Texto de apoio ao curso de Especialização
Atividade física adaptada e saúde
Prof. Dr. Luzimar Teixeira
O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A "SÍNDROME DE FADIGA CRÔNICA"
Se você vem, nos últimos meses, sendo acometido de um cansaço excessivo que
parece não passar com o repouso e além do mais, apresentando com frequência um
ou mais do seguintes sintomas:
•
Dores de cabeça
•
Dificuldades de memorização
•
Dificuldade de concentração
•
Dor de garganta frequente
•
Gânglios linfáticos doloridos
•
Dores musculares
•
Dores articulares sem vermelhidão nem inchaço
•
Sono não restaurador
•
Indisposição prolongada após exercício
você provavelmente está sofrendo da chamada "Síndrome de fadiga crônica"
E o que é a "Síndrome de fadiga crônica " ?
A "Síndrome da fadiga crônica" SFC , é uma condição caracterizada por uma fadiga
prolongada e debilitante acompanhada por vários sintomas inespecíficos como dores
de cabeça, repetidas inflamações de garganta, dores musculares e nas articulações e
perturbações cognitivas como lapsos de memória e dificuldade de concentração. A
fadiga intensa que é o elemento principal da síndrome pode aparecer repentinamente
ou se instalar gradualmente
O diagnóstico da "Síndrome da fadiga crônica" requer que os sintomas relatados
tenham uma história de pelo menos seis meses de duração se bem que a maioria dos
pacientes se queixam de padecer por anos de um quadro extremamente incapacitante
e mal entendido por leigos e também pelos múltiplos profissionais de saúde até então
procurados
Enquanto há algum tempo atrás a maioria dos portadores da SFC eram tratados como
fingidores ou simplesmente como preguiçosos incuráveis, eles são atualmente vistos
como deprimidos e submetidos a terapia com antidepressivos os quais algumas vezes
aliviam alguns dos sintomas e outras agravam o quadro.
O reconhecimento da SFC como um quadro clínico definido e não como uma invenção
dos seus portadores é algo muito recente . Foi apenas em 1988 que um grupo de
experts resolveu denominar assim o conjunto de sinais e sintomas que têm na fadiga o
seu aspecto mais dramático. Em dezembro de 1994 o Grupo Internacional de Estudo
da Fadiga Crônica publicou no Annals of internal Medicine uma descrição detalhada ,
que é atualmente utilizada para o diagnóstico e tratamento da SFC
Quem são as pessoas mais propensas a desenvolver a Sïndrome de Fadiga Crônica ?
De acordo com as estatísticas que mal começam a surgir, a SFC acomete
principalmente mulheres de raça branca com idade entre 25 e 50 anos se bem que
indivíduos de todas as idades, raças e classes sócio-econômicas também sejam
afetados .
Quais são os sintomas mais comuns na Síndrome de Fadiga Crônica ?
O entendimento e manejo dos sintomas da SFC é fundamental já que eles podem
afetar profundamente o curso da síndrome. Esses sintomas, produzem um efeito tipo
bola de neve e passam a ser capazes por si só de perpetuar a SFC mesmo sem um
stress externo.
Como já vimos acima, além da fadiga debilitante não aliviada pelo repouso, os
sintomas mais comuns encontrados na SFC são
•
Dores de cabeça
•
Dificuldades de memorização
•
Dificuldade de concentração
•
Dor de garganta frequente
•
Gânglios linfáticos doloridos
•
Dores musculares
•
Dores articulares sem vermelhidão nem inchaço
•
Sono não restaurador
•
Indisposição prolongada após exercício
A maioria dos portadores da SFC também se queixa de sintomas de leves a
moderados de ansiedade e depressão o que faz com que muitas vezes esses
indivíduos sejam tratados como se fossem primariamente portadores de quadros
psiquiátricos. Ë importante notar que cerca 40% dos portadores de SFC não
apresentam qualquer sinal de comprometimento psíquico além do abatimento óbvio
consequente a perceber-se sofrendo de algo não diagnosticado e frequentemente
desvalorizado.
Alguns estudos Têm mostrado nos portadores de SFC uma alta incidência de alergias
que às vezes datam de anos antes do início da síndrome. Algumas vezes os pacientes
se queixam da intensificação dos sintomas alérgicos e / ou do aparecimento de novas
alergias após o início da SFC
A constante coincidência entre quadros alérgicos e a SFC que muitas vezes se
assemelham
a
estados
gripais
permanentes,
são
na
verdade
reflexo
do
comprometimento do sistema imunológico observado na síndrome.
Como se diagnostica a Sindrome de Fadiga Crônica ?
Diagnóstico diferencial
Em virtude do seu caráter impreciso, o diagnóstico da SFC exige uma criteriosa
avaliação clínica que afaste a existência de doenças que tenham sintomas
semelhantes a síndrome como:
•
hipotireoidismo,
•
Hepatites B ou C
•
Uso abusivo de Álcool e outras drogas
•
Efeitos colaterais de medicações
•
Lúpus eritematoso sistêmico
•
Esclerose Múltipla
•
Câncer
•
Depressão
•
Anorexia
•
Bulimia nervosa
•
Esquizofrenia
•
Distúrbios bipolares
•
Demência
Frequentemente as pessoas com SFC não parecem tão doentes como se sentem e
por isso, seus familiares, amigos, empregadores e médicos tendem a duvidar de suas
queixas
A SFC e a fibromialgia comumente coexistem no mesmo paciente. A fibromialgia é
caracterizada por dores musculares sem causa aparente .
Mialgias e artralgias- Dores musculares, pontos dolorosos ao toque, fraqueza e
fatigabilidade fácil são sintomas comuns nos portadores da SFC . Os pacientes se
queixam também de dores articulares que frequentemente mudam de uma articulação
para outra e não se fazem acompanhar de vermelhidão ou inchaço
Alterações cognitivas- É a denominação técnica dada ao conjunto de sintomas que
engloba:
•
Dificuldade de concentração
•
Dificuldade de memorização
•
Dificuldade para se orientar (desorientação espacial)
•
Dificuldade em recordar nomes
•
Dificuldades para encontrar as palavras necessárias para se expressar
Quais as causas (etiologia) da Síndrome de fadiga crônica ?
A SFC pode ser vista como uma tríade que inclui:
•
Um fator hereditário cuja avaliação é fundamental para o prognóstico
•
O estressor composto pelos vários tipos de stress que possam ter
desencadeado a SFC
•
Os sintomas que podem eles próprios se tornarem fonte de stress
Numa situação semelhante a uma bola de neve, A SFC se constitui numa fonte de
stress realimentando e intensificando a sintomatologia. "
A etiologia da SFC tem sido intensamente investigada e por causa de sua
heterogeneidade, muitos pesquisadores duvidam da existência de uma causa ÚNICA.
Algumas vezes a síndrome aparece após uma infeção outras vezes após um trauma
físico ou psicológico mas também pode se desenvolver gradualmente sem nenhum
fator desencadeante aparente. Um nível de anormal de anticorpos para uma variedade
de vírus pode aparecer em vários mas não em todos os pacientes, se bem que alguns
pesquisadores insistam em afirmar que uma infecção virótica é a causa daSFC.
Quadros depressivos e ansiosos prévio também não poder se apontados como causa
da SFC, uma vez que mais de um terço dos pacientes com SFC , não apresenta
nenhuma comprometimento psiquiátrico
Muitos pacientes com SFC são convencidos pelos que o assistem de que eles são
"apenas" portadores de problemas emocionais e isso não é verdade. A SFC é
consequente a uma série de alterações orgânicas cujo centro é o eixo neuroendócrino
formado pelo hipotálamo, a hipófise e as supra-renais. Pessoas com SFC não podem
ser tratadas como alguém cujas dificuldades possam ser resolvidas apenas por uma
decisão de mudança.
Uma fragilidade inata das supra renais é o elemento hereditário fundamental que torna
algumas pessoas mais susceptíveis à Síndrome da Fadiga Crônica
Uma vez que não é possível uma avaliação direta dessa susceptibilidade, deve-se
priorizar na avaliação:
•
A idade do paciente quando os sintomas se iniciaram
•
A intensidade dos sintomas
•
A quantidade de stress necessária para desencadear os sintomas
De uma maneira geral, podemos dizer que o grau de participação do componente
hereditário na SFC , é diretamente proporcional à intensidade dos sintomas e
inversamente proporcional à idade de início e à intensidade do stress envolvido ou
seja: quadros de SFC que se iniciam cêdo, tem sintomas intensos e são
desencadeados por estressores leves, têm provavelmente uma forte participação do
fator hereditário.
Se bem que o reconhecimento da SFC como uma síndrome data de pouco tempo, o
estudo da chamada "fragilidade funcional supra-renal" ou hipoadrenia funcional" data
do começo do século . Nesta época já se aventava que uma depressão funcional das
supra-renais poderia levar ao aparecimento de sintomas como cansaço, hipersensibilidade ao frio, extremidades frias, hipotensão, lentificação da função cardíaca,
anorexia, anemia, lentificação do metabolismo, constipação e cansaço mental
(psicastenia). Este fato deve ser levado em conta ao se estabelecer a estratégia de
tratamento da SFC que pelo seu caráter de síndrome requer uma abordagem
terapêutica múltipla
Para a compreensão e manejo adquado da SFC é fundamental que se entenda como
o stress pode levar ao esgotamento neuroendócrino característico da síndrome.
STRESS : MUITO FALADO POUCO CONHECIDO
Colocado entre as palavras da moda, o termo "stress" tem sido explorado às últimas
consequências sem que quase nunca se dê a ele uma definição psicofisiológica
adequada ou seja, de que maneira e através de que sistemas orgânicos o stress se
instala e de que modo ele interfere em processos orgânicos que são vitais para uma
vida saudável.
Necessário também se faz separar o stress considerado normal definido por alguns
como eustress do stress patológico ou distress
Dentro de uma definição geral o stress pode ser conceituado como qualquer fator
(estressor) que estimule o "sistema geral de adaptação" do organismo. Estressores
intensos ou mesmos estressores moderados mas que atuem durante muito tempo,
levam a uma falência do sistema orgânico de adaptação ao stress, desencadeando
um conjunto de sintomas que assume carcacterísticas peculiares em cada fase do
processo des a fase de resistência compensade até a fase de exaustão que
caracteriza os estágios avançados de stress.
Existe tratamento para a Síndrome de fadiga crônica ?
Ao invés de ser considerada pela maiorias dos pesquisadores como uma doença, a
SFC é antes vista como um conjunto comum de sintomas desencadeados por fatores
infecciosos e não infecciosos. Essa idéia é compatível com visão da SFC como uma
condição clínica como o são por exemplo, a hipertensão a anemia
NA SFC, a combinação de sintomas como fadiga, dores musculares e articulares,
alterações do sono, alterações psicológicas e em alguns casos a depressão associada
leva a uma condição debilitante e às vezes incapacitante que merece tratamento
sintomático e suporte emocional. É de fundamental importância que o terapeuta se
coloque ao lado do cliente que frequentemente já não acredita que alguém possa dar
crédito ao seu sofrimento
Ë importante que as pessoas com SFC passem a ter uma vida mais calma e evitem ou
reduzam a sua exposição a situações estressantes seja física ou psicologicamente,
que eles sejam instruídos a balancear atividade e repouso, estabelecer para si metas
realistas, a definir planos de vida flexíveis adaptáveis as suas variações de energia e
aos seus sintomas e principalmente que se mantenham otimistas quanto à sua
recuperação.
Nas medidas em prol de uma vida normal, deve-se evitar retomada abrupta de
exercícios e se recomendar uma reintrodução gradual de uma atividade física na qual
a frequência (de preferência diária), seja mais importante do que a quantidade (tempo
diário) e a intensidade.
Existe um tratamento medicamentoso específico para a SFC ?
O caráter de síndrome que envolve uma diversidade de sinais e sintomas, não permite
a existência de uma medicação específica para a SFC, se bem que alguns dos
pesquisadores envolvidos com o seu estudo, se concentrem na revitalização da
função das supra renais, cujo esgotamento parece ser o centro e causa principal de
todo o conjunto de sinais e sintomas característicos da síndrome. Por outro lado a
utilização de medicação sintomática criteriosamente escolhida após um diagnóstico
preciso, pode aliviar os sintomas e permitir ao paciente uma progressiva reinserção
em um padrão de vida mais normal
Como enfrentar o stress ?
Um entendimento amplo dos stress envolvidos na SFC é vital para a recuperação do
paciente já que toda tentativa deo tratamento deve ser baseada em dois princípios
básicos nos quais o terapêuta e o paciente devem por todos os seus esforços
objetivando:
•
Faça tudo o possível para fortalecer o mecanismo adaptativo
•
Remova o stress tanto quanto possível
Em síntese o tratamento da SFC envolve:
Suporte emocional
Tratamento medicamentoso dos sintomas
Tratamento medicamentoso da depressão porventura coexistente
Revitalização do sistema neuro-hormonal
Reestruturação do modo de vida objetivando uma melhor qualidade e uma menor
exposição ao stress.
Notas finais
Reconhece-se hoje que muitas pessoas antes vistas como fingidoras, preguiçosas ou
"na melhor das hipóteses" deprimidas , são na verdade portadoras de uma condição
clínica ocasionada pela conjunção de uma série de fatores como fragilidade
hereditária, fatores infecciosos, estressores físicos e psicológicos. Por isso, essas
pessoas podem e devem ser tratadas através de um conjunto de medidas destinadas
a aliviar os sintomas, fortalecer o organismo e devolver ao paciente uma qualidade de
vida compatível com um nível saudável de interação com o meio ambiente físico e
emocional. É imenso o alívio e a recuperação da auto-estima observada nos
portadores da Síndrome de Fadiga crônica já a partir do momento em que lhes é
revelado que aquilo que sentem, longe de ser um fingimento ou uma forma de
fraqueza de caráter é na verdade um mal físico passível de tratamento em função do
qual elas voltem se sentir pessoas normais e que possam viver de uma forma
produtiva e saudável.
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