Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, 2003 (778-788)
UM ESTUDO DO SUB-CAMPO SEMÂNTICO ‘QUASE-BENEFACTIVO’
EM ITALIANO
Luciana Cristina SOUZA (UFSC)
Apóstolo Theodoro NICOLACÓPULOS (UFSC)
ABSTRACT: This paper aims at conducting a study of Italian quasi-benefactive verbs-predicators
centered on case grammar theory,viewed from a semantic-pragmatic angle. According to the theory
which considers the semantic representation of a scene in terms of a central verb and a number of
nouns/cases or semantic roles in close association with it, we will analyze utterances from Rome´s daily
newspaper La Repubblica.
KEYWORDS: verbs-predicators; case grammar theory; semantic roles; quasi-benefactive verbs;
newspaper.
0. Introdução
O intuito deste trabalho é fazer uma análise de verbos-predicadores em italiano com base no
modelo semântico-pragmático proposto por Nicolacópulos (1992), Oliveira (1995), Nicolacópulos et alii.
(1997) e Oliveira (1999).
A hipótese norteadora deste estudo é a de que o campo semântico de verbos-predicadores de
natureza benefactiva apresenta um sub-campo semântico, denominado quase-benefactivo. Para
verificarmos esta hipótese, analisaremos enunciados coletados das seções de Esporte e de Economia do
jornal La Repubblica, de Roma (Itália), no período de 15 a 21 de junho de 2001.
O trabalho está assim organizado: na primeira parte, funda-se o aparato teórico que dará
sustentação à análise dos predicadores; mais especificamente, fazemos um percurso sobre o modelo
proposto por Nicolacópulos (1992), Oliveira (1995), Nicolacópulos et alii. (1997) e Oliveira (1999), com
enfoque em enunciados benefactivos. Na segunda, propomos a existência de um sub-campo semântico
dentro do campo do benefactivo e efetuamos a análise de enunciados que ratificam a nossa hipótese; na
terceira, configuram-se as reflexões sobre os dados analisados.
1.
A teoria de casos
As teorias de Fillmore (1968, 1977), Chafe (1970), Anderson (1971) e Cook (1979, 1989)1,
denominadas genericamente de Gramática de Casos, propõem, em comum, que a estrutura semântica de
uma oração se constitui de um verbo e de nomes/casos que integram a valência semântica (doravante vs)
deste verbo. Para a Gramática de Casos, o verbo é considerado central e os casos estão em uma relação de
associação com o seu verbo-predicador. Em alguns modelos, porém, os casos estão em uma relação de
dependência com o predicador (Chafe, (1970), Anderson (1971), Cook, (1979, 1989), entre outros). Em
outros termos, a Gramática de Casos visa traduzir as relações temáticas entre um predicado e seus
argumentos.
Antes de passarmos à análise dos enunciados2 que constituem o nosso foco de interesse, vamos
situar brevemente os pressupostos teóricos centrais da Gramática de Casos que norteiam o nosso estudo.
1.1 O modelo semântico-pragmático
O modelo proposto por Nicolacópulos et alii (1997) ancora-se no modelo semântico matricial de
Cook (1979, 1989) e nos modelos casuais de Fillmore (1968, 1977), Chafe (1970) e Anderson (1971). É
1
Como não faz parte deste estudo discutir nenhuma destas abordagens, nos remeteremos apenas aos itens
mais fortemente relacionados ao modelo proposto por Nicolacópulos, A. et alii. (1997).
2
Por enunciado entende-se “frase, parte de um discurso ou discurso (oral ou escrito) em associação com
o contexto em que é enunciado.” Cf. HOUAISS, A.(2001) Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda. p.1171
Luciana Cristina SOUZA & Apóstolo Theodoro NICOLACÓPULOS
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um modelo não-localista3 que abarca as dimensões pragmático-discursivas considerando a interpretação
no âmbito contextual.
Neste modelo, a estrutura profunda de cada oração é sintático-semântica, isto é, os casos
semânticos são paralelos às funções sintáticas.
Quanto ao sistema casual, o modelo engloba oito papéis semânticos ou casos, a saber: A, E, B, O,
L, T, C, H (não há obrigatoriedade de ocorrência de nenhum destes casos). A combinação de casos resulta
em um esquema casual/grade temática4, que expressa a valência semântica do predicador em determinado
contexto. O caso Agente (A) expressa ação; o caso Experenciador (E) exprime sensação, emoção,
cognição e o ouvinte da comunicação; o caso Benefactivo (B) denota posse, propriedade, poder, ganho,
perda, benefício, malefício e transferência de propriedade, de posse e de poder; o caso Objeto (O) com
verbos de estado expressa o que está sendo descrito, com processuais, o que sofre mudança de estado, e
com agentivos, o que expressa afecção; o caso Locativo (L) expressa localização; o caso Tempo (T)
denota tempo cronológico; o caso Comitativo (C) expressa companhia; o caso Holístico (H) exprime a
totalidade, o todo.
No que se refere ao tipos de verbos-predicadores/proposições, estes se classificam em básicos,
experimentativos, benefactivos, locativos, temporais, comitativos e holísticos, percebidos estática,
processual ou agentivamente, compondo cenas básicas, experimentativas, benefactivas, locativas,
temporais, comitativas e holísticas respectivamente. Por proposição entende-se “o conjunto de relações,
sem tempo verbal, incluindo verbos e substantivos (e sentenças encaixadas, caso haja alguma), separado
do que poderíamos chamar de constituinte ‘modalidade’. Este último incluirá, nas sentenças tomadas
como um todo, modalidades tais como a negação, o tempo, o modo e o aspecto.” (Fillmore, 1977: 299300).
O modelo admite também a ocorrência, embora raramente, de casos considerados mutuamente
excludentes, os não-básicos: E,B,L,T, etc; o que era também admitido em Fillmore (1971: 51). O verbo
passar ilustra esta possibilidade, pois encerra os casos L(locativo) e T (tempo), ambos proposicionais,
como vemos no exemplo: “Jeffrey passou terça-feira à tarde na praia.”
Para o modelo, o verbo-predicador encontra-se em uma relação de associação com os seus casos
ou papéis semânticos, sendo que o nome atribuído a cada caso refere-se ao valor semântico que ele
assume no contexto. Por exemplo, o Experienciador corresponde àquele que experimenta uma sensação, o
caso Comitativo, àquele que expressa companhia, e assim por diante. O valor semântico não está,
portanto, relacionado ao item lexical, mas à uma relação de associação dos casos com o seu verbopredicador em determinado contexto.
Vale ressaltar ainda que, assim como nos demais modelos de Gramáticas de Casos, o modelo
proposto por Nicolacópulos et alii (1997) considera os casos associados ao seu verbo como
proposicionais e os não-associados, como modais. Assume, com base em Fillmore (1971) e em Cook
(1979), a possibilidade de os casos aparecerem parcial ou totalmente não-manifestos na estrutura sintática
da sentença. Sendo os parcialmente não-manifestos denominados casos apagavéis; e os totalmente nãomanifestos, casos correferenciais e lexicalizados.
Além disso, o modelo compartilha da noção de cenas de Fillmore (1977), segundo a qual somente
os elementos selecionados pelo falante serão colocados em perspectiva, ficando os demais elementos no
background. Para descrever um evento comercial, por exemplo, se o falante optar por tomar a
perspectiva do vendedor e da mercadoria, vai usar o verbo vender; se optar por tomar a perspectiva do
comprador e do dinheiro vai usar o verbo gastar; se optar por perspectivizar ou o comprador e o dinheiro,
ou o comprador e o vendedor vai escolher o verbo pagar; e se optar por perspectivizar a mercadoria e o
dinheiro, vai utilizar o verbo custar. O falante ao selecionar o verbo traz para o palco toda a cena do
3
Em oposição ao modelo localista, adotado por Anderson (1971,1977,1978), o qual prioriza conceitos
concretos locais e espaciais em relação a conceitos abstratos. A linha localista propõe cinco casos: dois
básicos (A, O) e três não-básicos (L - Origem e Meta), que se dividem em locativos concretos (espaciais)
e abstratos (os não-básicos da vertente não-localista). Sobre a não-localista falaremos, a seguir, no corpo
do texto.
4
Por esquema casual/grade temática entende-se o ambiente no qual ocorre um determinado verbopredicador. A formalização dos esquemas casuais obedece aos seguintes critérios:
- as iniciais dos casos presentes nas sentenças são colocadas entre ([ ]), separadas por vírgulas;
- havendo a ocorrência de caso apagável, correferencial ou lexicalizado, este é marcado por (*), e sua
especificação segue-se ao esquema casual: correferências (A=B; A=O; etc); lexicalizações (lex.);
apagamentos (apag.); ocorrência de voz passiva (pass.).
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UM ESTUDO DO SUB-CAMPO SEMÂNTICO ‘QUASE-BENEFACTIVO’ EM ITALIANO
evento, mas apenas um aspecto do evento é promovido5. Assim, compartilhar da noção de cenas
pressupõe perspectiva. A cena compreende o recorte de uma situação enquanto a noção de perspectiva dá
conta do foco destacado. O modelo adota, como já foi dito, e adapta a noção de cenas para aplicá-la na
teoria dos movimentos semânticos, porquanto, cremos, este não era o objetivo de Fillmore.6
Nas palavras de ILARI (2001:131), os enunciados representam pequenas cenas nas quais
diferentes personagens desempenham papéis necessários ao enredo, como no teatro.
É, portanto, à luz deste modelo que procuraremos demonstrar como se constituem os verbospredicadores quase-benefactivos em italiano.
1.2 O caso benefactivo (B)
O campo semântico do benefactivo caracteriza-se por manifestar as noções de posse, propriedade,
poder, ganho, perda, malefício, benefício, transferência de poder, de propriedade, de posse. Esses matizes
de sentido que delineiam o campo B podem ser percebidos em sentido básico e em sentido metaforizado,
como ilustram os enunciados abaixo7:
(1) Dmail.It ha acquisito il 59,2% di Euroinvest, società che gestisce, attraverso Edizioni
investimenti (50% euroinvest e 50% bloomberg), il settimanale economico finanziario
bloomberg investimenti e il mensile "trading on line". (LRE: 15.06.01, p.30; grifo nosso)
Neste enunciado é ressaltada a noção de propriedade, através da aquisição da maior parte das
ações da Euroinvest. Com a compra, Dmail.It entra na propriedade de uma sociedade que é responsável
pela publicação, semanal e mensal, de periódicos sobre economia financeira. O verbo-predicador
benefactivo acquisire (= adquirir) assinala, aqui, o seu sentido básico.
Um exemplo de metaforização pode ser observado em (2):
(2) Altri tafferugli in via del Babuino e via del Corso: piccoli gruppi di teppisti - anche laziali
camuffati con le sciarpe della Roma - sfondano le vetrine a colpi di martello e portano via
scarpe e vestiti; con gli spray imbrattano i muri di svastiche e slogan inneggianti all' estrema
destra. (LRS: 18.06.01, p.8; grifo nosso)
No contexto acima, o verbo-predicador portare (= levar, trazer), cujo sentido básico é de natureza
locativa e expressa deslocamento / transferência de algo de algum lugar para outro, migra para o campo
semântico do benefactivo e passa a expressar a idéia de roubo. Nesta cena, jovens delinqüentes saqueiam
calçados e roupas de uma vitrine. Aqui, entretanto, é preciso olhar para o verbo-predicador portare + via
(o seu complemento). É este composto que forma o todo semântico, de natureza benefactiva e que
assume o sentido de roubar.
Antes de prosseguirmos, cumpre-nos explicitar o conceito de metáfora adotado neste trabalho.
Entendemos por metáfora uma expansão, uma extensão metafórica do sentido básico (primeiro). Por
sentido básico, entendemos o sentido primeiro aceito como tal e armazenado na memória coletiva da
comunidade lingüística e não deve ser confundido com etimológico. Pode haver mais de um sentido
básico. E, conforme Avani (1999: 112), “o sentido básico funciona como aquele sentido primeiro, que já
está incorporado ao mundo da cultura e que viabiliza investimentos em direção a novos efeitos de sentido
e ao próprio processo metafórico”.
Dados esses pressupostos, na seção que segue, passamos a explorar o campo semântico que se
constitui no objeto de estudo desse trabalho: o quase-benefactivo.
2.
5
Quase-benefactivo (qB ) - um sub-campo semântico
Há casos, entretanto, em que o verbo predicador permite mais de uma interpretação em uma cena. Ver,
sobre a questão, FILLMORE. In: FIGUEIREDO, R. (1987) In: SériEncontros. Maria Helena de Moura
Neves (org). Ano I, nº 1. UNESP - Campus de Araraquara. pp. 35-36.
6
As noções de foreground (perspectiva) e background (pano-de-fundo) são importantes para explicar
como, nos movimentos semânticos metafóricos, um papel semântico ou caso é perspectivizado e outro é
deixado como pano-de-fundo.
7
Os símbolos LRE e LRS correspondem às seções de Economia e Esporte, respectivamente, do jornal La
Repubblica.
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O campo semântico benefactivo compreende, a nosso ver, um sub-campo semântico, o qual abriga
significações que podem reverter em efeitos de sentido de natureza benefactiva, mas que ainda não se
realizaram, não se concretizaram. Ou seja, o quase-benefactivo é assim denominado por expressar a
noção de quase-ganho/perda; porquanto pode reverter em ganho ou em perda, mas como tais, não se
configuram, ainda, em ganho ou perda propriamente ditos. São, pois, assim denominados por gravitarem
em torno do campo semântico benefactivo.
Para que isto se torne mais claro, vejamos o enunciado em (3):
(3) La Renault, che ha da poco cambiato il proprio "mantra di marca" in "creatori d'automobili", è
storicamente abituata a rischiare. (LRE: 17.06.01, p.36; grifo nosso)
Em (3), destaca-se a idéia de risco a que se sujeita a Renault mudando o seu slogan. O verbopredicador rischiare (= arriscar) emite o sentido básico de expor ao perigo / expor-se à boa ou à má
fortuna / sujeitar-se ao arbítrio da sorte / aventurar-se. O resultado desse risco pode reverter em bons ou
em maus resultados, em ganhos ou em perdas para a empresa. Considerando que ganhar ou perder, ter
bons ou maus resultados, ter lucros ou prejuízos são sentidos que transitam no campo do benefactivo, eles
funcionam como balizas para o verbo rischiare. É como se ao redor do verbo-predicador se formasse uma
rede delimitada por sentidos de natureza benefactiva, mas que ainda não foi alcançada/tocada por ele.
A título de ilustração, consideremos a figura a seguir:
12324%5678*9+5:
!"!#%$&'(*)+$,
/
.
/0
-.
Fig. 1- Expansão do sub-campo semântico quase-benefactivo em benefactivo
Os sentidos que o verbo-predicador rischiare pode expressar gravitam em torno do campo do
benefactivo, mas o verbo-predicador se encontra no sub-campo denominado quase-benefactivo.
2.1 Análise casual
Para o estudo deste sub-campo semântico, selecionamos 19 verbos-predicadores das seções de
Economia e de Esporte do Jornal La Repubblica. São eles: correre rischio, essere a rischio di chiusura,
venire rischio, mettere a rischio, aumentare i rischi, sottopporre (a), essere in pericolo, mettere in
pericolo, rischiare, cercare, competere, concorrere, cercare, disputare, giocare, investire, negoziare,
provare, rendere competitiva.8
De acordo com o uso, os predicadores serão examinados no âmbito de efeito de sentido básico ou
no âmbito de efeito de sentido metaforizado. Contudo, vale ressaltar que nosso interesse nas
metaforizações contempla apenas as mudanças de sentido de outros campos semânticos em direção ao
sub-campo quase-benefactivo.
É necessário, pois, esclarecer que alguns dos verbos-predicadores estarão sendo interpretados no
seu conjunto, ou seja, acrescidos de seus papéis semânticos. Isso porque entendemos que a construção do
8
A análise destes verbos-predicadores baseia-se nos critérios semânticos definidos nos seguintes
dicionários:
- Dizionario Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de Antônio Houaiss (2001);
- Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa – Básico, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e
J.E.M.M. Editores, Ltda (1988);
- Dizionario Garzanti di Italiano, di Garzanti Editore s.p.a. (1995).
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UM ESTUDO DO SUB-CAMPO SEMÂNTICO ‘QUASE-BENEFACTIVO’ EM ITALIANO
sentido, tanto básico quanto metafórico, poderá advir dos elementos que os complementam; a presença
deles é que vai direcionar para uma leitura em seu efeito de sentido primeiro, ou para uma leitura
metafórica dos verbos-predicadores.
Com relação à interpretação de enunciados metafóricos, Pires de Oliveira (1997:257)9 entende por
foco, “o elemento prontamente identificado pelo intérprete como convidando para uma leitura metafórica,
porque ele introduz uma inconsistência”. Tal afirmação poderá ser estendida também à interpretação de
enunciados não-metafóricos, ou seja, enunciados interpretados em seu efeito de sentido primeiro, uma vez
que a presença de determinados complementos é que vai instaurar o sentido perspectivizado no evento e
direcionar a interpretação do enunciado. Nesse sentido, utilizaremos o termo ‘foco’ para nomear os
elementos que contribuem para o estabelecimento do sentido dos verbos-predicadores.
Neste estudo, os elementos ‘focais’ detonadores dos efeitos de sentido instaurados pelos verbospredicadores são rischio (= risco), pericolo (= perigo) e competitiva (= competitiva).
Dito isto, partiremos para as análises propriamente dos verbos-predicadores quase-benefactivos.
(4) Il rischio che i quattro paesi corrono, e fanno correre a tutta Eurolandia, nota il rapporto, è
gravissimo: una violazione del Patto di stabilità. (LRE:15.06.01, p.2; grifo nosso)
O enunciado em (4) é composto de uma microcena que inclui o verbo-predicador correre (=
correr), cujo sentido básico é deslocar-se no espaço velozmente / dirigir-se apressadamente, de modo
acelerado, a algum lugar, marcando a sua natureza locativa. Mas, neste contexto, o verbo-predicador
empreende um movimento do campo semântico L para o sub-campo qB, ressaltando a noção de ‘risco’ a
que se sujeitam os quatro países com a violação do pacto de estabilidade. Aqui a noção perspectivizada é
pautada no complemento - ‘rischio’; é ele que abre a perspectiva de o pacto de estabilidade ser ou não
violado. A vs do verbo-predicador encerra um O, representado por ‘rischio’(= riscos), e de um qB,
indicado pelos ‘quattro paesi’(= os quatro países). Assim, o esquema casual resultante é : + [qB, O ].
(5) Lo stesso gruppo che controlla l' impianto genovese di Cornigliano oggiè a rischio di chiusura.
(LRE: 15.06.01, p.34; grifo nosso)
No enunciado acima, temos o verbo-predicador essere (= estar, encontrar-se), que expressa a idéia
básica de encontrar-se em certo lugar, transitoriamente, assinalando a sua natureza locativa. Neste
contexto, entretanto, o sentido expresso pelo verbo-predicador é outro: estar sujeito ao fracasso, à
possibilidade de falir.
Duas observações são fundamentais sobre (5): a metaforização do verbo-predicador, promovendo
a suspensão dos traços de sentido locativo e o alçamento da noção de risco - possibilidade de falir; e a
instituição do novo sentido, o metaforizado, a partir dos elementos ‘rischio’ e ‘chiusura’. Em relação à
primeira, percebemos que a expansão do sentido, desencadeada pelo processo metafórico, aponta para o
campo semântico do benefactivo: as noções de benefício e malefício são instauradas neste campo.
Todavia, essere a rischio di chiusura (= estar em risco de falir) apenas prevê estas possibilidades, mas
efetivamente nenhuma delas se realizou. Daí o verbo-predicador migrar do campo semântico locativo
para o quase-benefactivo. Quanto à segunda, nos parece crucial a interpretação do verbo-predicador
como um todo, ou seja, acrescido de seus papéis semânticos para se chegar ao sentido construído no
enunciado. São esses papéis semânticos que convidam à interpretação metafórica, daí a necessidade de
considerá-los como partes do verbo-predicador.
Na cena, a vs do verbo-predicador engloba a presença de um qB, representado por ‘lo stesso
gruppo’ (= o mesmo grupo) e de um O, que vem expresso em ‘rischio di chiusura’(= risco de
fechar/falir). Seu esquema casual é : + [ qB, O].
(6) Si è detto che i rischi maggiori vengono dalle demissioni immobiliari, dalla sanità e dagli
acquisti on line della pubblica amministrazione. (LRE:15.06.01, p.2; grifo nosso)
O verbo-predicador venire (= vir) encontra-se, nesta cena, metaforizado. Seu sentido básico, de
encaminhar-se / ir-se deslocando por um caminho, circunscrito no campo semântico locativo, transfere-se
para o quase-benefactivo, assumindo novo sentido: provocar risco / trazer risco / originar risco. A nova
idéia perspectivizada no evento está instanciada entre o benefício e o malefício que o risco pode
ocasionar. Por isso, o verbo-predicador caracteriza-se como quase-benefactivo e sua vs compreende um
O, expresso por ‘i rischi’(= os riscos), um O, representado pelos elementos que originam o risco que,
neste caso, são ‘dalle demissioni immobiliari, dalla sanità e dagli acquisti on line della pubblica
9
Para outros esclarecimentos ver Pires de Oliveira (1997).
Luciana Cristina SOUZA & Apóstolo Theodoro NICOLACÓPULOS
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amministrazione’ (= das demissões imobiliárias, da saúde e das aquisições on line da administração
pública), e de um qB, que envolve o beneficiário/maleficiário do risco, mas que está apagado. O esquema
casual é : + [*qB, O, O ] / qB - apag.
(7) Una volta tanto uno va in Franciacorta e trova qualche cosa di più appetitoso della celebrata
cucina di Gualtiero Marchesi: una batteria di XType da stordire la vista e mettere a rischio il
portafoglio. (LRE: 17.06.01, p.36; grifo nosso)
Em (7), o verbo-predicador mettere (= colocar, pôr) é deslocado de seu sentido ‘costumeiro’10, de
natureza locativa, para junto com seu complemento, ‘rischio’(= riscos), abarcar um novo sentido, de
natureza quase-benefactiva: o de sujeitar-se a possibilidade de perdas, de prejuízo. A noção
perspectivizada oscila entre a perda e o ganho, entre o benefício e o malefício, todas noções instanciadas
no campo semântico do benefactivo. O verbo-predicador, por sua vez, encontra-se no campo semântico
quase-benefactivo e sua vs engloba um A, expresso por ‘una batteria di Xtype’(= uma bateria de Xtype),
um O, indicado por ‘rischio’, e de um qB, que compreende aquele que perderá ou ganhará algo,
representado por ‘portafoglio’(= carteira). O esquema casual, então, é: + [ A, qB, O].
(8) La flessibilità del lavoro, che comporta minore capacità di autotutela e ansia da incertezza,
aumenta i rischi di infortunio. (LRE: 19.06.01, p.30; grifo nosso)
No enunciado acima, temos o verbo-predicador aumentare (= aumentar), que expressa a idéia de
tornar-se maior em extensão / fazer com que se mostre maior / ampliar, marcando sua natureza básica.
Neste contexto, entretanto, ele está configurando uma outra idéia, de natureza quase-benefactiva:
probabilidade de insucesso, de malogro. O novo sentido adquirido via processo de metaforização,
contudo, advém da união das significações expressas pelo verbo-predicador e seu complemento, ‘i rischi’
(= os riscos). O aumento do risco é proporcional às chances de benefício e/ou malefício que o próprio
risco traz. A vs do verbo-predicador pressupõe um A, representado por ‘la flessibilità del lavoro’(=
flexibilidade de trabalho), um O, expresso por ‘rischi di infortunio’ (= riscos de insucesso), e de um qB,
que envolve o destinatário do sucesso ou do infortúnio e que está apagado na cena. Seu esquema casual
pode ser assim representado: + [A, *qB, O] / qB -apag.
(9) Resta, con tutti i dubbi sul contenuto, l' amara constatazione dell' incredibile quota di rischio a
cui gli atleti si sottopongono pur di ricorrere a prodotti vietati. (LRS: 19.06.01, p.54; grifo
nosso)
O verbo-predicador sottoporre (= submeter) é deslocado de seu sentido ‘costumeiro’, de natureza
experimentativa, para assumir um novo efeito de sentido, de natureza quase-benefactiva: o de sujeitarse / submeter-se ao perigo, à possibilidade de perdas. Os atletas, ao recorrerem a produtos proibidos, se
submetem ao risco de serem pegos ou não. A noção destacada no evento oscila entre o beneficio e o
prejuízo, todas noções instanciadas no campo semântico do benefactivo. O verbo-predicador, entretanto,
encontra-se no campo semântico quase-benefactivo, uma vez que duas perspectivas são abertas no
evento, e nenhuma delas é efetivamente confirmada. Também aqui, o casamento entre o verbo-predicador
e o elemento ‘quota di rischio’ (= margem de risco) que o complementa é que faz surgir o novo sentido,
sendo que a vs do verbo-predicador configura um A, correferente com um qB, representados pelos que
estão sujeitos ao risco, que, neste caso, são ‘gli atleti (= os atletas), e de um O, que está expresso no
contexto por ‘prodotti vietati’(= produtos proibidos), resultando no seguinte esquema casual : + [ A, qB,
O ] / A=qB; O-apag.
(10) Claudio Riva, consigliere delegato dell' Ilva: nonè in pericolo solo Cornigliano (LRE:
15.06.01, p.34; grifo nosso)
Em (10), o verbo-predicador essere (= estar, encontrar-se) ganha uma nova dimensão
interpretativa, passando do campo semântico locativo para o sub-campo quase-benefactivo. É esvaziado
parcialmente de seu sentido primeiro, que expressa a idéia básica de encontrar-se em certo lugar, para ser
preenchido por um novo efeito de sentido: encontrar-se em uma situação e/ou eventualidade em que pode
ocorrer um dano. Para precisar o sentido do verbo-predicador, é necessário considerar o elemento que o
segue, ‘pericolo’(= perigo); é ele que desencadeia as noções de benefício/malefício instauradas nesta
cena.
10
Aqui entendido como sinônimo de sentido primeiro ou básico.
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UM ESTUDO DO SUB-CAMPO SEMÂNTICO ‘QUASE-BENEFACTIVO’ EM ITALIANO
Além disso, percebemos que a noção de malefício é a mais fortemente ressaltada neste enunciado,
mas entendemos que também a noção de benefício é alvo do verbo-predicador. A noção de risco evocada
no enunciado pode alcançar uma ou outra das perspectivas abertas pelo verbo-predicador. Ambas as
noções gravitam no campo semântico benefactivo, e não há indícios no contexto que sinalizem somente
para uma única possibilidade; por isso, está instanciado no sub-campo semântico quase-benefactivo.
A vs do verbo-predicador essere, neste enunciado, encerra um O, representado pelo complemento
‘pericolo’, e de um qB que compreende o aquele/aquilo que está em perigo na cena e que está apagado. O
esquema casual é: + [*qB, O].
(11) Per l' Italia, il cui nuovo governo promette ampi gravi
s
fiscali e aumenti delle pensioni, il
monito è particolarmente severo: non c' è margine semetteranno in pericolo il risanamento dei
conti, avverte Duisenberg. (LRE: 15.06.01, p.2; grifo nosso)
O sentido básico deflagrado pelo verbo-predicador mettere (= colocar, pôr) compreende pôr /
situar / instalar em algum lugar, todos circunscritos no campo semântico locativo. No entanto, no
enunciado acima, ele está metaforizado, perspectivizando a noção de ‘perigo’ e, portanto, deslocando-se
para o sub-campo semântico do benefactivo, o quase-benefactivo. O novo sentido que lhe é atribuído
advém do nome ‘pericolo’(= perigo). É a combinação com esse elemento que imprime ao verbopredicador mettere o sentido metaforizado de colocar-se / encontrar-se em uma situação ou eventualidade
em que pode ocorrer um dano. No contexto, a vs do verbo-predicador encerra um A (= os governistas),
subentendido no contexto, um O, expresso por ‘il risanamento dei conti’ (= o saneamento das contas
públicas) e de um qB¸ que neste caso representa o país que sofrerá a repressão, a Itália. O esquema casual
é o seguinte:
+ [ *A, qB, O] / A, qB; A-apag.
(12) Giovedì (ore 20) a Verona, domenica (ore 18) a Reggio Calabria: queste le date dello
spareggio salvezza, ma il Verona ha rischiato la squalifica del campo per cori razzisti: se l' è
cavata con 70 milioni di multa. (LRS: 19.06.01, p.54; grifo nosso)
Novamente temos um enunciado envolvendo o verbo predicador rischiare (= arriscar). Neste
contexto, está sendo perspectivizada a noção de ‘risco’ através da remissão ao sentido básico do verbopredicador: expor ao perigo / sujeitar-se ao arbítrio da sorte. Quem se sujeita ao risco pode colher bons ou
maus resultados e, no caso do enunciado em (12), perder a classificação em um campeonato de futebol.
Nessa perspectiva, o referido predicador assinala mais uma vez a sua natureza quase-benefactiva e sua vs
institui um A, em correferência com um qB , expresso por ‘il Verona’, e de O, representado por ‘la
squalifica del campionato’(= a desclassificação do campeonato). O esquema casual resultante é : + [ A,
qB, O] A =qB.
(13) Poiché siamo nella finanza gestita, la gente legge, mugugna, ritira un po' di soldi e va a
cercare fortuna altrove. (LRE: 19.06.01, p.38; grifo nosso)
No enunciado em (13), o verbo-predicador cercare (= procurar) exprime seu sentido básico de ir
atrás de / buscar, validando sua natureza quase-benefactiva. A cena evidencia a busca de algo que ainda
não foi encontrado. A vs do verbo-predicador prevê, então, um A, ‘la gente’(= as pessoas), numa
correlação de referência com qB - subentendido (= la gente), e de um O, caracterizado por ‘fortuna’(=
tesouro). Seu esquema casual é: + [A, *qB, O] / A =qB.
(14) Figuriamoci la Roma, dove per decenni si partiva sapendo già di poter competere al massimo
per una piazza d' onore! (LRS: 19.06.01, p.50; grifo nosso)
A cena destacada em (14) envolve o verbo-predicador competere (= competir), cujo sentido básico
expressa a idéia de entrar em concorrência com alguém por alguma coisa / rivalizar-se, manifestando sua
constituição quase-benefactiva. Aqui, a noção de ‘competição’ pode ser revertida em ganho ou em perda,
por isso o verbo-predicador está instanciado no campo semântico do quase-benefactivo. A vs do referido
predicador configura um A, correferente com um qB, representados por ‘Roma’, e de um O, configurado
em ‘piazza d’onore’(= uma colocação de honra no campeonato), sintetizados no seguinte esquema
casual: + [A, qB, O] / A=qB.
(15) Nei primi cinque anni, infatti, sarà possibile concorrere ad altrettanti sorteggi. (LRE:
21.06.01, p.37; grifo nosso)
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Em (15), o verbo-predicador concorrere (= concorrer) assume o seu sentido primeiro de participar
/ de competir por algo. Aqui também destaca-se o caráter quase-benefactivo deste verbo-predicador, uma
vez que quem concorre a sorteios pode ser ganhador ou perdedor, ser ou não beneficiado. Sua vs
compreende um A , correferente com um qB - o concorrente - subentendidos no contexto, e de um O,
expresso por ‘sorteggi’(= sorteios). O esquema casual final é : + [ *A,* qB, O] / A=qB; A, B-apag.
(16) E quindi, scomparso Cuccia, ha dovuto mettersi al lavoro per cercare di conquistare davvero
la successione, il diritto di comandare. Ma subito è inciampato in un ostacolo prevedibile.
(LRE: 21.06.01, p.38; grifo nosso)
Na cena acima, temos o verbo-predicador cercare (= procurar), que expressa o sentido básico de
executar ações necessárias para encontrar algo / ir atrás de, afirmando sua natureza quase-benefactiva.
Quem está à procura de algo é porque ainda não o encontrou portanto pode ou não encontrá-lo. No evento
em (16), é preciso encontrar uma maneira para conquistar a sucessão. O resultado que se deseja obter é a
sucessão, mas ele ainda não foi alacançado; a possibilidade de atingir o objetivo ainda está em aberto.
Sendo assim, a vs do verbo-predicador compreende um A, correferente com um qB, representados por
aquele que deseja obter a sucessão, e apagados no contexto, e um O, expresso através ‘di conquistare
davvero la sucessione’(= conquistar realmente a sucessão). O esquema casual obtido é:
+ [*A, qB*, O] / A=qB; A, B-apag.
(17) Trattato a parte lo scudetto della Roma, ottenuto con punteggio record, è innegabile che
Juve e Lazio abbiano disputato un campionato eccellente, senza mai mollare. (LRS: 18.06.01,
p.40; grifo nosso)
O evento acima apresenta o verbo-predicador disputare (=disputar), que inscreve seu primeiro
sentido como quase-benefactivo: despender esforços para obter algo / concorrer / competir. Quem entra
na disputa do campeonato pode sair vencedor ou derrotado, pode ganhá-lo ou perdê-lo. Nesse sentido, sua
vs supõe um A, correferente com um qB - os agentes da disputa -, representados por ‘Juve e Lazio’, e um
O, expressando o objeto da disputa - ‘un campionato’(= um campeonato). O esquema casual é: + [ A,
*qB, O] / A=qB.
(18) Lacrime. Non quelle del Napoli in B. Ma quelle di Francesco Toldo, che ha giocato l' ultima
partita con la maglia della Fiorentina dopo otto anni di crescita continua: da ragazzone di
talento alla nazionale. (LRS: 18.06.01, p.47; grifo nosso)
O verbo-predicador giocare (= jogar) assinala sua constituição quase-benefactiva em (18). Seu
sentido básico é: praticar uma atividade física ou material organizada por um sistema de regras que
definem a perda ou o ganho. Aqui a noção de ‘jogo’ pode reverter em vitória ou em derrota, em ganho ou
em perda da partida, o que faz com que o verbo-predicador fique instanciado no campo semântico quasebenefactivo. A vs do verbo-predicador assinala um A, correferente com um qB, representados por
‘Francesco Toldo’, o jogador, e de um O, expresso através de ‘l’ultima partita’(= a última partida). O
esquema casual é : + [ A, qB, O ] / A=qB.
(19) A Bologna i presidenti investono miliardi per fare le squadre, e i tifosi milioni per andare a
vederle. (LRS: 21.06.01, p.56; grifo nosso)
Neste enunciado, o verbo-predicador investire (=investir) estabelece seu sentido primeiro como
empregar (em algo) / aplicar (dinheiro). Aqui, a noção de ‘investimento’ pode acarretar ou não ganho
para os investidores, por isso o verbo-predicador está alojado no sub-campo semântico quase-benefactivo.
A sua vs abriga um A, que corresponde aos investidores - ‘i presidenti’(= os presidentes) - , um O,
referente ao que é investido - ‘miliardi’ (= milhões) - e de um qB, que compreende o beneficiado com o
investimento e que está subentendido no contexto. O esquema casual, então, é: + [ A, *qB, O ] / qB apag.
(20) Il colosso inglese dei liquori e dei superalcolici Diageo starebbe negoziando con il gruppo di
investitori privati Texas Pacific - lo stesso che in Italia è tra i maggiori azionisti della Ducati e
della Piaggio - la vendita della controllata Burger King ad un prezzo di 2,2 miliardi di sterline
(quasi 7mila miliardi di lire). (LRE: 19.06.01, p.31; grifo nosso)
786
UM ESTUDO DO SUB-CAMPO SEMÂNTICO ‘QUASE-BENEFACTIVO’ EM ITALIANO
A cena em (20) traz o verbo-predicador negoziare (= negociar), cujo sentido primeiro, de natureza
quase-benefactiva, configura-se em transacionar comercialmente / comerciar / fazer negócio. Aqui, a
idéia de ‘negociação’ pode ocasionar ou não a venda da Burger King, e por isso o verbo-predicador se
encontra no sub-campo semântico quase-benefactivo e sua vs envolve um A, configurado pelos agentes
da negociação - ‘Diageo’ e ‘Texas Pacif”, um O, que está expresso pelo objeto da negociação, - a
‘Burger King’, e um qB, representado pelo beneficiário da transação comercial, - ‘Diageo’. O esquema
casual obtido é : + [ A, qB, O ].
(21) Adesso, ha raccontato l' attaccante argentino,proviamo a vincere la Champions League.
(LRS: 19.06.01, p.48; grifo nosso)
O verbo-predicador provare (= tentar) assinala sua constituição quase-benefactiva no evento em
(21). Seu sentido básico é empregar meios para conseguir algo / esforçar-se por / buscar / procurar. A
noção destacada no evento titubeia entre vencer ou perder, entre o ganho ou a derrota, por isso o verbopredicador está instanciado no sub-campo semântico quase-benefactivo. Sua vs compreende um A,
numa relação de correferência com um qB, (os agentes / quase-vencedores) subentendidos no evento, e
um O, expresso por ‘vincere la Champions League’ (= vencer a liga dos campeões). O esquema casual
obtido é :
+ [ *A,*qB, O ] / A= qB; A,B - apag.
(22) Quanto ai rapporti con il nuovo governo, Angeletti pensa che la vera sfida per rendere
competitiva l' Ita
lia è sulla qualità e che il sindacato aspetta il confronto su fisco e
occupazione, perché «vuole posti di lavoro non precari e bem pagati». (LRE: 15.06.01, p.4;
grifo nosso)
A cena destacada envolve o verbo-predicador rendere (= tornar/ transformar), cujo sentido básico,
de natureza experimentativa, é efetuar a conversão de (algo ou de si mesmo) / transformar- (se) / fazer(se). Nesta cena, o verbo-predicador está metaforizado, passando do campo E para o sub-campo quasebenefactivo. O novo sentido que lhe é atribuído advém do seu complemento ‘competitiva’. É ele o
responsável pela expansão do seu sentido primeiro. Sendo assim, a noção de ‘competição’,
perspectivizada no evento, alterna-se entre o benefício, subjacente à possibilidade de a Itália tornar-se
realmente competitiva, e o malefício, caso a Itália não se torne competitiva. A vs deste verbo-predicador
encerra um A, que compreende o agente da modificação e está representado por ‘la vera sfida’(= o
verdadeiro desafio), um O, expresso em ‘sulla qualità’(= sobre a qualidade), e de um qB, referente ao
destinatário da modificação, que está representado em ‘l’Italia’. O esquema casual resultante é: + [ A, qB,
O ].
3. Considerações finais
Através da análise casual tentamos traçar as evidências que validam a nossa hípotese: a da
existência de um sub-campo semântico, denominado quase-benefactivo, dentro do campo semântico do
benefactivo. Vimos que os verbos-predicadores instanciados neste sub-campo semântico sugerem mais de
uma interpretação para o enunciado. São sempre duas perspectivas que se abrem, como pudemos verificar
nas cenas (4)-(22).
Percebemos, ainda, que as possibilidades que se abrem são contrastantes, podem reverter em
benefício ou malefício, em ganho ou perda, em lucro ou prejuízo, e assim por diante. São, em outras
palavras, as informações contextuais que balizam o leque de interpretações possíveis.
A adoção de um modelo semântico-pragmático, neste trabalho, permitiu-nos captar os efeitos
semânticos produzidos na relação entre o verbo-predicador e seus papéis semânticos/argumentos. Para a
Gramática de Casos, o verbo é considerado central e os casos/papéis semânticos/argumentos estão em
uma relação de associação com o seu verbo-predicador. Dos 19 verbos-predicadores analisados, 10
manifestaram-se em sentido básico, sendo que os demais se apresentaram metaforizados. Nosso estudo,
entretanto, contemplou apenas as metaforizações de outros campos semânticos em direção ao sub-campo
semântico quase-benefactivo. Fica como sugestão para trabalhos futuros abordar as metaforizações do
campo semântico qB em direção a outros campos semânticos.
Outro ponto a ser comentado diz respeito à interpretação dos verbos-predicadores como um todo.
Como vimos, em muitas cenas não é possível analisar o verbo-predicador isoladamente. É necessário
buscar o seu sentido junto ao elemento que o segue e/ou complementa. Nos enunciados (4)-(8), (10)-(11)
e (22), os verbos-predicadores foram analisados junto dos seus papéis semânticos. O sentido quase-
Luciana Cristina SOUZA & Apóstolo Theodoro NICOLACÓPULOS
787
benefactivo adveio dos elementos focais ‘rischio’, ‘pericolo’ e ‘competitiva’; sentido que o verbopredicador se apropriou como centro da cena.
Cabe, ainda, ressaltar que o objetivo de nosso estudo contemplou somente a existência do subcampo quase-benefactivo, sendo que a existência de outros sub-campos, quase-comitativo, quaselocativo, quase-experimentativo, etc, não deve ser tomada como impossível de se encontrar na língua, e
fica aí mais uma sugestão para um futuro trabalho.
Por fim, resumindo, os verbos-predicadores analisados são listados na figura 2 com seus
respectivos esquemas casuais:
Verbo-predicador
Sentido
Sentido
metaforizado
Esquema Casual
Correre rischio
L;
qB
+ [qB, O ]
Essere a rischio di chiusura
L;
qB
+ [qB, O ]
Venire rischio
L;
qB
+ [*qB, O, O ] / qB - apag.
Mettere a rischio
L;
qB
+ [ A, qB, O]
Aumentare i rischi
O;
qB
+ [A, *qB, O] / qB -apag.
Sottoporre
E;
qB
+ [ A, qB, O ] / A=qB;O-apag.
Essere in pericolo
L;
qB
+ [*qB, O]
Mettere in pericolo
L;
qB
+ [ *A, qB, O] / A, qB; A-apag.
Rischiare
qB
+ [ A, qB, O] A=qB
Cercare
qB
+ [A, *qB, O] / A =qB
Competere
qB
+ [A, qB, O] / A= qB
Concorrere
qB
+ [ *A,* qB, O] / A=qB; A, B-apag.
Cercare
qB
+ [*A, qB*, O] / A=qB; A, B -apag
Disputare
qB
+ [ A, *qB, O] / A= qB
Giocare
qB
+ [ A, qB, O ] / A= qB
Investire
qB
+ [ A, *qB, O ] / qB -apag
Negoziare
qB
+ [ A, qB, O ]
Provare
qB
+ [ *A,*qB, O ] / A= qB; A,B - apag.
Rendere competitiva
O;
qB
+ [ A, qB, O ]
Fig. 2- Lista dos verbos predicadores quase-benefactivos
e seus respectivos esquemas casuais/grades temáticas
RESUMO: O objetivo do trabalho é realizar um estudo de verbos-predicadores em Italiano tendo como
base a Gramática de Casos. Considerando os pressupostos desta teoria, os quais estabelecem que a
estrutura semântica de uma oração se constitui de um verbo e de nomes/casos que integram a valência
semântica deste verbo, analisaremos enunciados coletados do jornal La Repubblica, de Roma (Itália).
PALAVRAS-CHAVE: gramática de casos; verbos quase-benfactivos; verbos-predicadores; papel
semântico; jornal .
788
UM ESTUDO DO SUB-CAMPO SEMÂNTICO ‘QUASE-BENEFACTIVO’ EM ITALIANO
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