Dissertação de Mestrado ESTUDOS PARA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE RESERVATÓRIO DE REJEITOS DE NIÓBIO AUTOR: MARCOS ANTÔNIO LEMOS JÚNIOR ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero César Gomes (UFOP) MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DA UFOP OURO PRETO - MAIO DE 2012 ii L557e Lemos Júnior, Marcos Antônio. Estudos para avaliação da capacidade de reservatório de rejeitos de nióbio [manuscrito] / Marcos Antônio Lemos Júnior – 2012. xvii, 118f.: il., color.; graf.; tab.; mapas. Orientador: Prof. Dr. Romero César Gomes. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Núcleo de Geotecnia - NUGEO. Área de concentração: Geotecnia Aplicada à Mineração. 1. Geotecnia - Teses. 2. Barragem - Teses. 3. Rejeitos - Reservatório - Teses. 4. Nióbio - Teses. 5. Sedimentação e depósitos - Modelo deposicional - teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título. CDU: 624.136:553.493.54 Catalogação: [email protected] “Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio têm qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali.” Fernando Antônio Nogueira Pessoa (1888 – 1935) iii DEDICATÓRIA Dedico esta dissertação aos meus pais, Marquinho e Aparecida, porque se não fossem eles, eu não teria conseguido finalizar mais esta etapa da minha vida. Obrigado por tudo que sempre fizeram por mim e pelas palavras de incentivo, apoio e confiança. iv AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer a DEUS, pelo dom da vida, pela saúde, pelas oportunidades e conquistas que tem me proporcionado. Sem estas, não alcançaria meus objetivos. Aos meus pais e minhas irmãs, Lilian e Lidian, por estarem sempre presentes em minha vida, apoiando-me, ajudando e principalmente acreditando em mim. Tenho certeza que se eu não tivesse uma família como vocês, eu não seria o que sou hoje. Obrigado por fazerem parte da minha vida! À minha noiva, Laurinha, por todo amor, companheirismos, compreensão e incentivo, durante estes anos que estamos juntos. À CBMM, pela oportunidade de trabalho e desenvolvimento desta pesquisa. Ao Eng. Hernane Salles, pela ajuda na escolha do tema desta dissertação e pelo apoio para a realização deste estudo. Aos Engenheiros, José Carlos Sampaio, Paulo Morgado, Rogério Murta e ao Geol. Bruno Riffel, pelo apoio técnico e companheirismo durante a realização deste trabalho. Aos colegas, Sander Dib e João Mendes pela ajuda na elaboração dos desenhos topográficos. Ao Bruno Ricardo e ao Gustavo Rios, pela ajuda na compilação dos dados e configuração do trabalho. Aos meus colegas de trabalho da Manutenção de Barragens e à equipe de topografia do Sr. Morgado, que muito me ajudaram no desenvolvimento das atividades de campo. Aos colegas da unidade de Concentração, pela ajuda no entendimento do processo de beneficiamento do minério. E enfim, ao Prof. Dr. Romero César Gomes, pelo aprendizado, orientação e contribuição técnica, durante a elaboração deste trabalho e à Jussara Soares, secretária do Mestrado Profissional, pela ajuda nas interfaces com a UFOP. v RESUMO Com o crescente desenvolvimento das atividades de mineração e por consequência, a elevação da taxa de geração de rejeitos ou subprodutos do processo de beneficiamento mineral, torna-se necessário otimizar as estruturas em operação e melhorar o entendimento do sistema de disposição desses materiais. Atualmente, as mineradoras têm adotado como alternativa para a disposição desses materiais, o lançamento na forma de polpa (sólido + água) em reservatórios contidos por barragens, sejam estas construídas com o próprio rejeito ou mesmo com materiais de empréstimo. Este trabalho consiste em avaliar a melhor alternativa de disposição dos rejeitos gerados no processo de beneficiamento do nióbio, da mina localizada em Araxá – MG. Para a concentração do minério são gerados três tipos de rejeito: Lama, Magnetita e Rejeito da Flotação, os quais podem ser dispostos em diversas formas. Neste estudo foi avaliado o modelo deposicional das misturas de ‘Lama+Flotação’, ‘Lama+Flotação+Magnetita’ e somente da Magnetita para identificar em qual das metodologias de disposição é possível otimizar ao máximo o reservatório. As análises foram realizadas através do controle das massas específicas, do adensamento, da segregação hidráulica, da declividade das praias de sedimentação, da compressibilidade das partículas submersas e da influência do sistema de disposição do rejeito, em baias experimentais e na barragem em operação. Além disso, no laboratório, foi realizada uma caracterização tecnológica dos rejeitos gerados. Com base nos estudos desenvolvidos nesta pesquisa, conclui-se que, quando a magnetita é adicionada ao rejeito de ‘lama+flotação’, o modelo deposicional dos materiais é comprometido, impactando negativamente na capacidade de armazenagem do reservatório. Portanto, a melhor forma de disposição é aquela em que os rejeitos são lançados com ‘Lama+Flotação’ e somente a Magnetita. vi ABSTRACT With the increasing development of the mining activities and consequently, the increase of the rate of tailings generation or by-products of the mineral beneficiation process, it becomes necessary to optimize the structures in operation and improve the knowledge of the disposal system of these materials. Currently, mining companies have adopted, as an alternative solution to dispose these materials, the release in form of slurry (solid + water) in reservoirs contained by dams. The structure of the dams can be built with their own tailing or with materials from other areas. This work is to evaluate the best alternative to dispose three kinds of tailings: Mud, Magnetite and Flotation Tailing, generated in the niobium beneficiation process, from the pit located in Araxá – MG (Minas Gerais). These tailings can be disposed in several ways. In this study it has been analyzed the depositional model of the Magnetite and the following mixtures: ‘Mud + Flotation Tailing’, ‘Mud + Flotation Tailing + Magnetite’, to identify which of the available methodologies allows a maximum optimization of the reservoir. The analyses were performed by controlling the specific mass, the densification, the hydraulic segregation, the slope of the sedimentation beach, the compressibility of the submerged particles and the influence of the tailing disposal system, in small experimental reservoir and in the operating dam. Moreover, a technological characterization of the generated tailings was performed in the laboratory. Based on research conducted in this study, when the magnetite is added to the tailings of 'Mud + Flotation Tailing', the depositional model of the material is compromised, negatively impacting the reservoir storage capacity. Due to this, the best form of disposal is one in which the tailings are released with 'Mud + Flotation Tailing’ and magnetite separately. vii Lista de Figuras Figura 1.1 – Estágios de deposição do rejeito em reservatórios (Imai, 1981) Figura 2.1 – Alteamento para montante (Gomes, 2006) Figura 2.2 – Alteamento para a jusante (Gomes, 2006) Figura 2.3 – Alteamento para a jusante com preparação da fundação na 1ª etapa Figura 2.4 – Alteamento por linha de centro (Gomes, 2006) Figura 2.5 – Geomembrana de PEAD Figura 2.6 – Geocomposto bentonítico Figura 2.7 – Tipos de geocomposto bentonítico (Vilar, 2003) Figura 2.8 – Geomembrana betuminosa Figura 2.9 – Solda da geomembrana betuminosa Figura 2.10 – Camadas de formação da geomembrana betuminosa Figura 3.1 – Localização do complexo de nióbio em Araxá/MG Figura 3.2 – Vista por satélite da região do complexo de nióbio Figura 3.3 – Ferronióbio (liga metálica de ferro e nióbio) Figura 3.4 – Vista aérea do complexo industrial da CBMM em Araxá/MG Figura 3.5 – Mapa Geológico da Sinforma de Araxá (Seer, 1999) Figura 3.6 – Tectonoestratigrafia do Sinforma de Araxá (Seer, 1999) Figura 3.7 – Afloramento de anfibolitos no Grupo Araxá (Seer, 1999) Figura 3.8 – Localização dos complexos alcalino-carbonatíticos Figura 3.9 – Formação geológica do complexo alcalino-carbonatítico de Araxá (Grossi Sad & Torres, 1976) Figura 3.10 – Mapa geol.: Complexo Alcalino-Carbonatítico de Araxá (Silva, 1986) Figura 3.11 – Fases do complexo carbonatítico de Araxá (Issa Filho et al., 1984) Figura 3.12 – Vista aérea da mina de nióbio da CBMM em Araxá/MG Figura 3.13 – Operações de lavra da mina de nióbio Figura 3.14 – Correia que transporta o minério da mina até à unidade de concentração Figura 3.15 – Silos de estocagem de minério e Unidade de Concentração Figura 3.16 – Fluxograma do processo de concentração do nióbio Figura 3.17 – Concentração: (a) Britador de rolos dentados; (b) Moinho de bolas viii Figura 3.18 – Concentração: (a) Separadores magnéticos; (b) Saída da magnetita Figura 3.19 – Concentração: Etapa de deslamagem Figura 3.20 – Concentração: Etapa de flotação Figura 4.1 – Vista aérea da Barragem 6 (CBMM – Araxá/MG) Figura 4.2 – Vista área das Barragens de Rejeito de Nióbio nº 5 e 6, no ano de 2002 Figura 4.3 – Curva ‘cota x volume’ para a Barragem 6 (Morgado, 2009) Figura 4.4 – Seção longitudinal ao eixo do maciço – ombreira esquerda da Barragem 6 (Cordeiro, 2001a) Figura 4.5 – Obras para construção da Barragem 6 Figura 4.6 – Seção transversal da Barragem 6 e etapas de alteamento (Cordeiro, 2001b) Figura 4.7 – Sistema de impermeabilização da Barragem 6 (Cordeiro, 2001b) Figura 4.8 – Instalação de geomembrana de PEAD Figura 4.9 – Detalhe da solda da geomembrana de PEAD Figura 4.10 – Galeria de concreto transversal ao maciço da barragem Figura 4.11 – Instrumentos instalados no maciço da Barragem 6 (DFconsultoria, 2008) Figura 4.12 – Vista dos instrumentos de monitoramento Figura 4.13 – Esquema dos piezômetros e medidores de NA instalados na barragem (DFconsultoria, 2008) Figura 4.14 – Processo original do lançamento dos rejeitos de lama e flotação Figura 4.15 – Processo atual do lançamento dos rejeitos de lama e flotação Figura 4.16 – Processo do lançamento dos rejeitos de magnetita na barragem Figura 4.17 – Estação de tratamento de efluentes Figura 4.18 – Gerenciamento de águas Figura 5.1 – Vista geral das baias experimentais de disposição dos rejeitos Figura 5.2 – Pontos de amostragem nas baias experimentais Figura 5.3 – Coleta de material para as análises laboratoriais Figura 5.4 – Amostras para realização dos ensaios laboratoriais Figura 5.5 – Microscópio Eletrônico de Varredura utilizado nas análises Figura 5.6 – Equipamento utilizado para a realização das análises DRX Figura 5.7 – Imagens e elementos químicos da amostra de rejeito (Lama+Flotação) Figura 5.8 – Difratograma das fases presentes na amostra de rejeito de Lama+Flotação Figura 5.9 – Imagens e elementos químicos da amostra de (‘lama+flotação+magnetita’) ix Figura 5.10 – Difratograma das fases da amostra de ‘lama+flotação+magnetita’ Figura 5.11– Imagens e elementos químicos da amostra de rejeito de magnetita Figura 5.12 – Difratograma das fases presentes na amostra de rejeito de magnetita Figura 5.13 – Curvas granulométricas para os três tipos de rejeitos estudados Figura 5.14 – Resultados do ensaio de adensamento oedométrico (rejeito L+F) Figura 5.15 – Resultados do ensaio de adensamento oedométrico (rejeito L+F+M) Figura 5.16 – Resultados do ensaio de adensamento oedométrico (rejeito M) Figura 5.17 – Curvas de permeabilidade dos rejeitos ensaiados Figura 6.1 – Baia experimental impermeabilizada com geomembrana de PEAD Figura 6.2 – Lançamento do rejeito nas baias experimentais Figura 6.3 – Baias experimentais para avaliação da segregação hidráulica Figura 6.4 – Lançamento do rejeito L+F na baia de 45 metros Figura 6.5 – Lançamento de rejeito L+F+M na baia de 45 metros Figura 6.6 – Amostrador utilizado para as medições da massa específica Figura 6.7 – Coleta de amostra do rejeito de magnetita com cilindro biselado Figura 6.8 – Monitoramento de massa específica do rejeito L+F seco, disposto em baia Figura 6.9 – Monitoramento da massa específica do rejeito L+F+M seco, disposto em baia Figura 6.10 – Monitoramento da massa específica do rejeito M seco, disposto em baia Figura 6.11 – Lançamento e formação da praia de rejeitos de magnetita na barragem Figura 6.12 – Coleta de rejeitos nas baias longas por meio de amostrador Figura 6.13 – Monitoramento da massa específica para rejeitos secos de L+F e L+F+M (baias longas) Figura 6.14 – Pontos de análises de massa específica na praia da barragem em operação Figura 6.15 – Monitoramento da massa específica ao longo da praia da barragem em operação Figura 6.16 – Estacas de madeira para medição das espessuras de rejeitos Figura 6.17 – Monitoramento das espessuras dos rejeitos L + F (medidas superficiais) Figura 6.18 – Monitoramento das espessuras dos rejeitos L+F+M (medidas superficiais) Figura 6.19 – Monitoramento das espessuras dos rejeitos M (medidas superficiais) Figura 6.20 – Curvas granulométricas do rejeito L+F depositado na baia de 45 m Figura 6.21 – Curvas granulométricas do rejeito L+F+M depositado na baia de 45 m x Figura 6.22 – Pontos de coleta das amostras na barragem para as análises de segregação Figura 6.23 – Curvas granulométricas dos rejeitos depositados na barragem em operação Figura 6.24 – Geometria da superfície de deposição dos rejeitos nas baias experimentais Figura 6.25 – Pontos e seções de referência do depósito de rejeitos da barragem (CBMM, 2011) Figura 6.26 – Realização da sondagem piezométrica no reservatório da barragem Figura 6.27 – Evolução das poropressões nos rejeitos na profundidade de 2 m Figura 6.28 – Evolução das poropressões nos rejeitos na profundidade de 4 m Figura 6.29 – Evolução das poropressões nos rejeitos na profundidade de 7 m Figura 6.30 – Perfis de tensões totais, efetivas e de poropressões Figura 6.31 – Curva de compressibilidade dos rejeitos depositados na barragem Figura 6.32 – Lançamento dos rejeitos por tubo PEAD de 28″ Figura 6.33 – Lançamento dos rejeitos por tubo de borracha de 10″ xi Lista de Tabelas Tabela 4.1 – Dados cadastrais dos instrumentos instalados no maciço da barragem Tabela 4.2 – Dados dos instrumentos do maciço da Barragem Tabela 5.1 – Análise semi-quantitativa da amostra do rejeito de Lama+Flotação Tabela 5.2 – Análise semi-quantitativa da amostra do rejeito de ‘lama+flotação+magnetita’ Tabela 5.3 – Análise semi-quantitativa da amostra de rejeito de magnetita Tabela 5.4 – Densidade das partículas sólidas (Gs) para os rejeitos estudados Tabela 5.5 – Densidade das partículas sólidas (Gs), teores de Fe e de Ba dos rejeitos Tabela 5.6 – Frações granulométricas das amostras dos rejeitos Tabela 5.7 – Parâmetros granulométricos dos rejeitos estudados Tabela 5.8 – Índices de vazios máximos e mínimos para os rejeitos estudados e respectivas massas específicas dos rejeitos secos Tabela 5.9 – Valores médios dos coeficientes de condutividade hidráulica dos rejeitos Tabela 6.1 – Declividades das diferentes seções da superfície de deposição dos rejeitos (baias experimentais) Tabela 6.2 – Declividades das diferentes seções da superfície de deposição dos rejeitos (barragem em operação) Tabela 6.3 – Resultados dos ensaios com as amostras dos rejeitos submersos xii Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações ABNT − Associação Brasileira de Normas Técnicas Gs – Densidade das partículas sólidas LP – Limite de plasticidade LL – Limite de liquidez MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura DRX – Difração de Raios-X L+F – Lama+Flotação L+F+M – Lama+Flotação+Magnetita M – Magnetita Fe – Ferro Ba – Bário e – Índice de vazios emáx – Índice de vazios máximo emín – Índice de vazios mínimo LL – Limite de Liquidez LP – Limite de Plasticidade IP – Índice de Plasticidade PEAD – Polietileno de Alta Densidade γ - Densidade específica γsmín – Densidade seca mínima γsmáx – Densidade seca máxima CODEMIG – Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais CBMM – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração V – vertical H – horizontal OW – Indicador de nível de água INA – Indicador de nível de água xiii PZF – Piezômetro instalado na fundação PZ – Piezômetro instalado no aterro GPS – Equipamento utilizado para medição de coordenadas de um ponto σ − Tensões totais σ’ – Tensões efetivas Ψ – Teor de sólidos UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto NA – Nível de água GCL – Geocomposto bentonítico xiv ÍNDICE CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1– CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................ 1 1.2 – OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO ......................................................................... 3 1.3 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO....................................................................... 4 CAPÍTULO 2 – DISPOSIÇÃO DE REJEITOS E SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO 2.1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 6 2.2 – MÉTODOS CONSTRUTIVOS DE BARRAGENS DE REJEITO ........................ 8 2.2.1 – Método de alteamento para montante ................................................................... 8 2.2.2 – Método de alteamento para jusante ...................................................................... 9 2.2.3 – Método de alteamento por linha de centro.......................................................... 11 2.3 – DISPOSIÇÃO DE REJEITOS POR ATERRO HIDRÁULICO ........................... 12 2.3.1 – Segregação Hidráulica ........................................................................................ 13 2.3.2 – Densidades dos Rejeitos ..................................................................................... 14 2.4 – SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO .......................................................... 15 2.4.1 – Geomembrana de polietileno de alta densidade – PEAD ................................... 16 2.4.2 – Geocompostos bentonítico .................................................................................. 17 2.4.3 – Mantas impregnadas com betume....................................................................... 18 CAPITULO 3 – MINERAÇÃO DE NIÓBIO EM ARAXÁ/MG 3.1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 21 3.2 – GEOLOGIA REGIONAL ..................................................................................... 25 3.3 – GEOLOGIA LOCAL ............................................................................................ 29 3.4 – LAVRA E BENEFICIAMENTO MINERAL ....................................................... 32 xv CAPÍTULO 4 – SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DA MINA DE NIÓBIO 4.1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 39 4.2 – SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DA MINA DE NIÓBIO .............. 41 4.3 – GEOLOGIA LOCAL DA ÁREA DA BARRAGEM ........................................... 42 4.4 – FASES DE ALTEAMENTO DO MACIÇO DA BARRAGEM........................... 45 4.5 – SISTEMA DE IMPERMEABILIZAÇÃO DO RESERVATÓRIO ...................... 47 4.6 – SISTEMA DE MONITORAMENTO DA BARRAGEM ..................................... 50 4.7 – SISTEMA DE TRANSPORTE E DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS ..................... 53 4.8 – SISTEMA DE RECUPERAÇÃO DE ÁGUA ....................................................... 55 4.9 – CONDIÇÕES ATUAIS DE OPERAÇÃO DA BARRAGEM.............................. 56 CAPITULO 5 - CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS 5.1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 59 5.2 – AMOSTRAGEM DOS REJEITOS ....................................................................... 60 5.3 – ENSAIOS DE LABORATÓRIO........................................................................... 62 5.4 – CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS.................................. 62 5.4.1 – Caracterização Química e Mineralógica dos Rejeitos ........................................ 62 5.4.2 – Densidade das Partículas Sólidas ........................................................................ 69 5.4.3 – Distribuição Granulométrica dos Rejeitos .......................................................... 70 5.4.4 – Limites de Consistência ...................................................................................... 72 5.4.5 – Índices de Vazios Máximos e Mínimos .............................................................. 72 5.4.6 – Adensamento oedométrico ................................................................................. 73 5.4.7 –Permeabilidade sob carga constante .................................................................... 76 CAPÍTULO 6 – AVALIAÇÃO DO MODELO DEPOSICIONAL DOS REJEITOS EM CAMPO 6.1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 78 6.2 – CONSTRUÇÃO E ENCHIMENTO DAS BAIAS EXPERIMENTAIS ............... 79 xvi 6.3 – CONTROLE DAS MASSAS ESPECÍFICAS DOS REJEITOS .......................... 82 6.3.1 – Avaliação da Massa Específica dos Rejeitos Depositados nas Baias Curtas ..... 82 6.3.2 – Avaliação da Massas Específica dos Rejeitos Depositados nas Baias Longas ... 87 6.3.3 – Avaliação da Massa Específica ao longo da Praia de Rejeitos da Barragem ..... 89 6.4 – CONTROLE DO ADENSAMENTO PELAS ESPESSURAS DE REJEITOS .... 90 6.5 – SEGREGAÇÃO HIDRÁULICA DOS REJEITOS ............................................... 93 6.5.1 – Processo de Segregação Hidráulica nas Baias Longas ....................................... 94 6.5.2 – Processo de Segregação Hidráulica na Barragem em Operação ........................ 95 6.6 – ANÁLISE DA DECLIVIDADE DAS PRAIAS DE REJEITOS .......................... 97 6.6.1 – Declividades das Praias de Rejeitos Formadas nas Baias Longas ...................... 98 6.6.2 – Declividades das Praias de Rejeitos Formadas na Barragem em Operação ....... 99 6.7 – COMPRESSIBILIDADE DOS REJEITOS SUBMERSOS................................ 101 6.8 – INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE DISPOSIÇÃO NA BARRAGEM ............... 106 CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 7.1 – CONCLUSÕES ................................................................................................... 108 7.2 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................... 112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 113 xvii CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1– CONSIDERAÇÕES INICIAIS As atividades de mineração têm produzido uma quantidade considerável de rejeitos, materiais inerentes ao processo de beneficiamento do minério, que necessitam de um local adequado e projetado para sua disposição. Os volumes de rejeitos gerados estão associados à natureza e ao teor do mineral presente na natureza e às crescentes demandas de exploração e comercialização. Com as crescentes exigências ambientais nos processos de licenciamento e a redução de áreas disponíveis para a disposição, torna-se necessário o aprimoramento das condições de desempenho e otimização das estruturas em operação. Segundo Martin et al. (2002), todas as estruturas de disposição de rejeitos devem ser operadas por completo e com manutenções periódicas que garantam sua segurança. Além disso, a integridade física e ambiental deve ser mantida sempre, inclusive após o seu fechamento. Diante deste contexto e no sentido de reduzir as alterações decorrentes do processo de exploração mineral, os profissionais que trabalham com projetos, implantação e operação de sistemas de disposição de rejeitos têm buscado novas metodologias de construção de barragens ou de disposição do rejeito, visando ao maior aproveitamento das estruturas em operação. Com isso, os próprios rejeitos têm sido empregados na construção dos maciços, utilizados como fundação dos diques de contenção e mesmo espessados ou filtrados para maximizar a capacidade dos reservatórios. As metodologias alternativas de construção dos maciços visam reduzir os custos de implantação e a exploração de áreas de empréstimo. 1 A preocupação de se obter um aproveitamento máximo da capacidade de estocagem das estruturas existentes tem conduzido estudos para entender melhor o comportamento do rejeito durante seu processo de deposição no reservatório, pelas técnicas de aterro hidráulico. Segundo Ribeiro (2000), o entendimento da deposição hidráulica resulta num maior conhecimento do comportamento da formação destes aterros do ponto de vista geotécnico, podendo-se, assim, ser efetuado um controle melhor da qualidade do processo de construção, mesmo considerando a influência complexa das inúmeras variáveis que interferem nos processos de descarga e de lançamento de rejeitos em polpa no reservatório de uma estrutura de contenção final, particularmente em termos das vazões de descarga e teor de sólidos presentes. O processo de deposição do rejeito no reservatório está dividido em três estágios, que são: floculação, sedimentação e adensamento (Figura 1.1), que ocorrem de forma sequencial ou simultânea (Imai, 1981); os dois primeiros estágios são mais rápidos que o terceiro, principalmente para os materiais de granulometria fina. Segundo Pereira (2006), os rejeitos em que a fração de silte e areia são predominantes, as reduções de volume ocorrem de forma muito rápida, com uma tendência da fase de sedimentação prevalecer sobre a fase do adensamento. Uma técnica adequada de investigar a interação entre estes diferentes processos físicos para um dado sistema de disposição de rejeitos é por meio da modelação física em campo (baias experimentais). Figura 1.1 – Estágios de deposição do rejeito em reservatórios (Imai, 1981) 2 A crescente demanda de produção de nióbio e consequentemente a elevação da geração de rejeitos oriundos do processo de concentração do mineral, fazem com que seja necessário um melhor entendimento do comportamento destes materiais, quando lançados no reservatório de uma barragem. 1.2 – OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO A proposta deste trabalho consiste no diagnóstico e avaliação das condições operacionais do atual sistema de disposição de rejeitos de nióbio, gerados no processo de beneficiamento da planta localizada em Araxá/MG. O sistema em operação é constituído por uma barragem de terra, denominada ‘Barragem 6’, com aproximadamente 4,5 milhões de m³ de aterro e um reservatório impermeabilizado com capacidade final de armazenamento de cerca de 31,5 milhões de m³ de rejeitos. Neste processo, são gerados basicamente três tipos de rejeitos: magnetita, lama e rejeito da flotação. Apesar do processo de concentração gerar três rejeitos distintos, o presente estudo abordou condições de rejeitos conjugados, analisando-se a hipótese de um sistema de disposição, compreendendo misturas diversas dos três rejeitos, ou seja, disposição da mistura ‘lama+flotação’ (ou L+F), disposição da mistura ‘lama+flotação+magnetita’ (ou L+F+M) e disposição isolada dos rejeitos de magnetita (M), visando aferir a possibilidade de otimização da capacidade de armazenamento do sistema existente ou de suas potenciais readaptações futuras. Os estudos foram desenvolvidos por via experimental, por meio da simulação dos modelos de disposição dos rejeitos, através de baias experimentais, de modo a caracterizar a influência destes processos sob condições controladas de fronteira, bem como sondagem piezométrica efetuada no reservatório da barragem de rejeitos em operação, visando obter as leis constitutivas de adensamento e de permeabilidade dos resíduos. Neste propósito, foram construídas baias experimentais para monitoramento e controle do lançamento, disposição e segregação hidráulica destes materiais, através do depósito 3 e ao longo do tempo. Os procedimentos de monitoramento incluíram controle de densidades, medições das alturas dos depósitos formados, levantamento topográfico da praia formada e caracterização granulométrica dos materiais em diferentes seções das baias experimentais. Os estudos foram complementados por uma ampla campanha de ensaios de laboratório, incluindo a caracterização tecnológica e a determinação das principais propriedades físicas e químicas dos rejeitos estudados. 1.3 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Este trabalho é dividido em sete capítulos, de acordo com a estruturação dos temas analisados: • Capítulo 1: Neste capítulo apresenta-se a proposta de trabalho, destacando-se as considerações iniciais do estudo, os objetivos previstos e a própria estrutura da dissertação; • Capítulo 2: é apresentada uma revisão sobre as metodologias construtivas das barragens de rejeito (tipos de alteamento), sistemas de impermeabilização (polietileno de alta densidade, geocomposto bentonítico e geomembrana betuminosa), disposição de rejeito por aterro hidráulico, o processo de segregação hidráulica e variação da densidade ao longo da praia de deposição; • Capítulo 3: é apresentada a localização da mina de nióbio e da planta de beneficiamento, juntamente com as características gerais do empreendimento e uma breve descrição das principais aplicações do produto. Além disso, é descrita a formação geológica regional e local, as características gerais da mina e é apresentada uma breve descrição do processo de concentração do minério, o qual é gerador dos rejeitos estudados nesta dissertação; • Capítulo 4: expõe-se a sistemática de produção de minério e de geração dos rejeitos provenientes do beneficiamento de nióbio produzidos em Araxá/MG, bem como as 4 metodologias de disposição, atualmente utilizadas no âmbito do empreendimento; para o sistema de disposição do rejeito estudado, são detalhadas as técnicas de disposição e as principais características da estrutura em operação, incluindo-se a descrição geral das condições atuais e a avaliação geral do sistema; • Capítulo 5: descreve a metodologia adotada para a coleta de amostras dos rejeitos de nióbio (‘lama+flotação’, ‘lama+flotação+magnetita’ e magnetita) e são apresentados os principais resultados dos ensaios de caracterização tecnológica, realizados com os rejeitos de nióbio (caracterização química e mineralógica, análise granulométrica, densidade das partículas sólidas, índices de vazios, limites de consistência, adensamento convencional e permeabilidade de carga variável); • Capítulo 6: inclui a abordagem das técnicas de simulação física da disposição dos rejeitos por meio de baias experimentais e mediante investigações geotécnicas na própria barragem em operação; no capítulo, são descritas as metodologias construtivas das baias experimentais, apresentados os resultados dos ensaios realizados para a caracterização dos parâmetros de massa específica dos rejeitos, segregação hidráulica, adensamento, declividade das praias de deposição, compressibilidade dos rejeitos submersos e influência do sistema de disposição; • Capítulo 7: reúne as principais conclusões provenientes das análises e avaliações realizadas durante o desenvolvimento desta dissertação, incluindo-se também algumas recomendações para pesquisas futuras e/ou complementares. 5 CAPÍTULO 2 DISPOSIÇÃO DE REJEITOS E SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO 2.1 – INTRODUÇÃO Rejeitos são partículas sólidas oriundas da concentração de minérios, as quais não possuem valor econômico ou mesmo tecnologia disponível para seu beneficiamento. Estes materiais podem exibir características mineralógicas, geotécnicas e físicoquímicas variáveis, dependendo do processo de beneficiamento e do tipo de minério que os originam (Abrão, 1987). No Brasil, a maior parte dos rejeitos é descartada das Unidades de Concentração na forma de polpa (sólido + água), uma mistura de água e sólidos, e armazenados por uma barragem ou dique. Estes materiais apresentam basicamente três tipos de comportamento: líquido sobrenadante, com tendência à floculação das partículas de menor tamanho; rejeito em processo de sedimentação apresentando comportamento semilíquido a semiviscoso; e rejeito em processo de adensamento comportando-se como um material particulado. As barragens de rejeitos são construídas, em alguns casos, com a utilização do próprio rejeito, com um dique de partida normalmente construído em solo compactado. Os principais métodos construtivos empregados são: Método de Alteamento para Montante, Método de Alteamento para Jusante e Método de Alteamento por Linha de Centro. Dentre estas alternativas, o alteamento para montante tende a ser o mais econômico sendo, no entanto, o mais susceptível a problemas de controle de qualidade e de segurança. Os principais fatores a serem analisados para a escolha do método construtivo mais adequado são: a natureza do processo de mineração, as condições geológicas e topográficas da região, as propriedades mecânicas dos materiais e a 6 composição química do rejeito. Segundo Vick (1983), existem casos que as características químicas dos rejeitos podem ser determinantes na definição as melhores formas de disposição. A construção das barragens de rejeito é geralmente realizada em várias etapas, sendo que a primeira consiste na construção do dique de partida, o qual é constituído de solo ou enrocamento compactado. As demais etapas correspondem à operação contínua da estrutura, as quais acontecem em conjunto com as atividades de mineração, por meio de alteamentos consecutivos executados com solos compactados ou com a fração grossa dos rejeitos gerados. Os alteamentos devem ocorrer de forma a disponibilizar capacidade de armazenamento no reservatório e para evitar que o lago se aproxime da barragem e venha a causar a elevação da linha freática e uma possível instabilidade do maciço. Os sistemas de disposição de rejeito devem ser projetados para resíduos classificados como: inertes, não inertes e perigosos, de acordo com a norma NBR 10004 (ABNT, 2004). No projeto de disposição dos resíduos que se enquadram nas duas últimas classificações, é necessária a utilização de sistemas de impermeabilização. Dentre as alternativas comumente adotadas para camadas de proteção, destacam-se as camadas de argila compactada e a utilização de geossintéticos, como geomembranas e/ou geocompostos. No lançamento dos rejeitos em barragens, o processo convencionalmente adotado é a técnica de disposição em aterros hidráulicos, com os rejeitos sob a forma de polpa. O grande problema da adoção da disposição por aterro hidráulico é a ocorrência da segregação, fenômeno que se trata de uma seleção de grãos em função do tamanho, da forma e da densidade das partículas. O fluxo de polpa faz com que as partículas se depositem gradualmente ao longo de sua trajetória, provocando uma variabilidade estrutural de forma a alterar, significativamente, as características de deposição do material. Por isso, o conhecimento do comportamento da segregação do rejeito é fundamental para a avaliação da possibilidade de otimização da capacidade de estocagem do reservatório. 7 2.2 – MÉTODOS CONSTRUTIVOS DE BARRAGENS DE REJEITO A forma mais comum de contenção de rejeitos em polpa é a de lançamento direto em vales fechados ou interceptados por maciços de terra, construídos por diferentes técnicas de alteamento. Os procedimentos de construção dos aterros são os mesmos adotados para estruturas com finalidade de acumulação de água. 2.2.1 – Método de alteamento para montante O método de alteamento para montante (Figura 2.1) consiste na tecnologia mais antiga e simples para a construção de barragens, sendo considerado como uma evolução natural do processo empírico de disposição de rejeitos. A primeira etapa deste método é a construção de um dique de partida, normalmente construído de solo ou enrocamento compactado. Após o final desta fase, o rejeito é lançado por espigotes ou hidrociclones a partir da crista do dique, formando uma praia de deposição próxima do aterro, a qual será utilizada como fundação para a próxima etapa de construção. Os alteamentos subsequentes ocorrem sempre que necessário, seguindo a mesma metodologia, até a altura final prevista em projeto. Figura 2.1 – Alteamento para montante (Gomes, 2006) As principais vantagens do método de montante são o baixo custo de construção, pequena quantidade de material para a construção dos diques (redução de áreas de empréstimo) e a velocidade de execução do alteamento. Segundo Klohn (1981), a 8 ciclonagem do rejeito acelera a velocidade de construção do dique e mostra que a formação de uma praia entre a crista e o reservatório é importante e vantajosa. A formação de uma praia de lama (rejeitos finos) entre o lago e o talude de montante é um requisito adicional de segurança operacional para as estruturas, pois abate a linha freática, reduzindo a percolação e os riscos de piping (Chammas, 1989). A desvantagem relacionada à adoção do método de montante consiste no fato de que os alteamentos utilizam os próprios rejeitos como fundação, e estes materiais por terem sido depositados em curto intervalo de tempo, ainda não estão consolidados. Neste sentido, em condição saturada e estado de compacidade fofo, estes rejeitos tendem a possuir baixa resistência ao cisalhamento e susceptibilidade à liquefação quando submetidos a carregamentos estáticos e dinâmicos. Além disso, a dificuldade de construir um sistema de drenagem interna para controlar o fluxo de água através do maciço é um problema adicional, com reflexos diretos na estabilidade e riscos de ocorrência de piping no talude de jusante (Gomes, 2006). Na adoção do método de montante, é essencial que se faça um controle construtivo e operacional da disposição dos rejeitos, com monitoramentos constantes das características dos materiais depositados logo a montante dos diques de contenção, bem como das poropressões geradas no interior do maciço de rejeitos. 2.2.2 – Método de alteamento para jusante O método de alteamento para jusante representa um desenvolvimento relativamente recente, como alternativa ao procedimento anterior. Esta metodologia surgiu em virtude de alguns tipos de rejeitos não possuírem características geotécnicas adequadas para serem utilizados como fundação. Este processo exige grandes volumes de solo, pois os alteamentos são executados para a jusante, e também consideráveis áreas para a implantação do maciço. Atualmente, podem ser encontradas duas metodologias de construção para o alteamento de jusante. Na primeira, é construído um dique de partida com a etapa inicial da 9 drenagem interna (dreno vertical e horizontal) e, em cada alteamento subsequente, é dada a continuidade da drenagem vertical e horizontal (Figura 2.2). A metodologia alternativa é aquela em que a drenagem interna horizontal é construída na primeira etapa da obra e nos alteamentos subsequentes, dando-se continuidade apenas no filtro vertical (Figura 2.3). Figura 2.2 – Alteamento para a jusante (Gomes, 2006) Figura 2.3 – Alteamento para a jusante com preparação da fundação na 1ª etapa Segundo Klohn (1981), as principais vantagens dos maciços alteados para a jusante são que não possuem restrições de altura e que suas estruturas são totalmente independentes dos rejeitos. Outro benefício associado ao método de jusante é a possibilidade de redução significativa das dimensões do vertedor de cheias, com a criação da bacia de amortecimento no interior do reservatório (Gomes, 2006). 10 Em se tratando de desvantagem, esta metodologia apresenta elevados custos de implantação e necessita de grandes áreas de empréstimo para a construção do maciço. Além disso, exige um amplo espaço a jusante para que as etapas seguintes possam ser executadas, sem que a drenagem interna seja prejudicada. 2.2.3 – Método de alteamento por linha de centro A construção de barragens de rejeito pelo método de linha de centro (Figura 2.4) constitui essencialmente uma variação do método para a jusante. Esta metodologia consiste basicamente em um alteamento contínuo, no qual a posição do eixo original é mantida invariável até o final da obra. Figura 2.4 – Alteamento por linha de centro (Gomes, 2006) Na construção deste tipo de barramento, a parte de montante do aterro é apoiada sobre o rejeito e o talude de jusante tem como fundação, o alteamento anterior e o terreno natural. As vantagens do método alteamento por linha de centro são a possibilidade de redução do volume de material de empréstimo necessário para a construção do aterro e também a construção do sistema de drenagem interna em todas as etapas da obra. Por outro lado, nesta metodologia é necessária a formação da praia de rejeitos próxima ao aterro, pois esta afasta o lago do barramento e, assim, torna-se possível controlar a superfície freática no maciço. Como parte do aterro está construída sobre o rejeito, um eventual aumento do nível de água poderia causar uma alteração nas condições de acomodação do rejeito e então, deformações no talude de montante da barragem. 11 2.3 – DISPOSIÇÃO DE REJEITOS POR ATERRO HIDRÁULICO Aterros hidráulicos são depósitos formados através da hidromecanização, a qual é definida como o conjunto de procedimentos que envolvem o transporte e a disposição de um solo com o auxílio de água (Cruz, 1996). Segundo Silva (2010), no século XVII, os holandeses já aplicavam a técnica, através da utilização de dispositivos de hidromecanização rudimentares, com o objetivo de remover os sedimentos de portos e canais e ainda, recuperar áreas abaixo do nível do mar. Além disso, entre os anos 40 e 70, na antiga União Soviética, estruturas para fins hidroelétricos foram construídas através de procedimentos de aterro hidráulico. Os aterros hidráulicos podem ser utilizados para a construção de estruturas como barragens para acumulação de água, ilhas artificiais e barragens de rejeito, devido às vantagens econômicas e a praticidade de execução. Dentre estas vantagens, podem ser citadas: alta taxa de construção (mais de 200.000 m³/dia), possibilidade de implantação em ambiente submerso, simplicidade dos mecanismos utilizados, menos trabalho humano e baixo custo unitário (Grishin, 1982). Potenciais desvantagens referem-se às maiores exigências em relação ao solo utilizado no aterro, cuidados especiais nos casos em que a polpa é transportada em tubulações com fluxo pressurizado e maior necessidade de inspeções e manutenções nos dispositivos de transporte, pois estes estão sujeitos ao desgaste devido à abrasão dos materiais. Nos reservatórios de acumulação, o modelo deposicional do rejeito é considerado como um aterro hidráulico, pois a polpa (fração sólida + água) é lançada no reservatório e as partículas vão sedimentando ao longo da praia, à medida que a energia do fluxo de água não consegue mais arrastar os grãos. Para avaliar a qualidade destes aterros, é necessário identificar os parâmetros relevantes do processo de deposição hidráulica, com o intuito de identificar as variações que ocorrem ao longo da praia em função do fluxo da polpa. Diante isso, é possível identificar os principais parâmetros associados ao processo de formação dos aterros hidráulicos que são: segregação hidráulica e densidade. 12 O escoamento e a infiltração de água ao longo do depósito de materiais acumulados, forma a chamada ‘praia de rejeitos’, na qual a geometria e as características estão diretamente relacionadas às variáveis da deposição e à dinâmica bastante complexa do processo de fluxo. 2.3.1 – Segregação Hidráulica A segregação hidráulica é um fenômeno comum e importante que ocorre nos aterros hidráulicos e trata-se da tendência da fração sólida ou parte dela sedimentar, em função do tamanho, da forma, da densidade das partículas sólidas e das condições do fluxo. À medida que a polpa percorre a praia, as partículas sólidas sedimentam em diferentes locais, gerando assim uma grande diversidade estrutural, fato que provoca uma alteração significativa das características geotécnicas do aterro. Portanto, o entendimento da segregação hidráulica é de suma importância para avaliar as condições de ocupação de um reservatório. Segundo Moretti & Cruz (1996), o rejeito ao escoar ao longo da praia de deposição, perde velocidade e, consequentemente, também a sua capacidade de arraste, limitando então, um transporte hidráulico associado diretamente às frações granulométricas dos resíduos lançados. Geralmente, as frações mais grossas do rejeito tendem a depositar-se próximo ao ponto de lançamento e as mais finas nas regiões mais distantes. No entanto, pode-se observar que para alguns tipos de rejeito, existe a deposição de partículas finas próximas ao ponto de lançamento, fato que está diretamente relacionado com a composição mineralógica dos grãos. Nos estudos realizados por Santos (2004) com rejeitos de ferro, a segregação hidráulica é condicionada pela densidade e pelo tamanho das partículas. Este fenômeno interfere nas características geotécnicas do aterro, principalmente na condutividade hidráulica, a qual tende a se apresentar mais baixa próxima aos pontos de lançamento, aumentando em uma zona intermediária e tornando-se a reduzir nos pontos mais distantes do lançamento. 13 A segregação hidráulica nem sempre ocorre e depósitos que armazenam materiais com esta característica, ou seja, não segregáveis, formam praias mais íngremes, com granulometria constante e densidades relativamente baixas. Por outro lado, os reservatórios de polpas que segregam tendem a ser mais suaves, com densidades maiores e distribuição granulométrica média, variando com a distância do ponto de lançamento (Espósito, 2000). Neste sentido, verifica-se que uma grande variabilidade granulométrica do reservatório pode ser gerada devido às condições de deposição e do próprio rejeito. Estes depósitos podem apresentar, portanto, grande diversidade das características geotécnicas em função principalmente das diferenças de densidade, granulometria e composição química e mineralógica dos rejeitos. 2.3.2 – Densidades dos Rejeitos Existem diversas variáveis que devem ser consideradas para avaliar a ocupação do reservatório de uma barragem de rejeitos; no entanto, a principal é a densidade do material depositado. A obtenção de uma densidade elevada é essencial para uma otimização da capacidade de estocagem de materiais em uma bacia de contenção de rejeitos. A densidade é uma medida indireta da estrutura dos solos e, consequentemente, dos parâmetros geotécnicos, sendo imprescindível ter um procedimento adequado para projetar a disposição de modo a maximizar o valor da densidade. Reservatórios de barragens de rejeito e depósitos de material dragado, apresentando densidades elevadas, significam um ganho em sua capacidade de armazenamento e consequentemente, em sua vida útil (Ribeiro, 2000). Em aterros convencionais, a densidade pode ser estimada já na fase de projetos, por meio de ensaios de compactação realizados em laboratório. Este dado permite a escolha da melhor metodologia construtiva para o empreendimento, de forma a manter as premissas de projeto. No caso dos aterros hidráulicos, mesmo conhecendo as 14 características iniciais do material utilizado, as variáveis do processo de deposição (segregação hidráulica e perda de finos) fazem com que o aterro se comporte de maneira bastante diferente. O solo apresenta alterações estruturais provocadas pelas diferentes velocidades de fluxo e taxa de transporte de sedimentos, variáveis praticamente impossíveis de serem determinadas em laboratórios convencionais de Mecânica dos Solos. Visando aprimorar este conhecimento, estudos realizados têm-se baseado na simulação do processo de deposição hidráulica em laboratórios ou em modelos reduzidos, mediante a adoção de condições similares às existentes nas barragens. 2.4 – SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO Dispositivos de impermeabilização são utilizados em obras de engenharia para diversas aplicações, como por exemplo, impedir a passagem de umidade, vapor, conter água e diferentes efluentes, e evitar o contato de rejeitos ou resíduos das mais variadas origens com o solo ou água subterrânea. As impermeabilizações são adotadas em várias situações e em diversos tipos de obras ou estruturas, tais como: aterros de resíduos domésticos e industriais, revestimento de túneis, reservatórios de contenção e de tratamento de resíduos industriais, canais de adução e irrigação, bases encapsuladas de estradas e depósitos subterrâneos. Usualmente, as barreiras de impermeabilização têm sido implantadas com diversos tipos de matérias, como camadas de argila compactada, concreto, mantas impregnadas com diversas substâncias (exemplo betume impregnado a um geotêxtil), geocompostos argilosos (GCL), geomembranas de polietileno de alta densidade (PEAD) e polivinil clorado (PVC). Cada uma das diferentes opções apresenta vantagens e desvantagens, em detrimento de uma série de requisitos necessários em determinada aplicação. Na escolha do tipo de impermeabilização é importante conhecer as características de resistência e durabilidade frente às solicitações de natureza química, física e mecânica; disponibilidade do material; facilidade e custo de implantação. Em seguida, serão apresentadas as características gerais das geomembranas de PEAD, dos geocompostos bentoníticos e mantas impregnadas com betume, bem como as 15 principais vantagens e desvantagens para cada um destes tipos de sistema de impermeabilização. 2.4.1 – Geomembrana de polietileno de alta densidade – PEAD As geomembranas de PEAD (Figura 2.5) consistem em mantas poliméricas flexíveis que apresentam permeabilidades extremamente baixas (da ordem de 10-12 cm/s) e que são utilizadas como barreiras para líquidos e vapores. São fabricadas industrialmente, normalmente em forma de bobinas, que são transportadas até a obra, onde são lançadas e soldadas por meio de termofusão (Bueno et al., 2004). Figura 2.5 – Geomembrana de PEAD As propriedades e o comportamento deste material apresentam variações em função da resina e dos aditivos que eventualmente as compõem. As geomembranas são comumente fabricadas com larguras entre 5 e 10 metros, comprimentos de até 100 metros e espessuras entre 1,0 e 2,5 milímetros. As principais vantagens deste tipo de geomembrana são a excelente resistência a produtos químicos e ataques biológicos, alta resistência aos raios solares, baixa incrustação, atóxica, alta resistência ao impacto e à tração, e boa resistência mecânica. Por outro lado, as desvantagens são a formação de rugas, necessidade de criteriosa conformação ao terreno para sua aplicação e possibilidade de formação de trincas sob tensão. 16 2.4.2 – Geocompostos bentonítico Os geocompostos bentoníticos (Figura 2.6) são comumente conhecidos com GCL (geosynthetic clay liners) e consistem basicamente em um produto industrializado à base de bentonita natural, sódica ou cálcica, o qual é formado por uma fina camada de argila expansiva disposta entre dois geotêxteis ou colada a uma geomembrana (Lukiantchki, 2007). De forma geral e quando corretamente instalados, são materiais que apresentam baixa permeabilidade (entre 10-10 e 10-8 cm/s), coeficiente diretamente influenciado pelas tensões confinantes. São manufaturados com dimensões da ordem de 5 metros de largura, por 50 metros de comprimento e espessuras da ordem de um centímetro, sendo a fração de bentonita com umidade entre 5 e 20% e massa de 5 kg/m² (Bueno et al., 2004). Uma característica bastante importante destes produtos é a sua capacidade de autocicatrização, em função da elevada capacidade de expansão da bentonita. A união entre elementos é realizada apenas pela sobreposição de mantas adjacentes. Figura 2.6 – Geocomposto bentonítico Segundo Vilar (2003), os geocompostos bentoníticos podem ser classificados em dois diferentes tipos, que são os reforçados e não reforçados. No caso dos elementos reforçados, as camadas externas dos geossintéticos são mecanicamente unidas, 17 utilizando-se costuras ou agulhamento, enquanto nos não reforçados são utilizados adesivos. A Figura 2.7 ilustra os diferentes tipos de geocompostos bentoníticos. Figura 2.7 – Tipos de geocomposto bentonítico (Vilar, 2003) As principais vantagens deste sistema são a rápida instalação, baixo custo, baixa permeabilidade quando corretamente instalados, alta capacidade de suporte de recalques, excelentes características de auto-cicatrização e facilidade de execução de reparos. No entanto, suas principais desvantagens são a possibilidade de perda da bentonita durante a instalação, permeabilidade a gases nos casos de bentonitas levemente úmidas, aumento da permeabilidade devido a compressibilidade do GCL sob tensões de compressão e incompatibilidade com certos efluentes. 2.4.3 – Mantas impregnadas com betume As mantas impregnadas com betume ou simplesmente geomembranas betuminosas (Figura 2.8) são constituídas por misturas de hidrocarbonetos de alto peso molecular, obtidos de depósitos naturais ou pelo beneficiamento do petróleo. Elas apresentam um comportamento visco-elástico, ou seja, sua deformação não é somente influenciada pela carga aplicada, mas também pela duração e temperatura (Colmanetti, 2006). Sua permeabilidade, assim como os outros dispositivos de impermeabilização apresentados, é extremamente baixa e da ordem de 10-11 cm/s. 18 Figura 2.8 – Geomembrana betuminosa A instalação deste tipo de material requer uma preparação prévia do terreno, com a remoção de pedras e vegetação, seguida do lançamento da manta e com sobreposição de 20 centímetros para a realização da soldadura. A solda é realizada pela fusão do betume das duas mantas, seguida da compressão do material mole com um rolo metálico. É imprescindível que ocorra uma sobra de betume na parte externa da solda (Figura 2.9). Figura 2.9 – Solda da geomembrana betuminosa 19 A geomembrana betuminosa é fabricada em rolos de 5 metros de largura, com até 90 metros de comprimento e espessura variando de 3,5 a 5,6 milímetros. Este produto é constituído por 5 camadas de materiais, sendo estas de: areia, betume, geotêxtil não tecido, lã de vidro e filme anti-raiz (Figura 2.10). Figura 2.10 – Camadas de formação da geomembrana betuminosa Este tipo de impermeabilização apresenta elevada resistência mecânica, possibilidade de instalação em baixas temperaturas, facilidade de aderência em estruturas de concreto, boa resistência química e biológica, excelentes características de auto-cicatrização e resistência à penetração de raízes. Por outro lado, este material apresenta elevada densidade, necessitando de equipamentos mecânicos durante a instalação e uma boa preparação do terreno antes de sua aplicação. 20 CAPÍTULO 3 MINERAÇÃO DE NIÓBIO EM ARAXÁ/MG 3.1 – INTRODUÇÃO O nióbio é um metal de alto ponto de fusão (2.468º C) do grupo dos metais ditos refratários, que se destaca pelas seguintes características: densidade pouco superior à do ferro, elevada resistência ao ataque por certos ácidos e metais líquidos, baixa resistência à oxidação e supercondutividade a temperaturas inferiores a 270º C (negativos). O Brasil detém quase a totalidade das reservas mundiais de nióbio e as principais ocorrências em operação são: em Araxá (MG), Catalão (GO), Ouvidor (GO) e Presidente Figueiredo (AM). Em Minas Gerais, é onde está localizada a maior reserva em exploração do mundo, a qual é operada pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Em Goiás, o minério de nióbio é explorado pela empresa Anglo American, enquanto a exploração da columbita da mina de Pitinga, no município de Presidente Figueiredo (AM), está a cargo da Mineração Taboca, empresa do grupo peruano Minsur. Além das minas em operação no país, o nióbio também é produzido em Saint Honoré, no Canadá e em outros pequenos locais de menor expressão. Em Minas Gerais, a primeira referência à análise qualitativa do nióbio foi em 10 de março de 1953 e poucas semanas depois, a equipe do Professor Djalma Guimarães caracterizou no material coletado o pirocloro, mineral portador do nióbio (CBMM, 2003). Já em 1955, foi fundada a CBMM, a qual, até hoje, opera em consórcio com a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG) a exploração deste recurso mineral. A atividade de mineração e beneficiamento está localizada a apenas 8 km do município de Araxá (MG) e cerca de 370 km de Belo Horizonte (Figura 3.1). 21 Figura 3.1 – Localização do complexo de nióbio em Araxá/MG A lavra do nióbio (Figura 3.2) desenvolve-se em uma cava dividida em Mina 1 e Mina 2, a primeira de propriedade da CODEMIG e a segunda da própria CBMM, sendo a delimitação estabelecida pelas correspondentes marcações dos decretos de lavra. A extração do minério é feita a céu aberto, em conformidade com os Decretos de Lavra 59.979 e 58.403, respectivamente, com uma reserva estimada de 438 milhões de toneladas. Figura 3.2 – Vista por satélite da região do complexo de nióbio 22 O nióbio produzido em Araxá responde por 80% de toda a produção mundial, sendo a sua produção anual de aproximadamente 70 mil toneladas da liga de ferronióbio. Além desse produto, na unidade industrial também é fabricado o pentóxido de nióbio, as ligas grau vácuo e o nióbio metálico. O nióbio possui elasticidade e flexibilidade que o tornam moldável, é anti-corrosivo e resiste aos ácidos mais agressivos. Mesmo submetido a elevadas temperaturas, possui alta resistência à combustão e, sob baixas temperaturas, torna-se supercondutor. Os principais produtos de nióbio produzidos em Araxá são o ferronióbio (Figura 3.3), o pentóxido de nióbio, as ligas grau vácuo e o nióbio metálico. Figura 3.3 – Ferronióbio (liga metálica de ferro e nióbio) A liga ferronióbio, obtida através da aluminotermia, é o produto final mais comercializado da cadeia do nióbio, sendo destinado à produção de alguns aços especiais, principalmente os micro ligados e os inoxidáveis. Nos aços microligados, mesmo com um reduzido consumo específico (cerca de 400g de FeNb/t de aço), o nióbio confere ao produto características de resistência mecânica, tenacidade, conformabilidade e soldabilidade. Já para os inoxidáveis, seu valor está em neutralizar o 23 efeito de carbono e nitrogênio, afastando risco de deterioração do produto por corrosão (Andrade, 2000). Atualmente, as principais aplicações do nióbio são em: gasodutos, oleodutos, automóveis, trilhos de trem, chapas para cascos de navios, estruturas metálicas para construção civil, torres de transmissão de energia, plataformas marítimas, supercondutores de equipamentos de ressonância, aceleradores de partículas existentes em grandes centros de pesquisa, lentes de ópticas e outros. Além da mina e da unidade de Concentração, que serão detalhadas a seguir, o complexo industrial da CBMM em Araxá é composto pelas unidades de sinterização, desfosforação, ligas especiais, metalúrgica, óxidos, nióbio metálico, britagem e expedição (Figura 3.4). O processo de beneficiamento do minério inclui todas as etapas necessárias para a obtenção do concentrado de pirocloro, composto constituído por mais de 60% de Nb2O5. Figura 3.4 – Vista aérea do complexo industrial da CBMM, em Araxá/MG 24 O processo de concentração é constituído pelas etapas de britagem, moagem, separação magnética, deslamagem e flotação. Em seguida, o concentrado é enviado para o espessador e casa de filtros, sendo desaguado e estocado em “bags”. Conforme as demandas, o concentrado é transportado por caminhões até às outras unidades industriais para a produção de materiais gerados à base de pirocloro. Os rejeitos gerados no processo de beneficiamento do minério são provenientes das etapas de separação magnética, deslamagem e flotação. O primeiro rejeito gerado no processo é a magnetita, removida do minério por meio de separadores magnéticos. Na deslamagem, materiais com granulometria ultrafina são removidos por ciclones. No final do processo de concentração, o minério passa pelas células de flotação, com nova fase de geração de rejeitos e concentração do minério de Nb2O5 para 60%. Após cada etapa de beneficiamento, os rejeitos são encaminhados para a barragem de contenção, seja por bombeamento (como é o caso da magnetita atualmente), ou por gravidade, como ocorre com a lama e os rejeitos da flotação. Até 2005, os rejeitos gerados pelo processo de concentração de nióbio eram dispostos em barragens não impermeabilizadas, com maciços de terra alteados para a jusante, com lançamento do rejeito a partir da crista. A partir de 2006, entretanto, teve início a operação da atual barragem que conta com dispositivos de impermeabilização compostos por membranas sintéticas, alteamento para a jusante e disposição em pontos distintos, visando otimizar a ocupação do reservatório. 3.2 – GEOLOGIA REGIONAL A região em que se encontra a mina de nióbio faz parte do setor meridional da Faixa de Dobramentos Brasília (Almeida, 1967), edificada no bordo oeste do Cráton do São Francisco e que se estende por mais de 1.000 km na direção norte/sul, através dos estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e pelo Distrito Federal. A porção interna desta faixa está, em sua grande parte, ocupada por rochas dos Grupos Araxá e Serra da Mesa, com características de cinturões interiores neoproterozóicos. 25 Sob o ponto de vista tectônico, a região de Araxá está estruturada em uma dobra sinformal regional denominada Sinforma de Araxá (Figura 3.5). Esta estrutura regional tem seus flancos principais nos setores nordeste e sudoeste e sua linha de charneira apresenta direção aproximada N70W, com caimento suave para NW. Em seu flanco sul, está localizada a Zona de Cisalhamento da Bocaina que consiste em um sistema de falhas transcorrentes sinistrais (Seer, 1999). Figura 3.5 – Mapa Geológico da Sinforma de Araxá (Seer, 1999) Segundo Seer (1999), a tectonoestratigrafia da região compreende três escamas tectônicas alóctones, separadas por zonas de cisalhamento que configuram falhas de empurrão (Figura 3.6). Na escama inferior, ocorrem as litologias do Grupo Canastra que, por sua vez, cavalga o Grupo Bambuí, que caracteriza uma cobertura cratônica autóctone situada a leste da área estudada. A escama tectônica intermediária reúne as litologias do Grupo Ibiá. Empurrada sobre esta ocorre a escama tectônica superior que é constituída pelas rochas do Grupo Araxá. 26 Figura 3.6 – Tectonoestratigrafia do Sinforma de Araxá (Seer, 1999) O Grupo Canastra é constituído por um conjunto de metassedimentos detríticos, em grande parte carbonosos e com faces carbonatadas; seus contatos com as demais unidades geológicas da região são tectônicos, através de zonas de cisalhamento. Estes metassedimentos são constituídos por ortoquartzitos, quartzitos micáceos, filitos 27 sericíticos, filitos carbonosos, grafita xistos, cloritóide-grafita xistos, granada-grafita xistos e subordinadamente, por metamargas e cloritaxistos com foliação bem desenvolvida. A partir da Serra da Bocaina, no sentido sul, o topo estratigráfico passa a conter quartzitos muito finos com intercalações de filitos sericíticos e carbonosos, passando a filitos carbonosos que gradam para grafita xistos e cloritóide-grafita xistos finos. Por fim, ocorrem granada-cloritóide-grafita xistos mais grosseiros. Todas as litologias descritas contêm horizontes de quartzitos finos e micáceos subordinados, configurando sequências rítmicas. O Grupo Ibiá compreende um conjunto de metassedimentos detríticos metamorfisados que se distribuem a sudoeste, sul, sudeste, leste, nordeste e norte da cidade de Araxá. Seus contatos, tanto com o Grupo Canastra como com o Grupo Araxá, são tectônicos, através de zonas de cisalhamento. Seus litotipos principais são calcifilitos, quartzofilitos, filitos e quartzitos micáceos com foliação bem desenvolvida, sendo comum a presença de veios de quartzo e carbonato paralelizados à foliação principal. O Grupo Araxá está inserido na zona mais interna da Sinforma de Araxá e ao longo do Rio Araguari. Seus contatos, assim como os demais grupos, são tectônicos, através de zonas de cisalhamento. Esta unidade está representada por um conjunto metaígneo máfico/ultramáfico – metassedimentar, intrudido por corpos de granitóides ricos em pegmatitos. Os metassedimentos compõem a base da escama tectônica do Grupo Araxá, incluindo micaxistos, quartzo-mica xistos, quartzitos, quartzitos micáceos, quartzitos granatíferos, granada mica xistos, granada mica xistos feldspáticos, mica xistos feldspáticos e cloritóide-granada mica xistos. No interior da Sinforma de Araxá, ocorrem rochas metamáficas constituídas por clorita xistos, clorita-anfibólio xistos e anfibolitos. Os anfibolitos ocorrem sempre na forma de lentes, com espessuras variando desde métricas até poucas dezenas de metros, circundadas por clorita e clorita-anfibólio xistos de coloração verde (Figura 3.7). 28 Figura 3.7 – Afloramento de anfibolitos no Grupo Araxá (Seer, 1999) 3.3 – GEOLOGIA LOCAL A reserva mineral de nióbio está localizada no complexo alcalino-carbonatítico de Araxá e, junto com os complexos de Tapira, Salitre e Serra Negra (Figura 3.8), integra um conjunto de complexos carbonatíticos e kimberlíticos (Biondi, 2003). A formação geológica do complexo possui forma circular, com cerca de 5 km de diâmetro e está encaixada por quartzitos e xistos proterozóicos do Grupo Ibiá (Figura 3.9). Figura 3.8 – Localização dos complexos alcalino-carbonatíticos 29 Figura 3.9 – Formação geológica do complexo alcalino-carbonatítico de Araxá (Grossi Sad & Torres, 1976) O núcleo do complexo contém beforsitos e glimeritos, com sovitos subordinados. É envolto por um anel de glimeritos que está em contato com os quartzitos e xistos fenitizados. Na porção central do complexo, afloram beforsistos e glimeritos, com sovitos subordinados. Este núcleo carbonatítico é envolvido por glimeritos, com beforsitos subordinados, que fazem o anel mais externo de rochas carbonatíticas (Silva, 1986). As rochas alcalinas são totalmente envolvidas por um largo anel de quartzitos e micaxistos fenitizados (Figura 3.10). 30 Figura 3.10 – Complexo Alcalino-Carbonatítico de Araxá (Silva, 1986) Segundo Issa Filho et al. (1984), a estrutura de Araxá é típica de um complexo erodido composto pelas seguintes fases: (i) intrusão de rochas ultrabásicas duníticas e peridotíticas em meio à supracrustrais (Figura 3.11a); (ii) intrusão do magma carbonatítico e início do metassomatismo das rochas ultrabásicas, gerando glimeritos e fenitizando as rochas encaixantes (Figura 3.11b); (iii) glimeritização completa das rochas ultrabásicas e a fenitização das encaixantes, gerando núcleos de silexitos em meio aos quartzitos fenitizados (Figura 3.11c); (iv) erosão e intemperismo das rochas alcalinas, gerando um manto de intemperismo no qual ocorreu o enriquecimento residual de minerais resistentes (Figura 3.11d). 31 Figura 3.11 – Fases do complexo carbonatítico de Araxá (Issa Filho et al., 1984) Os minérios supergênicos e residuais totalizam 414 Mt de minério com 3,3% de P2O5 e 438 Mt de minério com 2,5% de Nb2O5. Atualmente, o minério lavrado na mina é essencialmente laterítico. Superficialmente, tem-se uma crosta laterítica ferruginosa, com presença de limonita/goethita e magnetita, que concentra pirocloro e apatita. Abaixo desta crosta, ocorre o principal corpo mineralizado, que se trata de um regolito, formado pela alteração e lixiviação do carbonatito e que concentra bário-pirocloro (pandaita), apatita e monazita. 3.4 – LAVRA E BENEFICIAMENTO MINERAL A mina de nióbio de Araxá (Figura 3.12) constitui o maior pólo minerador de nióbio do mundo, onde anualmente são movimentadas cerca de 5 milhões toneladas de minério. As reservas do minério (presente tanto no manto intemperizado quanto na rocha sã) são de aproximadamente 438 milhões de toneladas com uma espessura de até 250 metros e teores médios de 2,5 a 3,0% de Nb2O5. Na rocha sã, o nióbio está presente em concentração média de 1,5% de Nb2O5, podendo chegar até 8%, sendo que testemunhos de sondagens, extraídos a 800 metros de profundidade, indicaram a presença de pirocloro, mineral no qual é extraído o nióbio. 32 Figura 3.12 – Vista aérea da mina de nióbio da CBMM em Araxá/MG Nas operações de lavra atuais (Figura 3.13), o minério é extraído da mina por meio de escavadeiras hidráulicas e transportado por caminhões de até 40 toneladas até as pilhas de estoque, local onde se deposita o material em concentrações diferentes, procedendose à homogeneização com equipamentos de terraplanagem. Após esta atividade, ocorre a retomada do material por meio de equipamentos de terraplanagem e a descarga no ponto de alimentação, que direciona o minério para a unidade de concentração por meio de uma correia transportadora de 3,5 km (Figura 3.14). Figura 3.13 – Operações de lavra da mina de nióbio 33 Figura 3.14 – Correia que transporta o minério da mina até à unidade de concentração O minério transportado é acondicionado em silos e submetido ao beneficiamento do nióbio em uma unidade industrial denominada Unidade de Concentração (Figura 3.15), que tem uma capacidade anual de produção de aproximadamente 175 mil toneladas de concentrado. Figura 3.15 – Silos de estocagem de minério e Unidade de Concentração 34 No processo, o minério é submetido às seguintes etapas de beneficiamento: britagem, moagem, separação magnética, deslamagem e flotação. A Figura 3.16 apresenta o fluxograma simplificado de processo da unidade de concentração do complexo da mineração de nióbio da CBMM em Araxá/MG. Figura 3.16 – Fluxograma do processo de concentração do nióbio 35 Após transporte ao longo de 3,5 km por correia, o minério é passado em um britador de rolos dentados (Figura 3.17a), para destorroamento do material ou mesmo quebra de alguns pequenos blocos de rocha. Em seguida, o material segue para os moinhos de bolas (Figura 3.17b), onde as partículas sólidas são reduzidas a diâmetros inferiores a 0,104 mm, permitindo assim a liberação dos cristais de pirocloro. Figura 3.17 – Concentração: (a) Britador de rolos dentados; (b) Moinho de bolas Dos moinhos de bolas, o minério recebe a adição de água de recirculação e o material, em forma de polpa, passa pelo separador magnético (Figura 3.18), sendo a magnetita removida do minério pelos rolos magnetizados. A magnetita removida é encaminhada por bombeamento para a barragem de contenção de rejeitos. Figura 3.18 – Concentração: (a) Separadores magnéticos; (b) Saída da magnetita 36 Na sequência do processo de beneficiamento, ocorre a deslamagem, na qual o minério passa por baterias de ciclones (Figura 3.19), nas quais as frações granulométricas inferiores a 0,005 mm são removidas do minério e direcionadas para a barragem de rejeitos por gravidade e através de um canal. Figura 3.19 – Concentração: Etapas de deslamagem A última etapa da concentração é constituída pela flotação (Figura 3.20), na qual as partículas de pirocloro são expostas a reagentes químicos e coletadas em bolhas geradas pela injeção de ar no fundo das células. As frações sólidas não incorporadas pelas bolhas gasosas são removidas pela parte inferior das células, constituindo o terceiro tipo de rejeito da planta industrial, que é também encaminhado por gravidade até a barragem de contenção de rejeitos. Figura 3.20 – Concentração: Etapa de flotação 37 Após o processo de beneficiamento industrial do minério, é produzido um concentrado de pirocloro com um teor de aproximadamente 60% de Nb2O5. O rejeito gerado neste processo é composto aproximadamente por 15% de magnetita, 15% de lama e 70% de rejeito da flotação. Atualmente, devido às condições operacionais existentes na planta de concentração, a lama e o rejeito da flotação são lançados na barragem juntamente por meio de um mesmo canal e a magnetita é espigotada separadamente. No entanto, quando são necessárias atividades de manutenção no sistema de bombeamento da magnetita, é possível lançar juntamente os três rejeitos, através do canal que é utilizado para conduzir a lama e o rejeito de flotação até a barragem. A água utilizada no processo de concentração é proveniente da própria barragem de rejeitos, ou seja, é água de recirculação. Durante o período de chuvas, o reservatório de água na barragem aumenta consideravelmente e, para controlar este volume, a água é bombeada até uma estação de tratamento, sendo tratada e em seguida lançada em um pequeno curso de água que corta 38 a propriedade do empreendimento. CAPÍTULO 4 SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DA MINA DE NIÓBIO 4.1 – INTRODUÇÃO A disposição dos rejeitos provenientes dos processos de beneficiamento de minério temse tornado um grande problema operacional, pois, em face das atividades crescentes da mineração como agente do desenvolvimento econômico de um país, a geração de rejeitos tem aumentado substancialmente, com a elevação consequente dos custos envolvidos em seu armazenamento. Quanto maior o volume de rejeitos gerados, maiores são as áreas necessárias para a sua disposição final e também as obras de contenção (barragens). Além disso, em alguns casos, esta disposição pode acarretar alterações no meio, a qual se dá em função das características do minério explorado ou mesmo dos insumos utilizados nos processos de concentração. No início das atividades minerárias do Brasil, os rejeitos gerados no processo de concentração do minério eram lançados diretamente nos cursos de água e até mesmo dispostos na superfície do terreno natural sem nenhuma preocupação com os impactos resultantes. Com o aumento da conscientização da atividade mineral criteriosa e a adoção de prescrições ambientais mais restritivas, foram criadas novas metodologias de disposição e desenvolvidos programas específicos para um maior controle operacional de sistemas de contenção de rejeitos. Garga & Troncoso (1990) citam que, com o aumento do controle ambiental e a atuação da opinião pública, torna-se necessária a elaboração de projetos de disposição de rejeito, não apenas para o estágio de operação da mina, mas incluindo também a fase final de descomissionamento. Sendo assim, uma estrutura para contenção de rejeitos deve satisfazer aos requisitos de segurança, controle de contaminação, capacidade de 39 armazenamento e economia, conforme as prescrições da norma NBR 13.028 (ABNT, 2006) e leis ambientais vigentes. A disposição dos rejeitos oriundos das atividades de mineração pode ser realizada em cavidades subterrâneas, em ambientes subaquáticos, cavas exauridas e, principalmente, na superfície dos terrenos, conformando estruturas na forma de barragens e/ou pilhas (Gomes, 2006). Estes resíduos podem ser dispostos na forma de massas (rejeitos filtrados), pasta (rejeitos em pasta) ou de polpa. Em geral, os rejeitos são convencionalmente dispostos sob a forma de polpa, principalmente porque esta condição do resíduo constitui o subproduto natural das atividades de concentração dos minérios, sempre associadas a grandes demandas de água. Neste caso, o transporte dos rejeitos é feito comumente por gravidade, através de canais ou por tubulações (‘rejeitodutos’) e a disposição final dos rejeitos em polpa ocorre pelas técnicas de aterro hidráulico. A disposição de rejeitos filtrados em unidades industriais é feita sob a forma de pilhas (ou maciços compactados por equipamentos convencionais de terraplanagem), mediante o transporte dos resíduos até os locais específicos, por meio de correias transportadoras ou caminhões. A disposição dos rejeitos em espaços subterrâneos ocorre normalmente em cavidades previamente lavradas, particularmente com rejeitos na forma de pasta, aditivados com produtos para melhorar as suas propriedades geotécnicas. Esta metodologia de disposição apresenta vantagens como a redução de passivos ambientais e dos riscos de subsidências e/ou queda de blocos e a exclusão e/ou redução da necessidade de áreas para implantação de sistemas de disposição em superfície. A disposição subaquática é aquela na qual o rejeito, em forma de polpa, é lançando por meio de tubulações no fundo de corpos de água receptores, tais como mares, lagos ou reservatórios específicos. Esta técnica é restrita a rejeitos mais arenosos e a proposição é interessante em regiões com elevadas precipitações ou no caso de resíduos de minérios sulfetados (Gomes, 2006). 40 Na superfície dos terrenos, os rejeitos podem ser dispostos em forma de pilhas, em reservatórios contidos por diques laterais (ponds) ou em barragens. A escolha adequada da metodologia a ser utilizada está diretamente ligada às condições climáticas, ao relevo da região e ao processo de beneficiamento industrial adotado no projeto. 4.2 – SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DA MINA DE NIÓBIO O atual sistema de disposição de rejeitos do processo de beneficiamento da planta de nióbio da CBMM em Araxá/MG é constituído por uma barragem de terra, denominada ‘Barragem 6’ (Figura 4.1), com aproximadamente 4,5 milhões de m³ de aterro e um reservatório impermeabilizado com capacidade final de armazenamento de cerca de 31,5 milhões de m³ de rejeitos. Figura 4.1 – Vista aérea da Barragem 6 (CBMM – Araxá/MG) Inicialmente, esta barragem foi projetada para promover a clarificação da água proveniente do lançamento de rejeitos na ‘Barragem 5’, situada a montante (Figura 4.2). Entretanto, em função da aproximação do final da vida útil da Barragem 5, optou-se por proceder ao licenciamento da Barragem 6 como sistema de disposição final de todos os rejeitos oriundos da unidade de concentração da planta industrial de nióbio da CBMM, em Araxá/MG. 41 Com base nos levantamentos topográficos locais e no arranjo final do projeto, foi obtida a curva ‘cota x volume’ para o barramento (Figura 4.3), limitando-se o lançamento de rejeitos até a cota 1098,00 m, para uma borda livre final de 2m. Figura 4.2 – Vista área das Barragens de Rejeito de Nióbio nº 5 e 6, no ano de 2002 Figura 4.3 – Curva ‘cota x volume’ para a Barragem 6 (Morgado, 2009) 4.3 – GEOLOGIA LOCAL DA ÁREA DA BARRAGEM Na região da fundação da Barragem 6, a cobertura superficial é constituída por solos residuais maduros e jovens, que localmente podem atingir espessuras da ordem de dezenas de metros. A Figura 4.4 apresenta uma seção do perfil de intemperismo do solo da ombreira esquerda da Barragem 6, no sentido longitudinal ao maciço. 42 Figura 4.4 – Seção longitudinal ao eixo do maciço – ombreira esquerda da Barragem 6 (Cordeiro, 2001a) 43 O fundo do vale apresenta-se como local de acumulação de materiais de diversas origens, provenientes principalmente de processos de sedimentação fluvial ou de movimentos coletivos de solo e rocha oriundos das encostas adjacentes. O substrato rochoso é constituído por micaxistos intercalados a metabasitos, de início muito a medianamente alterados, tornando-se gradualmente sãos a maiores profundidades. O solo residual maduro é constituído principalmente por um silte pouco argiloso, micáceo, variegado (vermelho escuro a arroxeado, com manchas claras), com fragmentos de quartzo e concreções limoníticas. Este solo é pouco coesivo, poroso, com baixa capacidade de suporte e facilmente escavado. Possui permeabilidade de média a alta (10-4 a 10-3 cm/s), influenciada por cavidades de origem animal e vegetal. O solo residual jovem apresenta características da rocha matriz e reflete o processo de intemperismo gradualmente crescente com a profundidade. Apresenta coloração variada, geralmente amarelada ou acinzentada, granulometria também heterogênea, com presença de areias siltosas, com abundância de mica. Este solo possui pouca ou nenhuma plasticidade, resistência crescente com a profundidade e contém núcleos de material rochoso. A permeabilidade nesta camada é da ordem de 10-4 a 10-5 cm/s . O horizonte de transição entre os maciços de solo e de rocha, composto de solo residual jovem entremeado a porções de rocha, geralmente em estágio avançado de alteração, é chamado de saprolito. Sua espessura é irregular, podendo estar ausente em alguns locais; apresenta elevada resistência mecânica e permeabilidade entre 10-4 e 10-5 cm/s. O maciço rochoso alterado compõe-se de xisto, parcialmente friável, com presença de diversas fraturas, em sequências de lascas pouco espessas a fissuras sub-horizontais com paredes muito oxidadas. Este material apresenta características geomecânicas crescentes com a profundidade e permeabilidades bastante erráticas. A rocha sã é formada por xisto são, há pouco alterado, ocasionalmente cortado por finas camadas intemperizadas de solos ou rochas muito alteradas, normalmente correspondentes às fraturas de alívio. Esta camada apresenta elevada resistência mecânica e permeabilidade também errática, às vezes muito elevada, com perdas de água totais. 44 A caracterização geotécnica acima foi feita a partir de uma campanha de investigação geotécnica local, baseada na execução de sondagens mistas, sondagens a percussão e na abertura de poços e trincheiras. Os valores das condutividades hidráulicas dos materiais locais foram obtidos a partir da realização de ensaios de infiltração de água e de perda de água sob pressão (Cordeiro, 2001b). 4.4 – FASES DE ALTEAMENTO DO MACIÇO DA BARRAGEM A barragem foi projetada como uma estrutura convencional construída com solo compactado, sendo utilizado como material de construção, o estéril proveniente do decapeamento da mina (Figura 4.5). O sistema de drenagem interna é composto por filtro vertical construído com areia, filtro horizontal sanduíche nas ombreiras e tapete drenante também, tipo sanduíche, no trecho de baixada. Figura 4.5 – Obras para construção da Barragem 6 O alteamento da Barragem 6 foi projetado para ser executado para jusante de forma a incorporar o aterro da barragem já existente. A crista da antiga barragem encontrava-se na cota 1046,00m e, para ser atingida a cota final de projeto, foram previstos, então, quatro alteamentos (Cordeiro, 2001b), correspondentes às Elevações 1060,00 m, 1072,00 m, 1085,00 m e 1100,00 m, respectivamente (Figura 4.6). 45 Figura 4.6 – Seção transversal da Barragem 6 e etapas de alteamento (Cordeiro, 2001b) 46 Após o término das obras de alteamento, o maciço da barragem deverá possuir uma crista com largura de 12 m na elevação 1100,00 m, talude de montante com inclinação de 1,2:1 (H:V), intercalado por bermas com 6 m de largura e talude de jusante com inclinação de 2,5:1 (H:V), intercalado com bermas de 3,5 m de largura. 4.5 – SISTEMA DE IMPERMEABILIZAÇÃO DO RESERVATÓRIO O reservatório da barragem possui capacidade de armazenamento de aproximadamente 31,5 milhões de m³. Atualmente, o reservatório contém 11 milhões de m³ de rejeito depositado, com um incremento anual da ordem de 2,5 milhões de m³. O sistema de impermeabilização adotado é constituído por uma geomembrana de PEAD (polietileno de alta densidade) com 1,5 mm de espessura e permeabilidade da ordem de 10-12 cm/s. Na região do fundo do vale e sobre as drenagens, a geomembrana é instalada sobre uma camada de argila compactada com 60 cm de espessura (Figura 4.7). Figura 4.7 – Sistema de impermeabilização da Barragem 6 (Cordeiro, 2001b) As principais vantagens na utilização da membrana de PEAD são: facilidades de solda, boa resistência mecânica, baixa resistência ao atrito no caso de membranas lisas e boa resistência a diversos resíduos químicos. 47 Para a instalação da geomembrana, a superfície do terreno deve ser regularizada (Figura 4.8) de forma a remover toda a matéria orgânica do solo e também os fragmentos de rocha que porventura possam causar danos ao revestimento. Esta limpeza pode ser mecanizada, ou até mesmo manual, dependendo do volume de material a ser removido. Nos locais em que o terreno apresenta características mais agressivas à membrana, é colocada uma manta de geotêxtil com a finalidade de proteger a geomembrana. Outro aspecto relevante é que a geomembrana deve apresentar elevada resistência mecânica e química em relação aos rejeitos armazenados. Figura 4.8 – Instalação de geomembrana de PEAD A instalação da geomembrana é feita mediante a abertura dos rolos de PEAD sobre o terreno preparado, um trespasse de 10 centímetros entre mantas e conformação da emenda por termofusão, através de linha dupla de solda (Figura 4.9a). Após a realização da solda, a estanqueidade é verificada por meio de ensaio de pressurização do espaço vazio, formado entre as duas linhas de solda (Figura 4.9b). Figura 4.9 – Detalhe da solda da geomembrana de PEAD 48 O sistema de drenagem sob a geomembrana foi implantado para coletar as águas de nascentes existentes na bacia e também da saída do tapete drenagem de outra barragem de rejeitos, construída na década de 80, situada à montante. Este sistema foi projetado com tubos de PEAD (Figura 4.7) para encaminhamento das águas para jusante da barragem sem contato com a água da barragem em operação. Um segundo sistema de drenagem foi inserido sobre o sistema de impermeabilização, tendo por finalidade promover o adensamento dos rejeitos depositados no reservatório. No fundo dos vales foram instaladas redes de tubos de PEAD perfurados, envoltos por brita e geotêxtil, com as extremidades abertas para a atmosfera. Assim, a água existente na polpa tende a ser direcionada por gravidade para estes tubos, sendo, então, filtrada pelo sistema de drenagem e encaminhada para jusante da barragem, promovendo assim, o adensamento do material. Para evitar a implantação de dutos não passíveis de inspeção ao longo do aterro, este sistema de drenagem foi alocado em uma galeria em concreto armado, transversal ao maciço (Figura 4.10), para fins de inspeção e manutenções periódicas ao sistema. Esta estrutura possui 320 metros de comprimento, tendo uma seção interna livre de aproximadamente 4 m² dotada de sistema de ventilação artificial. Figura 4.10 – Galeria de concreto transversal ao maciço da barragem 49 4.6 – SISTEMA DE MONITORAMENTO DA BARRAGEM O sistema de monitoramento, originalmente proposto, consistia essencialmente no controle dos níveis de percolação pelo aterro e a avaliação das condições de drenagem da barragem. Entretanto, após o início de operação da barragem, o plano de instrumentação previsto no projeto executivo foi revisado. As alterações propostas foram possíveis pelo fato do maciço ser construído em etapas e porque apenas uma pequena quantidade dos instrumentos já tinha sido instalada. A instrumentação revisada da Barragem 6, composta por indicadores de nível de água e piezômetros Casagrande (Dfconsultoria, 2008), está indicada na Figura 4.11. Figura 4.11 – Instrumentos instalados no maciço da Barragem 6 (Dfconsultoria, 2008) 50 Os instrumentos designados com as siglas OW e PZF foram mantidos do projeto original, elaborado por Cordeiro (2001b). A instrumentação instalada (Figura 4.12) compõe-se dos seguintes medidores: • Instrumentação da barragem: 11 indicadores de NA, posicionados ao longo de um eixo transversal central e dois eixos próximos às ombreiras do maciço; • Instrumentação da galeria: 4 indicadores de nível de água e 4 piezômetros adjacentes, posicionados paralelamente ao eixo da galeria de concreto existente sob o maciço da barragem; este conjunto objetiva estabelecer um perfil de níveis de água e de eventuais pressões mobilizadas ao longo da galeria, a montante e a jusante do filtro vertical. Figura 4.12 – Vista dos instrumentos de monitoramento A instrumentação do maciço foi executada por meio de sondagens a percussão, o que possibilitou, além da instalação do instrumento em si, também a avaliação indireta dos parâmetros de resistência do aterro. A Figura 4.13 apresenta o esquema geral dos indicadores de nível de água e dos piezômetros instalados no maciço. Os dados relativos às cotas inferiores (de fundo) e as profundidades dos instrumentos (indicados na Figura 4.11) estão apresentados na Tabela 4.1. A barragem dispõe ainda de um medidor de vazão triangular na saída do sistema de drenagem interna e de níveis topográficos para o controle contínuo do nível de água do reservatório. 51 Figura 4.13 – Esquema dos piezômetros e medidores de NA (medidas em metros) instalados na barragem (Dfconsultoria, 2008) Tabela 4.1 – Dados cadastrais dos instrumentos instalados no maciço da barragem Cota Instrumento inferior (m) Cota Profundidade Instrumento (m) inferior (m) Profundidade (m) INA-05 1.033,10 53,74 INA-15 1.012,20 32,41 INA-06 1.023,60 56,93 INA-16 1.024,50 60,98 INA-07 1.043,90 6,48 INA-17 1.028,00 65,97 INA-08 1.020,60 67,60 INA-18 1.017,70 56,02 INA-09 1.011,40 67,05 INA-19 1.016,50 63,73 INA-10 1.012,40 60,84 PZ-01 1.026,80 58,18 INA-11 1.013,10 51,40 PZ-02 1.031,40 55,10 INA-12 1.010,80 20,06 PZ-03 1.021,30 64,37 INA-13 1.032,70 53,12 PZ-04 1.018,80 63,69 INA-14 1.029,40 55,80 52 4.7 – SISTEMA DE TRANSPORTE E DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS O sistema de transporte de rejeitos, desde a sua saída da unidade de concentração até a Barragem 6, compõe-se de duas linhas: a lama e os rejeitos da flotação são conduzidas por gravidade através de tubos de PEAD de 28 polegadas, enquanto a magnetita é bombeada em tubos de 6 polegadas, revestidos de poliuretano para minimizar desgastes por abrasão. No caso da necessidade de manutenção na linha de transporte da magnetita, esta é transportada por gravidade, juntamente com a lama e a flotação. Esta operação é realizada somente em casos excepcionais, uma vez que a vida útil dos tubos de PEAD é muito afetada pela ação abrasiva da magnetita. No início da operação da barragem, o lançamento dos rejeitos da lama e flotação era feito por meio de mangotes de borracha com diâmetro de 10 polegadas, colocados sobre cavaletes de madeira (Figura 4.14). Com a elevação do depósito de rejeitos, novos cavaletes eram construídos, ficando os antigos enterrados nos rejeitos. O sistema atual consiste no lançamento direto dos rejeitos no reservatório por meio da tubulação de 28 polegadas (Figura 4.15). Figura 4.14 – Processo original do lançamento dos rejeitos de lama e flotação 53 Figura 4.15 – Processo atual do lançamento dos rejeitos de lama e flotação Os rejeitos de magnetita foram sempre dispostos na barragem por bombeamento, através de mangotes de borracha de 6 polegadas (Figura 4.16). Estes rejeitos são dispostos principalmente a montante do reservatório, no entanto, quando é necessário bloquear ou direcionar os rejeitos de lama+flotação para algum ponto reservatório, os rejeitos de magnetita são utilizados para a construção de diques internos para direcionamento ou confinamento dos mesmos. Figura 4.16 – Processo do lançamento dos rejeitos de magnetita na barragem 54 4.8 – SISTEMA DE RECUPERAÇÃO DE ÁGUA Além do rejeito depositado, o reservatório armazena um volume de água, o qual é composto por água de recirculação e proveniente das chuvas. Um volume mínimo é mantido no decorrer da operação da barragem, pois esta água é utilizada nos processos de beneficiamento industrial. Ao final da capacidade da barragem, esta água é bombeada para a nova estrutura. Atualmente, aproximadamente 92% da água utilizada na unidade industrial é recirculada, ou seja, apenas 8% constitui efetivamente água nova no processo. A captação de água na barragem de rejeitos é feita por meio de uma balsa, que tem capacidade de bombeamento de aproximadamente 4.000 m³/h. Esta pode enviar água, tanto para as unidades industriais, como para a Estação de Tratamento de Efluentes (Figura 4.17), para tratamento e posterior descarga ao curso de água que atravessa o empreendimento (Figura 4.18). Figura 4.17 – Estação de tratamento de efluentes 55 Figura 4.18 – Gerenciamento de águas 4.9 – CONDIÇÕES ATUAIS DE OPERAÇÃO DA BARRAGEM A barragem em operação, com capacidade nominal para 31,5 milhões de m³, encontrase atualmente com 11,5 milhões de m³ de rejeitos depositados e 700 mil m³ de água de recirculação no processo industrial. Anualmente, visando atender às condicionantes estabelecidas pelas Deliberações Normativas nº 62 (COPAM, 2002) e nº 87 (COPAM, 2005), esta estrutura é auditada por um profissional qualificado e autônomo. Nestas auditorias, o auditor faz inspeção de campo, com o intuito de avaliar visualmente as condições do maciço e ainda coleta dados de instrumentação que foram medidos durante o ano e parâmetros geotécnicos, para então analisar as condições de estabilidade dos taludes de montante e jusante. Em 2011, as atividades de alteamento da barragem e do sistema de impermeabilização ocorreram até a cota 1085,00 m. Para esta elevação e com base na curva ‘cota-volume’ da barragem (Figura 4.3) e nos volumes depositados, constata-se que se tem atualmente 56 um volume útil de aproximadamente 7 milhões de m³, considerando um volume de água de 700 mil m³. A expectativa é que as obras de alteamento e de impermeabilização sejam concluídas nos próximos dois anos, com a barragem atingindo a sua capacidade total de armazenamento. O sistema de monitoramento do maciço é feito sistematicamente por meio de leituras mensais dos indicadores de nível de água e dos piezômetros, além de medições semanais das vazões de fluxo oriundas do sistema drenagem interna da barragem. A Tabela 4.2 apresenta as leituras obtidas, em outubro de 2011, dos instrumentos instalados, na qual quase todos não indicaram quaisquer colunas de água. Tabela 4.2 – Dados dos instrumentos do maciço da Barragem (CBMM, 2011b) Instrumento Profundidade (m) Leitura (m) INA-05 53,74 seco INA-06 56,93 0,91 INA-07 6,48 seco INA-08 67,60 seco INA-09 67,05 seco INA-10 60,84 seco INA-11 51,40 seco INA-12 20,06 seco INA-13 53,12 seco INA-14 55,80 seco INA-15 32,41 5,47 INA-16 60,98 seco INA-17 65,97 2,57 INA-18 56,02 seco INA-19 63,73 seco PZ-01 58,18 seco PZ-02 55,10 seco PZ-03 64,37 0,96 PZ-04 63,69 seco 57 Atualmente, o sistema de disposição dos rejeitos na barragem é realizado apenas através dos tubos de 28 polegadas para os rejeitos de lama e flotação e por bombeamento no caso dos rejeitos de magnetita. O sistema de recirculação de água por meio de balsa flutuante tem-se mostrado satisfatório, requerendo, no entanto, movimentação anual, de modo a garantir livre acesso a ela, por meio da passarela de ligação com as margens do reservatório. De modo geral, a estrutura tem mostrado um comportamento geotécnico muito bom, tanto em termos de estabilidade como em termos de impermeabilização do reservatório, com as águas efluentes dos drenos das nascentes não apresentando quaisquer alterações dos níveis de qualidade. Um possível ponto para estudos adicionais refere-se ao projeto dos drenos superiores, localizados sobre a geomembrana e destinados a promover o adensamento dos rejeitos depositados. Para as condições dos rejeitos finos da barragem em questão, a adoção de adequadas transições granulométricas e/ou de geotêxteis específicos para os rejeitos em questão (por meio de estudos das interfaces rejeitos-geotêxteis em ensaios de filtração tipo GR, por exemplo) tornam-se essenciais para uma gestão criteriosa da barragem e do sistema operacional como um todo. 58 CAPÍTULO 5 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS 5.1 – INTRODUÇÃO Os rejeitos de mineração são materiais que apresentam suas características geotécnicas naturais alteradas em função do processo de beneficiamento a que são submetidos. No entanto, é possível caracterizá-los, de forma genérica, adotando-se princípios gerais, convencionalmente aplicados para solos naturais, ou seja, utilizando-se conceitos e metodologias clássicas da Mecânica dos Solos. Neste contexto, o comportamento geotécnico do rejeito é de fundamental importância para o entendimento do processo de sedimentação que ocorrerá no reservatório em que o material será armazenado. Para tal avaliação, a caracterização tecnológica dos rejeitos constitui abordagem fundamental, associada a uma ampla campanha de investigação das características físicas e químicas dos materiais gerados no processo de concentração de nióbio. Conforme exposto previamente no Capítulo 3 desta dissertação, o processo de concentração de nióbio da planta da CBMM, em Araxá, gera basicamente três tipos de rejeitos: magnetita, lama e rejeito da flotação. Apesar do processo de concentração gerar três rejeitos distintos, o presente estudo abordou condições de rejeitos conjugados, analisando-se a hipótese de um sistema de disposição, compreendendo misturas diversas dos três rejeitos, ou seja, disposição da mistura ‘lama+flotação’ (ou L+F), disposição da mistura ‘lama+flotação+magnetita’ (ou L+F+M) e disposição isolada dos rejeitos de magnetita (M). 59 5.2 – AMOSTRAGEM DOS REJEITOS A coleta de amostras representativas dos rejeitos para fins de caracterização física, química e mecânica é, sem dúvida, uma das etapas mais importantes do estudo. É fundamental amostrar, de maneira mais representativa possível, todo o material, uma vez que tais cuidados garantirão a realidade e a consistência dos dados obtidos. As amostras foram coletadas de forma programada ao longo de baias de deposição (Figura 5.1), especialmente construídas para o escopo desta dissertação, cuja metodologia construtiva está detalhada no item 6.2. A amostragem compreendeu a coleta em três pontos equidistantes das praias formadas ao longo das baias, a partir de espaçamentos de 4m (Figura 5.2) e por meio de amostras deformadas (Figura 5.3). Figura 5.1 – Vista geral das baias experimentais de disposição dos rejeitos Figura 5.2 – Pontos de amostragem nas baias experimentais 60 Figura 5.3 – Coleta de material para as análises laboratoriais Após coleta em campo, procedeu-se à homogeneização do material e quarteamento das amostras para a realização dos ensaios de laboratório que foram, então, devidamente identificadas e acondicionadas (Figura 5.4). Estes procedimentos foram adotados para cada tipo de rejeito estudado. Figura 5.4 – Amostras para realização dos ensaios laboratoriais 61 5.3 – ENSAIOS DE LABORATÓRIO As análises realizadas para a caracterização geotécnica dos rejeitos contemplaram basicamente a determinação dos índices físicos, além de ensaios de adensamento e permeabilidade dos materiais estudados. Os ensaios foram realizados nos laboratórios de solos da empresa Chammas Engenharia de Belo Horizonte/MG, da empresa Arc Engenharia e Tecnologia de Uberlândia/MG e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ouro Preto/MG), incluindo: o Caracterização química e mineralógica; o Densidade das partículas sólidas; o Análise granulométrica completa; o Limites de consistência; o Índice de vazios máximo e mínimo; o Adensamento oedométrico; O Permeabilidade sob carga constante. 5.4 – CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS 5.4.1 – Caracterização Química e Mineralógica Os rejeitos gerados em atividades de mineração têm suas características químicas e mineralógicas diretamente ligadas ao minério explorado, às formações geológicas e geoquímicas da mina e ao processo de beneficiamento em que são submetidos. Neste sentido, torna-se imprescindível que todo estudo realizado com um determinado rejeito, contemple este tipo de caracterização. Na planta industrial da CBMM localizada em Araxá/MG, o minério residual é lavrado a partir do denominado Complexo Carbonatítico do Barreiro, sendo a geologia local constituída basicamente por flogopititos e carbonatitos, com veios e diques intercalados de apatitito, nelsonito e magnetitito e apresentando ainda a presença de veios de barita (Torres & Gaspar,1995). 62 A caracterização química e mineralógica dos rejeitos estudados foi realizada por meio de técnicas de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Difração de Raios-X (DRX). Inicialmente, a partir das amostras homogeneizadas e quarteadas manualmente, foram retiradas porções das mesmas para secagem em estufa a 130º C por 3 horas. As amostras foram homogeneizadas novamente, sendo preparadas duas alíquotas de cada. A primeira foi submetida à análise, via MEV, sendo o material espalhado sobre uma fita de carbono, previamente colada sobre um ‘porta-amostras’ apropriado. A outra alíquota foi analisada, via DRX, sendo a amostra pulverizada em gral de ágata até atingir a granulometria desejada para, então, ser preparada sobre outro ‘porta-amostras’. Para a análise, via MEV, procedeu-se à metalização das amostras, o que consistiu na precipitação de uma película micrométrica de material condutor (carbono) sobre a superfície das amostras, possibilitando a condução de corrente elétrica, permitindo-se, assim, a realização da análise. O equipamento utilizado foi um Microscópio Eletrônico de Varredura, modelo Stereoscam 200 da Cambridge (Figura 5.5). Foram realizadas análises de área em várias regiões das amostras, utilizando uma sonda EDS (Energy Dispersive X-Ray) acoplada ao MEV, o que possibilitou a determinação química semiquantitativa das amostras. Figura 5.5 – Microscópio Eletrônico de Varredura utilizado nas análises 63 As análises DRX, por sua vez, foram realizadas utilizando-se equipamento Miniflex da marca Rigaku, dotado de tubo de cobre (Figura 5.6). Os resultados das análises MEV e DRX para as composições dos rejeitos estudados estão apresentados e discutidos a seguir. Figura 5.6 – Equipamento utilizado para a realização das análises DRX A Figura 5.7 apresenta a micrografia obtida, via MEV, para o rejeito de ‘lama+flotação’ e nela é possível observar a heterogeneidade e os elementos constituintes da amostra. No rodapé das imagens, são indicados, da esquerda para a direita, os valores da energia emitida pelo canhão eletrônico, do grau de aproximação e da escala da imagem. Figura 5.7 – Imagens e elementos químicos da amostra de rejeito (Lama+Flotação) 64 A Tabela 5.1 sistematiza os resultados semi-quantitativos obtidos na análise MEV para a amostra de rejeito de ‘lama+flotação’. Tabela 5.1 – Análise semi-quantitativa da amostra do rejeito de Lama+Flotação ELEMENTO Na Al Si P S Ca Ti Mn Fe Nb Ba TEOR (%) 0,3 + 0,05 0,8 + 0,19 1,2 + 0,45 2,1 + 0,10 7,5 + 0,76 0,1 + 0,03 8,3 + 0,37 1,2 + 0,11 59,5 + 2,03 0,5 + 0,25 18,5 + 1,74 Por meio do difratograma da análise DRX do rejeito de ‘lama+flotação’(Figura 5.8), foi possível detectar a presença das seguintes fases: uma fase de Óxido de Silício (SiO2), uma fase de óxido/hidróxido de Ferro (FeOOH), duas fases de Óxido de Ferro (Fe0,942O e Fe2O3) e uma fase de Barita (BaSO4). Figura 5.8 – Difratograma das fases presentes na amostra de rejeito de Lama+Flotação 65 A Figura 5.9 apresenta a micrografia obtida e a Tabela 5.2 sistematiza os resultados da análise MEV para a mistura de rejeitos ‘lama+flotação+magnetita’. Figura 5.9 – Imagens e elementos químicos da amostra de (‘lama+flotação+magnetita’) Tabela 5.2 – Análise semi-quantitativa da amostra do rejeito de ‘lama+flotação+magnetita’ ELEMENTO Na Al Si P S Ti Mn Fe Nb Ba TEOR (%) 0,5 + 0,11 0,5 + 0,14 7,5 + 1,45 2,0 + 0,15 6,5 + 0,37 6,3 + 0,29 2,9 + 0,18 55,6 + 0,90 0,6 + 0,18 17,6 + 0,86 Por outro lado, a análise DRX do rejeito de ‘lama+flotação+magnetita’ detectou a presença de seis fases distintas, indicadas no difratograma da Figura 5.10: uma fase de Óxido de Silício (SiO2), uma fase de Óxido de Bário e Ferro (BaFe2O4), uma fase de Óxido/Hidróxido de Ferro (FeOOH), uma fase de Magnetita (Fe3O4), uma fase de Óxido de Ferro (Fe0,942O) e uma fase de Barita (BaSO4). 66 Figura 5.10 – Difratograma das fases da amostra de ‘lama+flotação+magnetita’ Finalmente, a Figura 5.11 apresenta a micrografia obtida e a Tabela 5.3 sistematiza os resultados da análise MEV para o rejeito de magnetita. A análise DRX, por sua vez, caracterizou a presença de quatro fases: duas fases de Óxido de Ferro (Fe2O3), uma fase de Magnetita (Fe+2Fe2+3O4) e uma fase de Óxido/Hidróxido de Ferro (Fe+3O(OH)), indicadas pelo difratograma da Figura 5.12. Figura 5.11– Imagens e elementos químicos da amostra de rejeito de magnetita 67 Tabela 5.3 – Análise semi-quantitativa da amostra de rejeito de magnetita ELEMENTO TEOR (%) Al 0,4 + 0,24 Si 0,4 + 0,20 P 1,0 + 0,07 S 2,6 + 0,56 Ti 3,6 + 0,46 Mn 0,7 + 0,12 Fe 87,8 + 2,01 Nb 0,4 + 0,31 Ba 3,1 + 0,95 Figura 5.12 – Difratograma das fases presentes na amostra de rejeito de magnetita Para todas as amostras ensaiadas, foi possível verificar elevados teores de compostos à base de ferro e bário, com exceção do rejeito de magnetita, que apresentou somente ferro em maior concentração. Além destes elementos, constatou-se a presença também de nióbio, sódio, alumínio, silício, fósforo, enxofre, titânio, manganês e cálcio em menores concentrações. Visando individualizar as partículas constituintes da amostra, foram realizadas análises pontuais que detectaram a presença de barita, óxido de ferro, óxido de silício, monazita, bariopirocloro, holandita, ilmenita e gorceixita. 68 Os resultados evidenciam a heterogeneidade dos elementos constituintes dos rejeitos. A grande proporção de substâncias compostas basicamente por ferro e bário sugere que os rejeitos estudados tendem a apresentar elevadas massas específicas, embora não se tenha observado elevações proporcionais do teor de ferro presente no caso de misturas de rejeitos envolvendo ‘lama+flotação’ e magnetita. Evidentemente, há que se considerar ainda nestes resultados as naturais dispersões de composição dos rejeitos, oriundas das fases dinâmicas dos processos de lavra da mina. 5.4.2 – Densidade das Partículas Sólidas A densidade das partículas sólidas que compõe um determinado tipo de material, seja solo natural ou rejeitos, está diretamente ligada à natureza, origem e composição química. Estudos dos rejeitos de minério de ferro da Pilha de Monjolo, realizados por Espósito (2000) e Presotti (2002), demonstram uma forte tendência do aumento da densidade das partículas sólidas em função dos teores de ferro presentes no rejeito. Rejeitos de minério de ferro, que são basicamente compostos por partículas de quartzo e hematita, podem ter valores de Gs superiores a 4,0. Bittar (2006), durante os estudos com rejeito do processo de concentração de fosfato, proveniente do Complexo Carbonatítico do Barreiro, mesma região de ocorrência do nióbio, encontrou densidades das partículas sólidas entre 3,36 e 3,62 g/cm³. Os rejeitos estudados, apesar de não serem compostos basicamente por ferro e quartzo, possuem mais de 50% da sua composição à base de ferro. Outro componente que pode influenciar na análise é a presença de barita, cuja densidade das partículas sólidas é da ordem de 4,5. Assim, torna-se de fundamental importância avaliar as densidades das partículas sólidas, em função da composição química do rejeito. Os ensaios para determinação da densidade das partículas sólidas (Gs) foram realizados em conformidade com os procedimentos descritos na norma NBR 6508 (ABNT, 1984a). Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 5.4. Tabela 5.4 – Densidade das partículas sólidas (Gs) para os rejeitos estudados Rejeito GS (g/cm³) L+F 4,341 L+F+M 4,460 69 M 4,917 A Tabela 5.5 apresenta os valores das densidades das partículas sólidas correlacionados com os teores de ferro e barita de cada rejeito. A maior densidade, obtida para os rejeitos de magnetita, está diretamente associada à sua composição predominantemente de ferro. Tabela 5.5 – Densidade das partículas sólidas, teores de Fe e de Ba dos rejeitos Amostra L+F L+F+M M GS (g/cm³) 4,341 4,460 4,917 Teor de Fe (%) 59,5 55,6 87,8 Teor de Ba (%) 18,5 17,6 3,1 5.4.3 – Análise granulométrica O ensaio de granulometria é o procedimento utilizado para a determinação da porcentagem em peso que cada faixa de tamanho de grãos representa na massa total ensaiada. O método utilizado para este estudo foi realizado por meio de peneiramento e sedimentação, conforme prescrições da norma NBR 7181 (ABNT, 1984b). Os resultados obtidos indicam uma distribuição granulométrica mais fina para o rejeito ‘lama+flotação’, com frações mais grossas para o rejeito de magnetita (o rejeito ‘lama+flotação+magnetita’ apresentou distribuição granulométrica intermediária no conjunto dos rejeitos analisados). A Figura 5.13 apresenta as curvas granulométricas representativas dos rejeitos estudados. A Tabela 5.6 apresenta as respectivas frações granulométricas dos rejeitos conforme a escala granulométrica definida pela norma NBR 6502 (ABNT, 1995a). Os parâmetros granulométricos característicos dos rejeitos (D10, D30, D50, D60, D90, Cu e Cc, expressos em mm) estão dados na Tabela 5.7. Com base nestes resultados, constata-se que as amostras que possuem frações de lama e de rejeito da flotação apresentam características de areia siltosa e a magnetita possui caráter arenoso. Por outro lado, percebe-se que, com a adição de magnetita, a fração fina é reduzida e o material tende a perder as características de silte, passando a assumir um caráter tipicamente de areia. 70 Figura 5.13 – Curvas granulométricas para os três tipos de rejeitos estudados Tabela 5.6 – Frações granulométricas das amostras dos rejeitos Fração de Fração de Fração de areia (%) Fração de argila (%) silte (%) Fina (%) Média (%) Grossa (%) Pedregulho (%) Amostra L+F 1,3 31,4 55,2 11,8 0,3 0,0 L+F+M 0,1 18,3 57,3 22,3 1,9 0,1 M 0,8 2,0 44,4 38,2 11,9 2,7 Tabela 5.7 – Parâmetros granulométricos dos rejeitos estudados D10 D30 D50 D60 D90 (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) L+F 0,032 0,059 0,083 0,100 L+F+M 0,042 0,072 0,106 M 0,075 0,129 0,200 Amostra 71 Cu Cc 0,192 3,125 1,088 0,136 0,290 3,238 0,908 0,256 0,850 3,413 0,867 5.4.4 – Limites de Consistência Os limites de consistência foram analisados em ensaios realizados em conformidade com as normas NBR 6459 (ABNT, 1984c) e NBR 7180 (ABNT, 1984d). Através dos resultados obtidos, conclui-se que os rejeitos estudados constituem materiais tipicamente granulares, não exibindo características de plasticidade, ou seja, são classificados como ‘materiais não plásticos’, apresentando índices de plasticidade nulos. 5.4.5 – Índices de Vazios Máximos e Mínimos As propriedades geotécnicas de um dado solo como resistência ao cisalhamento, compressibilidade e permeabilidade, podem variar consideravelmente com o estado de compacidade. Por outro lado, solos distintos no mesmo estado de compacidade podem apresentar diferenças acentuadas de comportamento, dependendo de características como granulometria, formato dos grãos, mineralogia, etc. Por este motivo, um rigoroso critério deve ser adotado ao se relacionar as propriedades geotécnicas dos solos com o estado de compacidade. Os rejeitos estudados, conforme apresentado nos estudos de granulometria demonstrados anteriormente, possuem característica de solo granular. Neste caso, com a determinação dos índices de vazios máximos e mínimos, torna-se possível indicar se o material encontra-se no estado fofo ou compacto. Os ensaios de determinação dos índices de vazios máximos e mínimos foram realizados em conformidade com a NBR 12004 (ABNT, 1990) e NBR 12051 (ABNT, 1991), respectivamente. Estas normas são restritas a materiais não coesivos, que apresentam teor de finos inferior a 12%. Segundo Presotti (2002), esta restrição só é válida, quando as partículas finas acarretam um efeito coesivo aos materiais, referindo se aos materiais naturais. No caso dos rejeitos estudados, as frações finas são basicamente compostas por partículas de ferro, isentas, portanto, de características coesivas, motivo pelo qual optou 72 se por utilizar as normas citadas previamente. Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 5.8. Tabela 5.8 – Índices de vazios máximos e mínimos para os rejeitos estudados e respectivas massas específicas dos rejeitos secos Amostra L+F L+F+M M emáx 1,136 1,272 0,840 γdmín (kg/m3) 2.049 1.736 2.621 emín 0,664 0,773 0,508 γdmáx (kg/m3) 2.630 2.224 3.199 5.4.6 – Adensamento oedométrico No estudo do adensamento dos rejeitos, a análise experimental da variação dos índices de vazios em função dos carregamentos atuantes é de extrema importância na avaliação da capacidade de estocagem de reservatórios. Quanto mais próximo o índice de vazios do material depositado no reservatório estiver do índice de vazios mínimo, melhor, pois maior será o volume disponível de material depositado na barragem. Para a realização do ensaio de adensamento oedométrico, os corpos de prova foram moldados por meio da sedimentação do rejeito dentro do anel de adensamento, de seção circular de 7,14 cm de diâmetro e 2,0 cm de altura, com densidade representativa das condições in situ. Os corpos de prova foram pesados para a determinação dos pesos específicos e as sobras de material, resultantes da modelagem, foram utilizadas para a determinação das respectivas umidades iniciais. Cada corpo de prova foi montado na célula de adensamento, instalado entre pedras porosas de topo e base, de modo a permitir a drenagem de dupla face, com os correspondentes instrumentos para medidas de deformações. Os ensaios foram realizados com incrementos de pressões entre 12,5 kPa e 1600 kPa, duplicados a cada período de vinte quatro horas. As fases de descarregamento foram processadas em oito horas, com alívios de carga na ordem inversa do carregamento. 73 A partir de cada ensaio originou se um gráfico com a variação do índice de vazios em função do logaritmo das pressões, contemplando as fases de carregamento e descarregamento, com a determinação da pressão de pré-adensamento pelo método de Pacheco Silva. Nos gráficos, indicou-se também as variações dos coeficientes de adensamento ao longo de cada estágio de carregamento. As Figuras 5.14, 5.15 e 5.16 apresentam os resultados dos ensaios realizados para as diferentes composições dos rejeitos de nióbio, em termos das curvas (e x log σ’), com a construção gráfica para obtenção das tensões de pré-adensamento e a curva de correlação dos valores (cv x log σ’). Figura 5.14 – Resultados do ensaio de adensamento oedométrico (rejeito L+F) 74 Para o rejeito L+F, foi obtida uma tensão de pré-adensamento da ordem de 288 kPa, com índice de vazios inicial de 0,885. Para as condições do ensaio, a variação de índices de vazios foi 14% no carregamento e de 5,1% no descarregamento. O valor médio do coeficiente de adensamento médio foi de 4,13x10-7 m²/s. Figura 5.15 – Resultados do ensaio de adensamento oedométrico (rejeito L+F+M) No caso do rejeito L+F+M, a tensão de pré-adensamento da ordem de 284 kPa, com índice de vazios inicial de 0,978. Para as condições do ensaio, a variação de índices de vazios foi 14,8% no carregamento e de 4,1% no descarregamento. O valor médio do coeficiente de adensamento médio foi de 7,23x10-7 m²/s. 75 Figura 5.16 – Resultados do ensaio de adensamento oedométrico (rejeito M) Finalmente, para o rejeito M, a tensão de pré-adensamento da ordem de 155 kPa, com índice de vazios inicial de 0,524. Para as condições do ensaio, a variação de índices de vazios foi 16,6% no carregamento e de 5,5% no descarregamento. O valor médio do coeficiente de adensamento médio foi de 6,06 x10-7 m²/s. 5.4.7 –Permeabilidade sob carga constante A condutividade hidráulica dos rejeitos foi avaliada em corpos de prova moldados na umidade ótima, por meio de ensaios de permeabilidade sob carga constante, conforme 76 prescrições da norma NBR 13.292 (ABNT,1995b), sendo os resultados indicados na Figura 5.17. Observa-se que a presença de magnetita no rejeito ‘lama+flotação’ não afetou as características gerais de permeabilidade do rejeito, ainda que o rejeito de magnetita tenda a apresentar uma condutividade hidráulica algo superior às dos demais rejeitos. Os valores médios dos coeficientes de condutividade hidráulica dos rejeitos estão sistematizados na Tabela 5.9. Figura 5.17 – Curvas de permeabilidade dos rejeitos ensaiados Tabela 5.9 – Valores médios dos coeficientes de condutividade hidráulica dos rejeitos Amostra L+F L+F+M M kmédio (m/s) 9,15 x 10-4 9,02 x 10-4 2,47 x 10-3 k20médio (m/s) 9,05 x 10-4 9,02 x 10-4 2,43 x 10-3 77 CAPÍTULO 6 AVALIAÇÃO DO MODELO DEPOSICIONAL DOS REJEITOS 6.1 – INTRODUÇÃO Os estudos experimentais realizados in situ, abordados neste capítulo, contemplaram a simulação dos modelos de disposição dos rejeitos, através de baias experimentais, de modo a caracterizar a influência destes processos sob condições controladas de fronteira, bem como sondagens piezométricas efetuadas no reservatório da barragem de rejeitos em operação, visando à obtenção relação de tendência das leis constitutivas de adensamento dos resíduos. Neste propósito, foram construídas baias experimentais para monitoramento e controle do lançamento, da disposição e segregação hidráulica destes materiais através do depósito e ao longo do tempo. Os procedimentos de monitoramento incluíram controle das massas específicas, medições das alturas dos depósitos formados, levantamento topográfico da praia formada e caracterização granulométrica dos materiais em diferentes seções das baias experimentais. Na barragem de rejeitos em operação, foram realizadas coletas de amostras de material para caracterização granulométrica e medições de massa específica ao longo da praia. Além disso, foram feitas medições das variações de poropressões em profundidade ao longo do perfil do depósito, através de ensaios de sondagens piezométricas. Estes estudos foram aplicados para as mesmas composições de rejeitos estudados previamente em laboratório, visando caracterizar as similaridades e especificidades do comportamento geotécnico dos rejeitos num mesmo ambiente deposicional. 78 6.2 – CONSTRUÇÃO E ENCHIMENTO DAS BAIAS EXPERIMENTAIS Inicialmente, foram construídas três baias, para cada mistura de rejeito, com 10,0 m de comprimento, 1,0 m de largura e 1,0 m de profundidade, que foram impermeabilizadas com geomembrana de PEAD (polietileno de alta densidade) de 1,5 mm de espessura, cuidadosamente ajustada ao fundo e às laterais da escavação (Figura 6.1). Figura 6.1 – Baia experimental impermeabilizada com geomembrana de PEAD Duas das baias foram utilizadas para as medições da massa específica e monitoramento das alturas de rejeitos por 17 e 8 semanas respectivamente; a terceira destinou-se à coleta de material para ensaios de aferição em laboratório. O lançamento dos rejeitos foi realizado por meio de mangotes de borracha com 10″ de diâmetro até o total preenchimento das baias (Figura 6.2). Os teores de sólidos variaram entre 20 e 30%, sendo esta relação diretamente afetada pela presença ou não de magnetita. Na presença deste material de grande densidade, impõe-se a necessidade de mais água para o lançamento, reduzindo-se o teor de sólidos da polpa. Para garantir o enchimento total das baias, um extravasor, na forma de um pequeno rebaixo, foi executado na extremidade da baia, oposta ao ponto de descarga, conduzindo assim, a 79 água sobrenadante em percolação contínua ao longo do depósito em direção à barragem em operação, localizada imediatamente à jusante. Figura 6.2 – Lançamento do rejeito nas baias experimentais Visando analisar comparativamente o comportamento da segregação das partículas dos rejeitos (L+F) e (L+F+M) ao longo de praias de deposição, foram construídas duas outras baias maiores, com 45,0 m de comprimento, 1,0 m de largura e 1,0 m de profundidade, igualmente impermeabilizadas com geomembranas de PEAD (Figura 6.3). Figura 6.3 – Baias experimentais para avaliação da segregação hidráulica 80 O lançamento dos rejeitos foi realizado sob vazão constante por 7 horas em cada baia, tempo necessário para a formação da praia e o reservatório com rejeitos submersos. O enchimento das duas baias foi realizado em dias diferentes. Ambas as baias possuíam extravasores similares aos das primeiras, do tipo rebaixo, localizados na extremidade oposta à de descarga dos rejeitos. As Figuras 6.4 e 6.5 ilustram, respectivamente, os processos de enchimento das duas baias, com rejeitos do tipo ‘lama+flotação’ e ‘lama+flotação+magnetita’. Figura 6.4 – Lançamento do rejeito L+F na baia de 45 metros Figura 6.5 – Lançamento de rejeito L+F+M na baia de 45 metros 81 Durante o período de enchimento, foram coletadas amostras da água removida pelo extravasor, para monitoramento do teor de sólidos das águas efluentes das baias, que indicaram as seguintes variações: • Baia I: lançamento e disposição do rejeito L+F: 1,6% (início de enchimento) a 0,2% (final do enchimento); • Baia II: lançamento e disposição do rejeito L+F+M: 0,7% (início de enchimento) a 0,3% (final do enchimento). 6.3 – CONTROLE DAS MASSAS ESPECÍFICAS DOS REJEITOS Levando-se em consideração que a massa específica é um parâmetro fundamental na avaliação da capacidade de estocagem do reservatório, foram realizadas medições na barragem em operação e nas baias experimentais. Por outro lado, tendo-se em vista que a metodologia de disposição propicia a segregação hidráulica dos rejeitos, foram realizadas medições da massa específica também ao longo das praias formadas, compreendendo, portanto, estudos tanto nas baias de 10 m (baias curtas) como nas baias de 45 m (baias longas). Na barragem em operação, além das medições realizadas ao longo da praia, foram realizadas medições da massa específica em pontos aleatórios no entorno dos sistemas de lançamento de rejeitos, espigotes de 10″ e tubo de PEAD de 28″, conforme abordagem apresentada ao final deste capítulo. 6.3.1 – Avaliação da Massa Específica dos Rejeitos Depositados nas Baias Curtas As análises das massas específicas foram realizadas em quatro seções (pontos) ao longo da baia, do “Ponto 1” mais próximo ao “Ponto 4” mais afastado da descarga. Em função das variações específicas do posicionamento dos pontos de coleta das amostras ao longo dos estudos, é mais apropriado referir-se a uma faixa ou seção de observação do que a um dado ‘ponto de observação’. As medidas das massas específicas foram previstas inicialmente para serem executadas na superfície e em profundidades de 0,50 m e 1,0 m 82 do depósito, ao longo dos diferentes estágios de secagem dos rejeitos nas baias, utilizando-se um amostrador tipo caneco (Figura 6.6) e um cilindro biselado, conforme as prescrições da norma NBR 9813 (ABNT, 1987). Figura 6.6 – Amostrador utilizado para as medições da massa específica Entretanto, em função das dificuldades operacionais para a cravação do amostrador, as medidas foram limitadas à superfície dos rejeitos, tornando-se o procedimento genericamente adotado nas análises de campo. A Figura 6.7 ilustra o procedimento de campo para obtenção das massas específicas in situ, mediante a utilização de cilindro biselado. Figura 6.7 – Coleta de amostra do rejeito de magnetita com cilindro biselado 83 Os três rejeitos estudados foram lançados e monitorados seguindo os procedimentos citados acima, ao longo de dezessete semanas, tomando-se a média aritmética entre as leituras (massas específicas do rejeito seco) efetuadas nas duas baias associadas. Os resultados obtidos estão apresentados nas Figuras 6.8, 6.9 e 6.10. Figura 6.8 – Monitoramento de massa específica do rejeito L+F seco, disposto em baia Para o rejeito L+F, observa-se um claro comportamento em termos de segregação hidráulica ditada pelos padrões da massa específica do material, com esse efeito, as massas específicas tenderam a ser, sistematicamente, maiores para as seções mais próximas ao ponto de lançamento. Por meio do monitoramento realizado ao longo das dezessete semanas, tornou-se possível explicitar a massa específica média do rejeito ‘lama+flotação’ seco para cada um dos pontos (seções) analisados, bem como os valores dos respectivos desviospadrão entre as medições, nos seguintes termos: • Ponto 1 – 2.308,14 kg/m³ com desvio padrão de 156,76 kg/m³; • Ponto 2 – 2.137,42 kg/m³ com desvio padrão de 140,55 kg/m³; • Ponto 3 – 2.088,84 kg/m³ com desvio padrão de 136,92 kg/m³; • Ponto 4 – 1.829,02 kg/m³ com desvio padrão de 139,54 kg/m³; • Variação máxima entre valores médios: 20,76%. 84 Figura 6.9 – Monitoramento da massa específica do rejeito L+F+M seco, disposto em baia No caso do rejeito ‘lama+flotação+magnetita’, o comportamento anterior é repetido (decréscimos das massas específicas ao longo da praia de rejeitos), com maior concentração destes efeitos na zona imediatamente adjacente à descarga dos rejeitos (ponto 1). Pelo monitoramento realizado ao longo das dezessete semanas, as variações das massas específicas médias do rejeito ‘lama+flotação+magnetita’ seco e dos respectivos desvios-padrão ao longo dos pontos (seções) analisados, foram as seguintes: • Ponto 1 – 2.197,13 kg/m³ com desvio padrão de 220,21 kg/m³; • Ponto 2 – 1.988,88 kg/m³ com desvio padrão de 96,85 kg/m³; • Ponto 3 – 1.865,74 kg/m³ com desvio padrão de 134,17 kg/m³; • Ponto 4 – 1.782,82 kg/m³ com desvio padrão de 80,59 kg/m³; • Variação máxima entre valores médios: 18,86%. Observa-se, entretanto, neste caso, que a variação máxima entre os valores médios das massas específicas, embora inferior ao caso anterior (18,86% contra 20,76%), é mais pronunciada na zona de deposição da baia situada adjacente ao ponto de descarga dos rejeitos (variação de 9,5% neste caso contra 7,4% de variação das massas específicas entre os pontos 1 e 2, obtida para o rejeito ‘lama+flotação), ou seja, a deposição de finos 85 de ferro é incrementada na fase inicial do processo de disposição dos rejeitos, em função da agregação da magnetita. Figura 6.10 – Monitoramento da massa específica do rejeito M seco, disposto em baia Para os rejeitos de magnetita, o padrão da massa específica tendeu a ser muito mais uniforme ao longo da praia, sem a caracterização explícita dos efeitos de segregação hidráulica ao longo da baia. Adicionalmente, verifica-se uma tendência inversa aos casos prévios, em que as massas específicas médias tenderam a ser crescentes ao longo da praia, demandando análises complementares envolvendo as frações granulométricas e as composições mineralógicas nas diferentes seções investigadas das baias. As variações das massas específicas médias do rejeito ‘magnetita’seco e dos respectivos desvios-padrão associados a estas leituras ao longo dos pontos (seções) analisados, foram as seguintes: • Ponto 1 – 2.670,13 kg/m³ com desvio padrão de 123,73 kg/m³; • Ponto 2 – 2.695,41 kg/m³ com desvio padrão de 128,28 kg/m³; • Ponto 3 – 2.795,32 kg/m³ com desvio padrão de 103,03 kg/m³; • Ponto 4 – 2.818,04 kg/m³ com desvio padrão de 150,10 kg/m³; • Variação máxima entre valores médios: 5,25%. 86 Devido a este comportamento singular, a praia de rejeitos de magnetita tende a ser bastante acentuada (Figura 6.11), com a ocupação otimizada do reservatório, exigindo um contínuo remanejamento dos pontos de descarga destes rejeitos. Figura 6.11 – Lançamento e formação da praia de rejeitos de magnetita na barragem 6.3.2 – Avaliação da Massas Específica dos Rejeitos Depositados nas Baias Longas Os procedimentos de controle da massa específica foram aplicados também às baias de maior extensão, de 45,0 m de comprimento, que haviam sido previstas inicialmente apenas para avaliações do comportamento geotécnico dos rejeitos em termos de segregação hidráulica. Neste caso, as medições foram limitadas a um único evento, para o depósito dos rejeitos formado, imediatamente, após o completo enchimento das baias. As massas específicas foram obtidas por meio do amostrador tipo caneco (Figura 6.12), ao longo de 23 pontos, espaçados de 2,0 m, ao longo da praia de rejeitos, em ambas as baias. 87 Figura 6.12 – Coleta de rejeitos nas baias longas, por meio de amostrador A Figura 6.13 apresenta os resultados dos valores das massas específicas obtidas para os rejeitos secos de ‘lama+flotação’ e “lama+flotação+magnetita’, ao longo das baias experimentais. Figura 6.13 – Monitoramento da massa específica para rejeitos secos de L+F e L+F+M (baias longas) As variações observadas são bastante expressivas, ratificando a influência considerável dos mecanismos de segregação hidráulica no modelo deposicional dos rejeitos 88 estudados. Na região submersa, as massas específicas tendem a permanecerem estabilizadas sob valores muito reduzidos (abaixo de 1000 kg/m3), com impactos significativos sobre a capacidade de armazenamento do reservatório. 6.3.3 – Avaliação da Massa Específica ao longo da Praia de Rejeitos da Barragem De maneira similar, os estudos da avaliação do modelo deposicional dos rejeitos do processo de beneficiamento da mina de Nióbio de Araxá, em termos de massa específica, foram extrapolados para a praia, formada na barragem em operação, sendo investigados seis pontos ao longo do reservatório da barragem, com o ponto P1 localizado próximo à descarga dos rejeitos e o ponto P6 localizado mais próximo do lago (Figura 6.14). Figura 6.14 – Pontos de análises de massa específica na praia da barragem em operação O ponto P2 está localizado a 65 m do ponto P1, sendo os demais espaçados da ordem de 130 m. Os ensaios foram executados em julho de 2010, em período de paralisação da Unidade de Concentração para manutenções, e a metodologia empregada foi da análise da massa específica, por meio de ensaios com cilindro biselado. Estas condições propiciaram o acesso direto aos rejeitos, para todos os pontos pré-estabelecidos, sem necessidade de dispositivos especiais. Os resultados obtidos estão indicados na Figura 6.15. 89 Figura 6.15 – Monitoramento da massa específica, ao longo da praia da barragem em operação Nota-se que os efeitos da segregação hidráulica são evidentes, conformando o domínio da praia de rejeitos em dois patamares característicos, localizados entre os pontos P2 e P4 e entre P5 e P6. Tal conformação é condicionada em larga escala pela disposição zoneada, atualmente em vigor na barragem, caracterizada pela disposição isolada dos rejeitos na zona da praia compreendida pelos pontos P5 e P6 utilizados no monitoramento (Figura 6.14). 6.4 – CONTROLE DO ADENSAMENTO PELAS ESPESSURAS DE REJEITOS Na concepção original, pretendia-se avaliar a evolução do adensamento dos rejeitos com as perdas de umidade, em paralelo às medidas das massas específicas, mas estas abordagens não foram viáveis operacionalmente, pois não foram estabelecidos pontos fixos para o monitoramento ao longo do tempo, gerando dados inconsistentes. Assim, optou-se por esvaziar as baias, proceder a novos lançamentos de rejeitos e fixar pontos para o monitoramento específico do adensamento, por meio da medição da variação de altura da superfície do rejeito depositado. Os procedimentos de campo compreenderam a determinação continuada das cotas de superfície tomadas ao longo de quatro pontos igualmente espaçados das baias de 10 m 90 de extensão (P1 a P4, de montante para jusante da baia), com base em leituras efetuadas em estacas de madeira graduadas, cravadas no depósito de rejeitos e em terreno natural, nas bordas das baias (Figura 6.16). Figura 6.16 – Estacas de madeira para medição das espessuras de rejeitos As leituras iniciais foram feitas a partir do lançamento dos rejeitos, sendo realizadas, então, medições semanais durante oito semanas consecutivas. A medição das cotas foi realizada com a utilização de nível geométrico e mira topográfica. Os resultados deste monitoramento estão apresentados nas Figuras 6.17 a 6.19. Figura 6.17 – Monitoramento das espessuras dos rejeitos L + F (medidas superficiais) 91 Figura 6.18 – Monitoramento das espessuras dos rejeitos L+F+M (medidas superficiais) Figura 6.19 – Monitoramento das espessuras dos rejeitos M (medidas superficiais) Os rejeitos estudados não apresentaram variações significativas de espessuras ao longo do período de monitoramento (as variações medidas foram da ordem de milímetros) sob peso próprio, particularmente para os rejeitos de magnetita e independentemente da zona de monitoramento. Constata-se, portanto, que o comportamento geotécnico dos materiais é ditado primariamente por sedimentação direta e não por adensamento propriamente dito, sendo condicionado basicamente pelas características químicas e mineralógicas dos rejeitos. 92 Uma vez que as partículas são constituídas essencialmente por espécies minerais com densidades elevadas, os rejeitos tendem a depositar rapidamente, assim que dispostos nas baias experimentais. A água da polpa forma uma lâmina sobrenadante que tende a ser rapidamente encaminhada em direção ao extravasor e removida, então, do depósito. Estes resultados estão restritos, por outro lado, aos condicionantes impostos aos fenômenos de segregação hidráulica dos materiais em condições de baias de pequeno porte. Na barragem em operação, este comportamento geral é também observado, associado, entretanto, a um determinado nível de adensamento dos rejeitos, induzido, nestes casos, pela ação das sobrecargas representadas pela disposição seqüenciada de grandes espessuras dos rejeitos. 6.5 – SEGREGAÇÃO HIDRÁULICA DOS REJEITOS A segregação hidráulica é um fenômeno que ocorre nos reservatórios de barragens de rejeitos, no qual a distribuição granulométrica do material depositado varia ao longo da praia formada. Normalmente, a área mais próxima do ponto de lançamento tende a ser ocupada pela fração mais grossa do rejeito e, à medida que se afasta do ponto de descarga, a granulometria do material tende a ir ficando mais fina. O processo de segregação depende de uma série de fatores, que incluem a distribuição granulométrica do rejeito, a composição mineralógica, o regime de fluxo e as variáveis da disposição, particularmente a natureza do processo de descarga, a vazão e os teores de sólidos presentes na polpa. A segregação representa a tendência da fração sólida dos rejeitos de se depositar de forma diferenciada na praia de deposição, criando assim um gradiente de concentração que interfere diretamente na composição granulométrica do depósito. Esse fenômeno tende a gerar uma enorme variabilidade estrutural, alterando significativamente os parâmetros de resistência, deformabilidade e condutividade hidráulica, ao longo do depósito. O transporte por arraste de sedimentos heterogêneos em meio aquoso é um processo bastante complexo que se dá por meio de mecanismos de rolamento e escorregamento das partículas, ao longo do fundo da praia de deposição. Estes processos são regidos 93 pelos esforços tangenciais, mobilizados no fundo da camada viscosa e fortemente afetados pelas forças ascensionais, impostas pelo regime turbulento do fluxo (Gomes, 2006). Visando avaliar o comportamento dos rejeitos em termos dos mecanismos de segregação hidráulica, foram coletadas amostras de materiais depositados ao longo das baias longas (45 m de extensão) e na barragem em operação. 6.5.1 – Processo de Segregação Hidráulica nas Baias Longas Nas baias longas de 45 m de extensão, a amostragem foi realizada ao longo de pontos espaçados de 5,0 m, a partir de um ponto inicial (P1), localizado a 2,5 m do ponto de descarga dos rejeitos, com auxílio do amostrador, especialmente fabricado no escopo deste trabalho. As amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Solos da empresa ARC Engenharia, em Uberlândia/MG, tendo sido realizadas as análises granulométricas das mesmas de acordo com as prescrições da norma NBR 7181 (ABNT,1984b). As curvas granulométricas obtidas estão apresentadas nas Figuras 6.20 e 6.21, para os rejeitos ‘lama+flotação’ e ‘lama+flotação+magnetita’, respectivamente. Figura 6.20 – Curvas granulométricas do rejeito L+F, depositado na baia de 45 m 94 Figura 6.21 – Curvas granulométricas do rejeito L+F+M, depositado na baia de 45 m Constata-se que, no caso do rejeito ‘lama+flotação’, a segregação hidráulica é ditada essencialmente pela granulometria das partículas, ocorrendo à deposição da fração mais grossa no trecho inicial de 7,5 m da baia (limite da locação do ponto P2). Três zonas distintas podem ser caracterizadas no processo, limitadas pela locação dos pontos P2, P6 e P8, aproximadamente. A presença da magnetita no rejeito (Figura 6.21) promove uma clara distinção entre as curvas granulométricas dos pontos P1 e P2, evidenciando os efeitos combinados das distribuições granulométricas e massas específicas neste caso, e uma forte tendência de homogeneização de tamanhos das partículas, ao longo da baia, nos trechos compreendidos entre os pontos P3 e P8. 6.5.2 – Processo de Segregação Hidráulica na Barragem em Operação Na barragem em operação, a coleta de amostras foi realizada ao longo da praia de rejeitos, na região passível de acesso sem riscos de perda de suporte. A amostragem foi realizada em 10 pontos distribuídos ao longo da praia, com uma distância entre eles de aproximadamente 65 metros (Figura 6.22). 95 Figura 6.22 – Pontos de coleta das amostras na barragem para as análises de segregação Em cada ponto, a coleta de amostras foi realizada em 4 níveis, em superfície e nas profundidades de 0,50 m, 1,0 m e 1,5 m. Para a realização da amostragem, cravou-se um tubo de 2,0 m de comprimento e de 200 mm de diâmetro, sendo as amostras retiradas do interior do tubo por um dispositivo tipo cavadeira. Cada amostra foi adequadamente acondicionada em saco plástico e, então, encaminhada para o Laboratório de Solos da Unidade de Concentração, para realização de análises granulométricas, em duas etapas: por peneiramento para a fração mais grossa e por granulometria a laser para a fração fina (fração de partículas inferiores a 0,074mm). A curva granulométrica final foi obtida pela conjugação dos trechos obtidos em cada uma destas fases dos ensaios. As curvas granulométricas que estão apresentadas na Figura 6.23, foram determinadas pelos pontos gerados, com base na média aritmética dos valores obtidos para os quatro níveis de amostragem, adotados para cada ponto de coleta. Os resultados evidenciam os 96 efeitos de segregação na praia de rejeitos por aspectos granulométricos, com exceção dos pontos P1 e P5, nos quais constata-se a relevância das interferências das densidades no processo final de disposição das partículas dos rejeitos. Figura 6.23 – Curvas granulométricas dos rejeitos depositados na barragem em operação 6.6 – ANÁLISE DA DECLIVIDADE DAS PRAIAS DE REJEITOS A declividade da praia de sedimentação do rejeito é um parâmetro de extrema importância para a operação de uma barragem de rejeitos, uma vez que condiciona, em larga escala, as zonas de distribuição dos lançamentos dos rejeitos, visando otimizar o processo de ocupação geral do reservatório da barragem. Depósitos de polpa que apresentam segregação tendem a ser mais planos, apresentando praias mais extensas e suaves delimitadas pelas variações graduais das distribuições granulométricas das partículas depositadas, em relação ao ponto de descarga. As polpas que não apresentam segregação tendem a formar praias mais íngremes, com poucas variações granulométricas e com densidades relativamente baixas (Espósito, 2000). 97 Estas influências relativas sobre as declividades das praias, formadas pelos rejeitos do processo de beneficiamento de Nióbio, foram investigadas também ao longo das baias longas (45 m de extensão) e para a barragem em operação, conforme exposto a seguir. 6.6.1 – Declividades das Praias de Rejeitos Formadas nas Baias Longas Nas baias experimentais de 45 metros, efetuou-se o levantamento topográfico do perfil da superfície do rejeito, por meio da cravação de quatro estacas niveladas nos cantos das baias, possibilitando a formação de um plano de referência. Com base nesta referência, procedeu-se à determinação das respectivas distâncias do mesmo à superfície do rejeito, ao longo da extensão completa da baia experimental. O resultado deste levantamento está apresentado na Figura 6.24, que indica o depósito de rejeitos na baia e as fronteiras adjacentes com a água sobrenadante, bem como com as regiões submersas e não submersas dos materiais. Na figura, estão indicadas em conjunto as geometrias dos depósitos formados pelos rejeitos ‘lama+flotação’ e ‘lama+flotação+magnetita’ e o sentido da disposição dos rejeitos. Com base nestes resultados, tornou-se possível destacar três zonas características do domínio dos rejeitos depositados, conformados pelos trechos das baias situados entre 1 e 6 m, 6 e 12 m e 13 e 45 m, tomados a partir do ponto de descarga (Tabela 6.1). Figura 6.24 – Geometria da superfície de deposição dos rejeitos nas baias experimentais 98 Tabela 6.1 – Declividades das diferentes seções da superfície de deposição dos rejeitos (baias experimentais) Seção Pontos 1/6 (L+F) Pontos 6/12 (L+F) Pontos 12/45 (L+F) Pontos 1/6 (L+F+M) Pontos 6/12 (L+F+M) Pontos 12/45 (L+F+M) Elevação inicial Elevação final Distância entre Inclinação (unidades) (unidades) pontos (m) da seção (%) 9,57 9,45 6 2,00% 9,45 9,23 6 3,67% 9,23 9,14 33 0,27% 9,51 9,45 6 1,00% 9,45 9,08 6 6,17% 9,08 8,99 33 0,27% As declividades dos rejeitos variam entre 1% e 2%, ao longo da praia propriamente dita, passando, então, a assumir declividades bastante acentuadas na zona de contato com o reservatório das baias. A presença de magnetita no rejeito é determinante para a geração destas interfaces íngremes (que chega a ser de 6,2% para os rejeitos L+F+M). Na região submersa, por outro lado, os rejeitos, sejam relativos aos de ‘lama+flotação’ ou aos de ‘lama+flotação+magnetita’, tendem a apresentar declividades muito suaves, com superfícies quase-horizontais (declividades da ordem de 0,27%). 6.6.2 – Declividades das Praias de Rejeitos Formadas na Barragem em Operação Na barragem em operação, são realizados monitoramentos mensais dos rejeitos, depositados ao longo de todo o reservatório, por meio de levantamentos topográficos em superfície e batimetria dos rejeitos submersos. Estes dados são, então, processados e sistematizados, para fins de traçado do nível atualizado dos rejeitos e comparativos com os níveis anteriormente obtidos. 99 Estes dados (relativos ao período de setembro/2011) foram reavaliados neste trabalho visando à determinação das inclinações da superfície dos rejeitos constituintes da praia propriamente dita e também da região de submersão. Para as finalidades deste estudo, foram tomadas três seções de referência, delimitadas pelos pontos 2 e 3, 3 e 4 e 8 e 9 indicados na Figura 6.25. No conjunto destes pontos, o ponto 9 representa o ponto de lançamentos dos rejeitos na barragem e o ponto 4, o ponto mais afastado da descarga. Os resultados, expressos em declividades, estão indicados na Tabela 6.2. Figura 6.25 – Pontos e seções de referência do depósito de rejeitos da barragem (CBMM, 2011) Tabela 6.2 – Declividades das diferentes seções da superfície de deposição dos rejeitos (barragem em operação) Seção Seção 9/8 Seção 2/3 Seção 3/4 Elevação inicial (m) 1.079,34 1.073,29 1.067,02 Elevação final (m) 1.074,93 1.067,02 1.064,58 100 distância entre pontos (m) 1.011,13 255,88 300,00 Inclinação da seção (%) 0,44 2,45 0,81 Ao longo da praia propriamente dita, a declividade média foi da ordem de 0,44 %, caracterizando um ambiente suave de sedimentação. Na interface com o reservatório, o perfil torna-se mais brusco e as declividades atingem 2,45%. Na zona submersa, a superfície dos rejeitos tende a ser bastante aplainada, com declividades da ordem de 0,81%. Estes valores mostram uma grande conformidade com os resultados obtidos nas baias experimentais, levando-se em conta as diferentes condições de fronteira e das variáveis de disposição em ambos os sistemas. 6.7 – COMPRESSIBILIDADE DOS REJEITOS SUBMERSOS Complementarmente, foi efetuada uma sondagem piezométrica no reservatório da barragem em operação (Figura 6.26), de forma a caracterizar o comportamento geotécnico dos rejeitos submersos em termos de compressibilidade. Figura 6.26 – Realização da sondagem piezométrica no reservatório da barragem 101 Os ensaios foram realizados com a utilização de uma sonda piezométrica construída em formato cilíndrico e ponta cônica, contendo em seu interior um transdutor de pressão para medição das poropressões. Para tanto, o transdutor possui interface com uma pedra porosa metálica fina, de alta permeabilidade e pressão de borbulhamento. O registro das pressões no transdutor é obtido por meio de sinais elétricos convertidos em medidas de pressão, através de uma calibração prévia do equipamento. À sonda foram conectadas hastes rosqueáveis com 1 m de comprimento, as quais permitem a análise da compressibilidade dos rejeitos em diferentes profundidades. Para a realização do ensaio, foi utilizada uma balsa flutuante que permitiu a locação da sondagem piezométrica no domínio do reservatório da barragem. A primeira etapa do ensaio consistiu na medição da lâmina de água existente acima do topo do rejeito, que foi de 21 cm. Em seguida, introduziu-se a sonda piezométrica no reservatório, descendo-se a mesma, conjuntamente com a coluna de hastes, até as profundidades desejadas (2 m, 4 m e 7 m), sendo realizadas, então, medições da evolução das poropressões ao longo do tempo, até a sua estabilização final (Figuras 6.27 a 6.29). Figura 6.27 – Evolução das poropressões nos rejeitos na profundidade de 2 m 102 Figura 6.28 – Evolução das poropressões nos rejeitos na profundidade de 4 m Figura 6.29 – Evolução das poropressões nos rejeitos na profundidade de 7 m Após a leitura das poropressões em todas as cotas de ensaio, procedeu-se à amostragem do rejeito nas mesmas profundidades, por meio de amostrador especial, destinado à coleta de amostras de rejeitos pré-consolidados. As amostras deformadas foram 103 acondicionadas em sacos plásticos, devidamente etiquetadas e, então, encaminhadas para o Laboratório de Geotecnia da UFOP, para a determinação dos índices físicos dos rejeitos, que constitui a segunda etapa destes ensaios. Foram determinadas as densidades das partículas sólidas (Gs) e os teores de umidades (w) dos rejeitos nas profundidades ensaiadas, obtendo-se, então, os correspondentes valores dos teores de sólidos (Ψ), dos índices de vazios (e) e pesos específicos naturais (γ), pelas seguintes relações: Ψ= 1 1+ w (6.1) e = Gs w γ = (6.2) (G s + e) γw (1 + e) (6.3) Os resultados dos ensaios estão indicados na Tabela 6.3, que incluem também os valores das poropressões (u) obtidas a partir dos ensaios de campo. Tabela 6.3 – Resultados dos ensaios com as amostras dos rejeitos submersos Profundidade (m) Profundidade Lama (m) u máxima (kPa) u equilíbrio (kPa) 2,00 4,00 7,00 1,79 3,79 6,79 47,2 88,5 156,5 32,1 67,1 94,5 w (%) 39,73 44,81 33,45 Ψ (%) 71,57 69,06 74,93 Gs (g/cm³) 4,09 4,09 4,09 e 1,625 1,833 1,368 γ (kg/m³) 2.135 2.050 2.260 σ (kPa) 40,279 79,772 155,538 σ' (kPa) 8,18 12,67 61,04 104 Com base nos valores das tensões totais e das poropressões, foram estimadas as tensões efetivas (σ’ = σ - u), sendo u a poropressão final de estabilização, determinando-se, então, os perfis de tensões totais, efetivas e de poropressões (Figura 6.30). Figura 6.30 – Perfis de tensões totais, efetivas e de poropressões A correlação entre as tensões efetivas e os índices de vazios (Figura 6.31) permite estabelecer, inicialmente, a relação de tendência da lei de compressibilidade dos rejeitos de nióbio para a barragem em operação pela seguinte relação: e = 2,2164σ ' −0,112 (6.4) Figura 6.31 – Curva de compressibilidade dos rejeitos depositados na barragem 105 6.8 – INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE DISPOSIÇÃO NA BARRAGEM A barragem em operação possuía dois sistemas de lançamento de rejeitos da fração que é transportada até o reservatório por gravidade, sendo um realizado por meio de um tubo de PEAD com Ø de 28″ (Figura 6.32) e outro através de tubos de borracha com Ø de 10″ (Figura 6.33), apoiados em cavaletes de madeira. Figura 6.32 – Lançamento dos rejeitos por tubo PEAD de 28″ Figura 6.33 – Lançamento dos rejeitos por tubo de borracha de 10″ 106 De forma a se analisar o comportamento geotécnico dos rejeitos depositados em função do sistema de descarga, foram realizadas medidas das massas especificas dos materiais, em zonas próximas ao ponto de lançamento, a distâncias máximas de 30 m do mesmo. Estas análises foram realizadas por meio de cravação de cilindro biselado conforme a norma NBR 9813 (ABNT, 1987). As massas específicas médias dos rejeitos secos amostrados na zona de descarga através dos tubos de 28″e 10″ foram de 2.392 e de 2.282 kg/m³, respectivamente. Uma vez que o lançamento dos rejeitos decorre dos dois sistemas simultaneamente, conclui-se que as características do depósito formado não tendem a apresentar grandes variações dos seus estados de compacidade, mesmo considerando que as velocidades de lançamento dos rejeitos no caso da tubulação de 28″ são bem maiores que aquelas mobilizadas no tubo de 10”. 107 CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 7.1 – CONCLUSÕES O presente estudo compreendeu a avaliação do comportamento operacional do sistema de disposição dos rejeitos de nióbio, gerados na planta de beneficiamento, localizada no município de Araxá/MG, mediante estudos de laboratório e de campo (simulação física por meio da construção de baias experimentais), envolvendo a abordagem dos rejeitos em si ou das misturas dos três tipos de rejeitos gerados na planta (‘lama+flotação’, ‘lama+flotação+magnetita’ e ‘magnetita’). Em se tratando de rejeitos finos, como é o caso da maior parcela dos rejeitos de nióbio, a determinação do comportamento dos materiais e a formulação de um modelo deposicional consistente não podem ser baseadas apenas em ensaios convencionais, o que exigiu a adoção de metodologias específicas complementares para a determinação de parâmetros geotécnicos representativos do sistema em análise. A simulação física mostrou-se ser uma técnica simples, prática e bastante consistente para a aferição do desempenho do sistema atual de disposição de rejeitos de nióbio no reservatório da Barragem 6 da CBMM – Araxá/MG. As bases da pesquisa compreenderam a avaliação do modelo deposicional dos rejeitos praticado atualmente, bem como as análises de eventuais readaptações do sistema no sentido de se estabelecer práticas operacionais distintas das vigentes, visando à otimização da capacidade de estocagem do reservatório e a obtenção de um adequado controle operacional do sistema (com um reservatório contendo 11 milhões de m³ de rejeitos depositados e incremento anual da ordem de 2,5 milhões de m³). A análise do comportamento dos rejeitos de ‘lama+flotação+magnetita’, de ‘lama+flotação’ e de 108 ‘magnetita’ permitiu caracterizar as melhores metodologias para a disposição destes rejeitos e a melhor adequação do sistema sob tais circunstâncias. Os ensaios de caracterização das misturas dos rejeitos estudados mostraram que os rejeitos de ‘lama+flotação’ e ‘magnetita’ apresentaram faixas de variação de índices de vazios bem mais abrangentes do que aquela constatada para a mistura total envolvendo ‘lama+flotação+magnetita’. Considerando-se este aspecto isoladamente das variáveis de disposição no reservatório, conclui-se que é possível a obtenção de estruturas adensadas muito mais compactas (limites menores dos índices de vazios mínimos) quando do lançamento dos materiais segregados e não por meio da mistura dos mesmos. Os resultados obtidos nas baias experimentais ratificaram estas observações. Quando se realiza a disposição de forma segregada (‘lama+flotação’ e ‘magnetita’ como materiais distintos), os estados de compacidades finais tendem a ser maiores daqueles atingidos quando ocorre a disposição de forma misturada (‘lama+flotação+magnetita’). Constatase que, em termos práticos, a adição da fração mais grosseira de magnetita no rejeito mais fino (lama+flotação) induz um rearranjo de grãos que compromete o arcabouço sólido da mistura e o empacotamento dos grãos, com influência direta no seu estado de compacidade final. Os resultados das análises químicas e mineralógicas evidenciaram a heterogeneidade dos elementos constituintes dos rejeitos. A grande proporção de substâncias compostas basicamente por ferro e bário impõem elevadas densidades aos rejeitos estudados, de maneira geral, embora sem uma projeção proporcional destes teores elevados de ferro (devido à magnetita) no caso da mistura ‘lama+flotação+magnetita’. O elevado teor de ferro presente na fração de magnetita é ‘perdido’ na matriz de finos (formação de estratos na base da camada de disposição), com a mistura passando a se comportar essencialmente como o rejeito fino em termos da densidade das partículas sólidas, embora razoavelmente concordantes em termos da distribuição granulométrica global. Por outro lado, observou-se que a presença de magnetita no rejeito ‘lama+flotação’ não afetou as características gerais de permeabilidade do rejeito, ainda que o rejeito de 109 magnetita tenda a apresentar uma condutividade hidráulica algo superior às dos demais rejeitos (2,5 x 10-3 m/s contra 9,0 x 10-4 m/s). Mais uma vez, constata-se a atuação ‘independente’ dos rejeitos de magnetita no processo de formação do depósito da mistura dos rejeitos, basicamente atuando como um maciço de rejeitos finos. Os três rejeitos foram lançados e monitorados em termos de segregação hidráulica das polpas, ao longo de dezessete semanas, tomando-se a média aritmética das massas específicas obtidas em pontos homólogos de duas baias experimentais com 10m de extensão cada uma. Para os rejeitos L+F+M e L+F, as densidades tenderam a ser sistematicamente maiores para as seções mais próximas aos pontos de lançamento, indicando, assim, comportamentos clássicos de segregação hidráulica. Para o rejeito de lama+flotação, a segregação hidráulica é observada, no entanto, de uma maneira mais branda e homogênea. Na região localizada acima do nível de água, o material tende a apresentar características semelhantes, ou seja, a granulometria ao longo da praia apresenta-se mais uniforme. No caso dos rejeitos L+F+M, as variações das massas específicas foram bem mais pronunciadas na zona de deposição da baia situada adjacente ao ponto de descarga dos rejeitos, indicando que a deposição de finos de ferro tende a ser incrementada na fase inicial do processo de disposição dos rejeitos, em função da agregação da magnetita. Para os rejeitos de magnetita, entretanto, o padrão das massas específicas tendeu a ser muito mais uniforme ao longo da praia, sem caracterização explícita dos efeitos de segregação hidráulica ao longo da baia. Devido a este comportamento singular, a praia de rejeitos de magnetita tende a ser bastante acentuada, com a ocupação otimizada do reservatório, exigindo um contínuo remanejamento dos pontos de descarga destes rejeitos. Estas grandes variações das massas específicas foram explicitadas também no caso das baias longas, de 45 m de extensão, ratificando a influência considerável dos mecanismos de segregação hidráulica no modelo deposicional dos rejeitos estudados. Na região submersa, as densidades tenderam a se estabilizar sob valores muito 110 reduzidos (massas específicas inferiores a 1000 kg/m3), com impactos significativos sobre a capacidade de armazenamento do reservatório. Extrapolando os estudos para a praia formada na barragem em operação, nota-se que os efeitos da segregação hidráulica são evidentes e definem dois patamares característicos ao longo da praia de rejeitos, condicionados em larga escala pela disposição zoneada atualmente em vigor na barragem (disposição isolada dos rejeitos de magnetita). Os rejeitos estudados não apresentaram variações significativas de espessuras ao longo das baias experimentais e ao longo do período de monitoramento, constatando-se, portanto, que o comportamento geotécnico dos materiais é ditado primariamente por sedimentação direta e não por adensamento propriamente dito, sendo conduzido basicamente pelas características químicas e mineralógicas dos rejeitos. Inicialmente, observa-se que a relação de tendência da lei de compressibilidade dos rejeitos estocados na barragem em operação é expressa pela relação e = 2,2164 σ’-0,112 (σ’ em kPa), com os rejeitos apresentando teores de sólidos variando entre 69% e 75% (até 7,0m de profundidade na lama). As declividades dos rejeitos variaram entre 1% e 2% ao longo da praia propriamente dita, passando então, a assumir declividades bastante acentuadas na zona de contato com o reservatório das baias. A presença de magnetita no rejeito é determinante para a geração destas interfaces íngremes (que chega a ser de 6,2% para os rejeitos L+F+M). Na região submersa, por outro lado, os rejeitos, sejam relativos aos de ‘lama+flotação’ ou aos de ‘lama+flotação+magnetita’, tenderam a apresentar declividades muito suaves, com superfícies quase horizontais (declividades da ordem de 0,27%). Ao longo da praia da barragem, a declividade média foi de 0,44 %, caracterizando um ambiente suave de sedimentação. Na interface com o reservatório, o perfil torna-se mais brusco e as declividades atingem 2,45%. Na zona submersa, a superfície dos rejeitos tende a ser bastante aplainada, com declividades da ordem de 0,81%. Estes valores mostram uma grande conformidade com os resultados obtidos nas baias experimentais, levando-se em conta as diferentes condições de fronteira e das variáveis de disposição 111 em ambos os sistemas. Estes resultados mostraram que as características do depósito formado não tendem a apresentar grandes variações em função do sistema de descarga adotado. Com base nos estudos desenvolvidos nesta pesquisa de cunho experimental, conclui-se que a adição de magnetita no rejeito de lama+flotação tende a comprometer a eficiência do modelo deposicional dos rejeitos finos, com impactos negativos na capacidade de estocagem do reservatório. Assim, a integração das análises feitas permite concluir que os procedimentos atualmente aplicados à disposição dos rejeitos na Barragem B6 do Complexo Industrial de Araxá são os mais consistentes do ponto de vista operacional. 7.2 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS As conclusões anteriores ratificaram a adequação do sistema atual de disposição de rejeitos de nióbio no âmbito da Planta localizada em Araxá, em forma de polpa e mediante a separação do lançamento entre os rejeitos finos e de magnetita no reservatório da Barragem B6. Estes estudos contribuíram decisivamente para o pleno conhecimento do modelo deposicional induzido no reservatório da barragem, atendendo assim, de forma explícita, o objetivo primário desta proposta de pesquisa. Entretanto, estudos adicionais são benvindos e relevantes, sendo propostas as seguintes linhas de investigação complementares: • Estudar a influência relativa de diferentes sistemas de drenagem implantados sobre o sistema de impermeabilização da barragem, avaliando-se a evolução do adensamento dos rejeitos armazenados; • Estudar metodologias alternativas de disposição do rejeito de lama+flotação de forma a minimizar os efeitos da segregação hidráulica; • Estudar a possibilidade de desaguamento prévio e empilhamento dos rejeitos de magnetita. 112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT (1984a). Solo – Grãos de solo que passam na peneira de 4,8 mm – Determinação da massa específica. NBR 6508, Associação Brasileira de Normas Técnicas, 8 p., São Paulo, SP. ABNT (1984b). 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