1 INCORPORAÇÃO AO SERVIÇO MILITAR EM ORGANIZAÇÃO MILITAR NÃO OPERACIONAL: A VIDA DO SOLDADO NA CASERNA Clarissa da Silva Fialho1 Resumo: O presente trabalho tem como objetivo a compreensão dos aspectos psicológicos e sociais envolvidos na Incorporação ao Serviço Militar Obrigatório, a partir de uma abordagem qualitativa. Considerando as particularidades da rotina militar, busca-se verificar de que forma se processa a adaptação do recruta ao ambiente militar, assim como identificar quais são os sentimentos e principais dificuldades enfrentadas pelos soldados por ocasião da vivência na caserna. Considerando o enorme contingente de jovens que incorporam ao Exército, torna-se particularmente instigante o desafio de conhecer o universo subjetivo do soldado, de forma a avaliar as possíveis contribuições da psicologia nesses casos. Para tanto, o instrumento utilizado constituiu-se em uma entrevista semi-estruturada aplicada aos soldados do efetivo variável, incorporados na Escola de Administração do Exército. Os dados coletados foram analisados e interpretados de acordo com o método fenomenológico. A partir desse estudo, foi possível perceber que a adaptação do recruta à vida militar é um processo difícil e que ser soldado representa a superação de obstáculos, bem como um aprendizado constante. Palavras-chave: Serviço Militar, Incorporação, Adaptação Abstract: The present paper has as a purpose the comprehension of the psychological and social aspects involved in the Incorporation into the obligatory Military Service, from a qualitative approach. Considering the particularities of the military routine, the form that the recruit gets adapted to the military environment, as well as the feelings and main difficulties faced by soldiers are searched out on the occasion of the living quarters. Considering the large contingent of youths that incorporate into the Army, the challenge of being acquainted with the subjective universe of the soldier, becomes an instigation, in a way of evaluating the possible contributions of psychology in these cases. Therefore, the instrument used constituted a semistructure interview applied to the soldiers of the changeable strength, incorporated in the School of Administration of the Army. The collected data were analyzed and interpreted, according to the phenomenological method. It was possible to perceive from this study that the adaptation of the recruit to the military life is a difficult process and that being a soldier represents to overcome obstacles, as well as a constant learning. Keywords: Military Service, Incorporation, Adaptation. __________________ 1 Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Franciscano – RS. e-mail:[email protected] 2 1 Introdução O presente trabalho tem como propósito a compreensão das implicações psicológicas e sociais relacionadas à Incorporação ao Serviço Militar Obrigatório, assim como se propõe a investigar sobre como se estrutura a adaptação do recruta com a rotina e com as práticas inerentes ao ambiente militar. Conforme o site do Ministério da Defesa (2007) “a Incorporação é o ato de inclusão do conscrito em uma Organização Militar da Ativa das Forças Armadas”. É importante destacar que assim que o jovem Incorpora, se dá início uma série de atividades destinadas a familiarizá-lo com o ambiente militar. É nesse contexto que se introduz a prática controlada de atividades físicas, as noções referentes aos conceitos de hierarquia e disciplina, bem como a adaptação aos horários rígidos (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2007). Dessa forma, a pesquisa sobre o tema proposto justifica-se pelo fato de que a rotina militar tem algumas particularidades que a distinguem claramente da vida civil. Tais características podem levar o soldado a enfrentar dificuldades de adaptação a esse novo ambiente, bem como podem provocar um excessivo desgaste físico e mental. Sendo assim, torna-se particularmente interessante, sob o ponto de vista da psicologia, conhecer o universo do soldado, uma vez que milhares de jovens incorporam todos os anos em diversas Organizações Militares espalhadas por todo o país. Cabe lembrar que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 143, assim como a Lei do Serviço Militar estabelecem a obrigatoriedade do Serviço Militar. É esta lei e seu respectivo Regulamento que regulam os direitos e deveres de todos os cidadãos brasileiros em relação à prestação do Serviço Militar Obrigatório (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2007). Logo, é por meio desse sistema democrático e representativo que o Exército consiste numa grande escola para a juventude brasileira (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2007). Por esse motivo, considera-se fundamental um estudo mais aprofundado sobre quais são as implicações psicossociais envolvidas nesse processo, com o intuito de avaliar as possíveis contribuições da psicologia. Além disso, considera-se importante o estudo de tal temática, uma vez que as pesquisas sobre como o soldado se sente e vivencia o processo de Incorporação ao Serviço Militar são escassas. Logo, esse trabalho tem como objetivos específicos: identificar as principais dificuldades, angústias e medos vivenciados pelos soldados; investigar as expectativas destes em relação ao Serviço Militar bem como os sentimentos despertados em decorrência do ingresso na caserna. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo com os soldados incorporados no ano de 2007, do efetivo variável, na Escola de Administração do Exército. Utilizou-se uma abordagem qualitativa e como instrumento de coleta de dados uma entrevista semi-estruturada, com o intuito de captar a experiência subjetiva de ser soldado. Espera-se que o presente trabalho contribua para a Psicologia como ciência e profissão e estimule a produção de outros estudos sobre o tema. Acredita-se que de posse de uma avaliação das necessidades do efetivo de soldados incorporados, podese definir uma linha de ação psicológica que leve em consideração aspectos relacionados à adaptação, aos atributos da área afetiva e aos níveis de satisfação e motivação. É consenso que um soldado equilibrado emocionalmente contribui de forma diferenciada para a Força bem como obtém um maior proveito do Serviço Militar desenvolvendo e incorporando uma série de valores que lhe permitirão levar a bom termo sua missão de soldado e sua cidadania. 3 2 Revisão de Literatura O Serviço Militar Obrigatório surgiu no Brasil desde quando vigorava o Sistema de Capitanias Hereditárias, com o intuito de preservar a posse da terra contra ataques de estrangeiros e de índios. No Império e após a Independência continuouse pregando a obrigatoriedade deste Serviço (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2007). Porém, o Serviço Militar Obrigatório só veio a efetivar-se após campanha cívica de Olavo Bilac, patrono do Serviço Militar. Dessa forma, foi somente após diversas leis e decretos que a lei do Serviço Militar foi finalmente promulgada no ano de 1964 (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2007). Conforme esta Lei, o Serviço Militar consiste no exercício de atividades específicas desempenhadas nas Forças Armadas, que são constituídas pelo Exército, pela Marinha e pela Aeronáutica. Apesar da obrigatoriedade deste Serviço, os alistados antes de serem convocados passarão por uma comissão de Seleção, que os avaliará quanto aos aspectos físicos, psicológicos e morais. Na verdade, o processo envolvido na prestação do Serviço Militar passa por uma série de fases, que vão desde o período de alistamento até a Incorporação propriamente dita (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2007). Dessa forma, o processo como um todo tem início no período do alistamento. Assim, o jovem no ano em que completa 18 anos deverá comparecer a uma Junta de Serviço Militar para se alistar, quando então receberá seu Certificado de Alistamento Militar. A seleção constitui-se no passo seguinte a ser cumprido. Nesse momento, os alistados são avaliados por comissões fixas e volantes. Ao término da seleção, aqueles que forem considerados inaptos serão dispensados do Serviço Militar. Os considerados aptos, por sua vez, irão para a fase da designação, fase esta em que o convocado toma conhecimento da Organização Militar em que irá servir. Por fim, o processo encerra-se com a incorporação do conscrito em uma Organização Militar (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2007). Ao ingressar na caserna o soldado do Efetivo Variável vivenciará um período de habilitação para as funções militares, denominado Período de Instrução Individual. Esta atividade tem como objetivo geral o desenvolvimento da formação do caráter militar em prol da adaptação do indivíduo às exigências da vida militar. É considerada de suma importância na formação do soldado, sendo conduzida em duas fases: Fase de Instrução Individual Básica e Fase de Instrução Individual de Qualificação. A primeira fase visa formar o combatente básico, enquanto a segunda tem como objetivo qualificá-lo para uma determinada função (COTER, 2007). A fase de Instrução Individual Básica iniciará as atividades do ano de instrução e se desenvolverá em todas as OM, sendo esta também a fase da instrução em que se dará início à avaliação do caráter militar dos recém-incorporados, levando-se em consideração os seguintes atributos: autoconfiança, coragem, disciplina, cooperação, responsabilidade, entre outros (COTER, 2007). A fase de Instrução Individual de Qualificação, por sua vez, diferencia-se da anterior pelo fato de apresentar como propósito principal qualificar o cabo ou soldado para exercer funções mais específicas e técnicas, fazendo-os ocupar aqueles cargos existentes nas suas Organizações Militares. Cabe ressaltar que conforme o COTER (2007) há nas unidades operacionais, além das fases citadas acima, o preparo da Força para as operações de Garantia da Lei e da Ordem, assim como é desenvolvido um programa de Execução de Adestramento. Já em unidades não operacionais privilegia-se a fase de 4 Instrução Individual Básica em detrimento das demais. É assim, por meio dos programas de instrução militar que o recruta entra em contato com as atividades e fundamentos militares. Para o Exército (2007), a atual configuração do Serviço Militar permite ao país dispor de um sistema de Defesa Nacional capaz de mobilizar reservas para atender situações emergenciais que possam se deflagrar no país. Além disso, o sistema nos moldes atuais auxilia na formação do caráter de muitos jovens que ingressam no Exército, assim como não onera a União com pesados encargos, permitindo o desenvolvimento do país na sua esfera social (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2007). 3 Metodologia Os critérios para definir os sujeitos participantes da pesquisa foram que todos deveriam ser soldados incorporados no ano de 2007, do efetivo variável, na Escola de Administração do Exército. Deste modo, participaram desse estudo soldados desta corporação que concordaram compartilhar suas experiências e sentimentos relacionados à sua Incorporação no Exército e adaptação à caserna. Foram realizadas entrevistas, cuja amostra foi escolhida de forma aleatória. O número de indivíduos entrevistados foi definido a posteriori, conforme o critério de saturação, isto é, à medida que as experiências foram se repetindo, o processo de entrevistas foi dado como encerrado. O instrumento utilizado para a efetivação da pesquisa consistiu em uma entrevista semi-estruturada (ver apêndice A) baseada em um roteiro tópico previamente elaborado, a partir das indicações emergentes na literatura sobre o Serviço Militar Obrigatório. As entrevistas foram realizadas individualmente, na própria Escola de Administração do Exército, sendo que ao início de cada uma delas, foi entregue o termo de consentimento informado (ver apêndice B). Uma vez assinado, dava-se então início às mesmas, que foram gravadas e posteriormente analisadas. O método para análise dos dados escolhido foi o delineamento qualitativo fenomenológico. Buscando-se analisar reflexivamente a experiência dos participantes, os dados coletados foram analisados e interpretados, conforme as sugestões de Ablamowicz (1992). Esta autora propõe 7 passos, descritos a seguir: Descrição Fenomenológica: 1) organização das entrevistas, 2) revisão e identificação dos temas relacionados à experiência que aparecem nos relatos, 3) transcrição das entrevistas; Redução Fenomenológica: 4) agrupamento em categorias conforme os temas, 5) reflexão sobre os temas para descoberta de inter-relações referentes ao objeto da pesquisa; Interpretação Fenomenológica: 6) avaliação dos temas emergentes para chegar a uma descrição fundamental, 7) interpretação do fenômeno estudado contrastando a perspectiva dos informantes com a literatura estudada. A partir da análise das entrevistas pode-se destacar a presença de quatro categorias temáticas: Expectativas frente ao Serviço Militar Obrigatório, Adaptação à vida militar, Como é ser Soldado? e Percepções sobre a Experiência no Exército. 4 Resultados e Discussão 4.1 Expectativas frente ao Serviço Militar Obrigatório A presente categoria, denominada “Expectativas frente ao Serviço Militar Obrigatório” refere-se àquilo que o jovem esperava ou imaginava encontrar no Exército quando de sua Incorporação ao mesmo. A partir dos relatos, pôde-se visualizar o quanto a idéia que o jovem tem do Exército, ao alistar-se, choca-se com a realidade que ele se defronta ao ingressar em Organização Militar não operacional. 5 O jovem no seu período de conscrito idealiza o Exército como o local onde terá a oportunidade de desenvolver uma série de atividades de risco e aonde também aprenderá uma extensa gama de técnicas voltadas para o combate. Esse aspecto de risco envolvido na tarefa de se tornar um soldado do Exército Brasileiro torna a experiência de Incorporação muito mais interessante, uma vez que na adolescência é comum sentir-se atraído por atividades mais perigosas. Sendo assim, a partir dos depoimentos, percebeu-se claramente o quanto o jovem tende a superestimar as qualidades envolvidas no treinamento para o combate negligenciando os pilares do Exército, que são a disciplina e a hierarquia. Assim, a rigidez característica da caserna não é levada em consideração, bem como os longos períodos destinados a manutenção (faxina) e segurança do aquartelamento. Eis algumas falas que exemplificam a idéia citada acima: “Eu imaginava mais treinamento de guerra, de tiro, treino para o combate. Eu me senti decepcionado, porque não era isso que eu esperava [...] a gente só faz faxina aqui” (Entrevistado três) “A maioria pensava que era uma coisa, chegou aqui viu que era outra. Pensavam que era mole, alguma coisa assim, se deram mal, aqui é pesado!” (Entrevistado dois) “Eu pensava que era uma coisa, cheguei aqui era outra. Pista de rapel, helicóptero, pular, muita adrenalina, mas aqui é só faxina, faxina e serviço” (Entrevistado quatro) Sem dúvida, tais expectativas refletem-se no processo de adaptação que se torna mais complexo à medida que aumenta a discrepância entre aquilo que é esperado e aquilo que é realmente vivenciado na caserna. 4.2 Adaptação à vida militar A categoria intitulada “Adaptação à vida militar” refere-se justamente ao modo como se dá a assimilação pelo recruta dos fundamentos e das práticas militares. Cabe ressaltar que esta categoria está intimamente ligada com a anterior, uma vez que o sentimento de decepção intensifica-se quando o jovem se defronta com uma realidade diferente daquela que havia idealizado. A partir da análise das entrevistas, percebeu-se que a adaptação do soldado ao Exército é gradativa. No princípio o recruta apresenta muitas dificuldades para assimilar as implicações envolvidas na vida militar. Os horários rígidos, a carga horária de trabalho extremamente puxada, o cansaço físico resultante da prática intensa de atividades físicas e as pressões psicológicas características do ambiente militar são aspectos que nada tem em comum com a vida de civis que estes jovens levavam anteriormente à Incorporação. “A primeira semana todo mundo pediu a morte, muita ralação, a comida ruim e aí todo mundo ficou azoado aqui dentro, ficou abalado com aquilo, foi terrível o primeiro mês. Depois do campo que melhorou mais, aí ficou mais legal, porque foi dividido por sessão, aí ficou melhor ...” (Entrevistado um) “A gente conversava: ah! O que a gente tá fazendo aqui?, Que saudades de minha vida civil!, Não sabia que era “pau” assim não ...” (Entrevistado três) “No começo me senti bastante pressionado, a educação de casa era bem puxada, mas não dessa forma assim. Às vezes sentia um pouco de medo, muito cansado no começo, era muita instrução, pouco tempo pra gente descansar” (Entrevistado dois) Estas peculiaridades da vida militar e o respectivo ingresso do jovem nesse ambiente extremamente novo geram muita angústia e desconforto, que com o passar 6 dos meses é significativamente minimizado. É assim, de maneira progressiva, que o soldado passa a internalizar a rotina militar, sendo importante lembrar que este processo demanda bastante resistência física e emocional por parte do mesmo. 4.3 Como é ser soldado? A categoria em questão está relacionada aos sentimentos e percepções envolvidos na missão de ser soldado do efetivo variável. Por meio desta categoria, procurou-se conhecer esta experiência na sua profundidade, tanto no que se refere aos aspectos positivos, quanto aos negativos. Através da análise das entrevistas, pôde-se visualizar o quanto o soldado sente que o seu trabalho e esforço não são devidamente reconhecidos pelos seus superiores, o que faz com que se sintam desvalorizados. Além disso, de acordo com as declarações dos entrevistados, ser soldado é conviver diariamente com a possibilidade de ser lançado e punido, na maioria das vezes por motivos julgados irrelevantes. “A punição preocupa, porque fez uma besteira aqui, é 15 dias, 20 dias” (Entrevistado cinco) Ser soldado também é experimentar sentimentos de insatisfação e descontentamento, despertados em função da forma com que são, em alguns momentos, tratados pelos seus superiores. Eis algumas reclamações, que exemplificam a idéia expressa acima: “O soldado não tem valor pra muitos graduados, tem alguns que nos pressionam e deixam a auto-estima lá embaixo [...] me sinto sem graça e às vezes revoltado” (Entrevistado cinco) “Eu me sinto um pouco injustiçado, o soldado não é reconhecido pelo seu superior” (Entrevistado três) “Eu mesmo pensei em desistir, porque sei lá, era muito cobrado” (Entrevistado quatro) Cabe ressaltar que a experiência de ser soldado, na percepção dos entrevistados, também envolve o convívio diário com pressão psicológica e com um desgaste físico significativo. “Pra mim o que pegou foi o cansaço físico” (Entrevistado três) “Alguns sofreram com o psicológico, tem colega que chorou” (Entrevistado três) “Teve dois que pediram pra sair, ou três, não lembro, por não agüentarem a pressão” (Entrevistado dois) “O único problema foi apertação, o psicológico que pesou, bate até medo. O homem pode ser o mais bravo que tem, quando chega aqui vira uma moça, no sentido de obedecer” (Entrevistado cinco) “Porque eles pegando demais no pé, muitas das vezes o compadre fica até maluco se não tomar cuidado” (Entrevistado um) Por outro lado, pôde-se perceber também, que ser soldado é ser forte suficiente para superar todas as dificuldades enfrentadas na caserna. Os participantes desse estudo se descreveram acima de tudo como guerreiros e lutadores, assim como enfatizaram a necessidade de um sistema emocional equilibrado e de uma condição física satisfatória como elementos essenciais para o bom desempenho no Exército. 4.4 Experiência no Exército A categoria denominada “Experiência no Exército” está relacionada aos aspectos positivos elencados pelos recrutas relacionados a sua Incorporação. Percebeu-se, a partir desse estudo, que apesar de todas as adversidades enfrentadas, ingressar no Exército é uma experiência importante na vida dos soldados. 7 Por meio da análise das entrevistas constatou-se que vários valores são desenvolvidos nos recrutas, entre os quais responsabilidade, disciplina, honestidade, coragem, persistência, determinação e respeito. “A responsabilidade da gente aumenta, a gente tá lidando com vidas aqui, com armamento, é muito perigoso” (Entrevistado dois) “Achei bom [...] só ficava em casa fazendo nada, a gente não pode ficar o tempo todo na barra da saia da mãe, a gente não tem nossos pais pra sempre. A gente tem que correr atrás do prejuízo, ajudar eles (Entrevistado quatro) “Aqui você aprende, (Entrevistado dois) se educa” Dessa forma, atributos indispensáveis à formação do cidadão são incentivados e valorizados dentro do Exército, fazendo desta Instituição uma grande escola para os jovens que prestam o Serviço Militar Obrigatório. “Tudo que a gente aprendeu aqui vai servir pra nossa vida lá fora” (Entrevistado quatro) “O Exército me marcou, marcou no sentido positivo. No campo, lá tomando chuva, comecei a me colocar no lugar das pessoas que não tem onde morar ...” (Entrevistado três) amena à medida que o recruta internaliza a doutrina militar. Os relatos contribuíram, acima de tudo, para que se perceba que ingressar na caserna resume-se a experimentar sentimentos contraditórios que vão desde a insatisfação e descontentamento até sentimentos de admiração e orgulho por pertencer a Força. Mais importante do que as dificuldades enfrentadas, foi o peso atribuído aos valores apreendidos no Exército Brasileiro. Constatou-se que para os soldados o Exército é o local onde têm a oportunidade de desenvolver uma série de atributos necessários à formação do seu caráter. Comprovou-se também que o Serviço Militar Obrigatório constitui-se em uma experiência que sempre marcará suas vidas, em decorrência das lições e dos valores adquiridos na Força. “Ser soldado é ser guerreiro, lutador, às vezes amigo, às vezes companheiro, às vezes pressionado e recriminado, mas o soldado às vezes também é admirado. Ser soldado é garantir a segurança, pois é ele que faz a segurança. É se dedicar a uma coisa que a gente enxerga de longe, mas não sabe o que lhe espera, mas quando chega aqui vê uma vida sofrida, por isso tem que ter muita disposição, psicológico muito forte, e uma condição física que resista a bastante ralação” (Entrevistado cinco descrevendo como é ser soldado) 5 Conclusão Referências A partir do presente trabalho pôdese conhecer um pouco mais acerca da experiência de incorporação ao Exército, a partir da perspectiva do próprio soldado. Analisando-se as entrevistas, visualizou-se o quanto a adaptação ao Serviço Militar Obrigatório é um processo difícil, tanto em função das expectativas que o soldado constrói a respeito da Força, como em razão das particularidades do ambiente militar, dando-se especial destaque à rigidez inerente a este sistema. Dessa forma, verificou-se que ser soldado é uma tarefa árdua, que se torna mais ABLAMOWICZ, H. Shame as an interpersonal dimension of communication among doctoral students: An empirical phenomenological study. Journal on Phenomenological Psychology, v. 23, n. 1, p. 30-49, 1992. COTER. Instrução Individual. Disponível em: <http://www.coter.eb.mil.br/1sch/pim/pim %202007/Cap%203.pdf> Acesso em: 22 jul. 2007. 8 EXÉRCITO BRASILEIRO. Serviço Militar. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/02ingr/Servm ili.htm> Acesso em: 23 jun. 2007. MINISTÉRIO DA DEFESA. Serviço Militar. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/servico_militar/ index.php?> Acesso em: 23 jun. 2007. 9 APÊNDICE A – Roteiro para entrevista artigo científico Apresentação: Olá, meu nome é Clarissa Fialho. Sou 1° tenente aluno de psicologia e estou fazendo uma entrevista com os soldados incorporados, do efetivo variável, na Escola de Administração do Exército no ano de 2007. Eu estou querendo saber como é a experiência de ingressar no Exército e como os soldados se sentem em relação à vida na caserna. Eu gostaria de conhecer mais sobre essa situação, para saber como o psicólogo poderia estar auxiliando o soldado na sua ambientação à rotina militar. Como não se conhece muito sobre o assunto, a sua experiência é muito importante, por isso eu gostaria de conversar com você. Você aceita? - Como tem sido a sua adaptação ao ambiente militar? - Você já tinha alguma idéia de como era o Serviço Militar? Você queria servir? Por quê? - Quais são suas maiores dificuldades desde sua Incorporação? Como você procura lidar com elas? - Como você se sente com relação à sua Incorporação ao EB? - Como é o seu relacionamento com superiores? E com os outros recrutas? - O que você mais gosta e o que você menos gosta no Exército? - Como são os períodos de instrução? Quais são os conhecimentos que você tem adquirido aqui na EsAEx? - Quais eram as suas expectativas quanto ao Serviço Militar? - Com relação ao seu comportamento / jeito de ser, você considera que as suas características combinam com o ambiente militar? - O que você pensa dessa sua experiência no Exército? Finalização: Bom, era isso que eu queria conversar com você. Você tem mais alguma coisa para falar que acha importante? Muito obrigada pela colaboração! 10 APÊNDICE B – Termo de Consentimento livre e esclarecido Estamos realizando um estudo com o objetivo de compreender melhor a experiência de ingressar no Exército, como os soldados se sentem ao Incorporar e como é a sua adaptação ao ambiente militar. Para tanto, serão realizadas entrevistas individuais, que deverão ser gravadas para posterior análise. Através deste trabalho, esperamos contribuir para um maior conhecimento sobre como é a vida do soldado, identificando suas principais dificuldades e expectativas, a fim de avaliar as possíveis contribuições da psicologia nesses casos. O estudo não apresenta riscos, sendo que o seu maior inconveniente é o tempo dispensado para a realização das entrevistas. O único benefício para os participantes consiste no fato de os mesmos estarem contribuindo com sua experiência pessoal para uma pesquisa de caráter científico. Pelo presente Consentimento pós-informação, declaro que fui informado, de forma clara e detalhada, dos objetivos e da justificativa do presente Projeto de Pesquisa. Fui igualmente informado: − − − da garantia de receber resposta a qualquer dúvida acerca dos procedimentos e outros assuntos relacionados com a pesquisa; da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar do estudo; as informações registradas em meio digital por mim prestadas serão arquivadas junto ao banco de dados do pesquisador responsável na Escola de Administração do Exército. No caso de maiores dúvidas você pode obter maiores informações com a pesquisadora responsável por este projeto de pesquisa – 1° ten al Clarissa Fialho – através do e-mail clafialho @yahoo.com.br ou do fone: 32058847. Data ___/___/___ Nome e assinatura do voluntário: ______________________________ Assinatura do pesquisador responsável: ______________________________ Assinatura do orientador: ______________________________ Observação: O presente documento, baseado nos artigos 10 e 16 das Normas de Pesquisa em Saúde, do Conselho Nacional de Saúde, será assinado em duas vias, de igual teor, ficando uma em poder do participante e outra com o pesquisador responsável.