Unidade II Unidade II 2 PONTOS IMPORTANTES DA PRODUÇÃO – PROJETOS: O QUE SÃO, COMO SE APLICAM, COMO SÃO ENTENDIDOS Objetivos Entender o que é o projeto de produtos e serviços, e os processos que os produzem, leva à compreensão dos diferentes níveis decisórios dentro da organização. Projeto de processos 5 em produção significa projetar toda a cadeia de operações produtivas que efetivamente faz os produtos e serviços que serão entregues para os consumidores, enquanto no nível operacional, projeto de processos significa o arranjo físico das instalações, a tecnologia adotada e o pessoal de produção. Portanto, entender 10 a atividade de projeto envolve muito mais do que simplesmente pensar no projetista especificando detalhes de determinado produto, envolvendo decisões sobre aquisições de máquinas e equipamentos, por exemplo. O objetivo desta unidade é, portanto, demonstrar o que deve ser entendido por projeto na 15 administração da produção. 2.1 Projeto em gestão da produção O que é projeto? Segundo Monty Finneston (apud Slacks, 2009), “projeto é o processo conceitual através do qual algumas exigências funcionais de pessoas, individualmente ou em massa, são 20 satisfeitas através do uso de um produto ou sistema que representa a tradução física do conceito”. Exemplos: 24 ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS • produtos: automóvel, televisão, rádio, geladeira, meias, fraldas; • manifestações de artistas que podem ser denominadas produtos: música, pinturas, esculturas; 5 • sistemas: telefonia, ferrovia, rodovia, supermercado, orquestra. Dessa forma, na atividade de projeto, deve-se considerar que: • o objetivo da atividade de projeto é satisfazer a necessidade dos consumidores; 10 • projeto aplica-se tanto a produtos (ou serviços) como a sistemas (chamados na administração da produção de processos): - projeto de produtos; - projeto de serviços; - projeto de sistemas; - projeto de processos. 15 • a atividade de projeto é, em si, um processo de transformação; 20 • projetos começam com conceitos que serão traduzidos em especificações. Objetivo de desempenho Influência do projeto bem-elaborado do produto ou serviço Influência do projeto bem-elaborado do processo Qualidade Consegue eliminar falhas pontenciais e aspectos que podem provocar erros do produto ou serviço Resulta em recursos convenientes para produzir o produto ou serviço conforme suas especificações Rapidez Pode gerar produtos que podem ser feitos rapidamente (usando projeto modular, por exemplo), ou serviços que evitam demoras desnecessárias Movimenta materiais, informações ou clientes através de cada estágio do processo, sem demoras Confiabilidade Auxilia a tornar previsível cada estágio do processo ao exigir padronização e previsibilidade Resulta em tecnologia e pessoal confiáveis Flexibilidade Permite reduzir o custo de cada peça que compõe o produto ou serviço, assim como reduz o custo de combiná-los Assegura alta ultilização de recursos, o que leva a processos eficientes e de baixo custo Custo Pode reduzir o custo de cada peça que compõe o produto Assegura alta utilização de recursos, o que leva a ou serviço, assim como reduz o custo de combiná-los processos eficientes e de baixo custo Tab. 2.1 – Impacto do projeto de produto/serviço e processo nos objetivos de desempenho. Fonte: Slacks, 2009. 25 Unidade II Projeto é uma atividade que, originalmente, busca a eficácia: satisfazer as necessidades dos consumidores. Pensando dessa forma, os projetistas devem tentar realizar projetos esteticamente agradáveis, que atendam ou excedam 5 as expectativas dos consumidores, que apresentem bom desempenho e sejam confiáveis durante sua vida útil. Além disso, todo projeto deve considerar que será fabricado de forma fácil e rápida, com os recursos disponíveis na organização. Em serviços, o projetista deve propor algo que o consumidor 10 perceba como algo que atenda a suas expectativas. O novo serviço deverá usar o que está disponível em termos de capacidades da operação produtiva e resultar em um custo razoável. O projetista de processo (aquele que irá definir como o 15 produto ou o serviço serão feitos, quase igual a quem escreve uma “receita de bolo”) deve pensar no impacto que poderá produzir na habilidade da produção em atender às necessidades dos consumidores. Local errado, insuficiência de capacidade, tecnologia inadequada e pessoal incapaz podem certamente 20 gerar desempenho ineficaz. A Tabela 2.1 mostra como cada objetivo de desempenho de uma operação produtiva é afetado pelo projeto do produto ou serviço e pelo projeto do processo que produz. Observar que, apesar de tanto se falar sobre a necessidade do 25 trabalho em equipe, é ainda comum encontrarmos organizações nas quais os departamentos funcionam como “ilhas em um arquipélago”, trocando informações, mas não interagindo entre si. Os egos individuais e os valores emotivos levam a tal situação. 30 26 A ideia acima leva as organizações a tratar frequentemente do projeto do produto ou serviço separadamente do projeto do processo que os produzem. ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Todavia, para conseguir o intento de satisfazer as necessidades dos consumidores, torna-se imperativo reconhecer que as duas atividades são claramente inter-relacionadas. Pequenas mudanças no projeto de produtos e serviços podem resultar em 5 mudanças profundas na forma de produzi-los, assim como o projeto de um processo pode restringir a liberdade do projeto do produto ou serviço. A sobreposição das duas atividades de projeto é maior em operações que produzem serviços, visto que muitas vezes 10 o cliente é envolvido, passando a fazer parte do processo de transformação. A natureza e aparência do serviço, sob a ótica do consumidor, não pode ser separada do processo ao qual o cliente está submetido. Os produtos e serviços devem ser projetados a fim de que possam ser produzidos eficientemente Projeto do produto ou serviço Os processos devem ser projetados de forma que resultem em uma produção flexível, que produza todos os produtos ou serviços lançados pela organização Projeto do processo que será utilizado para produzir o produto ou serviço Decisões tomadas durante o projeto do produto ou serviço terão impacto sobre os processos que irão produzi-los, e vice-versa Fig. 2.1 – Projetos de produtos/serviços e processos: inter-relação e necessidade de tratamento simultâneo. Fonte: Slacks, 2009. 15 A realização de projetos de produtos, serviços ou de processos que os produzam pode ser considerada um processo de transformação, tendo como entrada informações técnicas de mercado e de tempo, assim como equipamentos de teste e projeto e pessoal técnico, e tendo como saída a geração de 27 Unidade II projetos acabados, que são ou possuem alta qualidade, baixo custo e que sejam produzidos com rapidez, confiabilidade e flexibilidade. A atividade de projeto em si não funciona como uma ideia 5 brilhante logo na primeira vez na imaginação dos projetistas. Como quase tudo, começa com uma ideia vaga, genérica e mal-definida daquilo que poderia ser a solução para uma necessidade observada. Muitas vezes, o uso de um brain storm – “toró de parpites” ou tempestade cerebral – auxilia na sugestão 10 de diferentes ideias que possam resolver as necessidades observadas. A partir de então, todas as ideias devem passar por um processo de refinamento, sendo analisadas por distintas visões dentro da organização, principalmente as de marketing, 15 finanças e produção. Cada etapa de análise diminui ou descarta certo número de sugestões geradas no brain storm, e as que sobram para a próxima etapa são progressivamente refinadas e detalhadas, até que, finalmente, consegue-se reduzir as opções de projeto a uma única, definitiva, que conterá informações 20 suficientes para ser transformada no produto, serviço ou processo real final. Grande número de opções de projeto Filtros de avaliação e escolha: - Marketing Incerteza em relação ao projeto final Tempo - Produção - Finanças - Tecnologia - Etc. Certeza em relação ao projeto final Um projeto final válido Fig. 2.2 – A filtragem de ideias para o projeto, reduzindo o número de alternativas e chegando ao projeto final. Fonte: Slacks, 2009. 28 ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Deve-se tomar cuidado ao adotar o modelo de evolução concepção/especificação, pois, uma vez iniciado o processo (ver Figura 2.2) e havendo a necessidade de mudança de alguma concepção original, implicará na necessidade de repensar 5 e recalcular os custos em função da mudança. No início do processo, sem que decisões fundamentais tenham sido tomadas, os custos de mudança serão baixos. Rapidamente, no entanto, as decisões inter-relacionadas e cumulativas tornam-se cada vez mais dispendiosas se tiverem de ser mudadas. 10 Efeito volume-variedade no projeto Um importante fator de decisão na atividade de projeto de produto, serviço ou processo é a avaliação do efeito volume/ variedade, dimensões normalmente dependentes entre si (baixo volume significa alta variedade ou alto volume significa baixa 15 variedade). Volume Variedade Ênfase do projeto Padronização do produto ou serviço Localização Fluxo Tecnologia do processo Habilidade dos funcionários Baixo Alta Projeto do produto ou serviço Baixa Pode ser descentralizado Intermitente Propósito geral Tarefa Alto Baixa Projeto do processo Alta Geralmente centralizado Contínuo Específico Sistema Fig. 2.3– Volume/Variedade e diferentes aspectos da atividade de projeto. Fonte: Slacks, 2009. É relativamente fácil entender que um serviço médico de imunização da população – tipicamente, um serviço médico de massa – deve ter uma abordagem totalmente diferente da tomada para um transplante de órgãos, tipicamente customizada para 20 atender à necessidade de um paciente. Tais diferenças vão muito além de tecnologias ou exigências diferentes, mas são explicadas pelo fato de que nenhuma forma de utilizar recursos é a melhor para todos os tipos de operações em todas as circunstâncias. A 29 Unidade II Figura 2.3 mostra o impacto da relação volume–variedade em diferentes aspectos da atividade de projeto. Projeto do processo Uma vez definido o produto ou serviço, de forma integrada 5 com o projeto do processo, faz-se necessário uma atenção especial para finalizar o projeto de tal processo. Como estamos citando desde o início, no projeto de produto ou projeto de processo, chega o momento de determinar a abordagem geral para gerenciar os processos, denominada de tipos de projetos, 10 válidos uma vez para produtos e outra para serviços (ver Tabela 2.2). É realmente difícil valorizar comparações dentro de faixas tão largas de comparação, como a construção de um navio até a geração de eletricidade. Devido à sobreposição, tanto nas 15 operações de manufatura como nas de serviços de diferentes tipos de processos (ver Figuras 2.4 e 2.5), as organizações podem escolher qual tipo de processo podem empregar. Tipos de processos Operações de manufatura Operações de serviços Processo Descrição Processo Descrição Projeto Geram produtos únicos, customizados, com longo tempo de manufatura. Serviços profissionais São organizações de alto contato, onde os clientes despendem muito tempo, sendo customizados, adaptáveis. Baseiam-se em pessoas. Jobbing Utilizam uma mesma linha de produção para fazer produtos distintos, compartilhando recursos. Lojas de serviços Tem níveis de contato com o consumidor, customização, volume de clientes e liberdade de decisão do pessoal, ficando entre o serviço profissional e o de massa. Lotes É produzido mais de um produto por vez, fato que se repete periodicamente. Para lotes pequenos, confunde-se com jobbing. Serviços de massa Envolvem tempo de contato limitado e pouca customização. Predominantemente baseados em equipamentos. Produção São os que produzem altos em massa volumes de bens com variedade relativamente estreita. Contínuo São os que produzem altos volumes com variedade muito baixa ou praticamente um único produto. Tab. 2.2 – Operações de manufatura e de serviços. Fonte: Slacks, 2009. 30 ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Baixo Alta volume alto Baixo Projeto alto Serviços profissionais Jobbing Lote Variedade volume Lojas de serviços Massa Serviços de massa Contínuo Baixa Fig. 2.4 e 2.5 – Tipos de processos em operações de produção e de serviços. Fonte: Slacks, 2009. Matriz produto-processo A representação clássica da variação do custo e da flexibilidade, elaborada por Hayes e Wheelwright, de Harvard, busca mostrar as consequências para a operação em função da seleção do 5 processo empregado. Denominada “matriz produto-processo”, tem a relação volume-variedade em uma dimensão e o tipo de processo na outra dimensão (ver Figura 2.6). Tipos de processos de operações de manufatura Volume Nenhum Projeto Jobbing Lote Massa Contínuo Tipos de processos de operações de serviços Variedade Maior flexibilidade do processo do que o necessário, resultando em alto custo Menor flexibilidade do processo do que o necessário, resultando em alto custo Nenhum Serviço profissional Loja de serviço Serviço de massa Linha “natural” de ajuste do processo às características de volume/variedade de produtos/serviços Fig. 2.6 – Matriz Produto–Processo e as consequências dos desvios da diagonal “natural”. Fonte: Slacks, 2009. 31 Unidade II A maior parte das operações tende para a diagonal “natural” da matriz e nenhuma ou poucas operações são encontradas nos cantos extremos da matriz. 2.2 Projetos de produtos e serviços Vantagem competitiva do bom projeto 5 Produtos e serviços são as primeiras coisas observadas pelos clientes em uma organização. Assim, o projeto dos produtos e serviços, seu desenvolvimento contínuo e a criação de projetos totalmente novos também ajudam a definir a posição competitiva de uma organização. 10 Pode-se afirmar que todos os produtos e serviços têm três aspectos em relação ao projeto: • um conceito: conjunto de benefícios esperados que o consumidor está comprando; 15 • um pacote de produtos e serviços: conjunto de componentes que proporcionam o benefício definido no conceito; • um processo: que define a relação entre os componentes do pacote. Etapas do projeto 20 Para chegar a esse ponto, a atividade de projeto deve passar por diversas etapas, que formam uma sequência aproximada: Geração do conceito Triagem Projeto preliminar Avaliação de melhoria Protótipo e projeto final 32 Conceito Pacote Processo ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Geração do conceito Geração do conceito: as ideias para conceitos de novos produtos ou serviços podem vir de fontes externas e de fontes internas (ver Figura 2.7). Fontes internas Análise das necessidades dos consumidores Fontes externas Departamento de marketing Pesquisa de mercado Sugestões do pessoal de contato com os clientes Sugestões dos clientes Ideias de pesquisa e desenvolvimento Ações dos concorrentes Geração do conceito Fig. 2.7 – Ideias surgem dentro e fora da organização. Fonte: Slacks, 2009. Na geração dos conceitos, muitas ideias podem vir, todos os dias, dos clientes. Infelizmente, nem todos os funcionários visualizam a transmissão das informações (ideias) vindas dos clientes como uma função importante. As organizações podem até não ter mecanismos disponíveis para facilitar a comunicação 10 ou para transmitir boas ideias. 5 Ideias não são o mesmo que conceitos. Na realidade, elas precisam ser transformadas em conceitos, de forma que possam ser avaliadas e, então, “operacionalizadas” pela organização. Conceitos são diferentes de ideias pelo fato de englobarem 15 a ideia e indicarem sua forma, função, seu objetivo e seus benefícios globais (ver Figura 2.8). O conceito deve ser simples de ser comunicado, de maneira que todos na organização possam entendê-lo, realizá-lo e vendê-lo. 33 Unidade II Nem todos os conceitos gerados resultarão, no entanto, em produtos e serviços. Como vimos anteriormente, diferentes análises vão selecionando ao longo do tempo os conceitos válidos, que serão trabalhados até o ponto do projeto preliminar 5 de seu pacote e processo. Durante essa triagem, algumas questões típicas devem ser respondidas para os três filtros funcionais: marketing, finanças e produção: viabilidade/aceitabilidade e vulnerabilidade (ver Tabela 2.3). Ideia Forma A forma global do serviço Função A maneira como o produto ou serviço funciona Propósito A necessidade que o produto ou serviço deve satisfazer Benefícios As vantagens que o produto ou serviço trarão aos consumidores Conceito Fig. 2.8 – Transformação de uma ideia em um conceito. Fonte: Slacks, 2009. Critério de avaliação Marketing Produção Viabilidade Será o mercado suficientemente grande? Possuímos as capacitações para produzir? Quanto do mercado poderemos ganhar? Quanto teremos que Qual o retorno econômico organizar nossas que conseguiremos sobre atividades para produzir? nosso investimento? Aceitabilidade Qual o risco Vulnerabilidade de fracasso no mercado? Qual é o risco de não conseguirmos produzir de forma adequada? Finanças Temos acesso a financiamento suficiente para desenvolver e lançar? Quanto dinheiro poderemos perder se os desenvolvimentos não forem os planejados? Tab. 2.3 – Questões típicas de avaliação sobre marketing, produção e finanças. Fonte: Slacks, 2009. 34 ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Benefícios dos projetos interativos O ato de fundir o projeto de produtos/serviços e o projeto do processo que os produz é chamado, às vezes, de projeto interativo. O benefício desse tipo de projeto é a redução do 5 tempo utilizado para a atividade de projeto, desde o conceito até a introdução no mercado, denominado TTM (Time To Market), ou tempo até o lançamento. Dessa forma, pode-se ter uma vantagem competitiva, pois permite uma revisão do projeto do produto/serviço e do processo de forma muito mais dinâmica, e 10 significa que as empresas têm mais oportunidade para melhorar o desempenho de seus produtos e serviços. Se o processo de desenvolvimento atrasa, os custos de desenvolvimento aumentam, assim como a introdução tardia do produto ou serviço atrasará a receita de sua venda. Ponto de Reflexão Um bom projeto de produto e serviço traduz as necessidades dos consumidores na forma e na configuração do produto ou serviço e, assim, especifica as capacitações exigidas da operação produtiva. Observar de forma conjugada o projeto de produto e serviço e o projeto do processo pode melhorar a qualidade dos dois tipos de projetos. Levar em conta as restrições da produção durante o projeto garante produtos produzíveis, com processos desenvolvidos levando em conta as necessidades de longo prazo. 2.3 Arranjo físico e fluxo 15 O arranjo físico (em inglês, layout) de uma operação produtiva preocupa-se com o posicionamento dos recursos de transformação. Isto é, definir onde colocar: 35 Unidade II • instalações; • máquinas; • equipamentos; • pessoal de produção. 5 Mudanças relativamente pequenas na localização de uma máquina numa fábrica ou dos produtos em um supermercado podem afetar o fluxo de materiais ou de pessoas; desse modo, podendo afetar positiva ou negativamente os custos e a eficácia da operação. 10 As razões práticas pelas quais as decisões de arranjo físico são importantes são as seguintes: 15 • mudanças de arranjo físico são frequentemente atividades difíceis e de longa duração, por causa das dimensões físicas dos recursos de transformação movidos, além das mudanças necessárias em termos de alimentação de energia, entre outras; • o rearranjo de uma operação existente pode interromper seu funcionamento suave, levando à insatisfação do cliente ou a perdas na produção; 20 36 • um arranjo físico errado gera padrões de fluxo confusos e longos, estoques de materiais, filas de clientes, resultando em tempos de processamento longos, operações inflexíveis, fluxos imprevisíveis e altos custos. ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Procedimentos de arranjo físico A figura 2.9 mostra as etapas de decisão de arranjo físico. Decisão 1 Volume e variedade Tipos de processos Objetivos de desempenho estratégico Processo por projeto Serviços profissionais Processos jobbing Lojas de serviços Processo em lotes Serviços em massa Processo em massa Processo contínuo Decisão 2 Tipos básicos de arranjo físico Arranjo físico posicional Arranjo físico por processo Arranjo físico celular Arranjo físico por produto Decisão 3 Projeto detalhado do arranjo físico Posição física de todos os recursos de transformação Fluxos de recursos transformados pela produção Fig. 2.9 – A decisão de arranjo físico. Fonte: Slacks, 2009. Cada tipo de arranjo físico é mais adequado a um tipo de processo, porém não há como dizer que essa regra é definitiva, 5 uma vez que, conforme as características de cada organização ou seu ponto na evolução (de pequena empresa para uma grande empresa, do artesanato para a produção em série), as decisões de arranjo físico mudam, exigindo novos projetos e adequações. 10 Dessa forma, deve ficar claro que na determinação do tipo de arranjo físico a utilizar, não é obrigatório que se utilize o ideal para o processo estudado, podendo haver alterações ou adaptações, caso a caso. A Tabela 2.4 mostra algumas relações entre processos e arranjos físicos possíveis: 37 Unidade II Tipos de processos de manufatura Tipos básicos de arranjo físico Processo por projeto Arranjo físico posicional ----------------------Arranjo físico por processo ----------------------Arranjo físico celular ----------------------Arranjo físico por produto Processo tipo jobbing Processo tipo batch Processo em massa Processo contínuo Tipos de processos de serviços Serviços profissionais Lojas de serviços Serviços de massa Tab.2.4 – Relação processos VS arranjos físicos. Fonte: Slacks, 2009. Tipos básicos de arranjo físico Arranjo físico posicional É o arranjo físico no qual os recursos que estão sendo transformados – materiais, informações ou consumidores – não 5 se movem, enquanto todos os recursos de transformação – equipamentos e pessoal – devem se mover para e na região onde está sendo feito o processo de produção. Aplica-se nos casos em que os recursos a ser transformados são muito grandes, ou, ao contrário, são muito delicados para serem movidos, ou não 10 querem ser movidos: • construção de uma rodovia; • restaurante de alta classe (em geral, não oferecem refeição por quilo); • cirurgias (não podem ser feitas com o paciente andando); 15 • estaleiro (construção de navios). Arranjo físico por processo É bastante comum encontrarmos operações nas quais os processos de transformação são muito importantes na tomada de decisão sobre o tipo de arranjo físico a adotar e, dentro 20 dessas operações, ainda podem ser identificadas aquelas nas quais existem muitos recursos de transformação (equipamentos 38 ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS e instalações) similares, que, por conveniência de controle e administração, devem ficar juntos: 5 • nos hospitais, os equipamentos de raios-x, em geral, são colocados em uma única região, devido às necessidades de proteção. Os laboratórios também se concentram em uma região, assim como centros cirúrgicos, e uma ampla gama de outros exemplos que podem ser citados; 10 • na fabricação de componentes mecânicos, alguns processos exigem instalações e pessoal específico e treinado, sendo, portando, mais fácil a administração desses equipamentos se forem colocados juntos, conforme suas características; Livros para empréstimo organizados por assunto Sala de acesso on-line e CD-ROM Periódicos encadernados Mesas de estúdio Informações 15 • nos supermercados, não vemos carne misturada com peixe, ou verduras misturadas com pães. Os setores são separados conforme o tipo de produto oferecido. Relatórios de empresas Periódicos recentes Seção de referências Coleção reservada Depósito Entrada Balcão de atendimento Área de copiadoras Saída Fig. 2.10 - Arranjo físico por processo – biblioteca. Fonte: Slacks, 2009. 39 Unidade II Arranjo físico celular Apesar de pelo estudo das técnicas japonesas podermos chegar à conclusão de que o arranjo físico celular foi inventado pelos japoneses, na realidade, essa técnica foi inventada pelos 5 russos ainda no século XX, nos anos 1930, mas acabou sendo implementada com sucesso pelos japoneses. Os recursos a ser transformados são separados em famílias de peças que possuem processos de fabricação idênticos ou muito similares, permitindo que todos os recursos de transformação 10 necessários para sua produção sejam colocados juntos, permitindo a produção sem interrupção de determinado lote de peças. Terminada a operação em uma célula, o lote de peças segue para outra célula, e assim por diante até sua conclusão. Como resultado, o tempo total de fabricação é extremamente 15 reduzido, assim como o estoque em processo. Fig. 2.11: Família de peças e típico arranjo físico celular em forma de “U”. Fonte: Corrêa, 2004. Livros e vídeos Calçados Seção de esportivos Roupas masculinas Entrada Perfumes e jóias Doces, jornais, revistas e papelaria Entrada Elevadores Roupas femininas Malas e presentes Caixa Corredores Fig. 2.12 - Loja de departamentos com diferentes células de serviços. Fonte: Slacks, 2009. 40 ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Arranjo físico por produto No caso de produção em larga escala ou produção em massa, os recursos de transformação (instalações e pessoas) devem ser dispostos de tal forma que não exista perda de tempo para 5 mudança de processo de uma máquina para outra. Assim sendo, a sequência prevista para o processo é exatamente a mesma, na qual os recursos ficam arranjados fisicamente. Permite-se, assim, a produção em larga escala com baixos custos. Cozimento Embobinamento Secagem Limpeza Mistura Refinamento Alinhamento Rolos de pressão Fig.2.13: Arranjo físico por produto – fabricação de papel. Fonte: Slacks, 2009. Sala de aula Sala de espera Área de entrega de uniformes Sala de espera Médico Médico Teste de sangue Raio-x Médico Médico Teste de sangue Raio-x Médico Médico Teste de sangue Raio-x Depósitos de uniformes Registro de histórico pessoal e médico Fig. 2.14 - Arranjo físico por produto – centro de alistamento militar. Fonte: Slacks, 2009. 41 Unidade II Arranjo físico misto Dependendo do grau de complexidade das operações, pode acontecer da utilização de um único modelo de arranjo físico não resolver completamente o problema, e assim nasce a 5 necessidade do uso de mais de um modelo. Tais casos recebem a denominação de arranjos físicos mistos. Arranjo físico em linha = bandeijão Arranjo físico celular = buffet Arranjo físico posicional = à la carte Fig. 2.15 - Exemplo de restaurante com arranjo físico misto – fotos do conteudista. A decisão sobre qual arranjo físico adotar para determinada operação passa pela análise da relação volume/variedade. A movimentação dos materiais, das informações ou dos clientes 10 ao longo do processo depende diretamente do tipo de arranjo físico selecionado. Operações com baixo volume e alta variedade não têm no fluxo dos recursos a ser transformados o real foco da atenção, mas sim no fluxo dos equipamentos e do pessoal produtivo. 15 Em contrapartida, operações que apresentam alto volume e baixa variedade de produtos precisam ser bem estudadas, para garantir o melhor fluxo possível aos recursos a ser transformados – materiais, informações ou clientes. Assim sendo, fazer uma inter-relação entre a ideia de variação 20 do volume e da variedade, comparada aos diferentes tipos de 42 ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS arranjo físico, auxilia no momento de se tomar a decisão sobre o melhor arranjo a implantar. A Figura 2.16 mostra uma possibilidade de entendimento para a seleção do tipo de arranjo físico em função da relação 5 volume-variedade. Deve-se observar que da mesma forma que aconteceu quando da seleção do tipo de processo produtivo aqui também existem áreas comuns, onde a aplicação de um ou outro tipo de arranjo físico dependerá de mais fatores que somente volume–variedade de produção. Volume Alto Arranjo físico posicional Variedade Arranjo físico por processo Arranjo físico celular Baixo Arranjo físico por produto Fluxo regular mais fácil de ser conseguido no processo produtivo Alto Fluxo Baixo intermitente Fluxo regular é mais importante, devido ao volume produzido Fluxo contínuo Fig. 2.16 - Relação volume–variedade e os tipos básicos de arranjo físico. Fonte: Slacks, 2009. 10 A seleção pela relação volume–variedade, em geral, limita a seleção de tipos de arranjo físico a ser aplicados em, no máximo, dois tipos de arranjo possíveis. A definição final sobre qual arranjo aplicar depende da correta interpretação das vantagens e desvantagens de cada tipo de arranjo físico. 43 Unidade II Tipo de processo Vantagens Posicional - Flexibilidade de mix e produto muito alta. - Produto ou cliente não movido ou perturbado. - Alta variedade de tarefas para mão de obra. Processo - Alta flexibilidade de mix e produto. - Suporta interrupção de alguma etapa. - Facilita supervisão de equipamentos e instalações. Celular Produto - Boa relação entre custo e flexibilidade em operações com variedade mais ou menos alta. Desvantagens - Custos unitários muito altos. - Programação de espaço e de atividades complexa. - Muita movimentação de equipamentos e mão de obra. - Baixa utilização de recursos. - Gera alto estoque em processo e fila de clientes. - Fluxo complexo e difícil de controlar. - Custoso para reconfigurar arranjo físico original. - Tempo de passagem rápido. - Resulta na necessidade de capacidade adicional. - Trabalho em equipe. - Reduz nível de utilização dos recursos. - Custo unitário baixo. - Baixa ou nenhuma flexibilidade do mix. - Especialização de equipamentos. - Garante boa movimentação de materiais e clientes. - Pode parar se alguma etapa parar. - Trabalho repetitivo. Tab. 2.5 – Vantagens e desvantagens dos tipos básicos de arranjo físico. Fonte: Slacks, 2009. O estudo dos arranjos físicos passa pela avaliação dos custos envolvidos na implantação do arranjo físico e na sua operação. Tais custos podem ser entendidos como: 5 44 • custos fixos: são os custos envolvidos na implantação de um arranjo físico. O arranjo físico posicional é, sem dúvida, o que apresenta o menor custo fixo, uma vez que muitas vezes não exige nem a construção de um prédio específico para abrigar a operação – na construção de um edifício, tudo acontece no terreno onde ele será ADMINISTRAÇÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS construído, por exemplo. Por outro lado, o arranjo físico por produto necessita de grande investimento inicial, pois utiliza até máquinas que são feitas de forma customizada, para produção exclusiva do produto em questão – açúcar e álcool, por exemplo; 5 Posicional Custos 10 • custos variáveis: são os custos que envolvem mão de obra, energia elétrica, matéria-prima, materiais de consumo, entre outros itens necessários para produzir aquilo que a organização se propõe. Quanto maior o volume produzido, maior o custo variável. Dessa maneira, o custo variável para produtos produzidos utilizando um arranjo físico posicional em grande volume é muito maior do que produtos produzidos utilizando um arranjo físico por produto, por exemplo. Processo Celular Produto Usar posicional Usar processo Usar celular Usar produto Volume Região de dúvida Usar posicional ou processo Região de dúvida Usar processo ou celular Região de dúvida Usar celular ou produto Fig. 2.17 - Custos envolvidos na utilização dos diferentes tipos de arranjo físico. Fonte: Slacks, 2009. 45