Estudo e Prática da
Mediunidade
Módulo III
Fundamentação Espírita:
Mecanismos da Mediunidade
Roteiro 3
Psicofonia
Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é
o mesmo, [...] Porque a um, pelo Espírito, é
dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo
mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo
Espírito, os dons de curar, e a outro, a
operação de maravilhas; e a outro, a profecia;
e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a
outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas. Mas um só e o
mesmo Espírito opera todas essas coisas,
repartindo particularmente a cada um como
quer.
Paulo (1 Coríntios, 12:4-11)
1. Conceito
Em o Evangelho segundo o Espiritismo há as seguintes
informações, alusivas ao conceito de mediunidade.
Os médiuns são os interpretes dos Espíritos; suprem, nestes
últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais
transmitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de
faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de
renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima;
são arvores destinadas a fornecer alimento espiritual a
seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde
o alimento; há os por toda a parte, em todos os paises,
em todas as classes da sociedade, entre ricos e os
pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em
nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos
homens que todos são chamados. (1)
A comunicação mediúnica pela fala recebe o nome genérico
de psicofonia ou outro, menos apropriado, de
incorporação. Allan Kardec chama os médiuns
psicofônicos de médiuns falantes.
Neles, o Espírito atua sobre os órgãos da palavra, como
atua sobre a mão dos médiuns escreventes. [...] O
médium falante geralmente se exprime sem ter
consciência do que diz e muitas vezes diz coisas
completamente estranhas às suas idéias habituais, aos
seus conhecimento e, até, fora do alcance de sua
inteligência. Embora se ache perfeitamente acordado e
em estado normal, raramente guarda lembrança do que
diz. [...] Nem sempre, porém, é tão completa a
passividade do médium falante. Alguns há que tem
intuição do que dizem, no momento mesmo em que
pronunciam as palavras. (7)
A psicofonia é, pois, “[...] a faculdade que permite aos Espíritos,
utilizando os órgãos vocais do encarnado, transmitirem a
palavra audível a todos que presentes se encontrem. É a
faculdade padronizar mais freqüente em nosso movimento de
intercambio com o mundo extracorpóreo”. (13)
O texto de Paulo, inserido no inicio deste Roteiro, informa que
devemos identificar e reconhecer os dons espirituais,
concedidos por Deus para a nossa melhoria. A faculdade
mediúnica é um desses dons que devem ser utilizados para a
edificação do Espírito.
Muitos aprendizes desejariam ser grandes videntes ou admiráveis
reveladores, embalados na perspectiva de superioridade, mas
não se abalançam nem mesmo a meditar no suor da conquista
sublime. [...] É junto que os discípulos pretendam o
engrandecimento espiritual, todavia, quem possua faculdade
humilde não a despreze porque o irmãos mais próximo seja
detentor de qualidades mais expressivas. (17)
2. Características
E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram
a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem. (Atos dos Apóstolos, 2:4)
Em se tratando da forma ou grau de como a faculdade
psicofônica se expressa, a Codificação Espírita sugere a
seguinte classificação:
 Psicofonia sonambúlica ou inconsciente.
 Psicofonia consciente ou intuitiva.
 Pneumatofonia ou voz direta.
2.1 Psicofonia sonambúlica ou inconsciente
André Luiz explica que na psicofonia sonambúlica o
médium desvencilha-se do corpo físico como alguém
que se entrega ao sono profundo. Nesta situação,
mantêm-se a pequena distancia, permitindo que o
Espírito comunicante assenhore-se da sua organização
somática, ligando-se intensamente ao cérebro, porém,
impede que ele fale ou faça algo menos digno. 18
Na psicofonia sonambúlica (ou inconsciente) o médium
entra em transe profundo, em geral, decorrente do
desdobramento da personalidade. Nessa situação, o
Espírito comunicante tem maior domínio sobre o veiculo
físico do médium, exprimindo-se de forma mais livre,
como se aquele corpo fora realmente seu. 15)
Essa liberdade de expressão, própria da psicofonia
inconsciente, levou à falsa impressão de que o comunicante
espiritual, efetivamente, substituísse o Espírito do médium e
“incorporava” em seu corpo físico. Assim, esse gênero de
manifestação recebeu outros nomes: possessão completa,
interpenetração psíquica ou, simplesmente, possessão.
Léon Denis, notável estudioso espírita do passado, por
exemplo, entendia que o comunicante espiritual substituía o
médium na posse do corpo físico. Foi ele que adotou o
termo incorporação (ou possessão completa): “No corpo do
médium, momentaneamente abandonado [em transe
profundo], pode dar-se uma substituição de Espírito. É o
fenômeno das incorporações. A alma de um desencarnado,
mesmo a alma de um vivo [encarnado] adormecido, pode
tomar o lugar do médium e servir-se do seu organismo
material, para se comunicar pela palavra e pelo gesto com
as pessoas presentes”. (9)
A análise de Kardec contraria essas idéias de Denis, visto
que, para o Codificador do Espiritismo, em nenhuma
situação um Espírito pode substituir um Espírito
encarnado, na posse do corpo físico, mesmo em
processos mais avançados de obsessão. Por outro lado,
nos primórdios da Codificação Espírita, o estudo dos
fenômenos mediúnicos encontrava-se na sua fase inicial.
Os estudiosos daquela época não possuíam as
informações que temos atualmente.
Como a palavra incorporação é amplamente utilizada nos
meios espíritas, julgamos importante destacar que o termo
deve ser aplicado no sentido genérico de manifestação
mediúnica de fala. Mesmo nos processos obsessivos
severos, como na subjugação, não há a mínima
possibilidade de o obsessor substituir o obsidiado na
posse de seu corpo físico. Esclarecem os orientadores
espirituais:
O Espírito não entra em um corpo como
entras numa casa. Identifica-se com um
Espírito encarnado, cujos defeitos e
qualidades sejam os mesmos que os
seus, a fim de obrar conjuntamente com
ele. Mas, o encarnado é sempre quem
atua, conforme quer, sobre a matéria de
que se acha revestido. Um Espírito não
pode substituir-se ao que está encarnado,
por isso que este terá que permanecer
ligado ao seu corpo até o termo fixado
para sua existência material. (3)
Para melhor compreendermos a mediunidade
psicofônica sonambúlica, é importante que
saibamos fazer a distinção entre o sonambulismo
propriamente dito [fenômeno anímico] e a
mediunidade sonambúlica, fenômenos que se
assemelham, mas que não são iguais.
Sonambulismo é uma faculdade anímica
caracterizada por “[...] um estado de independência
do Espírito, mais completo do que no sonho, estado
em que maior amplitude adquirem suas faculdades”.
(2) Nessas circunstancias, por se tratar de uma
manifestação psíquica anímica, “[...] o sonâmbulo
age sob a influencia do seu próprio Espírito; é sua
alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve
e percebe, fora dos limites dos sentidos.” (8)
Na mediunidade sonambúlica ocorrem,
simultaneamente, duas ordens de
fenômenos: o sonambulismo
propriamente dito, que é o
desdobramento da personalidade do
médium, e a manifestação de uma
entidade espiritual, que utiliza o
aparelho fonador do médium em
questão para se comunicar.
2.2 Psicofonia consciente ou intuitiva
“Na psicofonia consciente pode o médium fiscalizar a
comunicação, controlando gestos e palavras do Espírito,
uma vez que o pensamento deste atravessa, antes, a
mente do médium, para chegar, afinal, ao campo
cerebral”. (14) O médium psicofônico intuitivo pode até
ficar ligeiramente afastado do corpo físico, no entanto,
tem consciência, o tempo todo, das ideais e intenções
do desencarnado que se comunica por seu intermédio.
O que basicamente caracteriza a psicofonia consciente é
que, como na psicografia, nem [...] sempre, porém, é tão
completa a passividade do médium falante. Alguns há
que tem a intuição do que dizem, no momento mesmo
em que pronunciam as palavras”. (7)
“Na chamada psicofonia consciente, o processo de
comunicação, segundo André Luiz, pode ser descrito
como se segue. Estabelecido o transe mediúnico, em
condições adequadas, o médium-alma, desdobrado, se
afasta do corpo físico, conservando-se, no entanto, a
alguns centímetro dele. A entidade comunicante se
justapõe ao equipamento mediúnico, ao mesmo tempo em
que leves fios brilhantes ligam seu cérebro perispirístico à
fonte do corpo espiritual do médium, imanizando-se a este
pela corrente nervosa, numa associação comparada a
sutil processo de enxertia neuropsíquica. Ao ligar-se ao
equipamento mediúnico, o Espírito comunicante dele se
assenhoreia, apropriando-se, por conseguinte, do seu
aparelho sensório, passando a ver, ouvir, falar e, até
mesmo, a locomover-se (em alguns casos raros) como se
fosse encarnado naquele corpo”. (10)
Como o médium e o Espírito comunicante se
mantêm unidos, reciprocamente, por meio da
corrente nervosa, o médium toma conhecimento
prévio dos sentimentos, idéias, intenções ou
outros impulsos da entidade desencarnada.
A psicofonia é chamada consciente justamente
porque o médium tem pleno conhecimento
(consciência) da mensagem que transmite e, “[...]
nos casos de socorro espiritual a sofredores,
controla, policia a comunicação, impedindo
manifestações inconvenientes e frustrando
qualquer abuso no nascedouro. Assim, o médium
permanece no comando da manifestação, à qual
superpõe sua vontade e fiscalização”. (11)
Em síntese, podemos dizer em relação à psicofonia
sonambúlica e à psicofinia consciente:
- Na psicofonia sonambúlica, o plexo laríngeo é
diretamente atingido pelo comunicante desencarnado,
permitindo uma manifestação mais completa, quando
é possível até reconhecer o tom da voz e as
características da linguagem que possuía quando
encarnado. A xenoglossia, ou psicofonia em línguas
estrangeiras, é mais observada nessa forma
mediúnica (psicofonia sonambúlica)
- Na psicofonia consciente ou intuitiva, o comunicante
desencarnado “[...] assume o comando dos centro
cerebrais da fala, em virtude do processo de enxertia
neuropsíquica que se faz com o perispírito do
médium”. (12)
3. Pneumatofonia ou Voz Direta
“Dado que podem produzir ruídos e pancadas, os Espíritos
podem igualmente fazer se ouçam gritos de toda espécie e
sons vocais que imitam a voz humana, assim ao nosso lado,
como nos ares. A este fenômeno é que damos o nome de
pneumatofonia”. (4) Ao mesmo tempo que Kardec fornece
esses esclarecimentos, nos faz um alerta:
Devemos, entretanto, preservar-nos de tomar por vozes
ocultas todos os sons que não tenham causa conhecida, ou
simples zumbidos, e, sobretudo, de dar o menor credito à
crença vulgar de que, quando o ouvido nos zune, é que
nalguma parte estão falando de nós. Aliás, nenhuma
significação tem esses zunidos, cuja causa é puramente
fisiológica, ao passo que os sons pneumatofônicos
exprimem pensamentos e nisso está o que nos faz
reconhecer que são devidos a uma causa inteligente e não
acidental. (5)
“Os sons espíritas, os pneumatofônicos se
produzem de duas maneiras distintas: às vezes, é
uma voz interior que repercute no nosso foro
intimo, não tendo, porém, de material as palavras,
conquanto sejam claramente perceptíveis; outras
vezes, são exteriores e nitidamente articuladas,
como se proviessem de uma pessoa que nos
estivesse ao lado. De um modo, ou de outro, o
fenômeno de pneumatofonia é quase sempre
espontâneo e só muito raramente pode ser
provocado”. (6)
Retomando a citação de Paulo, inserida no inicio
deste Roteiro, esclarece Emmanuel a respeito dos
dons do Espírito.
Em todos os lugares e posições, cada qual pode revelar
qualidades divinas para a edificação de quantos com ele
convivem.
Aprender e ensinar constituem tarefas de cada hora, para que
colaboremos no engrandecimento do tesouro comum de
sabedoria e de amor. [...]
Os dons diferem, a inteligência se caracteriza por diversos
graus, o merecimento apresenta valores múltiplos, a
capacidade é fruto do esforço de cada um, mas o Espírito
Divino que sustenta as criaturas é substancialmente o
mesmo.
Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de
trabalho em que nos encontramos.
Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos
do Infinito Bem. Coloca a Vontade Divina acima de teus
desejos, e a Vontade Divina te aproveitará. (16)
Estudo e Prática da
Mediunidade
Prática III
Condições de apoio ao
Médium
Atividade 3
Psicofonia
1. KARDEC, Allan. O evangelho Segundo o Espiritismo, Cap 19
2. ________, O Livro dos espíritos, questão 425
3. ________, Questão 473
4. ________, p 16-17
5. ________, O Livros dos médiuns, Cap 12, item 150, pag 204
6. ________, Pag 204-205
7. ________, Item 151
8. ________, Cap 14, item 166
9. ________, item 172
10. DENIS, Léon. No Invisível, Cap 19
11. NÁUFEL, José. Do abc ao infinito. Cap 15, p 190-191
12. ________, p 191
13. ________, p 193
14. PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade, Cap 9
15. XAVIER, Francisco C e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da Mediunidade. Cap 21
16. XAVIER, Francisco C . Fonte viva, Cap 4
17. ________. Pão Nosso, Cap 162
18. ________. Nos domínios da mediunidade. Cap 8