TRILOBITES DO SILÚRICO DE LOREDO
(BUÇACO)
POR
DÉCIO THADEU
ENGENHEIRO DE MINAS, I. S. T.
A emissão eruptiva, "que acompanhou a deposição do Ordoviciano superior do Buçaco, originou a formação de xistos diabásicos, de composição mais ou menos variável, muito fossilíferos.
A primeira lista de fósseis destas camadas foi dada por
Nery Delgado em 1897 (7) e dela fazem parte 16 espécies de
trilobites.
Em 1908, no trabalho fundamental sobre o Silúrico português (8), o mesmo autor apresenta nova lista, mais numerosa,
com 25 espécies de trilobites, da qual desapareceu, apenas,
Bronteus Choffaü novo sp, das citadas anteriormente. Todavia,
na de 1908 é difícil distinguir as espécies próprias dos xistos
diabásicos, porquanto reuniu, aí, a fauna de três níveis ordovicianos diferentes.
Embora o notável geólogo tivesse fornecido diversas listas
de fósseis, sobre que baseou a estratigrafia silúrica, contudo, não
descreveu nem figurou as numerosas espécies novas que referiu,
com excepção de Lichas (Uralichas) Ribeiroi.
Assim, torna-se necessária a revisão da fauna silúrica portuguesa. Para a realização deste fim damos hoje modesta contribuição ou seja o estudo das trilobites dos xistos diabásicos de
Loredo (Buçaco).
Utilisámos para levar a cabo este trabalho não só o material
classificado por Nery Delgado, mas, além disso, muitos outros
exemplares que encontrámos nas colecções dos Serviços Geológicos
de Portugal.
.
218
Agradecemos, muito reconhecidamente, ao Director daqueles
Serviços, Eng. o A. Vianna, as facilidades que nos concedeu para
realizar o nosso estudo. Exprimimos, também, o nosso reconhecimento ao Prof. Thoral, da Universidade de Lyon, pelas utilíssimas
indicações que nos deu.
As trilobites estudadas, provenientes dos xistos dia básicos
da região de Loredo, repartem-se pelas seguintes espécies:
Trinucleus Bureaui CEhlert
»
Seunesi Kerforne
Asaphus nobilis Barrande
Illaenus loredensis Delgado
»
Wahlenbergianus Barrande
Delgadoa loredensis (Delgado) novo cornb.
Pharostoma Costai (Delgado) novo comb.
Proetus loredensis Delgado
Cheirurus (?) Bocagei Delgado
»
claviger Beyrich
»
gelasinosus Portlock
»
(?) Venceslasi Delgado
»
aíí. completus Barrande
'»
aff. verrucosus Brogger
Lichas aff, convexus Angelin
»
aff incola Barrande
Dalmanites Angelini Barrande
»
socialis Barr. var. proaeva Emmrich.
Foram poucas as alterações que tivemos de fazer nas
determinações de Nery Delgado e essas vão justificadas no
. texto. Na descrição das formas seguimos a classificação de
Zittel (15).
Os xistos dia básicos do Buçaco foram atribuídos por Nery
Delgado ao Ordoviciano superior (8) e, com mais precisão, pelo
Prof. Carríngton da Costa ao Caradociano s. I. (6) pela presença
de Trinucleus Bureaui e Nicolella [Orthis] aetoniae. O conjunto
faunístico por nós estudado confirma esta asserção.
Trinucleus Bareaui e Tr, Seunesi caracterizam o Cara dociano do Maciço Armoricano (12, 10). Dalmanites Angelini,
D. socialis varo proaeva e Asaphus nobilis o Caradociano S. s., e
219
Illaenus WahLenbergianus O Ashgiliano da Boémia; quere dizer.
estas espécies caracterizam, também, o Caradociano s. L. na
Boémia (4).
DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES
F AM. TRINUCLElDiE Barrande
GItN. Trlnucleus Llwyd
Trinudeus Bureatü CEhlert
(Est. I, fig. 1)
O material que encontrámos referido a esta especte por
Nery Delgado é bastante mau; consta das impressões positiva e
negativa dum cefalotórax desprovido de limbo, e de parte de outro
cefalotórax mal conservado. Mantemos aquela classificação somente
para o primeiro exemplar, proveniente da camada 4 do corte
através do barranco do Zuvinhal (8, p. 31).
A glabela atinge a máxima elevação na zona frontal; baixa,
progressivamente, para a base do cefalotórax; o bordo posterior
das faces é limitado por um cordão que deminui de espessura
para a região axial e é acompanhado por um sulco profundo e
estreito do lado interior; as faces são ornamentadas por pontuações; na impressão negativa nota-se que também a glabela teve
ornamentação, embora mais fraca.
Estes caracteres condizem com a descrição de CEhlert (12);
a semelhança do nosso exemplar é flagrante com os figurados por
este autor.
Trinucleus Seunesi Kerforne
(Est. I, figs. 2-5)
,
Mantemos nesta espécie o exemplar citado por Nery Delgado, em nota infra-paginal (8, p. 31), da camada 4 do corte do
barranco do Zuvinhal; é a impressão positiva dum ceíalotórax,
220
de grande tamanho, cuja glabela, quebrada na zona posterior,
devia atingir 14 mm de comprimento.
O perfil do cefalotórax e a ornamentação do limbo, tão
característica nesta espécie, permitem fazer a diagnose específica.
Consideramos pertencente a esta espécie o exemplar encontrado a 250 m a N 40° W de Loredo (Est. I, figs, 4-5), que Nery
"Delgado classificou como T. Bureaui. O tamanho deste é idêntico ao do especimen anteriormente citado. O limbo, apesar de
planificado, apresenta ainda contorno sub-circular, carácter que o
afasta imediatamente do da espécie de CEhlert; a ornamentação
dele condiz com a descrição dada por Kerforne (10) para T. Seunesi, podendo-se observar, não obstante a deformação, que a
última fiada interna de perfurações se encontra já na região de
concordância com a glabela.
FAM.
ASAPHIDJE Emmrich
GÉN. Asaphus Brongníart
Asaphus nobilis Barrande
(Est. 1, figs. 6-7)
Nesta espécie classificou Nery Delgado as impressões positivas de uma glabela e de dois pigídios provenientes, a primeira da
Vinha de Leira-Má, 300 m a N 40° W de Loredo, os segundos de
250 m a N 40° W da mesma localidade.
Todos eles apresentam,. sem deixar lugar a dúvidas, os
caracteres da espécie de Barrande (2).
Atribuímos, embora sob reserva, a esta mesma espécie um
hipostoma de asafídio procedente do último dos locais referidos;
apesar de deformado, mostra grande analogia com os figurados
pelo mesmo autor.
No material por classificar, proveniente de Loredo, encontrámos muitos fragmentos de pigídios desta espécie, que não figuramos por se tratar de maus exemplares.
221
GtN. IIlaenus Dalman,
Illaenus loredensis Delgado
(Est. II, figs. 1-3)
A descrição desta espécie, criada por Nery Delgado, foi realizada sobre três exemplares assim classificados por aquele autor e
sobre diversos outros ainda não estudados anteriormente. Todos
eles foram colhidos 250 m a N 40 ° W de Loredo.
A forma geral é ovóide; as máximas dimensões observadas
são 50 X 28 mm. O cefalotórax e o pigídio têm contorno oval;
aquele é ligeiramente maior que este; são ambos bastante convexos.
O abdómen excede pouco a metade do comprimento do cefalotórax.
. As faces móveis ;ão triangulares, pequenas, alongadas e
inclinam fortemente para o exterior. A glabela é convexa, tanto
longitudinal como transversalmente. Os sulcos axiais, que dividem
a base do cefalotórax em três partes iguais, atingem cerca de
metade do comprimento do cefalotórax; mostram configuração
hiperbólica. Os olhos, em forma de crescente voltado para o
interior, são bastante recuados. As suturas faciais, depois de contornarem os olhos, descrevem ramos divergentes, os anteriores
voltando a aproximar-se perto do bordo. O ângulos genaís atingem 90°.
O abdómen consta de 10 segmentos e ultrapassa ligeiramente
o comprimento de metade do ceíalotérax. Os sulcos axiais têm o
maior afastamento à altura do terceiro segmento, depois aproximam-se gradualmente até atingirem o afastamento mínimo junto
ao pigídio. As pleuras, deprimidas junto aos sulcos axiais, elevam-se um pouco para, depois, caírem quase a 45°.
No pigídio, os sulcos axíais, que não atingem a zona média,
iniciam-se em duas pequenas cavidades em forma de funil e
unem-se, depois de descreverem curvas hiperbólicas, na extremidade oposta por um pequeno arco.
Nery Delgado, antes de se decidir a criar uma espécie nova,
tinha aproximado estes exemplares de I. Salteri Barr., porquanto
em etiquetas mais antigas, encontradas nas caixas, vê-se I. cír.
Salteri Barr.: contudo,· os olhos mais desenvolvidos, as suturas
faciais mais divergentes e os sulcos axiais, no ceíalotórax, que não
222
se assemelham a S alongado por falta da segunda curvatura (2),
distinguem e caracterizam a forma portuguesa.
Em 1908 (8, p. 31), ao citar a existência da nova espécie
nos «xistos culminantes» do corte pelo barranco do Zuvinhal.
indicou-a como vizinha do I. Bowmanni Salter (14). As suturas
faciais e os sulcos axiais distinguem suficientemente a forma de
Loredo; além de que, enquanto esta tem dez segmentos abdominais, a espécie de Salter só possui nove.
Illaenus Wahlenbergianus Barrande
(Est. II, fig. 4)
Observámos dois exemplares, um constando das impressões
positiva e negativa e outro, o pior, duma impressão positiva, colhidos 250 m a N 40° W de Loredo.
Nery Delgado classificou e citou (8, p. 57) estes exemplares
como I. dr. Panderi Barr. De facto. o conjunto de caracteres
parece indicar esta espécíe ; porém, num daqueles fósseis consegue-se ver que os ângulos genais se prolongam em ponta de
dimensões reduzidas. Ora, este pormenor faz, segundo Barrande (2),
a distinção entre as formas, bastante vizinhas, de 1. Panderi e
I. Wahlenbergianus,. enquanto aquele tem os ângulos genais arredondados. este tem-nos em ponta. É por este motivo que referimos
os exemplares portugueses a 1. Wahlenbergianus.
GÉN. Delgadoa novo
Este género parece ser intermediário dos géneros Illaenus e
Bronteus ; enquanto a morfologia da região central do cefalotórax
e o abdómen o aproximam de lllaenus, os caracteres do pigídio
assemelham-se aos de Bronteus.
O limbo, bastante largo e rebaixado, prolonga-se em pontas
genais igualmente largas e compridas, a ponto de atingirem o
penúltimo anel abdominal.
A designação de Chojfatia, criada por Nery Delgado,
como nome genérico, é inválida, pois com o mesmo nome designou,
anteriormente, Saporta um tipo de plantas do Cereal. Por isso
223
denominamos o género Delgadoa, em homenagem àquele geólogo
que foi quem em primeiro estudou a fauna silúrica de Loredo.
Este nome foi utilizado primeiro por Heer (1881) e depois por
Saporta (1891), mas em ambos os casos se verificou a nulidade
JOS géneros criados.
Delgadoa loredensis (Delgado) novo comb,
( = Choffatia ioredensis Delgado)
(Est. I, figs. 8-12 )
Baseamos a espécie sobre três exemplares estudados por
Nery Delgado, de que possuímos impressão positiva e negativa de
dois deles e unicamente positiva do terceiro. Encontrámos numerosos exemplares por classificar pertencentes a esta mesma espécie, entre estes um pigídio (Est, I, fig. 11) em melhores condições de conservação que os estudados por Nery Delgado. Provêm
todos do mesmo local: 250 m a N 40° W de Loredo.
A forma geral é ovóide, verificando-se a largura máxima à
altura da base do ceíalotórax. Ao exemplar maior, embora não
apresente contorno completo (Est, I, fig. 10), podem atribuir-se
as dimensões 50 X 40 mm. O pigídio mede cerca dum terço do
comprimento total do indivíduo; o cefalotórax excede ligeiramente
esta dimensão.
O ceíalotõrax apresenta o contorno frontal circular; possui
pontas genais, bastante largas na base, as quais atingem o penúltimo segmento abdominal. A base, na região axial, é pràticamente rectilínea; depois, descreve, para um e outro lado dos
sulcos axiais, ligeira curvatura de concavidade voltada para o
cefalotórax, a que se segue outra, em posição inversa, mais pronunciada e que faz a concordância com as pontas genais.
A glabela, ocupando pouco mais do quinto da largura do
cefalotórax, individualiza-se bem pelos sulcos axiais, que ultrapassam ligeiramente o meio daquele, e por certa convexidade
transversal que a faz atingir elevação superior à das faces.
Na região anterior, .cai progressivamente para extenso campo
pré-glabelar sem ter limite definido. Os sulcos axiaís são hiper-
224
bélicos, ficando mais afastados, um do outro, na extremidade
anterior que na base do ceíalotórax,
O abdómen tem 10 segmentos. O ráquís, bem distinto, é
fortemente convexo; atinge a maior largura no segundo segmento,
diminuindo depois, progressivamente, para o pigídio. As pleuras,
ornadas com uma pequena cavidade em forma de funil junto aos
sulcos axiais, erguem-se muito ligeiramente e inflectem em seguida
para baixo, segundo ângulo inferior a 45°.
O pigídio, um pouco menor que o cefalotórax, tem contorno
oval. Os sulcos axiais descrevem curvas de concavidade virada
para o exterior, aproximam-se um do outro e, a cerca de um
terço da base do pigídio, ligam-se por um arco de circunferência.
O ráquis pigidial destaca-se porque continua a convexidade da
região abdominal e mostra segmentação pouco acusada. As pleuras pigidiais são ornamentadas por sulcos largos, com disposição
radial, que desaparecem completamente antes de atingirem o
bordo (Est. I, fig. 11).
Esta forma foi classificada por Nery Delgado como Choffatia loredensis novo gen. e sp.. Assim aparece citada na lista
das espécies ordovicianas do Buçaco (8, p. 57). Deve corresponder, pensamos, a Bronteus Choffati novo sp. referido na lista
da mesma fauna dada em 1897 (7, p. 12), espécie que não
aparece apontada no trabalho mais recente.
FAM.
CALYMENID.t'E Brongníart
GÉN. Calymene Brongniart
SUB-GÉN. Pharostoma Corda
Pharostoma Costai (Delgado) novo comb.
( = Calymene Cosiai Delgado)
(Est. II, figs. 5-10)
Encontrámos quatro exemplares de trilobites classificados,
três, como Calymene Costai QOV. sp. aff. C. inserta Barr., e, um,
que concluímos ser da mesma espécie que os anteriores, como
225
Calymene sp.: todos provenientes de Vinha de Leira-Má, 250 e
300 m a N 40° W de Loredo.
A forma geral é ovóide; as dimensões são bastante semelhantes em todos os exemplares; o maior mede 24X16 mm.
O pigídio é menos comprido que o cefalotõrax..este excedendo
pouco a metade do comprimento do abdómen. Carapaça com
saliências espiniformes distribuídas sobre fundo granuloso.
, As medições efectuadas sobre o exemplar com o cefalotórax
melhor conservado (Est. II, fig. 6) deram: comprimento do cefalotórax 7 mm, comprimento da glabela 5,5 mm, largura medida
sobre os lobos posteriores 4,5 mm, largura do lobo frontal 3,5 mm.
O cefalotórax é ogival; os ângulos genais mostram l~eiro
desenvolvimento: atingem. a altura do segundo segmento abdominal,
A glabela, volumosa e bem separada das faces pelos sulcos
axiais, tem dois pares de sulcos transversais; os posteriores bifurcam-se e, um dos ramos, inflecte fortemente para trás, atinge o
anel occipital e dá lugar, assim, à formação dos lobos posteriores,
de forma ovóide, com o maior eixo oblíquo ao eixo .longitudinal
da trilobite; os sulcos anteriores, os mais curtos, infletem também
para trás e originam um segundo par de lobos, papilares, de
dimensões muito mais reduzidas; o lobo frontal é semi-circular
tanto em planta como transversalmente. O anel occipital é curvo,
com a concavidade voltada para o abdómen.
As faces fixas são separadas das móveis por uma crista que
vem morrer junto da glabela, à frenfe dos lobos. anteriores, quase
dividindo os sulcos axiaís em dois ramos. As faces fixas, bastante
mais desenvolvidas que as móveis, são convexas; as móveis inclinam bruscamente para o exterior.
A região pré-glabelar, relativamente pouco desenvolvida,
mostra um sulco profundo e ergue-se (Est. II, fig. 9), com a concavidade voltada para cima, até ficar quase vertical na zona exterior, detendo-se, contudo, muito abaixo do plano superior da
glabela; termina como por um cordão que se vai esbatendo para
as pontas genais.
, O abdómen possue 13 segmentos. O ráquis é saliente, bastante convexo, bem delimitado pelos dois sulcos axiais que 'se
aproximam progressivamente até se unirem na ponta pigídial,
romba. Os segmentos do ráquis têm dupla curvatura: côncavos
I
226
na parte média e convexos nas extremidades, em relação à região
glabelar. Os segmentos apresentam na região distal certo entumescimento sem, todavia, serem nodulares. Possuem pequenas
espinhas alinhadas segundo o comprimento.
As pleuras, normais aos sulcos axiais e deprimidas junto a
estes, erguem-se depois ligeiramente até caírem quase em ângulo
recto; são divididas em dois ramos por um sulco, sendo o ramo
posterior ornamentado por um alinhamento de pequenas espinhas.
O pigídio é de contorno arredondado e o ráquis pigidial
quase atinge o bordo; contam-se seis segmentos, incluindo a peça
terminal de forma triangular. Distinguem-se dos segmentos abdomin;ij.s porque não apresentam o entumescimento lateral destes.
Há cinco pares de pleuras e uma pleura terminal no prolongamento do ráquis; o sulco que divide as pleuras abdominais vai-se
apagando progressivamente.
Nery Delgado aproximou os exemplares descritos de Calymene inserta Barr. (8, p. 57). Porém, a existência de pontas
genais não permite a classificação da forma portuguesa no género
Calymene s. s.; este caracter coloca-a no sub-género Pharostoma
Corda (9). Além disso, a espécie é bem caracterizada pelo contorno ogival do cefalotórax, a forma da glabela, o número de sulcos e de lobos laterais, a forma ovóide dos lobos posteriores e a
forte granulação da carapaça. Designamos, pois, a espécie Pharostoma Costai (Delgado) novo comb,
F AM. PROETID.fE Barrande
.
GÉN.
Proetus Steinínger
Proetus loredensis Delgado
(Est. II, figs. 11-13)
O material classificado nesta especte provém da Vinha de
Leira-Plá, 300 m, a N 40° W de Loredo, e consta de dois exemplares representados pelas impressões positivas e parte das negativas.
É uma das espécies referidas por Nery Delgado em 1897 (7, p. 12)
e, depois, em 1908 (8, p. 57).
227
A forma geral é ovóide; dimensões 15,5 X 10 mm, sendo a
argura medida à altura dos olhos. Comprimento do ceíalo:órax 6 mm.
O contorno do cefalotórax é ogival; os ângulos genaís proongam-se em ponta que atinge o primeiro ou o segundo segmento
10 pigídio. O cefalotórax é rodeado por um limbo, marginado por
rm cordão. A glabela alcança o meio do cefalotórax e tem confí~uração sub-cilíndrica, Os sulcos axiais unem-se à frente da
~labela, separando, assim, a zona frontal desta do limbo. Um par
Ie sulcos glabelares, a cerca de 45° com o eixo do indivíduo,
luase atinge o anel occipital e origina um par de lobos de muito
.eduzidas dimensões. Os olhos são muito proeminentes e alongalos; situam-se sobre os sulcos axiais e o anel occipital, reduzindo
nuito as faces fixas. O contorno anterior do cefalotórax é côncavo
em relação ao abdómen.
O abdómen é constituído por 10 segmentos. O ráquis é
saíiente e, depois de ter a máxima largura à altura do terceiro
segmento, diminue progressivamente. As pleuras, do tipo com
sulco, engrossam a partir da linha de inflexão.
O pigídio distingue-se bem, pois os anéis são menos marcalos; nas pleuras apaga-se bastante o sulco e deixam de apresentar
1 intumescência da zona distal; contam-se 6 segmentos e uma
oonta, A extremidade do ráquis fica a uns 2 mm do bordo.
Pelo aspecto geral, a espécie portuguesa, assemelha-se
;egundo a representação dada por Murchison (11), a Proetus
"Asaphus ) Stokesi Murch. Difere, contudo, nitidamente, pela
.onfiguração da glabela, que na espécie inglesa ocupa uma prooorção maior do cefalotórax e é quase tão larga como comprida.
:!:stas distinções são ainda mais acusadas quando comparada com
)s exemplares figurados por Reed (13).
A configuração do limbo, muito largo e com o bordo erguido,
iproxima a espécie de Loredo de Harpes. Seria, talvez, aconsehável criar um novo género precursor dos verdadeiros Proetus,
nas perante a natureza dos exemplares mantemos, por ora, a
.lassificaçãe de Delgado.
228
FAM. CHEIRURIDJE Salter
GÉN. Cheirurus Beyrich
Cheiraras (?) Bocage! Delgado
(Est. III, fig. 1)
Nery Delgado baseou, segundo cremos, a diagnose desta
nova espécie sobre um único pigídio, da Vinha de Leira-Má,
representado pelas impressões positiva e negativa. Foi este o
único exemplar que encontrámos.
Mantemos, embora com reserva, a determinação genérica de
Delgado. Com efeito, são vários os géneros que apresentam
pígídíos deste tipo; enquanto não se encontrarem exemplares
completos não é possível precisar a determinação.
O pigídio parece constar de três segmentos, convexos e
ornados de pequenas espinhas espaçadas e dispostas em linha.
Àqueles segmentos ligam-se três pares de pleuras, bastante compridas e com estreitamento junto ao ráquis pigídial, divididas por
um sulco longitudinal que, sobre o bordo posterior, suporta um
alinhamento de pequenas espinhas. A peça terminal do ráquis é
triangular; interiormente, há duas pequenas cavidades circulares,
com princípio de ligação entre si onde nascem dois sulcos que vão
convergir na extremidade do ráquís, Forma-se, assim, outro
triângulo, interior ao contorno externo. A esta peça liga-se um
quarto par de pleuras, do mesmo tipo que as anteriores, ligeiramente divergentes.
Cheiraras claviger Beyrich
(Est. III, figs. 2-3)
O material referido a esta espécie é constituído pelas impressões positiva e negativa duma glabela, deformada mas com a ornamentação visível, e pela impressão negativa dum pigídio. Provêm
da Vinha de Leira-Má, 250 m aquela, e 300 m, esta, a N 40° W
de Loredo.
Dois restos de glabelas, muito deformadas e fragmentadas,
229
de 250 m a N 40° W de Loredo, parecem reportar-se a esta espécie. É, porém, com reserva que os incluimos nela (2).
Cheirurus gelasinosus Portlock
(Est, III, fig. 4)
A esta espécie se refere um exemplar da Vinha de Leira-Má,
300 m a N 40° W de Loredo. A diagnose baseia-se nos caracteres
do cefalotórax e do pigídio (14).
Em etiqueta antiga encontramos escrito Areia Bussacensis
novo sp. dr. Areia Bohemica. Não se justifica, porém, a separação de Cheirurus, facto reconhecido por Nery Delgado, posteriormente, ao classificar o exemplar como Cb. gelasinosus, O género
Areia, de Barrande, comporta dois anéis com dois pares de pleuras, enquanto que na forma do Buçaco o pigídio possue três anéis
com três pares de pleuras e, além disso, o desenho do cefalotórax
é mais em ogiva abatida que semi-circular (3).
Cheirurus (?) Venceslasi Delgado
(Est,
III, fig. 5)
Todo o material que encontrámos assim classificado por
Nery Delgado resume-se a um· pigídio. A nova espécie foi
citada por aquele autor em 1908 (8, p. 57).
Pelas mesmas razões expostas atrás para Ch, (?) Bocagei,
a determinação genérica deste exemplar é duvidosa.
O ráquis pigidíal consta de dois segmentos fortemente convexos, com aspecto de cordões, e uma peça terminal, triangular,
com duas pequenas cavidades circulares independentes, colocadas
no mesmo alinhamento e sobre os lados do triângulo.
A cada anel liga-se um par de pleuras, relativamente compridas, terminadas em ponta romba, ornadas com um sulco longitudinal que parece não atingir a extremidade das pleuras.
À peça terminal liga-se um par de pleuras, ligeiramente divergentes, nascendo os sulcos que dividem as pleuras por altura das
duas cavidades da peça terminal.
É com o pigídio de Ch, tumescens Barr. (2) que este apresenta mais semelhanças; distingue-se, todavia, porque a peça,
230
terminal do ráquis é bastante diferente e as pleuras que lhe
correspondem são mais individualizadas.
Cheiraras aff. completas Barrande
(Est. III, figs, 6-7).
Para a descrição desta especte dispusemos de três exempiares todos provenientes da Vinha de Leira-Má, 250 e 300 m a
N 40° W de Loredo.
A forma geral é ovóide; as dimensões máximas observadas
andam à volta de 23x16 mm, sendo a largura medida na base do
cefalotórax.
O cefalotórax é sub-circular, a carapaça rugosa, com a
glabela ligeiramente saliente em relação ao contorno. A glabela
é fortemente convexa e atinge a máxima elevação à altura do
segundo par de sulcos; à frente cai abruptamente; é ornamentada
com três pares de sulcos, que não ultrapassam um quarto da
largura da glabela; os anteriores são sensivelmente normais, os
médios com uma Iigeiríssima curvatura para trás, e os posteriores
inflectem nitidamente no sentido do anel occipital que não atingem
contudo; enquanto os pares posterior e médio ficam igualmente
distanciados entre si e o anel occipital, que é bem vincado, o par
anterior distancia-se mais.
As faces fixas, convexas, inclinam fortemente para o exterior.
Os ângulos genais, bastante agudos, prolongam-se em ponta.
Abdómen com 11 segmentos. Ráquis saliente e estreito,
diminuindo progressivamente para o pigídio; os anéis, na parte
média, avançam um pouco para o cefalotórax. As pleuras a
partir da linha de inflexão estreitam e terminam em bico encurvado tanto mais para a zona posterior quanto mais se aproximam
do pigídio. Os segmentos abdominais. como os do pigídio, suportam um alinhamento de pequenas espinhas.
Pigídio com três anéis e uma peça terminal com duas
pequenas cavidades ligadas entre si; os anéis pigidiais distinguem-se dos do abdómen porque as pleuras são mais estreitas na
base e atingem a maior largura sobre a linha de inflexão. Aos
anéis do pigídio ligam-se três pares de pleuras semelhantes às do
abdómen e à peça terminal uma pleura em forquilha.
231
Estes exemplares tinham sido classificados por Nery Delgado como Ch, dr. tumescens Barr. e Ch, novo sp. aff. tumescens.
.O exame atento a que procedemos mostrou-nos que os exemplares
de Loredo.: com as pontas genais muito mais divergentes, os sulcos
glabelares médios e anteriores sensivelmente transversais, o abdómen com 11 segmentos e as pleuras do pigídio mais aguçadas, se
distinguem bem daquela espécie de Barrande (2). Aproximam-se
muito mais de Ch, completas Barr. (3) de que só se distinguem
pela maior divergência das pontas genais; assim, somos levados .
a classificá-los como Ch, aff. completas Barr,
Cheiraras aff. verrucosus Brogger
(Est. III, fig. 8) .r
Sob esta designação classificou Nery Delgado um exemplar
constituído por um cefalotórax fragmentado, da Vinha de Leira-Má, 300 m a N 40 o W de Loredo.
Embora deformada, a glabela aproxima-se da de Ch, verrucosas (5); os sulcos são mais estreitos, porém, esse facto, pode
provir da deformação. A face fixa e o bordo posterior do ceíalotórax parecem condizer com os daquela espécie. .
Dada a exiguidade do material não é possível levar mais
longe a classificação.
FAM. lICHADlDiE Barrande
GÉN. Lichas Dalman
Lichas aff. convexas Angelin
(Est. III, fig. 9)
Esta forma está representada nas colecções dos Serviços
Geológicos por três glabelas e por um pigídio. Os locais da
colheita 'são:
- Vinha de Leira-Má, 250 e 300 m a N 40° W de Loredo;
-100 m a W dá Fonte de Cassemes, e
- Corte do Zuvinhal a Santo António do Cântaro, C. 4.
232
Nery Delgado citou esta espécie em 1897 e, depois, em 1908
(7,8). No corte segundo o barranco do Zuvinhal (8, p. 31), acrescentou (an, L. incola Barr. var.).
O material é mau; contudo, permite a distinção de L. incola,
porquanto apresenta o desenho dos sulcos glabelares anteriores
um pouco diferente e, tanto o anel occipital, como todos os sulcos
glabelares, são mais profundos e muito mais largos.
Observadas de cima ou de perfil, as glabelas assemelham-se
de perto à de L. convexas figurada por Angelin (1).
Lichas aíí. incola Barrande
(Est. III, fig. 10-12)
É bastante numeroso o material aqui incluído por Nery
Delgado. Consta de quatro exemplares de glabelas (alguns com
impressões positiva e negativa), um exemplar correspondente a
parte do abdómen e pigídio e, outro, constituído pelo pigídio;
. finalmente, há duas impressões de hipostomas,
A colheita dos exemplares realizou-se em dois locais da
Vinha de Leira-Má: 250 e 300 m a N 40° W de Loredo,
Esta espécie, citada por Delgado em 1897 e 1908 (7,8),
comparada com L. incola Barr. (3), apresenta estreitas semelhanças
com ela; todavia, dada a deformação de todos os exemplares de
glabelas e o mau estado de conservação dos pigídios, aliado ao
facto de não se conhecer nenhum exemplar completo, faz-nos
manter a determinação de Nery Delgado.
FAM.
PHACOPIDiE Salter
GÉN.
Dalmanites Emmrich
Dalmanites Angelini Barrande
(Est. III, fig. 13)
Observámos apenas um pigídio, proveniente de 250 m a
N 40° W de Loredo, classificado nesta espécie por Nery Delgado.
Relativamente bem conservado, permite a diagnose pelos caracteres particulares do ráquis pigidíal e pleuras (2,3).
233
Dalmanites socialls Barr. var, proaeva Emmrich
(Est. III, figs. 14-16)
Entre as trilobites dos xistos diabásicos do Buçaco é esta
uma das mais representadas nas colecções dos Serviços Geológicos;
existem, de facto, ali, sete exemplares, três dos quais mostram
indivíduos quase completos, três outros deixam ver o cefalotórax,
e o último é, apenas, um pigídio.
.
O material foi colhido na Vinha da Leira-Má, 250 e 300 m a
N 40o W de Loredo.
.Apesar dos exemplares não serem perfeitos, podeconfirmar-se a diagnose de Nery Delgado pelos caracteres dos ângulos
genais e do pigídio (2).
Existe, ainda, naquelas colecções, um exemplar colhido a
250 m a N 40 0 W de Loredo classificado como Dalmanites sp. que,
em nossa opinião, deverá ser incluído nesta espécie (Est. III,
fig. 15).
r
..
SOMMAIRE
. La faune silurienne des schistes diaõasiques de .Buçaco est
Dans la présente notice nous faisons
l'étude des Trilobites de l'aff1eurement de Loredo, appartenant à
cette région, conservés dans les collections des Services Géologíques du Portugal. II s'agit des fossiles recueillis et mentionés
autrefois (8, p. 57) par Nery Delgado.
. La liste des espêces décrites dans ce travail est relativement
Iongue, Parmi elles il y a Illaenus loredensis, Delgadoa loredensis,
Pharostoma Costai, Proetus loredensis, Cheirurus (?) Bocagei et
Ch, (?) Venceslasi dont la description est faite par la premiêre íois.
Au sujet de l'ãge des dépôts contenant cette faune, la présence de Trinucleus Bureaui, Tr. Seunesi, Asaphus nobilis, DaLmanites Angelini, D. socialis varo proaeva indiquent le Caradoc;
l'existence de Illaenus WahLenbergianus et l'abondance de formes
de Cheirurus permettent supposer que l'Ashgílien y est aussi compris; c'est-à-dire, cette formation doit être attribuée au Caradoc
s. L. comme l'a écrit en 19311e Prof. Carríngton da Costa (6, p. 43).
três . riche et três variée.
Lisboa, Dezembro de 1946.
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Münehen und Berlin,
EXPLICAÇÃO DAS ESTAMPAS
ESTAMPA
I
Trinueleus Bureaui CEhlert
1 - Corte no barranco do Zuvinhal, C. 4 ( X 4) ;
.Trlnueleus Seunesi Kerforne
2 - Corte no barranco do Zuvinhal, C. 4;
3 - Esquema da vista lateral do cefalotórax do exemplar anterior;
4 - 250 m a N 4.9° W de Loredo;
5 - Impressão negativa do exemplar anterior:
Asaphus nobilis Barrande
6 - 250 m a N 40° W de Loredo (X 1/ 2) j
7 - 300 m a N 40° W de Loredo;
Delgadoa loredensis (Delgado) novo comb,
8,9,10 e 11- 250.m a N 40° W de Loredo;
12 - Perfil transversal do abdómen.
ESTAMPA
II
Itlamus laredensis Delgado
1,2 e 3 - 250 m a N 40° W de Loredo;
lüanus Wahlenbergianus Barrande .
4 - 250 m a N 40° W de Loredo (X 4);
Pharostoma Costai (Delgado) novo comb.
5 - 250 m a N 40° W de Loredo (X 4 ) ;
6 e 7 - 300 m a N 40° W de Loredo (X 4) ;
8 -:- 250 m a N 40° W de Loredo (X 4) ;
9 - Perfil do cefalotórax (X 4 ) ;
10 - Esquema da região central do cefalotórax (X 4) j
Prcetus loredensis Delgado
, 11- 300 m a N 40° W de Loredo (X4);
12 - Vinha de Leira-Má, Loredo (X 4) ;
13 - Molde em plasticina da impressão negativa do exemplar
anterior (X 4 ).
236
E STAMPA
III
Cheirurus (?) Bocagei Delgado
1 - Molde em plasticina da impressão negati va, 250 m a N 40° W
de Loredo ( X 2 ) ;
Cheirurus claviger Beyrich
2 - Molde em plasticina da impress ão negati va, 300 m a N 40° W
de Loredo ( X 2) ;
3 - 250 m a N 40° W de Loredo ;
Cheirurus gelasionosus Portlock
4 - 300 m a N 40° W de Loredo ( X 2) ;
Cheirurus (?) Venceslasi Delgado
5 - 300 m a N 40° W de Loredo ( X 2 ) ;
Cheirurus aff, completus Barrande
6 - 300 m a N 4()0 W de Loredo ( X 4) ;
7 - 250 m a N 40° W de Loredo ( X 4 ) ;
Cheirurus aff. verrucosus Brõgger
8 - 300 m a N 40· W de Loredo ( X 2) ;
Lichas aff, convexus Angelin
9 - 300 m a N 40· W de Loredo ( X 2) ;
Lichas aff. incala Barrande
10 - 300 m a N 40· W de Loredo (X 2 ) ;
11 - 300 m a N 40· W de Loredo;
12 - 250 m a N 40· W de Loredo :
Dalmanites Angelini Barrande
13 - 250 m a N 40· W de Loredo ;
Dalmanites socialis .Barr, varo proceva Emmrich
14 e 15 - 250 m a N 40· W de Loredo ( X 4 ) ;
16 - 250 m a N 40· W de Loredo ( X 2).
D.
THADEU -
Trilobites de Loredo
Esr. I
D.
THADEU -
n
10
Trilobites de Loredo
EST.
II
D.
THADEU -
Trilobites de Loredo
EST.
III
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