A integração da extensão universitária em comunidades da região de Curitiba, Paraná, Brasil Márcia Kiyoe Shimada1,Débora do Rocio Klisiowicz1, Larissa Reifur1, Karen Caroline da Silva1,2. 1. Departamento de Patologia Básica, Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Biológicas, 2. Bolsista Inclusão Social, Fundação Araucária. Introdução A alta prevalência de parasitoses é um grande desafio para a saúde pública no que se refere ao controle de entero e ectoparasitoses. Baseado nas informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que 3,5 bilhões de pessoas estão infectadas, e destas, 450 milhões estão doentes devido a parasitoses, sendo a maioria crianças (WHO, 2013). A cada ano, cerca de 65.000 mortes são atribuídas diretamente a infecções por ancilostomídeos, outras 60.000 a Ascaris lumbricoides e 100.000 ao protozoário Entamoeba histolytica (Montresor, 1998). Os enteroparasitos são bastante comuns, principalmente, nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, onde o clima favorece o desenvolvimento e a disseminação das formas infectantes dos parasitos. A taxa de prevalência no país varia conforme a região, pois está relacionada às condições de saneamento básico, nível socioeconômico, grau de escolaridade, hábitos de higiene precários, faixa etária dos indivíduos (Botero, 1981; Machado et al., 1999; Gurgel et al., 2005) e a aglomeração de indivíduos como em creches, orfanatos e presídios que agravam esse problema de saúde pública (Roque et al., 2005; Abraham, 2007; CabralMiranda, 2010). A alta ocorrência de enteroparasitos é um importante indicador das condições de saneamento de uma população (Brasil, 2004). Os enteroparasitos podem acarretar má-absorção de nutrientes, anemia, diarreia crônica, desnutrição e dores abominais (Buschini et al., 2007). Em crianças as enteroparasitoses estão associadas ao atraso no crescimento, dificuldade de concentração e aprendizado, irritabilidade e baixo rendimento escolar (Prado et al., 2001). No caso da ascaridíase podem ocorrer diversas complicações decorrentes da infecção maçica ou migração errática das larvas, podendo causar, por exemplo, obstrução intestinal e apendicite, os quais podem levar o indivíduo a óbito (Ferreira et al., 2006). No ano de 2001, as doenças infecciosas e parasitárias no Brasil representaram a segunda maior causa de internações hospitalares na região Nordeste, e a terceira e quarta causas de internações, respectivamente, nas regiões Sul e Sudeste (Brasil, 2004). As parasitoses, consequentemente, geram custos aos orçamentos familiares e despesa ao Estado, seja pela improdutividade ou pela assistência médica e hospitalar. Tendo em vista alguns dos inúmeros trabalhos que relatam a alta prevalência de enteroparasitos e ectoparasitos em população em idade pré-escolar e escolar e inclusive constatado em resultados preliminares, a importância da educação sanitária e a identificação de fontes de infecção como importante profilaxia e a necessidade de pequisas com fitoterapia no controle de parasitoses, o projeto de extensão visa diagnosticar e determinar a prevalência de entero e ectoparasitos, investigar as fontes de infecção, avaliar a eficácia de plantas medicinais com atividade antiparasitária e informar a população alvo sobre as parasitoses por meio de educação sanitária. Metodologia 1. População alvo e aspectos éticos O projeto engloba a população situada na região de Curitiba, Paraná, Brasil, principalmente, crianças em idade pré-escolar e escolar. A participação no trabalho foi mediante concordância dos pais/ou responsável por meio de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a Resolução n°196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (Ministério da saúde, 1996). Para a investigação das fontes de infecção foram selecionadas apenas as famílias cujas crianças apresentaram alta carga parasitária 2. Coleta de material biológico 2.1. Amostras fecais Para a coleta das amostras de fezes e para o método de Graham foram distribuídos kits para as crianças ou responsáveis contendo frascos coletores, lâmina com fita gomada e folhetos explicativos. As amostras foram transportadas em uma caixa de isopor refrigerada, para o laboratório de Parasitologia Humana e Veterinária do Departamento de Patologia Básica do Setor de Ciências Biológicas da UFPR onde foram armazenadas a 4 ºC. 2.2. Amostras de fontes de infecção As amostras de solo foram coletadas em área peridomiciliar, retirando-se material de forma superficial e com 5 cm de profundidade. Foram realizadas de quatro a seis coletas de 100 g de terra de cada residência dependendo do tamanho da área, acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas a 4 ºC. As amostras de água foram coletadas de água de torneira, de rio, mina, nascentes e água de irrigação das hortaliças. O material foi filtrado em membrana de celulose 0,45 μm com o auxílio de uma bomba a vácuo. Em uma placa de Petri, as membranas foram mergulhadas em água destilada e o material retido na superfície foi raspado com uma lâmina de vidro. Posteriormente, esse material foi transferido para tubos de 15 mL para sedimentação do material. Os tubos foram acondicionadas em geladeira. No ambiente domiciliar poeira do chão das casas também foi coletado com o auxílio de uma vassoura e uma pá, cada amostra é referente a uma residência. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos até o processamento. Para as amostras das sujidades das mãos foi realizada a lavagem das mãos dos participantes com 500 mL de água destilada que foi acondicionada em garrafas limpas. Esse material foi filtrado em membrana de celulose 0,45 μm com auxílio de bomba a vácuo. Em uma placa de Petri, as membranas foram mergulhadas em água destilada e a superfície onde ficou retido o sedimento foi raspado com uma lâmina de vidro e recolhido em tubos de 15 mL para sedimentação do material. Os tubos foram armazenados a 4 ºC até o processamento. Amostras fecais dos animais domésticos foram coletadas da superfície sem contato com o solo, acondicionadas em sacos plásticos limpos a 4 ºC até o processamento. 3. Métodos coproparasitológicos Método de sedimentação espontânea (Lutz, 1919; Hoffmann, Pons & Janer, 1934) foi utilizado para processar amostras de fezes, poeira das casas, solo, água e sujidade das mãos. Método de centrífugo-flutuação em Sulfato de zinco (Faust et al., 1938) foi utilizado para processar amostras de fezes, poeira das casas, solo, água e sujidade das mãos. 4. Método de Graham (Graham, 1941) O método foi utilizado para investigar a presença de ovos de helmintos em material coletado da parede, vasos sanitários, trincos e descargas dos banheiros. Uma fita adesiva foi aderida cinco vezes em cada local de coleta. 5. Processamento das amostras As amostras foram processadas em duplicata (poeira das casas e fezes dos animais domésticos), triplicata (amostra de solo), duas alíquotas de cada camada do sedimento (superfície, meio e fundo) para amostras de água ou todo o sedimento (sujidade das mãos). A leitura das lâminas foi realizada em aumento de 100x ou 400x em microscópio óptico corado com lugol. 6. A avaliação da eficácia da planta medicinal Mentha villosa foi realizada em crianças parasitadas. O chá de hortelã foi preparado diariamente e 20 mL administrado durante o lanche fornecido nas merendas. Exames coproparasitológicos foram realizados antes, durante (5º dia), no final do tratamento (10º dia), 15º dia e 20º dia para acompanhamento da carga parasitária e verificar a eficácia. 7. Educação sanitária Atividades de educação sanitária foram realizadas com as escolas e familiares participantes por meio de palestras, atividades lúdicas e distribuição de cartazes e folders informando sobre a importância das parasitoses bem como orientando sobre as formas de profilaxia e controle. Resultados e discussão Das 109 pessoas que participaram do trabalho, a prevalência de enteroparasitos foi de 61,4 % (67). O alto índice de parasitismo está diretamente relacionado as más condições higiênico-sanitárias que refletiram nos resultados encontrados neste trabalho. Estes fatores, favorecem o desenvolvimento dos parasitos que, segundo Neves et al (2005), são transmitidos pela água, pelo solo ou alimentos contaminados com dejetos humanos constituindo o ciclo fecal-oral. As análises das fontes de infecção constaram que de 4 a 6 amostras de solo de 9 residências, 66,6% (6/9) apresentaram resultado positivo para Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiuria e ancilostomídeo. Não foram encontrados elementos parasitários nas cinco amostras de água coletadas de cinco residências. As amostras das sujidade das mãos foram coletadas de 29 indivíduos e 6,9% (2) foram positivos para Entamoeba coli e Ascaris lumbricoides. Das 31 amostras de fezes dos animais domésticos, 87 % (n=27) apresentaram resultado positivo para uma ou mais espécies de enteroparasitos. Dentre eles, algumas de importância zoonótica como ancilostomídeo e Toxocara. A constatação de parasitos transmitidos fecal-oralmente em algumas amostras mostra que a população estudada encontra-se em ambiente de alto risco de reinfecção por enteroparasitos. Em fezes de um cão foram encontrados também ovos da família Ascarididae podendo este animal servir como disseminador. A administração de infuso de chá de hortelã tem se mostrado eficaz na diminuição da carga parasitária analisada por exames coproparasitológicos. Apesar do esforço despendido pela equipe para informar a comunidade sobre a epidemiologia das enteroparasitoses ainda é necessário e falta uma intervenção política que atuasse para melhorar a qualidade de vida da população adotando medidas de controle para diminuir a prevalência das parasitoses intestinais. Além dos resultados serem amplamente discutidos com as autoridades sanitárias dos municípios nas quais o projeto atua, as informações obtidas na comunidade fomentam as aulas de graduação e pós-graduação além de aportarem dados importantes para pesquisa científica. Fonte financiadora: Proec-UFPR, Fundação Araucária, Proext –MEC/SESU. Referências 1. Abraham RS, Tashima NT, Silva MA. (2007) “Prevalênica de enteroparasitoses em reeducandos da Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira de Presidente Venceslau – SP” Rev Bras Anal Clin 39(1):39-42. 2. Botero D (1981) “Persistências de parasitoses intestinais endêmicas na America latina” Bol Ofíc Sanit Panamer 60: 39- 47. 3. Buschini MLT, Pittner E, Czervinski T, Moraes IF, Moreira MM, Sanches HF, et al. (2007) “Spacial distribuition of enteroparasites among school childen from Guarapuava, State of Paraná, Brazil” Rev Bras Epidemiol 10(4):568-78. 4. Cabral-Miranda G, Dattoli VCC, Dias-Lima A. 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