COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Modelagem Laboratorial e Numérica de Contaminantes no Aterro Jóquei Clube do DF Transporte de Paulo Sérgio Pereira da Silva Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected] André Luís Brasil Cavalcante Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected] Márcio Muniz de Farias Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected] RESUMO: A geração e a destinação final dos resíduos sólidos urbanos são atualmente uns dos principais problemas que preocupam os especialistas atuantes na área de gestão de resíduos em aterros. Dessa forma, o chorume proveniente da decomposição dos resíduos pode percolar e contaminar o solo e a água subterrânea, exigindo a utilização de análises geotécnico-ambientais com o intuito de minimizar os impactos desses poluentes. Este estudo objetiva analisar opções de revestimento para a contenção do fluxo do contaminante zinco (Zn) no subsolo do Aterro Controlado Jóquei Clube em Brasília/DF, por meio de análises de seu comportamento no tempo e em espessuras de camadas associando solo natural, liner argiloso e geomembrana, através de modelagens pelo método das diferenças finitas, proporcionado pelo programa computacional LINER. Após a modelagem constatou-se que utilizando apenas uma camada de solo local de 0,6 m de espessura não é suficiente para retenção do contaminante, tendo sido então propostas novas alternativas. PALAVRAS-CHAVE: Aterro sanitário, liner, geomembrana, transporte de contaminantes. 1 A migração dos contaminantes através do meio poroso ocorre segundo mecanismos de transporte associados principalmente a processos físicos e químicos. Os processos físicos envolvem os fenômenos de advecção, difusão e dispersão, enquanto os químicos estão relacionados às interações que podem ocorrer entre solo e poluente em função das reações bioquímicas a que essas substâncias estão sujeitas, quando em contato com o solo. A contaminação do solo ocorre através da infiltração de líquidos percolados (chorume), de modo que os poluentes presentes no líquido penetram no solo, modificando drasticamente as suas características físicas, químicas e biológicas, podendo ainda, inviabilizar o uso destes recursos, bem como o de águas subterrâneas, caso consiga alcançá-las (Leite et al., 2004). O teor de matéria orgânica do chorume pode aumentar a solubilidade em água INTRODUÇÃO A destinação final dos resíduos de forma incorreta provoca a contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas por uma enorme variedade de substâncias poluentes, decorrentes das diversas fontes de contaminação, promovendo a disseminação de doenças e a degradação do meio. Nessas situações, para que se possa fazer a estimativa das áreas afetadas, ou a previsão do avanço de plumas de contaminação e a própria escolha do método de remediação, é necessário conhecer os fatores que influenciam o transporte dos contaminantes, como as condições ambientais e as propriedades dos contaminantes envolvidos (Costa, 2002). No solo, esses contaminantes podem estar dissolvidos na água percolante, principal agente transportador de substâncias no interior do solo. 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. representados matematicamente através de equações diferenciais desenvolvidas com base na conservação da massa do soluto na solução percolante. A equação do transporte é obtida por meio da representação do balanço de massa ou lei de conservação de massa, baseando-se na análise da variação da concentração do soluto, considerando o fluxo do soluto através de um volume elementar de solo (Cavalcante & Farias, 2006). A Equação (1) descreve o transporte de solutos em meio poroso saturado, para o caso unidimensional, devido aos mecanismos da advecção – dispersão – sorção. O efeito do retardamento no transporte dos solutos reativos deve ser considerado e, portanto, deve-se incluir no balanço de massa a parcela que representa o ganho ou a perda de massa do soluto devido a reações bio-físico-químicas (Freeze, 1979). de metais e outros compostos facilitando sua lixiviação e percolação, elevando o risco de contaminação de lençóis freáticos, aquíferos, lagos e rios. De acordo com Cassini (2003), o chorume pode permanecer por muitos anos após o encerramento das operações do aterro, fazendo-se necessário o monitoramento do líquido durante décadas. Durante o transporte de contaminantes através do solo, os seguintes processos devem ser controlados: (1) quantidade de contaminantes transportados em um tempo qualquer através de uma região de controle particular; (2) atenuação da concentração através da adsorção e processos de dessorção; (3) razão e extensão da propagação ou avanço da pluma de contaminação. A água é o agente transportador de contaminantes mais importante na obtenção e no entendimento da interação solo-água (Yong, 1992). Este artigo aborda o processo de transporte de contaminantes por meio de modelagem laboratorial, por meio de ensaios realizados no Laboratório de Águas da Universidade Católica de Brasília e, por meio de parceria, no Laboratório da Sabinbiotec Biotecnologia Ltda. Realizou-se também uma modelagem numérica do problema, por meio da solução da equação de transporte de contaminantes em meio porosos, usando o Método das Diferenças Finitas. O principal objetivo deste trabalho é analisar o transporte do metal zinco encontrado no chorume do Aterro Controlado Jóquei Clube de Brasília e propor soluções geotécnicas e ambientais para impedir o alcance do efluente no lençol freático. Para alcançar tais objetivos, as condições geotécnicas e ambientais foram modelados por meio do programa computacional LINER (Cavalcante & Farias, 2006), que é capaz de estimar o tempo de percolação de um metal, em uma camada de solo natural, ou em uma camada de solo natural associada à uma geomembrana, ou em um liner argiloso, ou em um liner argiloso associado à uma geomembrana. 2 ∂C ∂ 2C ∂C = D′ 2 − v ′ ∂t ∂x ∂x D′ = Dl v k , v ′ = x , v x = .i n R R e R =1+ Kd (1) ρd n (2) onde, C é a concentração do soluto (kg/m3); v é a velocidade de percolação (m/s); k é o coeficiente de permeabilidade (m/s); n é a porosidade do meio (adimensional); i é o gradiente hidráulico (m/m); ρd é a massa específica seca do meio poroso (kg/m3); Dl é o coeficiente de difusão (m2/s); Kd é o coeficiente de distribuição (m3/kg). Existem inúmeras soluções analíticas para as formas mais simples da equação do transporte. No entanto, na maioria das situações de campo, análises bi ou tri-dimensional são necessárias, além de as velocidades não serem uniformes e as dispersividades variarem no espaço (Freeze, 1979). x 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Caracterização da Área do Aterro REFERENCIAL TEÓRICO O Aterro Controlado Jóquei Clube está limitado a oeste e a sul pela “Cidade Estrutural”, Os processos que envolvem o transporte de contaminantes em meios porosos podem ser 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. habitada por cerca de 35.000 pessoas, e com grandes problemas sociais e de saneamento. A norte e a leste faz limite com o Parque Nacional de Brasília (PNB). A cidade localiza-se aproximadamente a 6,8 km da EPCL – DF-095 (via Estrutural), sentido Brasília-Ceilândia, e o acesso ao aterro encontra-se a 1,5 km da entrada principal da referida cidade (Figura 1). classificação pedológica. A espessura destas camadas é bastante variável: 10 a 15 m (solo residual laterítico) e 15 a mais de 20 m (solo coluvionar laterítico). b) Cascalho laterítico: camada composta basicamente por cascalho laterítico argiloso, marrom escuro, apresentando em geral 12 < NSPT < 33. Esta camada não é contínua, encontrando-se quase sempre no topo dos solos saprolíticos, na zona de oscilação do nível d’água. A espessura média desta camada é da ordem de 2 m. c) Solo saprolítico de ardósia: composto por silte argiloso, roxo/branco/marrom, grupo NS’da classificação MCT, com baixa porosidade, apresentando em geral NSPT > 24 e valores de permeabilidade da ordem de 10-9 m/s. d) Solo saprolítico de quartzito: composto essencialmente por areia fina amarelada/branca, grupo NA da classificação MCT, apresentando em geral NSPT > 10 golpes e valores de permeabilidade da ordem de 10-5 m/s. A presença de falhas dentro da área do aterro torna ainda mais delicada a questão da propagação de contaminantes, devido à exposição das rochas arenosas, originalmente intercaladas com ardósias. A maior permeabilidade das rochas arenosas, aliada ao plano preferencial de escoamento permeabilidade secundária causada pelo tectonismo, tornam-se caminhos potenciais de infiltração de contaminantes, podendo comprometer a água subterrânea encontrada em maiores profundidades. Figura 1: Vista Superior do Aterro Jóquei Clube do DF. A área do aterro localiza-se na porção centro-oeste do Distrito Federal, aproximadamente, a 15º46’ de latitude sul, e a 48º00’ de longitude oeste. Está assentada sobre uma região com altitude aproximada de 1120 m, onde predomina o latossolo poroso vermelho escuro, com espessura média variando de poucos metros até dezenas de metros. O nível freático na região varia de 4 a 10 m de profundidade. O Aterro Controlado Jóquei Clube está em operação há mais de 40 anos, com deposição média diária de 2400 toneladas de resíduos sólidos. O aterro foi implantado sem impermeabilização de fundo ou tratamento de gases e líquidos decorrentes dos processos de decomposição dos resíduos, gerando problemas ambientais e sociais diversos (Santos, 2004). Na área do aterro, onde inúmeras sondagens foram realizadas, os materiais podem ser divididos em cinco camadas principais com as seguintes características (Pastore et al., 1998): a) Solo residual laterítico e solo coluvionar laterítico: camadas compostas em grande parte por argila arenosa, vermelho-escuro, grupo LG’ da classificação MCT, com porosidade elevada que diminui com a profundidade, apresentando em geral NSPT < 13 golpes e valores de permeabilidade (k) da ordem de 10-5 m/s. Equivalem aos latossolos vermelho-escuro da 3.2 Análise Físico-Química do Efluente Foram coletadas quatro amostras em recipientes com 500 ml cada. Todos os frascos e vasilhames, antes da coleta, foram devidamente lavados com ácido nítrico (HNO3) diluído, posteriormente com detergente e água natural em abundância, seguido de uma rinsagem de água destilada e/ou desmineralizada. Esse procedimento foi sempre seguido para os amostradores, funis, etc. Para o caso dos recipientes de armazenamento das amostras, foram utilizados frascos apropriados, já que a possibilidade de alteração da qualidade 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. do efluente era praticamente desprezível. As amostras foram coletadas na canalização central antes da lagoa de efluente do Aterro Controlado Jóquei Clube e foram encaminhadas e analisados os parâmetros Físico-Químicos pelo Laboratório de Águas da Universidade Católica de Brasília (UCB), obtendo-se os resultados dos parâmetros analisados, seguindo as metodologias determinadas pelas técnicas recomendadas no "Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater" (APHA, 2005). Outra parcela das amostras de efluente coletadas no Aterro Controlado Jóquei Clube foi encaminhada para o Laboratório da Sabinbiotec Biotecnologia Ltda, onde foram analisados os seguintes metais, seguindo metodologias da APHA (2005): Arsênio (As), Bário (Ba), Chumbo (Pb), Mercúrio (Hg), Prata (Ag) e Zinco (Zn) (Tabela 1). Foram realizados ensaios laboratoriais dos seguintes parâmetros: a) Físico-Químicos: DQO (Demanda Química de Oxigênio), DBO (Demanda Biológica de Oxigênio), Nitrato, Nitrogênio Amoniacal, Nitrogênio Total, Nitrito, pH, Condutividade Elétrica, Temperatura, Sólidos Solúveis e Sólidos em Suspensão; b) Bacteriológicos: Coliformes Totais e Coliformes Fecais (Escherichia coli). DBO/DQO de aproximadamente 0,5, não foram encontrados nesta pesquisa. Os resultados foram repetidos no Laboratório de Águas da UCB, persistindo os mesmos valores anteriores. Além disso, consultando os resultados de Pereira et al (1997), os pesquisadores também encontraram valores com a mesma ordem de grandeza dos encontrados nesta pesquisa. Os resultados dos parâmetros físicoquímicos dos metais (Tabela 3) foram comparados com os limites permissíveis para os padrões da qualidade da água Classe 1 (águas doces), conforme o Art. 14 da Resolução 357 do CONAMA (2005).Pela Tabela 3, verifica-se que os valores de metais obtidos para a amostra em análise são superiores aos VMPs no caso do chumbo (Pb), do mercúrio (Hg), da prata (Ag) e do zinco (Zn). Tabela 2. Resultados dos parâmetros Físico-Químicos, Bacteriológicos da amostra. Resultados Físico-Químicos em amostra de Efluente (chorume) Parâmetro Parâmetro Unidade Amostra mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L 1960,0 90000,0 16080,0 24233,0 880,0 Amostra 9,6 Ausente Tabela 3. Resultados comparativos dos parâmetros Físico-Químicos dos Metais e dos valores máximos permitidos (VMP) pelo CONAMA (2005). Tabela 1. Métodos utilizados nas análises de efluente. 5 Amostra 8,01 Nitrogênio Total µs/L 33,1 DQO °C 28,8 DBO mg/L 60,0 Sólidos Solúveis mg/L 2,0 Sólidos em Suspensão mg/L 1580,0 Resultados Bacteriológicos em amostra de Efluente Parâmetro Unidade Coliformes Totais NMP/100ml Coliformes Fecais (Escherichia coli) NMP/100ml Parâmetro Parâmetros pH Condutividade Elétrica Nitrato Nitrito Nitrogênio Amoniacal Nitrogênio Total DQO DBO Sólidos Solúveis Sólidos em Suspensão Coliformes Totais Coliformes Fecais (Escherichia coli) Temperatura Arsênio Bário Chumbo Mercúrio Prata Zinco Unidade pH Condutividade Elétrica Temperatura Nitrato Nitrito Nitrogênio Amoniacal Métodos Eletrométrico (APHA (2005); 4500 H+ - B) Condutividade Elétrica (APHA (2005); 2520 - B) Redução de Cádmio (APHA (2005); 4500 NO3 - E) Colorimétrico (APHA (2005); 4500 - NO2 - B) Nessler (Adaptado de APHA (2005); 4500 - NH3) Semi-Micro-Kjeldahl (APHA (2005); 4500-Norg-C) Refluxo Fechado (APHA (2005); 5220 - D) Respirométrico (OXITOP) (APHA (2005); 5210-D) Sólidos Dissolvidos (APHA (2005); 2540 C) Sólidos Suspensos Totais Seco a 103-105oC (APHA (2005); 2540-D) Teste do Substrato Enzimático (APHA (2005); 9223 - B) Unidade Amostra VMP (Classe 1) Arsênio (As) mg/L < 0,001 0,01 Bário (Ba) mg/L < 0,50 0,7 Chumbo (Pb) mg/L 0,280 0,01 Mercúrio (Hg) mg/L < 0,001 0,0002 Prata (Ag) mg/L 0,02 0,01 Zinco (Zn) mg/L 1,20 0,18 Foram feitas modelagens numéricas por meio de simulações do comportamento do metal contaminante zinco (Zn). Nestas análises foram considerados os seguintes materiais para compor o revestimento de fundo do aterro sanitário: a) solo natural; b) liner argiloso; c) solo natural e geomembrana; d) liner argiloso e geomembrana. As características e propriedades geotécnicas do solo do Aterro Controlado Jóquei Clube, bem como os parâmetros ambientais do metal zinco (Zn) foram discutidos em trabalhos realizados por Pereira et al. (1997) e Cavalcante & Farias (2006), e encontram-se apresentados nas Tabelas 4 e 5. Teste do Substrato Enzimático (APHA (2005); 9223 - B) Medida em aparelho específico. Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - As) Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Ba) Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Pb). Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Hg). Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Ag). Absorção atômica (APHA (2005); 3500 - Zn). RESULTADOS Os parâmetros físico-químicos e bacteriológicos determinados para a caracterização das amostras analisadas do efluente coletado são apresentados na Tabela 2. Vale ressaltar que os valores comumente obtidos pela relação 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 1,0 Tabela 4. Parâmetros geotécnicos do solo para a situação do projeto. Solo natural ρd (kg/m3)1 n (%)2 Ky (m/s)3 1413 42,5 2,0 x 10-5 Solo natural + Geomembrana 1413 70,0 1,1 x 10-11 Liner argiloso 1550 50,0 1,3 x 10-9 C/C0 Parâmetros 0,8 Liner argiloso + Geomembrana 1550 70,0 1,1 x 10-11 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 Fonte: Adaptado de Pereira et al. (1997) e Cavalcante & Farias (2006). 0,0 0,2 Tabela 5. Parâmetros ambientais do contaminante (metal zinco). Parâmetros Solo natural D* (m2/s)1 Kd (m3/kg)2 5,5 x 10-10 2,0 x 10-3 Solo natural + Geomembrana 5,5 x 10-10 2,0 x 10-3 Liner argiloso 5,5 x 10-11 1,0 x 10-3 0,4 0,6 0,8 Espessura (m) (a) Liner argiloso + Geomembrana 5,5 x 10-11 1,0 x 10-2 1,0 0,8 C/C0 Fonte: Adaptado de Pereira et al. (1997) e Cavalcante & Farias (2006). A partir dos parâmetros obtidos foram realizadas modelagens numéricas, utilizando o programa computacional LINER (Cavalcante & Farias, 2006). Este programa implementa uma solução da Equação (1) pelo MDF para dadas condições iniciais e condições de contorno. Os resultados estão plotados nos gráficos das Figuras 2 a 5. Na Figura 2 apresenta-se a evolução da concentração (C) de Zn, normalizada pela concentração inicial (C0), ao longo da profundidade da camada de liner. Em uma primeira análise (Figura 2a), considerando-se uma camada de 60 cm de solo natural e um tempo de vida útil estimado em 50 anos, constata-se que 20% da concentração inicial (1,2 mg/L) do poluente atravessa a mesma, isto é, 0,24 mg/L. Conforme CONAMA (2005), o valor máximo permitido é de 0,18 mg/L, logo o perfil apresentado nesta situação não é adequado do ponto de vista geotécnicoambiental. Aumentando-se a espessura da camada de solo natural para 1,0 m (Figura 2b) e um tempo de vida útil estimado em 50 anos, foi constatado que 4% da concentração inicial (1,2 mg/L) do poluente atravessa a mesma, isto é, 0,05 mg/L. No entanto, para o mesmo perfil e um tempo de vida útil maior estimado em 100 anos, foi constatado que 18% da concentração inicial do poluente atravessa a mesma, ou seja, 0,21 mg/L, o que torna o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental inviável. 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 Espessura (m) (b) 1,0 C/C0 0,8 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Espessura (m) (c) Figura 2: Projeção da espessura de uma camada de solo natural (a) de 0,6 m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0 m. Por último, adotando-se uma camada de 2,0 m de solo natural (Figura 2c) e um tempo de vida útil estimado em 100 anos, foi constatado que a concentração de poluente retida na mesma é 100%, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. No entanto, é bom frisar que nem sempre em toda a extensão do aterro sanitário, existe uma fundação com esta espessura. Em uma segunda análise (Figura 3a), considerando uma camada de 60 cm de liner argiloso (solo compactado) e um tempo de vida útil estimado em 100 anos, a concentração de poluente retida é da ordem de 96%, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 1,0 1,0 0,8 1 ano 10 anos 0,6 0,4 C/C0 C/C0 0,8 20 anos 0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 1 ano 10 anos 0,6 50 anos 100 anos 0,0 0,8 0,0 0,2 Espessura (m) 0,4 0,8 0,8 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 0,0 1,0 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,5 50 anos 100 anos 0,0 1,5 0,0 0,5 Espessura (m) 1,0 1,5 Espessura (m) (b) (b) 1,0 1,0 0,8 0,8 1 ano 10 anos 0,6 0,4 C/C0 C/C0 0,8 (a) 1,0 C/C0 C/C0 (a) 1,0 0,0 0,6 Espessura (m) 20 anos 0,2 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 1 ano 10 anos 0,6 50 anos 100 anos 0,0 2,5 0,0 Espessura (m) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Espessura (m) (c) (c) Figura 3: Projeção da espessura de uma camada de liner argiloso (a) de 0,6 m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0 m. Figura 4: Projeção da espessura de uma camada de solo natural com geomembrana (a) de 0,6 m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0 m. Analisando as Figuras 3b e 3c, isto é, considerando uma camada de 1,0 m ou 2,0 m de liner argiloso e um tempo estimado de 100 anos, a concentração de poluente é totalmente retida, tornado o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Em uma terceira análise (Figura 4a), considerando-se uma camada de 60 cm de solo natural associada a uma geomembrana de 1,0 mm de espessura e um tempo de vida útil estimado em 50 anos, obtém-se uma retenção de 97% do poluente, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Analisando as Figuras 4b e 4c, isto é, considerando uma camada de 1,0 m ou 2,0 m de liner argiloso e um tempo estimado de 100 anos, a concentração de poluente é totalmente retida, tornado o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Por último, em uma quarta análise (Figura 5a), e considerando uma camada de liner argiloso associada a uma geomembrana de 1,0 mm de espessura e um tempo de vida útil estimado em 50 anos, constatou-se que a partir de 30 cm de liner, o poluente apresenta fica 100% retido, tornando o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. Analisando as Figuras 5b e 5c, isto é, considerando uma camada de 1,0 m ou 2,0 m de liner argiloso e um tempo estimado de 100 anos, a concentração de poluente é totalmente retida, tornado o projeto do ponto de vista geotécnico-ambiental viável. 6 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. custo, recomenda-se a adoção de pelo menos uma camada de liner argiloso com espessura de de 80 cm a 100 cm, proporcionando condições geotécnico-ambientais seguras de retenção do chorume por um período de pelo menos 100 anos de vida útil do aterro. A utilização de materiais argilosos juntamente com geomembranas possibilita uma maior eficiência no controle de percolação de poluentes no solo. Portanto, o uso de ferramentas computacionais se torna necessário para mensurar de forma mais concisa os resultados, determinando assim o comportamento da pluma de contaminação para um certo período de tempo. Recomenda-se que, em pesquisas futuras, sejam realizadas as modelagens nos mesmos moldes apresentados neste artigo, para se ter o conhecimento do comportamento dos demais metais obtidos (chumbo, mercúrio e prata), dentre outros de interesse, para que possa subsidiar tecnicamente estudos de viabilidade técnico-econômica de implementação. 1,0 C/C0 0,8 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 Espessura (m) (a) 1,0 C/C0 0,8 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 Espessura (m) (b) 1,0 C/C0 0,8 1 ano 10 anos 0,6 0,4 20 anos 0,2 50 anos 100 anos 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 AGRADECIMENTOS 2,5 Espessura (m) Os autores gostariam de agradecer ao CNPq, a Universidade Católica de Brasília (UCB), ao Laboratório da Sabinbiotec Biotecnologia Ltda e ao Aterro Controlado Jóquei Clube de Brasília, por financiarem esta pesquisa e darem suporte à preparação deste artigo. (c) Figura 5: Projeção da espessura de uma camada de liner com geomembrana (a) de 0,6 m; (b) de 1,0 m; (c) de 2,0 m. 6 CONCLUSÃO O transporte de contaminantes nos solos é complexo e depende de um grande número de variáveis para ser simulado/modelado com confiabilidade. A literatura acadêmica recomenda o uso da tecnologia e dos conhecimentos adquiridos sobre o assunto, para que uma correta intervenção seja executada. A literatura indica que uma camada de solo argiloso compactado de 60 cm é aconselhada para compor a base de revestimento de células em aterros, porém ao fazer a modelagem ambiental com o software LINER verificou-se que, no caso em estudo, a espessura indicada não é suficiente para retenção do contaminante zinco, dependendo da vida útil do aterro sanitário. No entanto, levando-se em consideração o volume projetado do aterro e a viabilidade econômica com relativo baixo REFERÊNCIAS Ingold, T.S. e Miller, K.S. (1983). 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