HISTOPLASMOSE: Diagnóstico e Tratamento Terezinha M. J. Silva Leitão Universidade Federal do Ceará Hospital São José DEFINIÇÃO • DOENÇA FEBRIL SISTÊMICA •É A MICOSE ENDÊMICA QUE MAIS FREQUENTEMENTE CAUSA INFECÇÃO NO HOMEM •CAUSADA POR: Histoplasma capsulatum Kauffman CA. Clin Chest Med. 2009. 30: 217-225 HISTOPLASMA E O SEU AMBIENTE • Onde é Encontrado? • Solo com substâncias orgânicas, rico em fezes de pássaros e morcegos • Qual sua Distribuição? • Áreas endêmicas: • Américas ao longo de grandes vales fluviais, lagos e serras • Partes da Ásia e África • Fatores de Risco: limpeza de galinheiros e forros, atividade com terra, construção civil, demolição. NEGRONI apud FOCACCIA, 2005; KWON-CHUNG; BENNETT, 1992; FERREIRA. Rev Soc Bras Med Trop 2009. FISIOPATOGENIA INFECÇÃO POR HISTOPLASMA FORMAS CLÍNICAS • Infecção Assintomática: maioria dos casos • Histoplamose Pulmonar: • Aguda • Crônica • Histoplasmose Disseminada: • Crônica • Aguda/subaguda: infecção primária ou reativação HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA Características: •Intensidade variável de sintomas respiratórios, tosse, febre, artralgias, lesões de pele. •Acomete Imunocompetentes •Descrita na literatura como em surtos. Autolimitada •Exposição a grande quantidade de propágulos HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA Geralmente cura com formação de calcificação ou nódulo COMPLICAÇÕES CASO CLÍNICO • Menino de 13 anos • De Sobral • Há 6 meses com tosse produtiva. Negava febre, dor torácica, dispnéia ou adinamia. Teve discutível perda de peso. • Antecedentes de alergia respiratória • Presença de pombos na praça em frente ao colégio que estuda. Negava contatos com morcegos. • Bom estado geral • Diminutos gânglios cervicais e epitrocleanos. • ACP=normal; • Abdome sem massas palpáveis Exames HB 15,9 Leucócitos 6580 Plaquetas 247.000 Sorologia CMV: IgM e IgG Neg Sorologia Toxo: IgM e IgG PPD Neg Neg PCR 0,012 Sorologia para Histoplasma Positiva Tratado com Itraconazol 400 mg /dia com melhora significativa dos sintomas HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA •Paciente masculino, 51 anos, agricultor •Trabalhou com demolição em 2010-11 •Março de 2011, com adinamia, febre, tosse , artralgia e dor torácica •TCAR com padrão micronodular. Pesquisas e culturas para BAAR negativas. Sem melhora com RIPE •Histoplasma na biopsia pulmonar HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA EM IMUNOSSUPRIMIDOS Paciente com HIV Dos pacientes que tiveram infecção respiratória não tuberculosa, em internação anterior, 42,2% destes evoluíram para óbito na internação seguinte. Pontes, et a., Rev Soc Bras Med Trop 43(1):27-31, jan-fev, 2010 HISTOPLASMOSE PULMONAR CRÔNICA Características: •Sintomas respiratórios, progressivos e persistentes •Acomete Imunocompetentes com doença pulmonar prévia •Exposição a grande quantidade de partículas •Resposta pobre ao tratamento Diagnóstico sorológico •Imunodifusão (ID): -Qualitativa, detecta anticorpos a dois antígenos fúngicos: banda H e banda M: -Tem elevada especificidade mas baixa sensibilidade. -A banda H aparece após a M, mas ocorre de 7-20% dos casos agudos -A banda M é mais detectada e pode indicar infecção passada, aguda (persiste por até 3 anos). -A presença de ambas é considerada conclusiva para histoplasmose. •Fixação do complemento: -Detecta anticorpo contra levedura ou micélio -Mais sensível porém menos específico -Quantitativo: 1:32 ou aumento de 4x é indicativo de doença •ELISA: sensibilidade 92%; especificidade 96% Braz J Microbiol. 2010 May 4. FORMAS CLÍNICAS • Infecção Assintomática: maioria dos casos • Histoplamose Pulmonar: • Aguda • Crônica • Histoplasmose Disseminada: • Crônica • Aguda/subaguda HISTOPLASMOSE DISSEMINADA CRÔNICA Características: •Def. Acomete tecidos outros que pulmão e linfonodos. •Progressão lenta •Ocorre em Imunocompetentes •Comumente afeta mucosa oral, mas pode acometer qualquer órgão HISTOPLASMOSE DISSEMINADA AGUDA/SUBAGUDA Características: •Doença grave com sintomas inespecíficos •Tropismo pelo sistema fagocítico mononuclear •Aids é principal fator de risco CD4<70 •Letalidade elevada •Boa resposta a Anfotericina B HISTOPLASMOSE DISSEMINADA PROGRESSIVA E AIDS: 208 Pacientes: Morte: 42,3% Manifestações pulmonares MANIFESTAÇÕES DE PELE Ramos IC. Dissertação de Mestrado, 2008 OUTRAS MANIFESTAÇÕES DE PELE EM PACIENTES COM AIDS. LESÕES DE MUCOSA Aglaê F. Freitas. Dissertação de Mestrado, 2011. AIDS /HD: MORTALIDADE • A taxa de mortalidade na era HAART continua alta em alguns países da América Latina: – 30.7% aos 6 meses – 17.5% em 1 mês • Ao contrário nos EUA e Panamá: 12-23% Antoine Adenis. PLOS Neglected Tropical Diseases. August 2014 | Volume 8 | Issue 8 e3100 Rev Soc Bras Med Trop MORTALIDADE: O PORQUE • • • • Demora no reconhecimento da doença Demora no diagnóstico Apresentação tardia da doença Indisponibilidade de terapias mais efetivas para os casos graves • Impossibilidade de monitorar concentrações de drogas • Interações de drogas (ITRAC, RHZE e EFZ) • Estudo retrospectivo, em Fortaleza de 2002- 2008. • 145 pacientes com Aids e HD • Análise de recaída e mortalidade tardia em 3,32 anos. Média CD4 no diagnosis de HD (95% CI) Re-admissão hospitalar (%) Recidiva (%) Mortalidade (%) Letalidade (%) 71 (48-94) 80/145 (55) 30/126 (23) 38/126 (30) 10/30 (33) Lisandra at al.,Mycoses, 2013. 56(5): 520 RECIDIVA DE HISTOPLASMOSE DISSEMINADA NA AIDS 11/08/10 21/6/11 Foi a óbito em 23/7/12. •Tempo médio para o óbito foi de 1,5 anos. 0.75 0.50 0.25 •60 meses: sobrevida menor (32% vs.77% - p = 0,00) 0.00 Probabilidade de Sobrevida •Taxa de recidiva: 23,3%. 1.00 Sobrevida na Recidiva dos Pacientes com Coinfecção HD/aids.HSJ. Fortaleza, Ceará. 20022008. 0 1 2 3 4 5 6 Tempo de Histoplasmose (anos) Não 7 8 Sim Damasceno LS, Dissertação de Mestrado, 2011 ANÁLISE MULTIVARIADA DOS FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À RECIDIVA E MORTALIDADE TARDIA POR HISTOPLASMOSE EM PACIENTES COM AIDS. CEARÁ. 2002-2008. Recidiva Mortalidade tardia Fatores de risco OR ajustada IC 95% p OR ajustada IC 95% p Não adesão à HAART 6.28 1.22-32.27 0.028 8.03 1.76-36.63 0.007 Manutenção irregular de antifúngicos 2.60 0.85-7.97 0.094 1.88 0.62-5.67 0.259 Uso de EFZ 1.54 0.57-4.18 0.388 4.50 1.59-12.77 0.005 Lisandra S Damasceno et al. Mycoses. 2014 Jul;57(7):406-13.. •Estudo retrospectivo de 1992-2011 •Objetivo: taxa de mortalidade com 30dias •124 mortes entre 274 pacientes •17% de mortes precoces • Tem importante implicações para o diagnóstico, tratamento e prognóstico. • Ambas infecções tem quadro clínico semelhante. • Existe significante interação entre rifampicina, itraconazol e ARV (NNRTIs ou IPIs) Histoplasmose disseminada, HIV e TB INTERAÇÕES • Rifampicina é um importante indutor de citocrome P450 e resulta em níveis indetectáveis de itraconazol. • Rifampicina pode diminuir significantlivamente a concentreção plasmática de NNRTI and IP. • Uso concomitante de itraconazol e IP pode resultar em elevada concentração plasmática das duas drogas . • Administração concomitante de NNRTI and itraconazol pode produzir níveis aumentados de NNRTI e redução no nível do azol. ALTERNATIVAS •Rifabutina também diminui a concentração sérica do itraconazol. •Anfotericina B pode ser uma alternativa •Posaconazole tem menor interação com a citocromo P450, mas a experiência é limitada. •Substituição da Rifampicina pela moxifloxacina INTERAÇÃO ITRACONAZOL E RIFAMPICINA Eur J Clin Pharmacol (1998) 54:155±158 DIAGNÓSTICO HISTOPLASMOSE DISSEMINADA: DOIS MUNDOS Não desenvolvidos • Presuntivo Desenvolvidos • Antígeno (US$80 / teste) • Pesquisa do Fungo • Testes moleculares (95.4% de sensibilidade e 96.0% de especificidade) • Cultura • Histopatológico S. Simon et al. Diag Microbiol Infect Dis. 66 (2010) 268–273; Wheat LJ. Trends Microbiol 11 (2003) : 488–494. Nahuel et al.,Mycopathologia (2012) 174:451–456 Creme Leucocitário Positivo Com doença Sem doença 8 0 Negativo 9 131 Total 17 131 Sensibilidade Especificidade 47% 100% Fatores independentes para o diagnóstico de HD em pacientes com Aids. Ceará, 2006-2007. Adjusted OR 95% CI p value Hepatomegalia 32.2 4.09-253.34 0.001 CD4 ≤ 75 cel/mm3 17.7 2.65-117.68 0.003 LDH ≥ 5x LSN 17.0 2.36-122.51 0.007 Rash 14.4 1.58-130.23 0.02 Temp ≥ 38.5°C 7.8 1.02-59.38 0.04 Ramos, Dissertação de Mestrado, 2008 Valor Preditivo Positivo dos Fatores Independentes Associados ao Diagnóstico de HD E AIDS. Ceará, 20062007. DIAGNÓSTICO Testes Infecção % Detecção de Ag 39 25-75 15-21 92 Pesquisa coloração 9 10-48 17-40 43 Cultura 15 15 58-85 85 Sorologia 98 95 100 71 PCR - - - 69-100 Elevada Elevada Elevada Biópsia Pulmonar Aguda Pulmonar Crônica Disseminada Obrigada Açude Orós, Ceará