previsto aumento da demanda ou qualquer outra possibilidade de aumento dos preços. A Figura 15 a seguir mostra uma curva genérica de equilíbrio para o curto prazo. Apesar de suas formas variarem sensivelmente dependendo das características particulares da demanda e oferta do país onde é aplicada, as reações básica de preço e quantidade se mantém aplicáveis para todos os casos. Figura 15: Relações Demanda x Oferta Relações Demanda x Oferta Preço S2 S1 P4 P3 P2 P1 D2 D1 Q2 Q1 Q4 Q3 Quantidade Fonte : International Energy Agency: www.iea.org – Dezembro de 2002 32 Com base na Figura 15 podemos analisar as reações básicas da demanda e oferta a partir de mudanças súbitas de uma das partes: A queda repentina na oferta de gás representada pela movimentação da curva de oferta de S1 para S2 causa um aumento do preço do gás de P1 para P2 a partir de uma redução da quantidade de equilíbrio de Q1 para Q2. Um exemplo desta movimentação demanda - oferta pode ser facilmente exemplificada pela extinção de um campo de gás ou uma alteração na política de produção que determine a diminuição do nível de produção para o gás natural. Qualquer uma destas ocorrências, que naturalmente implicariam na queda de produção de gás no curto prazo, atingiriam de forma semelhante o equilíbrio do mercado. Um aumento repentino da demanda representado pela movimentação da curva de demanda de D1 para D2 na curva de oferta S1 causaria um aumento não somente das quantidades atendidas (alteração de Q1 para Q3) mas também dos preços exercidos (alteração de P1 para P3). Esta movimentação poderia ser percebida em ocasiões onde os preços de energéticos concorrentes com o gás natural têm seus preços drasticamente elevados ou ainda quando ocorre uma fase de estiagem das chuvas e as usinas hidrelétricas têm sua demanda direcionada para as usinas termelétricas. Em ambos os casos, ocorre um súbito aumento da demanda por gás natural com conseqüências semelhantes para o equilíbrio entre oferta e demanda. No longo prazo, a determinação dos preços torna-se dependente de uma série de fatores de difícil mensuração mas que se mostram fundamentais para o desenvolvimento do mercado de gás natural. O lado da oferta, que compreende as fases de exploração, produção, operação e manutenção, depende dos seguintes fatores: 33 Potencialidades geológicas e geográficas (desenvolvimento de reservas, possibilidades de produção e importação, chances de produção de gás associado e etc) ; Estado e previsões de desenvolvimento da tecnologia utilizada em todas as partes da cadeia produtiva; Eficiência organizacional que engloba desde a gestão dos projetos até a produtividade dos poços e relacionamento com os demais agentes da cadeia. Já a definição da demanda por gás natural é definida, no longo prazo, a partir dos seguintes parâmetros: Previsões do crescimento econômico; Desenvolvimento do mercado de gás natural; Políticas e conseqüentes preços dos energéticos concorrentes; Evolução da tecnologia utilizada pelo consumidor final, que pode ser determinante no grau de estímulo a utilização do gás natural. 3.2.3 Regulação Governamental O papel do governo ou órgão regulador é de suma importância não somente para ditar as regras do mercado competitivo, mas para viabilizá-lo e desenvolvê-lo incentivando a entrada de novos competidores na cadeia produtiva e conseqüentemente forçando uma melhor gestão destas empresas para desenvolver o mercado e beneficiar o consumidor final. Principalmente no início da adoção de um sistema competitivo, a presença e atuação do órgão regulador é vital. Mesmo com a adoção do livre acesso é natural que em um primeiro instante, tanto produtores quanto os fornecedores externos evitem o contato e negociação direta com o consumidor final por se sentirem acuados pela ameaça de terem que exercer preços mais baixos e serem obrigados a recalcular suas margens. Esta fase de transição para o modelo competitivo é um dos momentos onde se faz extremamente necessária a atuação firme de um regulador, estimulando a entrada de novos agentes e coibindo possíveis posicionamentos monopolistas por parte dos fornecedores. 34 Após esta fase de transição, independente do modelo adotado ou do nível de competição em exercício nos mercados de gás natural, sempre haverá a necessidade de regulamentações por parte dos órgãos governamentais. Tais regulamentações se fazem fundamentais principalmente quando se trata das seguintes questões: Monopólios Naturais – A condição de competição é geralmente aplicada única e exclusivamente ao fornecimento de gás como um commodity e raramente ao seu transporte ou serviços a este relacionados. Mesmo em um mercado competitivo, a tendência é que sempre haja um elemento de monopólio caracterizado pela etapa de distribuição uma vez que, devido a características de economia de escala, não se torna economicamente viável a introdução de novos agentes nesta fase da cadeia produtiva. Caracterizado este monopólio natural, o governo tem o dever de regular e controlar a ação deste agente de modo a prevenir abusos a partir desta posição privilegiada. Outra fator importante que é muitas vezes controlado por órgão reguladores é o grau de estocagem realizado. Esta atividade é de suma importância para a regulação do preço e conseqüente estímulo e desenvolvimento do mercado. Segurança do Fornecedor – O órgão regulador deve atuar também na gestão dos riscos que atingem os fornecedores. Nas atividades destes agentes impactam basicamente os riscos de curto e longo prazo, que contemplam as variáveis responsáveis por equilibrar a oferta e a demanda em diferentes fases de seus projetos. Comportamento dos Players – É responsabilidade dos órgãos reguladores, controlar não somente o nível de concentração de mercado mas também os posicionamentos e estratégias de marketing de cada agente do mercado. Quanto mais insipientes os mercados de gás, mais necessário se faz este controle, de modo a evitar a estipulação de preços predatórios e posicionamentos que impeçam o desenvolvimento do mercado competitivo. Proteção do Consumidor – É de suma importância que principalmente os pequenos consumidores e consumidores residenciais, que possuem naturalmente um menor poder de barganha, tenham suas posições e anseios defendidos pelo governo ou órgão regulador. 35 3.2.4 Conseqüências da Competição e Tendências Com a adoção dos modelos competitivos, principalmente daqueles baseados no livre acesso, várias mudanças tendem a ocorrer na estrutura do mercado de gás natural. A independência do fornecimento do gás em relação ao transporte, seguida da total eliminação do controle sobre os preços, revolucionou todas as relações comerciais existentes na cadeia produtiva. As principais conseqüências da introdução deste parâmetros foram as seguintes: Execução de Contratos Menores – Devido principalmente a pressões por parte dos compradores de gás, os contratos tem diminuído seu tempo de duração em prol de uma maior flexibilidade e maior capacidade de negociação com a variação da demanda ou oferta. Enfraquecimento dos Contratos Take-or-Pay – Com o desenvolvimento e dinamismo do mercado e natural diminuição dos prazos contratuais, é conseqüência natural que os contratos de take-or-pay, principalmente os de médio e longo prazo, caiam em desuso. É bastante coerente que, em um mercado dinâmico, se evite as previsões do longo prazo e mais ainda as penalidades de uma estimativa com pouca acurácia (como ocorre nos contratos take-or-pay). Evolução dos Mercados Spot e Mercados Futuros – Uma vez que o mercado de gás encontra-se suficientemente desenvolvido, este deve procurar formas dinâmicas e práticas de negociar seu energético. Os mercados Spot e de Futuros são uma excelente opção, uma vez que além de dinâmicos apresentam-se como bons instrumentos de gerenciamento de riscos. Evolução da Indexação de Preços com base no Preço Spot e Futuro – A utilização dos mercados Spot e de Futuros é muito importante para o mercado de gás não apenas por promover um grande volume de vendas mas também por representar a tendência mundial de indexação de preços no médio e longo prazo. 36 Toda esta alteração que a introdução dos modelos competitivos causaram nos mercados trouxe melhorias diretas tanto para as formas de relações comerciais quanto para as gestões internas de cada agente participante da indústria do gás natural. A partir do estado de competição e decorrente busca pela melhoria gerencial, o mercado pode observar: A grande diversificação da gama de serviços disponíveis aos consumidores; O grande aumento no número e complexidade de transações efetuadas; O pesado acréscimo nos montantes aplicados em tecnologia, A grande evolução da eficiência dos agentes do mercado, tanto em suas gestões financeiras quanto no controle dos riscos e produtividade de seus projetos; A evolução das relações comerciais e organizacionais que desenvolveram naturalmente novas formas de contratos e estruturação de preços. Não obstante, analisando a experiências de países desenvolvidos que já introduziram a competição em seus mercados e puderam observar durante cerca de dez anos a queda dos preços ao consumidor final e as melhorias dos serviços a estes prestados, pode-se perceber as vantagens oferecidas pela competição. Com base nestes dados e na análise fundamental dos possíveis modelos estruturais, consegue-se concluir que a melhor opção para o desenvolvimento de um mercado eficaz de gás natural deve ser pautada em um ambiente de concorrência onde, cada vez mais, deve ser buscada a competição entre os agentes da cadeia. Com isso, não somente será possível o desenvolvimento dos agentes da indústria, com novas oportunidades para todos os níveis de consumidores, mas também, a consolidação um mercado que representa um grande potencial econômico para qualquer país. 37 4 4.1 Análise de Precificação do Gás Natural : Caso Brasil Caracterização do Mercado O Brasil é considerado a demanda chave da região conhecida como Cone Sul que é formada além do Brasil, pelos paises Chile, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai. O sudeste brasileiro representa a maior demanda potencial de gás natural desta região, com níveis esperados de mais de 1,9 bilhão de pés cúbicos (Bcf) por dia em 2010. Este volume responderia por 30% de toda a demanda estimada do Cone Sul. 4.2 Estágio de Desenvolvimento O Cone Sul detém um potencial mercado de gás natural, entretanto este não pode nem poderá ser aproveitado a não ser que o mercado do sudeste brasileiro se desenvolva e seja economicamente acessado pelos inúmeros distribuidores regionais. Na região do Cone Sul, a Argentina e a Bolívia caracterizam-se como áreas potenciais de fornecimento uma vez que possuem excedente de gás natural. Porém, existem alguns fatores que inviabilizam o acesso eficaz de fornecedores de gás natural ao mercado brasileiro. O primeiro fator, determinante para o estado incipiente do mercado, é o lento crescimento da demanda no setor de energia. Esse setor é bastante representativo na demanda total do mercado, representando cerca de 40% da demanda total de gás natural no sudeste brasileiro. Entretanto, devido à inexistência de significativos estímulos seja na regulamentação atual ou ainda nos planos federias de desenvolvimento energético, o setor vem se desenvolvendo muito lentamente no país. O programa emergencial, desenvolvido no recente momento de crise energética devido ao risco eminente de falta de energia elétrica, planejava construir novas usinas termelétricas movidas a gás com capacidade para cerca de 10.000 megawatts, no entanto hoje apenas cerca de 5.000 megawatts tiveram suas obras iniciadas. A Tabela 5 a seguir mostra a representatividade do volume em construção versus o volume total aprovado pelo Plano Prioritário de Termoeletricidade (PPT) em 1999. 38 Tabela 5: Termelétricas Autorizadas pela ANEEL Termelétricas Autorizadas pela ANEEL Planejadas para Iniciar Operação até 2006 Usinas do PPT Quantidade 28 Potência (MW) 11.701 Obras já Iniciadas em Abril de 2003 Usinas do PPT Quantidade 13 Potência (MW) 5.653 Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica: www.aneel.org.br – Maio de 2003 Entretanto, apesar do ainda lento crescimento da demanda no setor mais expressivo que seria este representado pelos grandes clientes (termoelétricas e grandes empresas consumidoras de energia) existem setores menos representativos que vem apresentando considerável crescimento de consumo. Dentre eles vale a pena ressaltar o incremento da utilização do gás natural em plantas industriais, substituindo outros energéticos como o óleo combustível e o diesel. Outra fatia que têm crescido bastante e representado relativo aumento da demanda de gás é o mercado de GNV (Gás Natural Veicular) que vem apresentando-se como potencial substituto da gasolina. Mercado de GNV cresceu cerca de 40% no último ano e conta hoje com 586 postos autorizados em todo país e garantindo um consumo de cerca de 50 milhões de metros cúbicos por mês. O segundo e mais complicado fator que determina o estágio desenvolvimento do mercado brasileiro é o difícil e restrito acesso ao mercado. Apesar de haver regras que determinam o livre acesso, estas ainda não foram implementadas em sua totalidade. Tal fato, combinado a uma regulamentação inadequada, porém regente no Cone Sul, faz com que poucos investidores dominem o mercado. Com base nos conceitos e características do modelo de monopólio demonstrados no capítulo anterior pode-se compreender facilmente porque a Petrobras é o grande investidor dominante do mercado nacional. É este grande investidor que domina grande parte dos contratos de longo prazo e possui a maioria dos dutos. Não obstante, a existência de um preço único para todas as regiões servidas pelo gasoduto Brasil-Bolívia reforça a condição da Petrobras como transportadora dominante. 39 Essa forte relação existente entre o investidor dominante (Petrobras) e o maior fornecedor externo aliada à falta de estímulo por parte do governo e demanda incipiente fazem com que o risco para novos investidores seja elevado a níveis inaceitáveis. Esta situação acaba por limitar a viabilidade de aportes de capital apenas aos investidores já existentes. Outra conseqüência deste panorama pouco competitivo devido à inviável e pouco estimulada entrada de novos fornecedores no mercado é o fato de muitas vezes o país ser forçado a arcar com os preços elevados nos seus contratos take or pay. Devido a problemas na definição dos preços dos contratos de longo prazo, por muitas vezes o preço por este exigido encontra-se acima daquele exercido na maioria dos mercados mundiais. Devido à falta de competição o país acaba tendo que comprar o gás natural a um preço muito elevado. Atualmente o Brasil vem passando por este problema e como conseqüência boa parte do país vem tendo que pagar preços extremamente altos pela aquisição do gás natural. Essa situação ocorre devido a problemas na definição da paramétrica de preços do contrato do gasoduto Brasil-Bolívia que acarretou um aumento irreal do preço do energético depois da desvalorização do real e variação do preço do barril de petróleo. O impacto deste problema na economia é bastante grande, pois força as empresas localizadas na região sul a pagarem cerca de 85% a mais que as da região nordeste (o nordeste que consome o gás nacional ao invés daquele importado da Bolívia). Como conseqüência disto, existe a possibilidade da Petrobras ser obrigada a renegociar os preços do gás boliviano ou até mesmo retomar a construção do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre. As evidências mostram que a situação atual de preços altos dificulta ainda mais o desenvolvimento da demanda de gás e o conseqüente amadurecimento do mercado. O processo necessário para a mudança da conjuntura de imaturidade do mercado é bastante lento principalmente se forem consideradas as condições político-econômicas do país. Entretanto se as questões regulatórias forem definidas nos setores de energia elétrica e de gás no Brasil, o mercado regional poderá se desenvolver tornando-se muito competitivo. Por hora, as empresas do mercado e potencial investidores deverão reconhecer que a curto e médio prazo estarão operando num mercado com imperfeições 40 significativas. Uma das imperfeições atuais que mais impactam a dinâmica do mercado é o preço. 4.3 Estrutura de Preços Como já foi citado algumas vezes, o mercado brasileiro e conseqüentemente o mercado do Cone Sul estão bastante longe de alcançar o modelo competitivo atacadista. Atualmente o desafio é representado por preços contratuais bastante inflexíveis. Esse fato faz com que a dinâmica de preços deste mercado seja mais influenciada por regulamentações e contratos do que por variações mercadológicas de oferta e demanda. Vale ressaltar que a evolução do preço do gás no Brasil tem efeito substancial nos limites e oportunidades para a indústria de toda a região do Cone Sul. (ALMEIDA, EDMAR e CARMEN, ALVEAL, 2001) O preço do gás brasileiro tem sido ditado pelo governo federal por regras estabelecidas, incluindo preço de venda a atacado para empresas de distribuição local e mecanismos de preço de gás para um número restrito de usinas termoelétricas. O gás natural brasileiro possui, nos dias de hoje, três preços distintos: o preço do gás doméstico, o preço do gás importado da Bolívia e o preço do gás utilizado na geração de energia. O preço de gás natural com a finalidade de geração de energia elétrica tem sido bastante polêmico e discutido ultimamente. A grande questão é baseada no fato de que o fornecimento de gás oriundo da Bolívia é cotado em dólares enquanto a tarifa nacional de eletricidade é cotada em reais. A partir da escassez de energia elétrica no país, o governo federal fixou um preço especial para a geração de gás combustível de modo a acelerar os investimentos em usinas termoelétricas. No caso das termelétricas constantes do PPT – Plano Prioritário de Termeletricidade, há uma portaria do MME, n° 176, que define o preço do gás em US$ 2,581/milhão de BTU, acrescido das margens da distribuidora. Por um instrumento deste tipo, a distribuidora paga ao carregador o preço de US$ 2,581/milhão de BTU, e a termelétrica paga à distribuidora este valor acrescido das tarifas de distribuição. 41 Com esta medida, a Petrobras passou a assumir o risco moeda para o fornecimento de gás natural importado e irá transferi-lo aos proprietários de termoelétricas no momento de reajuste da tarifa de eletricidade. No intervalo contido entre os anos de 1999 e o início de 2001 o preço do gás boliviano esteve abaixo do preço do óleo combustível (óleo combustível 1A, 2,5% de enxofre) entretanto, desde março de 2001 a desvalorização da moeda brasileira fez com que a diferença entre estes combustíveis fosse diminuindo. Nesta época o combustível residual custava cerca de US$ 3,30 por MMBtu enquanto o gás boliviano (commodity + transporte) na citygate custava aproximadamente US$ 3,33 por MMBtu. Não obstante a este fato, a Petrobras é o principal fornecedor de óleo combustível e, com o objetivo de otimizar sua estrutura de refino, mantém seu mercado fornecendo um óleo com alto teor de enxofre e por isso com desconto na tarifa. Essa necessidade de fornecimento de óleo com alto teor de enxofre é conseqüência do óleo cru bastante pesado que é produzido pelo país e que acaba por sobrecarregar a estrutura de refino. O tratamento deste óleo de baixo grau API resulta em subprodutos mais pesados e com maiores graus de enxofre, daí o desconto em sua tarifa final. Esta evolução de queda no diferencial de preço entre gás natural e óleo combustível pode ser observado no gráfico que se segue e tende a provocar uma grande pressão sobre o preço final do gás principalmente no mercado do sudeste brasileiro, de onde surge a maior demanda de gás para instalações que objetivam a substituição do óleo combustível. 42 US$ per MMBtu Figura 16: Brasil: Preços do Gás Natural e do Óleo Combustível Fonte: Cambridge Energy Research Associates: www.cera.com – Agosto de 2002 Vale ressaltar que os preços potenciais praticados no mercado brasileiro tendem a se enquadrar na seguinte variação: Preço Piso – preço netback do gás boliviano acrescido dos custos de transporte e distribuição Preço Teto – óleo combustível 1A com 2,5% de enxofre. Esse intervalo se faz possível devido ao fato do o uso da capacidade do gasoduto da BtB estar sujeito a uma regra de preço do tipo postal, ou seja, todos os consumidores pagam o mesmo preço ao longo do gasoduto, independentemente de sua distância até a fonte do gás. A partir das características citadas neste trabalho pode-se concluir que o Brasil não se encaixa em nenhum dos modelos tradicionais de formação de preços. Apesar do peso da estrutura monopolista ainda ser preponderante, já existem algumas características que 43 apontam para uma possível realidade de competição no longo prazo. As características mais determinantes do modelo híbrido vivido atualmente pelo Brasil são as seguintes: Características de Modelo Monopolista: Mercado, apesar de potencial, pouco maduro; Contratos Take or Pay de Longo Prazo (Net Back Value); Nenhuma flexibilidade na negociação de preços; Inexistência de mercados spot ou futuro; Presença de uma grande investidor dominante; Elevado risco para novos entrantes; Características de Modelo Competitivo: Preço dos energéticos flutuantes, ou seja, sem controle governamental; Apesar de ainda não implementadas, existência de regras que determinam o livre acesso; Preocupação com o estímulo ao aumento da demanda de gás. 44 5 Conclusão O objetivo deste trabalho foi caracterizar o mercado de gás natural no Brasil e no mundo focando-se na análise de sua estrutura de formação de preços. Conforme citado ao longo do estudo, o Brasil é um mercado de gás natural de extremo potencial, entretanto encontra-se ainda em um estágio pouco desenvolvido e bastante desalinhado com os modelos mais maduros do mundo. A atual estrutura de monopólio que configura a indústria de gás natural no Brasil impede a caracterização de um preço de referência dado pelo mercado, sugerindo um modelo de preços regulados, pela determinação de um limite máximo. Os princípios gerais da regulação de preços dos mercados de gás natural são quase sempre os mesmos em quase todos os países: estimular a concorrência, promover o crescimento da indústria e, principalmente, garantir proteção adequada ao consumidor final, tendo sempre em conta que algumas fases da cadeia constituem monopólios naturais. Figura 17: Bases para Direcionamento do Mercado para a Competição Bases para Direcionamento do Mercado para a Competição Concorrência Crescimento Proteção ao Consumidor Estimular a concorrência, Promover o crescimento da indústria Garantir proteção adequada ao consumidor final Fonte: Análise dos Autores A evolução do mercado de gás natural no Brasil requer ações mais agressivas de modo a estimular a competição e o conseqüente fornecimento de gás a baixo custo. 45 A primeira barreira deste mercado é a necessidade de elevados investimentos que, face a incipiente demanda, torna incerto o retorno sobre este capital. Este fato, aliado a posição dominante exercida pela Petrobras, reduz o acesso de fornecedores competitivos ao mercado e aumenta o preço e duração dos contratos. A segunda grande barreira à evolução do mercado nacional é o lento desenvolvimento da demanda o que acaba sendo responsável pela restrição da integração entre os mercados do Cone Sul. No que se refere à precificação, o preço do gás natural pode ser determinado basicamente de duas formas. O preço pode refletir o custo de ofertar este gás. Nesse caso, o preço do gás deve ser determinado pelo custo marginal de longo prazo mais uma taxa de desconto, que reflete o custo de oportunidade de consumir o gás hoje no lugar de guardar para o futuro. Este preço representaria o limite inferior de preço para o gás, e essa abordagem seria mais adequada a países com excedente de oferta que não pode ser exportado. Alternativamente, o preço do gás pode ser determinado pelo valor que os consumidores estariam dispostos a pagar por este gás. O preço do gás natural seria determinado a partir do mínimo entre fontes alternativas de gás (gás importado, por exemplo) e combustíveis alternativos. Este preço representaria o limite superior para o preço do gás, e seria mais apropriado a países como o Brasil, com mercados em fase de desenvolvimento, necessidade de importação para atingir a demanda e, conseqüentemente, necessidade de encorajar as atividades de E&P e o uso eficiente deste energético. A introdução de um sistema de preços máximos a partir do netback do preço que o mercado se dispõe a pagar, com tarifas de transporte mais adequadas, representaria importante sinalização ao mercado quanto ao incentivo às atividades de E&P e aos princípios de eliminação de subsídios e de estímulo à concorrência. Além disso, preços máximos diferenciados por ponto de entrega refletiriam melhor seus custos reais de transporte (maior eficiência alocativa), respeitando as vantagens comparativas naturais das localidades próximas às bacias produtoras, hoje ignoradas, e 46 buscando acenar para um futuro de regras mais flexíveis para o processo de definição de preços para o gás natural, com maior liberdade de negociação entre os agentes. Conforme citado ao longo deste estudo, o papel do governo ou órgão regulador é fundamental não somente no modelo de monopólio, mas principalmente em um momento onde se visa a transição para uma condição de incremento da competição. É neste momento em que o órgão regulador deve definir condições que estimulem a competição sempre atuando de forma firme, estimulando novos agentes e coibindo posicionamentos monopolistas no mercado. No caso Brasil, os primeiros passos fundamentais em direção a um modelo de gás natural mais maduro seriam: - Estímulo à construção de novas capacidades térmicas a gás de modo a desenvolver a demanda e conseqüentemente atrair maiores interesses de possíveis investidores; - Revisão dos atuais contratos de fornecimento de gás, reduzindo seus prazos de duração, garantindo a determinação de paramétricas de formação de preços mais eficazes e conseqüentemente estimulando a demanda com melhores preços; - Regulamentação do livre acesso aos gasodutos como forma de criar condições favoráveis para a competição no mercado brasileiro; - Permissão do acesso de novos fornecedores aos maiores consumidores de gás natural tais como as empresas de distribuição e usinas termelétricas. Com estas ações garantidas e gerenciadas por um órgão regulador firme e antenado com as ofertas e demandas dos mercados vizinhos, a evolução do mercado nacional seria bastante natural. Ao longo da análise foi ressaltado que o mercado brasileiro é estratégico para a região do Cone Sul. Seu estágio de insipiência impacta drasticamente na atividade de grandes 47 áreas fornecedoras como a Argentina e Bolívia que podem passar a não ser viáveis economicamente no caso de estagnação do mercado nacional. Em contrapartida, no momento em que o mercado brasileiro se torna mais maduro, desenvolvendo sua demanda e aumentando o nível de concorrência entre estas áreas fornecedoras, a tendência é que haja a criação de um mercado aberto e competitivo. A conseqüência desta evolução seria um aumento de oferta para a demanda nacional e a definição de preços de gás mais competitivos em toda a região. Devido à complexidade do tema abordado deve-se propor que futuros interessados no assunto desenvolvam abordagens que aprofundem a visão deste trabalho. Os temas a seguir são considerados compatíveis e complementares a este estudo: - Avaliação do nível de preço demandado por tipo de usuário da cadeia de gás natural; - Comparação do nível de preço ideal para o gás natural e os demais energéticos concorrentes; - Avaliação da viabilidade técnica e econômica de um novo entrante na cadeia de transporte; - Avaliação detalhada e projeção do potencial de crescimento da demanda do mercado brasileiro. 48 6 Bibliografia ALMEIDA, EDMAR e CARMEN, ALVEAL, Rumos e Perspectivas da Indústria de Gás Natural e Nova Regulação no Brasil, Projeto Gaspetro/GE-IE-UFRJ, Relatório 19, versão preliminar de fevereiro de 2001. Natural Gas Pricing in Competitive Marketing, International Energy Agency, 1999. Natural Gas Transportation: Organization and Regulation, International Energy Agency, 1994. WEBB, CHRIS, Gás Privatization and Competition: The British Experience, Ofgas UK, 1999. ESTRADA, J., MOE A. e MARTINSEN, K., The Development of European Gás Markets: Environmental, Economic and Political Perspectives, John Wiley & Sons, Sussex, England, 1995. RODRIGUES, A. P., Políticas Alternativas: Gás Natural, Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995. Gás Natural : Reservas, Produção e Consumo, Cadernos de Infra-Estrutura do BNDES, Rio de Janeiro, 1997. Páginas da Internet Visitadas (Junho 2001 a Junho 2003) Gás Net – O site do Gás Natural: www.gasnet.com.br PB Gás – Companhia Paraibana de Gás: www.pbgas.com.br Comgás - www.comgas.com.br ANP – Agência Nacional do Petróleo: www.anp.gov.br IEA – International Energy Agency: www.iea.org API – American Petroleum Institute: www.api.org BP – British Petrol: www.bpamoco.com CERA – Cambridge Energy Research Associates: www.cera.com Natural Gas Supply Association: www.naturalgas.org PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A.: www.petrobras.com.br ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica: www.aneel.org.br MME – Ministério de Minas e Energia: www.mme.org.br Gás e Energia – www.gaseenergia.com.br 49