Informática Educacional - Falando da minha Prática Heloisa T. Argento Em primeiro lugar, gostaria de refletir um pouco sobre a realidade da escola de hoje. Essa escola que está atravessando um processo de transformação. Em que os alunos estão mudando, que os professores estão meio perdidos, precisando de um olhar atento a essas transformações que apontam dia - a -dia em sua sala de aula, que possa ajudá-los nesse novo fazer docente. Que escola é essa em que estamos atuando? Como mudar? Essas questões me acompanham. E durante minha atuação, tento buscar respostas e transformar minha prática pedagógica em algo mais atrativo, inovador e construtivo. Não podemos esperar que nos mostrem o melhor caminho. Devemos perceber e tentar, mesmo que por intuição, essa nova forma de fazer. Uma nova forma de fazer com que a aprendizagem se processe prazerosamente , de dentro para fora , de fora para dentro, em cada um de nossos alunos. As tentativas estão sendo feitas e, a todo momento, três fatores importantes estão norteando meu trabalho: Primeiro - Perceber a afetividade como um elemento muito precioso na relação professor/aluno e deixar que esta faça parte de todo o processo, possibilitando-me "conhecer o desejo" de aprender de cada um, e descobrindo o seu próprio "desejo de conhecer". "Só o desejo do "Outro" ao ser capturado pelo "Outro" é que pode gerar o conhecimento para a autoria da mudança."( Mendes, G.,1994 p.9). Segundo - Ter um olhar pedagógico em todas as situações sejam elas quais forem. Não podemos deixar de considerar que a criança, ao chegar na escola, já traz consigo uma grande bagagem de informações, que servem como ponto de partida para a construção de novos conhecimentos, assim como perceber que o professor, hoje, está atravessando um período de crise de identidade pessoal e identificação profissional, pois a escola está exigindo dele uma nova postura, apesar dela mesma ainda não saber o que quer. Terceiro - Inovar, recriar e repensar sempre, diversificando as estratégias, utilizando novos recursos e novas tecnologias, para que estas possam contribuir no processo de aprendizagem, propiciando a construção inventiva de novos conhecimentos. Embora saibamos das dificuldades que muitas escolas encontram, em definir sua filosofia de trabalho e as abordagens teóricas que mais se aproximam de seu projeto pedagógico, o professor que estiver disposto a mudar, poderá transformar sua sala de aula em um espaço de prazer e de descoberta, compartilhando informações e proporcionando ao seu aluno oportunidades de troca e de construção. Para isso, se faz necessário saber inventar. Saber aproveitar todas as tecnologias que temos, novas e velhas, e desenvolver uma proposta pedagógica que estimule o pensamento, a autoria, a autonomia, a cooperação e, principalmente, a responsabilidade de cada aluno. É nessa linha de pensamento que venho atuando junto aos professores e alunos das escolas que acompanho, mostrando-lhes as diversas formas de aprender juntos, cada qual dando a sua contribuição. Fazendo-os perceber que temos nas mãos instrumentos poderosos e, ao mesmo tempo, frágeis, pois somos nós que detemos suas potencialidades, podendo fazer com eles o que nossas mentes permitirem, num ir e vir inventivo. E nós inventamos... Descrevendo minha prática Nessa minha vivência como Supervisora de Informática da TREND, orientando o trabalho de professores na utilização das novas tecnologias em sua atividade pedagógica, tivemos a oportunidade de inventar juntos. Inventar novos caminhos, criando novas situações de aprendizagem, propiciando aos nossos alunos oportunidades de aprender de uma forma mais construtiva e criativa e, o mais importante, respeitando o tempo de cada uma das pessoas envolvidas nesse novo construir pedagógico. E fui caminhando...E num primeiro momento, percebi como era importante fazer com que aqueles professores entendessem de que forma o computador estaria como parceiro daquele processo de construção. Como poderia uma máquina fazer o aluno pensar para aprender? Como o aluno poderia aprender sem necessariamente "aprender a programar"? E organizamos um primeiro encontro com toda a equipe da escola, com a finalidade de sugerir uma nova proposta de trabalho. Uma proposta em que a Informática estaria sendo utilizada como ferramenta para a construção de novos conhecimentos, criando condições para que os alunos pudessem estar disponibilizando, na tela do computador, todas as informações obtidas através da interação com a máquina, com o professor e com seus colegas de turma. Construindo o seu próprio saber. Experimentando, desafiando a máquina, "aguçando sua curiosidade, tornando-os mais criativos e inventivos." É assim que eu entendo o computador como parceiro: uma relação usuário / máquina, na qual percebemos que, "na medida em que informações são interpretadas e utilizadas pelo usuário, estas atualizações operam sobre o indivíduo, que, pelo próprio acoplamento nas interfaces com a máquina, a partir das diversas possibilidades oferecidas, se renova e se modifica, desenvolvendo e participando ele mesmo, de um processo criativo contínuo e imprevisível;"( Cf. Fróes, 1998 (3) ) Nosso primeiro projeto surgiu do tema da Campanha da Fraternidade, desenvolvido numa escola, nossa parceira. A princípio, a Informática era vista como uma outra disciplina, que estaria sendo inserida no horário da escola e, até certo ponto, comprometendo o tempo das demais disciplinas, no cotidiano da sala de aula. Precisei estar presente em quase todas as reuniões de planejamento do colégio, a fim de conversar com as equipes e esclarecer alguns pontos, que naqueles momentos seriam fundamentais para que eu pudesse conquistar a confiança da escola para com o trabalho de Informática Educacional. Aproveitava, também, esses momentos para buscar junto aos professores, os assuntos que se aproximariam mais do tema abordado no projeto, que poderiam estar sendo trabalhados com nossa equipe de facilitadores, junto às turmas, no laboratório de Informática. A partir daí, planejamos as atividades junto com os professores das disciplinas envolvidas, selecionamos os softwares mais adequados a cada turma e, semanalmente, desenvolvíamos as atividades com nossos alunos. Os obstáculos foram muitos, durante essa caminhada de um semestre. A maioria dos professores do colégio, ainda estava muito resistente e não conseguia perceber a Informática como uma disciplina integradora, capaz de reunir várias outras, não acreditavam no computador como um recurso tecnológico que poderia estar contribuindo no processo ensino-aprendizagem. Com o passar do ano, fomos conquistando nosso espaço, convidando os professores para visitarem o laboratório e participarem das aulas de informática junto com seus alunos. E as atividades foram sendo desenvolvidas, e outros complicadores surgiram, como por exemplo, a avaliação desse novo processo. Notas? conceitos ? observações? Observar o processo de construção do conhecimento desenvolvido pelo aluno, através de software multimídia como, por exemplo, o HyperStudio, em que muitas vezes esse processo se dá subjetivamente, ...não é fácil ! Principalmente para um professor que traz consigo uma outra prática avaliativa do ensinar aprender. Como mostrar ao professor que a História , a Ciência, a Geografia, a Matemática, a Língua Portuguesa e outras disciplinas, estão ali, presentes o tempo todo, através de uma frase, de uma imagem, num hipertexto programado a partir de um botão para mudar de tela? E as atividades continuaram a ser desenvolvidas pelos alunos, empregando novos recursos, repensando suas hipóteses e reconstruindo sua produção, ficando claro que estaríamos no caminho certo e sabendo onde queríamos chegar .E chegamos. Hoje, o colégio está numa outra etapa de construção, na qual professores e alunos interagem num mesmo processo. Percebendo juntos uma nova forma de ensinar e aprender, usando a tecnologia, com autonomia, e acreditando nas possibilidades de mudanças. Para nós da TREND, a caminhada foi difícil. Mas, acreditamos em nosso trabalho o tempo todo, mesmo sabendo das dificuldades que encontraríamos e que, somente com persistência e criatividade, alcançaríamos nosso objetivo. Inovar o ensino utilizando as tecnologias, sempre foi a nossa meta principal. E fui experimentando... ... numa escola em que a participação vem sendo a característica fundamental de seu processo educativo. Uma escola em que toda a comunidade participa integralmente do processo, e dos projetos por ela desenvolvidos, e percebem a importância do Inovar. Nessa escola, estamos desenvolvendo o projeto Magalhães Global Adventure, com a turma da 1ª série que, no ano anterior, o iniciou na classe de Alfabetização, a partir de um chat com a Família Schürmann. Nesse encontro virtual com a Heloisa Schürmann, que se tornou íntima de todos os alunos, a troca de informações foi muito rica, estimulando-os a novas descobertas e motivando-os a continuarem nessa nova aventura. Hoje, no segundo ano do projeto, os alunos já navegam sozinhos no site, consultando o Diário de Bordo, participando da Lista de Discussão com outras escolas, atualizando a Home Page da escola, com relatos sobre o que vêm descobrindo na história de Fernão de Magalhães, e desenvolvendo várias atividades no computador. Tudo isso, em perfeita sintonia com o tempo de aprender pesquisando e o tempo de aprender brincando. O meu papel nesse momento, é estar orientando os planejamentos e mostrando à escola as possibilidades pedagógicas na utilização da Internet. E tudo vai acontecendo com muita inventividade. Procurando atingir a expectativa do aluno e do professor, com relação a essa tecnologia, e buscando compartilhar dos mesmos objetivos TREND/escola, que estão pautados num trabalho onde a cooperação, a afetividade e a comunicação deverão perpassar todo o processo de desenvolvimento de nosso aluno. Bibliografia FRÓES, J. Educação e Tecnologia: o desafio do nosso tempo -Rio de Janeiro,1998 (1) ________As Novas Tecnologias e a Formação Profissional -Caderno Técnico SENAC -Rio de Janeiro,1998 (2) ________Educação e Informática: a relação homem / máquina e a questão da cognição"- Rio de Janeiro,1998 (3) ________ O professor no Ambiente Logo, Formação e Atuação-O Papel do professor no Ambiente Logo - Organização Valente, J. - Campinas, São Paulo- UNICAMP/ Nied, 1996 LÉVY, P. A Inteligência Coletiva -por uma antropologia do ciberspaço.Tradução de Luiz Paulo Rouanet. Edições Loyila. São Paulo,1998 _______As Tecnologias da Inteligência: O futuro do pensamento na era da Informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa.Ed.34,Rio e Janeiro,1993 Qu@derns - Internet em < http://www.ciberaula.es/quaderns/> [acesso em 03de julho,1998] MENDES, G. O Desejo de Conhecer e o Conhecer do Desejo. Mitos de quem ensina e de quem aprende.- Edt. Artes Médicas Sul.Ltda- Porto Alegre-1994 WEISS, Maria Lucia L. Psicopedagogia Clinica: Uma visão diagnostica- Edt. Artes Médicas-Sul Ltda - Porto Alegre, 1994 WOOD, D. Como as Crianças Pensam e Aprendem . São Paulo. Sp. Martins Fontes , 1996