INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRAS MUNICK MORAIS FARIAS GUIMARÃES ORTODONTIA LINGUAL Manaus 2014 MUNICK MORAIS FARIAS GUIMARÃES ORTODONTIA LINGUAL Monografia apresentada Especialização em FUNORTE/SOEBRAS ao Programa Ortodontia, Núcleo ICS Manaus, de – como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. Dr. José Ricardo Prando dos Santos. Manaus 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Guimarães, Munick Morais Farias Ortodontia Lingual / Munick Morais Farias Guimarães Manaus – Instituto de Ciências da Saúde – FUNORTE/SOEBRAS Núcleo Manaus, 2013. 37 f. Orientador: Prof. Dr. José Ricardo Prando dos Santos . Monografia – (Especialização em Ortodontia) - Instituto de Ciências da Saúde – FUNORTE/SOEBRAS Núcleo Manaus, 2013. 1. Ortodontia Lingual. 2. Estética. 3. Colagem Indireta. I. Santos, Jose Ricardo Prando dos. II. Instituto de Ciências da Saúde – FUNORTE/SOEBRAS - Núcleo Manaus. Curso de Especialização em Ortodontia. III. Ortodontia Lingual. Dedico a Deus, pela vida, por estar sempre guiando meu caminho e tornar minhas conquistas realidade. Ao meu esposo, pela compreensão, incentivo e amor dedicados durante todos esses anos juntos. Aos meus pais, pelo amor incondicional, pelos ensinamentos dados realizando os meus sonhos e me proporcionando a maior riqueza que se pode ter que é o caráter e a educação. AGRADECIMENTOS A FUNORTE - Núcleo Manaus, na pessoa da Diretora Margareth Ishigaki, cuja dedicação é memorável e proporcionou-nos uma agradável convivência durante o período em que foi realizado o Curso de Pós-graduação. Ao meu orientador professor Dr. José Ricardo obrigada pela sua colaboração e qualificação valiosa na contribuição deste trabalho. Às minhas professoras Bruna Meireles e Milly Moutinho, pela sabedoria, compartilhando seus vastos conhecimentos, nos ensinando como sermos realmente profissionais qualificados. Pela paciência ao longo desse curso, pelos conselhos, pela amizade, nos mostrando que não basta sermos somente mais um, temos realmente que trabalhar para buscarmos sempre o melhor e fazermos a diferença nesse mundo tão competitivo e precisado de bons profissionais. Aos meus colegas de curso sempre me proporcionando momentos de alegria. Muito obrigado pelo companheirismo, principalmente nesta etapa final. Ao corpo técnico administrativo da FUNORTE por toda a colaboração direta e indireta. Aos pacientes que foram o estímulo para minha formação prática e conhecimento formal. “Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de verdadeiro discernimento”. Aristóteles revelar o LISTA DE FIGURAS Figura 1. Acessórios customizados: cópia da superfície lingual ............................. 17 Figura 2. Processo de fundição dos braquetes ........................................................ 17 Figura 3. PSWb, braquete brasileiro que permite trabalhar com arcos retos ........... 17 Figura 4. Braquetes linguais 2D: A) Duplo Médio; B) Duplo Grande; C) Simples Estreito; D) Duplo Médio com gancho gengival; E) Duplo Médio com gancho em T; F)2D Plus; G) MiniAnt; H) Tubo Molar ...................................................................... 19 Figura 5. ((A.) Aspecto fotomicrográfico (MEV) da malha do braquete (Ormco) novo (vezes 50); B.) Após reciclagem com jato de óxido de alumínio 50 μm (vezes 50); C.) Jato de óxido de alumínio 50 μm (vezes 150) ......................................................... 20 Figura 6. ((A.) Aspecto fotomicrográfico (MEV) da malha do braquete (American Ortodontics) novo (vezes 50); B.) Após reciclagem com jato de óxido de alumínio 50 μm (vezes 50); C.) Jato de óxido de alumínio 50 μm (vezes 150) ............................ 20 Figura 7. CLASS system. A) Setup confeccionado com torque, angulação e posicionamento ideais dos dentes. B) Escolha do tamanho do arco... .................... 24 Figura 8. MBP system. A) escolha do arco, B) colocação da resina, C) guias confeccionados, D) após a transferência para a má oclusão, o guia de resina e removido, E) Guia de transferência de silicone ........................................................ 24 Figura 9. Braquetes ligados no arco lingual ideal .................................................... 26 Figura 10. Modelo superior após a transferência dos braquetes e fixação com cera pegajosa .................................................................................................................. 26 Figura 11. Moldeira de transferência pronta para a colagem indireta. E fotografia oclusal superior após colagem indireta .................................................................... 27 Figura 12. Moldagem superior em silicone de adição, modelo vazado para início da confecção do setup .................................................................................................. 29 Figura 13. A) Escolha da lâmina mais adequada para o arco dentário no setup. B) Posicionamento dos braquetes nas superfícies linguais dos dentes ........................ 30 Figura 14. A) Braquetes recobertos com resina flexível fotopolimerizável. B) Caps individualizados para cada dente ............................................................................. 30 Figura 15. Arco inicial amarrado aos braquetes ...................................................... 30 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Respostas obtidas no questionário em porcentagem de respostas favoráveis e desfavoráveis com resultado estatístico .............................................. 28 LISTA DE ABREVIATURAS Pads ........................................... Bases de Resina Acrílica. CLASS ....................................... Método de Colagem Indireta. MBP ........................................... Método de Colagem Indireta. INCOGNITO ............................... Método de Colagem Indireta. TARG ......................................... Método de Colagem Indireta. Setup ......................................... Dados virtuais. MEV ........................................... Microscopia Eletrônica de Varredura. Caps .......................................... Casquete de resina duralay sobre o dente RESUMO O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura da Ortodontia Lingual, avaliando suas considerações técnicas, vantagens e desvantagens, abordando sua eficiência no tratamento ortodôntico. A técnica lingual é uma das opções mais estéticas do tratamento ortodôntico. Uma das etapas mais importantes para o sucesso da técnica lingual é o posicionamento laboratorial dos braquetes no modelo, já que a colagem é realizada quase que exclusivamente de maneira indireta. O sucesso na terapia requer orientações detalhadas sobre o potencial de restrição do conforto oral, fonação, mastigação e higiene oral, independente do sistema de braquetes a ser utilizado. Concluiu-se que a Ortodontia Lingual é uma técnica estética e eficiente desde que seja considerados suas vantagens e desvantagens. Palavra chave: Ortodontia Lingual, Estética, Colagem Indireta. ABSTRACT The objective of this study was to conduct a literature review of lingual orthodontics, assessing their technical considerations, advantages and disadvantages, addressing its effectiveness in orthodontic treatment. The lingual technique is one of the most aesthetic orthodontic treatment options, having advantages as well as disadvantages. One of the most important steps for the success of the lingual technique is laboratory positioning of the brackets in the model, since the bonding is performed almost exclusively indirectly. Successful therapy requires detailed guidance on the potential restriction of oral comfort, word articulation, mastication and oral hygiene, regardless of the system being used brackets. It was concluded that the Lingual Orthodontics is an aesthetic and efficient technique since it is considered the advantages and disadvantages. Keyword: Lingual Orthodontics, Cosmetic, Indirect Bonding. SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 11 2. PROPOSIÇÃO...................................................................................................... 13 3. RETROSPECTIVA DA LITERATURA................................................................... 14 3.1 Perspectivas da História.................................................................................. 14 3.2 Braquetes Linguais.......................................................................................... 15 3.3 Resistências ao cisalhamento......................................................................... 19 3.4 Vantagens e Desvantagens............................................................................ 21 3.5 Técnicas de Montagem e colagem..................................................................23 3.6 Procedimentos Laboratoriais........................................................................... 28 3.7 Tratamentos ortodônticos e suas características clínicas............................... 31 4. DISCUSSÃO......................................................................................................... 33 5. CONCLUSÃO........................................................................................................ 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11 1 INTRODUÇÃO O primeiro aparelho lingual foi desenvolvido pelo Dr. Craven Kurz no início dos anos 70, em Los Angeles – USA, e em 1976 foi desenvolvido o primeiro aparelho ortodôntico lingual produzido pela Empresa Ormco Co. A partir desse evento, muitos estudos foram feitos no intuito de melhorar o seu desempenho em relação à colagem, irritação gengival, mecânica e desconforto para o paciente, (Firmiano et al., 2006). Ortodontia lingual é uma realidade incontestável pelo fato de que a população adulta se faz cada vez mais presente nos consultórios de Ortodontia, representando aproximadamente 50 a 55% dos pacientes tratados. Existem pacientes que não aceitam aparelhos vestibulares convencionais e surge como uma alternativa completamente invisível para satisfazer a demanda de pacientes mais exigentes que buscam tratamento ortodôntico otimizando a estética (Eto, 2008). A crescente busca por um padrão de estética imposto pela sociedade vem aumentando a demanda de pacientes nos consultórios odontológicos formada por uma população adulta. A ortodontia lingual surge então como uma alternativa completamente “invisível” para satisfazer esta nova demanda, já que, na visão de pacientes considerados adultos, os braquetes convencionais, metálicos ou transparentes, podem interferir no convívio social e profissional, por razões estéticas e pela aparência juvenil que o aparelho ortodôntico proporciona. A Ortodontia Lingual representa uma importante opção de tratamento de pacientes adultos principalmente no que diz respeito à estética. Em razão da dificuldade do posicionamento dos braquetes diretamente ao dente e também pela variação da anatomia lingual dos dentes anteriores, é imprescindível a colagem indireta do aparelho lingual, utilizando para isso um sistema preciso de transferência do posicionamento dos braquetes, do modelo de gesso para a boca do paciente (Thurler et al., 2008). O tratamento ortodôntico com Ortodontia lingual depende substancialmente da precisão. Devido às dificuldades de trabalho com as faces linguais e a menor distância interbraquetes, a execução de dobras no fio deve ser evitada ao máximo. Pela grande dificuldade de trabalho e visualização das faces linguais, a colagem necessariamente se faz de forma indireta, onde as montagens do aparelho serão feitas laboratorialmente (Galvão et al., 2006). 12 A evolução das novas tecnologias em escaneamento de imagem e em programas digitais permitiu o advento de sistemas baseados em um setup digital ideal como referência para o posicionamento dos braquetes, tendo uma precisão incomparável, pois eliminam etapas laboratoriais e, consequentemente, as possibilidades de erros nas mesmas. O fato dos braquetes posicionarem-se na superfície lingual permite que o ponto de aplicação de força esteja mais próximo do centro de resistência, maximizando o potencial de movimentação dentária induzida, o que se traduz em resultados clínicos atingidos mais rapidamente e com significativo controle durante a mecânica (Gimenez, 2011). As dificuldades de higienização do paciente que faz uso da Ortodontia Lingual parecem não ser muito diferentes dos pacientes com aparelho vestibular e é uma das principais dificuldades apontadas por eles. Assim, as instruções de higienização, após a colocação do aparelho, são de grande importância e mostram-se bastante eficientes tanto em pacientes com aparelho vestibular quanto lingual. No entanto, até o presente momento, não existe uma escova dental fabricada especialmente para pacientes de Ortodontia Lingual. Algumas pesquisas indicam o uso de escovas com cabeça menor e menos tufos, mostrando uma boa eficiência de escovação e mantendo a saúde periodontal (Galvão, et al. 2008). É importante enfatizar que o diagnóstico é soberano em qualquer sistema, assim como a metodologia de um planejamento individualizado de acordo com as características e necessidades de cada caso, para que se alcance a finalização satisfatória e a excelência dos resultados (Gimenez, 2011). 13 2 PROPOSIÇÃO O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de literatura da Ortodontia Lingual, considerando suas técnicas, vantagens e desvantagens e avaliando sua eficiência no tratamento ortodôntico. 14 3 RETROSPECTIVA DA LITERATURA 3.1 Perspectivas da História Com o surgimento do aparelho lingual em 1976 surge a primeira geração de braquetes KURZ, com slot. 018"; já em 1980, na segunda geração de braquetes, foram acrescentados ganchos em todos os braquetes linguais, em 1981, surgiu a terceira geração de braquetes, com ganchos em todos os dentes. De 1982 a 1984 desenvolveu-se a quarta geração de braquetes, com ganchos opcionais e planos inclinados nos incisivos superiores; de 1985 a 1986, surgiu a quinta geração de braquetes, com plano inclinado anterior mais pronunciado, de 1987 a 1989 surgiu a sexta geração de braquetes, com o plano inclinado superior mais quadrado, com ganchos mais alongados em todos os braquetes, sendo que de 1990 até hoje utilizou-se a sétima geração de braquetes. Assim a ortodontia lingual tornou-se grande aliada à expectativa do paciente em obter melhora nas más oclusões, sem ter que se submeter a uma baixa da autoestima durante o tempo de tratamento, pelo uso de acessórios antiestéticos. Há necessidade de considerações em relação às vantagens e desvantagens, procedimentos laboratoriais necessários à técnica de colagem indireta e considerações mecânicas, indicando que a técnica que pode ser considerada recente apresenta uma procura aumentada, em comparação aos braquetes cerâmicos, por melhor valorizar a estética, sendo opção para que o paciente obtenha tratamento sem prejuízo da estética facial. Um dos pontos a ser considerados é a variabilidade das faces linguais, podendo dificultar a adaptação dos braquetes como também a necessidade e precisão de colagem indireta. Outra variabilidade também a considerar é a evolução dos arcos ainda sujeitas a uma necessidade de dobras de segunda ordem adequando-se de paciente a paciente. Assim conclui-se que a ortodontia lingual é tão eficiente quanto à ortodontia convencional vestibular, desde que sejam seguidos corretamente o diagnóstico e plano de tratamento, aliados a um conhecimento da técnica e, habilidade manual do profissional (Damian, 2006). Kairalla et al. (2010), apontaram que a técnica da Ortodontia Lingual pode ser indicada para os diferentes tipos de más oclusões, inclusive para os casos que envolvem cirurgia ortognática, não existindo a razão para contraindicar, pois exige mais conhecimento sobre questões biomecânicas e demanda muita habilidade do 15 profissional que a executa. O aspecto estético dos aparelhos linguais mostrou ser superior em comparação aos aparelhos estéticos convencionais vestibulares, pois dentre todas as técnicas ortodônticas, é a que possui a maior vantagem, e vêm proporcionando uma possibilidade bastante viável para o tratamento de casos de pacientes que são envolvidos esteticamente no trabalho. Ferreira et al. (2010), mediante uma revisão da literatura, relataram que a Ortodontia Lingual surge como uma alternativa completamente invisível para satisfazer a exigência de pacientes adultos, visando o reflexo de autoestima para a melhora da estética facial, e de um sorriso harmonioso, dos quais os braquetes convencionais podem interferir no relacionamento profissional devido à aparência do aparelho metálico. Assim como qualquer tipo de intervenção ortodôntica, para o alcance de um resultado satisfatório com o aparelho lingual, é essencial um correto diagnóstico e plano de tratamento. Macedo et al.(2009), analisaram uma revisão da literatura sobre a evolução da Ortodontia Lingual no desenvolvimento dos braquetes; indicaram que os resultados são mais confortáveis e com maior controle mecânico sobre os dentes, as técnicas são mais precisas para o posicionamento e dissipação de forças adequadas, menores dobras e um sistema de ancoragem absoluta, aliado a um aparelho confortável e estético. Na adaptação, em virtude do braquete ficar posicionado na face lingual dos dentes, existem dúvidas em relação ao desconforto e fonação do paciente durante a fase inicial de adaptação. Uma das vantagens é a razão dos fios trabalharem livremente na canaleta do braquete melhorando a eficiência biomecânica de deslize e assim acelerar os estágios de nivelamento e fechamento de espaços, observando o controle dos movimentos. 3.2 Braquetes Linguais Gimenez em 2011 descreveu que a Ortodontia Lingual, tem a possibilidade de se trabalhar eliminando definitivamente as dobras de compensação com um sistema de arco reto, baseado no posicionamento diferenciado dos braquetes, mais próximo à cervical. A evolução das novas tecnologias em escaneamento de imagem e em programas digitais permitiu que os sistemas baseados em um setup digital ideal para que o posicionamento dos braquetes tenham uma precisão incomparável, pois 16 eliminam as etapas laboratoriais e consequentemente, as possibilidades de erros nas mesmas. Dentro desse contexto, foi idealizado o Pswb6 (Prieto Straight Wire braquetes), um braquete brasileiro que já se encontra em sua terceira geração, apoiado nos seguintes itens: colagem mais cervical, (base sem extensão gengival além do slot, aleta gengival mais alta e distante da gengiva), perfil dos braquetes anteriores levemente aumentado, (compensação para ser possível o arco reto), offset distal no braquete do canino, braquete do segundo pré-molar com perfil levemente maior do que o braquete do primeiro pré-molar. Esse braquete viabiliza a técnica de colagem indireta simplificada como rotina na clínica ortodôntica, facilitando a montagem, a mecânica no decorrer do tratamento e a finalização. Outro sistema, Orapix, representa um avanço considerável, com a técnica do arco reto em Ortodontia Lingual com qualquer tipo de braquetes, e com precisão inigualável para o seu posicionamento, pois, por meio do escaneamento dos modelos da má oclusão (sistema CAD/CAM) e captação da imagem pelo programa 3TXer, é construído um setup numérico virtual ideal a partir dos dados do planejamento ortodôntico. Há possibilidade de conferência do setup virtual pelo ortodontista, ou, se esse preferir, pode construir o seu próprio setup. O sistema Incógnito é baseado em um setup que é realizado de forma convencional, com grande controle de qualidade, mas o ortodontista não tem acesso à sua conferência. Na sequência, o setup é escaneado e um programa específico captura a imagem sobre a qual são delineados os acessórios copiando a face lingual (Figura 1). Esses “braquetes customizados” são fabricados com liga metálica que contém ouro em sua composição, e necessitam do mesmo processo de fundição das peças protéticas (Figura 2). O sistema Lingualjet representa um intermediário entre ambos os sistemas descritos anteriormente, mesclando as suas características principais. Os aspectos em comum com o sistema Orapix são o fato de basear-se em um setup numérico virtual ideal, e dispor os acessórios de forma a permitir a utilização de arcos retos para a mecânica ortodôntica (Figura 3), sendo que o ortodontista tem acesso ao setup. Em relação ao sistema Incógnito, as características em comum são: utilização de acessórios metálicos customatizados e utilização de liga de ouro para a confecção desses. 17 Figura 1: Acessórios customizados: cópia da superfície lingual. Fonte: Gimenez em 2011. Figura 2: Processo de fundição dos braquetes. Fonte: Gimenez em 2011. Figura 3: PSWb, braquete brasileiro que permite trabalhar com arcos retos. Fonte: Gimenez em 2011. 18 Moro et al. (2012) apresentaram uma revisão da literatura de uma técnica de Ortodontia Lingual descrevendo a forma, as características e as aplicações clínicas dos braquetes Linguais 2D. Trata-se de uma alternativa que apresenta ótima relação custo benefício quando comparada aos braquetes linguais convencionais e aos alinhadores removíveis para o tratamento de casos de pacientes adultos que não requerem movimentos dentários de terceira ordem. Existem sete tipos de braquetes linguais 2D e um tubo molar: 1) O duplo médio é um braquete padrão que pode ser usado em todos os dentes. (Figura 4A). (2) O duplo grande é indicado para os casos onde o controle de rotação é necessário em dentes largos, como incisivos centrais superiores ou molares (Figura 4B). (3) O simples estreito pode ser usado em casos com apinhamentos severos ou rotações. (Figura 4C). (4) O duplo médio com gancho gengival é indicado onde é necessário melhor manejo das cadeias elásticas ou elásticos intermaxilares, ele permite o uso auxiliar de molas de torque para movimentos simples de terceira ordem (Figura 4D). (5) O duplo médio com gancho em T foi concebido para a aplicação de cadeias elásticas e de mecânicas de deslizamento de baixo atrito (Figura 4E). (6) O braquete lingual 2D Plus, com ou sem gancho gengival, tem uma canaleta retangular, permitindo assim a aplicação de torque em um único dente (Figura 4F). (7) O MiniAnt facilita a colocação de dobras compensatórias que podem ser necessárias na finalização. (Figura 4G). (8) O tubo molar é extremamente plano e chanfrado para maior conforto (Figura 4I). O mesmo braquete pode ser utilizado para todos os dentes, já que não há prescrição. Os braquetes permitem uma inserção vertical do fio e são capazes de receber fios com diâmetro máximo de 0,016″ x 0,022″. Os braquetes permitem que sejam utilizadas cadeias elásticas finas, já os braquetes 2D Plus permitem que seja aplicado o torque individual quando necessário. O sucesso da colagem requer atenção cuidadosa aos três componentes essenciais, tais como a superfície do dente e o seu preparo, o desenho da base do braquete e o agente de união. A colagem direta dos braquetes 2D é mais difícil que a indireta. A tarefa mais complicada após o treinamento inicial é a correta medição e marcação da posição da canaleta em cada superfície dentária. 19 A B D F C E G H Figura 4: Braquetes linguais 2D; A) Duplo Médio; B) Duplo Grande; C) Simples Estreito; D) Duplo Médio com gancho gengival; E) Duplo Médio com gancho em T; F) 2D Plus; G) MiniAnt; H) Tubo Molar. Fonte: Moro et al. (2012). 3.3 Resistências ao Cisalhamento Kishimoto, Junqueira, Nouer (2007), avaliaram in vitro a resistência ao cisalhamento de braquetes de Ortodontia lingual das marcas Ormco e American Orthodontics fixados à cerâmica dental após ciclagem térmica. As suas variáveis foram realizadas em braquetes novos, reciclados com jato de óxido de alumínio 50μm e aplicação ou não de silano. A remoção da resina residual dos braquetes foi 20 feita com jatos de óxido de alumínio, a recolagem dos braquetes reciclados foi realizada da mesma forma como efetuada na colagem dos braquetes novos. Após a colagem, os corpos-de-prova foram armazenados, ciclados termicamente e submetidos ao ensaio de resistência ao cisalhamento como na fase inicial. Amostras representativas de cada braquete antes e após a reciclagem foram analisadas por MEV, usando o equipamento LEO Elétron Microscopy (Texas Instruments) (Fig.5 e 6). Os resultados do jateamento com óxido de alumínio foram estatisticamente superiores aos braquetes novos, para os dois tipos de braquetes. A aplicação do silano aumentou a resistência da união cerâmica/braquete para os braquetes novos e reciclados de ambas as marcas. Figura 5: A.) Aspecto fotomicrográfico (MEV) da malha do braquete (Ormco) novo (aumento de 50 vezes); B.) Após reciclagem com jato de óxido de alumínio 50 μm (aumento de 50 vezes); C.) Jato de óxido de alumínio 50 μm (aumento de 150 vezes). Fonte: Kishimoto et al. (2007). Figura 6: A.) Aspecto fotomicrográfico (MEV) da malha do braquete (American Ortodontics) novo (aumento de 50 vezes); B.) Após reciclagem com jato de óxido de alumínio 50 μm (aumento de 50 vezes); C.) Jato de óxido de alumínio 50 μm (aumento de 150 vezes). Fonte: Kishimoto et al. (2007), 21 Imakami et al. 2011 avaliaram a resistência ao cisalhamento de braquetes metálicos (American Orthodontics) utilizados na técnica lingual, colados em facetas de cerâmica. Foram utilizados 40 corpos de prova divididos em quatro grupos de 10, de acordo com o material de colagem e do preparo da porcelana: Grupo I - resina Sondhi Rapid-Set e ácido fluorídrico; Grupo II – resina Sondhi Rapid-Set e óxido de alumínio; Grupo III - resina Transbond XT e ácido fluorídrico; e Grupo IV - resina Transbond XT e óxido de alumínio. O teste de cisalhamento foi realizado por uma máquina de ensaios Kratos à uma velocidade de 0,5mm/min. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente e demonstraram diferença significativa entre os grupos I (2,77MPa) e IV (6,00MPa), e entre os grupos III (3,33MPa) e IV. Concluíram que a colagem de braquetes da técnica lingual em superfície de cerâmica foi mais resistente ao cisalhamento com o uso de óxido de alumínio associado às duas resinas utilizadas neste estudo, porém a resina Transbond XT apresentou maior resistência que a Sondhi Rapid-Set. 3.4 Vantagens e Desvantagens Echarri em 2006 estudou sobre o diagnóstico da ortodontia lingual, como fatores periodontal, gengival, dentário e esquelético. Na seleção dos pacientes, a maioria das más oclusões pode ser tratada com ortodontia lingual, mas alguns casos são mais favoráveis do que outros. De acordo com o autor, os casos favoráveis são: ● Apinhamento leve dos incisivos com mordida profunda anterior. ● Superfícies linguais uniformes sem preenchimentos, coroas, ou pontes. ● Boa saúde gengival e periodontal. ● Padrão I, Classe I. ● Padrão Mesocefálico leve / moderado e padrão esquelético braquicefálico. ● Pacientes sem comprometimento de abertura bucal. Os casos desfavoráveis são: ● Padrão esquelético dolicocefálico. ● Casos de ancoragem máxima, se não forem tratados com microimplantes. ● Dentes curtos, desgastados ou superficies linguais irregulares. 22 ● Presença de múltiplas coroas, pontes e restaurações grandes. ● Pacientes com capacidade limitada na abertura bucal (trismo). Nas considerações periodontais e gengivais, o paciente deve ter um periodonto saudável e deve ser capaz de manter um nível elevado de higiene bucal. Nas considerações dentais, quando se utiliza a técnica lingual, requer especial atenção à presença de coroas, pontes, restaurações e superfícies metálicas ou de porcelana. Na Ortodontia Lingual nos casos de Classe I, o tratamento é mais rápido, no entanto, deve-se observar e avaliar a rotação posterior da mandíbula que pode transformar um caso de Classe I em Classe II, pacientes que apresentam postura de oclusão errada, portanto, deve ser avaliada com cuidado a relação cêntrica verdadeira. As Classes II e III esqueléticas, são tratadas como má oclusões que podem ser corrigidas com extrações e intervenção dos elásticos intermaxilares, como auxiliares de compensação. Nos casos cirúrgicos, o planejamento, diagnóstico e tratamento são realizados da maneira usual, no entanto, na fase pré-cirúrgica, o tratamento ortodôntico deve ser minimizado em relação às más oclusões para minimizar o tempo de tratamento pós-cirúrgico ortodôntico. O paciente deve ser consultado sobre a possibilidade de colagem de braquetes vestibulares pouco antes da cirurgia para auxiliar na fixação pós-cirúrgica. Concluíram que a ortodontia lingual é uma técnica que, como tal, está sujeita a todos os princípios que regem a seleção adequada dos pacientes e um diagnóstico correto. As dificuldades de higienização do paciente de Ortodontia Lingual parecem não ser muito diferentes dos pacientes com aparelho vestibular. Assim, as instruções de higienização, após a colocação do aparelho, são de grande importância e mostram-se bastante eficientes tanto em pacientes com aparelho vestibular quanto lingual. No entanto, até o presente momento, não existe uma escova dental fabricada especialmente para pacientes de Ortodontia Lingual. Algumas pesquisas indicam o uso de escovas com cabeça menor e menos tufos, mostrando uma boa eficiência de escovação e mantendo a saúde periodontal (Galvão, et al. 2008). 23 3.5 Técnicas de Montagem e Colagem Galvão, Maltagliati e Bommarito (2006) descreveram a montagem dos braquetes linguais, sistemas CLASS system e MBP (Mushroom Bracket Positioning), que fazem uso de um setup de diagnóstico construído em modelos articulados, demonstraram uma modificação na técnica de confecção de matrizes individuais de transferência, empregando-se polímero de etileno-vinil acetato termoplástico. No sistema CLASS, realizaram o setup nos modelos obtidos, com todas as características ideais de torque, angulação e posicionamento dentário que se deseja ao final do tratamento, escolha do tamanho do arco, foto polimerização nas bases da montagem no setup e montagem do modelo no posicionador (Figura 7). O sistema permite uma individualização, com o posicionamento dos dentes da maneira ideal, levando em conta discrepâncias anatômicas da superfície lingual dos dentes. Os equipamentos que montam os braquetes diretamente nos modelos de má oclusão (TARG, Slot-machine) utilizam valores pré-determinados de torque e angulação. No MBP system, após a execução do set-up, os modelos são removidos do articulador, isolados e colocados no posicionador. Para posicionamento dos braquetes, escolhese o arco que melhor se adapta ao contorno interno do modelo, dentre um conjunto de arcos de vários tamanhos, e procede-se à fixação deste arco no braço fixo do MBP, erguendo a haste. Utilizando ligaduras elásticas, os braquetes são presos ao arco e recebem uma boa quantidade de resina fotopolimerizável para fixação no modelo (o suficiente para promover o contato com toda a superfície do dente). Passa-se então ao procedimento de foto polimerização da resina. Para a transferência dos braquetes do modelo de setup para o de má oclusão, os dentes são recobertos individualmente com resina duralay, de forma a confeccionar um guia de posicionamento, pela técnica do pincel (Figura 8). 24 Figura 7: CLASS system. A) Setup confeccionado com torque, angulação e posicionamento. Ideais dos dentes. B) Escolha do tamanho do arco. Fonte: Galvão et al. (2006). Figura 8: MBP system. A) escolha do arco, B) colocação da resina, C) guias confeccionados, D) após a transferência para a má oclusão, o guia de resina e removido, E) Guia de transferência de silicone. Fonte: Galvão et al. (2006). 25 Geron e Romano, em 2001, apresentaram algumas técnicas com a finalidade de promover uma solução aos problemas de posicionamento dos braquetes por lingual, como as variações anatômicas e biológicas, para evitar as recidivas tissulares e as deficiências mecânicas dos aparelhos ortodônticos edgewise préajustados. Apresentaram que, no sistema CLASS, os braquetes são aderidos a um modelo de setup ideal do caso, onde no modelo é mais fácil determinar a posição correta do braquete. No sistema TARG os braquetes são aderidos diretamente ao modelo sem a necessidade do uso do setup (e um setup virtual) onde cada dente tem orientação e posição no espaço desejado. O sistema KISS inclui a fabricação de um modelo de setup ideal com novos instrumentos desenhados por um técnico e um clínico para avaliação do modelo de setup, um indicador de modelo setup, e um indicador oclusal. O Lingual Braquet Jig (LBJ) é uma técnica de uma coleção de jigs, desenhados para manter os braquetes linguais no slot e posicioná-los na superfície dos dentes, onde pode ser por adesão direta ou indireta. O sistema Bending Art System (BAS) é uma técnica para a fabricação dos fios linguais individualizados e realizar dobras controladas por programas computadorizados, neste método é requerido um setup ideal de um modelo do paciente, os braquetes são aderidos no modelo setup e a posição dos slots dos braquetes é determinada por BAS, assim são utilizadas placas de medição de aço inoxidável inseridos nos slots dos braquetes. O desenho dos fios é confeccionado passivamente e adaptados aos braquetes mediante a utilização de placas individuais para a cimentação indireta. Concluíram que todos os procedimentos têm embasamento nos princípios das técnicas vestibulares e em todosossistemas sãofabricadosbasesindividualizadasde suportes para cada dente considerando a anatomia e suas variações. Prieto et al. (2005), abordaram uma modificação para a transferência dos braquetes do modelo de setup para o modelo inicial na montagem do aparelho. Algumas vantagens desta técnica em relação à técnica convencional do Class System também são evidenciadas. Este sistema consiste principalmente na confecção dos modelos de setup (montados em oclusão ideal) para o posicionamento dos braquetes, os mesmos são transferidos para o modelo inicial para a confecção da moldeira de transferência para colagem indireta na boca, permitindo que esta seja feita de forma setorizada, o que acarreta menor tempo clínico. Os procedimentos sequenciais de montagem do aparelho lingual, nesta metodologia empregada são: 26 A) Confecção dos modelos de setup, montagem em articulador semi-ajustável; B) Confecção do arco lingual ideal (Figura 9); C) Posicionamento dos braquetes no modelo de setup; D) Transferência dos braquetes do modelo de setup para o modelo inicial (figura 10); E) Confecção e preparo da moldeira de transferência para colagem indireta (figura 11); F) Preparo do dente para a colagem indireta. Figura 9: Braquetes ligados no arco lingual ideal. Fonte: Geron e Romano, em 2001. Figura 10: Modelo superior após a transferência dos braquetes e fixação com cera pegajosa. 27 Fonte: Geron e Romano, em 2001. Figura 11: Moldeira de transferência pronta para a colagem indireta. E fotografia oclusal superior após colagem indireta. Fonte: Geron e Romano, em 2001. Galvão et al. (2008), analisaram por meio de um questionário respondido por 30 pacientes em início de tratamento divididos em dois grupos: Grupo 1, constituído por 11 pacientes com idade média de 21 anos e quatro meses, que receberiam aparelho fixo lingual; e Grupo 2, constituído por 20 pacientes, com idade média de 25 anos e um mês, que iriam receber aparelho fixo vestibular. Um mês após a colocação completa do aparelho, inclusive com arcos, os pacientes responderam a um questionário de 15 questões visando sobre os problemas estéticos, fonação, oclusão e escovação dos dentes, desconfortos na língua, bochechas, gengivas e lábios. Observaram que, com relação à fonação, 73% do grupo 1 deram resposta desfavorável e 27% ainda não haviam se adaptado após 28 dias (Tabela 1). Já 85% dos pacientes do grupo 2 deram resposta favorável na adaptação. Injúrias à língua foram de 9,09% considerando insuportáveis. As queixas de maior relevância foram quanto à higienização e não houve uma diferença importante na adaptação dos aparelhos para os demais fatores avaliados. 28 Tipo de Desconforto Grupo1 - Lingual Grupo2 – Vestibular P Estético Língua Bochecha Lábios Gengiva Favor. 100 % 27% 91% 100% 55% Desfav. 0% 73% 9% 0% 45% Favor. 70% 95% 75% 80% 70% Desfav. 30% 5% 25% 20% 30% 0,0658 0,0002 0,3826 0,2693 0,4524 Alimentos Alimentos duros Alimentos macios Fonação Higienização Dif. Acesso escova Dif. Remover restos Sangram. Gengival Dif. Uso fio dental. 0% 75% 27% 45% 54% 9% 55% 45% 100% 25% 73% 55% 45% 91% 45% 55% 10% 55% 85% 60% 65% 50% 60% 55% 90% 45% 15% 40% 35% 50% 40% 45% 0,5289 0,4232 0,0043 0,4775 0,7054 0,0472 1,0000 0,7160 Tabela 1: Respostas obtidas no questionário em porcentagem de respostas favoráveis e desfavoráveis com resultado estatístico. Fonte: Galvão et al. (2008). Thurler et al. (2008), apresentaram uma técnica de colagem indireta dos braquetes linguais, o sistema TMF de colagem indireta; utilizaram o método Class modificado para colagem dos braquetes nos modelos de gesso e sua confecção das bases de resina individualizadas ou Pads uniformizando a altura e a distância entre as faces vestibulares e linguais de todos os dentes. Segundo o autor, este sistema apresentou vantagens laboratoriais e clínicas em relação a outros sistemas, pois permite a visualização dos braquetes durante a colagem e facilita a remoção do material de colagem somando uma estabilidade das guias de colagem que podem ser reaproveitados em caso da necessidade de recolagem dos braquetes. 3.6 Procedimentos Laboratoriais Vieira et al. (2009), indicaram que a etapa mais importante para o sucesso da técnica lingual é o posicionamento laboratorial dos braquetes no modelo, já que a colagem é realizada de maneira indireta. Descreveram cinco sistemas de colagem indireta: C.L.A.S.S. System, Hiro System, M.B.P., T.A.R.G. System e INCOGNITO. Nos C.L.A.S.S. System, Hiro System e M.B.P. são necessárias confecções de modelos de setup; no sistema T.A.R.G. permite-se realizar um “setup” virtual, sema 29 necessidade de cortar os dentes e montá-los em cera, usando apenas um modelo de má oclusão. O técnico laboratorial registra as medidas de torque, angulação e altura. O INCOGNITO baseou-se em três princípios: 1º Base do braquete grande para melhorar a adesão; 2º Braquetes pequenos para induzir menor efeito de alavanca durante a mastigação e 3º Qualidade do modelo e da colagem indireta. A reprodução do modelo é feita num scanner 3D virtual para a construção de um braquete individualizado. Cal-Neto et al. (2005), descreveram uma técnica de posicionamento dos braquetes. Um recurso disponível para montagem é o “Plain Wire Mushroom Bracket Positioner” (PW-MBP), que permite o uso de arcos parabólicos durante o tratamento, eliminando a necessidade de dobras entre os caninos e pré-molares. São confeccionados os modelos (Figura 12) e posteriormente o setup ortodôntico, sendo que o primeiro passo será a escolha da lâmina ideal (Figura 13). Deve-se proporcionar a menor distância possível da base dos braquetes até as superfícies dentárias; serão modelados os Pads maximizando a adaptação da superfície lingual (Figura 14), e indicados os procedimentos para colagem indireta. Uma das grandes vantagens proporcionadas por este novo posicionador se refere à confecção dos arcos, pois a escolha da lâmina será a base da elaboração de um formato idêntico para serem confeccionados os arcos em aço inoxidável. Nos casos onde arcos em outras ligas, tais como Níquel-titânio ou Beta-titânio se fazem necessários, eles podem ser adquiridos comercialmente. A colagem é iniciada pelos dentes posteriores, e só após esta, os dentes anteriores (Figura 15), o arco inicial então é amarrado aos braquetes. Figura 12: Moldagem superior em silicone de adição, modelo vazado para início da confecção do setup. Fonte: Cal-Neto et al. (2005). 30 Figura 13: A) Escolha da lâmina mais adequada para o arco dentário no setup. B) Posicionamento dos braquetes nas superfícies linguais dos dentes. Fonte: Cal-Neto et al. (2005). Figura 14: A) Braquetes recobertos com resina flexível fotopolimerizável. B) Caps individualizados para cada dente. Fonte: Cal-Neto et al. (2005). Figura 15: Arco inicial amarrado aos braquetes. Fonte: Cal-Neto et al. (2005). 31 3.7 Tratamentos ortodônticos e suas características clínicas Gandini Junior et al. (2008), apresentaram um caso clínico de uma paciente portadora de má oclusão de Classe II de Angle, cujo plano de tratamento envolvia apenas a utilização de Ortodontia Lingual como recurso ortodôntico e estético. A paciente GM apresentava um desvio do mento para o lado esquerdo, terço inferior da face reduzido, selamento labial competente e adequada exposição dos incisivos ao sorrir. Em uma vista intrabucal, apresentava desvio da linha média inferior para a esquerda, mordida profunda e uma má oclusão de Classe II subdivisão esquerda completa. O plano de tratamento indicado na primeira fase foi um aparelho Pendulum com o efeito colateral de vestibularização dos dentes anteriores controlado pelo uso de elásticos de Classe II e aparelho extrabucal. Em uma segunda fase, foi realizada a montagem do aparelho lingual. Os braquetes superiores anteriores apresentavam um batente de mordida que permitiu a desoclusão posterior pelo contato dos incisivos inferiores, facilitando assim a correção da mordida profunda e a extrusão dos dentes posteriores. A fase de finalização com o tratamento ativo foi completada depois de 30 meses. Durante a fase de contenção, também houve a preocupação de se utilizar dispositivos que apresentassem características estéticas. O aparelho de eleição foi a placa de Hawley modificada com o fio QCM para a arcada superior e, para o arco inferior, foi confeccionada uma barra 3 x 3. Curiel & Geron em 2004, relataram um caso clínico em um paciente de 27 anos, masculino com Classe III esquelética e apinhamento. O paciente recusou submeter-se a qualquer procedimento de cirurgia ortognática e solicitou que um aparelho ortodôntico invisível fosse usado. Optaram pelo tratamento com Ortodontia Lingual, com extração de ambos os primeiros pré-molares inferiores. O exame intraoral revelou oclusão de Classe III. Foi usado o aparelho lingual Ormco com suportes 0.018”x0. 025” de canino a canino e slot de 0.022” x 0.028” para os dentes posteriores, utilizando a técnica indireta Lingual Bracket Jig (LBJ) (Silam), nivelamento e alinhamento comaço 0.016” x 0.022” fio de aço para fechar espaços residuais, sendo que todos os dentes foram amarrados com ligaduras de aço. Na fase de finalização utilizaram fios TMA 0.0175” x 0.0175” para curvas de acabamento e torque lingual de raiz em ambos incisivos laterais. A remoção do arco superior foi realizada após 12 meses de tratamento, enquanto que o tratamento do 32 arco inferior continuou. A contenção foi feita com fio twist flex nos incisivos de lateral a lateral e com alinhadores móveis, entregues ao paciente para utilização noturna. Os resultados do tratamento demonstraram uma melhora significativa no sorriso do paciente e no perfil Classe III, mas ainda mento saliente comprometendo o resultado relativo ao perfil prognata do paciente. Prieto em 2006 apresentou a evolução de um caso clínico de ortodontia lingual. O paciente apresentou padrão de crescimento mesofacial, má oclusão Classe I de Angle, suave atresia dos arcos dentários, molares inferiores inclinados para lingual, incisivos centrais superiores excessivamente verticalizados e extruídos, mordida profunda e queixa de disfunção nas articulações temporomandibular. Foi instalado aparelho lingual da marca ORMCO (7a geração), sendo primeiramente realizada a colagem no arco superior. Após 15 dias foi instalado o aparelho no arco inferior. Para o sistema de transferência, foi realizado o Sistema Class. A sequência de fios tanto para o arco superior como para o inferior foi 0.015 “Respond; 0,016” Niti 0.016” de aço; 0.016” x 0.022” D-Rect. 0.016" x 0.027" TMA. O caso foi encerrado dentro das expectativas no prazo de 24 meses. Concluíram que a eficiência do sistema lingual e suas principais indicações e vantagens comprovaram a sua eficiência no tratamento da mordida profunda. 33 4 DISCUSSÃO Nas últimas décadas a procura do tratamento ortodôntico por pacientes adultos se intensificou no Brasil, tornando-se um grande aliado nos tratamentos das más oclusões (Damian, 2006). Com o desenvolvimento do aparelho lingual por Craven Kurz, na década de 70 em Los Angeles, modificou-se o braquete convencional para que estes fossem usados na fase lingual (Ferreira, et al. 2010). A técnica do tratamento ortodôntico lingual está atualmente ganhando maior visibilidade no meio atual da ortodontia (Vieira et al. 2009, Kairalla et al. 2010), representando uma importante opção de tratamento de pacientes adultos, principalmente no que diz respeito à estética (Thurler et al. 2008), aumentando as perspectivas de muitos pacientes que desejam ser tratado com aparelhos invisíveis (Prieto et al. 2005, Eto, 2008). A estética é um dos objetivos prioritários do tratamento ortodôntico, permitindo a satisfação da estética facial do paciente (Geron et al. 2001, Gandini Jr. et al. 2008). O fato dos braquetes posicionarem-se na superfície lingual permite que o ponto de aplicação de força esteja mais próximo do centro de resistência, maximizando o potencial da movimentação dentária induzida, o que se traduz em resultados clínicos atingidos mais rapidamente e com significativo controle durante a mecânica (Gimenez, 2011). O sucesso da colagem requer uma atenção cuidadosa a três componentes essenciais, tais como a superfície do dente e o seu preparo, o desenho da base do braquete e o agente de união (Moro et al. 2012), tornando-se um dos requisitos básicos no que diz respeito à seleção do paciente, tomando em consideração o diagnóstico durante o tratamento das más oclusões (Echarri, 2006). A morfologia irregular da superfície lingual cria a necessidade da individualização da base dos braquetes (Macedo et al. 2009) tornando-se assim uma deficiência da técnica, bem como a ação da força mastigatória, que pode ser responsável pelo descolamento dos acessórios (Kishimoto et al. 2007). Assim o setup passa a ter um papel importante e crítico no sucesso da técnica lingual (Calneto et al. 2005). É necessária a observação correta dos pontos de contato, inclinações axiais corretas, linhas médias corrigidas e coincidentes, relação normal dos planos inclinados oclusais, relação de molares e caninos, curva de Spee nivelada, adequada curva de Wilson, sobremordida e sobressaliência normais, quantidade de movimentação de molares para mesial ou distal (Prieto et al. 2005). 34 A transferência dos braquetes do modelo de setup para o modelo de má oclusão é feita com recobrimento dos dentes com bases individualizadas denominadas PADs como referências de guias de posicionamento (Galvão et al. 2006), as bases são reproduções exatamente sobre a anatomia dental, que estão perfeitamente encaixadas nos dentes onde são confeccionadas numa moldeira de transferência com silicona fluida ou densa para uma boa fotopolimerização da colagem dos braquetes (Vieira et al. 2009), determinando assim a posição dos braquetes da coroa dos dentes. Entre as vantagens temos a estética, que pode impedir o aparecimento dos braquetes, e acessórios, evitando assim um comprometimento no perfil do paciente, já que não altera o posicionamento dos lábios (Firmiano, et al. 2006). Como uma das desvantagens tanto na ortodontia lingual como na vestibular, sentem algumas dificuldades de adaptação no início do tratamento, que gradualmente desaparece no primeiro mês. Os locais de desconforto são diferentes, as injúrias como na língua são maiores nos pacientes com braquetes linguais e na bochecha e áreas dos lábios nos de braquetes vestibulares. A fonação é o maior problema da adaptação na ortodontia lingual e o período de adaptação é por volta de quatro semanas (Galvão et al. 2008). Para a adesão de braquetes à superfície de cerâmica com o uso de agentes adesivos é importante considerar a aplicação do silano, onde os melhores resultados foram obtidos usando a combinação de condicionamento ácido com ácido fluorídrico da cerâmica/silano/resina composta (Kishimoto. 2007). Esse fato impõe a necessidade de estudos relacionados à colagem de braquetes ortodônticos sobre a superfície de cerâmica na face lingual. Embora a literatura apresente diferentes pesquisas sobre colagem de braquetes na superfície de cerâmica, seus resultados foram baseados na técnica de colagem direta na superfície vestibular (Imakami et al. 2011). O sistema apresenta vantagens laboratoriais e clínicas em relação a outros sistemas, pois permite a visualização dos braquetes durante a colagem, facilita a remoção do excesso do material de colagem (Thurler, et al. 2008), já que a colagem é realizada quase que exclusivamente de maneira indireta (Vieira, Salla e Eto, 2009). 35 5 CONCLUSÃO Por meio desta revisão de literatura, concluiu-se que a técnica de Ortodontia Lingual: É uma alternativa para tratamento de pacientes com exigência estética, pois é uma técnica considerada invisível. A técnica apontada com um correto diagnóstico e planejamento seria uma forma válida e específica para o tratamento ortodôntico, desde que sejam consideradas suas vantagens e desvantagens. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAL-NETO, JP; MATTOS, AM; MOURA, PM; RIBEIRO, D. A técnica do arco reto em Ortodontia lingual com o uso do PW-MBP. R Clin Ortodon Dental Press, v.4, n.3, p.73-77, jun./Jul., 2005. CURIEL, B.; GERON, S. 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