ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E ORIENTAÇÃO DA
FAMÍLIA
ANDRÉ KEY DE OLIVEIRA
O RESGATE DA PATERNIDADE:
UMA VISÃO EXISTENCIALISTA DA CONSTANTE
CONSTRUÇÃO DO SER PAI
LONDRINA
2013
ANDRÉ KEY DE OLIVEIRA
O RESGATE DA PATERNIDADE:
UMA VISÃO EXISTENCIALISTA DA CONSTANTE
CONSTRUÇÃO DO SER PAI
Monografia
apresentada
ao
curso
de
Especialização em Desenvolvimento e Orientação
da Família, da Pós-Graduação: Instituto da Família
– Faculdade Teológica Sul Americana como
requisito para à obtenção parcial do Título de
Especialista.
Orientadora: Profª. Mestre Taritha Meda Caetano
Gomes
LONDRINA
2013
ANDRÉ KEY DE OLIVEIRA
O RESGATE DA PATERNIDADE:
UMA VISÃO EXISTENCIALISTA DA CONSTANTE
CONSTRUÇÃO DO SER PAI
Monografia
apresentada
ao
curso
de
Especialização em Desenvolvimento e Orientação
da Família, da Pós-Graduação: Instituto da Família
– Faculdade Teológica Sul Americana como
requisito para à obtenção parcial do Título de
Especialista.
Co-Coordenadores:
Especialista Layne Soares Araújo Ribeiro
Especialista Leda Meda Caetano
COMISSÃO EXAMINADORA:
MESTRE ANADIR LUIZA THOMÉ OLIARI
Supervisora
MESTRE TARITHA
GOMES
Orientadora
MEDA
Londrina, 30 de novembro de 2013.
CAETANO
Dedico este trabalho à memória de meu avô paterno que
pela arte de ter sido uma pessoa autêntica, sofreu inúmeros
problemas de relacionamentos, na qual foram poucos anos
de convivência, mas intensos ao ponto de tocar meus afetos
contribuindo para alegria do meu ser criança.
Dedico também a minha família e todas as pessoas que
tiverem o contato com esta leitura, principalmente os pais
que tem a coragem de assumir esta função com
responsabilidade e sensibilidade de aceitar-se humano que
por esta condição erra, mas que está preparado para o
desafio de ser gente.
AGRADECIMENTOS
A chuva cai com ela um ar de melancolia que se deita ao se molhar na terra,
nos gramados e solos que precisam deste, que é o alimento para nascer, renascer, fazer florir
cores, cheiros, sabores, emergir na poesia da vida, encantar com brilho nos olhos onde crê que
há luz no fim do túnel.
Nuvens negras, este tempo, desperta saudades que se deixa alcançar, pelo
coração que se derrama, sem a pretensão de saber o final desta trama, o abandono nas mãos de
algo maior, transcendental, que venha nos colocar em seus braços e confiar sem reservas, a fim
de nos conduzir pelos caminhos onde nossos sonhos estão para serem realizados à medida que
este, toque o acreditar, muitas vezes abalado pela falta.
Agradeço vocês poetas do meu coração, que me ensinam ser quem sou e onde
as palavras não puderem chegar, a arte tem a capacidade de alcançar, de libertar de forma
criativa aquilo que não consegue transmitir sozinho, sendo assim, fico tranquilo, na espera de
ser hoje o que não fui ontem e que o amanhã seja ainda melhor do que já tenho experimentado.
A gratidão maior à Deus Pai que resgata misericordiosamente a paternidade
e todos os filhos que tem sede Dele e os demais que pelo amor incondicional nos acolhe,
protege, guia e nos orienta pelos caminhos que precisamos trilhar.
A minha família, com suas falhas e demoras, com a qualidade de ser o que
são, me torna uma pessoa mais humana e paciente frente as emoções próprias de minha história.
Deixo o muito obrigado as coordenadoras do curso, Layne Soares Araújo
Ribeiro e Leda Meda Caetano por abrirem às portas da Instituição nos recebendo e
proporcionando um ambiente facilitador, deixando uma marca sistêmica no olhar.
Agradecendo nossa supervisora e professora Anadir Luiza Thomé Oliari, por
sua dedicação, entrega, formação e crítica, que contribuíram para um melhor desenvolvimento
no que diz respeito a como sermos facilitadores coordenando grupos.
A nossa orientadora Taritha Meda Caetano Gomes, pela paciência em nos
escutar e direcionar os caminhos da monografia que com sua praticidade e experiência nos
ajudou no processo de construção de nossa escrita.
A todos os alunos da 1ª turma do curso de Desenvolvimento e Orientação da
Família do Instituto da Família, Faculdade Teológica Sul Americana, pela doação de vossos
corações manifestadas em histórias narrativas.
E de maneira especial ao meu parceiro de Projeto Experimental “O Resgate da Paternidade”, Mário Sérgio, que me ensinou o amor pela família sendo pai, amigo e
principalmente pessoa, agradeço sua objetividade e capacidade empreendedora, por sua
resiliência e coragem de ser alguém que luta pelos seus ideais, sonhos e pelo ser solidário que
existe em seu coração, continue assim pois muitas vidas serão tocadas através de ti.
E por todos que tiveram uma participação direta ou indireta neste processo de
busca identitária do ser sobre algo, que favorece e promove humanização a quem possa sentir
essa experiência.
“A criança que fui chora na estrada, deixei-a ali quando vim
ser quem sou, mas hoje, vendo que o que sou é nada, quero
ir buscar quem fui onde ficou”.
Fernando Pessoa
OLIVEIRA, André Key de. O RESGATE DA PATERNIDADE 2013. (págs. 65) Monografia.
(Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Desenvolvimento e Orientação da
Família) – Faculdade Teológica Sul Americana, Londrina – PR.
RESUMO
Com o avanço da tecnologia, a necessidade da lucratividade e as diversas mudanças no mundo
contemporâneo, às relações humanas estão cada vez mais pautadas no fazer juntos do que no
ser juntos, superficializando a experiência do contato. A lógica de consumo acaba de uma forma
ilusória, querendo substituir o ser pelo ter, atingindo a sociedade de forma perversa,
manipulando um jeito de ser na vida, misturando conceitos de felicidade, vendendo uma ideia
de que, quanto mais se consome um produto, maior a probabilidade de alcançar felicidade, isto
atinge, o ser identitário do indivíduo. Desta forma, um dos caminhos em busca de si mesmo e
de sua formação personalista, é tomar posse de suas realidades olhando a vida como um projeto
inacabado, que sempre está por se fazer, ou seja, o filho que anseia continuamente buscar-se no
que se é, partindo de uma visão existencialista de homem. A proposta a seguir é de oferecer aos
pais de crianças e adolescentes, momentos de reflexão interna pensando criticamente como é e
está seu papel de pai frente a educação e o relacionamento concreto e saudável com seus filhos.
A partir disso, investir qualidade na relação entre pais e filhos para que haja valorização e o
aproveitamento melhor do tempo, resgatando os valores, crenças, rituais, costumes já existentes
na família, firmando o vínculo e a profundidade na relação. O resgate da paternidade seria antes
de qualquer coisa, olhar em primeira instância o ser pai como pessoa, exercendo em seguida
seu papel, conscientizando de que sua função é uma constante construção fazendo parte de seu
projeto existencial que se une com o da à mãe e o filho.
Palavras-chave: O Ser homem, Identidade, Ser Família, Paternidade.
OLIVEIRA, André Key de. O RESGATE DA PATERNIDADE 2013. (págs. 65) Monografia.
(Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Desenvolvimento e Orientação da
Família) – Faculdade Teológica Sul Americana, Londrina – PR.
ABSTRACT
With the advancement of technology, the need of profit and the several changes on the present
world, human relationships are more and more becoming sharpened on the doing together than
on the being together, making the experience of touch to get more superficial. The logics of
consumption ends up on an illusory way, wanting to substitute the being by the having, reaching
society on a perverse way, manipulating a way of living, mixing up concepts of happiness,
selling the idea that , more you consume a product, bigger the probability to reach happiness.
This attains the identity being of the individual. Then, one of the ways in searching for oneself
and of his personality formation, it is to take possession of his realities, looking at life as a non
ended project, that´s always to be done. It means, the son who continuously wishes to be found
on what one is, departing from man´s existentialist vision. The proposal that follows it is to
offer moments of internal reflection to the parents of children and teenagers, thinking critically
how it is, and how one is on his role as a father facing Education and the concrete and healthy
relationship between parents and children in order that it might exist valorization and a better
use of time, rescuing the values, beliefs, rituals, uses already existent in the family,
strengthening the bond and the depth in the relationship. The rescue of fatherhood would be,
before anything else, to face the being a father as a person, then performing his role, being
conscious that his first function is a constant building up, bring part of his existential project
that gathers itself with the one of the mother and of the son.
Key-words: Being a man, identity, to be a family, fatherhood.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 13
2.1 Identidade: marcas de uma constante construção ........................................................... 13
2.2 Existência Humana ........................................................................................................ 15
2.3 Essência e o ser do homem ............................................................................................. 17
2.4 Relacionamento ............................................................................................................. 19
3 O Ser Família ................................................................................................................... 25
4 O Pensar Sistêmico como Influência na Comunicação da Família .................................... 26
4.1 A Impossibilidade de Não Comunicar ........................................................................... 28
4.2 O Conteúdo e Níveis de Relação da Comunicação ......................................................... 29
4.3 A Pontuação da Sequência de Eventos ........................................................................... 29
4.4 Comunicação Digital e Analógica ................................................................................. 30
4.5 Interação Simétrica e Complementar ............................................................................. 30
5 O Sentido de Pertença na Família ..................................................................................... 31
6 Pais e Filhos ..................................................................................................................... 33
7 Formação Identitária do Filho .......................................................................................... 34
8 Exercício da Paternidade .................................................................................................. 36
9 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO .................................................................................... 39
9.1 Identificação e caracterização do grupo ......................................................................... 40
9.2 Fatores Motivacionais ................................................................................................... 40
9.3 História do desenvolvimento do grupo .......................................................................... 41
9.4 Relacionamento Interpessoal do grupo .......................................................................... 42
9.5 Pontos de Resiliência para mudança .............................................................................. 43
10 Plano de ação ................................................................................................................. 44
11 Avaliação dos resultados ................................................................................................ 44
12 ESTUDO DE CASO ...................................................................................................... 45
12.1 O Pai Provedor ............................................................................................................. 45
12.2 O Pai Educador ........................................................................................................... 47
12.3 O Pai Colocando Limites ............................................................................................. 48
12.4 O Pai Presente ............................................................................................................. 50
12.5 O Pai que Ama ............................................................................................................ 52
12.6 O Pai como Filho ........................................................................................................ 55
12.7 O Pai que eu quero ser .................................................................................................. 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 59
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 62
11
1 INTRODUÇÃO
O homem quando se constrói humanamente produz a si mesmo e reproduz através do
outro, que serve como espelho para o reconhecimento do ser pessoa. Seguindo esta linha de
raciocínio, o resgate da paternidade em primeira instância, seria o olhar diferenciado para o
mundo interno do indivíduo, escutando suas realidades mais íntimas e profundas,
experimentando-se existencialmente através do contato consigo mesmo, educando o ser, para
em seguida exercer o ofício de ser Pai.
Neste processo, existem várias etapas a serem respeitadas, envolvendo o contexto sóciohistórico e cultural, as diversas relações que estão interligadas, o funcionamento dos sistemas
familiares, as perdas e ganhos, experiências negativas e positivas, entre outros, que passa pelo
entendimento interno/externo e a aceitação de si. Relevante pensar, que a família de origem tem
um aspecto fundamental para o desenvolvimento da personalidade da criança e conforme o
movimento e direção que este caminho for conduzido poderão trazer benefícios como também
prejuízos ao ambiente doméstico.
Exercitar a paternidade é uma construção sem fim, portanto, conscientizar o pai de que
a presença que não é só física faz a diferença, pois o fato de estar junto não significa
necessariamente estar acompanhado, o filho necessita sentir pertencente e seguro sob o
exercício da paternidade. Para tanto, será realizado o desenvolvimento de vários temas, sendo
debatidos e transmitidos em sala, colhendo o feedback dos pais com relação à vivência com
seus filhos, levando tarefas como atividade prática para o levantamento de possíveis soluções
sobre as dificuldades e a prevenção de futuros comportamentos inadequados.
O resgate não seria somente das relações, do que é ou não vivido, mas das sensações,
da forma como é comunicado e transmitido à mensagem, dos pequenos atos que são
experimentados no cotidiano que realmente faz diferença no sentido do crescimento do lar,
resgatar os sentimentos que em algum momento foi perdido, abafado, até mesmo ocupando
espaços que precisariam ser olhados com mais carinho. Buscar na identidade da família de
origem, os efeitos que geram uma implicação no sentido de mudança de postura, sendo afetado
por isso, tomando consciência de si, para deslanchar nos diversos papéis de Pai, sendo:
provedor, educador, que coloca limites, sendo presente, que ama, que se vê como um filho e
que hoje é pai.
Numa relação de escuta somos espelhos uns dos outros e quanto maior a concentração
acerca do “objeto” maior a possibilidade de captação do fenômeno, ou seja, o reconhecimento
12
de si. A todo momento estamos em contato com algo, experiências vividas que podem virar
crescimento, se não deixarmos passar despercebido, o presente que deseja se tornar palavra.
Na concretude da vida, o verbo se revela, para dizer em cada intuição, a fé necessária,
que se dá no silenciar de um grito, que faz tocar sutilmente o corpo e poder sentir em cada parte,
a dimensão de um conflito e o objeto sendo gente, transformando-se em sujeito que se encontra,
não querendo mais, sustentar uma estrutura que virou casca, que ao bater, rachou, acabou se
vendo, percebeu-se numa vitrine tortuoso, mas, com a coragem de continuar de outra forma,
sem saber ao certo como, com a intenção de seguir nú, despindo-se de qualquer ato que mascara
o ser, dignificando o que é, neste espelho que a partir de agora, olha com mais carinho.
Quando há aceitação do que se é, longe de qualquer escudo que o protege, há então uma
possibilidade da autorização humana para união de corpos, permitindo encontros autênticos de
corações que tem a coragem de assumir-se. Esta é uma proposta de relação onde o resgate da
paternidade envolve pai e filho (a) ou alguém que faça esta função, onde o tu sendo o outro da
relação que pede um nós para se firmar, criando possibilidades para que o amor entre,
modificando as realidades pré-determinadas, quebrando os paradigmas, alcançando os desejos
sinceros de cada parte, despertando o coração acomodado muitas vezes pela falta, ausência que
deixa buracos e que necessitam de preenchimento.
Este relacionamento paterno e filial seria a base para um novo recomeço caso haja
necessidade do mesmo, a partir deste prisma, olhar os membros da família não somente com
um único olhar, mas enxergar a vida e o outro através de lentes, tentando compreender
empaticamente as diferentes perspectivas de visão de mundo e de pessoa, utilizando então desta
relação um motivo para crescer e se desenvolver.
13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Identidade: marcas de uma constante construção
Acolher é aceitar como é, respeito a uma individualidade que chega, se expõe, que fala
sem dizer, que chora sem lágrimas, que grita de dor manifestada pelas emoções próprias de
cada história.
A partir do respeito, o outro sentirá esta força de ser ele mesmo, sentindo único em meio
à multidão, sua identidade ganha vida, assumindo-o como um ser autônomo e responsável pelo
que é, sendo assim, a autenticidade começa acontecer no espaço, tempo, no discurso que emerge
através do fenômeno.
Escutar alguém requer arte de se livrar de pré-conceitos para receber o que e como vem
enquanto demanda, sem deixar que as categorizações pessoais, possam influenciar o outro que
chega, saber que a comunicação acontece através do olhar, ouvir, nos gestos, atitudes e que vai
além daquilo que se mostra para identificar o que está invisível aos olhos humanos.
Ser empático seria talvez uma das maiores dificuldades, pois se colocar no lugar de
alguém e reconhecer o outro pelo outro, é um desafio, sair de um lugar de conforto e ir para
uma realidade às vezes completamente diferente, exige uma concentração e interesse pelo outro
verdadeiramente, um exercício um tanto quanto difícil.
Ser realmente autêntico nesta relação é um dos maiores desafios, o ser humano é
diferente, pensa, agi e reage de várias formas e por mais que seja parecido, nunca vai ser a
mesma coisa. Para ser honesto, congruente, o que há, é uma tentativa de compreender
empaticamente para que esta relação cresça, amadureça e faça o movimento espontâneo de ser
ela mesma.
O auto conhecimento é possível à partir da convivência com o outro, pois o nosso
senso de identidade é construído a partir do modo como interagimos com outras
pessoas. Privados da interação com os outros, não teríamos uma compreensão de
quem somos (KLOCKNER, 2010 p. 220).
Não perder de vista o fenômeno que se apresenta, mas sem ficar preso ao mesmo,
investigar sem cessar, com foco no indivíduo, desenvolvendo as questões que o ser humano
traz enquanto queixa, com objetivo de a pessoa ter consciência de si e ser dela, tomando posse
de suas responsabilidades sem terceirizá-las para outrem.
14
Para mudar algo ou até mesmo quebrar um paradigma é preciso se questionar, só diante
da pergunta a pessoa modifica e através dela se humaniza. Saber o que, como, onde, para que,
quais são os objetivos, dificuldades e facilidades, contribui para nortear a situação, orienta os
caminhos, esclarece com relação à informação, conteúdo, para se posicionar diante da vida.
Quando se pergunta algo visualiza-se o contexto, muda muitas vezes de direção sem
perder o foco, aumenta a percepção e reconhece o outro com mais propriedade. Fazer
questionamento que abrem a discussão e que fechem, saber o momento de intervir quando
necessário.
Conhecer, saber do conteúdo, facilitará a intervenção ou os possíveis questionamentos
do filho e isto é possível se existir vínculo, pois só há crescimento se estou vinculado há algo
ou alguém sem me tornar dependente, pois sem esta aliança, vivo somente a parte boa, enquanto
o vínculo exige um suportar de pressões, de situações que aparentemente não são agradáveis,
mas que é preciso para construção ou reconstrução do ser do sujeito.
O homem encontra o significado da sua existência através da ação refletida e
transformada. Em outras palavras, a atividade humana é a atividade da consciência,
resultado da relação entre a reflexão e a ação, mediada pela intencionalidade, vontade
e liberdade (KLOCKNER, 2010 p. 220).
A liberdade de ser quem somos dentro desta perspectiva, criar, recriar, viver a dimensão
estética da vida e que dá vida aquilo que está morrendo, perdendo força, extrair do ordinário
para o extraordinário, faz a vida acontecer com encanto, valorizando a beleza nas pequenas
coisas, utilizar algo aparentemente banal, mas cheio de significados que dará sentido à
existência.
Respeitar o momento e o ritmo de cada pessoa é um trabalho que exige muita paciência,
perseverança e coragem em não desistir, difícil de conceber tempo ao tempo, prestar atenção
ao feedback do outro, porque tanto pode ser construtivo como destrutivo do que e como é
transmitido. A mensagem deve ser transmitida, mas a forma é fundamental para que o filho não
se sinta agredido ou invadido em sua privacidade.
É um trabalho que não tem fim se tratando de mudança de comportamento ou postura,
procurar aperfeiçoar as qualidades e superar os defeitos é o caminho, buscar o equilíbrio e o
crescimento a todo instante, aprender com o outro através da relação que estabelece-se contato,
tendo o outro como espelho, reconhecendo-se e fazendo desta relação verdadeiros laços de
encontros.
A responsabilidade de ser pai principalmente no mundo contemporâneo é muito grande,
os estímulos são diversos, as oportunidades e facilidades, os meios para ter acesso a uma
15
tecnologia que ao mesmo tempo favorece, como se utilizada de maneira errônea também
provocará danos não somente a questões financeiras, mas se tratando de saúde mental dos filhos
ou a geração que vem crescendo e sendo atualizada pela velocidade e o dinamismo tecnológico.
O mundo virtual traz consigo uma certa distância das relações concretas, a falta de
limite, o exagero, o descontrole, ocupando um tempo maior frente a um computador do que a
um diálogo por exemplo. A crítica aqui, é voltada para o excesso e a superficialidade que a
virtualidade oferece, formando na mente da massa uma ideia de que só é feliz quem tem,
consome; o capitalismo vende a solução que são os produtos, o problema são as experiências
que dela surgem.
Será que preciso ter este algo que eu quero, desejo? Para quê? Eu dou conta? O que e
como estou me comunicando com o que tenho? São perguntas necessárias para que o olhar não
seja somente o externo, mas para o mundo intra pessoal que é a busca de ser pessoa e que por
não conseguir de uma forma natural, espontânea muitas vezes, a tentativa é o preenchimento de
um ser pelo ter, vazio com vazio, experiência que por vezes são traumáticas e causam sérios
problemas envolvendo saúde física e mental.
2.2 Existência Humana
O homem anseia por completude, se encontrar, sua busca por aquilo que é essencial em
sua vida é contínua, na luta por satisfazer-se interiormente, acaba misturando alguns termos e
se perdendo na forma de conduzir o vivido.
A uma preocupação no mundo globalizado e repleto de estímulos, onde se valoriza a
ferramenta, o produto, o que “precisamos para”, e que de fato nossa visão se torna pequena olhando por um aspecto causalista, onde a resposta é pronta, rápida demais, superficial. O foco
acaba sendo outro, o questionamento é muito do que preciso ter para ser tal coisa ou se chegar
a algum objetivo.
O propósito do homem dentro da perspectiva existencialista é de construção enquanto
ser humano, no fundamento do ser para o encontro daquilo que é, ao contrário do que se vê na
atualidade, desmistificar e quebrar um paradigma que foi sendo instalado na sociedade de que
ser feliz só se conquista “de uma forma”.
Historicamente, a palavra essência é anterior. Essentia, forma latina, deriva do verbo
esse, ser. Quando os latinos se entregavam à meditação filosófica, a pensar aquilo que
é, diziam estar pensando na essência da coisa. Só muito mais tarde surgiria em latim
a palavra existentia, existência, derivada de existere, que que significa sair de uma
16
casa, um domínio, um esconderijo. Mais precisamente: existência, na origem, é
sinônimo de mostrar-se, exibir-se, movimento para fora. Daí, denominar-se
existencialista toda filosofia que trata diretamente da existência humana. O
existencialismo, consequentemente, é a doutrina filosófica que centra sua reflexão
sobre a existência humana considerada em seu aspecto particular, individual e
concreto (PENHA, 2004 p. 11-12).
Importante ressaltar o ser enquanto algo que se constrói, solidifica ao longo do caminho
na existência humana, o trabalho que se tem em educar filhos é, antes em primeira instância, o
convite a ser pessoa, homem, resgatando sua individualidade, liberdade, autonomia de vir a ser
o que se é.
Antes de exercer os diversos papéis que venha a desempenhar perante a sociedade e a
própria família, o desafio de ser pessoa, é e está no encontro consigo, a identidade que vai se
formando, pois o fim é o definitivo, que se encerra, e o projeto de ser homem na vida só termina
com a morte corporal.
A existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe,
descobre-se, surge no mundo; e que só depois se define. O homem não é nada mais
do que aquilo que se projeta ser. A essência humana, portanto, só aparece como
decorrência da existência do homem. São seus atos que definem sua essência
(PENHA, 2004 p. 60-61).
A partir da existência que a pessoa se constitui, descobre-se enquanto ser humano,
percebe o mundo de forma bem particular e é validado através do contato estabelecido com o
outro, que não é só pessoa física, mas, todo e qualquer detalhe que toque o nosso ser no sentido
de dar-se conta, conscientizar do eu que se presentifica a todo instante no fenômeno do
reconhecer-se, sendo atualizado no aqui agora.
Para o existencialismo, a liberdade é a capacidade do indivíduo de decidir sobre sua
vida, escolhendo-a e por ela se responsabilizando (PENHA, 2004 p.63).
A todo momento se escolhe, decide na vida, é preciso, constante, por vezes imediato e
com um grau elevado de exigência; o indivíduo é fruto de suas escolhas e consequentemente
responsáveis por ela, o problema são as experiências colhidas como forma de resultado por
escolhas mal sucedidas, precipitadas.
A responsabilidade em assumir os atos, é grande, não somente no sentido de tomar para
si a causa, mas de dar conta de toda problemática que cerca a situação, pensando sempre em
contexto, pois no texto que se apresenta sempre nos bastidores da vida há um todo que justifica,
e no inverso obscuro de tudo isso, pode ser que se extraia o valor que é subestimado, por olhar
a causa como principal e não seus efeitos.
17
O homem é, antes de tudo, aquilo que projeta vir a ser, assim, a primeira decorrência
do existencialismo é colocar todo homem em posse daquilo que ele é (SARTRE, 2010,
p. 26).
Se o indivíduo não for dele mesmo, como será de alguém? Humanizar-se vem do ato de
construção humana como um projeto que não fecha em si mesmo, não se conclui, pois não
existe ser humano pronto, o que existe é um ser subjetivado que recebe influência social,
histórica, cultural dentro da existência do homem e pelo homem o projeto de devir continua, se
reinventa, dá uma nova estrutura, forma síntese que não é estática, mas dialética, a idéia é de
reconstrução, caso contrário, o homem fica enclausurado, fechado em seu mundo, sem
substância, muito menos existência.
Portanto, existir é uma possibilidade, que se concretiza a medida que se constrói
enquanto pessoa, só existe a partir do momento que se cria, se encontra e que nunca termina,
sempre há algo a ser revisto, melhorado, aperfeiçoado.
2.3 Essência e o ser do homem
Quanto mais o tempo passa, maior a necessidade de buscar o essencial para vida, mas
afinal o que é essencial? Para quê? Para quem? Qual o sentido que é atribuído e que se
caracteriza essência? Pensando por este viés, essência na existência humana, é aquilo que é
construído e cabe ao indivíduo dar significado a partir do que se percebe e vivencia.
Antes de começarmos a viver, a vida, em si não é nada, mas nos cabe dar-lhe sentido,
e o valor da vida não é outra coisa senão este sentido que escolhemos (SARTRE,
2010, p. 59).
Uma experiência um tanto quanto particular, mas não sozinha, individual jamais, o ser
no mundo, implica ser afetado pela experiência sentida, através do vivido, o sentido se encontra
aí, da ação do corpo em movimento, de uma busca real pelo concreto da vida, objeto que deseja
tornar-se palavra para significar o contexto em que cada pessoa vive.
Essência, etimologicamente, é assim definida: natureza íntima das coisas; aquilo que
faz que uma coisa seja o que é ou lhe dá a aparência dominante; aquilo que constitui
a natureza de um objeto (CAMON, 2007, p. 22).
A essência ao se tratar de algo a atingir, dá-se a impressão de ser distante, inalcançável,
fora da pessoa; se essência é algo a ser cultivado, logo há necessidade de ser íntimo, conhecer
18
e estar aberto ao novo, reconhecendo o que está oculto, não ter a ideia de concretude apenas,
mas na abstração se colhe o saber para chegar ou ter proximidade com aquilo que se propõe a
alcançar, essência neste caso é um projeto de vida.
A essência humana, tem condições de desenvolver-se e transformar-se segundo
projetos de vida previamente estabelecidos pelo próprio homem. A essência, ao ser
determinada pela existência, torna-se a própria dimensão da vida em sua forma mais
exuberante, dessa forma, jamais é estática ou a mera repetição de fenômenos a partir
de fatos ocorridos no passado. Essa condição assegura ao homem a peculiaridade de
poder se transformar e, se necessário, recomeçar e reconstruir a cada instante uma
vida quedada diante do sofrimento e das agruras da existência (CAMON, 2007, p. 24).
É constante a construção do ser pai simplesmente pelo fato de que educar é educar-se
não só o movimento para o outro, sendo assim, é contínua a transformação, o projeto se
diversifica, estabelece rumos diferentes, aqui se encerra a ideia de estrutura formada e sim a
ressignificação, um olhar diferenciado diante de uma mesma situação para que não se caia na
mediocridade de enxergar apenas um ponto de vista.
O homem é mais do que um ser sócio, histórico e cultural, é marcado pelas fragilidades
da vida e os acontecimentos que ficaram eternizados no coração. Este é tocado no muito, no
diverso de si mesmo, afetado pelo que o ambiente oferece, entre estímulos que reforçam o
positivo jeito de olhar e o ser, convidado a ser inteiro novamente, quebrado em partículas que
se juntam e dão forma, configurando e conectando o eu, o vir a ser e o todo que é imperfeito
pelo humano limitado.
O ser humano se revela no que é, se aventura neste ser, para que o todo que busca, seja
fragmentado em partes que formam figura e fundo, com a pretensão, a ideia e a visão holística
de homem, integral e descritiva.
Assim, se constrói no fenômeno, no inverso de si mesmo e na consciência de ter
consciência de si, pois os contrários revelam o que ainda pode ser, que dá sentido à existência,
o dar-se conta no aqui agora.
Viver o campo da fantasia é experimentar o ser criativo para abrir as oportunidades
tocando a realidade concreta, sendo assim, o homem constitui-se na vida como autor e
personagem de sua história. Personagem de uma vida que ele mesmo constrói e que por sua vez
o constitui como autor.
O homem é o ser que existe, ao contrário de outros seres e objetos que apenas são. O
ser é. O ser é em si. O ser é o que é. O homem, no entanto, é um ser para si (CAMON,
2007 p. 26).
19
Como dito anteriormente, a essência se constrói pelo ato humano de ser, sendo o que o
ser é, o homem, é um ser para si, pois continuamente busca-se nessa substância para se chegar
nele mesmo, o homem para ser o que é, antes é uma possibilidade para à realidade, o homem
existe independentemente de qualquer coisa, os objetos são, existir não é sinônimo de ser, o ser
do homem é um poder ser, existir é partir daquilo que se é, existir é ser um ser possível.
2.4 Relacionamento
O olhar que tem a capacidade de encontrar aquilo que se é, atravessar histórias jamais
contadas, riquezas não reveladas. Que bom seria, olhar sempre como se fosse a primeira vez,
alcança o que não precisa ser dito, conhece bem, porque olha devagar, sem pressa em realizar
o que se quer, mas o que pode ser, cada detalhe é um conhecimento para poder ser, respeitar o
jeito e o tempo de amadurecer, as palavras convencem, o testemunho arrasta.
Muitas vezes o olhar do filho é um clamor, um grito de desespero, uma atenção que se
faz necessária, perceber o filho, é enxergar além do que se vê, mas um campo muito sensível
que só sabe fazer uma leitura visual da condição que o mesmo se encontra, à medida que há um
contato transparente na relação, sem muitas vezes ter a necessidade de utilizar palavras, pois
cada filho é diferente e nesta diferença que a criatividade de ser pai é convidada a ser.
O ser humano é um ser de ação, pensa, se move e sente, cada qual com sua
especificidade, não têm o direito de cobrar aquilo que não se tem ou que tem mas não foi
descoberto e se descoberto não foi usado da maneira que faça diferença na vida e nas pessoas.
Há um desejo profundo de ver o ser humano se encontrar de alguma forma como
pessoas, seres capazes de viver humanamente suas vidas, construir valores e dar espaço para o
outro, quando se tem a possibilidade de fazer isso, esvazia-se de si para que o outro seja, é a
oportunidade desejada para quem vê além daquilo que se mostra para então, identificar o que
realmente é.
A particularidade de ser livre para poder ter acesso ao específico que os tocam como
pessoas, formas diferentes de se chegar mas com objetivo de transmitir a mesma mensagem,
cada qual com sua maneira, nem maior, nem menor, a arte de descobrir-se humano para se
aventurar no universo interior e deixar essa introspecção desabrochar para o outro que o recebe
e fazer a diferença necessária.
Limites necessários para o desafio constante da vida e ser gente a partir deste
crescimento que convida a todo momento através dos obstáculos e o inesperado, surpresas que
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nem sempre são bem vindas, mas olhando devagar, são pérolas preciosas para algo acontecer
dentro de nós.
Existem encontros quando se busca alguma coisa, a sensação de incompletude leva o
indivíduo a percorrer caminhos e conduzir a direção que precisa trilhar, mesmo sem saber ao
certo o destino, o chegar depende muitas vezes de escolhas, decisões que não são fáceis, mas
ao aceitar o convite do desafio que se apresenta, com coragem, há uma potência de vida interna
em cada ser humano que possibilita enfrentar as dores e as diversas situações conflituosas que
aparecem.
Encontra-se de verdade, na realidade tal como é, nos defeitos e qualidades, no melhor
momento e na desintegração também, desesperado, abandonado, sem esperança, ao contrário,
encontra-se na alegria sem expectativas sobre o outro, pois se esperar demais de algo ou de
alguém, o mundo que imagina no outro pode desabar, encontrar-se de verdade, na certeza de
saber que não pode esperar muito e sim conhecer sempre, o outro é o que é e a compreensão
tem que passar por isso, respeitar e aceitar o jeito de ser.
EU E TU não é simplesmente uma descrição fenomenológica das atitudes do homem
no mundo ou simplesmente uma fenomenologia da palavra, mas é também e
sobretudo uma ontologia da relação. A reflexão inicial de EU E TU apresenta a
palavra como sendo dialógica. A categoria primordial da dialogicidade da palavra é o
“entre”. Não é o homem que conduz a palavra, mas é ela que mantém no ser. Para Buber a palavra proferida é uma atitude efetiva, eficaz e atualizadora do ser do
homem. Ela é um ato do homem através do qual ele se faz homem e se situa no mundo
com os outros. A palavra, como portadora de ser, é o lugar onde o ser se instaura como
revelação. A palavra é princípio, fundamento da existência humana. A palavra como
diálogo é o fundamento ontológico do inter-humano (BUBER, 1974 p. XL-XLII).
Viver a dinâmica da vida com tudo o que se é ou que faz parte do ser, partes que se
configuram num todo, o contrário também é verdadeiro, o conhecer em sua totalidade requer
paciência, respeito a individualidade, enxergando o essencial, assim como lentes, ampliando a
visão empática de outra realidade que está por chegar, pode entrar, senta aqui, fique à vontade,
seja livre para poder ser, sem interrupção, apenas seja e o que sobrar deste encontro, recolhe-se
para uma próxima oportunidade.
Os porquês pede explicação, a finalidade é o que importa no momento em que a
resposta não vêm, onde se quer chegar é o foco, na ausência de diretrizes conhece-se e
reconhece-se que o encontrar depende do movimento e da direção que conduz, à partir daquilo
que é próprio do sentir, de repente algo que se procura, concretiza-se por algum ato e se
maravilha por ter sido correspondido.
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O homem é um ente de relação ou que a relação lhe é essencial ou fundamento de sua
existência. Eu-Tu e Eu-Isso. A primeira é um ato essencial do homem, atitude de
encontro entre dois parceiros na reciprocidade e na confirmação mútua. A segunda é
a experiência e a utilização, atitude objetivante. Uma é a atitude cognoscitiva e a outra
atitude ontológica (BUBER, 1974 p. XLIV).
No silêncio da intimidade que se estabelece, no particular, onde ninguém tem há
possibilidade de ouvir e ver, quando o filho encontra-se sozinho, é ali que a escola do
crescimento convida a ser, sem a obrigação de realizar os desejos alheios, o direito de se abrir,
na loucura e na essência de fazer acontecer o inesperado, colocando para fora a arte e a
originalidade do que se é, esta é a oportunidade que o Pai tem para intervir no sentido relacional
consigo, com o outro e com o mundo.
A linguagem do amor que sacia como pessoa, formas criativas de atingir o coração que
deseja afeto, estranho jeito de demonstrar, mas é o jeito que podes dar, não se cobra nem há
aborrecimentos, a leitura que se faz do compreender deve ser demorada e sem preconceitos.
Esse jeito de demorar nos sentimentos, viver as palavras de forma intensa, vida que se
vive através desta sensibilidade aguçada, pela humanidade sofrida e a felicidade que é plena,
ao ver gente sendo gente quando se encontra, toma posse da maravilha que é ser pessoa e
desdobra-se para o outro fazendo derramar os efeitos de uma alegria conquistada através da
dor, quanto mais fores essência, tanto mais uma vida de aparência é deixado de lado, fazendo
cair possíveis máscaras que superficializa e impede de ver além. Permitir enxergar o todo para
que não se corra o risco de cair na mediocridade de ficar preso em partes que te revele, oferecer
outro lado para que esta profundidade leve ver o que está invisível aos olhos.
Este olhar humanístico que faz respeitar o que é, ser empático e coerente consigo
mesmo, é uma forma de assumir a identidade, marcada pelo selo que identifica como ser
humano e nesta carta, descrever a vida nos sentidos e a intuição que diz, é por aqui.
A viagem é longa, entrar em contato com os sentimentos gera angústia, ficar parado não
é uma boa escolha, a velocidade dos pensamentos, com os batimentos do coração e o corpo
desconectado por este amálgama de acontecimentos.
O que passou não volta, não se muda algo que já aconteceu, só não há mudança no agora
se a lamentação aprisionar e ficar preso a criança que não quer crescer, atitude racional de
decidir-se, de sair do estágio infantil, para assim, assumir uma vida de responsabilidade, é
amadurecimento que estabelece a condição de seres imperfeitos mas que direciona para lugares
melhores do que se encontra no momento.
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Nesta viagem aonde idas e vindas são trajetórias que se cruzam no coração que sabe
trilhar nos caminhos que esta estrada percorre, conduz para vários lugares e orienta em meio
aos contratempos do quotidiano.
A vida é uma troca de experiências que no drama faz as pessoas representarem, atuar
com papéis diversificados a cada passo, ao ponto de serem artistas de si mesmos, artista que
empresta arte em quem chega, identificando assim o personagem e ao final perceber o concreto
e fazer desta troca uma vida nova.
A atitude do Eu pode ser o ato essencial que revela a palavra proferida com a
totalidade do ser, ou então uma postura noética, objetivante. Na primeira, o Eu é uma
pessoa e o outro é o Tu; na segunda, o Eu é um sujeito de experiência, de
conhecimento e o ser que se lhe defronta um objeto. A este segundo tipo de Eu, Buber
chama de ser egótico, isto é, aquele que se relaciona consigo mesmo ou o homem que
entra em relação com o seu si-mesmo (BUBER, 1974 p. LII).
A interpretação muitas vezes na intenção de definir, tira a possibilidade do outro ser
inteiro, pois, não se atingiu o nível de compreensão empática sentida na relação. O humano se
derrama, quer chegar, mas sem forças para alcançar, sem saber o porquê e como será. Espelho
da alma, que reflete o sofrimento identificado depois de ser esmiuçado na relação de encontros,
que se encontra por aí, uma voz penetra as entranhas reservadas, chegou de uma forma que não
conhecia, mas conquistou o lugar que precisava ser olhado com mais carinho.
O Tu orienta a atualização do Eu e este, pela sua aceitação, exerce sua ação na
presentificação do outro que, neste evento, é o seu Tu (BUBER, 1974 p. LVIII).
Há um mundo dentro de si, uma subjetividade revelada e outra por ser explorada, a
definição pode se tornar o fechar de conclusões que ainda não estão amadurecidas para serem
definitivas; investigar, conhecer sem cessar e assim a cada dia descobrir algo novo que nos faz
ressignificar a vida e o outro, longe do que enclausura o já saber, perto do que ainda está por
ocorrer.
Na abertura do processo de devir que se estabelece profundidade em quem bate à porta
é a oportunidade de se auto atualizar na medida em que se enxerga as pessoas como reflexos de
si mesmo, considerando a perspectiva da relação de crescimento através do contato.
As questões internas, o ponto de interrogação insiste em dizer vai, não para, a filosofia
de vida, abraçada a psicologia humana, estendida pela fé em acreditar no que pode acontecer
de bom para humanidade ser melhor, criando meios para sair do óbvio das reclamações e
imaginar saídas que poderão ser concretizadas a partir do sim de cada ser humano.
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O relacionamento estabelece um diálogo entre o Eu e o Tu, um ser no estar consigo,
com o outro e o mundo da experiência. O ser consigo mesmo significa que para ser Eu, preciso
de um Tu, não há reconhecimento do Eu sem a presença do Tu, que não é só pessoa física, mas
qualquer fenômeno que se manifesta para si e no em si.
Em seguida o Eu-isso, o campo do vivido, experiencial, concreto, o isso é a experiência
da relação, o homem não pode viver sem o isso, mas se viver “só” do isso, a vida perde sentido, por ficar somente no ato da ação, a vida é o encontro existencial entre a concretude e a
subjetividade, o que surge da relação e o que se manifesta na experiência.
O Tu se revela, no espaço, mas precisamente, no face-a-face exclusivo no qual tudo o
mais aparece como cenário. O Tu se manifesta como aquele que simultaneamente
exerce e recebe a ação, sem estar no entanto, inserido numa cadeia de causalidades,
pois, na sua ação recíproca com o Eu, ele é o princípio e o fim do evento da relação.
O mundo do Isso é coerente no espaço e no tempo, o homem não pode viver sem o
Isso, mas aquele que vive somente com o Isso não é homem (BUBER, 1974 p. 3439).
Na relação entre Pai e filho, há uma distância de vivência, autoridade, hierarquia,
quando um filho levanta a voz ao Pai, ele automaticamente sai de seu lugar no sistema familiar,
bagunça este lar, há uma quebra na hierarquia, sendo que o sistema tende a se auto regular e
organizar-se pelo funcionamento natural e espontâneo de suas partes.
O ser humano recebe no mundo influência pela forma vivida nos lares domésticos, frutos
de todos os relacionamentos tecidos, por não viver seu eu verdadeiro, cria-se uma expectativa,
um modo de ser que causa satisfação, prazer, mas gera sofrimento psíquico.
O homem que vive no arbitrário não crê e não se oferece ao encontro. Ele desconhece
o vínculo;; ele só conhece o mundo febril do “lá fora” e seu prazer febril do qual ele sabe se servir. O homem arbitrário, incrédulo até a medula, não pode perceber senão
incredibilidade e arbitrário, escolha de fins e invenção de meios. Assim, em sua autosuficiência ele é engolfado simples e inextrincavelmente pelo irreal e ele sabe disso
sempre que sobre si se concentra e é por isso mesmo que ele empenha o melhor de
sua espiritualidade para impedir, ou, ao menos, ocultar esta lembrança. Mas se a
lembrança de sua decadência, de seu Eu inatural e de seu Eu atual, permitir alcançar
a raiz profunda que o homem chama desespero e de onde brotam a autodestruição e a
regeneração, isto já seria o início da conversão (BUBER, 1974 p. 70-71).
Autenticidade provoca autenticidade em quem chega, o pai é exemplo de postura,
comportamento para o filho, sendo que o mesmo percebe e associa a coerência entre o que o
pai vive, seu jeito humano de ser, com aquilo que fala ou demonstra ser; estabelecer vínculo
com o filho e ter um encontro real sem máscaras, é preciso se oferecer ao encontro de maneira
transparente, não se dar a conhecer pela imagem que se queira passar, mas entrar no profundo
da intimidade favorecendo assim o crescimento desta relação.
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Tomar posse do que se é, é se livrar desta casca, sem criar mecanismos de defesa para
se justificar por argumentos racionais a sua dor; a vida autêntica requer um desdobramento
pessoal, um compromisso com a vida interior de cada humano que se aproxima, pois este é o
espelho para o reconhecimento de suas esferas, por onde mais se teme é o local que mais seria
convidados a ser.
Esta é a visibilidade que o filho precisa para se desenvolver no curso natural de sua vida,
tendo amparo nas escolhas, coragem em ser antes de qualquer utilidade do fazer, se construir
humanamente, pois o homem que se tornar, será a humanidade que estará construindo e
responsável por tais atitudes.
A finalidade da relação é o seu próprio ser, ou seja, o contato com o Tu. Pois, no
contato com cada Tu, toca-nos um sopro de vida eterna. Quem está na relação
participa de uma atualidade, quer dizer, de um ser que não está unicamente nele nem
unicamente fora dele. Toda atualidade é um agir do qual eu participo sem poder dele
me apropriar. Onde não há participação não há atualidade (BUBER, 1974, p. 73).
Não basta estar presente, é preciso se fazer presente na relação, o fato de estar junto sem
participação, envolvimento, atenção concentrada diante do que o filho traz como fenômeno, é
vazia sem conexão, portanto, sem atualização no processo de renovação daquilo que precede, a
existência do ser da relação.
Há diferença entre as interpretações humanas, como também semelhanças no modo de
ser, interessante pensar o que e como o filho percebe o contexto e o agir perante o que é
proposto; educar o filho para a verdade e a integridade de seu ser autêntico, no sentido de formar
pessoa, não, há imagem que se tem da pessoa, assim como Buber enfatiza do ser pessoa e do
ser egótico, para a pessoa ela é, o egótico se justifica o tempo todo na relação, uma forma de se
auto-afirmar, racionalizando os conceitos, sempre voltados para si, mas não a favor do
crescimento autêntico de si e do outro.
A pessoa toma consciência de si como participante do ser, como um ser-com, como
um ente. O egótico toma consciência de si como um ente-que-é-assim e não-de-outromodo. A pessoa diz: “Eu sou”, o egótico diz: “eu sou assim”. “Conhece-te a ti mesmo” para a pessoa significa: conhece-te como ser; para o egótico: conhece o teu modo de
ser. Na medida em que o egótico se afasta dos outros, ele se distancia do Ser. Com
isso não se quer dizer que a pessoa “renuncie” ao seu modo de ser específico, mas somente isso: este não é somente o seu ponto de vista, mas a forma necessária e
significativamente de ser. Ao contrário, o egótico se delicia com seu modo-de-ser
específico que ele imaginou ser o seu. Pois, para ele, conhecer-se significa
fundamentalmente sobretudo estabelecer uma manifestação efetiva de si e que seja
capaz de iludí-lo cada vez mais profundamente; e pela contemplação e veneração
desta manifestação procura uma aparência de conhecimento de seu próprio modo-deser, enquanto que o seu verdadeiro conhecimento poderia levar ao suicídio ou à
regeneração. A pessoa contempla-se o seu si-mesmo, enquanto que o egótico ocupa-
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se com o seu “meu”: minha espécie, minha raça, meu agir, meu gênio (BUBER, 1974
p. 74-75).
Em que momento o ser Pai se encontra, no ser pessoa ou no ser egótico, ou ainda, um
homem que se intercala entre um e outro? O que importa primeiramente é a consciência e a
consequência que ambos provocam e o que desta experiência possa surgir uma nova forma de
vida, sabendo que o processo é contínuo e a pessoa é imperfeita mas o que tem deve estar
convicto é a busca pelo ser pessoa, se é que se reconheça como uma forma de vida saudável,
equilibrada, rumando a potência de vida.
Para o desafio de ser pessoa e transmitir para o mesmo que o recebe, ser alguém é viver
o que se quer, porquê, para que e onde se quer chegar com tudo isso, sendo que para o egótico
ser alguém é ser algo, na medida que este ao se distanciar do ser, não cria vínculos, não se
compromete e por fim, não amadurece, porque se vive a parte boa, quando é exigido um
comprometimento verdadeiro consigo, o egótico busca explicações para se justificar, vive sua
imagem como a real adotando um personagem para se identificar, onde há, ao menos uma
aparência de sucesso, bem resolvido, mas que no íntimo a angústia existencial só cresce.
Enquanto o Pai não tomar consciência de si, como limitado e aceitar sua condição de
um ser com falhas, porém, com potencial criativo para busca de sentido na existência, a
probabilidade de influenciar o filho para tal comportamento ou manifestações conhecidas como
“inadequadas”, é muito grande, pois, para ser, é preciso saber estar, no aqui agora da relação,
caso contrário, seria o mesmo que uma viagem sem destino.
3 O Ser Família
A família é quem dá vida ao indivíduo, lugar de geração, constituição, criação no seio
familiar, por onde se constrói o senso de realidade, aprende a dar os primeiros passos, começa
a falar, andar, ter sensações e percepções do mundo concreto, à partir das relações estabelecidas
pelas primeiras inscrições das pessoas que cuidam, via de regra, os pais.
Por mais que se diga, “não pertenço a esta família”, não gosto, não quero, para esta, só o meu desprezo, pensando que a família ao lado sempre é a melhor, mais saudável, vivem de
forma harmoniosa, aparentemente sem tantos conflitos.
Mero engano, toda e qualquer família existem conflitos, danos e perdas, o problema é
tratar os conflitos como problemas, impedindo de ver a beleza e o significado do conflito, aquilo
que produz, que nasce desta experiência, pois se olha o concreto, o que acontece, mas perde-se
oportunidade de crescer através do sentido do fenômeno.
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O que é a família? A família é um conjunto de pessoas que se unem pelo desejo de
estarem juntas por uma dinâmica chamada afetividade. E a afetividade é o maior
conflito humano porque envolve o seguinte: eu amo muito o meu filho e é com ele
que eu mais brigo. É preciso suportar esse conflito, compreender esse conflito porque
sabemos que quando a gente briga em casa é sinal de amor. Que a gente pode brigar,
gritar e depois reparar, pedir desculpas, beijar, abraçar. É o conflito que nos mantém
vivos (CAPELATTO, 2001, p. 19).
O conflito em si não é bom, mas o que dela produz é necessário para o crescimento e
desenvolvimento da relação, o que se percebe no senso comum é uma distorção do termo, olha
para o conflito enquanto brigas, intrigas, até chegar a famosa frase: “vamos evitar o conflito”. A questão não é o que faz para, mas ter capacidade de enfrentamento da realidade, à
medida que se deixa passar qualquer tipo de conflito sem se tocar, criando lacunas, formando
feridas, afastando de si mesmos, o medo da vida autêntica, de se perder no outro, porque antes
não aprendeu ter uma experiência individual.
Ao fazermos um breve retrospecto da constituição, do funcionamento e da
importância social da família, constataremos que são definidos de acordo com
conveniências sociais, políticas e econômicas. O termo família surge em Roma para
designar o conjunto dos escravos pertencentes a um mesmo homem, originado de
famulus, que nominava o escravo doméstico (SILVEIRA, 1998 p. 32).
O ser família implica em mudanças de mentalidade acerca daquilo que se observa e
como de acordo com cada perspectiva, pode-se chegar a lugares em comum juntos, respeitando
o jeito humano de ser de cada membro familiar, para assim pensar em novas possibilidades de
construir um lar, que seja de humanização pela experiência individual do ser, afetando o
coletivo com espírito de comunidade, atingindo a potência nuclear desta que deseja ser família.
Para tanto, desprender-se de si, abrir mão de algumas coisas, estar aberto para as
diversas mudanças e imprevistos, estando consciente que não se tem o controle de tudo e que
as situações acontecem sem que se espere, já é um começo rumo ao crescimento natural e
espontâneo na forma de ser e o lugar com que cada um ocupa neste espaço doméstico.
4 O Pensar Sistêmico como Influência na Comunicação da Família
Para saber o pensamento sistêmico é necessário entender a história da evolução das
ciências. A palavra sistema, significa colocar junto, portanto, pensar sistematicamente é estudar
como ocorrem as relações entre as partes, dessas com o todo e esse todo com os demais
sistemas. Para compreender cada ciência deve-se olhar para seu paradigma, ou seja, são os
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óculos nos quais se enxerga o mundo, seguindo um padrão, uma linha e assim ampliar a visão
que se tem da realidade.
O mundo é visto como uma rede de relações, envolvendo conexões, interconexões,
movimento, fluxo de energia, inter-relações em constante processo de mudança e
transformação. Portanto, o pensamento sistêmico é não linear, dinâmico, processual e
a noção de rede foi a chave para os recentes avanços científicos. A “complexidade organizada” – a vida se fundamentava numa teia de relações ou de sistemas dentro de
sistemas, conectados com outros, em níveis diferenciados de complexidade. Em vista
disso, as partes já não podem mais ser entendidas como entidades isoladas, mas como
elemento de interação e interconexão com outros elementos determinados pela
dinâmica do todo (OLIARI, 2008 p. 43-44).
A concepção sistêmica de mundo possibilita a aceitação do diferente, da diversidade, do
complexo, do movimento, da evolução, do processo de desequilíbrio e do caos, da desordem
para uma nova ordem. Engloba o processo de autonomia, a capacidade de decisão e escolha,
acredita no potencial espontâneo, criativo, inovador e transformador existente nos sistemas
vivos, inclusive no homem, incluindo também a espiritualidade.
O pensamento sistêmico é uma nova forma de ver a realidade, as características das
partes são encontradas no todo e do todo nas partes enquanto interconexões, possibilitando a
identidade do sistema. É contextual, analisa o fenômeno colocando-o no contexto mais amplo,
percebendo suas relações, interconexões e multidimensões, considera-se funcional o que é
adequado ao contexto, espaço e tempo, o que gera crescimento, aprendizagem e mudança.
Esta nova forma de ver o mundo, permite visualizar de maneiras diferentes as relações
familiares, proporcionando uma visão abrangente da realidade, aumentando a capacidade de
olhar o contexto situacional, identificando as formas com que cada um interage e se comporta.
Ou seja, como cada indivíduo tem a possibilidade de se comunicar, a partir do entendimento
com que o ser humano enxerga a vida.
O relacionamento é uma arte na qual nenhum ser humano está isento de viver, o
indivíduo é um ser político, social, em interação com o meio e deste forma-se a concepção de
mundo, visão de homem, a todo momento comunica-se algo, mesmo na ausência de palavras.
O que importa retratar aqui, é a comunicação na família, como é, como está, de que maneira
pode-se alcançar a linguagem do outro, qual é a forma com que cada integrante da família
recebe a mensagem transmitida.
Recorde-se que, em toda e qualquer comunicação, os participantes oferecem-se
mutuamente definições de suas relações ou, em termos mais categóricos, cada um
deles procura determinar a natureza da relação. Do mesmo modo, cada um reage com
a sua definição das relações, a qual pode confirmar, rejeitar ou modificar a do outro
(BEAVIN, JACKSON & WATZLAWICK, 2013, p. 121).
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Pensando nessas questões, vale ressaltar os axiomas da comunicação humana que
influencia e interfere diretamente na forma de tratamento das relações familiares.
No seu livro a Pragmática da Comunicação Humana, de Watslawick, editado em
1967, os autores apresentam os padrões de interação, através de cinco axiomas da
comunicação (ABREO, 1998, p. 43).
- A Impossibilidade de Não Comunicar
- O Conteúdo e Níveis de Relação da Comunicação
- A Pontuação da Sequência de Eventos
- Comunicação Digital e Analógica
- Interação Simétrica e Complementar
4.1 A Impossibilidade de Não Comunicar
Desde os primórdios existe comunicação e é através dela que consegue transmitir ideias,
pensamentos, mensagens, ação e produtividade. A comunicação é uma arte que ninguém está
livre de ser, utilizar e viver, sendo que há várias formas de se comunicar, mesmo na ausência
de palavras se diz algo.
O primeiro axioma da Teoria da Comunicação diz que é impossível não comunicar,
isto é, todo comportamento é comunicado e, portanto, qualquer comportamento tem
um valor de comunicação e de mensagem. Palavras ou silêncios, atividade ou
inatividade, gestos, emoções, sussurros, gritos, são mensagens e influenciam as outras
pessoas que respondem de alguma forma a partir da interação (ABREO, 1998 p. 44).
Por mais que não se tenha a intenção de comunicar ou comporta-se contrário ao que a
mensagem quer chegar, fala-se pelo silêncio, expressões, gestos, até ficando parado já indica a
comunicação de não querer se comportar de acordo com que é proposto.
A não comunicação constitui uma mensagem, todo comportamento é comunicação, não
tem oposto, não existe a possibilidade de não se comunicar, é uma condição fundamental da
vida humana e das relações, a pragmática da comunicação vai enfatizar os efeitos da
comunicação humana sobre o comportamento e assim mostrar o que são tais axiomas
comunicacionais.
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4.2 O Conteúdo e Níveis de Relação da Comunicação
Uma comunicação transmite uma mensagem ou informação e impõe um
comportamento, segundo Bateson duas operações acabaram sendo conhecidas como os
aspectos de relato e ordem de qualquer comunicação.
O segundo axioma da Teoria da Comunicação diz que toda comunicação implica e
define uma relação, quer dizer, a comunicação não só fornece informação mas
determina comportamentos. Toda comunicação tem também uma natureza, uma
forma relacional (ABREO, 1998 p. 44).
O aspecto relato de uma mensagem transmite informação, portanto é sinônimo do
conteúdo da mensagem. O aspecto ordem, refere-se à espécie de mensagem e como deve ser
considerada e também às relações entre os comunicantes, o que é importante para a reflexão é
a relação existente entre o conteúdo (relato) e a relação (ordem) da comunicação.
Os aspectos de relato transmite os dados da comunicação, enquanto os aspectos de
ordem orienta como essa comunicação deve ser entendida.
A relação entre o conteúdo relato e a ordem ou forma constitui uma metacomunicação
e quem media esta ação deve estar atento a esses comportamentos e utilizar as técnicas
necessárias para atingir o mesmo, pois se discute o conteúdo quando se pretende definir a
relação.
4.3 A Pontuação da Sequência de Eventos
A intenção ou troca de mensagens entre comunicantes é de fundamental importância
para identificar quem comunica, quem responde, quando e como, para obter informações a
respeito do equilíbrio ou desequilíbrio de poder, acessar, constatar os estados emocionais e
outras mensagens significativas.
O terceiro axioma da Teoria da Comunicação diz que a natureza da relação está
relacionada com a pontuação, pois quando duas pessoas se comunicam impõem um
certo tipo de ordem causal à comunicação, porque cada um dos comunicantes tenta
definir o que é estímulo e o que é resposta. Onde está o início ou seja, quem inicia o
comportamento e qual é o tipo de comportamento que pode ser considerado como
resposta (ABREO, 1998 p. 44-45).
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A pontuação organiza os eventos comportamentais, importante para as interações em
curso, elas diferenciam progressivamente as questões das relações, as pessoas pontuam os
acontecimentos de acordo com o seu ponto de vista, contanto que a natureza de uma relação
está na contingência da pontuação das sequências comunicacionais entre os comunicantes.
4.4 Comunicação Digital e Analógica
Os seres humanos comunicam digital e analogicamente. A linguagem dígita é uma
sintaxe lógica sumamente complexa e poderosa, mas carente de adequada semântica no campo
das relações, ao passo que a linguagem analógica possui a semântica, mas não tem uma sintaxe
adequada para a definição não ambígua da natureza das relações.
O quarto axioma da Teoria da Comunicação diz que os seres humanos se comunicam
verbalmente (digitalmente) e não verbalmente (de um modo analógico). Por
comunicação analógica entendem-se: todas as formas não verbais de comunicação
(gestos inflexões de voz, lágrimas, risos, postura corporal) e os signos de comunicação
existentes nesse contexto, que nos fornecem indicações sobre essa relação. A
comunicação digital ou verbal serve para comunicar a um nível conceitual, é a mais
adequada para transmitir notícias, intercambiar informações sobre objetos e transmitir
conhecimentos através dos tempos, mas nos fornece uma informação menor sobre o
nível relacional. Se as palavras são o conteúdo da mensagem, as posturas, gestos,
expressão e tom de voz é o marco da mensagem e juntos dão sentido à comunicação
(ABREO, 1998 p. 45).
A linguagem Digital é objetiva, precisa maior versatilidade e a Analógica mais
subjetiva, ambígua, mais riqueza do ponto de vista afetivo. Pode-se dizer que toda a
comunicação tem um conteúdo que é a forma digital e uma relação que é de natureza analógica.
Os dois devem estar em sintonia, sendo que na mediação em que a comunicação se realiza
frente a frente, ganham força os conteúdos analógicos como: um sorriso, brilho dos olhos,
aperto de mão, tom da voz, disposição para ouvir, postura corporal e outros que valorizam as
emoções e podem ser explorados na relação e principalmente pelo mediador.
4.5 Interação Simétrica e Complementar
A interação simétrica é caracterizada pela igualdade e a minimização da diferença e a
interação complementar baseiam-se na maximalização da diferença. A simetria proporciona
condição de diálogo entre os mediandos, entretanto, se ela conduz a uma escalada de violência
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(situações onde as pessoas gritam se confrontando e falando cada vez mais alto) ou a uma
paralisação da fala, o mediador deve restaurar o nível adequado de comunicação.
O quinto axioma da Teoria da Comunicação diz que todos os intercâmbios de
comunicação são simétricos ou complementares, segundo se fundamentam na
igualdade ou nas diferenças. Ou seja, a comunicação informa-nos sobre o tipo de
relação existente entre duas pessoas: relação simétrica, quando está baseada na
igualdade e minimização da diferença; ou relação complementar, com aumento das
diferenças, uma pessoa ocupa a posição baixa e a outra a alta. Uma relação, portanto,
é simétrica quando duas pessoas se comportam como se estivessem numa relação de
igualdade. Cada uma delas ostenta o direito de iniciar a ação, criticar a outra, como o
caso dos adolescentes com seus pais, eles muitas vezes assumem esta postura
simétrica com um nível de poder de decisões semelhante aos dos pais e permanecem
nesta postura de crítica e de poder, e os pais recuam, cedendo a suas vontades. O fato
é que cada membro que compõem uma família possa negociar, sem que um deles
esteja sempre numa posição de submissão e o outro numa posição de domínio.
Caracteriza-se uma relação complementar quando as duas pessoas encontram-se numa
relação de desigualdade, o primeiro encontra-se numa posição dominante por haver
dado início à ação e a outra parece seguir a ação, existindo assim o controlador e o
controlado (ABREO, 1998 p. 45-46).
A Relação complementar aparece na situação de dependência: ele manda, ele obedece,
ele grita, ele se cala, etc. O mediador, nesse caso, deve trabalhar para estabelecer um nível
saudável de simetria.
Pode-se perceber que a comunicação na família é fundamental para que as relações
humanas entre seus membros, seja voltados para um clima favorável de crescimento e interação,
proporcionando um ambiente que haja sintonia e entendimento das partes em meio as
diferenças, através dos axiomas da comunicação humana, tem a possibilidade de respeitar o
ritmo e a forma de ser do outro, pois o limite é colocado à prova a todo instante e o manejo é
necessário para a desenvoltura pessoal e humana desse sistema chamado família.
5 O Sentido de Pertença na Família
Ser compreendido é bom e necessário, sentir que o outro compreende melhor ainda,
quando se é reconhecido e aceito em seu entendimento, flui dentro de si um sentimento de
pertença, como se fizesse parte de um determinado grupo específico.
A família é o lugar onde nasce o sentido de pertença, onde se vincula e cresce, leva vida
aos cinco sentidos e se tem uma história marcante e profunda com a experiência organísmica à
partir do sentir aceito, amado, escolhido para estar, fazer parte, pertencente a este lar.
A personalização humana começa com este primeiro passo, de ser aceito, protegido,
seguro num ambiente acolhedor onde é proporcionado o desabrochar do indivíduo que chega,
32
nasce, com a expectativa de ser pessoa pela apropriação da cultura e do sentir-se dentro,
implicado neste mundo, com o sentimento de pertença, à criança vai internalizando a sensação
de estar acompanhada, segura sob o aspecto concreto da vida, que mais tarde será colocada à
prova pela experiência corporal, empírica e vivencial.
Uma forma particular de apego, definida como pertença, desenvolve-se no tempo com
a evolução do indivíduo e das relações que mantém com pessoas e grupos de pessoas
significativas: mãe, família, escola, amigos, Pátria. O lugar onde nasce o sentido de
pertença é na família, que tem uma importância decisiva no desenvolvimento desta
característica. Uma determinada família pode facilitar o desenvolvimento de um
equilibrado sentido de pertença em seus membros, contribuindo para o
desenvolvimento de uma boa identidade e auto estima. Entretanto, outra família pode
fazer surgir dúvidas ou dilemas relacionais perigosos, como: “sou aceito ou não na família?” “Minha mãe me desejou ou não?” “Gostam mais de mim ou de minha irmã?” “Estou verdadeiramente contente comigo mesmo, ou não estou?”. E assim por diante. Tais dilemas podem desembocar em estados de ansiedade, insegurança e baixa
estima (BOSCOLO & BERTRANDO, 2012 p. 119-120).
O sentido de pertencimento na família deve ser entendido amplamente, nas esferas da
afetividade, cognição, intelecto, social e no desenvolvimento humano do filho desde seu
nascimento.
Como seres sociáveis, o indivíduo precisa deste afeto, sente necessidade, pois ninguém
vive sozinho, enclausurado, fechado em si mesmo e se ocorrer da pessoa se isolar, o tempo
encarregará de seu adoecimento.
A busca desenfreada do filho pelos prazeres exagerados da carne, a falta de limite, o
vazio existencial, a falta de sentido de vida, o homem sem direção, é que não soube ou não se
vinculou há um pertencimento no seio familiar, diversas patologias são produzidas, fruto da
ausência de pertencimento, vive-se, corre-se tanto e a sensação de não ter saído do lugar, pois
não tem para aonde ir, quem nunca soube ou não teve a oportunidade de estar.
Um conhecido conflito de pertença normalmente surge no início de um matrimônio,
no que tange à família de origem e ao cônjuge. As dificuldades em lidar com este
conflito fazem com que consultórios de terapeutas individuais, de casal e família
fiquem cheios de clientes que buscam o equilíbrio entre as necessidades de pertença
à família de origem, à nova família e a si mesmos (BOSCOLO & BERTRANDO,
2012 p. 120).
Quando não há pertencimento ao ambiente família, como um membro participativo,
atuante, com funções claras, a uma sensação de vazio interior, algo está faltando, por mais que
se faça, nunca é o suficiente, busca-se neuroticamente se satisfazer em seus anseios se perdendo
no fazer, confundindo sua liberdade com permissividade para fazer o que bem entender, sem
33
limites, segue caminhando por caminhar, sem nexo nessa estrada perigosa e muitas vezes
tortuosa.
A família é o lugar em que sempre deve-se ter a oportunidade de voltar, resgatar as
origens, quem se é e saber a atual condição que se encontra, é um lugar de reconhecimentos,
quando se está perdido, é na origem que é resgatado a potencialidade de vir a ser, é o termômetro
que impulsiona em busca de significado na vida.
6 Pais e Filhos
A relação entre pais e filhos são tão fortes e com potenciais incríveis de transformação,
de modo que o filho vê no Pai seu herói, modelo, referência de homem, não que o Pai queira
ser, é algo que acontece naturalmente, quando o filho não enxerga ou não internaliza este
modelo, há uma ruptura, uma confusão de papéis na forma deste organizar suas figuras que não
é só paterna, mas de homem, pessoa, “exemplo a ser seguido”. Por outro lado, os pais são o tronco do qual os filhos são os ramos. Os ramos
dependem de um tronco saudável para se desenvolverem fortes e cheios de vida. Logo,
certos problemas dos filhos e todos os problemas com os filhos são para serem
resolvidos pelos pais, em conjunto (CERVENY, 2012 p. 295).
O diálogo é fundamental para que esta relação se fortifique, crie raízes sólidas,
amadureça no sentido espontâneo, dê asas a esta criatividade nas relações que se encontra
estática, sem movimento e liberdade interna de um aproximar do outro, esta íntima chegada é
que o filho precisa para ganhar auto confiança e ir em direção da maturidade que é o Pai e que
neste, encontrará apoio e segurança.
Dialogar implica que os interlocutores tenham um mínimo de conhecimento sobre o
tema em discussão. A primeira condição do diálogo, então, é saber de que posição as
pessoas estão falando. O que significa isso? Significa, no caso da família, que casal é
casal, pais são pais e filhos são filhos. Significa, também, que entre pais e filhos, a
cada idade destes a conversa será diferente (CERVENY, 2012 p. 293-294).
É preciso saber separar, o que é do casal, dos filhos e o da família, para cada um basta
o seu cuidado, seu tempo, nível de assunto; não misturar problemas do casal para os filhos,
existe um projeto do eu, do tu e o conjunto que é dinâmico e processual, os pais que devem
transmitir este ensinamento, quando e como se aproximar e a forma de conduzir a relação, quem
vai ditar a maturidade da relação é o Pai, o filho está em processo de formação, construção, não
34
que o Pai não esteja, mas este, tem a vivência, o campo experiencial e a autoridade que lhe foi
confiada de educar.
Pois bem, a relação envolvendo pais e filhos em sua complexidade reserva desafios,
incertezas, imprevistos, descontrole em algumas situações, portanto, o aperfeiçoamento de ser
Pai é sempre no aqui agora da relação, pois este também é filho e sabe que o sentimento brota
de uma vivência transparente mesmo que tenha riscos, mas ninguém está imune, livre da
responsabilidade de se comprometer com a causa, que é apresentada pelo filho como problema
ou pelo menos um grito de socorro, caso contrário, o exercício da paternidade está sob um sério
risco, como um prédio desabando e mesmo assim ainda é possível reconstruir ainda melhor do
que havia sido um dia antes.
7 Formação Identitária do Filho
O vínculo entre pai e filho se constrói na relação, à medida que o pai, vai de encontro
com o filho, no sentido de formar-se humanamente, enchendo o tanque emocional desta criança
que clama, mesmo que na sutilidade, espera ser saciada em seus anseios.
A criança busca sentido na de vida e precisa deste apoio paternal para criar seu mundo
interno que quer desabrochar, tem a necessidade de sentir-se alguém, que vive com significado
naquilo que se constrói e se modifica à partir desta construção.
A leitura que a criança faz destes gestos, destas palavras, destes atos do adulto, do
cuidador dela, é que vão desencadear o processo psicológico que a gente chama de
identidade ou formação de identidade. Então é na afetividade, isto é, na maneira como
os vínculos entre o adulto e a criança se fazem é que esta identidade vai se favorecer
ou não (CAPELATTO, 2001 p. 20).
O Pai é modelo para a busca do ser identitário do filho, através da experiência do contato
com o pai é que o filho estabelece os vínculos maduros de ser pessoa, tendo a segurança que há
proteção e acolhimentos para se desenvolver e crescer com autonomia.
A identidade do filho se revela no quem é este ser que se constitui até o momento e pela
condição humana se refaz ao longo da estrada de tornar-se o que é, vive-se por descobrir, a cada
passo, a cada movimento, um encontro consigo para subir no degrau do aperfeiçoamento
enquanto pessoa, que acredita no crescimento espontâneo do organismo através da
autenticidade de ser o seu sentimento, de aceitar seus afetos congruentemente.
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Ninguém nasce mãe ou pai, só nos constituímos como tal pela possibilidade da
reciprocidade de alguém que se constitua como filho. Entendam que a identidade de
qualquer pessoa é um processo em eterna construção. A dialética está na
provisoriedade, na transformação contínua e, portanto, na permanente possibilidade
de se ser diferente (SILVEIRA, 1998 p. 41).
Para ser Pai é preciso que se tenha um filho, e o ter neste sentido é o de responsabilidade
por este (a) que está por vir, um ser que nasce, se descobre no mundo, surge com suas
potencialidades e vai se descrevendo no ser que se cria a si mesmo, sempre com a possibilidade
de ser diferente, contando com sua experiência no agora da relação que tem a oportunidade de
transformação, ao se confrontar com a luz que reflete sobre sua verdade e aceitar este processo
como caminho de busca identitária e personalização humana.
A produção da identidade de cada pessoa sempre passa por construções que têm
origem no social, já que o ser humano se produz e se (re) conhece nas inter-relações
física e psicológica com outros seres humanos. Assim sendo, a construção da
subjetividade não se dá de forma abstrata; dependerá das condições de convivência,
do espaço e do tempo, da história das pessoas e dos grupos que a produzem, da cultura,
da ideologia, enfim, da materialidade da vida. Pensarmos a identidade de um sujeito
em sua singularidade é pensa-la relacionada ao mundo cultural significativo a que
pertence e que lhe dá possibilidade de existir via processos de internalização e
externalização da mesma pelo seu possuidor (SILVEIRA, 1998, p. 42).
A palavra personalidade, vêm do latim persona, que significa a máscara que os gregos
utilizavam para representar um personagem, logo, o processo de tornar-se pessoa é emprestar
dessa máscara, para desempenhar os diversos papéis que vivenciamos em nossa vida.
Somos naturalmente artísticos, artista que empresta arte em quem chega e ao final
perceber a concretude desta materialidade para ter acesso ao específico daquilo que toca e faz
ser gente a partir deste movimento.
Ninguém está livre da máscara, mas há formas de escolher o destino pela qual ela pode
ser direcionada, partindo da perspectiva de que esta, superficializa nos esconderijos e segredos,
que na vitimização consegue obter o que se quer, cria-se então, um eu ideal, irreal, mas se, no
inverso, utilizar da mesma para crescer espontaneamente, visando o real significado do projeto
existencial de cada indivíduo, de ser o que é, então descobrirá que pode usufruir deste artifício
para o benefício tanto de si como do outro.
O Pai tem o dever de proporcionar esta responsabilidade para o filho, no conjunto da
obra do desafio de ser pessoa, a relação do ser identitário, passa por este pólo, ser o que se é,
por consequência ter a capacidade de se disponibilizar para o outro, é preciso que o Pai construa
esta casa sobre a rocha, se não, o processo se compromete, causando interrupções no
desenvolvimento humano.
36
8 Exercício da Paternidade
O exercício da paternidade é constante, não existe um manual de como ser pai, qual é a
melhor maneira de educar os filhos, quais são as perspectivas deste desenvolvimento e como
prever os desdobramentos desta relação.
É ilusão pensar em perfeição, exercitar a paternidade, é um ciclo sem fim e que exige
mudanças ao longo desta jornada, um saber primordial para antes de querer educar, educar-se,
aprendendo que o exercício humano de ser Pai é para deixar marcas positivas e plantar semente
na nova geração que porventura possa chegar.
O tema O Exercício da Paternidade é enfocado a partir do paradigma de que é a
capacidade de cada um conquistar o seu lugar que nomeará os integrantes de uma
relação. Assim, nem todo progenitor irá se constituir em pai de sua cria, bem como
nem todo pai será capaz de manter uma relação com seu filho na qual fique
caracterizado O Exercício da Paternidade, pois se dará a partir de um conjunto de
práticas diversas inseridas na relação entre duas pessoas, independentemente de sexo,
opção sexual, grau de parentesco, raça ou idades daqueles que a componham, sendo
que uma delas é identificada, conscientemente ou não, como pai e, a outra, como filha.
Entendo que essa é uma relação, como todas as outras, co-construída e reconstruída a
todo o momento (SILVEIRA, 1998 p. 27).
A palavra Pai nos remete há uma pessoa com autoridade, que protege o lar, educa,
proporciona a provisão não só doméstica, mas emocional, financeira, sexual, na qual, a
responsabilidade de quem cria é medida ao ponto que este o represente sua função na prática,
ser pai, não é necessariamente um laço genético, pois, muitos exercem este papel melhor que
o pai biológico desta criança que necessita de afeto para florescer um ser saudável.
O vínculo de sangue não é garantia de sucesso, nem tem o direito de se apropriar aquele
que por sua vez não provisiona o que o filho precisa, não em termos financeiros somente, mas
a formação do caráter identitário e as diversas demandas que o filho está apresentando através
dos sinais de cada dia; cada momento que ele (a) vive é único e basta o seu cuidado.
O que tenho observado em minha prática como psicoterapeuta, por meio de contato
com dezenas de homens, é que uma de suas principais queixas vem a ser o sentimento
de solidão, provocado, dentre outras coisas, pela perda de identidade familiar, ou seja:
não se sentem pertencendo a uma família, seja a originária, seja a constituída. Sua
sensação básica é que a família precisa dele, mas não que seja amado (SILVEIRA,
1998 p. 28).
Antes de ser Pai, a pessoa vem na frente, que sente, chora, sorri como qualquer outro e
que este precisa ser amado em sua essência, transfere muitas vezes para o filho o amor que não
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teve com o seu pai ou ao contrário, é ríspido demais, grosseiro, violento, pois é a única forma
que internalizou a ausência de amor.
Analisar o que envolve contextualizando o ser paterno, ter o olhar fixado em sua história,
de que maneira foram os processos de internalizações deste indivíduo, quais foram os
repertórios de resiliência adotados, sobre tudo os sentimentos de solidão, vazio interior, como
foi saciado se é que foi e hoje, a sensação sentida lá traz, permanece? Não é porque se constituiu
uma família que garante a resolução de problemas marcados na infância por exemplo, se este
que hoje é Pai não se der conta de suas realidades, transmitirá para o filho em alguma via essas
dificuldades, o Pai que não se responsabiliza por sua história, corre-se um risco alto de que o
filho reproduza o mesmo comportamento, não como algo pré estabelecido e hereditário, mas
por ser referência afetiva de sua função paterna.
Ao confrontarmos a função do pai, na sua forma tradicional, com as múltiplas formas
de organização familiar expostas atualmente, nos deparamos com o fato de que as
ideologias cada vez têm se distanciado da realidade. Não podemos continuar a
confundir funções a serem desempenhadas na vida de indivíduos (cuidar, alimentar,
acariciar) com necessidade de relações previamente estabelecidas, como se alguém se
tornassem mais capaz de desempenhar tais funções devido a fatores externos a
relação, como, por exemplo, laços sanguíneos, sexo, idade, poder econômico. Somos
induzidos a acreditar que o Exercício da Paternidade surge como decorrência da
existência de um homem e de sua cria. Ser o genitor de alguém não garante que se
estabelecerá uma relação entre eles. As relações são marcadas pelas vivências afetivas
que nela ocorrem (SILVEIRA, 1998 p. 30-31).
Marcas são necessárias se construídas à partir de pontos positivos deixadas no coração
de nossos filhos, como um selo que nos identifica enquanto ser, que é Pai, sabe da importância
espiritual que este vínculo produz na essência da vida, amor concreto que permanece nos
encontros, desencontros e reencontros com a oportunidade de começar de novo.
Não podemos nos esquecer de um fator fundamental: assim como os adultos adotam
ou rejeitam seus filhos, os filhos, adotarão ou rejeitarão seus pais. Essa é uma relação,
como todas as outras, co-construída e reconstruída permanentemente. Não adianta
querermos nos impor em um lugar que não é nosso. Os únicos indivíduos que poderão
nos ensinar a exercermos, adequadamente, a nossa paternidade serão nossos próprios
filhos (SILVEIRA, 1998 p. 31).
Se o filho é o reflexo do que acontece dentro de casa, os pais tem por compromisso
aperfeiçoar-se sua missão através do comportamento dos próprios filhos, não há um laboratório
maior e mais eficaz que a experiência diária, é ali no cotidiano que se revela os mais ricos
detalhes deste encontro entre pais e filhos.
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Será que ao invés de perguntarmos “Pai, para que serve?”, não deveríamos indagar: “Pai, para quem serve?” Perceber “O Exercício da Paternidade” a partir da relação interpessoal é chamar a atenção para a necessidade de refletir sobre essa função,
mesmo antes da “existência do filho.” É trazer para o universo dos futuros pais reflexões sobre as consequências da opção pelo Exercício da Paternidade, sobre como
a paternidade possível se aproxima ou se distancia da paternidade idealizada. Discutir
a paternidade somente após a existência do filho é amputar do processo uma parte
importante, delicada e difícil que vem a ser a responsabilidade, cumplicidade da
concepção. O Exercício da Paternidade inicia-se, portanto, com uma
discussão/reflexão sobre sexualidade e saúde reprodutiva, indo depois desembocar em
questões mais habitualmente discutidas e mais visíveis em nossa sociedade
(SILVEIRA, 1998 p. 36).
Existe um processo na constituição familiar desde o namoro, a fase de conhecimento,
descobertas, experiências vivenciadas e identificadas nesta relação, onde os primeiros sinais de
compromisso, começam aflorar, expectativas de cada um, perspectivas de futuro, com objetivos
de buscar a integração daquilo que se é para a pessoa.
O planejamento familiar passa por etapas, por isso, a importância de viver cada fase,
atropelar o momento que não é para ser, interrompe o crescimento daquele instante e de certa
forma desorganiza a experiência, no caso de tornar-se Pai, o preparo da chegada de um filho
tem seu início antes mesmo da notícia esperada, mas de todo um processo psíquico, emocional
que está por traz nos bastidores da vida, e se esta responsabilidade não bater à porta deste, o
mesmo sofrerá por suas escolhas.
Questionar-se, para quê ou para quem serve um Pai, é no mínimo desafiador no mundo
atual, onde percebe-se a ausência mesmo na presença e a desculpa que se dá por não quererem
aprimorar-se no seu exercício paterno, muito menos o comprometimento humano com a causa.
Pouco se discute sobre este assunto, há uma terceirização de responsabilidades para a
mãe, uma transferência de necessidades e um comodismo cada vez mais exacerbado nos pais
de hoje.
Um ser humano só se torna pai (e constrói a identidade de pai) ao reconhecer em
outrem a condição de filho (construindo por ele ou com ele tal identidade) ao mesmo
tempo em que é identificado, por aquele, como pai. Elimina-se assim, com tal
afirmação (que parece óbvia), o determinismo biológico das relações interpessoais, ao
se enfatizar o processo de construção e o compromisso intencional na elaboração
dinâmica desses papéis sociais recíprocos. Em outras palavras, o sujeito só se constitui
e produz uma identidade de pai ou de filho, pelo papel ativo que exerce em sua
constelação familiar e na sociedade, referendado pelo papel dos outros sociais que o
cercam. Sempre se será pai ou filho de alguém que reconheçamos como tal,
independente de sua presença física e/ou herança biológica. Não há transformação e
construção de novas identidades sociais sem embate, sem crise, refletida na vontade
de permanecer como estava e necessidade circunstancial de mudança. O indivíduo se
transforma, transformando sua identidade através das novas relações construídas e
sendo transformado por elas. Assim sendo, o desenvolvimento de qualquer identidade
ou papel social – e paternidade é um papel social – é um processo de construção que
se dá nas e por meio das múltiplas interações que se estabelecem entre um indivíduo
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e seus outros sociais e, particularmente, com aquelas nas quais existe um maior
vínculo afetivo (SILVEIRA, 1998 p. 43).
Reconhecer à paternidade não é apenas saber sua identidade de pai, mas carregar nos
ombros esta marca que levará para o resto de sua vida, transformando continuamente o ofício
paterno e sendo transformado por esta vivência.
A representatividade social do termo pai, é construída pelo meio vivencial e atravessada
pelas diversas relações afetadas por algum tipo de vínculo estabelecido na sociedade, portanto,
sua influência é histórica, cultural e política se tratando de designação do Pai para com seu
filho.
A paternidade é um processo contínuo de estruturações, desequilíbrios e
reestruturações, dá-se através de um processo dialético de fusão e diferenciação entre
o que se reconhece como pai e aquele a quem se chama de filho, na busca contínua de
ambos da (re) construção de suas próprias identidades. A paternidade é marcada por
transformações e mudanças, onde o indivíduo é obrigado a abandonar o equilíbrio
anterior, adquirido em fases outras de sua vida (quando esse serzinho inquisidor ainda
não existia) e, em desequilíbrio e por tropeços, buscar sua nova identidade. O mesmo
se dá com quem está a se constituir como filho. O indivíduo enfrenta, a cada momento,
o conflito entre a busca de segurança, através do familiar (que lhe dá identidade ao
mesmo tempo em que o oprime) e a atração pelo novo (que é adverso e amedrontador).
Nesta crise, se dá o processo de individuação que o constitui enquanto pessoa única
(SILVEIRA, 1998 p. 44-45).
O resgate da paternidade também passa pela individuação humana, constrói-se uma
relação na qual é beneficiada pela mudança da mesma, pois a dialética nos oferece a
oportunidade de recomeçar sempre o sistema que por hora possa estar desequilibrado, voltando
a auto-organização novamente.
A sensação de que algo está faltando neste desafio de ser pai é constante, mas as
frustrações e o sentimento de impotência é bom, à medida que deixa ensinamentos afirmando
que não se tem o controle de tudo e capacidade humana, desta relação entre pais e filhos, serem
plenas no sentido de perfeição, a uma passagem pela experiência do limite e é através desta que
o ser se humaniza.
APLICAÇÃO PRÁTICA
9 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO
A 1ª Igreja Presbiteriana Independente de Londrina é, atualmente, formada por doze
pastores e pastoras e catorze presbíteros. Os presbíteros regentes são homens e mulheres que
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exercem as suas atividades seculares normais e ainda dedicam parcelas importantes de seu
tempo na missão de representar os membros na administração da Igreja. As reuniões são
realizadas duas vezes por mês quando, juntos, oram e encaminham os diversos assuntos
pertinentes à vida da Igreja. Atualmente conta-se com o gestor que é o responsável pela
administração da Igreja, contando para isso com um quadro de funcionários distribuídos em
diversas funções.
A história da 1ª Igreja Presbiteriana Independente de Londrina se confunde com a
história da própria cidade. Quando os desbravadores ingleses da Companhia de Terras Norte
do Paraná chegaram à região, no início dos anos 30, vieram também as primeiras famílias
evangélicas, a maioria do interior de São Paulo, da região da Alta Sorocabana.
Aqui eles abriram picadas e enfrentaram muitas dificuldades: animais selvagens, barro,
poeira, doenças; andavam, praticamente, só no lombo de burros ou em carroças. A congregação
da época se reunia num rancho feito de palmito, chão batido, bancos rústicos de madeira, o
local era iluminado por velas ou lampiões.
Em 1937 foi construído um templo de madeira no terreno onde a Igreja está até hoje
(Rua Mato Grosso, 806). Quando ela se emancipou eclesiasticamente, em 10 de julho de 1938,
era formada por 120 membros (76 maiores e 44 menores). A comissão organizadora foi
composta pelos pastores Azor Etz Rodrigues, Simeão Cavalcanti Macambira e José Antônio de
Campos, além dos presbíteros Herculano de Almeida Sampaio e Antônio Eugênio Vieira.
A primeira Escola Dominical começou em 15 de dezembro de 1932, com duas classes
(uma de adultos e outra de crianças). A superintendente era Floriza Borges Araújo e os
professores, Herculano Sampaio e Maria Thereza Vieira. Em 13 de agosto de 1935 foi fundada
a Sociedade Auxiliadora de Senhoras com 19 sócias. A União da Mocidade (UMPI) nasceu em
12 de maio de 1940, e em 13 de maio de 1946 foi organizada a Liga Juvenil.
O atual templo foi construído em 1952 e passou por uma reforma em 1987. Assim, em
1993, a Igreja adquiriu o Espaço Esperança, que abriga cerca de 2000 pessoas e fica na Av.
Celso Garcia Cid, 747. Em 2009, o templo passou por uma segunda reforma.
9.1 Identificação e caracterização do grupo
9.2 Fatores Motivacionais
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A formação de um grupo de pais se dá pela necessidade e responsabilidade de assumir
com compromisso, a função de ser pai, sem omitir seus diversos papéis e também por não ter
muitas teorias que falam à respeito do papel paterno, encontra-se mais teorias sobre a
maternidade e sua função.
Diante desta problemática, vários são os motivos nas quais puderam ser identificados a
importância de se discutir e se envolver mais nos trabalhos domésticos, na atenção concentrada
para com os filhos, participar efetivamente da construção do ser desta família.
A partir dessa visão, aceitar o que se é, é um passo importante para o processo de vir a
ser pessoa e o contexto que envolve esta palavra, à partir do encontro consigo mesmo. Os
problemas principalmente no que se refere há relacionamentos pode ser resolvidos ou pelo
menos amenizados se tratando de pais e filhos.
Tomar posse do ser pessoa proporciona ao indivíduo, elementos para se posicionar
frente aos obstáculos que a vida oferece, ter atitude, convicção e poder decisório, aumenta a
capacidade de manejo diante dos imprevistos e segurança para enfrentar os desafios de ser Pai.
As perdas e as experiências negativas além de fazer parte, são inevitáveis. O olhar
sistêmico seria um dos caminhos no que tange a reconciliação de si, do outro e a maneira com
que se enfrenta a vida, enxergar além do fenômeno para que não fique preso sem reação e
aproveitar mesmo aquilo que não deu certo, transformando a experiência em crescimento à
partir de uma visão de mundo que integre as partes formando um novo mosaico, quem sabe
melhor do que antes, ou seja, a resiliência que foi plantada, cultivada e hoje pode ser colhida de
uma forma diferente.
A família é quem dá vida ao indivíduo, lugar de constituição, de formação personalista
do ser, nasce, cria-se e vai para o mundo com esta marca identitária que o vínculo familiar
deixa, sendo influenciado na forma de ver o homem e o mundo.
O comportamento na existência humana, se dá de maneira especial pela origem na qual
foi criado, trazendo a arte e a autenticidade de quem se é.
9.3 História do desenvolvimento do grupo
Ao longo dos encontros pôde-se perceber o amadurecimento enquanto pessoa, o fato de
não apenas conscientizar de seus papéis de pai, mas ter um olhar que abrange o contexto e que
vai além daquilo que se imagina na educação de seus filhos.
42
A postura modificou pelo desejo de ser pais melhores no sentido relacional e espiritual,
o sonho de ser família sabendo das responsabilidades e dos ajustes disciplinando o jeito de cada
um ser na vida.
Pontos positivos e marcantes foram as esposas testemunharem a mudança de
comportamento de seus esposos e um maior comprometimento com as questões de casa, sendo
parte fundamental não somente como provedor financeiro, mas sobretudo a divisão de tarefas
para uma comunhão fraterna do lar.
Há muito o que aprender, melhorar, talvez não foi mexido a fundo no que se refere as
questões afetivas, pois a proposta do projeto é um trabalho sócio educativo e não terapêutico,
por mais que para muitos pais foi mais do que uma terapia, experiência que deu significado, em
seguida com o sonho de buscar o sentido da vida para cada família se aperfeiçoando
humanamente e confiando na força vital de cada membro familiar.
9.4 Relacionamento Interpessoal do grupo
Pôde-se perceber a espontaneidade como característica marcante deste grupo, na clareza
de comunicação, facilidade em falar de si, o humor sempre esteve presente nas observações
relatadas, o que chamou muito a atenção foi o vínculo que foi criado, quando um tomava a
palavra, os demais escutavam, com interesse em saber como foi a experiência de ter passado
determinada situação difícil, já que tinha pais com filhos pequenos e outros na fase da
adolescência.
Esta interação de quem tem filho menor em querer saber como o outro pai lida com seu
filho adolescente, foi uma comunicação e uma experiência rica, já que os pais que não passaram
por esta fase, ainda irão passar pela experiência de ter o filho na adolescência.
O processo de aprendizagem na partilha além de ter sido profundo, um pedia ajuda do
outro com algum tipo de problema, a integração prevaleceu nos momentos de dúvida e de dores
profundas.
O fato dos pais sustentarem uma ideia, carregar crenças, valores, que de certa forma
estão cristalizados pela estrutura que foi sendo formado ao longo da vida e pela forte influência
da vivência de um padrão cristão, por vezes, ao mesmo tempo que dá uma segurança, é utilizada
também como uma ferramenta de controle, tornando-se um mecanismo de defesa. Os erros em
diversos momentos são justificados pela busca incessante em Deus, já que se trata de um
ambiente cristão, causando uma sensação de conforto, mas sem provocar tantas mudanças nos
43
afetos, pois os mesmos estão presos há uma estrutura rígida que encoberta as fragilidades
humanas.
Existe uma liderança muito forte e um discurso que padroniza a forma de se
relacionarem uns com os outros, que é o propósito de buscar Deus, causando identificações,
saciando o vazio, alimentando o ego se confundindo no conceito de buscar humanidade no
divino e vice-versa, autenticamente, há uma busca sim, mas ao tocar verdadeiramente no
humano, máscaras são colocadas para manter a estrutura que até então vem dando certo ou
levando vantagens pela continuação e repetição de um jeito de ser.
Ao tocar na criança interior de cada Pai, há um silêncio, mistura de sentimentos,
dificuldade em olhar para si, rever sua história, ser congruente reconhecendo-se limitado pela
vaidade de querer ser aceito pela imagem que gostaria de ser, não o que realmente é.
Emocionalmente afetados por não terem recebidos de uma forma geral o amor que de
seus pais o esperavam e pelas diversas circunstâncias que o mundo os apresentaram e que hoje
há uma influência visível na conduta de ser pai, antes ser pessoa.
9.5 Pontos de resiliência para a mudança
O sonho de poder constituir uma família por si só, é carregada de motivos para o
enfrentamento de situações adversas; o fato de muitos pais não terem tido formação nem
informação de maneira adequada, ter vivido uma geração diferente em comparação com o
mundo contemporâneo, os levam a quererem encarar qualquer desafio com relação aos filhos,
onde o desejo de criar, educar, acompanhar o crescimento de um ser em desenvolvimento, é o
que traz felicidade.
A resiliência ficou evidente no momento em que foi discutido sobre identidade, saber
que veio de um lugar, onde está e onde quer chegar, o movimento que atrai esta força de
enfrentar a vida.
Pelas histórias relatadas, percebeu-se a capacidade de olhar de diferentes ângulos a vida
e os outros, ressignificando muitas situações, além do potencial de cada um enquanto qualidade
e o reconhecimento das fraquezas, pois só é resiliente quem se reconhece e percebe-se como
tal.
44
10 Plano de Ação
O objetivo será colocar em prática o exercício da paternidade, mostrando o lugar do pai
no contexto familiar, bem como o seu papel no desenvolvimento integral de seus filhos. Serão
grupos de 7 a 10 pais, onde serão realizados 10 encontros semanalmente, com duração de 2
horas, encontros estes que abordarão cada um deles um tema sobre a paternidade.
Nos encontros serão trabalhados, vivências, questões para reflexões e discussões sobre
o tema e dinâmicas, onde o condutor do grupo terá o papel de facilitador. Começando o projeto
discutindo sobre identidade e suas questões existenciais, a pergunta que não se cala, “quem é
você”, pois isto o norteará para vida, o vazio existencial se preenche com sentido de vida,
buscando o que realmente significa para cada indivíduo fazendo-o lutar por isso.
Depois os diversos temas dos papéis em que o pai representa, resgatando sua
importância e o reflexo que o mesmo tem para o filho sendo: pai provedor, educador, que coloca
limites, que é presente e que ama.
A proposta a seguir é resgatar o campo do sensível, aquilo que a olho nú é desprestigiado
e enxergar o filho com lentes empáticas de outra realidade que chega de um jeito todo peculiar.
11 Avaliação dos resultados
De um modo geral a avaliação foi muito positiva, com mudanças de pensamentos e
atitudes para com o filhos, esposa e principalmente consigo mesmo, o pensar crítico sobre a
paternidade mexeu nas estruturas muitas vezes dura de se desfazer ou até mesmo quebrar, mas
a reconstrução foi realizada com o sim do desafio que o ofício de ser pai exige.
O desejo de querer ser família contribui para um melhor convívio doméstico e o
comprometimento em Deus, fortaleceu os pais a não desistirem da causa, encontrando forças
para viver a proposta ali de ser seres humanos melhores.
Um dos pontos a serem enfatizados para melhoria, seria olhar intuitivamente para dentro
de si, reconhecendo-o na condição de humano, sem justificativas para a dor, assumindo com
autenticidade as fraquezas se escutando pois só assim poderão escutar os outros.
Além de ter um olhar mais subjetivo não tão concreto com relação aos acontecimentos
e o próprio conhecimento do filho, buscar uma percepção maior de outra realidade, aumentar a
capacidade de observação e silêncio interno, para ouvir suas falhas e reconhecer a sua criança,
45
as emoções que ainda estão presas, os afetos que não foram libertados nem saciados e que hoje
na fase adulta interferem no jeito de ser.
Dentro dos objetivos e o procedimento de atuação, acredita-se que o papel foi de
facilitador para algum tipo de crescimento; entre os vários testemunhos que pôde ser colhido,
o que fica de cada experiência é o maior presente que foi recebido, a transformação humana em
busca da constante construção do ser identitário tanto da pessoa quanto do pai.
12 ESTUDO DE CASO
12.1 O Pai Provedor
A sociedade que se consome pela lógica do capitalismo, é o fenômeno que é apresentado
no mundo contemporâneo, com suas necessidades embasadas na materialidade de querer obter,
levar vantagem, como se uma ideia fosse instalada na mente das pessoas, sequestrando ao
mesmo tempo manipulando o ser, vendendo a condição de felicidade há um mero objeto. A
pergunta é provocativa e intrigante, que tipo de provisão os pais estão “fornecendo” aos seus filhos? O que entende-se por provisão? O que a sociedade entende por provisão?
Diante de tais questionamentos o termo provisão está muito associado ao recurso
financeiro e a preocupação de como manter esta casa, quais as possibilidades de investimento,
até onde a renda familiar da conta de sanar ao menos as necessidades básicas, até mesmo
ajustamentos são realizados para o equilíbrio orçamentário não ultrapassando o permitido.
É relevante pensar, saber e executar este compromisso com as finanças, mas não deixar
o foco da provisão à luz do dinheiro ou se quer assumir para si, a postura de que o
provisionamento financeiro é sinal de autoridade, status, poder ou manutenção de um
estereótipo.
Cria-se um círculo vicioso, em que o dinheiro é usado para manter “status” através de uma exploração, embora inconsciente, dos pais pelos próprios filhos. Esse circuito
constituído por trabalhar, receber e gastar é o circuito do consumismo que impera em
nossos dias. O dinheiro é um instrumento de realimentação familiar e, assim, se o filho
pede um brinquedo, a satisfação desse desejo é um ato de carinho, cumpri-lo torna-se
uma prova de amor que demanda desgaste de energia. Frequentemente, a reflexão
acerca de exigências cabíveis ou descabidas leva pai e mãe a sentirem-se escravos dos
sustentados, almejando amiúde se livrarem dessa escravidão (DESIDERIO, 1982 p.
77).
46
Neste projeto O Resgate da Paternidade, vários pais de crianças e adolescentes passaram
e deixaram suas marcas, seus questionamentos e contribuições com suas falas, angústias e os
demais conflitos estabelecidos no ambiente doméstico.
Ao serem perguntados o que os pais dos participantes do grupo lhes ensinaram como
Pai provedor? Foram colhidos diversas respostas como:
“Trabalho, algo indiscutível na família”, “questão de segurança física”, “suprir financeiramente”, “ser honesto”, “provedor tem que ser homem”, “não pode faltar nada em casa”, “o sustento da casa quem traz é o homem”, “é obrigação do Pai prover financeiramente seus filhos”.
No momento em que foi questionado que tipo de pai provedor você quer ser para seu
filho? Os relatos foram no sentido de “ser co-participante do desenvolvimento familiar”, “dar assessoria e orientar”, “ser parceiro, transmitindo segurança e apoio”, “ser um pai presente, que leva Deus no coração dos filhos”, “ser amigo, honesto na relação”, “demonstrar confiança”, “ser provedor emocional”. De um modo geral a fala dos pais, foram no sentido de que o ser provedor, é aquele que
provê as necessidades do filho; ensina, ama, conduz, assessora, participa e que está presente.
Durante uma dinâmica foi pedido aos pais fazerem o melhor desenho que puderem para
seus filhos, simbolizando o sentimento deles nesta relação, onde o capricho, a forma com que
eles dedicaram foi de maneira exemplar, chegaram a pintar os desenhos com zelo, dando
realmente importância para o momento.
Foram recolhidos os desenhos de uma forma desleixada, fazendo pouco caso da obra
realizada, amassando-as sem ao menos vê-las e jogando-as em seguida no lixo de propósito,
com objetivo de causar a impressão de que a atividade não teve tanta importância.
O sentimento de indignação era visível, ao serem perguntados o que eles sentiram com
tal atitude? Uns disseram “que o ato eliminou as suas expectativas”, “foi grosseiro”, “frustrante”, outros ainda ficaram decepcionados, teve um pai que ficou chateado por querer
falar do seu desenho e surpreendentemente um pai bravo, disse em tom de voz alterado que tal
atitude tinha sido uma falta de respeito.
O objetivo foi alcançado, pois o fato de provocar os diversos sentimentos e reações, com
a ressalva de mostrar para aqueles pais que o desenho jogado no lixo, eram os mesmos
sentimentos que o filho tem, ao fazer algo e/ou querer falar alguma história seja qual for para o
pai e o mesmo fazer pouco caso do filho, muitas vezes sendo grosseiro, “deixa pra lá moleque”, ou coisas do tipo, por mais que seja bobeira ou sem importância para o pai, mas se é para o
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filho, a provisão acontece aí, nos pequenos detalhes que marcam a vida deste que clama por
atenção.
12.2 O Pai Educador
Considerando a educação como a raiz do nascimento de um processo de conhecer algo
e por este ser modificado pela responsabilidade de buscar o fundamento, que dá base ao
conhecimento consequentemente levar ao ato da prática desta experiência, percebe-se que em
tudo está implicado à necessidade de educar-se.
Quando se pensa em educação, várias situações ocorrem, muitas vezes
descompromissadas ou se quer ter consciência delas; a terceirização da educação se encontram
ou destinam-se nos limites escolares, uma sociedade despreparada que se preocupa tanto em ter
coisas, obter, do que criar vínculos, acaba-se por refletir no processo de ensino/aprendizagem
do aluno e outros problemas que não convém aqui relacioná-los.
O drama das famílias em não saber como chegar na forma com que os filhos possam se
sentir bem, quais as ferramentas para uma “boa educação” e tantos questionamentos que só faz aumentar as angústias, vivendo mais sob expectativas em torno da melhora do filho, do que
prestar atenção no filho e seus gritos de socorro, podem ser saciadas quem sabe com um gesto
concreto de amor.
A educação familiar abrange vasto número de áreas: afetividade, relacionamento entre
adultos e crianças, independência da criança em relação a si mesma, colaboração da
criança na família, na casa, tiques, hábitos de alimentação, de higiene, horário de
dormir, de televisão, de estudo, de brincar, de ler, dos hobbies (DESIDERIO, 1982 p.
61).
No início deste tema foi perguntado aos presentes, o que os seus pais lhes ensinaram?
As pontuações dos relatos foram: “Olha filho, nunca pegue nada que não seja teu, outros
falaram sobre ser íntegro, honesto, humilde, tenha respeito, não tenha medo de enfrentar a vida.
E hoje com seus filhos, o que os mesmos já puderam aprender com vocês? A questão
espiritual prevaleceu, assim como ser persistente na vida, enxergar o lado positivo, saber
perdoar, falar a verdade, se relacionar bem com as pessoas.
Diante dessas perguntas foi realizada uma dinâmica na qual vários objetos foram
colocados sobre à mesa e cada pai tinha que pegar um e elaborar uma frase, assim o próximo
pai pegava outro objeto e dava continuidade a frase, com objetivo de ao final formar uma
história, acontece que esta experiência, pôde-se identificar o sofrimento dos pais com o
48
improviso, tentando pensar em uma sequência lógica do assunto, até mesmo pela diversidade
dos objetos.
Com isto foi mostrado que o filho vêm com suas dúvidas, conflitos e questionamentos
inesperados que deixa qualquer pai encurralado por não saber dar respostas ao filho, esta
dinâmica enfatiza o poder de improvisação, ao mesmo tempo construir um saber junto, isso
gera no filho um sentimento de pertença, sente-se importante por uma atenção que o pai exerce
e que faz parte da educação, percebe que educar não está relacionado somente a disciplina,
punição por comportamentos conhecidos como inadequados, mas sim o ensino e a formação
educacional deve haver, para que esta comunicação atinja interiormente o ser deste filho,
provendo segurança para que este saiba viver em sociedade.
A educação dos filhos leva o pai a reavaliar aquela que lhe foi conferida, a fim de
superá-la e a discernir os aspectos negativos e positivos de seus condicionamentos
emocionais, e montar, dentro do possível, outro esquema educacional. Para tanto, é
necessário desprender-se da educação recebida, sem remorsos e sem ressentimentos
em relação aos próprios pais, pois que a existência de rancores poderia distorcer a
educação de seus filhos (DESIDERIO, 1982 p. 69).
Vários depoimentos dos pais durante o curso foi em direção a postura que o pai deles
tiveram com eles e que hoje continuam com o mesmo comportamento e atitudes para com seus
filhos, um posicionar muitas vezes inconsciente e impulsivo com uma carga emocional elevada
e sem freios.
A postura a seguir reflete o que era, como está no momento e a maneira de encarar as
circunstâncias à partir de agora, educar é preciso, ter equilíbrio e ponderação no agir é
fundamental.
12.3 O Pai Colocando Limites
Limite vem da ideia de conter algo, ele não impede, dá a forma, é preciso para saber
conviver; uma vida sem limite é o fracasso em que a sociedade enfrenta ao não saber lidar com
suas fraquezas, excessos, descontentamentos, emoções desajustadas por colocar-se diante das
situações da vida com desequilíbrio achando que pode “tudo” com suas próprias forças.
O território humano deve ser estabelecido para que a pessoa que se aproxima, não invada
o nosso limite, o desrespeito humano se dá por esta dificuldade, chega-se de qualquer jeito,
bagunça e decide pelo outro, o que o mesmo deve decidir apenas por si mesmo.
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As pessoas jogam “lixo” e é aceito com muita naturalidade esta invasão, sem dar-se
conta de que o outro “rouba ou sequestra” a liberdade de ser pessoa, a cada passo que ele escolhe
e decide pelos outros, aquilo que tem de tomar tal atitude diante de determinada realidade ou
situação.
O limite faz crescer, algo positivo se olhado esta disciplina como construtivo em nosso
ser; nas observações do grupo de pais ficou evidente a dificuldade em colocar limite no filho,
pois mesmo os pais não têm esse limite e o exagero da cobrança, da fala mais brusca, do excesso
de autoridade se mostra, à medida que não há sucesso no comando.
Quando os pais, para evitar o conflito começam a deixar os filhos fazerem o que
querem, terem uma autonomia – que na verdade não é autonomia – eles começam a
lidar com a morte. A ausência de conflito é a morte. Quando para escapar de sua
angústia um jovem bebe álcool, usa droga, corre com o carro para ter adrenalina,
enfim, foge do conflito através de uma mudança cerebral, ele entra num processo de
morte que a gente chama de instinto de morte. Todas as vezes que a gente escapa dos
conflitos sem tentar resolvê-los, nós começamos a morrer. Por isso temos hoje tanta
depressão na nossa sociedade e depressão entre jovens e crianças. É porque os pais,
às vezes, não dão limites para evitar conflitos (CAPELATTO, 2001 p. 19-20).
A angústia dos pais em seus relatos é o desgaste em repetir disciplinas, contê-los e não
surtir o efeito esperado, há uma visão de regras e padrões pré-estabelecidos que ao invés de
contribuir para um melhor funcionamento na família, pela rigidez, acaba acontecendo o
contrário.
Em outra dinâmica foi colocado duas fileiras de almofadas numa distância considerável,
os pais tinham dois minutos para levar o máximo de almofadas de um lado para o outro e um
minuto para colocar no mesmo lugar na volta.
Uns cansaram de tanta correria, outros levaram a dinâmica como uma competição, teve
aqueles que lançaram as almofadas para cumprir a tarefa; como não foi especificado de que
forma levar as almofadas, qual a quantidade, os pais da maneira que eles entenderam a voz de
comando, fizeram a dinâmica.
Isso faz pensar que o meio leva a extrapolar o limite quando não estabelecidos de forma
clara, é preciso colocar fronteiras, nos filhos a mesma coisa, pois a pessoa que nunca foi
contrariada, não lida bem com a experiência do limite.
Quando se pensa em limite associa-se primeiramente a disciplina, mas há um processo
que vai desde o ensinar limites, dar o exemplo de homem, fazer com que o filho interiorize a
questão para em casos específicos somente disciplinar o filho; o que vem acontecendo é o
processo inverso, exagerado, punindo sem ensinar para não ter o trabalho de educar, lembrando
que não se cobra limite sem ensino.
50
A palavra dita tem que ser a realizada. Isso cria segurança e cria o limite. O limite cria
a personalidade sadia. O indivíduo precisa de limite e o limite tem que ser sempre de
quem cuida para quem é cuidado e não o oposto (CAPELATTO, 2001 p.83).
A descaracterização humana se deve à falta de limite onde o indivíduo tem a sensação
de que está sempre fora de suas realidades, pode-se alcançar sem qualquer planejamento prévio,
a impulsividade e o descontrole são características de uma pessoa desconectada com a dimensão
do real, inconsequente seria uma palavra por esta ausência, portanto, o filho anseia por limite
mas é preciso ensiná-lo e não cobrá-lo a consequência exagerada de disciplinas põem em risco
o ensino e aprendizagem do filho que está em processo de maturação.
12.4 O Pai Presente
Presença, uma palavra em muitas, diversos significados e fonte de interpretações
ambíguas, a presença faz a diferença, o devido valor se atribui depois que se descobri o seu
significado, ter consciência da presença não basta, se não é afetado, não faz sentido, por
consequência não há comprometimento, pois este é carregado de emoções; há uma fala
interessante, “não tenho muito tempo com meu filho, mas o tempo que tenho é de qualidade”.
Bom, a qualidade é importante, mas o tempo de quantidade concentrado no filho, afetao deixando um marco que este o levará para sua vida, acrescentando mais uma palavra entre
qualidade e quantidade é ter qualificação para o exercício paterno que não é fechado em si
mesmo, mas pede um desdobramento pessoal que não é só a presença física que importa, mas
toda dimensão do ser na existência.
Todos sabem que um dos piores traumas que uma criança pode sofrer é crescer sem a
presença de figuras parentais (pai, mãe ou quem os substitua) que lhe deem carinho,
cuidado e proteção. Presença parental é, assim, um conceito bipolar: os pais têm que
estar presentes tanto, como indivíduos autônomos quanto como titulares do papel
parental. Se um destes aspectos falta, a criança estará privada da presença parental. A
privação mais séria se dá quando os pais se deixam apagar tanto como pessoas quanto
no papel parental (OMER, 2011 p. 11).
Após ser pedido para os pais dobrarem o papel em quatro partes, em cada uma escrever
as seguintes observações; na primeira, o que eu faço e gosto, na segunda, o que eu faço e não
gosto, na terceira, o que eu não faço e gosto e na última, o que eu não faço e não gosto, todos
com relação aos seus filhos.
De todas as questões por relato dos pais, a última pergunta foi a mais difícil, exigiu um
esforço mental já que está ligado a nossa pessoa e forma de viver. O que eu faço e gosto tem a
51
ver com o prazer, à vontade, os desejos em relação ao que querer, o lazer, na qual os pais se
sentiram bem à vontade de responder; já a segunda o que eu faço e não gosto está associado a
doação, justamente quando não se quer, quando a preguiça bate à porta é que precisa ter
coragem de estar junto, e o eu não faço e gosto é questão de disponibilidade, organizar melhor
o tempo para refletir na qualidade da relação com os filhos.
A quarta e última questão talvez seja a mais difícil porque o que eu não faço e não gosto
está implicado o egoísmo, eis um exercício de interiorização para desapegar da maneira de ser
em prol da saúde mental do pai, filho e a boa convivência.
O conceito de presença parental tem de atender a três critérios: (1) em um nível
prático, deve proporcionar diretrizes simples, que permitam decisões rápidas, sob
pressão emocional; (2) em um nível conceitual, ele tem de servir de ponte entre os
diversos profissionais que lidam com a família, sejam quais forem suas abordagens
terapêuticas; e (3) em um nível ético, ele tem de possibilitar uma forma de autoridade
bem distinta daquela baseada na força bruta. Em outras palavras, os pais têm que ser
capazes de dizer. “Eu posso agir!”;; e “Eu não estou sozinho!” Estes sãos os três fundamentos da presença parental: a presença ativa (ou seja, a capacidade de agir); a
presença pessoal (ou seja, a sensação de posse de uma voz individual e moral); e a
presença sistêmica (ou seja, a sensação de ser parte de um contexto social de apoio).
Os três fundamentos são intimamente inter-relacionados: o poder de agir deriva-se das
convicções morais e pessoais dos pais que, por sua vez, são apoiadas pelo contexto
social (OMER, 2011 p. 12-14).
O comando para realizar a dinâmica foi a divisão de um quadro em três partes sendo
que contemplava a quantidade de horas destinadas ao trabalho, ao sono (descanso) e o tempo
para si, e o que sobrava, o que e como seria organizado.
Percebeu-se a falta de planejamento e organização no quotidiano, o desperdício e a má
administração não só das tarefas de casa, mas o não saber aproveitar o tempo que se tem ou que
lhe resta, principalmente devido as preocupações com o trabalho, o motivo relatado que mais
consome os pais afetando o cansaço físico, mental e emocional, não tendo motivação o
suficiente para estar “inteiro” na relação com a família.
Presença parental é uma ideia que se refere às experiências didáticas entre pais e
filhos. No entanto, a principal contribuição do enfoque sistêmico é, precisamente,
ajudar-nos a expandir o nosso foco, buscando a influência de terceiros sobre a dupla
pai-filho ou mãe-filho. As questões típicas levantadas sob uma perspectiva sistêmica
serão: que terceiras pessoas afetam positiva ou negativamente a presença parental?
Como proceder para diminuir influências negativas ou aumentar influências benéficas
de terceiros sobre a presença parental? O fator que influencia a dupla pai-filho não é
necessariamente um indivíduo. A relação entre pais e filhos está situada numa rede de
sistemas extra-familiares que afetam o seu funcionamento (OMER, 2011 p. 29-30).
52
O pensar sistêmico na dinâmica da família auxilia a enxergar de ângulos diferentes e
formas distintas, não se tem o controle de tudo, o filho à medida que cresce, tem seu início nos
primeiros contatos com a escola, os amigos, a influência externa como a mídia e outras fontes
onde há uma propagação generalizada de conteúdos que afetam os sistemas familiares através
de seus membros.
Pensar amplamente sem pressa em realizar o que se quer mas andar conforme o
movimento desses sistemas e conhecê-los afim de fazer parte do funcionamento para que haja
uma proteção deste lar, a “contaminação” vem de todos os cantos, de maneira sutil, é preciso
olhar para as entre linhas, no obscuro diante do que se apresenta é o ponto de partida para
perceber o que está invisível aos olhos.
Muitas vezes um pequeno gesto, um olhar, diz muito mais. Sentar-se ao lado do pai
ou do filho em silêncio, olhar para uma árvore, um passarinho, juntos diz mais do que
mil palavras de solidariedade ou uma centena de declarações de amor. Para amar basta
estar em presença. Às vezes, é tão difícil dizer alguma coisa, sobretudo quando se tem
culpa ou simplesmente quando se está com saudades, esse delicioso e doloroso estado
de ser e estar presente e passado ao mesmo tempo (SILVEIRA, 1998 p. 96).
A presença de quem é antes da palavra dita, é uma existência trabalhada de quem
descobriu o seu valor inegociável e tem um para quê viver, não vive só de presença, é a própria
presença que solidifica ao estar, tem sempre um objetivo no fato de presentificar o aqui agora
de alguma ausência que porventura possa estar em falta.
12.5 O Pai que Ama
Vários são os conceitos que se tem sobre o amor, para uns amar é um sentimento, algo
mais forte, profundo, muitas vezes indescritível, de difícil tradução, ainda mais se for querer
comparar a algo ou querer explicar racionalmente na mesma proporção com aquilo que se sente,
impossível dimensionar o amor em palavras, seria ao menos reducionismo definir o amor até
mesmo por uma teoria científica.
O que poderia aproximar de uma tradução seria aquilo que sabe à partir do vivido que
se reverte na vida objetiva, que se transforma o sentir, em atitudes que toque o existir e
modifique a natureza de algo que precise de um olhar interno, o campo sentimental se revela
na concretude da existência por onde os significados passeiam em meio a criatividade de ser
gente e impulsiona e dá coragem de assumir a causa e lutar por ela.
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Amor paterno. Eis um tema que os cientistas sociais sentem dificuldades em tratar,
não só porque existem poucos estudos a respeito, mas, muito mais, porque é difícil
evitar a subjetividade ao traçar dele. É sempre mais fácil escrever na terceira pessoa
sobre temas que não nos impliquem como sujeitos e que podemos manter certa
distância. O amor paterno/materno é uma conquista não só acessível a todos. Ele tem
características tão comuns que quando falamos do nosso amor estamos falando
também do amor de outros. Se ele não é certamente um instinto, mas uma conquista,
ele só pode ser uma conquista porque potencialmente ele se encontra em todos os
seres humanos. Todos somos capazes de amar. Se não estamos amando num certo
momento, não significa que o amor não existe dentro de nós. No fundo, ao amar
alguém, estamos amando o amor que está sempre dentro de nós: Ao desejar a presença
do ser amado, desejo a minha própria presença. É o meu amor que amo no outro. O
outro é apenas o depositário, o agente, do meu amor (SILVEIRA, 1998 p. 93-94).
Amar é uma decisão e por esta escolha o indivíduo é envolvido de sentimento que se dá
a medida que se vive o amor por si mesmo, não no sentido egocêntrico, mas o amor em primeira
instância é egóico, não se ama o outro de graça, nem porque merece ser amado ou porque este
fez algo que precisa-se recompensa, mas quando se diz “eu te amo” estou dizendo eu me amo em você, não amo você por você mesmo em primeiro momento, mas amo o amor que sei de
mim e a partir da experiência pessoal amo o outro.
Esta relação de amor de pai para filho é conflituosa neste sentido, porque a raiva e o
ódio são manifestações de amor, que naturalmente não conseguem preencher o mesmo espaço,
por se privar de viver o ato de dar amor no concreto da vida do jeito que cada um gostaria de
receber.
Pensando no projeto dos pais, foi perguntado para os presentes se os pais deles os
amaram e de que forma? Através da comunhão, doação, atenção, carinho, até mesmo quando
ele batia, era a demonstração do afeto que espontaneamente não conseguia transmitir; mas a
maioria não sentiu esse amor paterno e hoje como pai é vivenciado com abraços e beijos, como
uma forma de viver aquilo que não teve, introduzindo no filho a importância de amar
concretamente e de prover esta necessidade que todo ser humano precisa.
Algo interessante foi quando ao serem interrogados se os filhos tinham a certeza do
amor que os pais sentem por eles e como? Os relatos foram no sentido de que o estar junto,
fazendo atividades juntos, porque ele diz que me ama, por querer ficar comigo, mas o ponto
central é de que forma é exercido o amor para cada filho, em que momentos isto ocorre e qual
a reação de cada filho com relação ao ato de amor do Pai.
A gente tem que pensar que amor e ódio são sentimentos que pertencem a mesma
classe. E eu costumo sempre dizer que a gente só pode odiar quem a gente ama muito.
O ódio é presença de amor. O contrário de amor é uma coisa terrível que se chama
indiferença. Indiferença significa ausência de afeto. O ódio significa que a afetividade
está em ordem, a gente só precisa parar, talvez conversar um pouco mais e repensar o
que a gente está sentindo, mas o ódio é um sinal fundamental do medo da perda do
outro, do medo da perda da pessoa que a gente ama (CAPELATTO, 2001 p. 114).
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Muito se fala de que amor e ódio fazem parte da mesma moeda e quando não se
consegue amar, manifesta-se odiando este algo ou alguém, ao tratar o contrário do amor pela
indiferença, percebe-se uma postura neutra, sem afeto, não provoca nada que está dentro de si,
apenas passa, mas não permanece, é como se alguém que se admira tanto e ao chamar sua
atenção, apenas passa sem dar satisfações, esnobando, com ar de desprezo sem se importar.
A indiferença causa a sensação de ser inútil, vazio, sem vida, ao passo que o ódio, se
tem ao menos a certeza que existe afeto, que ao ser trabalhado pode sim ser visto e transmitido
de uma forma diferente para o outro que o recebe.
E o ódio sempre é usado como referência do medo de perder algo, e sempre existe
uma afetividade, que não seja na família, mas que seja num grupo que tenha
identidade. O ódio sempre é a manifestação do medo da perda da identidade de um
certo grupo. Quer dizer, ele divide cosias e é um sentimento universal, mas que sempre
pertence a uma situação na qual está em jogo uma ameaça de perda daquilo que eu
creio, daquilo que eu sinto, daquilo que eu acho (CAPELATTO, 2001 p. 116).
Portanto quando o filho diz sentir ódio ou qualquer emoção que cause no Pai
aversividade, deve-se prestar muita atenção neste sentimento e o que está por traz deste que se
revela, qual o grito que o filho está clamando ao denunciar tal afeto e utilizar do mesmo para
crescer e se desenvolver.
Importante ressaltar quais os medos do filho, onde há maior incidência de insegurança
e as maneiras que este filho busca o suporte para tal enfrentamento, o combustível que o faz ter
atitudes e a fonte de resiliência que habita neste ser que busca sua identidade.
Longe de separá-los dos seus filhos, a autonomia crescente dos filhos garante a
unidade entre eles. Eles não pertencem nem ao pai nem à mãe: “Fruto vivo de um encontro de amor, nesse lugar-tempo da concepção, mas também é esse ser em devir,
que assume seu crescimento, seu trabalho, travessia na existência, sua autonomia, tão
logo interiorize e exerça as funções que seus pais assumiam por ele: ela me levava –
eu me levo, ela me alimentava – eu me alimento; ela me lavava – eu me lavo” (SILVEIRA, 1998 p. 102-103).
O grande legado que os filhos recebem é a educação que os pais lhes oferecem, e esta
arte nenhum pai está livre de viver, a autonomia do filho é de responsabilidade desta formação
identitária que o pai faz parte de conduzir, fruto dessa relação de amor, na qual o filho cresce,
se desenvolve e reproduz no mundo o que aprendeu.
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12.6 O Pai como Filho
Além de ser Pai, se encontra na condição de também ser filho, fruto de uma relação em
que as gerações se encontram à luz de experiências colhidas no tempo e através dele usufrui
dos frutos desta harmonia.
O Pai deseja ser amado, reconhecido pelo papel exercido e pela responsabilidade que
lhe cabe, é pessoa que também se coloca como um filho, necessita de apoio e seus sentimentos
muitas vezes de culpa, bate à sua porta no momento que sente e percebe que as situações não
saíram como planejadas, mas que seu amor lhe dá esperanças de se construir laços eternos na
relação afetiva com o filho.
Mais interessante, ainda, será pensar a situação de alguém que é, ao mesmo tempo,
filho de um pai e pai de um filho que já é pai, isto é, o mesmo sujeito, pode viver, num
mesmo instante de vida, a condição de ser filho-pai-avô (ou grande pai). As pessoas
ocupam múltiplas funções, em momentos diferentes ou simultâneos de suas próprias
vidas. Desta forma, todo pai, a fim de ser um sujeito único, em sua forma de
paternidade, claramente diferenciada dos outros sociais, precisa (re) conhecer em si a
multiplicidade de modelos possíveis de ser pai e de ser filho, presentes em seu grupo
social, por ele vividas e nele interiorizadas, pois sua singularidade só será possível se
reconhecida como um processo de eterno constituir-se na multiplicidade, dependente
do diálogo construído com aquele ser que é hoje seu filho (SILVEIRA, 1998 p. 45).
As inúmeras funções e responsabilidades atribuídas ao pai cresce com a exigência social
e o peso que este nome carrega nos ombros de quem escolheu ser Pai e sobre esta decisão é
preciso estar consciente da diversidade de papéis que se confundem de maneira que não existe
um único modo de executá-las, não é linear e as situações acontecem simultâneas e
inesperadamente.
Constituir-se na relação dialógica dos papéis de pai e de filho contemplam o encontro
existencial que se funde na experiência de se encontrar subjetivamente nesses dois pólos, para
que haja compreensão, aceitação e vivência empática do lugar que cada um ocupa neste espaço
familiar, por isso, a reflexão crítica do encontro pessoal de gerações de ser filho, amanhã ser
pai, quem sabe avô, é preciso união de percepções e um exame de como o eu pessoa, foi ao
longo da vida para saber se relacionar e entender as demandas do filho.
Posso dizer, então, que os pais são co-construtores do desenvolvimento de seus filhos,
ao mesmo tempo em que, pela interação com eles (filhos), se constituem, enquanto
pais. Pais e filhos, em suas relações mediadas pela emoção, podem criar um espaço
privilegiado de construção um do outro, que pode ter como base uma biologia comum,
a escolha consciente ou a temporalidade de fatos. Realmente importante é que, pouco
a pouco, vão internalizando e transformando o que são, construindo-se novo, num
modelo já experienciado e ora tomado como seu (SILVEIRA, 1998 p. 45).
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Esta relação entre pais e filhos funcionam na parceria, onde ambos são convidados a se
implicarem num processo de co-construção, onde o autor e personagem tem o mesmo espaço
de desenvolvimento e crescimento mútuo, respeitando a posição de cada membro, mas
objetivando a busca do desabrochar do outro, pois cada um no seu papel vão entendendo que
se refaz à medida que se constrói algo novo juntos.
A simbiose da relação se atualiza na idéia de construção e reconstrução do caos, toda
mudança existente de um, reflete no outro formando conscientização de conexões, uma cadeia
que circula e une os pontos para o funcionamento humano da relação se auto organizar em sua
natureza, que é a tendência integrativa da partes.
O filho é este sujeito que tem que ir aos poucos se libertando dos pais, mas não das
raízes. Nós sempre temos que ter para onde voltar e sempre voltamos para o lugar
afetivo. Por isso, a função fundamental da família é ser raiz e, ao mesmo tempo,
oferecer oportunidade de autonomia, sabendo que nunca isso se cinde, nunca isso se
quebra, nunca isso se separa. Nós precisamos ter asas e raízes, ou seja, voar com os
pés no chão (CAPELATTO, 2001 p. 21).
Ter a certeza de saber que existe um lugar que se pode contar e voltar, renova as forças,
os ideais, os objetivos se afloram, o filho tem que sentir que o seu lugar é em sua raiz, de onde
ele veio é que se extrai a coragem de recomeçar, de encontrar abrigo e de sentir segurança.
Este lugar afetivo onde os filhos precisam saber se chama família, sua morada, no
momento que isto quebra, se refletirá no mundo a fora e voltar a se restabelecer na vida, o
caminho é voltando para casa.
12.7 O Pai que eu quero ser
Eis aqui um desafio que só tem data de início, com o preparo humano de ser homem
trazendo sua constituição como incentivo de busca, em que o filho possa enxergar no exemplo,
alguns ensinamentos que serão transmitidos ao longo da vivência, passando para a missão de
ser pai e que “pai que eu quero ser”, é uma pergunta provocativa no sentido de sair da zona de
conforto e se abrir para o diálogo, a interação e a escuta do filho que pede uma atenção que o
sacie.
É preciso ter decisão, decidir-se por amar em perspectivas não em expectativas, pois
quando este toma conta, a decepção e frustração atinge abalando as estruturas por esperar muito
algo que talvez possa não existir, ao passo que conhecendo-os em perspectivas, abre-se os
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horizontes tanto para o conhecimento quanto para o mundo das experiências, é o que faz
amadurecer e tornar pessoas de coragem.
Mas é preciso decidir-se. O amor é feito de escolhas, de decisões. Decidir-se por
prestar atenção, por deixar de lado nossas verdades feitas, nossos projetos inflexíveis,
nossa sabedoria de adultos maduros. Nada mais triste do que essa noção tão estranha
como a maturidade do adulto que oculta uma enorme fraqueza de espírito. Que raio
de maturidade é essa que nos faz dizer toda a hora: “Enquanto você não comer tudo, eu não saio com você”;; “Enquanto você não terminar a lição, nada feito”;; “Enquanto você não tirar tudo ‘azul’ na caderneta da escola, não levo você ao cinema ... não adianta nem chorar”. Estamos sempre impondo condições ou fazendo chantagens. Evitaríamos muitos aborrecimentos e erros se aprendêssemos a prestar atenção e a
ouvir nossos filhos, a dialogar com eles. Temos muitas chances de nos equivocar toda
vez que não soubermos argumentar com nossos filhos, mesmo pequenos. Certo. Há
limites. Todos nós os conhecemos. Mas temos pecado mais por falta de diálogo do
que por dialogar (SILVEIRA, 1998 p. 98).
Neste último encontro cujo tema “O Pai que eu quero ser”, foi perguntado logo de início,
pedindo para citar e se justificar, quais foram as três ou mais pessoas que os influenciaram de
alguma forma na vida de 5 anos atrás até este momento. Percebeu-se que o lado espiritual
predominou, pessoas significativas que plantaram sementes boas no coração daqueles pais e
outras no ramo profissional e humano.
Outras questões que levantadas foram: qual a maior falha como pai que pôde detectar
ao longo do curso? E o maior sonho que você pai tem para seu filho? Perguntas para uma autoavaliação não como julgamento, mas o reconhecimento da atual condição e as possibilidades
de mudanças.
Pôde-se identificar as emoções se aflorando pela mistura de sentimentos, envolvendo
arrependimento, necessidade de mudança, término de um processo início de outro, o desafio,
ao mesmo tempo a insegurança de não saber como vai ser aquilo que se projeta viver, a
esperança de estabelecer vínculos e ainda o despertar de afetos presos à criança interior que
busca uma atenção diferenciada.
O momento em que mais tocou o ser daqueles pais, foi quando quase ao final do curso
quando perguntado, que tipo de pai vocês querem ser? Em seguida escreva uma carta para os
seus filhos demonstrando suas intenções e afetos.
Alguns não conseguiram expor seus sentimentos, outros fizeram questão de ler para
todos e alguns tomados de forte emoção preferiram deixar este momento para a intimidade na
presença com os filhos em família.
“O Pai que eu quero ser”, antes sonhar o maior sonho possível, mas que seja do filho, não uma projeção ou deslocamento de necessidades, acompanhar na presença física, psíquica,
profissional, sendo educador para que este seja educado, ser provedor financeiro, sexual,
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humano, colocando limites com amor, respeito e admiração pelos feitos do filho, pois vivendo
assim as conquistas de se resgatar a paternidade são inúmeras e o tempo se encarregará de
estreitar as relações que um dia porventura possa ter desligado por algum motivo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resgate da paternidade em sua amplitude e complexidade revela a necessidade de
discutir à respeito não só do exercício de ser pai, homem, portanto, pessoa que sente, age e se
manifesta no mundo seus afetos, trazendo responsabilidade no que foi, é, e a condição que se
encontra atualmente.
Para tanto, aprofundar no conceito de identidade foi de extrema importância levando o
conhecimento e a tomada de consciência de si, de suas realidades muitas vezes cruéis e de difícil
reconhecimento e as diversas marcas que ficaram no ontem, no hoje e a constante construção
de ser que é, à partir de agora, sabendo que é na existência humana que este processo se funde,
se mistura, ganha vida para desabrochar um “homem novo”, capaz de enxergar-se limitado,
mas que esta essência que é construída, não é estática, nunca estará pronta, mas sempre por se
fazer, realizar.
Foi explorado o ser do homem, pois o papel a ser desempenhado é um processo
secundário, o olhar que dignifica o homem naquilo que se é, é o trabalho a ser desenvolvido,
pois o mesmo trará segurança nas emoções que o acompanharão pela vida dando significado e
força necessária para a busca de sentido, participando efetivamente do ser, no estar, nos
relacionamentos que se tece e forma sua história.
Relevante pensar criticamente com relação a maneira como se faz a leitura diante de
uma determinada situação ou pessoa, o modo como se enxerga, ao mesmo tempo reduz a vida,
empobrecendo a experiência com a limitação da visão de mundo, o ser humano está acostumado
na sociedade, viver e enxergar as coisas de forma causalista, isto, é por causa disto ou aquilo,
isso reflete em nossas casas afetando a mentalidade permitindo que se veja partes da
experiência, não a integralidade do todo.
O convite aqui, é pensar sistemicamente, ou seja, ser desprovido de qualquer conceito
que feche o conhecimento ou que fragmenta o fenômeno, este olhar de que o todo não é somente
a soma das partes, contribui para não tirar conclusões precipitadas, nem definir o outro por
diagnósticos que “matem” o sujeito, mas ratificar a idéia de que uma situação nunca é uma
experiência sozinha, mas há uma influência de “issos mais issos” e não “isso é por causa disso”.
13 Esta visão atinge as famílias em seus propósitos, valores, rituais, na forma
comunicacional em que esta família se comporta, porque a maneira como o ser se comporta é
a forma com que se transmite a comunicação de si mesmo, acaba-se criando um sentido ou não
de pertença neste lar, sendo que o filho nesta relação precisa sentir-se pertencido, seguro sob os
efeitos que esta casa está afetando-o.
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Sentindo-se seguro sob o exercício da presença marcante da relação entre pais e filhos,
o mesmo terá recursos suficientes para a formação identitária do filho proporcionando a este
que chega cheio de dúvidas, incertezas, conflitos, a tranquilidade e paciência de projetar um
futuro sim, mas vivendo com os “pés” seguros no chão e que esta raiz é forte, sem esquecer de reconhecer sua história, pois isto que dará vida aos sentimentos.
Pôde-se avaliar no projeto “O Resgate da Paternidade” uma identificação na luta pelo mesmo ideal de ser um pai melhor, presente nas emoções conflituosas do filho, a motivação em
estar ali, partilhando suas histórias de sucessos e fracassos, as dificuldades enfrentadas e a
capacidade de serem resilientes quando achavam que em determinadas situações não haveria
aparente soluções.
O relacionamento interpessoal acrescentou e muito para a mudança de postura que
porventura tinha que ser mexido e reavaliado, sendo que esta relação levou ao campo
intrapessoal, um lugar que até então pouco visitado, a subjetividade de cada membro familiar,
desenvolvendo esta área que precisava ser olhado com uma atenção diferenciada.
E o vivido que se mostra como pode ser a relação com os demais papéis que o pai exerce
por sua função de guiar, direcionar, administrar a problemática em questão, começando com o
pai provedor, o discurso que a sociedade tem para uma possível solução que é a questão
financeira, sanar as necessidades de segurança, de educação ou sua sociabilização,
aprofundando num conhecimento que provisão, saindo da materialidade é discutir as áreas da
sexualidade, das emoções, do ensino e da participação efetiva de alguém disposto a provisionar
o ser sobre algo.
Passando para o pai educador, educando antes de mais nada o próprio ser,
proporcionando ao filho este encontro com a maturidade, em seguida o pai colocando limites;
interessante perceber que limite não quer dizer só disciplina, mas o fato de conter algo em favor
do crescimento de outros, que por sua vez lhe dá sustentação para a maturação do ser.
Importante ressaltar o debate sobre a presença do pai que não é somente física, mas o
envolvimento de um estar dentro, implicado na situação na perspectiva do outro, sabendo que
este pai é filho e compreende também o que a falta de presença, causa no coração do filho que
deseja o reconhecimento do pai, que o ame de verdade.
Revisitar a história deste pai, que clama por abrigo e os diversos conceitos pontuados
sobre a paternidade, enfatiza principalmente uma questão do agora, a continuidade, sabendo
que o que passou não volta e o presente momento é o melhor presente que se tem para viver “O Pai que eu quero ser”, eis a pergunta que desafia no sentido deste, ser responsável por suas
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escolhas, uma tarefa nada fácil, mas o simples fato do querer ser diferente, todos saem
beneficiados, de maneira especial, os filhos.
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REFERÊNCIAS
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Humanista em diferentes Contextos. 2ª ed. Paraná. Unifil, 2010. p. 220.
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SILVEIRA, Paulo. Exercício da Paternidade; 1 ed; Rio Grande do Sul; Artes Médicas, 1998.
p. 27-103.
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O RESGATE DA PATERNIDADE: UMA VISÃO