ALTERAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE UMA
INDÚSTRIA ARTESANAL PARA UMA PRODUÇÃO
DEDICADA
Edson Augusto Lopes
RESUMO
Atualmente com a globalização as indústrias vem investindo em máquinas e
equipamentos modernos visando a competitividade de seu processo produtivo em
relação a concorrência. Porém muitas indústrias ainda mantém um sistema de
produção artesanal ocorrendo ociosidade de máquinas e uma fabricação com
características de projeto. Estas empresas necessitam desta estruturação para se
manter no mercado evitando fusões e ou aquisições por outras com características
produtivas dedicadas e ou mecanizadas. Diante deste cenário, o presente estudo
tem o objetivo de apresentar uma metodologia de melhoria do processo produtivo,
da qual utiliza-se de técnicas simples e rápidas para análise do sistema de
produção, alteração do arranjo físico e do produto de acordo com as características
necessárias para a competitividade produtiva.
Utilizando-se de um laboratório de marcenaria de uma instituição educacional, o
projeto apresenta as características de uma produção artesanal e paralelamente as
alterações necessárias para uma produção dedicada e ou mecanizada.
Como resultado são apresentados os pontos de melhorias necessários para a
alteração através do método utilizado pelo projeto.
Palavras-chave: Artesanal. Metodologia. Sistema produtivo. Marcenaria. Produção.
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INTRODUÇÃO
Antigamente a fabricação de um mobiliário era feito por alguns
marceneiros (pois possuiam as técnicas necessárias que eram passadas de geração
a geração) e seus auxiliares.
Com o passar dos anos, o advento das máquinas, métodos, técnicas
de fabricação, tecnologia computadorizada, desenvolvimento de novos materiais,
máquinas e equipamentos, entre outros, promoveram uma melhoria e um salto do
modelo produtivo artesanal, representado por baixa quantidade de produção (em
torno de 0 a 10.000 unidades/mês), para um processo dedicado (de 30.000 a
150.000 unidades/mês). (CONTADOR, 2004, pg. 416).
Porém, ainda é comum encontrarmos indústrias cuja produção
mensal é classificada como artesanal, em outras palavras uma micro ou pequena
empresa.
Estas indústrais além de concorrerem entre si no atendimento e
exigência de seus consumidores quanto a qualidade no atendimento, preço,
condições de pagamento, rapidez na entrega, entre outros também concorrem
nestes mesmos requisitos com indústrias que possuem um processo dedicado
(médias e grandes indústrias).
Para contornar esta situação, as micro e pequenas indústrias
(produção artesanal) estão procurando a modernização de seu processo fabril,
através da aquisição de máquinas e equipamentos modernos e automatizados.
Porém, somente adquirir equipamentos modernos para o aumento
da capacidade produtiva, qualidade e redução de custo não é garantia ao fabricante
a obtenção destes fatores competitivos. Neste contexto, alterar o processo produtivo
torna-se fundamental para atingir estes requisitos.
Desta forma, o presente artigo tem por objetivo, apresentar uma
metodologia que permite avaliar e alterar o processo produtivo de uma indústria
artesanal para uma produção dedicada.
Ressalta-se que este estudo está direcionado a empresas que
possuem estrutura física para uma produção dedicada ou acima, mas que ainda
produz de forma artesanal. Para indústrias, cujo maquiário, equipamento, obras
civis, entre outras são características artesanais, não se aplica o presente estudo
pois as mesmas estão limitadas na sua estrutura e não no modelo de fabricação.
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1. PROCESSO PRODUTIVO
Na análise do processo produtivo além da identificação das
necessidades de entrada, tranformação e saída há variáveis de estudo sobre o tipo
de tarefa realizado, o fluxo do processo de fabricação, a variedade e o volume de
produtos processados.
Diante destas variáveis, Slack (2009, pg. 92-93) apresenta os tipos
de processo produtivo com base na operação volume-variedade (ilustração 3). Estes
processos são classificados em projeto, jobbing, lotes, massa e contínuos.
• Processos de projeto: suas características compreendem baixo
volume e alta variedade. As indústrias denominadas “artesanais”
possuem estas característica.
• Processos de jobbing: embora o desenvolvimento do produto
tem característica de projeto, há uma diferenciação em termos de
volume pois apresentam um volume maior em relação ao
processo anterior.
• Processos em lotes: similar ao processo de jobbing, a diferença
deste processo está no fato de haver menor variedades de
produtos e uma certa repetição no processo produtivo.
• Processo em massa: produção em alto volume e variedade
relativamente estreita.
• Processo contínuo: produção por longos períodos e produzidos
em um fluxo ininterrupto. Seus volumes são muito altos e uma
variedade extremamente baixa.
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Alta
Baixo
Diversas/
complexas Intermitente
Baixa
Alto
Variedade
Volume
Processos de
Projeto
Processos de
Jobbing
Tarefas de
processo
Fluxo de
processo
Processos de
Lotes
Processos
em Massa
Repetidas/
divididas
Processos
Contínuos
Contínuo
Ilustração 1 - Tipos de processos produtivos
Fonte: Slack, 2009.
Uma forma de conhecer melhor o processo produtivo é utilizando um
desenho do fluxograma do processo (ilustração 4). Através deste desenho, é
possível identificar tempo do processo, movimentação, distância percorrida,
procedimento realizado e setores ou pessoas envolvidas.
Nº.
01
02
03
04
05
06
Descrição da atividade
Relatório chega
Esperar por processamento
Checar o relatório de despesa
Carimbar e datar o relatório
Enviar dinheiro para o setor
Esperar por processamento
Símbolos
Ilustração 2 – fluxograma de processo
Fonte: Slack, 2009, pg. 105. Adaptado pelo autor.
Tempo
10 minutos
02 minutos
05 minutos
01 minuto
15 minutos
20 minutos
Distância
02 metros
15 metros
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Após conhecer o tipo de processo produtivo e utilizando-se da
ilustração 3, é possível realizar o ajuste no arranjo físico da fábrica.
1.1 ALTERAÇÃO DO ARRANJO FÍSICO FABRIL
Alterar o arranjo físico de acordo com o processo produtivo
necessário para atender os requisitos específicos é importante à empresa, pois
segundo Piazzarollo; Oliveira; Luz; Simeão (2008),
“Mesmo no Brasil, em se tratando de indústrias moveleiras, sempre vem a
idéia de fabricas grandes, bem estruturadas, com profissionais altamente
capacitados. Mas na realidade nem sempre é o que acontece. Muitas
indústrias têm revelado em seu arranjo físico a verdadeira realidade. São
empresas que cresceram aos poucos, sempre fazendo “puxados” para se
adequarem as variações de demanda acabam por ter graves problemas no
fluxo de informações e materiais durante a produção.
Da mesma forma que um processo produtivo possui diferenças em
termos de volume e variedade, o mesmo se aplica ao arranjo físico
Conforme Slack (2009, pg. 184), “os tipos de processo representam
abordagens gerais para a organização das atividades e processos de produção.
Arranjo físico é um conceito mais restrito porém relacionado, já que, de muitas
formas, é a manifestação física de um tipo de processo.”
A ilustração 5 apresenta uma relação entre os tipos de arranjos
físicos e os processos produtivos.
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Alta
Baixo
Baixa
Alto
Variedade
Volume
Processos de
Projeto
Arranjo Físico
posicional Processos de
Jobbing
Arranjo Físico por
processo
Processos de
Lotes
Processos
Arranjo em
Físico
Massa
celular
Processos
ArranjoContínuos
Físico por produto
Ilustração 3 – Relação entre o tipo de processo e o tipo de arranjo físico.
Fonte: Slack, 2009, pg. 184, adaptado pelo autor.
De acordo com a ilustração 5, sua classificação em relação ao
processo produtivo são:
• Layout posicional: é utilizado quando os materiais transformados
são ou muito grandes, ou muito delicados, ou objetariam ser movidos
• Layout por processo: neste tipo de arranjo físico todos os
recursos similares de operação são mantidos juntos. Conforme Moreira (2006, pg.
260), os materiais movem-se de um centro a outro de acordo com a necessidade.
• Layout celular: neste tipo de layout os recursos necessários para
uma classe particular de produtos são agrupados de alguma forma. Nesse arranjo
físico as máquinas são dedicadas a um grupo exclusivo de peças.
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• Layout por produto: neste os recursos de transformação estão
configurados na seqüência específica para melhor conveniência do produto ou do
tipo de produto. Este tipo de arranjo físico é também conhecido como layout em
linha.
Também é necessário associar o processo produtivo e o arranjo
físico com o tipo de produto que será fabricado. De acordo com Moreira (2004, pg.
233),
“Na própria conceituação dos tipos de sistemas de produção é quase
necessário definir algumas características dos produtos a que se destinam,
configurando-se assim uma ligação muito forte entre produto e processo. A
adaptação produto/processo dá-se de forma dinâmica: mudanças no
produto acabam por exigir mudançãs no processo, sob pena de se perder
cada vez mais a eficiência produtiva.”
Desta forma, o produto deve estar adaptado ao tipo de processo e
arranjo físico utilizado.
1.2 MELHORIA DO PRODUTO
Conforme Contador (2004, pg. 416), “o desenho do produto deverá
ser desenvolvido para uma manufatura eficiente... o desenho para a manufatura
deverá ter sempre presentes as quantidades que serão fabricadas de cada
componente. “
A tabela 1, apresenta uma matriz de relação entre o tipo de processo
produtivo e produto.
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PROCESSO
Tabela 1 – Matriz produto/processo
ESTRUTURA DO PRODUTO
Alguns
Vários
Baixo
Volume
poucos
Alto volume
produtos,
volume,
médio, sob
produtos
e alta
volumes
sob
em maior padronização
encomenda
médios
encomenda
volume
Projeto
Construção
de navios
Jobbing
Gráfica
comercial
Lotes
Fábrica de
confecção
Massa
Fábrica de
automóveis
Contínuos
Refinaria de
açúcar
Fonte: Moreira, 2006, pg.234, adaptado pelo autor.
A empresa ao desenvolver o seu produto ou ao melhorar o seu
processo deve estar atenta a este tipo de relação, pois de acordo com Moreira
(2006, pg. 234),
“Mudando-se o produto mas não o processo, vai-se para a direita da
diagonal. Os custos tendem então a aumentar, pois o processo não está
adequado ao produto, e isso força a uma mudança na tecnologia do
processo, para baixo, de volta à diagonal. Por sua vez, mudanças no
processo, para baixo, podem forçar mudanças no produto para aproveitar e
tornar rentável a nova tecnologia”
Além da relação produto – processo, é necessário um estudo de
redução da complexidade do produto para uma melhor utilização. Conforme Slack
(2009, pg. 127), há três formas mais comuns para a redução da complexidade:
a)
Padronização: os produtos de saída possuem características
semelhantes como dimensões, cores, formatos entre outros,
limitando as características do produto a ser comercializado;
b)
Comunalidade: usar elementos comuns nos produtos como
furações, ferragens entre outros, permitindo um estoque menor
de peças e componentes;
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c)
Modularização:
consiste
em
projetar
subcomponentes
padronizados de um produto que podem ser agrupados de
formas diferentes.
2. AMBIENTE PRODUTIVO
A aplicação prática deste projeto visa um ambiente produtivo com
característica “artesanal”, porém com máquinas e equipamentos condizentes a uma
produção dedicada ou acima desta.
Para isto utilizou-se o laboratório de marcenaria existente na
instituição Senai – Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial localizada na
cidade de Arapongas/PR.
Este laboratório possui as características de um ambiente produtivo
moveleiro necessárias para este estudo.
CONCLUSÃO
Através do estudo verifica-se a possibilidade de realizar melhorias
no processo produtivo alterando um sistema de produção artesanal cujas
características de produto e arranjo físico refere-se a um sistema por projetos para
um processo produtivo dedicado ou mecanizado ou em outras palavras uma
estruturação para um sistema por lotes.
Convém ressaltar que esta melhoria somente poderá ocorre se a
empresa possuir máquinas e equipamentos que permitam um aumento de
fabricação. Caso contrário haverá a necessidade de inicialmente investir.
A aplicação da metodologia no laboratório do Senai de Arapongas
apresentou resultados satisfatórios, apresentando as alterações necessárias sendo
estas a serem realizadas pela instituição a médio e longo prazo.
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Luis César G. de. Organização, sistemas e métodos: e as modernas
ferramentas de gestão organizacional. São Paulo: Atlas, 2001.
CONTADOR, José Celso et. al. Gestão de operações: a engenharia de produção a
serviço da modernização da empresa. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2004.
JUNIOR Vasco de Almeida Martins. É mesmo novidade?. Revista ForMóbile. Ano
XIX. Ed. 190. Fevereiro 2007.
MOREIRA, Daniel A. Administração
Paulo:Thomson Learning, 2006.
da
produção
e
operações.
São
SIMOV (Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná).
Dados do Setor. Disponível em http://www.fiepr.org.br/sindicatos/simov/. Acesso
em: 09/07/2010.
SLACK, Nigel et. al.
Atlas, 2009.
Administração da produção. Ed. Compacta. São Paulo:
SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert.
produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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