UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Curso de Engenharia Ambiental MODELAGEM LABORATORIAL E NUMÉRICA DE TRANSPORTE DE CONTAMINANTES Autores:Adelmo de Oliveira T. Marinho Larri Augusto Pessoa da Silva Paulo Sérgio Pereira da Silva Orientador: Prof. Dr. André Luis Brasil Cavalcante BRASÍLIA 2009 2 MODELAGEM LABORATORIAL E NUMÉRICA DE TRANSPORTE DE CONTAMINANTES Adelmo de Oliveira Teixeira Marinho Larri Augusto Pessoa da Silva Paulo Sérgio Pereira da Silva [email protected] [email protected] [email protected] Prof. Dr. André Luis Brasil Cavalcante [email protected] Curso de Graduação em Engenharia Ambiental – Universidade Católica de Brasília RESUMO A geração e a destinação final dos resíduos sólidos urbanos são atualmente uns dos principais problemas que preocupam os especialistas atuantes na área de gestão de resíduos em aterros. Dessa forma, o chorume proveniente da decomposição dos resíduos pode percolar e contaminar o solo e a água subterrânea, exigindo a utilização de análises geotécnicoambientais com o intuito de minimizar os impactos desses poluentes. Este estudo objetiva analisar opções de revestimento para a contenção do fluxo do contaminante zinco (Zn) no subsolo do Aterro Controlado Jóquei Clube em Brasília/DF, por meio de análises de seu comportamento no tempo e em espessuras de camadas associando solo natural, liner argiloso e geomembrana, através de modelagens pelo método das diferenças finitas, proporcionado pelo programa computacional LINER. Após a modelagem ambiental apenas o experimento utilizando uma camada de solo local de 0,6m de espessura não foi suficiente para retenção do contaminante. Entretanto, foi recomendada a aplicação de pelo menos uma camada de liner argiloso com espessura de 0,6m de espessura, para a retenção segura do chorume por um período de pelo menos cem anos de vida útil do aterro. Palavras-chave: aterro, chorume, efluente, geomembrana, liner argiloso, metais, método das diferenças finitas, modelagem ambiental, programa LINER, transporte de contaminantes, solo. Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção ao título de Bacharel em Engenharia Ambiental. O artigo foi aprovado por: Prof. Dr. André Luís Brasil Cavalcante - Orientador e Prof. Dr. Murilo Gomes Torres – Examinador. Brasília, 27 de novembro de 2009. 3 ABSTRACT The production and disposal of urban solid wastes are currently one of the main issues that concern the experts working on the management of landfills wastes. Thus, the leachate from the decomposition of wastes can percolate and contaminate the soil and the groundwater, requiring geotechnical and engineering application with the aim of minimize the impacts of this pollutant. This study objectify analyse coating options to contain the flow of contaminant zinc (Zn) in the basement of controlled landfill Jóquei Clube in Brasília/DF, by analysis of their behavior in time and thickness of layers involving natural soil, clay liner and geomembrane, through modeling by the finite difference method, provided the computer program LINER. After environmental modeling only the experiment using a layer of local soil of 0.6 m thickness was not sufficient for retenction of the contaminant. However, was recommended the utilization at least a layer of clay liner of 0,6m thickness, for secure retenction in a period at least a hundred years of usefull landfill. Keywords: landfill, leachate, effluent, geomembrane, clay liner, metals, finite difference method, environmental modeling, LINER software, transport of contaminants, soil. Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção ao título de Bacharel em Engenharia Ambiental. O artigo foi aprovado por: Prof. Dr. André Luís Brasil Cavalcante - Orientador e Prof. Dr. Murilo Gomes Torres – Examinador. Brasília, 27 de novembro de 2009. 4 1. INTRODUÇÄO A destinação final dos resíduos de forma incorreta propicia à contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas por uma enorme variedade de substâncias poluentes, decorrentes das diversas fontes de contaminação, promovendo a disseminação de doenças e a degradação do meio. Nessas situações, para que se possa fazer a estimativa das áreas afetadas, ou a previsão do avanço de plumas de contaminação e a própria escolha do método de remediação, é necessário conhecer os fatores que influenciam o transporte dos contaminantes, como as condições ambientais e as propriedades dos contaminantes envolvidos (COSTA, 2002). No solo, esses contaminantes podem estar dissolvidos na água percolante, principal agente transportador de substâncias no interior do solo. A migração dos contaminantes através do meio poroso ocorre segundo mecanismos de transporte associados principalmente a processos físicos e químicos. Os processos físicos envolvem os fenômenos de advecção, difusão e dispersão, enquanto os químicos estão relacionados às interações que podem ocorrer entre solo e poluente em função das reações bioquímicas a que essas substâncias estão sujeitas, quando em contato com o solo (COSTA, 2002). Segundo BOSCOV (2008), a disposição final de resíduos sólidos urbanos no Brasil está distribuída da seguinte forma: 21% em depósitos a céu aberto, 37% em aterros controlados, 36% em aterros sanitários e apenas 6% em demais destinações, tais como usinas de compostagem e incineração. Segundo ABNT (1984), Aterro Sanitário de resíduos sólidos urbanos é a técnica de disposição de resíduos sólidos no solo, sem causar danos à saúde e segurança públicas, minimizando os impactos ambientais. Este método utiliza princípios de engenharia para confinar e reduzir o volume dos resíduos, cobrindo-os com uma camada de terra compactada, ao final de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores, se necessário. O lixiviado ou efluente gerado em depósitos de resíduos a céu aberto ou em células de aterros sanitários, mais conhecido como chorume, é um líquido de coloração cinza escuro com forte odor fétido, gerado das reações físicas e químicas a que os materiais depositados estão sujeitos e da ação de microorganismos na decomposição da matéria orgânica presente com elevada concentração nos resíduos sólidos urbanos, por meio de processos de decomposição predominantemente anaeróbia, e aeróbia (COSTA, 2002). O chorume é constituído basicamente por água rica em sais, metais pesados e matéria orgânica, cuja concentração deste último pode alcançar até 100 vezes o valor da concentração 5 encontrada em esgotos domésticos. As concentrações desses constituintes no lixiviado variam com a composição dos próprios resíduos sólidos depositados e as condições ambientais, tais como umidade, oxigênio disponível, temperatura e pH do meio (COSTA, 2002). A contaminação do solo ocorre através da infiltração de líquidos percolados (chorume), de modo que os poluentes presentes no líquido penetram no solo, modificando drasticamente as suas características físicas, químicas e biológicas, podendo ainda, inviabilizar o uso destes recursos, bem como o de águas subterrâneas, caso consiga alcançálas (LEITE et al., 2004). O teor de matéria orgânica do chorume pode aumentar a solubilidade em água de metais e outros compostos facilitando sua lixiviação e percolação, elevando o risco de contaminação de lençóis freáticos, aqüíferos, lagos e rios. De acordo com CASSINI (2003), o chorume pode permanecer por muitos anos após o encerramento das operações do aterro, fazendo-se necessário o monitoramento do líquido durante décadas. Em virtude da carga de matéria orgânica e da presença de poluentes tóxicos, o chorume pode causar um grande número de alterações na fauna e flora dos ecossistemas, afetando todos os seres que compõem a cadeia alimentar. Através da ingestão de peixes e alimentos contaminados pelo alcance do chorume à biota aquática, podem ocorrer inúmeras alterações no organismo humano, o qual encontra-se no topo da cadeia trófica (MACHADO, 2004). Durante o transporte de contaminantes através do solo, os seguintes processos devem ser controlados: (1) quantidade de contaminantes transportados em um tempo qualquer através de uma região de controle particular; (2) atenuação da concentração através da adsorção e processos de dessorção; (3) razão e extensão da propagação ou avanço da pluma de contaminação. A água é o agente transportador de contaminantes mais importante na obtenção e no entendimento da interação solo-água (YONG, 1992). No Brasil, CONAMA (2005) dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes (chorume), e dá outras providências. A comparação dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos de amostras de efluentes com esta resolução remete à necessidade de controle e monitoramento constante deste tipo de fonte de contaminantes. Valores acima dos permissíveis nesta resolução representam a necessidade de uma avaliação mais detalhada de suas causas e da intervenção de mitigação de seus efeitos nos sistemas de tratamento e, principalmente, no meio ambiente e na saúde da população. Este artigo aborda o processo de transporte de contaminantes por meio de modelagem laboratorial, por meio de ensaios realizados no laboratório de águas e, por meio de parceria, 6 no laboratório SABIN, bem como numérica, por meio da solução analítica da equação de transporte de contaminantes em meio porosos. O principal objetivo deste trabalho é analisar o transporte do chorume (efluente) do Aterro Controlado Jóquei Clube de Brasília e propor soluções geotécnicas e ambientais para impedir o alcance do efluente no lençol freático. Para alcançar tais objetivos, os parâmetros geotécnicos e ambientais serão modelados por meio do programa computacional LINER1 (CAVALCANTE, 2006), que é capaz de estimar o tempo de percolação do metal zinco (Zn), em uma camada de solo natural, solo natural associado à geomembrana2, liner argiloso, e liner argiloso associado à geomembrana, por meio de doze modelos que expressam a estimativa do tempo de percolação, nesses quatro tipos de revestimento de fundo para aterros sanitários. O Método de Diferenças Finitas (MDF) foi criado com a finalidade específica de resolver numericamente equações diferenciais, consistindo basicamente, em aproximar um modelo matemático composto por equações diferenciais em um sistema de equações algébricas, que pode ser resolvido numericamente usando técnicas de análise numérica (RALSTON, 2001). 2. REFERENCIAL TEÓRICO Advecção é o transporte de contaminantes, dissolvidos ou em suspensão coloidal, concomitante e na direção das linhas de fluxo de água ou fluido percolante no solo, com velocidade média igual à da água ou fluido, sem alterar sua concentração na solução. Este tipo de transporte pode ser modelado pelas Equações (1) e (2). No entanto, o transporte advectivo puro não descreve completamente a dinâmica dos solutos (FREEZE, 1979). ∂C ∂C = −v x ∂t ∂x (1) k .i n (2) vx = onde, C = concentração do soluto (Kg/m3); νx = velocidade de percolação (m/s); k = coeficiente de permeabilidade (m/s); n = porosidade (%), i = gradiente hidráulico (m/m). Na dispersão hidrodinâmica, os íons e moléculas transportadas podem mover-se na direção ou perpendicular às linhas de fluxo. A dispersão é resultante dos efeitos combinados 1 2 LINER: programa elaborado em linguagem computacional “C”, utilizando o método unidimensional das diferenças finitas. Utilizada uma geomembrana de Polietileno de Alta Densidade (PEAD), com espessura de 8 a 11 mm. 7 da mistura mecânica e da difusão molecular. Há, portanto, um espalhamento e diluição da solução, decréscimo do pico de concentração e o avanço rápido da frente de contaminação (COSTA, 2002). Segundo COSTA (2002), o transporte de contaminantes por difusão molecular consiste no movimento de solutos dissolvidos na água em decorrência de um gradiente de concentração existente em um fluido, em que há o deslocamento do soluto dissolvido de uma área de maior concentração para uma de menor concentração, tendendo a estabilizar a concentração em todo o fluido. Este fenômeno independe da velocidade do fluxo, e seu deslocamento pode ocorrer mesmo em direções normais à do fluxo dominante, sem haver gradiente hidráulico, podendo ser expresso pela primeira lei de Fick (Equação 3) (THOMÉ, 2006). F = − D0 . ∂C ∂x (3) onde, F = fluxo de massa de soluto por unidade de área por unidade de tempo (kg/m2/s); D0 = coeficiente de Difusão (m2/s); ∂C/∂x = gradiente de concentração (kg/m3/m). O sinal negativo indica que o movimento ocorre das áreas de maior concentração para as de menor concentração. Para sistemas onde a concentração varia com o tempo, aplica-se a segunda lei de Fick (Equação 4): ∂C ∂ 2C = D0 2 ∂t ∂x (4) A presença de partículas de solo dificulta o processo de difusão, uma vez que este mecanismo está associado ao movimento de espécies na água dos poros por entre essas partículas (ROWE, 1995). Nos solos, em geral nos meios porosos, a difusão é menor que em uma solução livre, devido à tortuosidade das trajetórias de fluxo ao pequeno volume de fluido para o fluxo, à retenção de íons e moléculas nas superfícies das partículas (retardamento), à biodegradação de solutos orgânicos. Desta forma, usa-se um coeficiente de difusão efetiva, D* (Equação 5). D * = ω.D0 onde, ω = coeficiente de tortuosidade. (5) 8 Conforme BEAR (1972), a mistura mecânica é decorrente da dispersão em canais individuais, por meio de velocidades médias variadas, diferenciadas por canal, em virtude da heterogeneidade do meio, pelas variações nas dimensões dos poros ao longo das linhas de fluxo e do desvio da trajetória das partículas, devido à tortuosidade, reentranças e interligações entre os canais Figura 1. Figura 1: Mecanismos de dispersão ou mistura mecânica: a) Mecanismos de dispersão ou mistura mecânica; b) Dispersão em canais individuais; c) Tortuosidade, reentranças e interligações. Numa escala microscópica, a mistura mecânica resulta de três mecanismos básicos. O primeiro destes mecanismos consiste na variação da velocidade de fluxo devido à rugosidade das paredes dos canais formados pelas interligações dos poros do solo. Ao longo do interior de um mesmo canal, moléculas transportadas mais próximas do centro sofrerão menos influência do atrito do que moléculas movendo-se junto às paredes do canal. O segundo mecanismo decorre dos diferentes tamanhos dos poros ao longo da trajetória de fluxo. Esta irregularidade de dimensões faz com que a área de contato entre o fluido e a superfície rugosa varie, modificando a relação entre o volume de água percolante e a rugosidade, e dessa forma, diferentes canais terão velocidades médias diferentes. O terceiro mecanismo de mistura corresponde às mudanças de direção das partículas devido à tortuosidade dos canais de fluxo. As interligações entre os poros podem formar canais mais ou menos tortuosos, portanto, mais ou menos extensos, respectivamente, fazendo com que algumas partículas movam-se mais rápido de que outras (FREEZE, 1979). O efeito da dispersão pode ser representado em laboratório através do ensaio de coluna, consistindo no fluxo unidimensional através de uma amostra de solo saturado com água. Considerando fluxo permanente, a partir de certo instante t = 0, uma solução, contendo uma substância numa determinada concentração inicial (C0), passa a ser introduzida continuamente no solo, por onde começa a permear expulsando, gradativamente, a água dos vazios. No início, a interface que separa os dois fluidos é bem delineada e perceptível, com o passar do tempo, há perda de definição, passa-se a ter uma faixa de transição entre a solução que avança e a água. A concentração do soluto nessa faixa de transição varia desde sua 9 concentração inicial na solução (C=C0) até zero (sua concentração inicial na água dos poros) (FREEZE, 1979). O avanço da solução contaminante por entre os vazios do solo nos instantes anteriormente mencionados pode ser representado na Figura 2. A Figura 2-a apresenta um esquema do Ensaio de Coluna: fluxo unidimensional, no caso ascendente, em amostra de solo saturado com água; na Figura 2-b tem-se a Distribuição da Concentração do Soluto no instante t = 0, com uma interface bem definida; nas Figuras 2-c e 2-d tem-se a distribuição da concentração nos instantes t = t1 (c) e t = t2 > t1 (d), verificandose não mais uma interface abrupta entre os fluidos, mas uma região de transição; na Figura 2 verifica-se a Distribuição da concentração em função da distância nos instantes t1 e t2 (BORGES, 1996). A distribuição da concentração no tempo correspondente à relação entre a concentração relativa, em função da razão entre o volume percolado e o volume de vazios da amostra, é explicitada na Curva Característica do Transporte, mais conhecida como “Breakthrough Curve” Figura 3 (COSTA, 2002). O fator de retardamento (R) é usado para avaliar a capacidade de retenção do solo, como uma grandeza que quantifica esse fenômeno, e compreende da razão entre a velocidade do fluido percolante e a velocidade da frente de contaminação (Equação 6). R= v vc (6) onde, v = velocidade do fluido percolante; vc = velocidade da frente de contaminação. Figura 2: Efeito do avanço da solução contaminante (caso 1D). Figura 3: Curva de Breakthrough: retardamento da frente de contaminação. 10 Tal fator representa a característica do solo em relação a uma determinada substância, dependendo de fatores como atividade do solo, concentração inicial da substância na solução contaminada, concentração de outras substâncias presentes na solução, pH da solução, temperatura e velocidade de percolação (THOMÉ, 2006). O fator de retardamento é um parâmetro comumente utilizado nos modelos de transporte de contaminantes, seu valor pode ser obtido diretamente da Curva Característica de Transporte (“Breaktrough Curve”) (Figura 3), obtida no ensaio de coluna, segundo a Equação (7) (COSTA, 2002). R= V(C =0,5.C0 ) Vv (7) onde, V(C = 0,5.C0 ) = volume de fluido percolado quando a concentração do soluto no efluente atinge 50% da concentração inicial; Vv = volume de vazios da amostra. A partir dos fenômenos da dispersão longitudinal - espalhamento do contaminante na direção do fluxo da solução, e da dispersão transversal - espalhamento do contaminante perpendicular ao fluxo da solução, são definidos os coeficientes de dispersão mecânica longitudinal (α L × v x ) e de dispersão mecânica transversal (α T × v x ) , onde αL e αT são os coeficientes de dispersividade longitudinal e transversal, respectivamente, expressos em unidade de comprimento. Nos casos de fluxo não confinado e/ou bi ou tridimensional, devese considerar a dispersão transversal (THOMÉ, 2006). O Coeficiente de Dispersão Hidrodinâmico (Dh) Equação (8) determinado pela combinação dos processos de Difusão Molecular e de Dispersão Mecânica, processos que não podem ser separados em fluxos em meios porosos: DhL = α L v x + D * e DhT = α T v x + D * (8) onde, DhL = o coeficiente de dispersão hidrodinâmica longitudinal (m2/s); DhT = coeficiente de dispersão hidrodinâmica transversal (m2/s). A influência relativa de cada uma destas parcelas na dispersão hidrodinâmica (Figura 4) pode ser obtida pelo número de Peclet (Equação 9) (THOMÉ, 2006). Pe = v x D50 D* (9) 11 onde, Pe = número de Peclet; D50 = diâmetro médio das partículas de solo. Existem situações em que um dos dois processos, mistura mecânica ou difusão molecular, pode predominar em relação ao outro. Essas situações estão associadas à velocidade de percolação do fluido no meio. PERKINS (1963) afirma que, com baixas velocidades de fluxo, o processo de dispersão hidrodinâmica deve-se a difusão molecular, e caso contrário, para altas velocidades, a mistura mecânica domina o processo (ELBACHÁ, 1989). Em solos finos, que têm baixa condutividade hidráulica e, conseqüentemente, velocidades de fluxo comumente baixas, a difusão molecular pode se tornar o principal mecanismo de contaminação, excedendo até o efeito da advecção. Além dos processos físicos descritos, também podem ocorrer reações químicas entre o solo e os contaminantes dissolvidos, ocasionando a alteração da concentração da solução percolante, por meio de processos bio-fisico-químicos. Os Processos bio-físico-químicos envolvem interações bio-físico-químicas, podendo ser complexas, de difícil separação dos efeitos físicos, químicos ou biológicos, e podem proporcionar variações nos movimentos de uma substância química através da água subterrânea ou do decaimento radioativo, levando a efeitos deletérios da mesma ao longo do tempo. Esses processos subdividem-se em efeitos de retardamento ou aceleração, e efeitos de degradação e decaimento. Nos primeiros compreendem os processos de adsorção/dessorção, sorção hidrofóbica, precipitação/dissolução, co-solvência, complexação, ionização e filtração. Nos últimos efeitos compreendem os processos de óxido/redução, hidrólise, metabolização, volatilização e sorção. Os contaminantes radiativos são afetados também pelo decaimento radioativo (THOMÉ, 2006). Figura 4: Tipo de transporte dominante, de acordo com o número de Peclet. As reações de adsorção-dessorção e precipitação-dissolução se destacam como as de maior importância na transferência de poluentes entre as fases líquida e sólida do sistema. Os 12 outros processos podem afetar a disponibilidade dos poluentes para o processo de transferência e/ou alterar a forma do poluente, aumentando ou diminuindo seus efeitos de contaminação (NOBRE, 1987). Durante o fluxo, a transferência da massa do soluto da solução para a matriz sólida do solo, onde fica retido, implica na redução da velocidade da frente de contaminação em relação à velocidade do fluido percolante. A Adsorção é o processo de adesão do soluto nas superfícies dos sólidos devido às forças de atração existentes, em virtude do desequilíbrio das cargas nas superfícies, resultantes de imperfeições ou substituições iônicas na estrutura cristalina dos minerais (substituição isomórfica) ou da quebra das ligações nas estruturas moleculares, principalmente nas extremidades (FREEZE, 1979). Geralmente, o principal mecanismo de retenção de íons dissolvidos é a troca iônica. A carga desequilibrada na superfície das partículas é compensada com a acumulação de íons de carga oposta, de maneira que um íon previamente aderido que tenha menor afinidade com o mineral é trocado por outro íon em solução (FREEZE, 1979; BORGES, 1996). A adsorção por troca iônica é mais lenta que a adsorção molecular (VOYUTSKY, 1978). A adsorção é o principal mecanismo de retenção de metais em solução, e apenas um dos mecanismos de retenção de substâncias orgânicas. A matéria orgânica presente no solo, mesmo em pequena quantidade, é capaz de contribuir com uma boa parcela da retenção de cátions. O processo de troca iônica é influenciado pelo pH da solução. Para soluções ácidas (pH menor que 7) tem-se uma alta concentração do íon H+, que bloqueia a substituição por outros cátions, resultando em uma menor troca catiônica em relação a soluções alcalinas (pH maior que 7) (LAGREGA, 1994; VOYUTSKY, 1978; BORGES, 1996). Ao contrário do que ocorre com os cátions, a adsorção de ânions é geralmente estimulada em ambientes ácidos. A adsorção é o mecanismo de retenção mais importante para moléculas polares e íons (ELBACHÁ, 1989). O processo da sorção química ou absorção é quando o soluto é incorporado ao mineral por uma reação química com ligações químicas fortes, geralmente covalentes. Neste caso, as moléculas sorvidas perdem sua identidade, com o rearranjo dos átomos para formar um novo composto (HASSET, 1989; FETTER, 1993). A adsorção física é muito mais comum que a sorção química (SHAW, 1992). A sorção hidrofóbica é caracterizada pelo processo de partição, distribuição da substância entre duas fases por dissolução, exclusivamente. Mecanismo comum na retenção de substâncias orgânicas na matéria orgânica do solo. Esta matéria atua como um meio solubilizante para as substâncias dissolvidas na água, sendo funcional e conceitualmente análoga a um solvente orgânico como octanol, por exemplo. Os compostos orgânicos neutros, 13 por terem mais afinidade com um solvente orgânico, passam da fase aquosa para a fase orgânica, onde é solubilizado. Quanto menos polar for o composto, maior a tendência de ser particionado na fase orgânica (fase hidrofóbica) a partir da água, que é um solvente polar. Portanto, solventes menos solúveis em água têm maior tendência a serem sorvidos a matéria orgânica. A partição é quantificada pelo coeficiente de partição octanol-água (Kow), referente à medida da tendência de uma substância se dissolver preferencialmente na água ou em um solvente orgânico (octanol) - característica hidrofóbica, por meio de suas concentrações após se atingir o equilíbrio (Equação 10). O coeficiente Kow mede o quão hidrofóbico é o composto, e está relacionado com o grau de solubilidade dos compostos orgânicos na água (THOMÉ, 2006). K ow = C octanol C água (10) Podem-se definir também coeficientes de partição no carbono orgânico (Koc) ou na matéria orgânica do solo (Kom), por meio de um fator de correlação entre estes, em virtude do peso da matéria orgânica ser maior que o do carbono orgânico Equação (11) (FETTER, 1993). K oc = 1,724 K om (11) A precipitação consiste no desprendimento de substâncias em excesso, inicialmente em solução, quando a sua concentração na solução excede o seu grau de solubilidade. A dissolução é o processo inverso da precipitação, ou seja, quanto à concentração das substâncias alcançar valores menores que o grau de solubilidade. Estes processos são reversíveis, e fortemente afetados pela temperatura e pH (THOMÉ, 2006). A co-solvência consiste na dissolução da substância em mais de um solvente. A presença de solventes promove um aumento da interação entre o soluto e o solvente que ocorre juntamente com a água. Particularmente, a solubilidade de uma substância orgânica pode aumentar e a capacidade de sorção do solo pode diminuir (THOMÉ, 2006). A complexação ou quelação é a capacidade de formação de substâncias complexas, por meio da formação de uma ligação coordenada, de caráter neutro, entre um cátion metálico e um ânion ou molécula polar, chamado de ligante, em que o conjunto destes envolve o metal (LAGREGA, 1994; FETTER, 1993). Geralmente, os complexos formados com ligantes inorgânicos são mais fracos que os formados com ligantes orgânicos (YONG, 1992). A 14 complexação aumenta a mobilidade potencial de um metal, pois o complexo formado é mais solúvel que o cátion metálico, além do complexo envolver o que seriam íons metálicos livres, diminuindo as oportunidades de adsorção e precipitação destes íons (LAGREGA, 1994). Advindo do processo da Ionização ácidos orgânicos podem doar elétrons em soluções aquosas, tornando-se ânions, aumentando significativamente sua mobilidade na água (LAGREGA, 1994). Além de substâncias dissolvidas, água subterrânea contaminada muitas vezes contém partículas em suspensão, que podem ser o próprio poluente, como bactérias ou pó pouco solúvel, ou conter substâncias poluentes sorvidas (DOMENICO, 1991). As Reações de Oxidação e Redução (reações redox) resultam na mudança da valência dos elementos envolvidos através da perda ou ganho de elétrons, respectivamente. Para manter o equilíbrio, toda oxidação é acompanhada de uma redução e vice-versa. Tais reações podem ser catalizadas por microorganismo, que não participam das reações, mas obtêm energia por meio da oxidação de compostos orgânicos, hidrogênio ou formas reduzidas de ferro, nitrogênio e enxofre. Para a ocorrência destas reações necessitam-se de receptadores de elétrons, que em condições aeróbias pode ser o oxigênio, e em condições anaeróbias são nitratos, sulfatos e dióxido de carbono (FETTER, 1993 e FREEZE, 1979). A Hidrólise é a reação da substância com moléculas de água, pela troca do grupo aniônico da substância por uma hidroxila (OH-), provocando a decomposição da substância (THOMÉ, 2006). A Metabolização decorre da degradação biológica, ou biodegradação, que consiste na transformação de moléculas orgânicas em outras menores, como conseqüência da atividade metabólica de microorganismos presentes no solo. A biodegradação aeróbia se caracteriza quando o oxigênio é requerido pelos microorganismos, e anaeróbia quando estes não requerem oxigênio. No subsolo, há a predominância dos processos anaeróbios devido ao distanciamento da água subterrânea à atmosfera, não havendo, portanto, a reposição do oxigênio consumido nas reações hidroquímicas e bioquímicas (FREEZE, 1979 e LAGREGA, 1994). A Volatilização é um processo de difusão pelo qual uma substância passa da sua fase líquida ou sólida para a gasosa, em que sua concentração é inicialmente baixa, e o equilíbrio é usualmente alcançado a concentrações diferentes em cada fase. A quantidade da substância que passa para a fase gasosa depende da sua pressão de vapor, e o processo ocorre até que sua pressão parcial da fase gasosa se equipare a sua pressão parcial de vapor. A volatilização de uma substância a partir da água ou do solo pode ser estimada com base na lei de Henry, que 15 determina que, na condição de equilíbrio, existe uma relação linear ente a pressão parcial da mesma na fase gasosa imediatamente acima do líquido e a sua fração molar dissolvida no líquido Equação (12). A lei de Henry é válida quando a substância é pouco solúvel, a fase gasosa pode ser considerada ideal, a substância não reage com o solvente ou com outra substância dissolvida. A constante de proporcionalidade da lei de Henry está associada à temperatura, e pode ser expressa como um coeficiente de partição ar-água Equação (13) (YOUNG, 1992; FETTER, 1993). Hi = Pi Xi (12) Hi = Cv Ca (13) onde, Pi = pressão parcial da substância (atm); Xi = fração molar da substância molar líquida (mol/m3 de água); Hi = constante de Henry (atm/mol/m3 de água); Cv = concentração da substância na fase de vapor; Ca = concentração da substância na fase líquida. A Sorção é a retenção de substâncias, termo que leva em consideração a natureza do processo, termo genérico usado para descrever a partição de constituintes da fase líquida para a fase sólida e, que não leva em consideração o mecanismo de retenção (HASSET, 1989). A habilidade do solo em reter substâncias é limitada, e sua taxa de retenção tende a diminui com o tempo, podendo se tornar nula, quando o solo atingiu sua capacidade de retenção (YOUNG, 1992). No entanto, a quantidade de substância que permanece dissolvida na água percolante aumenta à medida que a quantidade acumulada no solo se aproxima da sua capacidade de retenção. A transferência da substância para a fase sólida durante o fluxo provoca redução da velocidade da frente de contaminação em relação à velocidade do fluido, resultando em um fenômeno denominado retardamento da frente de contaminação. A quantidade de soluto sorvida pelos sólidos é comumente uma função da sua concentração na solução. A sorção é, geralmente, quantificada através da função de distribuição (Kd), que se refere a uma medida da partição do contaminante entre as fases sólida e líquida do sistema (BORGES, 1996). O coeficiente de distribuição (Kd) é um dos parâmetros mais importantes usado para estimar a migração de plumas de contaminação em solos. A relação entre a massa sorvida por unidade de massa de sólidos seca (Cs) e a concentração da substância que permanece em solução (Ce), descrito na Equação (14), depois 16 de atingido o equilíbrio, pode ser representada graficamente, dando origem às curvas conhecidas como Isotermas de Sorção (COSTA, 2002). log C s = N . log C e + log K ou C s = K .C eN (14) onde, Cs = massa de substância sorvida na fase sólida por unidade de massa seca de sólidos do meio poroso; Ce = concentração do soluto na solução; K e N = são coeficientes que dependem do soluto, natureza do meio poroso e condições do ambiente (FREEZE, 1979). Caso o coeficiente N seja igual a um, a relação é linear Equação (15), caracterizando uma isoterma linear, e o coeficiente K é substituído por Kd (coeficiente de distribuição). C s = K d .C e (15) Quando o coeficiente (Kd) assume valores baixos, indica que a sorção é baixa, indicando um avanço maior da pluma de contaminação. Entretanto, há menor avanço da pluma de contaminação quando se observam valores mais elevados do coeficiente (Kd), indicando maior sorção. O fator de retardamento (R) pode ser calculado por meio da Equação de Retardamento Equação (16) (FREEZE, 1979): R = 1+ ρd n .K d (16) onde, ρd = massa específica seca do solo [ML-3]; n = porosidade do solo. Os processos que envolvem o transporte de contaminantes em meios porosos podem ser representados matematicamente através de equações diferenciais desenvolvidas com base na conservação da massa do soluto na solução percolante. A equação do transporte é obtida por meio da representação do balanço de massa ou lei de conservação de massa, baseando-se na análise da variação da concentração do soluto, considerando o fluxo do soluto através de um volume elementar de solo (COSTA, 2002). A Equação (17) descreve o transporte de solutos em meio poroso saturado, para o caso unidimensional, devido aos mecanismos da advecção – dispersão. Como solução dessa equação tem-se a concentração C no espaço e no tempo - C(x, t) (FREEZE, 1979). Dx ∂ 2C ∂C ∂C − vx = 2 ∂x ∂t ∂x (17) 17 Existem inúmeras soluções analíticas para as formas mais simples da equação do transporte. No entanto, na maioria das situações de campo, análises bi ou tri-dimensional são necessárias, além das velocidades não serem uniformes e as dispersividades variarem no espaço (FREEZE, 1979). Analisando o caso representado na Figura 2, que esquematiza o ensaio de coluna (fluxo permanente, unidimensional), as condições de contorno são descritas matematicamente (Equação 18). C ( x,0) = 0, x ≥ 0 C (0, t ) = C 0 , t ≥ 0 C (∞, t ) = 0, t ≥ 0 (18) Para essas condições de contorno, a solução da Equação (17) para um solo saturado homogêneo é dado pela Equação (19). x − vt v C 1 = erfc + exp C0 2 Dl 2 Dl t x − v t erfc 2 Dl t (19) onde: erfc = função erro complementar (FREEZE, 1979). O efeito do retardamento no transporte dos solutos reativos deve ser considerado e, portanto, no balanço de massa, deve-se incluir a parcela que representa o ganho ou a perda de massa do soluto devido a reações bio-físico-químicas. Nesse caso, o efeito dos processos de sorção, a equação do transporte é expressa na Equação (20) (FREEZE, 1979). Dx ∂C ρ d ∂S ∂C ∂ 2C − vx + = 2 ∂x n ∂t ∂t ∂x (20) onde, ρd = massa específica seca do meio poroso (kg/m3); S = massa de substância sorvida (ou dessorvida) na parte sólida do meio poroso por unidade de massa de sólidos (kg). O primeiro termo da Equação (20) refere-se à parcela dispersiva do transporte, enquanto o segundo a parcela advectiva. O termo ∂S/∂t representa a taxa de sorção do soluto e, (ρd/n)(∂S/∂t), a mudança da concentração deste no fluido devido à sorção (FREEZE, 1979). A quantidade do soluto que é sorvido pelos sólidos é, comumente, função da sua concentração na solução (FREEZE, 1979). 18 Dentre as propriedades do solo que influenciam as reações dos metais e sua mobilidade no solo incluem-se a superfície específica, a textura, a temperatura, o pH, o potencial redox, a capacidade de troca catiônica (CTC), a quantidade de matéria orgânica, a quantidade e o tipo de minerais de argila, o tipo e quantidade de metais e a competição iônica (MATOS, 1995). A migração do arsênio no solo está condicionada à CTC (diretamente proporcional), ao pH, à matéria orgânica e à presença de argila. Os óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínio, a matéria orgânica e os ácidos húmicos contribuem significativamente para a retenção de arsênio (SHUQAIR, 2002). O chumbo (Pb) é considerado um dos metais pesados com menor mobilidade, sendo acumulado naturalmente nos horizontes superficiais. A forma química em que se encontra nos solos varia consideravelmente de um tipo de solo para outro, pois está sempre associado a argilominerais, oxihidróxidos de ferro, alumínio e manganês (KABATA-PENDIAS, 2000; FRANCHINI et al., 1999). Os solos possuem uma elevada capacidade de reter e armazenar mercúrio, devido ao forte acoplamento deste com o carbono presente. Os solos argilosos apresentam aparentemente uma elevada capacidade de reter mercúrio, podendo acumulá-lo por muitos anos. A quantidade de mercúrio acumulada no solo dependerá da história de deposição, da idade e das características deste. A constante de estabilidade condicional para o complexo está na faixa de 18,4 a 21,1, dependendo das condições ambientais como pH e salinidade. A presença de complexos, como Hg2+-ácido húmico, no solo aumenta a solubilidade, mobilidade e disponibilidade do mercúrio, diminuindo a metilação do mercúrio. Em estudos de adsorção realizados com latosolo vermelho escuro demonstrou-se que ocorre baixa adsorção do mercúrio a pH < 3,0, e a adsorção aumenta para a faixa de pH de 3,0-5,0, permanecendo então constante (BISINOTI, 2004). O aumento da mobilidade do zinco (Zn) ocorre em condições de oxidação elevada em meio ácido. Em ambiente neutro, alcalino e redutor apresenta pouca mobilidade. Tem como principais barreiras o pH, a adsorção pelas argilas, óxidos de Fe-Mn e matéria orgânica (REIMANN e CARITAT, 1998). Seu comportamento é diretamente proporcional à CTC (SHUQAIR, 2002). 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Caracterização da Área do Aterro O Aterro Controlado Jóquei Clube está limitado a oeste e a sul pela “Cidade Estrutural”, habitada por cerca de 35.000 pessoas, e com grandes problemas sociais e de 19 saneamento. A norte e a leste faz limite com o Parque Nacional de Brasília (PNB). A cidade localiza-se aproximadamente a 6,8 km da EPCL – DF-095 (via Estrutural), sentido BrasíliaCeilândia, e o acesso ao aterro encontra-se a 1,5 km da entrada principal da referida cidade. A área do aterro localiza-se na porção centro-oeste do Distrito Federal, aproximadamente, a 15º46’ de latitude sul, e a 48º00’ de longitude oeste. Está assentada sobre uma região com altitude aproximada de 1120 m, onde predomina o latossolo poroso vermelho escuro, com espessura média variando de poucos metros até dezenas de metros. O nível freático na região varia de 4 a 10 m de profundidade. O Aterro Controlado Jóquei Clube está em operação há mais de 40 anos, com deposição média diária de 2400 toneladas de resíduos sólidos. O aterro foi implantado sem impermeabilização de fundo ou tratamento de gases e líquidos decorrentes dos processos de decomposição dos resíduos, gerando problemas ambientais e sociais diversos (SANTOS, 2004). Na área do aterro, onde inúmeras sondagens foram realizadas, os materiais podem ser divididos em cinco camadas principais com as características (PASTORE et al., 1998): a) Solo residual laterítico e solo coluvionar laterítico: camadas compostas em grande parte por argila arenosa, vermelho-escuro, grupo LG’ da classificação MCT, com porosidade elevada que diminui com a profundidade, apresentando em geral NSPT < 13 golpes e valores de permeabilidade (K) da ordem de 10-5 m/s. Equivalem aos latossolos vermelhoescuro da classificação pedológica. A espessura destas camadas é bastante variável: 10 a 15m (solo residual laterítico) e 15 a mais de 20m (solo coluvionar laterítico). b) Cascalho laterítico: camada composta basicamente por cascalho laterítico argiloso, marrom escuro, apresentando em geral 12 < NSPT < 33. Esta camada não é contínua, encontrando-se quase sempre no topo dos solos saprolíticos, na zona de oscilação do nível d’água. A espessura média desta camada é da ordem de 2m. c) Solo saprolítico de ardósia: composto por silte argiloso, roxo/branco/marrom, grupo NS’da classificação MCT, com baixa porosidade, apresentando em geral NSPT > 24 e valores de permeabilidade (K) da ordem de 10-9m/s. d) Solo saprolítico de quartzito: composto essencialmente por areia fina amarelada/branca, grupo NA da classificação MCT, apresentando em geral NSPT > 10 golpes e valores de permeabilidade (K) da ordem de 10-5m/s. A presença de falhas dentro da área do aterro torna ainda mais delicada à questão da propagação de contaminantes, devido à exposição das rochas arenosas, originalmente intercaladas às ardósias. A maior permeabilidade das rochas arenosas, aliada ao plano 20 preferencial de escoamento - permeabilidade secundária causada pelo tectonismo, tornam-se caminhos potenciais de infiltração de contaminantes, podendo comprometer a água subterrânea encontrada em maiores profundidades (COSTA, 2002). Com o crescimento da cidade e aumento do consumo de água, a demanda da rede hídrica superficial está próxima do colapso. Dentre as diversas opções viáveis de abastecimento, a água subterrânea aparece como uma possível solução, principalmente para suprir pequenos núcleos populacionais isolados. 2.3 Análise Físico-Química do Efluente Todos os frascos e vasilhames, antes da coleta, foram devidamente lavados com ácido nítrico (HNO3) diluído, posteriormente com detergente e água natural em abundância, seguido de uma rinsagem de água destilada e/ou desmineralizada. Esse procedimento foi sempre seguido para os amostradores, funis, etc. Para o caso dos recipientes de armazenamento das amostras, foram utilizados frascos apropriados, já que a possibilidade de alteração da qualidade do efluente era praticamente desprezível. Foram coletadas quatro amostras em recipientes com 500 ml cada. Tais amostras foram coletadas na canalização central antes da lagoa de efluente do Aterro Controlado Jóquei Clube e foram encaminhadas e analisados os parâmetros Físico-Químicos pelo Laboratório de Águas da Universidade Católica de Brasília, localizado no Bloco “M” sala 228/229, Campus I da Universidade Católica de Brasília (UCB), obtendo-se os resultados dos parâmetros analisados, seguindo as metodologias determinadas pelas técnicas recomendadas no "Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater" (APHA, 2005). Foram realizados ensaios laboratoriais dos seguintes parâmetros: a) Físico-Químicos: DQO (Demanda Química de Oxigênio), DBO (Demanda Biológica de Oxigênio), Nitrato, Nitrogênio Amoniacal, Nitrogênio Total, Nitrito, pH, Condutividade Elétrica, Temperatura, Sólidos Solúveis e Sólidos em Suspensão; b) Bacteriológicos: Coliformes Totais e Coliformes Fecais (Escherichia coli). Outra parcela das amostras de efluente coletadas no Aterro Controlado Jóquei Clube foi encaminhada para o laboratório da Sabinbiotec Biotecnologia Ltda, onde foram analisados os seguintes metais, seguindo metodologias da APHA (2005): Arsênio (As), Bário (Ba), Chumbo (Pb), Mercúrio (Hg), Prata (Ag) e Zinco (Zn) (Tabela I). 21 Tabela I: Métodos utilizados nas análises de efluente. Parâmetros pH Condutividade Elétrica Nitrato Nitrito Nitrogênio Amoniacal Nitrogênio Total DQO DBO Sólidos Solúveis Sólidos em Suspensão Coliformes Totais Coliformes Fecais (Escherichia coli) Temperatura Arsênio Bário Chumbo Mercúrio Prata Zinco 3. Métodos Eletrométrico (APHA (2005); 4500 H+ - B) Condutividade Elétrica (APHA (2005); 2520 - B) Redução de Cádmio (APHA (2005); 4500 NO3 - E) Colorimétrico (APHA (2005); 4500 - NO2 - B) Nessler (Adaptado de APHA (2005); 4500 - NH3) Semi-Micro-Kjeldahl (APHA (2005); 4500-Norg-C) Refluxo Fechado (APHA (2005); 5220 - D) Respirométrico (OXITOP) (APHA (2005); 5210-D) Sólidos Dissolvidos (APHA (2005); 2540 C) Sólidos Suspensos Totais Seco a 103-105oC (APHA (2005); 2540-D) Teste do Substrato Enzimático (APHA (2005); 9223 - B) Teste do Substrato Enzimático (APHA (2005); 9223 - B) Medida em aparelho específico. Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - As) Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Ba) Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Pb). Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Hg). Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Ag). Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Zn). RESULTADOS E DISCUSSÃO Para melhor compreensão do efluente e servir de parâmetro para estudos futuros, foi realizada sua caracterização físico-química, bacteriológica (Tabela II) e análise de metais (Tabela III), apesar desta análise não fazer parte do objetivo proposto neste estudo. Os parâmetros físico-químicos e bacteriológicos foram determinados para a caracterização das amostras analisadas do efluente coletado (Tabela II). Vale ressaltar que os valores comumente obtidos pela relação DBO/DQO de aproximadamente 0,5, não foram encontrados nesta pesquisa. Os resultados foram repetidos no laboratório de águas de UCB, persistindo os mesmos valores anteriores. Além disso, consultando os resultados de PEREIRA et al (1997), os pesquisadores também encontraram valores com a mesma ordem de grandeza aos encontrados nesta pesquisa. Os resultados dos parâmetros físico-químicos dos metais (Tabela III) foram comparados com os limites permissíveis para os padrões da qualidade da água Classe 1 (águas doces), conforme o Art. 14 (CONAMA, 2005), uma vez que se espera um padrão excelente de qualidade para os usos previstos no enquadramento da classe mencionada (Tabela III). Apesar de serem verificados os valores de metais obtidos da amostra acima dos respectivos VMPs (CONAMA, 2005) - chumbo (Pb), Mercúrio (Hg), Prata (Ag), zinco (Zn), adotou-se a modelagem numérica somente para o metal zinco (Zn). 22 Tabela II: Resultados dos parâmetros Físico-Químicos, Bacteriológicos da amostra. Resultados Físico-Químicos em amostra de Efluente (chorume) Parâmetro Unidade Amostra Parâmetro pH Condutividade Elétrica Temperatura Nitrato Nitrito Nitrogênio Amoniacal 8,01 Nitrogênio Total µs/L 33,1 DQO °C 28,8 DBO mg/L 60,0 Sólidos Solúveis mg/L 2,0 Sólidos em Suspensão mg/L 1580,0 Resultados Bacteriológicos em amostra de Efluente Parâmetro Unidade Coliformes Totais NMP/100ml Coliformes Fecais (Escherichia coli) NMP/100ml Unidade Amostra mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L 1960,0 90000,0 16080,0 24233,0 880,0 Amostra 9,6 Ausente Tabela III: Resultados comparativos dos parâmetros Físico-Químicos dos Metais e dos valores máximos permitidos (VMP) pelo CONAMA (2005). Parâmetro Unidade Amostra VMP (Classe 1) Arsênio (As) mg/L < 0,001 0,01 Bário (Ba) mg/L < 0,50 0,7 Chumbo (Pb) mg/L 0,280 0,01 Mercúrio (Hg) mg/L < 0,001 0,0002 Prata (Ag) mg/L 0,02 0,01 Zinco (Zn) mg/L 1,20 0,18 Foram feitas modelagens numéricas por meio de simulações do comportamento do metal contaminante zinco (Zn). Nestas análises foram considerados os seguintes materiais para compor o revestimento de fundo do aterro sanitário: a) Solo natural; b) Liner argiloso; c) Solo natural e geomembrana; d) Liner argiloso e geomembrana. As características e propriedades geotécnicas do solo do Aterro Controlado Jóquei Clube, bem como os parâmetros ambientais do metal zinco (Zn) foram discutidos em trabalhos realizados por PEREIRA et al (1997) e CAVALCANTE (2006), e os valores de parâmetros obtidos encontram-se apresentados nas Tabelas IV e V. A partir dos parâmetros obtidos foram realizadas modelagens numéricas, utilizando o programa computacional LINER (CAVALCANTE, 2006). Os resultados estão plotados nos gráficos relacionados na Figuras 5 a 8. Em uma primeira análise (Figura 5.a), considerando-se uma camada de 0,6 m de solo natural e um tempo estimado de 50 anos, constata-se que 20% da concentração inicial (1,2 mg/L) do poluente atravessa a mesma, isto é, 0,24 mg/L. Conforme CONAMA (2005), o valor máximo permitido é de 0,18 mg/L, logo o perfil apresentado nesta situação não é adequado do ponto de vista geotécnico-ambiental. 23 Tabela IV: Parâmetros geotécnicos do solo para a situação do projeto. Solo natural + Liner Liner argiloso + Parâmetros Solo natural Geomembrana argiloso Geomembrana 3 1 ρd (kg/m ) 1413 1413 1550 1550 η (%)2 42,5 70,0 50,0 70,0 3 -5 -11 -9 Ky (m/s) 2,0 x 10 1,1 x 10 1,3 x 10 1,1 x 10-11 1 - massa específica seca do solo; 2 – porosidade; 3 - coeficiente de permeabilidade (direção vertical). Fonte: Adaptado de PEREIRA et al. (1997) e CAVALCANTE (2006). Tabela V: Parâmetros ambientais do contaminante (metal zinco (Zn)). Solo natural + Liner Liner argiloso + Parâmetros Solo natural Geomembrana argiloso Geomembrana 2 1 -10 -10 -11 D* (m /s) 5,5 x 10 5,5 x 10 5,5 x 10 5,5 x 10-11 Kd (m3/kg)2 2,0 x 10-3 2,0 x 10-3 1,0 x 10-3 1,0 x 10-2 1 – coeficiente de difusão molecular; 2 – coeficiente de distribuição. Fonte: Adaptado de CAVALCANTE (2006). Em uma segunda análise (Figura 5.b), considerando-se uma camada de 1,0 m de solo natural e um tempo estimado de 50 anos, foi constatado que 4% da concentração inicial (1,2 mg/L) do poluente atravessa a mesma, isto é, 0,05 mg/L. Como o valor máximo possível é 0,18 mg/L, constata-se que o perfil apresentado nesta situação é adequado do ponto de vista geotécnico-ambiental. Para o mesmo perfil e um tempo estimado de 100 anos, foi constatado que 18% da concentração inicial do poluente atravessa a mesma, ou seja, 0,21 mg/L, ou seja, considerando um tempo estimado maior, o projeto torna-se do ponto de vista geotécnicoambiental inviável. Em uma terceira análise (Figura 5.c), considerando-se uma camada de 2,0 m de solo natural e um tempo estimado de 100 anos, foi constatado que a concentração de poluente retida na mesma é 100%, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Em análise a (Figura 6.a), considerando uma camada de 0,6 m de liner argiloso (solo compactado) e um tempo estimado de 50 anos, o poluente começa a ser controlado a partir de 0,5 m, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Analisando a (Figura 6.b), considerando uma camada de 1,0 m de liner argiloso e um tempo estimado de 50 anos, o comportamento do poluente é estabilizado a partir de uma espessura de 0,5 m, tornado o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Como observado na (Figura 6.c), avaliando uma camada de 2,0 m de liner argiloso em um tempo estimado para 100 anos, foi verificado que a concentração de poluente retida na mesma é de 100%, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. 24 1,0 1,0 0,8 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 C/C0 C/C0 0,8 0,0 0,2 0,4 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,6 50 anos 100 anos 0,0 0,8 0,0 0,5 Espessura (m) 1,0 1,5 Espessura (m) (a) (b) 1,0 C/C0 0,8 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Espessura (m) (c) Figura 5: Projeção da espessura de uma camada de solo natural (a) de 0,6m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0m. 1,0 1,0 0,6 0,4 10 anos 20 anos 0,2 C/C0 0,8 1 ano 0,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 50 anos 100 anos 0,0 0,8 0,0 0,5 Espessura (m) 1,0 Espessura (m) (a) (b) 1,0 0,8 C/C0 C/C0 0,8 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Espessura (m) (c) Figura 6: Projeção da espessura de uma camada de liner argiloso (a) de 0,6m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0m. 1,5 25 Em uma primeira análise (Figura 7.a), considerando-se uma camada de 0,6 m de solo natural e associada a uma geomembrana em um tempo estimado de 50 anos, constatou-se que a partir de 0,5 m, o poluente apresenta retenção, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Em uma segunda análise (Figura 7.b), considerando uma camada de solo natural de 1,0 m associada à geomembrana, pode-se constatar que o comportamento do poluente é estabilizado a partir de uma espessura de 0,5 m, tornado o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Em uma terceira análise (Figura 7.c), projetando um perfil de solo natural de 2,0 m associada à geomembrana, contata-se que o poluente no período de 100 anos não apresenta poluição, portanto, do ponto de vista geotécnico-ambiental o projeto é viável. 1,0 1,0 0,8 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 C/C0 C/C0 0,8 0,0 0,2 0,4 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,6 50 anos 100 anos 0,0 0,8 0,0 0,5 Espessura (m) 1,0 1,5 Espessura (m) (a) (b) 1,0 C/C0 0,8 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Espessura (m) (c) Figura 7: Projeção da espessura de uma camada de solo natural com geomembrana (a) de 0,6m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0m. Em análise (Figura 8.a), e considerando uma camada de 0,6 m de liner argiloso associada a uma geomembrana em um tempo estimado de 50 anos, constatou-se que a partir de 0,3 m, o poluente apresenta retenção, tornando o projeto do ponto de vista geotécnicoambiental viável. Analisando a (Figura 8.b), considerando uma camada de liner argiloso de 1,0 m associada à geomembrana, pode-se constatar que o comportamento do poluente é estabilizado 26 a partir de uma espessura de 0,3 m, tornado o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Como observado na (Figura 8.c), projetando um perfil de liner argiloso de 2,0 m associada à geomembrana, contata-se que o poluente no período de 100 anos a concentração final é nula, portanto, do ponto de vista geotécnico-ambiental o projeto é viável. 1,0 1,0 0,8 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 C/C0 C/C0 0,8 0,0 0,2 0,4 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,6 50 anos 100 anos 0,0 0,8 0,0 0,5 Espessura (m) 1,0 1,5 Espessura (m) (a) (b) 1,0 C/C0 0,8 0,6 1 ano 0,4 10 anos 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Espessura (m) (c) Figura 8: Projeção da espessura de uma camada de liner com geomembrana (a) de 0,6m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0m. 4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O transporte de contaminantes nos solos é complexo e depende de um grande número de variáveis para ser simulado/modelado com confiabilidade. A literatura acadêmica recomenda o uso da tecnologia e dos conhecimentos adquiridos sobre o assunto, para que uma correta intervenção seja executada. A literatura indica que uma camada de solo natural de 0,6 m é aconselhada para compor a base de revestimento de células em aterros, porém ao fazer a modelagem ambiental com o software LINER verificou-se que, no caso em estudo, a espessura indicada não é suficiente para retenção de poluentes. No entanto, levando-se em consideração a modelagem realizada neste trabalho, para o metal zinco (Zn), o volume projetado do aterro e a viabilidade econômica com relativo baixo custo, recomenda-se a adoção de pelo menos uma camada de apenas o liner argiloso com espessura de 0,6m., proporcionando condições geotécnico- 27 ambientais seguras de retenção do chorume por um período de pelo menos 100 anos de vida útil do aterro. A utilização de materiais argilosos juntamente com geomembranas possibilita uma maior eficiência no controle de percolação de poluentes no solo. Portanto, o uso de ferramentas computacionais se torna necessário para mensurar de forma mais concisa os resultados, determinando assim o comportamento da pluma de contaminação em um período de tempo determinado. Recomenda-se que, em pesquisas futuras, sejam realizadas as modelagens nos mesmos moldes apresentados neste artigo, para se ter o conhecimento do comportamento dos demais metais obtidos (chumbo, mercúrio e prata), dentre outros de interesse, para que possa subsidiar tecnicamente estudos de viabilidade técnico-econômica de implementação. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer a Universidade Católica de Brasília (UCB), em especial, ao Laboratório de Águas e ao Laboratório de Geotecnia e Solos, ao Laboratório SABIN e ao Aterro Controlado Jóquei Clube de Brasília, por financiarem esta pesquisa e darem suporte à preparação deste artigo. Os mesmos agradecem primeiramente à Deus pela onipresença constante em suas vidas, aos familiares, amigos e professores pela amizade, apoio, compreensão e orientação ao longo da jornada de mais esta conquista. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION); AWWA (AMERICAN WATER WORKS); WEF (WATER ENVIRONMENT FEDERATION). Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 21ed. Washington, DC: American Public Health Association, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Apresentação de Aterros Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos: NBR 8419. Rio de Janeiro, 1984. 13p. BEAR, J. Dynamics of fluids in porous media. 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