Bianca parara de chorar, mas uma sombra de tristeza lhe anuviava a fisionomia. Estava mais calma, contudo. Aproveitei o momento e despedi-me. – Ciáo, Bianca. Vou um instante à casa de César e, de lá, vou-me embora. Não posso chegar tarde em casa. Mas César não está, mama. Foi com a família para a casa do sogro. Fechou o negócio porque os soldados compravam e não pagavam. – Fez bem – falei, descendo a escada com ela. Levantei o chicote e “Patusco” encostou ao passeio. Alcei-me ao silhão e dei rédeas ao cavalo. – Ciáo, mama – disse Bianca acenando com a mão. Cheguei à vila às quatro da tarde. Despi o roupão e antes, ainda, de estar com Lessandro, fui à casa de Gustavo conversar com ele. Contei o que estava acontecendo na fazenda com seu filho e a empregada. Como de hábito, pôs-se a pensar e a olhar fixamente para mim. Depois falou: – Vou mandar chamar o pai da moça. – Que pensa fazer?– perguntei. – Vou pedir-lhe que leve a filha para casa. – Não vai dar certo. Alfredo não entregará. Mas eu tenho uma ideia capaz de resolver o caso. – Então diga. – Dar uma quantia a Radaelli, pai de Tonina, para que se afaste com ela para longe. Gustavo encarou-me e perguntou: – Você falou Radaelli? – Sim; é o pai da moça. – Agora sei quem é. Veio do Rio Grande no ano passado. – Poderia voltar para lá – sugeri. – Acho que você me deu realmente a solução para o caso, Karina. Amanhã mesmo vou mandar um portador à casa dele. *** O portador foi e Radaelli veio. Ficou tudo combinado. Gustavo pagaria as passagens e daria dinheiro suficiente para a compra de uma colônia lá no Rio Grande, com a condição de que Radaelli fosse logo e levasse a filha. Era preciso enganar Alfredo. Combinamos o jeito: o pai de Tonina daria parte de doente. Alguém iria à casa de Alfredo pedir que a filha fosse tomar conta da casa e cuidar do pai, até que melhorasse. João Radaelli era viúvo e só tinha essa filha. Tonina veio e o pai a deixou em casa de Nuflo. Ficaria ali apenas uns dias, enquanto ele vendesse o sítio. Depois seguiriam rumo ao Rio Grande, onde tinham parentes. Tonina parecia contente por poder voltar à sua terra. Sondei-lhe os sentimentos. Não gostava de Alfredo. Fora forçada. “Meio caminho andado” – pensei. – Quis fugir muitas vezes – disse Tonina. – Mas Alfredo me trazia trancada. – Ele a deixou ir à casa de seu pai, sem fazer oposição? – Sim, ele gosta de meu pai. Disse que iria lá todas as noites. Vai notar minha ausência, mas papai saberá arranjar uma desculpa. Não dirá que estou aqui. Fiquei pensando nas palavras de Tonina e sentindo a iminência do perigo. Alfredo 117