FERNANDA PEREIRA SANTOS ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO TÉCNICO: UMA ANÁLISE DA DISCIPLINA MATEMÁTICA OURO PRETO 2012 iii FERNANDA PEREIRA SANTOS ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO TÉCNICO: UMA ANÁLISE DA DISCIPLINA MATEMÁTICA Dissertação apresentada como exigência para obtenção do Título de Mestre em Educação Matemática pelo Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Federal de Ouro Preto, sob orientação da Profa. Dra. Célia Maria Fernandes Nunes e Co-Orientação da Profa. Dra. Marger da Conceição Ventura Viana. Ouro Preto 2012 iii S237e Santos, Fernanda Pereira. Ensino médio integrado ao técnico [manuscrito] : uma análise da disciplina matemática / Fernanda Pereira Santos – 2012. x, 115 f.: il. color.; tabs.; mapas. Orientadora: Profª Drª Célia Maria Fernanda Nunes. Coorientadora: Profª Drª Marger da Conceição Ventura Viana. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Departamento de Matemática. Mestrado Profissional em Educação Matemática. Área de concentração: Educação Matemática. 1. Matemática - Estudo e ensino - Teses. 2. Ensino médio - Teses. 3. Ensino integrado - Teses. 4. Interdisciplinaridade - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título. Catalogação: [email protected] CDU: 51:373.5:377 iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA Mestrado Profissional Em Educação Matemática DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO TÉCNICO: Uma Análise da Disciplina Matemática Autora: Fernanda Pereira Santos Orientadora: Profa. Dra. Célia Maria Fernandes Nunes Co-Orientadora: Profa. Dra. Marger da Conceição Ventura Viana Ouro Preto 2012 iv RESUMO O presente trabalho se propõe a analisar a disciplina Matemática no Ensino Médio Integrado a Educação Profissional Técnica na perspectiva de um ensino unitário, visando contribuir para efetivação dos objetivos dessa modalidade de ensino no que se refere a disciplina Matemática. O trabalho se fundamentou teoricamente na legislação brasileira e em reflexões de autores que pesquisaram o ensino de Matemática e a educação profissional de nível médio. A questão de investigação que norteou o trabalho foi: quais são os conteúdos de Matemática que podem proporcionar compreensões globais da realidade e necessidades dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio, para a concretização da interdisciplinaridade e contextualização no processo de ensino e aprendizagem de Matemática? A pesquisa de campo foi realizada com professores da área técnica e estudantes do curso de Agropecuária de um IFET. A pesquisa apontou que existe relação entre as disciplinas técnicas e a Matemática e que as primeiras, em alguns casos, necessitam dos conhecimentos da segunda para que seus assuntos sejam apreendidos pelos estudantes. Concluiu-se que é possível elencar os assuntos de Matemática que podem ser ministrados no Ensino Médio Integrado de forma contextualizada e interdisciplinar, a fim de atender a demanda das disciplinas técnicas e o objetivo formativo profissional do educando. PALAVRAS-CHAVE: Ensino Médio Integrado. Interdisciplinaridade. Contextualização. Currículo. v ABSTRACT This paper aims to present the subject in High School Mathematics Integrated Technical Vocational Education in the perspective of a teaching unit, aiming to contribute to realization of the objectives of this teaching modality with regard in Mathematics. The work is theoretically grounded in Brazilian legislation and reflections from authors who have researched the teaching of mathematics education and professional level. The research question that guided the study was: what are the contents of mathematics that can provide comprehensive understanding of reality and needs of the Integrated Vocational School for the achievement of interdisciplinarity and contextualization in the Mathematics’ teaching and learning? The field research was conducted with teachers and students of the technical area of the course of an Agricultural IFET. The study showed that there is a relationship between the technical disciplines of mathematics and the first and, in some cases, require the knowledge of the second to their subjects to be learned by students. It was concluded that it is possible to list the subjects of mathematics that can be delivered in integrated secondary school in a contextualized and interdisciplinary approach in order to meet the demand of technical disciplines and the goal of educating professional training. KEYWORDS: Integrated School. Interdisciplinarity. Context. Curriculum. vi Lista de Figuras Figura 01 Localização Geográfica do Campus no Estado da Bahia – Guanambi/BA p.48 Figura 02 Posições dos ângulos. p. 63 Figura 03 Medição de ângulos. p. 63 Figura 04 Distância entre dois pontos. p. 64 Figura 05 Esquema de distância entre dois pontos. p. 64 Figura 06 Distância com inclinação. p.65 Figura 07 Cálculo de distância a com inclinação p. 66 Figura 08 Método de Gauss. p. 67 Figura 09 Fórmula usada em topografia para calculo da distancia de um ponto a uma reta. p. 68 Figura 10 Produção das culturas anuais no Brasil p. 73 Figura 11 Produção brasileira de mandioca em 2007 p.74 Figura 12 Produção brasileira de mandioca p. 74 Figura 13 Produção brasileira de milho p. 75 Figura 14 Velocidade de infiltração da água. p.76 Figura 15 Velocidade de infiltração em diferentes solos. p. 77 Figura 16 Equações de Regressão p.78 vii Figura 17 Esquema de um pomar na forma quadrangular. p. 82 Figura18 Plantio em esquema Retângulo. p. 83 Figura19 Esquema de um pomar na forma triangular. p.83 Figura 20 Exemplo de coveamento p. 85 Figura 21 Método de Thornthwaite p.90 Figura 22 Método da Radiação p. 90 Figura 23 Método da Radiação p.91 Figura 24 Velocidade de infiltração (Vi) p. 92 Figura 25 Velocidade de infiltração acumulada (l) p. 92 Figura 26 Equação de Kostiakov. p.93 Figura27 Fotografia de um pivô central. p.94 Figura 28 Resposta da questão 03 - questionário nº 01 p. 98 Figura 29 Resposta da questão 03 – questionário nº 07 p. 98 Figura 30 Resposta da questão 03 – questionário nº 04 p.99 Figura 31 Resposta da questão 04 – questionário nº 01 p.100 viii Lista de Quadros Quadro 01 Divisão das disciplinas da área técnica por série p.50 Quadro 02 Divisão por conteúdos de Matemática necessários para as disciplinas técnicas p. 55 Quadro 03 Assuntos do Ensino Médio necessários em cada disciplina p.56 Quadro 04 Competências, habilidades e assuntos em topografia p. 60 Quadro 05 Assuntos revisados no livro didático p. 62 Quadro 06 Habilidades da disciplina agricultura II p. 72 Quadro 07 Competências, habilidades e assuntos em Irrigação e Drenagem p. 87 ix Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 01: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA ............................................. 19 1.1 História do Ensino Técnico no Brasil ............................................................................ 19 1.2 Educação Profissional Técnica de Nível Médio ............................................................ 24 1.2.1 Ensino Médio Integrado ao Técnico ........................................................................... 26 1.3 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia ........................................... 28 CAPÍTULO 02: CURRÍCULO, INTERDISCIPLINARIDADE E CONTEXTUALIZAÇÃO NA DISCIPLINA MATEMÁTICA ......................................... 31 2.1 Buscando uma Definição de Currículo .......................................................................... 31 2.2 Um Olhar Sobre Interdisciplinaridade ........................................................................... 35 2.3 Contextualização do Conteúdo de Matemática e o Currículo Integrado ....................... 38 CAPÍTULO 03:A METODOLOGIA DA PESQUISA ....................................................... 41 3.1 Abordagem Metodológica: Qualitativa ......................................................................... 42 3.2 Os instrumentos de Coleta de Dados ............................................................................. 43 3.2.1 A Construção da Entrevista ........................................................................................ 43 3.2.2 A Construção dos Questionários................................................................................. 44 3.2.3 Análise de Documentos e da Bibliografia .................................................................. 45 3.3 As Etapas da Coleta de Dados ....................................................................................... 45 3.4 O Processo de Análise dos Dados.................................................................................. 46 3.4.1 Tabulação dos Questionários ...................................................................................... 46 3.4.2 Transcrição e Análise das Entrevistas e Material Didático ........................................ 47 3.5 A Instituição Estudada ................................................................................................... 47 3.6 Sujeitos da Pesquisa ....................................................................................................... 50 3.6.1 Professores das Disciplinas Técnicas que Estão Atuando no Curso de Agropecuária51 3.6.2 Estudantes do Curso de Agropecuária ........................................................................ 51 x CAPÍTULO 04:DADOS DA PESQUISA ........................................................................... 53 4.1 Dados dos Entrevistados ................................................................................................ 53 4.1.1 Perfil dos Entrevistados .............................................................................................. 53 4.2 Entrevistas e Questionários ............................................................................................ 53 4.3 Análises do Material Didático ....................................................................................... 56 CAPÍTULO 05: ANALISANDO AS DISCIPLINAS TÉCNICAS NA BUSCA POR CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA ................................................................................... 58 5.1. As disciplinas Técnicas e sua Relação com a Matemática ........................................... 58 5.2. Disciplina: Topografia .................................................................................................. 60 5.3. Disciplina: Agricultura II .............................................................................................. 72 5.4. Disciplina: Agricultura III ............................................................................................ 80 5.5. Disciplina: Irrigação e Drenagem ................................................................................. 86 5.6. Eixos de Análises .......................................................................................................... 95 5.6.1. A Percepção e Análise dos Professores Sobre a Relação e Necessidade de Conteúdos Matemáticos para a Aprendizagem de Disciplinas Técnicas ............................................... 95 5.6.2. A Percepção e Análise dos Alunos Sobre a Relação e Necessidade de Conteúdos Matemáticos para a Aprendizagem de Disciplinas Técnicas. .............................................. 97 5.6.3. A Comparação Entre os Documentos Oficiais e a Realidade Percebida no Estudo à Luz da Interdisciplinaridade e da Contextualização .......................................................... 100 Considerações Finais ......................................................................................................... 102 Referencial Bibliográfico ................................................................................................... 105 Apêndice A – Roteiro de Entrevista dos Docentes ............................................................ 109 Apêndice B – Questionário dos Docentes ......................................................................... 110 Apêndice C – Questionário Aplicado aos Estudantes ....................................................... 111 Apêndice D – Termo de Esclarecimento ........................................................................... 112 Apêndice E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................ 114 11 INTRODUÇÃO A motivação para a realização desse trabalho surgiu no inicio do ano de 2009, quando a pesquisadora foi aprovada em um processo seletivo simplificado para contratação de professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, e começou a trabalhar em um dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET) na Bahia. O Campus ficava localizado na Região Metropolitana de Salvador, em uma cidade que faz divisa com a capital, e ofertava cursos técnicos integrados ao Ensino Médio em Petróleo e Gás, Eletromecânica e Mecânica. A pesquisadora atuou nos três cursos, ministrando aulas de matemática para turmas da 2ª e 3ª séries, durante todo o ano letivo de 2009. Os alunos desse Campus tinham aulas no turno matutino e, esporadicamente, no turno vespertino. Neste IFET os Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio, com exceção dos cursos do PROEJA1, tinham duração de quatro anos, sendo que na 4ª série apenas eram ministradas aulas de disciplinas para a formação técnica, Matemática e Português. Nas três primeiras séries os estudantes tinham aulas de todas as disciplinas da base nacional comum, Matemática, Português, História, Geografia, Física, Química, Biologia, Artes, Língua Estrangeira, etc. (Brasil, 1996), e de algumas disciplinas específicas para a formação técnica. Durante essa experiência docente a pesquisadora percebeu que os conteúdos da disciplina Matemática, que eram igualmente ministrados para os três cursos, não supriam as necessidades da formação técnica. Tratava-se de um único planejamento de ensino de Matemática para todos os cursos, que tinham objetivos distintos em virtude da formação profissional que se desejava proporcionar aos estudantes. Embora o planejamento fosse único, a pesquisadora notou, durante a convivência no ambiente escolar2, que existia relação entre os conteúdos que eram ministrados em 1 Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. 2 Apesar de se tratar de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, cujo um dos objetivos é a formação profissional tecnológica, o ambiente se assemelha ao de uma escola de 12 Matemática e os das disciplinas que não pertenciam a base nacional comum, disciplinas técnicas. A constatação desse fato acontecia diariamente, devido a constantes indagações e afirmações dos alunos sobre as aplicações da Matemática nas disciplinas técnicas. Muitos estudantes buscavam auxilio dos docentes da disciplina Matemática, inclusive da pesquisadora, para tentar resolver questões referentes às disciplinas técnicas. Dialogando com um professor que ministrava aulas da disciplina Desenho Técnico, a pesquisadora percebeu que o conteúdo que estavam sendo lecionado na quarta unidade3 para as turmas da 2ª série, de todos os cursos, já havia sido estudado pelos alunos do curso de Mecânica na primeira unidade, o que demonstrava uma total desvinculação e ‘diálogo’ entre as disciplinas. No dia 24 de dezembro de 2009 a pesquisadora foi nomeada para lecionar, efetivamente, em outro IFET, também na Bahia, iniciando suas atividades no dia 12 de Janeiro de 2010. Tratava-se de um Instituto diferente4 do primeiro, cujo Campus de atuação da pesquisadora está distante 796 km a sudoeste da capital baiana. Neste novo Campus os Cursos Integrados tem duração mínima de três anos, e o ano letivo é dividido em dois semestres. Para obter aprovação o estudante precisa obter média maior ou igual a 6,0 (seis pontos), no entanto a média do primeiro semestre tem peso 4 (quatro) e do segundo tem peso 6 (seis). Os alunos passam o dia no Campus com aulas das 07:30h às 11:30h e das 13:30h às 17:30h. Durante os primeiros dias de atividade docente (planejamento) a pesquisadora percebeu semelhanças entre os dois IFET’s, uma diz respeito aos conteúdos da disciplina Matemática, estes eram ministrados sem cinsiderar os cursos de formação profissional em que os estudantes estavam matriculados. No IFET em que a pesquisadora leciona atualmente, e onde a pesquisa foi realizada, os mesmos conteúdos de Matemática são formação exclusivamente básica, com interação entre docentes, discentes, pais, coordenadores, direção, técnicos administrativos educacionais e outros membros da sociedade civil. 3 O ano letivo era dividido em quatro unidades, com pontuação de zero a dez. O estudante para ser aprovado precisava obter média aritmética maior ou igual a seis pontos. 4 Essa diferença entre os IFET’s está relacionada aos objetivos de formação profissional. O primeiro ofertava cursos nas áreas relacionadas a indústria e o segundo nas áreas agrícolas. 13 ministrados, simultaneamente, para dois dos três cursos Integrados ofertados 5, Agropecuária e Agroindústria. Em fevereiro de 2010, a pesquisadora notou por meio de diálogo com os alunos que os da 1ª série do curso de Agroindústria estudavam, no primeiro semestre letivo, o mesmo conteúdo programático em Matemática e Desenho Técnico. Essa característica de semelhança de conteúdos entre disciplinas foi se tornando freqüente a partir da fala de alunos, dos dois cursos integrados mencionados, ao proferirem frases tais como: “Se eu tivesse visto isso antes eu teria me dado bem em Topografia”, “Ah, a gente já usou isso em alguma matéria” e “Vimos essa conta em outra aula e não entendemos nada”. Além disso a pesquisadora auxiliava alguns alunos com questões de outras disciplinas que demandavam conhecimentos de Matemática ainda não abordados. Devido a isso, a pesquisadora passou a acreditar que a Educação Profissional de Nível Médio Integrada possuía particularidades que deveriam levar em consideraão a relação entre as disciplinas, ou seja, estudar conteúdos de Matemática conjuntamente com os de outras disciplinas. Decidiu-se então buscar, nas normativas legais que regulamentam essa forma de ensino, um meio de minimizar a ocorrência de situações como s mencionadas. Durante a pesquisa foi verificado, na literatura existente e no Banco de Teses da Capes, que grande parte dos trabalhos estão relacionados a implementação de cursos técnicos, políticas públicas para a educação profissional tecnológica e estudos de casos para aspectos específicos de alguns Campi. Entretanto, em nosso levantamento, nenhum estudo contemplando as relações interdisciplinares existentes entre as disciplinas de um mesmo curso Integrado foi encontrado. Obteve-se que o modelo de Educação Básica de nível médio, normatizado pela legislação federal, estendeu-se, até 2004, de forma diferenciada mas sobre uma mesma matriz curricular. O modelo era dualista, oferecia por um lado uma educação propedêutica, destinada a preparar o educando apenas para o acesso a níveis superiores de ensino, e por outro, uma formação de caráter técnico-profissional, aliando a Educação Básica ao ideário da preparação para atender ao mercado de trabalho. Em 2004 surgiu no país uma nova 5 O terceiro curso é o Técnico em Informática (PROEJA), que possui público alvo distinto dos demais cursos e carga horária reduzida, com duração de três anos e aulas em apenas um turno (matutino ou noturno). 14 forma de oferta da educação de nível médio, nesta o aluno deveria estudar para ter acesso a níveis superiores de ensino e, concomitantemente, ser preparado para atender ao mercado de trabalho (Brasil, 2004a). Buscou-se acabar com o “conflito existente em torno do papel da escola, de formar para a cidadania ou para o trabalho produtivo […]” ( Ramos, 2005, p.106). Essa formação para a cidadania é compreendida através de três conceitos estruturantes: trabalho - princípio que organiza a base unitária do ensino médio; ciência – que apresenta os conhecimentos que fundamentam as técnicas; e cultura - síntese da formação geral e da formação especifica por meio das diferentes formas de criação existentes da sociedade (Frigotto e Ciavatta, 2004) Com esse ideário surgiram os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, criados pela Lei nº 11.892/2008 (Brasil, 2008b). Nesses Institutos Federais são oferecidos cursos específicos para quem já concluiu o Ensino Fundamental e pretende fazer um curso técnico na mesma instituição de ensino em que fará o Ensino Médio, são os denominados Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio. Estes buscam eliminar as características dualistas existentes na educação profissional. Por se tratar de um ensino em que os alunos frequentam aulas de disciplinas da base nacional comum e de outras disciplinas como Agricultura Irrigada, Topografia, Desenho Técnico, Gestão do Agronegócio, Avicultura, que aqui chamamos de disciplinas técnicas, os cursos Técnicos Integrados ao Médio devem, de forma específica, atender à demanda de oferecer uma formação básica e técnica simultaneamente. Nessa modalidade, a interdisciplinaridade se faz necessária, visto que os alunos tem a necessidade de associar todos os seus estudos às atividades técnicas que futuramente irão exercer. Para fins formativos, isso significa identificar componentes e conteúdos curriculares que permitam fazer relações sincrônicas e diacrônicas cada vez mais amplas e profundas entre os fenômenos que se quer “apreender” e a realidade em que neles se inserem (Brasil, 2007, p.50). Entende-se então ser necessário encontrar uma maneira de possibilitar uma aprendizagem uniforme em um curso que tem múltiplos objetivos, e em que a formação básica de Ensino Médio deve estar associada à formação técnica. Em se tratando da formação profissional no ensino médio, queremos dizer que os conhecimentos específicos de uma área profissional não são suficientes para proporcionar a compreensão global da realidade. Por 15 isso, deve-se contemplar também a formação geral. Porém, tanto se pode ir aprendendo conceitos específicos a partir dos conceitos gerais quanto o contrário. Entretanto, quando se parte dos conceitos gerais tende-se a ficar no abstrato, pois a realidade não se dá a conhecer imediatamente; é preciso analisá-la. Mas tampouco a apresentação aos estudantes de conceitos e teorias produzidos por essa análise (que se apresentam como conteúdos de ensino, muitas vezes nos livros didáticos), terá qualquer significado para os estudantes se não se vincularem a problemas concretos (Brasil, 2007, p.51). Assim, no ensino integrado não é aceitável uma educação unitária que se articule em prol exclusivo do trabalho ou da formação para um nível de ensino seguinte. Estas “são prática operacionais e mecanicistas que impedem a formação humana no seu sentido amplo” (Ciavatta, 2005, p. 94). É preciso uma educação com identidade definida, em que se caracterize um método de pensar e de compreender as determinações da vida social e produtiva, que articule trabalho, ciência e cultura. Por esta razão o aluno, ao realizar o ensino médio e optar por adquirir uma profissão técnica simultaneamente, não pode ter suas leituras restritas aos textos técnicos, tão pouco se centrar no acesso a níveis superiores de ensino. O objetivo central do ensino integrado “[...] não é formar um profissional para o mercado de trabalho, mas sim um cidadão para o mundo do trabalho, o qual poderia ser tanto técnico, como filósofo, um escritor ou tudo isso” (Pacheco, 2010, p. 07). É necessário oferecer ao estudante condições de desenvolver suas competências enquanto cidadão integrante de uma sociedade politizada, ampliando sua cultura social e possibilitando a preparação para o desenvolvimento de atividades laborais da profissão técnica escolhida. A proposta de cursos integrados prevê uma educação que associe as formações básica e técnica, direcionando esses conteúdos de forma a valorizar interesses dos IFET’s e da comunidade em que estão inseridos, o que não significa abandonar os conteúdos mínimos da Base Nacional Comum, é preciso direcionar. Nesta modalidade de ensino as questões específicas das disciplinas técnicas necessitam dos conhecimentos gerais das disciplinas da base nacional comum, e, é preciso apreendê-los para diversos fins além daqueles que motivam sua apreensão (Brasil, 2007). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) “Um exemplo é a relação existente entre a Matemática e os outros componentes curriculares, visto que todas as áreas requerem alguma competência em Matemática” (Brasil, 2002, p. 251). 16 Com base nisso observa-se que o ensino de Matemática nos IFET’s não deve acontecer como em instituições de ensino que ofertam apenas o Ensino Médio, nem priorizar somente a formação técnica. É preciso que a Matemática, assim como as demais disciplinas, auxilie no desenvolvimento das capacidades que são os objetivos do ensino integrado. A pretensão de que no futuro o estudante seja um trabalhador deve ser encarada como princípio educativo no sentido da politecnia ou da educação tecnológica, em que os conceitos estruturantes sejam o trabalho, a ciência e a cultura. Apesar dessa necessidade, nos IFET’s conhecidos pela pesquisadora, inexistem componentes curriculares com características específicas para atender os cursos do ensino integrado, dentre eles a Matemática. Não se segue um currículo que associe as disciplinas básicas às disciplinas técnicas dos cursos Técnicos Integrados ao Médio, ou vice versa. A associação entre os componentes curriculares, requerida para os cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio, prevê a concretização de temas que são estudados através da interdisciplinaridade e da contextualização. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) a interdisciplinaridade e a contextualização permitem “conexões entre diversos conceitos matemáticos e entre diferentes formas de pensamento matemático, ou, ainda, a relevância cultural do tema, tanto no que diz respeito às suas aplicações dentro ou fora da Matemática, como à sua importância histórica no desenvolvimento da própria ciência” (Brasil, 2002, p. 48), além da utilização dos conhecimentos em várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista Segundo Pires (2000) só a interdisciplinaridade é capaz de possibilitar a identificação entre o vivido e o estudado e o aporte de várias disciplinas se faz necessário ao desenvolvimento profissional. Os PCN’s reforçam a afirmação de Pires (2000) quando se reportam à uma educação compartimentada no Ensino, afirmando que é preciso “procurar suprir a carência de propostas interdisciplinares para o aprendizado, que tem contribuído para uma educação científica”(Brasil, 2002, p. 48). No caso da formação integrada ou do ensino médio integrado ao ensino técnico, o que se quer com a concepção de educação integrada é que a educação geral se torne parte inseparável da educação profissional em todos os campos onde se dá a preparação para o trabalho: seja os processos produtivos, seja nos processos educativos como a formação inicial, como o ensino técnico, tecnológico ou superior. Significa que 17 buscamos enfocar o trabalho como princípio educativo, no sentido de superar a dicotomia trabalho manual / trabalho intelectual, de incorporar a dimensão intelectual ao trabalho produtivo, de formar trabalhadores capazes de atuar como dirigentes e cidadãos (Brasil, 2010b, p.41). No IFET em que a pesquisadora leciona o que se verifica é um curso integrado dividido em duas partes: ensino básico e ensino técnico. Não há uma relação no processo de ensino e aprendizado das disciplinas, todas são ministradas de forma independente, algumas priorizam exclusivamente a formação básica para acesso a outros níveis de ensino e outras apenas buscam formar o estudante para a atuação profissional técnica. Pelo exposto, e por ser a pesquisadora professora da Rede Federal de Educação Profissional, Cientifica e Tecnológica6, decidiu-se por estudar um currículo que de fato atendesse aos aspectos considerados na legislação brasileira e que estivesse de acordo com os pesquisadores, teóricos e práticos do currículo. Como essa problemática foi percebida desde 2009, resolveu-se torná-la centro desta pesquisa. Buscou-se conhecer melhor como o currículo de Matemática pode auxiliar na formação de alunos de Cursos Técnico Integrados ao Médio, especificamente do Curso Integrado em Agropecuária do IFET em que a pesquisadora leciona7 tendo como base a seguinte questão norteadora: Quais são os conteúdos de Matemática que podem proporcionar compreensões globais da realidade e necessidades dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio, para a concretização da interdisciplinaridade e contextualização no processo de ensino e aprendizagem de Matemática? O objetivo dessa pesquisa é apontar conteúdos curriculares de Matemática que possam auxiliar professores dessa disciplina a desenvolver um ensino interdisciplinar e contextualizado com os estudantes do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio, possibilitando agregar ao Ensino de Matemática características técnico-profissionais, sem deixar de considerar as características fundamentais dessa disciplina. 6 Nomenclatura utilizada na Lei Federal nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008 para o grupo de instituições formado pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR e pelos Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca - CEFET-RJ e de Minas Gerais – CEFET-MG. 7 No Capítulo 03 desse estudo o local da pesquisa é descrito detalhadamente. 18 Quando se fala em compreensões globais da realidade busca-se “a integração de conhecimentos gerais e específicos correspondentes à formação básica e profissional” (Brasil, 2007, p.49). Deseja-se relacionar partes e totalidade, de forma a identificar conteúdos curriculares de Matemática que permitam utilizar de conhecimentos gerais para apreender questões específicas necessárias ao exercício profissional. Acredita-se que a associação dos conteúdos matemáticos com os das disciplinas técnicas possibilita superar a dicotomia trabalho manual / trabalho intelectual, incorporando a dimensão intelectual ao trabalho produtivo e formando trabalhadores capazes de atuar como dirigentes e cidadãos. Esta dissertação está dividida em cinco capítulos, uma Introdução e as considerações finais. O primeiro apresenta uma síntese das leituras realizadas acerca da Educação Profissional no Brasil, relatando inicialmente o seu surgimento e desenvolvimento até a criação dos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET). Em seguida são mencionadas as características da Educação Profissional Técnica de Nível Médio e finalmente o Ensino Médio Integrado ao Técnico. Para finalizar o capítulo tratou dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, seu surgimento e objetivos. O capítulo dois apresenta o que se entende por currículo, interdisciplinaridade e contextualização, conceitos essenciais para o ensino e aprendizagem de Matemática no Ensino Médio Integrado ao Técnico. O terceiro capítulo apresenta as opções metodológicas, a descrição da pesquisa, os sujeitos (participantes), o local (IFET) e os procedimentos de coleta de dados utilizados. O capítulo quatro apresenta dados das entrevistas com os docentes e dos questionários respondidos pelos alunos. No quinto capítulo é apresentada a análise dos dados coletados e o estudo que foi realizado em cada uma das disciplinas apresentando o olhar dos docentes, dos estudantes, o que consta no Plano do Curso de Agropecuária e analise do material didático. Por último tem-se as considerações finais a cerca da pesquisa. 19 CAPÍTULO 01: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA Para realizar o estudo sobre o Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio se fez necessário compreender a Educação Profissional Técnica no Brasil, desde os seus preceitos históricos até a conjuntura atual. Foi usada a legislação nacional, em vigor e também revogada, para entender o Ensino Técnico existente atualmente, com um olhar sobre as mudanças históricas ocorridas. Considerou-se as normativas legais que se mostraram condizentes com o objetivo da pesquisa e a literatura nacional sobre os assuntos que permeiam o estudo (Ensino Técnico, Ensino Médio Integrado, Historia do Ensino Profissional Técnico e Políticas Públicas para o Ensino Profissional Técnico). 1.1 História do Ensino Técnico no Brasil Os primeiros registros sobre a educação profissional no Brasil datam de 1809 com a criação do Colégio das Fábricas pelo então Príncipe Regente, futuro Dom João VI. A partir daí, até o inicio da década de 50 do século XIX, foram criadas dez Casas de Educandos e Artífices, instituições voltadas para o ensino das primeiras letras e de ofícios, cujo público alvo era as crianças pobres, os órfãs e os abandonados (Brasil, 1999a). Na segunda metade do século XIX criaram-se os Liceus de Artes e Ofícios, também destinados a amparar crianças órfãs e abandonadas. Observa-se que existia uma preocupação assistencialista voltada aos menos favorecidos socialmente, o que perdurou durante o século seguinte (Brasil, 1999a). A partir do inicio do século XX (em 1906) o ensino profissionalizante passou a ter outra preocupação, considerada tão relevante quanto o atendimento a menores abandonados, a de preparar para o exercício profissional (Brasil, 1999a). Foi o início de uma educação voltada apenas para tecnicismo, sem a observância da formação básica (dualidade). O ensino profissionalizante tornou-se responsabilidade do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, que consolidou o incentivo ao desenvolvimento industrial, comercial e agrícola com a criação de escolas industriais (Brasil, 1999a). Em 1910 foram instaladas dezenove Escolas de Aprendizes Artífices, destinada a pobres e 20 humildes e voltadas para o ensino industrial. No no mesmo ano surgiu o ensino agrícola no país (Brasil, 1999a). Nessa mesma década, foram instaladas várias escolas-oficina destinadas à formação profissional de ferroviários. Essas escolas desempenharam importante papel na história da educação profissional brasileira, ao se tornarem os embriões da organização do ensino profissional técnico na década seguinte. (Brasil, 1999a, p.04) Com o processo de industrialização e modernização que ocorreu no país durante as décadas de 20 e 30 do século XX era necessário aumentar o contingente de profissionais especializados para atuar na indústria, comércio e serviços. Isso refletiu na educação nacional através da promulgação do conjunto de Leis Orgânicas do Ensino que normatizavam a educação nacional, a Reforma Capanema. Extinguiram-se os cursos complementares que foram substituídos por cursos médios, denominados colegiais e destinados a preparar o estudantes para o ingresso no nível superior, e pelos cursos normal, agrotécnico, comercial técnico e industrial, que estavam no mesmo nível (Kuenzer, 2001). Desse modo, após a Reforma Capanema, a educação brasileira denominada regular, fica estruturada em dois níveis, a educação básica e a superior. A educação básica dividida em duas etapas: o curso primário e o secundário, subdividido em ginasial e colegial. […] A vertente profissionalizante, parte final do ensino secundário, era constituída pelos cursos normal, industrial técnico, comercial técnico e agrotécnico. Todos com o mesmo nível e duração do colegial, entretanto não habilitavam para o ingresso no Ensino Superior. (Brasil, 2007, p.12) Durante o Governo Vargas, em 1942, se dispôs sobre a Organização da Rede Federal de Estabelecimentos de Ensino Industrial, o que acarretou a consolidação do ensino profissional no Brasil, embora fosse preconceituosamente considerado como uma educação de segunda categoria. Ainda se reafirmava a dualidade, agora de forma explicita pois os ensinos secundário e normal tinham o objetivo de formar as elites do país e o ensino profissional de oferecer “formação adequada aos filhos dos operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados, aqueles que necessitam ingressar precocemente na força de trabalho” (Brasil, 1999a, p.06). No inicio da República, a partir da década de 30 do século XX, a Educação Profissional, o Ensino Secundário, o Normal e o Superior tornaram-se, apenas formalmente, de competência do recém criado Ministério da Educação e Saúde, “não ensejando, ainda, a necessária e desejável ‘circulação de estudos’ entre o acadêmico e o 21 profissional” (Brasil, 1999a, p.06). Os três últimos possuíam objetivos educacionais e o primeiro continuava com o caráter assistencial empregado no século XIX. Um suposto avanço em busca do fim da dualidade ocorreu nos anos 50 do século XX com a equivalência parcial dos estudos acadêmicos e profissionalizantes. A Lei nº 1.076/50 (Brasil, 1950) permitia que estudantes, concluintes dos cursos profissionalizantes, tivessem acesso a estudos acadêmicos no nível superior, desde que lograssem aprovação em exames das disciplinas que não haviam estudado nos cursos que realizaram. Nesse contexto foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) - Lei nº 4.024/61(Brasil, 1961), que dava plena equivalência entre todos os cursos do mesmo nível sem a necessidade de exames e provas de conhecimento, terminando formalmente com a dualidade. Manifestava-se, pela primeira vez, uma articulação completa entre os ramos profissional e secundário (colegial) para fins de acesso ao ensino superior (Kuenzer, 2001). Essa primeira LDB equiparou o ensino profissional, do ponto de vista da equivalência e da continuidade de estudos, para todos os efeitos, ao ensino acadêmico, sepultando, pelo menos do ponto de vista formal, a velha dualidade entre ensino para “elites condutoras do país” e ensino para “desvalidos da sorte”. Todos os ramos e modalidades de ensino passaram a ser equivalentes, para fins de continuidade de estudos em níveis subseqüentes. (Brasil, 1999a, p.07) Na prática o ensino voltado às elites continuava privilegiando os conteúdos exigidos nos processos seletivos para ingresso no nível superior, enquanto que estes eram reduzidos nos cursos profissionalizantes “em favor das necessidades imediatas do mundo do trabalho” (Brasil, 2007, p.14). Com a Lei nº 5.692/71 (Brasil, 1971), que reformulava a Lei nº 4.024/61 (Brasil, 1961), houve a tentativa de transformar o Ensino Médio brasileiro em profissionalizante para todos. Os cursos Primário, Ginasial e Colegial foram transformados em 1º e 2º graus, e o caráter de profissionalização era obrigatório em todo o ensino de 2º grau. A obrigatoriedade da profissionalização foi feita sem a preocupação de estabelecer a carga horária destinada à formação de base e à formação profissional, deixando essa divisão a cargo das instituições de ensino. Nesse cenário a compulsoriedade se restringiu as instituições públicas de ensino, enquanto que as escolas particulares continuavam com seu currículo destinado a aprovação de alunos nos exames para acesso a níveis superiores de 22 ensino (Brasil, 1999a). “Diante desse quadro, observa-se um acentuado movimento dos filhos da classe média das escolas públicas para as privadas na busca de garantir uma formação que lhes permitisse continuar os estudos no nível superior” (Brasil, 2007, p.14). Somente em 1982, com a Lei Federal nº 7.044 (Brasil, 1982) esses efeitos foram atenuados pois a profissionalização no ensino de segundo grau passou a ser facultativa. Essa lei repunha a antiga distinção entre o ensino de formação geral, denominado de básico, e o de caráter profissionalizante com habilitações específicas (Manfredi, 2002). Isso fez com que a dualidade se manifestasse, sem os constrangimentos legais (Manfredi, 2002), e restringiu a formação profissional às instituições especializadas, já que “[…] muito rapidamente as escolas de segundo grau reverteram suas grades curriculares e passaram a oferecer apenas o ensino acadêmico” (Brasil, 1999, p. 07). Essa proposta se constituiu em um novo arranjo conservador “reafirmando a escola como espaço para os já incluídos nos benefícios da produção e do consumo de bens materiais e culturais”. (Kuenzer, 2001, p. 25). Entre os anos de 1978 e 1997 as Escolas Técnicas Federais foram, aos poucos, transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), autarquias vinculadas ao Ministério da Educação e detentoras de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didática e disciplinar. Os CEFET’s tinham por objetivos a oferta de educação tecnológica de grau superior, de cursos técnicos em nível de 2º grau, de cursos de educação continuada e a realização de pesquisas aplicadas à área tecnológica, além de formar engenheiros de operação e tecnólogos (Brasil, 2010b). Nesse processo entra em vigor uma nova LDB, Lei nº 9.394/96(Brasil, 1996), em um cenário onde “já quase não há mais 2º grau profissionalizante no país, exceto nas Escolas Técnicas Federais – ETF, Escolas Agrotécnicas Federais – EAF e em poucos sistemas estaduais de ensino” (Brasil, 2007, p.15). No ano seguinte à sanção da citada LDB inicia-se o Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP) com a promulgação do Decreto nº 2.208/97 (Brasil, 1997), cujas ações dele decorrentes ficaram conhecidas como a Reforma da Educação Profissional. Com o PROEP o Ensino Médio retoma um sentido puramente propedêutico e os cursos técnicos, obrigatoriamente separados do Ensino Médio, passam a ser oferecidos de duas formas: a forma concomitante ao ensino médio, em que o aluno pode fazer ao 23 mesmo tempo o Ensino Médio e o Técnico (na mesma instituição ou em instituições distintas) e; a outra forma é a sequencial, que acontece após a conclusão da educação básica. Esse decreto teve por objetivo, segundo o Parecer CNE/CEB nº 16/99 (Brasil,1999a), resolver o problema da distorção existente com a redução do tempo de dedicação à educação geral, em que “o ensino profissionalizante foi introduzido dentro da mesma carga horária antes destinada às disciplinas básicas” (Brasil, 1999a, p. 11). Apesar de afirmar a existência de uma articulação da Educação Profissional Técnica com o Ensino Médio, o decreto deixava evidente que o nível técnico8 “é destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do Ensino Médio” (Brasil, 1999a) cuja expedição do diploma só poderia acontecer “desde que o interessado apresente o certificado de conclusão do Ensino Médio” (Brasil, 1999a, p.11). Seis anos após aprovação do Decerto nº 2.208/97 (Brasil, 1997), no início de 2003, aconteceram no país discussões que trataram da separação obrigatória entre o Ensino Médio e a Educação Profissional, estas se finalizaram em julho de 2004 dando origem ao Decreto nº 5.154/04 (Brasil, 2004a). Esse instrumento manteve as ofertas dos cursos concomitantes e subsequentes (antes chamados de seqüenciais) e trouxe de volta, com uma estruturação mais organizada, a possibilidade de integrar em um mesmo curso o ensino médio à educação profissional técnica de nível médio. Assim, a política de Ensino Médio foi orientada pela construção de um projeto que supere a dualidade entre formação específica e formação geral e que desloque o foco dos seus objetivos do mercado de trabalho para a pessoa humana, tendo como dimensões indissociáveis o trabalho, a ciência, a cultura e a tecnologia. (Brasil, 2007, p. 06) Frigotto, Ciavata e Ramos (2005) afirmam que a educação básica de nível médio passou a ser condição para uma formação profissional que supere o adestramento e adaptação às demandas do mercado capital. 8 Segundo o decreto se configuraram três níveis de educação profissional: básico, técnico e tecnológico. Para a realização do nosso estudo nos interessa compreender os fatos históricos relacionados ao nível técnico, que é uma habilitação de nível médio. 24 1.2 Educação Profissional Técnica de Nível Médio O Decreto nº 2.208/97 propunha uma articulação entre o Ensino Médio e o Profissional de forma que se mantivesse a identidade de ambos (Brasil, 1999a, p.13), uma articulação que foi inexistente no cotidiano das instituições de ensino. Usando a mesma terminologia mas com um sentido distinto, o Decreto nº 5.154/2004 (Brasil, 2004a) estabeleceu a articulação como principio norteador do ensino profissional. O termo “articulação” indica a conexão entre partes, nesse caso, a educação profissional e os níveis da educação nacional. No caso do Ensino Médio, etapa final da educação básica, essa articulação adquire uma especificidade quando o artigo 36, parágrafo 2º, apregoa que “o ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas”. Nesse caso, a articulação pode chegar ao máximo, promovendo uma verdadeira “integração”, por meio da qual educação profissional e ensino regular se complementam, conformando uma totalidade. (Brasil, 2007, p. 07) O Parecer CNE/CBE nº 39/2004 (Brasil, 2004b) deixa evidente que a Educação Profissional Técnica de Nível Médio não pode tomar lugar do Ensino Médio, não sendo possível, devido à integração entre os componentes curriculares, se utilizar do recurso de aproveitamento de estudos do Ensino Médio para o Ensino Técnico de Nível Médio, da forma que era feito antes da promulgação do Decreto 5.154/2004 (Brasil, 2004a). O conteúdo do Ensino Médio é pré-requisito para a obtenção do diploma de técnico e pode ser ministrado “simultaneamente” com os conteúdos do ensino técnico. Entretanto, um não pode tomar o lugar do outro. São de natureza diversa. Um atende a objetivos de consolidação da Educação Básica, em termos de “formação geral do educando para o trabalho” e outro objetiva a preparação “para o exercício de profissões técnicas”. Neste sentido, são intercomplementares e devem ser tratados de forma integrada, “relacionando teoria e prática no ensino de cada disciplina” (Brasil, 2004b, p.09) A Educação Técnica de Nível Médio tem o papel de oportunizar ao aluno a continuidade de estudos em níveis superiores de estudo e, concomitante a isso, a habilitação para o exercício de profissões técnicas de nível médio. Ao final do curso o aluno poderá escolher que caminho seguir e estar habilitado para as duas opções, como normatizado na LDB (Brasil, 1999b). O Decreto nº 5.154/2004 (Brasil, 2004a) estabeleceu que a Educação Profissional Técnica de Nível Médio aconteceria por meio de curso e programas de formação inicial e 25 continuada ou qualificação profissional. Pretendia-se superar a divisão histórica do trabalho, entre a ação de pensar, dirigir ou planejar e a ação de executar. Buscava-se garantir o direito a uma formação completa que possibilitasse a leitura do mundo para a atuação como cidadão (Brasil, 2007). O decreto nº 5.154/2004 (Brasil, 2004a) “possibilita a reorganização do ensino técnico segundo uma concepção pedagógica mais consentânea com os reclamos atuais” (Saviani, 2008, p. 155). Até o ano de 2008 a LDB tratava da Educação Profissional apenas em uma única parte, o Capítulo III do Título V 9, estabelecendo diferenciação apenas entre os cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional, de educação profissional técnica de nível médio ou de educação profissional tecnológica de graduação e pósgraduação, sem detalhar as particularidades e modalidades da Educação Profissional Técnica de Nível Médio determinadas no decreto nº 5.154/2004 (Brasil, 2004a). Somente em 16 de julho de 2008, com a Lei nº 11.741 (Brasil, 2008) foi incluída na LDB a Seção IV-A que trata exclusivamente da Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Essa seção faz parte do Capitulo II da Educação Básica, e vem logo após a Seção que aborda o Ensino Médio. É importante ressalvar que na Lei nº 9.394/96 (Brasil, 1996) a educação brasileira está estruturada em dois níveis – Educação Básica e Superior- e que a Educação Profissional não está em nenhum dos dois. É como se a Educação Profissional não fizesse parte da estrutura da educação regular brasileira, no entanto a Educação Profissional de Nível Médio, que é uma subdivisão da Educação Profissional, é parte da Educação Básica, uma contradição existente na LDB (Brasil, 2007). Segundo o artigo 36 da atual LDB a Educação Profissional de Nível Médio pode ser desenvolvida nas formas articulada e subseqüente, sendo que a forma articulada se subdivide em outras duas: concomitante ou integrada (Brasil, 1996). Utilizando a divisão feita pelo Decreto nº 5.154/2004 (Brasil, 2004a), existem três formas de articulação: a subsequente, a concomitante e a integrada10. A forma subsequente é destinada para aqueles que já concluíram o Ensino Médio e desejam obter apenas a formação técnica de nível médio. Já as formas concomitante e integrada são destinadas a quem concluiu o Ensino Fundamental. 9 Ainda hoje a atual LDB se refere à Educação Profissional no Capitulo III do Título V. A diferença da subdivisão da Educação Profissional Técnica de Nível Médio existente na LDB atual e no Decreto nº 5.154/2004 não altera o entendimento de cada uma das formas de oferta dos cursos. 10 26 A forma concomitante é destinada a quem está matriculado em um curso de Ensino Médio e deseja realizar um curso Profissional, com matrículas distintas para cada curso. Podem existir três situações para a oferta da forma concomitante: 1. Na mesma instituição de ensino – onde, embora com matrículas distintas, o estudante adquire a formação de Nível Médio e Técnica de Nível Médio nos termos da proposta político pedagógica da instituição. 2. Em instituições de ensino distintas – o estudante realiza o Ensino Médio em uma instituição e faz a complementaridade da Educação Técnica de Nível Médio em outra; 3. Em instituições de ensino distintas, com convênio – nesse caso as duas instituições desenvolvem os cursos articuladamente, como um único curso, existindo um planejamento e desenvolvimento de projetos pedagógicos unificados. A articulação na forma integrada é o foco desse estudo, assim iremos tecer suas particularidades a seguir, levando em consideração literaturas específicas para essa modalidade de ensino11. 1.2.1 Ensino Médio Integrado ao Técnico A Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio, pode ser chamada de Ensino Médio Integrado, Ensino Integrado ou Curso Integrado. Essa diversidade de denominações é encontrada na legislação vigente no país e na literatura estudada, devido a isso iremos utilizar quaisquer das três para especificar a mesma modalidade de Educação Profissional. A modalidade em questão é “oferecida somente a quem já tenha concluído o Ensino Fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com a matrícula única para cada aluno” (Brasil, 2004b, art. 4º). O Parecer CNE/CEB nº 39 de 2004 (Brasil, 2004b) impede a oferta de um curso integrado dividido em duas partes distintas, uma concentrando a formação do Ensino Médio e outra a formação de técnico, pois se trata de um retrocesso pedagógico que reforça a dicotomia entre o conhecimento e sua aplicação, e entre teoria e prática. 11 Chamaremos, em alguns momentos desse estudo, as formas de articulação de modalidades do ensino Profissional, por se tratar de uma nomenclatura constantemente utilizada no local de trabalho da pesquisadora. Assim são três modalidades: Subsequente, concomitante e integrada. 27 É importante deixar claro que, na adoção da forma integrada, o estabelecimento de ensino não estará ofertando dois cursos à sua clientela. Trata-se de um único curso, com projeto pedagógico único, com proposta curricular única e com matrícula única. […] O curso de Educação profissional Técnica de Nível Médio realizado na forma integrada com o Ensino Médio deve ser considerado como um curso único desde a sua concepção plenamente integrada e ser desenvolvido como tal, desde o primeiro dia de aula até o último. Todos os seus componentes curriculares devem receber tratamento integrado, nos termos do projeto pedagógico da instituição de ensino (Brasil, 2004b, p.08). A fórmula do meio a meio entre as partes da educação básica e da formação profissional não faz parte da concepção de curso integrado. Existe a exigência legal de que sejam dedicadas, no mínimo, 800 horas anuais ao Ensino Médio, uma prerrogativa da atual LDB, totalizando 2.400 horas em três anos, mais 800 horas de estudos dedicados a formação profissional do estudante (Brasil, 2004b). No entanto essa carga horário não dever ser dividida entre ensino básico e técnico. O objetivo de um curso integrado é que ele seja desenvolvido de forma única, sem existi a soma das cargas horárias, que transforma um curso integrado em um concomitante disfarçado. Todos os componentes curriculares deveriam receber tratamento integrado, possibilitando uma economia na carga horária mínima exigida. Em decorrência, admite-se como carga horária mínima para os cursos de Educação Profissional Técnica de nível médio, realizados na forma integrada com o Ensino Médio, um total entre 3.000 e 3.200 horas, integralizadas num período mínimo entre três e quatro anos de duração, nos termos dos projetos pedagógicos do estabelecimento de ensino, considerando os respectivos perfis profissionais de conclusão do curso e as necessidades de propiciar formação integral ao cidadão trabalhador. (Brasil, 2004b, p. 11) Para a oferta da modalidade integrada de ensino é preciso observar as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) - o Parecer CNE/CEB 15/98 e Resolução CNE/CEB 03/98 (Brasil, 1998a), bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio - Parecer CNE/CEB 16/99 e Resolução CNE/CEB 04/99(Brasil, 1999). O decreto nº 5.154 de 2004 (Brasil, 2004a) estabelece que o ensino integrado deve cumprir com a finalidade de ofertar a formação geral junto com as condições de preparo para o exercício da profissão. Nessa modalidade o perfil dos profissionais é determinado pela instituição de ensino, o que permite respeito às peculiaridades locais: 28 […] será oferecida, simultaneamente e ao longo do Ensino Médio, a Educação Profissional Técnica de nível médio, cumprindo todas as finalidades e diretrizes definidas para esta, conforme as exigências dos perfis profissionais de conclusão traçados pelas próprias escolas (Brasil, 2004b, p.07). O curso integrado deve expressar uma concepção de formação humana que contemple os conhecimentos científicos produzidos e acumulados historicamente pela sociedade e os objetivos da formação profissional, tudo numa perspectiva da integração (Brasil, 2007). Ao refletir sobre a formação integrada Ciavatta (2005) conclui que esta implica em tratar a educação como uma totalidade social, ou seja, a educação geral se torne parte inseparável da educação profissional. Existe a necessidade de enfocar o trabalho como principio educativo, de forma a superar a dicotomia trabalho manual/ trabalho intelectual, objetivando a formação de trabalhadores capazes de atuar como dirigentes e cidadãos (Brasil, 2007). O que se quer com a concepção de educação integrada é que a educação geral se torne parte inseparável da educação profissional em todos os campos onde se dá a preparação pra o trabalho: seja nos processos produtivos, seja nos processos educativos como a formação inicial, como o ensino técnico, tecnológico ou superior (Brasil, 2007, p. 41) Um projeto de ensino médio integrado ao ensino técnico , que possui como eixos a ciência, a cultura e o trabalho, deve superar o conflito histórico “existente em torno do papel da escola, de formar para a cidadania ou para o trabalho produtivo e, assim, o dilema de um currículo voltado para as humanidades ou para as ciências e tecnologia.” (Ramos, 2005, p. 106). 1.3 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia Desde 29 de dezembro de 2008, com a sanção da lei nº 11.892 (Brasil, 2008a), ficou instituída no país a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica vinculada ao Ministério da Educação. Esta é constituída pelas seguintes instituições: I - Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia - Institutos Federais; II - Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR; III - Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET-RJ e de Minas Gerais - CEFET-MG; 29 IV - Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais. Trata-se de uma rede por ser composta de instituições com objetivos similares, em que todas constroem suas ações com as demandas de desenvolvimento socioeconômico e inclusão social. A palavra educação, que vem seguida de profissional, científica e tecnológica, foca uma profissionalização que se dá pela indissociabilidade da prática com a teoria. “De uma forma geral, o termo tecnologia é definido como a aplicação prática das ciências (ciência aplicada) objetivando a solução de problemas objetivos” (SILVA, C. J.,2009, p.16) Os Institutos Federais (IFET’s) são instituições de Educação Superior, Básica e Profissional especializadas na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino (Brasil, 2008b). Entre as finalidades dos IFET’s encontra-se a de “desenvolver a educação profissional e tecnológica como processo educativo e investigativo de geração e adaptação de soluções técnicas e tecnológicas às demandas sociais e peculiaridades regionais” (Brasil, 2008b). Dentre suas características pode-se mencionar a de constituir-se em centro de excelência na oferta do ensino de ciências, em geral, e de ciências aplicadas, em particular, de forma a estimular o desenvolvimento de espírito crítico voltado à investigação empírica (Brasil, 2008b). O foco dos institutos federais é a promoção da justiça social, da equidade, do desenvolvimento sustentável com vistas a inclusão social, bem como a busca de soluções técnicas e geração de novas tecnologias. Estas instituições devem responder, de forma ágil e eficaz, às demandas crescentes por formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e de suporte aos arranjos produtivos locais. (Silva C. J., 2009, p. 08) Os Institutos Federais são a efetivação de um programa de expansão da rede federal de educação que estava programada desde 2004 (Silva C. J, 2009). Segundo Silva C. J (2009) a expansão evidenciou a necessidade de explicar e discutir o papel dessas instituições para o desenvolvimento social do país. Ela afirma que os IFET’s geram e fortalecem o desenvolvimento educacional e socioeconômico brasileiro (Silva C. J, 2009). Com base nisso a educação profissional técnica de nível médio da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica deve ser ofertada, prioritariamente, na forma de cursos integrados (Brasil, 2008b), sendo direcionadas, no mínimo, 50% das vagas para essa forma de ensino. O objetivo dessa ação é estimular e apoiar processos educativos que 30 levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional (Brasil, 2008b). Os Institutos Federais se diferenciam de outras instituições de ensino em vários aspectos, um destes diz respeito a interação entre professores e estudantes do Ensino Médio, Superior e a Pós-Graduação. Este é denominado itinerário formativo, pois possibilita que um estudante ingresse no Ensino Médio e estudE até o doutorado na mesma Instituição de Ensino. Os docentes também se diferenciam pois são Professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, ministrando aulas para estudantes de várias etapas da educação (Brasil, 2010a). A proposta pedagógica dos IFET’s deve ser fundada na compreensão do trabalho como atividade fundamental da vida humana. Essa fundamentação se baseia em um dos objetivos dos Institutos Federais – profissionalização, levando em conta que todas as atividades desenvolvidas (ensino, pesquisa e extensão) devem estar diretamente relacionadas ao mundo do trabalho (Silva C. J, 2009). A construção dos projetos pedagógicos dos IFET’s também deve cumprir a missão para que foram criados, o que torna fundamental a compreensão de que o ensino “deve ser tratado em sua completude, nas diferentes dimensões da vida humana, integrando ciência, tecnologia, cultura e conhecimentos específicos” (Silva C. J, 2009, p.09). É preciso sempre levar em consideração a “sintonia dos currículos com as demandas sociais, econômicas e culturais locais, permeando-os das questões de diversidade cultural e de preservação ambiental, pautada na ética da responsabilidade e do cuidado” (Silva C. J, 2009, p.10). A proposta pedagógica dos IFET deve então estar pautada em um ensino interdisciplinar e contextualizado, de forma a atender todos esses preceitos. Assim o próximo capitulo é dedicado a explanação da compreensão de currículo, e como a interdisciplinaridade e contextualização na disciplina Matemática se inserem nessa modalidade de ensino. 31 CAPÍTULO 02: CURRÍCULO, INTERDISCIPLINARIDADE E CONTEXTUALIZAÇÃO NA DISCIPLINA MATEMÁTICA Foi fundamental para a realização dessa pesquisa apresentar definições para os termos currículo, interdisciplinaridade e contextualização e, em seguida, associá-los a realidade de um curso integrado. Essa ação possibilitou a relação de conteúdos curriculares de Matemática que podem ser lecionados por professores dessa disciplina, através de um ensino interdisciplinar e contextualizado. As definições de currículo apresentadas estão em consonância com as de interdisciplinaridade e contextualização que foram utilizadas nesse estudo, e que se assemelham com as existentes nos documentos que regulamentam o Ensino Médio Integrado. Inicialmente será apresentada uma definição para currículo, componentes curriculares e conteúdos curriculares. Em seguida, essas definições serão associadas às de interdisciplinaridade e contextualização de conteúdo, sempre objetivando atender e orientar a seleção de conteúdos curriculares de Matemática em um curso de Ensino Técnico Integrado. 2.1 Buscando uma Definição de Currículo No campo de estudo do currículo são encontrados debates sobre como este se relaciona com as questões de classe, raça, gênero, ideologia, crenças e outros assuntos debatidos frequentemente pela sociedade (Doll, 1997). Esse estudo não irá se prender a todas essas questões, por dois motivos: será abordada a questão cultural que engloba todos esses assuntos, não se fazendo necessária menção a cada um dos itens em separado; e não tornar a pesquisa meramente curricular, deixando em segundo plano um dos principais objetos do estudo - o ensino de Matemática num curso de Ensino Técnico Integrado ao Médio. 32 Saviani (1998) define currículo a partir dos aspectos culturais, afirmando que nele estão inclusas as matérias de ensino, suas distribuições pelos níveis escolares e sua carga horária, sendo o “produto de uma seleção realizada no seio da cultura” (Saviani, 1998, p.35). Segundo a autora O currículo diz respeito à seleção, seqüência e dosagem de conteúdos da cultura a serem desenvolvidos em situações de ensino-aprendizagem. Compreende conhecimentos, idéias, hábitos, valores, convicções, técnicas, recursos, artefatos, procedimentos, símbolos etc... dispostos em conjuntos de matérias/disciplinas escolares e respectivos programas, com indicações de atividades/experiências para sua consolidação e avaliação (Saviani, 2003, p.35). Coll (2006) afirma que para definir o que se entende por currículo é preciso verificar as funções que este deve desempenhar, ou seja, as atividades que correspondem a uma finalidade e são executadas de acordo com um plano de ação determinado. O autor define currículo “como o projeto que preside as atividades educativas escolares, define suas intenções e proporciona guias de ação adequadas e úteis para os professores, que são diretamente responsáveis pela sua execução” (Coll, 2006, p. 45). Considerando que o currículo é parte indissociável da educação escolar, é possível notar aspectos semelhantes nas definições de Saviani (1998) e Coll (2006) visto que ambos consideram que a Educação deve assegurar que os membros de um grupo “adquiram a experiência social historicamente acumulada e culturalmente organizada” (Coll, 2006, p. 42). Para complementar a busca por uma definição de currículo também são consideradas as afirmações de Grundy (1987 apud SACRISTÁN, 2000) que, apesar de negar a possibilidade de conceituar currículo, compreende-o com uma construção cultural e não como um objeto prescrito: O currículo não é um conceito, mas uma construção cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um modo de organizar uma série de práticas educativas (Grundy 1987 apud SACRISTÁN, 2000, p.14). As práticas educativas mencionadas pelo autor incluem interesses e características da sociedade em que a escola está inserida, seleção e organização de conteúdos e metodologias utilizadas no processo de ensino e de aprendizagem. Essas ideias formalizam 33 a definição de currículo dada por Grundy (1987 apud SACRISTÁN, 2000) e serão adotadas nessa pesquisa, já que coincidem com os fatores da definição de Coll (2006) e Saviani (1998): Numa primeira aproximação e concretização do significado amplo que nos sugere, propomos definir o currículo como o projeto seletivo de cultura, cultural, social, política e administrativamente condicionado, que preenche a atividade escolar e que se torna realidade dentro das condições da escola tal como se acha configurada (Grundy , 1987 apud SACRISTÁN, 2000, p.34). Não se pode desconsiderar que o Brasil é um país de proporções continentais e que as culturas das comunidades são variadas, não existe uma única cultura,. Aparentemente não seria possível a existência de um único currículo que perpassasse toda essa multiplicidade cultural, seria necessário a orientação de percepção da escola como uma cultura própria e única, em que se deve buscar seus interesses a fim de selecionar o que lhes cabe ou não usar. O projeto seletivo de cultura proposto por Grundy (1987 apud SACRISTÁN, 2000) se refere a isso, o que torna realidade dentro das condições da escola tal como se acha configurada. Por outro lado, Viana (2002) em sua tese de doutorado, baseando-se em diversos pesquisadores do currículo e numa ampla pesquisa empírica, construiu sua definição de currículo apropriada tanto para elaborar como para aperfeiçoar um currículo voltado à formação profissional, objetivo de sua tese. Em sua análise, “o currículo pode ser concebido como um sistema de componentes psicopedagógicos que orientam a formação profissional, no sistema educacional, relacionando teoria, prática e pesquisa” (VIANA, 2002, p.09, tradução nossa). Após argumentações a autora enumera os componentes essenciais de um currículo: No caso da formação profissional, o sistema é composto pelo perfil do profissional, por objetivos, áreas de estudo, disciplinas, concepção de prática pedagógica, investigação, componente acadêmico, relação entre teoria/prática/pesquisa, processo de ensino aprendizagem e sistema de avaliação (VIANA, 2002, p.10, tradução nossa). Ademais, Viana (2002) aponta como elaborar tais componentes com o envolvimento de toda a comunidade interessada no currículo, fazendo com que este fique impregnado da cultura de seus construtores e seus componentes inter-relacionados. Assim é possível formar um sistema que possibilite a interdisciplinaridade e estão 34 contextualizados, visto que a construção tem início com a definição do profissional a ser formado. Relacionando as concepções de currículo apresentadas pelos autores Saviani (1998), Coll (2006), Viana (2002) e Grundy (1987 apud SACRISTÁN, 2000) com a educação profissional na modalidade integrada, este estudo irá trabalhar com uma definição que os contemple, visto que suas definições se completam. Os autores dialogam e formalizam currículo como um projeto seletivo de cultura que faz parte de toda a atividade escolar e que se materializa no cotidiano da escola, relacionando teoria e prática, considerando o perfil do profissional que se deseja formar e os objetivos do curso e das disciplinas que são ministradas, levando em consideração os conteúdos, recursos e procedimentos que serão utilizados. Este entendimento complementa a definição existente no Documento Base da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio, no qual “o currículo é sempre uma seleção de conhecimentos a serem ensinados e aprendidos dependendo da finalidade e dos objetivos educacionais” (Brasil, 2007, p.49). Dentro deste projeto (currículo) existem os componentes curriculares, que no uso corrente compreende os termos disciplina escolar ou matéria (Saviani, 1998, p. 30). Já os conteúdos curriculares de uma disciplina ou conteúdos de ensino, segundo Viana (2002), compreendem hábitos habilidades, valores, atitudes e conhecimentos a serem abordados em cada disciplina, dizem respeito aos assuntos que são ministrados em cada componente a fim de alcançar os objetivos do currículo. Esta pesquisa aborda a seleção dos conteúdos curriculares do componente Matemática para um curso técnico integrado ao Ensino Médio. Para isso foi preciso agregar a esses conteúdos características específicas desta modalidade de ensino, contemplando a interdisciplinaridade e a contextualização. Para definir esse dois conceitos serão apresentadas compreensões presentes nos documento oficiais: Lei 9.394/96 (Brasil, 1996), Diretrizes Curriculares Nacionais (Brasil, 2011), Parecer CEB/CNE nº 15/98 (Brasil, 1998), Parâmetros Curriculares Nacionais para a área das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (Brasil, 1999b), PCN+ 35 (Brasil, 2002) e em textos de autores estudiosos dos assuntos como Frigotto e Ciavata (2005). 2.2 Um Olhar Sobre Interdisciplinaridade Quando se pensa em educação é preciso considerar uma formação que responda aos anseios dos participantes e que seja capaz de oportunizar sentido aos múltiplos significados que eles constroem ao longo da caminhada. O mesmo acontece com a Educação Profissional, possuidora de princípios que definem sua identidade e especificidades, dentre eles a interdisciplinaridade na organização curricular (Brasil, 1999). A interdisciplinaridade pode ser considerada como um método de interação em uma, duas ou mais disciplinas, podendo ocorrer uma simples comunicação de ideias até a integração recíproca de finalidades, objetivos, conceitos, conteúdos e metodologia. É possível entendê-la com uma necessidade de reunificar o conhecimento corrigindo os problemas da fragmentação das disciplinas. Recorrendo a Fazenda (2008) em seu estudo que analisa o conceito de interdisciplinaridade, temos que Cada disciplina precisa ser analisada não apenas no lugar que ocupa ou ocuparia na grade, mas nos saberes que contemplam, nos conceitos enunciados e no movimento que esses saberes engendram, próprios de seu lócus de cientificidade. Essa cientificidade, então originada das disciplinas, ganha status de interdisciplina no momento em que obriga o professor a rever suas práticas e a redescobrir seus talentos, no momento em que ao movimento da disciplina seu próprio movimento for incorporado. O conceito de interdisciplinaridade […] encontra-se diretamente ligado ao conceito de disciplina, onde a interpenetração ocorre sem a destruição básica às ciências conferidas. (Fazenda, pp. 1819, 2008) No que se refere aos aspectos documentais, o CNE/CEB, no parecer nº 15/98, tece algumas considerações a respeito da interdisciplinaridade que dever acontecer no Ensino Médio. Segundo tal parecer “o conceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos” (Brasil, 1998b, p.38). O parecer nº 15/98 destaca que a interdisciplinaridade deve partir da necessidade apresentada pela escola, professores e alunos em explicar algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar (Brasil, 1998b). Esse destaque está relacionado com o propósito dessa pesquisa, visto 36 que as particularidades do ensino integrado de nível médio demandam o uso da interdisciplinaridade para a compreensão das disciplinas técnicas. Uma ação interdisciplinar acontece quando, ao se explorar um tema, é necessário recorrer a conceitos e instrumentos de outra área do conhecimento ou disciplina. A interdisciplinaridade não é uma justaposição ou articulação de conteúdos, nem uma prática que reúne mais de um professor ou disciplina. Segundo Cordioli (2002) No espaço escolar e acadêmico, organizados em disciplinas, a prática interdisciplinar refere-se à ação que parte de uma disciplina, mas utiliza de conceitos ou instrumentos de outras para tratar das questões previstas em seus objetivos. O professor que atua numa perspectiva interdisciplinar é aquele que domina o conteúdo de sua área e recorre a outras disciplinas para explorar plenamente os temas de que está tratando. (Cordioli, 2002, p. 19) A interdisciplinaridade, diferente do que aparenta, não dilui as disciplinas, ela mantém a individualidade de cada um, integrando-as para a construção de conhecimento. O professor que pratica interdisciplinaridade “supera as barreiras das disciplinas em direção a outras áreas sempre que sentem esta necessidade” (Cordioli, 2002). Além do desenvolvimento de novos saberes, a interdisciplinaridade favorece o uso de novas formas de aproximação da realidade social, levando o aluno a ser protagonista da própria história, numa relação de interdependência com a sociedade. O processo interdisciplinar desempenha papel decisivo para dar corpo ao sonho de fundar uma obra de educação à luz da sabedoria, da coragem e da humildade. [...] A lógica que a interdisciplinaridade imprime é a da invenção, da descoberta, da pesquisa, da produção científica, porém gestada num ato de vontade, num desejo planejado e construído em liberdade. (Fazenda, p. 18- 19, 2002). Outros termos multidisciplinaridade, são oriundos pluridisciplinaridade da e interdisciplinaridade, transdisciplinaridade. tais como Todos tentam contribuir para a constituição de explicações para a relação existente entre as disciplinas. Consideramos válido diferenciá-los para evitar contradições futuras e mostrar que dentre todos é a interdisciplinaridade, conforme concepção adotada, que atende aos princípios do ensino integrado. A multidisciplinaridade é, segundo Cordioli (2002), uma abordagem em que, num determinado momento, duas ou mais disciplinas atuam em conjunto sobre um mesmo 37 tema. Recorre-se a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Neste caso, cada matéria contribui com suas informações pertinentes ao seu campo de conhecimento, sem que houvesse uma real integração entre elas. É possível que, durante a multidisciplinaridade as disciplinas tenham a necessidade de estabelecer uma relação interdisciplinar com outras áreas de estudo (Cordioli, 2002). A pluridisciplinaridade é o estudo de um único objeto por várias disciplinas ao mesmo tempo, aqui a finalidade do estudo continua centrada em uma única disciplina. Como exemplo podemos mencionar projetos educacionais em que se escolhe um tema central e cada disciplina trabalha com ele, sem integrá-lo, ou seja, cada professor faz abordagens distintas que podem ou não coincidir ou associarem-se em algum aspecto. Essa abordagem enriquece a disciplina estudada e relaciona um assunto (tema) apenas a essa disciplina, não são levadas em considerações abordagens que possam ser estudadas em outras áreas do conhecimento. A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um tópico de pesquisa não apenas em uma disciplina mas em várias ao mesmo tempo, ela traduz as relações entre disciplinas diferentes, sem ponto de contato comum, mas que possibilita a elaboração de mapas de saberes sobre temas diversos (Cordiolli, 2002). Já a transdisciplinaridade, como o prefixo ‘trans’ indica, “diz respeito ao que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de todas as disciplinas” (Nicolescu, 2011, p.02). Essa abordagem possui uma estrutura descontínua com diálogos articulados entre disciplinas e professores, em tempos diferentes, respeitando seus ritmos, tempos e ordenamentos de trabalho (Cordiolli, 2002, p.22). O essencial na transdisciplinaridade reside na postura de reconhecimento de que não há espaço nem tempo culturais privilegiados que permitam julgar e hierarquizar como mais corretos. A transdisciplinaridade repousa sobre uma atitude mais aberta, de respeito mútuo e mesmo de humildade em relação a mitos, religiões, sistemas de explicação e de conhecimentos, rejeitando qualquer tipo de arrogância ou prepotência (D’Ambrósio, 2012, p.15) Mesmo com todas essas possibilidades de abordagens, a interdisciplinaridade é a que se adequa ao diálogo entre as disciplinas, possibilitando a consolidação de um ensino 38 que não se limita à explicação de um determinado conteúdo, no nosso caso um conteúdo matemático. A interdisciplinaridade se torna uma necessidade, um princípio organizador do currículo e método de ensino-aprendizagem, já que os conceitos de diversas disciplinas são relacionados à luz das questões concretas que se pretende compreender (Brasil, 2007). 2.3 Contextualização do Conteúdo de Matemática e o Currículo Integrado Um outro conceito que usamos no nosso estudo é o da contextualização. Segundo o parecer CNE/CBE nº15/98 a contextualização pode ser um recurso para se conseguir com que se ampliem as possibilidades de interação, não apenas entre as disciplinas nucleadas em uma área como entre as próprias áreas de nucleação (Brasil, 1998b). Contextualizar o conteúdo é “assumir que todo conhecimento é quase sempre reproduzido das situações originais nas quais acontece sua produção” (Brasil, 1998b, p.42). Isso torna possível construir e relacionar significados por meio de experiências concretas e diversificadas. Uma organização curricular que faça ponte entre teoria e pratica requer tratar os conteúdos de ensino de modo contextualizado, aproveitando sempre as relações entre conteúdos e contexto para dar significado ao aprendido, estimular o protagonismo do aluno e auxilia-lo na busca pela autonomia intelectual (Brasil, 1998b). Segundo o Parecer CNE nº 15 de 1998, […] essas pontes [refere-se as pontes entre teoria e prática] implicam em fazer a relação, por exemplo, entre o que se aprendeu na aula de matemática na segunda-feira com a lição sobre atrito na aula de física da terça e com a sua observação de um automóvel cantando pneus na tarde da quarta. E conclui afirmando que […] para a maioria dos alunos, infelizmente, ou a escola o ajuda a fazer estas pontes ou elas permanecerão sem ser feitas, perdendo-se assim a essência do que é uma boa educação. (Brasil, 1998b, p. 36) Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio – PCNEM (Brasil, 2002) afirmam que contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto (Brasil, 1999). Essa relação exigida pelos PCNEM é fundamental na contextualização, já que se pode 39 interagir não apenas entre disciplinas em uma mesma área, mas também entre áreas distintas. A contextualização do ensino de Matemática se faz necessária já que existe uma distância entre os conteúdos que são lecionados e a experiência dos alunos, impossibilitando a identificação destes últimos com as questões propostas (Brasil, 1999). É importante ressaltar que a ideia de contexto para os conteúdos de Matemática não pode ser feita abordando-se apenas elementos que o professor considera como fazendo parte do cotidiano do aluno, não se pode reduzir a aprendizagem a aspectos utilitários dessa ciência. Faz-se necessário considerar a possibilidade de construção de significados a partir de questões internas da própria Matemática, evitando assim o descarte de muitos conteúdos por não terem aplicabilidade concreta e imediata. Art. 7º - A estruturação dos cursos da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, orientada pela concepção de eixo tecnológico, implica considerar em seus conteúdos e métodos: b) o núcleo politécnico comum relativo ao eixo tecnológico em que se situa o curso, que compreende os fundamentos científicos, sociais, organizacionais, econômicos, estéticos e éticos que informam e alicerçam as tecnologias (materiais, meios, métodos etc.) e a contextualização do referido eixo tecnológico no contexto do sistema da produção social. (BRASIL, 2011, p.96-97) Ao relacionar o Ensino Técnico Integrado num processo de contextualização percebe-se que na associação entre as disciplinas dos cursos deve se adotar uma abordagem contextualizada dentro da realidade que será vivenciada pelo aluno – futuro trabalhador. Direcionando a análise do currículo do Ensino Médio Integrado torna-se necessário discutir a integração de conhecimentos gerais (formação básica) e específicos (formação profissional), com o objetivo de evitar um ensino concomitante disfarçado. A preparação para o trabalho, nesse nível de ensino, deve incluir as competências que servirão de suporte para o exercício da profissão técnica específica, sem deixar à margem os princípios da educação básica, daí a importância da flexibilidade curricular e contextualização dos conteúdos (Brasil, 1999). O conhecimento específico de uma área profissional não é suficiente para proporcionar compreensão global da realidade, sendo preciso contemplar a formação geral. 40 O currículo integrado organiza o conhecimento e desenvolve o processo de ensino-aprendizagem de forma que os conceitos sejam apreendidos como sistema de relações de uma totalidade concreta que se pretende explicar/compreender. (Brasil, 2007, p. 42) Para tratar desse assunto o Documento Base da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio define currículo como sendo “uma seleção de conhecimentos a serem ensinados e aprendidos dependendo da finalidade e dos objetivos educacionais” (Brasil, 2007, p.49). Como os cursos integrados possuem duas finalidades bem definidas - possibilitar acesso a níveis superiores de ensino e formar para o exercício de profissões técnicas - o currículo deve abarcar características de instituições que ofertam apenas o Ensino Médio e aspectos da formação profissional, sem deixar de relacionar as duas, objetivando evitar a formação de cursos concomitantes disfarçados de integrados. De posse da compreensão de currículo, interdisciplinaridade, contextualização e característica inerentes ao ensino integrado é possível, no próximo capitulo, explanar o desenvolvimento desse estudo e a metodologia utilizada para a realização da pesquisa. 41 CAPÍTULO 03: A METODOLOGIA DA PESQUISA Neste capítulo é apresentado o delineamento da pesquisa e as decisões tomadas durante o seu processo de desenvolvimento, sendo necessário para isso, retomar a questão de investigação: selecionar conteúdos curriculares de Matemática que possam auxiliar professores dessa disciplina a desenvolver um ensino interdisciplinar e contextualizado com os estudantes do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio Para a realização do estudo foi escolhido o curso de Agropecuária de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET), situado no interior do estado da Bahia. A escolha dessa instituição foi feita de forma conveniente devido à aproximação entra a pesquisadora e o ambiente pesquisado12, por se tratar do local em que a mesma leciona, o que facilitou a autorização da pesquisa por parte da direção, o acesso a documentos, professores, alunos e outros recursos que se fizessem necessários (computadores, cópias de materiais bibliográficos, livros, etc.). Antes de definir quem seriam os atores da pesquisa, iniciou-se a coleta de dados através de análises documentais. Estudou-se o Plano do Curso de Ensino Médio Integrado ao Técnico em Agropecuária que foi implementado em 2005 13, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional técnica de Nível Médio (Brasil, 2011), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Brasil, 1996), o Decreto nº 5.154/04 (Brasil, 2004a) e o Documento Base da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio (Brasil, 2007). Também foram realizadas leituras de produções de autores que fazem estudo na área de educação técnica como Frigotto, Civiatta e Ramos (2005). A análise desses documentos e textos teve como foco principal entender quais são os objetivos de um curso Integrado, suas características e particularidades, pois só de posse dessas informações e a partir da questão de pesquisa foi possível definir quais instrumentos de pesquisa poderiam ser utilizados com cada um dos sujeitos. Assim, foi feito um 12 Embora durante o desenvolvimento do estudo a pesquisadora tenha ficado atenta a um distanciamento necessário para o bom êxito do mesmo. 13 Este documento encontra-se a disposição no IFET em que a pesquisa foi realizada. 42 planejamento das ações da pesquisa que envolveram os professores e os estudantes do curso 3.1 Abordagem Metodológica: Qualitativa A tentativa da pesquisadora em determinar uma orientação para a seleção de conteúdos curriculares de matemática, dentro do contexto do curso de Agropecuária do IFET selecionado, mostra a aproximação profissional dela com o local pesquisado. Isso possibilitou a adesão de elementos novos e importantes para o estudo, fazendo com que a fonte direta dos dados fosse o ambiente natural, impossibilitando que a investigadora separa-se a ação do contexto em que a pesquisa ocorre. Isso se enquadra em uma característica da investigação qualitativa na qual “os investigadores introduzem-se e despendem grandes quantidades de tempo em escolas, famílias, bairros e outros locais tentando elucidar questões educativas” (Bogdan e Biklen, 1994, p.47). Os instrumentos usados para coleta de dados foram entrevistas, questionários e material didático de professores. Dados numéricos foram obtidos através de questões fechadas dos questionários para se conhecer o perfil profissional dos docentes entrevistados. Os resultados escritos da investigação incluem transcrições de entrevistas, notas de campo, documentos pessoais e outros registros oficiais. Essa é outra característica descrita por Bogdan e Biklen, o que qualifica essa pesquisa como sendo também descritiva (Bogdan e Biklen,1994). As entrevistas com os docentes foram realizadas no próprio IFET, o que se mostrou vantajoso, pois possibilitou acesso a materiais didáticos utilizados durante as aulas. Essa é uma atitude que se enquadra em mais uma característica dos autores (Bogdan e Biklen,1994) , onde os dados são analisados de forma indutiva. Isso quer dizer que durante o estudo não houve preocupação em confirmar hipóteses construídas previamente, os resultados do estudo foram sendo construídos “à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 50). Os autores Bogdan e Biklen (1994) afirmam que as pesquisas qualitativas podem possuir até cinco características. Neste estudo, conseguiu-se identificar três: “Na investigação qualitativa a fonte directa (sic) de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal”; “2. A investigação qualitativa é descritiva”; e “4. Os 43 investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva” (Bogdan e Biklen, 1994). Após ingressar no mestrado, em Março de 2010, com o projeto de pesquisa que tinha o mesmo objetivo desse estudo, a pesquisadora iniciou a melhoria de alguns itens do projeto visando a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFOP 14. O projeto de pesquisa foi submetido ao CEP da UFOP no mês de novembro de 2010. Com o parecer favorável do CEP (registro CAAE: 0068.0.238.000-10 de 19 de maio de 2011) iniciou-se a organização de um calendário para dar inicio a pesquisa de campo junto aos docentes e discentes do IFET. O primeiro contato com o Instituto aconteceu em outubro de 2010, momento em que a natureza da pesquisa foi explicada para a direção e essa consentiu com a realização da mesma no Campus15. 3.2 Os instrumentos de coleta de dados 3.2.1 A construção da entrevista A partir do objetivo e da questão da pesquisa definiu-se que a entrevista semiestruturada seria o melhor instrumento para ser utilizado com os professores, já que permite maior liberdade de comunicação e interação entre os locutores. A pesquisadora acreditava que através da entrevista os professores ficariam livres para falar sobre coisas que acontecem na sala de aula, detalhes sobre o material didático utilizado, postura dos alunos frente dificuldades com o conteúdo e quaisquer outras informações que julgassem necessárias. No início foi elaborado um roteiro para a realização das entrevistas e realizado um teste piloto para verificar se o mesmo iria se adequar aos objetivos, que eram identificar, através das falas dos professores, como a Matemática estava inserida nas disciplinas técnicas. O piloto do roteiro foi feito com três professoras de outro IFET que lecionam em Cursos Integrados e não compunham os sujeitos da pesquisa. Durante a realização do piloto foi possível perceber que o roteiro de entrevista elaborado não iria 14 Universidade Federal de Ouro Preto. Esse contato aconteceu antes da aprovação do projeto de pesquisa pelo CEP, pois a autorização é uma solicitação do Comitê. 15 44 contemplar o que se desejava saber, já que as professoras falaram muito sobre particularidades das suas disciplinas e superficialmente do envolvimento da Matemática com as mesmas. Também foi possível verificar que as entrevistas aconteceram de forma completamente estruturada (Silva e Menezes, 2001), o que não permitiu explorar amplamente algumas questões. Assim um novo roteiro de entrevista semi- diretiva (apêndice A), a ser empregado nas entrevistas com os professores, foi elaborado. Esse roteiro passou a ter perguntas mais abertas, no qual o professor poderia descrever fatos que acorrem durante sua prática pedagógica. Durante a realização da entrevista a pesquisadora podia ficar mais livre para dialogar com o entrevistado em busca das respostas necessárias à pesquisa. 3.2.2 A construção dos questionários Outros instrumentos utilizados na pesquisa foram os questionários (apêndice B e C) aplicados aos dois grupos de sujeitos pesquisados (docentes e discentes). O emprego de tal instrumento aos docentes teve como objetivo conhecer a trajetória pessoal e profissional dos professores que ministravam aula no curso. Elaborou-se um questionário que tentasse mostrar qual o perfil dos professores que lecionavam no curso de Agropecuária, buscando mostrar no estudo que os docentes possuíam formação e qualificação para falar sobre as disciplinas. O questionário pôde ser respondido em qualquer momento (antes, ou após a entrevista) e em qualquer lugar de escolha do docente. O questionário aplicado aos estudantes teve o objetivo de verificar a visão dos mesmos quanto à relação da Matemática com as disciplinas da área técnica do curso de Agropecuária. Eles puderam relatar quais disciplinas, considerando aquelas em que obtiveram aprovação, usam assuntos de Matemática para que o processo de aprendizagem aconteça. Listaram quais eram esses assuntos e como a Matemática poderia auxiliar na aprendizagem dos mesmos. 45 3.2.3 Análise de documentos e da bibliografia Para identificar sugestões e ações que contribuissem para a construção de uma orientação do currículo de Matemática voltado para cursos técnico integrados ao Ensino Médio, foram realizadas as seguintes tarefas durante o estudo: Pesquisa bibliográfica de estudos já realizadas no país16; Busca de uma definição para currículo, interdisciplinaridade e contextualização; Levantamento sobre o currículo de Matemática; Pesquisa documental envolvendo textos encontrados no sitio do MEC na internet17; Análise de livros, artigos e textos relacionados ao currículo de cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, interdisciplinaridade e contextualização. Para analisar a relação da disciplina Matemática com as disciplinas técnicas, foram realizadas as tarefas: Pesquisa documental envolvendo o plano do Curso de Agropecuária do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFET) escolhido; Pesquisa de campo no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFET) escolhido, envolvendo os professores das disciplinas da área técnica que atuam no Curso de agropecuária e estudantes do curso. 3.3 As Etapas da Coleta de Dados Em Maio de 2011, a pesquisadora decidiu que as entrevistas e aplicações dos questionários ocorreriam no mês de Julho, após o retorno das férias escolares no IFET, que ocorreram em Junho. Foram iniciadas as coletas de dados citadas no dia 13 de Julho de 16 Foi consultado o banco de teses da Capes utilizando os termos Ensino Integrado, Curso Integrado, Ensino Médio Integrado, Escola Técnica, Escola Agrotécnica, Centro federal de Educação e Instituto Federal. 17 www.mec.gov.br 46 2011, entrando em contato com alguns professores para explicar a pesquisa. Após a concordância em participar, marcou-se uma data para a realização da entrevista como cada um dos que foram contactados. Dentre os catorze professores que lecionavam no curso de Agropecuária, apenas 7 (sete) foram contatados. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice E). Na realização das sete entrevistas foi respeitada a disponibilidade dos docentes, marcando as entrevistas em horário e local que cada um achasse adequado. A primeira entrevista ocorreu no dia 26 de Julho de 2011 e a última no dia 01 de Agosto do mesmo ano, todas no Campus. Após essa data, não se conseguiu encontrar docentes na instituição. Para a coleta de dados com os estudantes entrou-se em contato com as quatro turmas, que foram informadas sobre a pesquisa nos dias 19 e 20 de julho. Todos estavam cientes do objetivo da mesma, que a participação era voluntária e que o estudo iria beneficiar o desenvolvimento do curso de Agropecuária. Assim, entre os dias 19 e 28 de Julho, foram distribuídos 50 (cinquenta) questionários aos pretensos participantes. Foi solicitado que os devolvessem respondidos até o final do mês, no entanto desse montante apenas 17 (dezessete) questionários foram respondidos e devolvido a pesquisadora. 3.4 O Processo de Análise dos Dados O processo de análise de dados constituiu das seguintes etapas: análise dos documentos levantados; tabulação dos dados dos questionários respondidos; transcrição e análise das entrevistas; associação das entrevistas e questionários ao material didático utilizado pelos docentes das disciplinas técnicas com os estudantes. 3.4.1 Tabulação dos Questionários A tabulação dos dados dos questionários dos docentes foi realizada junto com a análise do currículo na Plataforma de Currículos Lattes de alguns, pois verificou-se que existiam questionários que não estavam completamente respondidos. 47 Com essa tabulação foi possível identificar o perfil dos docentes do curso de Agropecuária. Observou-se características tais como sexo, escolaridade, formação na área da disciplina que leciona, trabalhos sobre assuntos da disciplina que ministram, etc. A tabulação dos questionários respondidos pelos alunos teve como objetivo oferecer a pesquisa mais dados sobre a relação das disciplinas técnicas com a Matemática. Os estudantes listaram quais assuntos de Matemática estavam diretamente relacionados com as disciplinas técnica e esses dados puderam sem comparados com as entrevistas dos docentes, com o material que os professores utilizam para ministrar aulas e com o Plano de Curso. 3.4.2 Transcrição e Análise das entrevistas e Material Didático A transcrição das entrevistas foi iniciadas no dia 02 de Agosto de 2011 usando o programa computacional Quick Time, devido seu fácil manuseio e boa qualidade de som. Durante o processo de transcrição foram identificadas falas onde foi possível verificar a importância da Matemática para a aprendizagem da disciplina lecionada pelo entrevistado e alguns assuntos de Matemática que são necessários para as disciplinas técnicas. 3.5 A instituição estudada O IFET onde aconteceu a pesquisa foi criado, assim como todos os outros existentes no país, pela lei federal nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008 (Brasil, 2008b). Tem como algumas de suas finalidades e características a oferta de educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas à atuação profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional, além da promoção da integração da Educação Básica à Educação Profissional. Dentre os objetivos desse Instituto encontra-se o de ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de cursos integrados, para os concluintes do ensino fundamental (Brasil, 2009). O Campus onde se desenvolveu o estudo era antes uma Escola Agrotécnica Federal, que ofertava cursos técnicos, preferencialmente voltados para a área agropecuária e agroindustrial. Atuando há mais de quinze anos com a oferta de curso de nível médio o 48 Campus fica localizado na zona rural do perímetro irrigado do distrito de Ceraíma, dentro do município de Guanambi, sudoeste da Bahia. No Campus, atualmente, são ofertados diversos cursos nas mais variadas modalidades de ensino: Subsequente em Agricultura e Zootecnia; Integrado em Agropecuária, Agroindústria e Informática (ProEja); Licenciatura em Química; Bacharelado em Agronomia; Tecnólogo em Alimentos; Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas; Técnico de Nível Médio em Meio Ambiente (EAD); Técnico em Eventos (EAD); e Técnico em Serviços Públicos (EAD). Figura 01: Localização Geográfica do Campus no Estado da Bahia – Guanambi/BA Fonte: http//: www.google.com.br/imagem Segundo dados constantes no site da Instituição18 o curso de Ensino Médio Integrado ao Técnico em Agropecuária foi implementado no Campus no ano de 2005, na época ainda denominado Escola Agrotécnica Federal (EAF). O curso é pautando, basicamente, em um único documento, o Plano do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, que foi implementado em abril de 2005. Segundo o Plano do Curso, o mesmo foi desenvolvido para atender aos pressupostos legais da atual LDB e ao 18 Como queremos manter sigilo em relação ao IFET estudado não iremos mencionar o site nas referenciais bibliográficas. 49 Decreto 5.154 de 23 de julho de 2004 (Brasil, 2004a), que regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394/96 (Brasil, 1996). O projeto foi submetido e aprovado pelo Conselho Diretor da então Escola Agrotécnica Federal. O curso de Agropecuária do Campus é constituído de regime seriado (três séries). A carga horária do curso se divide entre as disciplinas da parte técnica (760 horas na 1º série; 680 horas na 2ª série; e 800 horas na 3ª série) e as disciplinas da base nacional comum (720 horas nas três séries) totalizando 4.400 horas de aulas (média de 1.466 horas de aulas por ano). Os alunos assistem aulas de segunda a sexta-feira nos turnos matutino (07:30h às 11:30h) e vespertino (13:30h às 17:30h) e, esporadicamente, aos sábados, com o objetivo de cumprir a exigência legal de 200(duzentos) dias letivos, junto a isso devem realizar um estágio de 200 horas, para completar sua formação profissional. O curso Técnico em Agropecuária do Campus pretende habilitar o estudante para ser um profissional capaz de: - analisar as características econômicas, sociais e ambientais, identificando as atividades peculiares da área a serem implementadas; - planejar, organizar e monitorar: o uso e manejo do solo de acordo com suas características e aptidão agrícola; - elaborar programas de nutrição e manejo alimentar em projetos zootécnicos; - planejar e acompanhar a colheita e a pós-colheita; - conceber e executar projetos paisagísticos, identificando estilos, modelos, elementos vegetais, materiais e acessórios a serem empregados. Junto a essas habilidades, o curso deve propiciar ao estudante a oportunidade de ter acesso a níveis superiores de ensino, como prevê o Documento Base da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio (Brasil, 2007). Segundo o Plano do Curso de Agropecuária, as disciplinas do curso são oferecidas durante três anos, sendo que as da base nacional comum (Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Matemática, História, Geografia, Química, Física, Biologia, Inglês, Espanhol, Artes, 50 Educação Física, Redação e Informática) são ofertadas durante todas as três séries. As disciplinas da área técnica são ofertadas segundo o quadro 01 a seguir: Quadro 01 - Divisão das disciplinas da área técnica por série 1ª Série 2ª Série 3ª Série Gestão do Agronegócio Desenho e Topografia Planejamento e Projeto Técnica de Redação Profissional Zootecnia II Zootecnia III Zootecnia I Agricultura II Agricultura III Agricultura I Beneficiamento Animal e Vegetal Irrigação e Drenagem Mecanização Agrícola Construções e Instalações Rurais Pode-se observar que durante a primeira e terceira séries os alunos cursam um total de 17 (dezessete) disciplinas e na segunda série um total de 16 (dezesseis) disciplinas, já que podem optar entre inglês ou espanhol, não sendo possível cursar as duas simultaneamente. 3.6 Sujeitos da Pesquisa A escolha dos participantes da pesquisa recaiu sobre os sujeitos que estavam atuando diretamente na implementação do Plano do Curso, no segundo semestre de 2011, e que pudessem relatar a relação das disciplinas da área técnica com a Matemática. Assim dividiu-se os participantes em dois grupos distintos: - Professores das disciplinas técnicas que estavam atuando no Curso de Agropecuária em 2011/2; - Estudantes do Curso de Agropecuária matriculados no ano letivo de 2011. 51 3.6.1 Professores das Disciplinas Técnicas que Estão Atuando no Curso de Agropecuária Este grupo inicialmente foi formado por uma população de 14 (catorze) docentes19. A enumeração destes foi feita observando, dentre todos os docentes do Campus, quais trabalham com disciplinas técnicas e estavam lecionando para o curso de Agropecuária durante o segundo semestre letivo de 2011. Deste montante foi feita uma estimativa de participação de 60% (nove professores) no estudo em questão. A escolha destes foi feita de forma aleatória, mas apenas sete escolhidos da amostra participaram da pesquisa20. Com o objetivo de manter sigilosa a identidade dos docentes participantes ou não, conforme acertado no Termo de Compromisso Livre e Esclarecido 21 assinado pelos mesmos, a identificação foi feita pela letra D (referente a palavra docente) e um número. A numeração foi escolhida enumerando a população de forma aleatória. Dentre os professores que fazem parte da população22 da pesquisa 08 (oito) são do sexo feminino e 6 (seis) do sexo masculino. Observando as informações, que foram retiradas dos questionários23 preenchidos pelos docentes entrevistados e do currículos na plataforma lattes de todos, pode-se perceber que apenas a docente D8 não possui formação nem publicações na disciplina que leciona, o que não a impede de possuir conhecimento acerca dos assuntos ministrados, já que a mesma leciona no curso a quase três anos. 3.6.2 Estudantes do Curso de Agropecuária O grupo de estudantes foi formado pelos alunos que já obtiveram aprovação em alguma disciplina do curso, ou seja, alunos da segunda e terceira séries. Foi utilizado esse critério pois estudantes que já passaram por todos os processos avaliativos de uma disciplina podem compreender melhor a sua importância e relacioná-la com outros 19 Convém destacar que um dos docentes não lecionou no curso durante todo o segundo semestre de 2011; devido a isso, o contato com o mesmo não foi realizado. 20 É importante ressaltar que foram encontradas algumas dificuldades para a realização do estudo devido a greve de servidores que aconteceu nos meses de julho, agosto e setembro, não conseguimos realizar entrevista com todos os professores da nossa amostra. 21 O modelo do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido assinado pelos docentes entrevistados encontra-se no Apêndice D. 22 Estão sendo considerados todos os 14 docentes, da população total, que atuaram no curso, independente de terem ou não sido entrevistados. 23 O modelo do questionário encontra-se no Apêndice B. 52 componentes curriculares, no nosso caso, com a Matemática. Esses estudantes estavam divididos em quatro turmas, duas de segunda série (83 alunos) e duas de terceira (51 alunos), contabilizando um total de 135 (cento e trinta e cinco) alunos24. A participação dos estudantes do curso Integrado na pesquisa foi sugerida por uma professora do Programa de Mestrado, acreditando que a opinião do aluno sobre mudanças no currículo devem ser levadas em consideração. Analisada a sugestão resolveuse realizar a pesquisa com os estudantes do curso. A participação destes se mostrou importante, pois eles puderam dizer, de um forma diferente dos professores, a relação existente entre Matemática e outras disciplinas técnicas, focando as dificuldades que tiveram para lograr aprovação nas disciplinas. 24 Essa quantidade se refere ao número de alunos matriculados no início do ano de 2011, desconsiderando abandonos e transferências que aconteceram durante o decorrer do período letivo, o que se intensificou durante a greve de servidores. 53 CAPÍTULO 04: DADOS DA PESQUISA Neste capítulo serão apresentados os dados obtidos a partir da análise dos instrumentos metodológicos da pesquisa, material didático, entrevistas e questionários respondidos pelos sujeitos. 4.1 Dados dos Entrevistados Foram entrevistados 07(sete) professores que lecionam disciplinas técnicas para estudantes do curso de Agropecuária do IFET. Para obter informações sobre estes professores, além das entrevistas foram feitas pesquisas de seus respectivos currículos na Plataforma de Currículos Lattes e todos responderam a um questionário. As entrevistas ocorreram dentro do IFET, na sala de cada um dos professores entrevistados, com data e hora escolhidas pelos mesmos. 4.1.1 Perfil dos Entrevistados Dentre os docentes entrevistados 02 (dois) são do sexo masculino e 05 (cinco) do sexo feminino. Em relação a estes docentes é possível afirmar que possuem experiência e conhecimento para atuarem em suas respectivas áreas, pois se trata de 05 (cinco) doutores, 01 (um) doutorando e 01 (um) mestre, todos atuando dentro a área na qual se formaram, estudam e/ou realizam pesquisa. Apenas um docente leciona a menos de três anos em cursos técnicos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. 4.2 Entrevistas e Questionários Com os dados obtidos das entrevistas com os professores e dos questionários respondidos pelos docentes e estudantes, foi possível fazer a divisão das informações em grupos e subgrupos, visando identificar em quais disciplinas, e em qual momento do curso, cada conteúdo de Matemática se faz necessário. 54 Nos questionários respondidos pelos estudantes foi identificado que algumas disciplinas necessitam de conteúdos da Matemática para serem compreendidas. Abaixo estão listadas as disciplinas mencionadas e os respectivos conteúdos de Matemática: - Mecanização: Juros, porcentagem, regra de três e probabilidade; - Avicultura: Regra de três, divisão de fração e porcentagem; - Agricultura I: Área e regra de três; - Agricultura II: Porcentagem. - Topografia: Cálculo de Áreas e perímetro; e trigonometria. -Piscicultura: Porcentagem e regra de três; - Olericultura: Regra de três; - Apicultura: Operações básicas e geometria; - Introdução a Zootecnia: Probabilidade; - Suinocultura: Porcentagem e regra de três; - Cunicultura: Porcentagem e regra de três. De posse dessa informação foi possível verificar que assuntos de Matemática, ministrados no Ensino Fundamental e no Médio, são necessários nas disciplinas técnicas. Com a isso, a primeira divisão de grupos foi feita separando assuntos que são ministrados em cada um dos dois níveis de ensino. 55 Quadro 02: Divisão por conteúdos de Matemática necessários para as disciplinas técnicas Assuntos de Matemática Ensino Fundamental Regra de três Operações Básicas Uso de Calculadora Proporção Porcentagem Conversão de Medidas Operações com Frações Operações com racionais Ensino Médio Conversão de medidas (área, volume) Leitura de tabelas e gráficos Estatística Trigonometria no triângulo Funções Trigonométricas Matemática Financeira Probabilidade Logaritmo Função de 1º e 2º grau Geometria Plana Geometria Espacial Fonte: Dados obtidos dos documentos consultados Sabe-se que alguns assuntos, tais como Matemática Financeira, Estatística e Geometria Plana, também são lecionados no Ensino Fundamental. Para realizar essa divisão tomou-se como referencia o plano do Curso de Agropecuária e o plano de ensino elaborado pelos professores de Matemática do Campus (dentre eles a pesquisadora) no ano de 2011. Como este estudo está voltado para a educação de Nível Médio apenas as disciplinas que necessitam dos conteúdos de Matemática referentes a esse nível de ensino foram classificadas, formando assim um subgrupo: Mecanização, Irrigação e Drenagem, Agricultura II, Agricultura III e Topografia. Essa divisão foi realizada apenas listando os conteúdos mencionados nos questionários e nas entrevistas, sem a preocupação de verificar a possibilidade do uso de metodologias relacionadas a contextualização e a interdisciplinaridade. Foi possível, em alguns casos, saber o momento em que os assuntos de Matemática se fazem necessários para a compreensão dos conteúdos ministrados pelos docentes das disciplinas técnicas e em que contextos são ministrados. 56 Quadro 03: Assuntos do Ensino Médio necessários em cada disciplina Assuntos Função de 1º e 2º grau Conversão de medidas (área, volume) Leitura de tabelas e gráficos Estatística Trigonometria no triângulo Funções Trigonométricas Logaritmo Geometria Plana Geometria Espacial Disciplina Mecanização; Irrigação e Drenagem Agricultura II ; Agricultura III Agricultura II Agricultura III Mecanização; Topografia Topografia Agricultura II Agricultura III e Topografia Agricultura II Fonte: Dados obtidos dos documentos consultados Na realização das entrevistas buscou-se obter dos docentes dados específicos sobre a disciplina, principalmente aqueles relacionados à Matemática. O objetivo era descobrir se existia a necessidade do uso de algum assunto de Matemática durante o processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos específicos da disciplina, em que momento isso acontecia e como era a aplicação desse conteúdo. Foi possível verificar semelhanças no uso de conteúdos mencionados por docentes e discentes, tais como probabilidade, regra de três, geometria, além do acréscimo de novas disciplinas, que não tiveram seus docentes entrevistados, como é o caso de Mecanização, apesar da tentativa da pesquisadora em buscar os docentes responsáveis. Alguns docentes falam sobre o uso na disciplina e em quais momentos lecionam os assuntos, outros apenas mencionam informações básicas não informando detalhes, que por isso não foram explorados na pesquisa. 4.3 Análises do Material Didático Durante as entrevistas alguns professores disponibilizaram os materiais que utilizam com os estudantes: apostilas, slides, planos de aula. Os materiais de outros docentes encontravam-se disponíveis no setor de reprografia do IFET e o acesso aos mesmos foi permitido por eles. Foram obtidos os materiais utilizados por todos os entrevistados e a apostila utilizada pelo professor D5, responsável por ministrar aulas da 57 disciplina Irrigação e Drenagem25 (não entrevistado), visto que este foi mencionado por um docente em sua entrevista. Docente D8: “A disciplina que tem mais matemática é irrigação. Irrigação é pura matemática e há um elevado índice de reprovação. Os alunos que tem nota baixa, que estavam no conselho, a maioria é irrigação. Então olha a matemática que tem lá…” Durante as análises iniciais desses materiais foi possível perceber que para compreender a necessidade da Matemática nas disciplinas técnicas, em alguns casos, se faz necessária a compreensão de alguns dos assuntos. Como exemplo é possível citar a disciplina Irrigação e Drenagem, cujo material utilizado pelo docente da disciplina encontra-se disponível na internet. Nessa disciplina, por meio da análise do material didático utilizado percebeu-se a necessidade do estudo de gráficos, equações e funções, no entanto esse estudo requer o entendimento da aplicação desses conteúdos. A seguir apresentam-se as análises realizadas a partir da triangulação dos dados obtidos através dos diferentes instrumentos coletados: entrevistas, questionários, material didático e plano do curso. 25 Embora o docente dessa disciplina não tenha sido entrevistado, a pesquisadora teve conhecimento, a partir de relatos de estudantes e docentes, sobre a dificuldade que os alunos apresentam na disciplina em função da quantidade de assuntos de matemática necessários para sua aprendizagem. 58 Capítulo 05: ANALISANDO AS DISCIPLINAS TÉCNICAS NA BUSCA POR CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA Ao longo da pesquisa procurou-se estabelecer conexões entre a Matemática e as disciplinas técnicas ofertadas no curso de Agropecuária, quais sejam: Topografia, Mecanização, Beneficiamento Animal e Vegetal, Zootecnia I, Irrigação e Drenagem, Agricultura II, Agricultura III. O estudo foi realizado com essas disciplinas pois, conforme apresentado no capitulo anterior, elas apresentam a necessidade de conteúdos de Matemática, do Ensino Médio, para serem lecionadas. Pretende-se, neste capitulo, retomar algumas dessas considerações buscando associar os dados obtidos na pesquisa de campo. O processo de preparação para a análise dos dados permitiu a elaboração de alguns eixos que serão apresentados a seguir. 5.1. As Disciplinas Técnicas e sua Relação com a Matemática Como já apresentado, após a explanação do objetivo formativo do Ensino Médio Integrado26, foram realizadas entrevistas com alguns docentes que lecionam em disciplinas da área técnica do curso Integrado em Agropecuária de um IFET selecionado. O objetivo foi verificar, junto a esses professores, quais conteúdos de Matemática se fazem necessários para que o estudante atinja as habilidades e competências requeridas nas disciplinas técnicas oferecidas no curso. A fim de compreender as análises dos dados é preciso considerar os conceitos discutidos nos capítulos anteriores - sobre currículo integrado, contextualização e interdisciplinaridade, por isso serão retomadas as considerações realizadas. 26 O objetivo do Ensino Integrado é tratar a educação em sua totalidade, em que a educação geral deve fazer parte, de forma inseparável, da educação profissional e vice-versa (Ciavatta, 2005). 59 A superação da dicotomia trabalho manual/ trabalho intelectual deve ser priorizada no Ensino Integrado, a fim de formar cidadãos aptos para o mercado de trabalho e capazes de prosseguir seus estudos em níveis superiores de ensino (Brasil, 2007). Assim o Ensino Médio Integrado ao Ensino Técnico necessita de um currículo que integre as disciplinas técnicas ás disciplinas da área básica. Para que isso aconteça é preciso realizar uma educação com uma metodologia interdisciplinar e contextualizada. O conceito de interdisciplinaridade se encontra diretamente ligado ao conceito de disciplina (Fazenda, 2008). Ela acontece quando é necessário recorrer a conceitos e instrumentos de outra área do conhecimento ou disciplina, já que “todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos” (Brasil, 1998b, p.38). Já contextualização é um recurso didático utilizado para conseguir ampliar as possibilidades de interação entre as disciplinas, ou entre as áreas. Contextualizar o conteúdo é “assumir que todo conhecimento é quase sempre reproduzido das situações originais nas quais acontece sua produção” (Brasil, 1998b, p.42), aproveitando sempre as relações entre conteúdos e contexto para dar significado ao aprendido, estimular o protagonismo do aluno e estimulá-lo a ter autonomia intelectual (Brasil, 1998b). A seguir são apresentadas as analises de cada uma das disciplinas técnicas em que se encontrou assuntos de Matemática lecionados no Ensino Médio. Para analisar cada uma delas foi realizada uma sistemática. Primeiro verificou-se o que o Plano do Curso de Agropecuária aborda sobre a disciplina e se o mesmo apresenta alguma relação da disciplina com a Matemática, observando os assuntos, as habilidades e competências listadas. Após essa primeira análise partiu-se para o estudo dos materiais didáticos disponibilizados pelos docentes, em busca de conteúdos de Matemática do Ensino Médio que possam ser ministrados com uma metodologia interdisciplinar e/ou contextualizada. Alguns materiais didáticos envolviam conteúdos que não faziam parte do objeto de estudo da disciplina, assim apenas levou-se em consideração os conteúdos elencados nas entrevistas docentes, nos questionários dos estudantes e no Plano do Curso de Agropecuária. 60 Em seguida foi realizada a análise das entrevistas dos docentes responsáveis por cada uma das disciplinas, dando ênfase aos tópicos em que os docentes listam assuntos de Matemática do Ensino Médio que são necessários para a apreensão dos assuntos que eles ministram. Por fim, analisando os questionários respondidos pelos alunos, tentou-se verificar quais conteúdos das disciplinas técnicas possuem relação com a Matemática e quais assuntos de matemáticas esses conteúdos necessitavam para serem compreendidos. 5.2. Disciplina: Topografia Plano do Curso Analisando o Plano do Curso de Agropecuária foi possível perceber que a disciplina Topografia, com carga horária anual de 160 horas, ministrada para alunos da segunda série, requer competências, habilidades e assuntos diretamente relacionados com os conteúdos lecionados em Matemática. Quadro 04: Competências, habilidades e assuntos em Topografia Competências Realizar cálculos e transformações de unidades nos diferentes sistemas de medidas. Fazer medições lineares e angulares. Realizar cálculos de ângulos e de distâncias Realizar transformações e cálculos com unidades de medidas lineares e de superfícies. Habilidades Fazer conversão do sistema sexagesimal para o centesimal. Realizar medida para determinar distâncias horizontais e verticais. Efetuar medidas de ângulos. Assuntos Unidades de medidas: - Medidas lineares. - Medidas de superfície. - Medidas angulares. - Noções de Escala. Medições: - Grandezas topográficas (lineares e angulares). 61 - Medições de distâncias (horizontal e vertical). - Medições de ângulos. Cálculos de áreas Fonte: Dados obtidos dos documentos consultados Material Didático Analisando o material didático, fornecido pelo professor que foi entrevistado, intitulado ‘Módulo Topografia27, foi possível perceber que muitos elementos estudados em Matemática são necessários para o estudo dessa disciplina. Esse livro é destinado a estudos topográficos de Nível Superior, por isso as análises foram feitas levando em consideração apenas os assuntos existentes no material didático do professor da disciplina e no Plano do Curso de Agropecuária. Antes de elencar os conteúdos de Matemática que são estudados na disciplina foi levada em consideração a abordagem didática utilizada no livro Fundamentos de Topografia, dos autores Veiga, Zanetti e Faggion (2007). Este livro é mencionando em alguns trechos do material didático utilizado pelo professor da disciplina. A pesquisadora resolveu estudar esse livro visto que não é possível atingir o objetivo desse estudo sem compreender o que a disciplina contempla. Além disso, o livro apresenta uma linguagem aparentemente mais simples do que o material didático apresentado pelo docente, que é um resumo dos assuntos ministrados na sala de aula, formado majoritariamente por figuras. Esse foi mais um caminho para compreender os assuntos da disciplina. Veiga, Zanetti e Faggion (2007) apresentam, no livro didático, os tópicos diretamente relacionados a Topografia. Os autores fazem um estudo sobre plano cartesiano e unidades de medida, sobre o sistema de coordenadas cartesianas, tanto no plano como no espaço, do sistema de coordenadas esféricas e justificam seu uso devido ao estudo de latitudes e longitudes (usados para encontra um determinado ponto na superfície terrestre). Também abordam as coordenadas elipsoidais, pois “No Brasil, o atual Sistema Geodésico Brasileiro (SIRGAS2000 - SIstema de Referência Geocêntrico para as AméricaS) adota o elipsóide de revolução GRS80 (Global Reference System 1980).” (Veiga, Zanetti e 27 O material didático disponibilizado não possui referência quanto a sua autoria. 62 Faggion, 2007, p.17). Em seguida, no capitulo dois do livro, é feita uma revisão de assuntos de Matemática conforme quadro a seguir: Quadro 05: Assuntos revisados no livro didático Assuntos Unidades de Medida Tópicos Medida de Comprimento - Metro Medida Angular - Sexagesimal, Centesimal e Radianos Radiano Unidade Sexagesimal Unidade Decimal Relações Trigonométricas no Triângulo Retângulo Trigonometria Plana Triângulo Qualquer Teorema de Pitágoras Relações Métricas com o Triângulo Retângulo Lei Dos Senos Lei Dos Cossenos Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion, 2007. Os autores afirmam que a revisão (para estudantes do Ensino Superior) desses assuntos é necessária pois servirão para o estudo de temas que serão abordados. Assim pode-se afirmar que para o estudo de Topografia em um curso de Nível Médio alguns desses conteúdos são necessários, juntamente com outros que foram verificados no material fornecido pelo professor. Eles fazem parte da lista de conteúdos que é objetivo da pesquisa, no entanto é preciso explanar algum tipo de associação do uso desses conteúdos dentro da Matemática (interdisciplinaridade e contextualização). Apenas assuntos que são lecionados no curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio do IFET em que a pesquisa ocorreu serão abordados. Dos assuntos verificados na disciplina Topografia, os listados a seguir são mais condizentes com o propósito de realizar um estudo interdisciplinar e contextualizado com a Matemática lecionada no Ensino Médio. 63 Ângulos São divididos em dois tipos: Horizontal e Vertical. O horizontal se assemelha a definição de ângulo, geralmente estudada no Ensino Fundamental, no entanto sua leitura é feita no sentido horário, também chamada de posição ré (primeira imagem da figura abaixo) ou anti-horário, chamada de posição vante (segunda imagem da figura a seguir), a depender do posicionamento do teodolito28. Figura 02: Posições dos ângulos. Fonte: Material didático utilizado pelo docente Já o ângulo Vertical é medido segundo o plano vertical, considerando uma linha horizontal como referência, e a leitura é feira em sentido anti-horário (medição positiva) ou horário (medição negativa). Devido a essa diferenciação entre valores positivos e negativos para um ângulo (figura 03) listamos esse assunto como sendo um conteúdo a trabalhar no Ensino Médio. Figura 03: Medição de ângulos. Fonte: Material didático utilizado pelo docente 28 “Os teodolitos são equipamentos destinados à medição de ângulos, horizontais ou verticais, objetivando a determinação dos ângulos internos ou externos de uma poligonal, bem como a posição de determinados detalhes necessários ao levantamento” (Veiga, Zanetti e Faggion, 2007, p.54). 64 Trigonometria A medida de uma distância em Topografia pode está diretamente relacionada ao uso de trigonometria no triangulo retângulo, um exemplo é a medição de Distância Inclinada em um lance único (em que se pode desconsiderar a curvatura do terreno), como mostra as duas figuras a seguir. Figura 04: Distância entre dois pontos. Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion (2007, p.47) Figura 05: Esquema de distância entre dois pontos. Fonte: Material didático utilizado pelo docente 65 Neste segundo exemplo é possível calcular o valor da distância apenas utilizando o cosseno do ângulo beta (visto que o valor do ângulo é encontrado utilizando o teodolito). Considerando o conteúdo sobre distância inclinada (figura 06), esta é utilizada quando o terreno possui uma grande inclinação. Neste caso é possível, como mostra a figura a seguir e com o uso de trigonometria, encontra uma fórmula (figura 07) para a medição dessas distâncias. Essa fórmula pode ser estudada dentro da disciplina Matemática, por envolver o uso de operações e fórmulas trigonométricas, um assunto que deve ser lecionado na segunda série. Diante dessa análise percebe-se que este assunto poderia potencialmente ser desenvolvido de forma contextualizada e interdisciplinar entre as disciplinas ofertadas no curso médio integrado. Figura 06: Distância com inclinação. Fonte: Material didático utilizado pelo docente Faz-se necessário explicar que a figura 07 tem o objetivo de mostrar o uso de trigonometria na disciplina, não se fazendo preciso compreender, para essa pesquisa, o que cada uma das letras significa. No entanto ao realizar o uso desse assunto, dentro de uma abordagem interdisciplinar ou contextualizada, conforme sugere a pesquisa, um professor de Matemática terá que compreender o desenvolvimento do assunto em questão. 66 Figura 07: Cálculo de distância a com inclinação Fonte: Material didático utilizado pelo docente Geometria Plana / Matrizes O estudo do cálculo de áreas em Topografia, conforme verificado no Módulo Topografia, pode ser feito de três formas distintas: Método trigonométrico, Método de Gauss e Método de Sarrus. O primeiro e o último métodos utilizam as fórmulas de cálculo de áreas de figuras planas, tais como retângulo, quadrado, triângulo e trapézio. Já o Método de Gauss (figura 08) requer o conhecimento de matrizes. 67 O Módulo trás um exemplo para mostrar como esse método pode ser aplicado, nele são utilizadas duas coordenadas X e Y encontradas pelo levantamento de Irradiação 29. Figura 08: Método de Gauss. Fonte: Material didático utilizado pelo docente É possível, assim, utilizar esse exemplo para a contextualização dos assuntos Matrizes e Determinantes, ou realizar uma abordagem interdisciplinar visto que são assuntos lecionados aos estudantes da segunda série na disciplina de Matemática. Geometria espacial/Unidades de Medidas Observa-se, no exemplo do item anterior, que as medidas de áreas são determinadas em hectare, área e centiárea, o que mostra a necessidade do cálculo de conversão de medidas. O mesmo vale para conversão entre graus, radianos e grados. 29 O método de irradiação “Consiste em, a partir de uma linha de referência conhecida, medir um ângulo e uma distância. É semelhante a um sistema de coordenadas polares. A distância pode ser obtida utilizando uma trena, distanciômetro eletrônico ou estação total ou obtida por métodos taqueométricos.” (Veiga, Zanetti e Faggion, 2007, p.128). 68 Esse assunto pode ser estudado durante as aulas de Geometria Espacial, lecionado durante a segunda série do curso, contextualizando os exemplos. Percebe-se que com este conteúdo há mais uma possibilidade de trabalho interdisciplinar entre as disciplinas Matemática e Topografia. Geometria analítica Na disciplina Topografia é também muito comum alinhamento de pontos, principalmente quando se precisa traçar uma reta e só conhece os pontos externos sem nenhuma outra informação que possa auxiliar para construir esse alinhamento. O alinhamento pode ser verificado na existência de dois ou de três pontos, para isso basta usar matrizes para verificar se os pontos encontram-se alinhados (no caso de três pontos). Um outro caminho seria determinar a equação geral de uma reta, caso se tenha dois pontos e objetive-se determinar seu alinhamento ou a distância entre eles. De forma análoga pode ser necessário determinar a que distância um determinado ponto encontra-se de uma reta, ou de outros dois pontos, assim é preciso utilizar a fórmula que determina distância entre um ponto e uma reta. No caso de topografia a fórmula é dada sem o uso de módulos (figura 09), pois é necessário saber se o ponto encontra-se do lado direito ou esquerdo da reta, diferente do que acontece no assunto Geometria Analítica (Matemática). Figura 09: Fórmula usada em topografia para cálculo da distâ ncia de um ponto a uma reta. Fonte: Material didático utilizado pelo docente Apesar da disciplina Topografia ser lecionada a estudantes da segunda série, é possível realizar uma abordagem contextualizada envolvendo Topografia e Geometria Analítica. Seria possível assim estudar as diferenças ocasionadas pelo uso ou não do módulo na fórmula em questão. 69 Entrevista com o docente da disciplina Topografia A partir da análise dos dados da entrevista com o professor de Topografia foi possível identificar, segundo o relato dele, a existência de uma grande relação entre as disciplinas Matemática e Topografia. O professor menciona que as dificuldades apresentadas pelos alunos estão justamente no fato deles não dominarem os conteúdos de Matemática, conforme mostra o seguinte trecho da entrevista. F: E em Topografia então, você vê alguma relação com Matemática? D14: Toda né?! Só tem né?! F: Só tem Matemática. D14: Só tem Matemática. A dificuldade dos alunos está mesmo na Matemática que eles não sabem. - Trecho da entrevista do docente D14 Quando questionado sobre os assuntos de Matemática que utiliza para ministrar aulas da disciplina o professor menciona Polígonos – soma de ângulos internos e cálculo de áreas, o uso de Matrizes e Determinantes (fórmula de Gauss) e afirma que alunos possuem dificuldades nesses assuntos e/ou os desconhecem. D14: Por exemplo, quando eu começo a dar Topografia mesmo, o primeiro assunto que eu dou, que nem é de Topografia, eu dou aquela parte de Polígonos para eles. Porque eu dou a parte de Polígonos? Porque quando a gente vai filtrando muito os conteúdos de Topografia, ai eu dou de Polígonos porque, quando eu vou fazer um levantamento de campo, já dentro de Topografia mesmo, trabalhando com o conteúdo de Topografia, quando eu vou fazer o levantamento de uma área, a área vai resultar em que? Num polígono fechado. Pra eu calcular aqueles polígonos com eles, ai quando eu vou dar lá na sala, os conteúdos lá na sala, ‘vamos calcular a soma dos ângulos internos pra ver se a agente fez o levantamento disso aqui correto’. Então a gente tem que somar os ângulos pra ver se aquele trabalho tá dentro da precisão permitida por aqueles aparelhos né?! […] O conteúdo que eu dou, que nem faz parte do meu conteúdo de Topografia. Eu dou Polígonos justamente por isso, porque quando a gente trabalha em Topografia vai falar dos métodos de calcular área. Ai a gente vai falar dos métodos gráficos né?! Ai vai falar do mecânico, que a gente usa o planímetro e fala do analítico que a gente fala das fórmulas de Gauss, que é mais matrizes, determinantes, e nem pode falar isso na sala 70 porque eles nunca viram mesmo. Então a gente só fala que é a fórmula de Gauss que a gente usa e acabou a história. - Trecho da entrevista do docente D14. Outros assuntos relatados pelo docente, e que segundo ele são menos utilizados, mas necessários na disciplina, são unidades de medida (conversão) e trigonometria. A parte de unidades de medida é utilizada, pois os estudantes precisam trabalhar com diversas medidas de área e distâncias utilizadas em todo o mundo (como hectare, área, jardas, milhas, etc.). Já o uso da trigonometria é preciso, segundo o professor, no cálculo de coordenadas para a obtenção da planta de uma determinada área. D14: Então, por exemplo, quando falo na sala ‘vamos calcular as coordenadas’, a ai agente tem que pegar os ângulos, o seno do ângulo, multiplicar pela distancia horizontal, que gente vai calcular a coordenada, obter as coordenadas, pra que, pra resultar na planta que é o objetivo da topografia, ai eles não sabem o que é um seno, não sabem o que é um cosseno, não sabem o que é que é a tangente. Ai quando você vai explicar pra eles o que é um cateto oposto, um cateto adjacente, você desenha um triangulo, se eles virar assim (gesticulando com as mãos ela vira um triângulo retângulo colocando a hipotenusa para ser a base do triângulo) ele já fala que o oposto e adjacente. - Trecho da entrevista do docente D14. O docente esclareceu que o ideal na disciplina seria colocar em prática alguns assuntos que são estudados em Matemática, tais como unidade de medida. D14: O ideal na cabeça da gente, por exemplo, se eu desse hoje unidade de medida e eu pegasse a trena, dividisse a turma e fosse pro campo, medisse lá, vou fazer tudo aqui preto no branco.[…] Porque quando eu to falando lá das unidade anulares que eu vou falar de grau, grado, radiano, entendeu?! Ai parece a coisa mais abstrata do mundo. Quando eu levo no campo, mostro no teodolito,[…] eles acham a coisa mais fantástica do mundo. - Trecho da entrevista do docente D14 Sobre o trabalho de colocar em prática (relacionar o que é ministrado em sala de aula com a vivência do estudante) o que se ensina, o professor mencionou que um dos 71 docentes de Matemática do IFET utilizou o teodolito com os alunos para medir a altura do morro que fica na parte de trás do Instituto. Quando questionado sobre fazer um trabalho conjunto com a disciplina de matemática, para que os alunos aprendessem simultaneamente um assunto nas duas disciplinas, D14 afirmou que preferia que os alunos já chegassem em sua disciplina sabendo esses conteúdos. Ele explicou que essa preferência se dá pelo fato de não conhecer a Matemática como os professores da disciplina, mas concordou que utilizar os conhecimentos de Topografia para lecionar Matemática seria algo muito bom, pois os alunos iriam se interessar e ajudaria futuramente quando estivessem estudando Topografia. Questionários dos estudantes Observando os questionários que foram respondidos pelos alunos notamos que todos os alunos que já cursaram a segunda série, e encontravam-se na terceira série durante o preenchimento do mesmo afirmaram que Topografia era uma disciplina que utilizava de assuntos relacionados a Matemática. Quando questionados sobre quais assuntos da disciplina de Topografia necessitava dos conhecimentos da Matemática eles listaram apenas “Levantamento de área” (Questionário Respondido nº 04)30 e “Desnível do terreno” (questionário Respondido nº 13). Segundo os estudantes, relacionando Topografia com a Matemática, o conteúdo “Levantamento de área” necessita dos conteúdos de Matemática referentes a cálculo de áreas e de perímetro de uma figura plana. Já o conteúdo “Desnível do terreno” requer conhecimento de trigonometria, sendo que não foi explanado no questionário qual ou quais trigonometrias se fazem necessárias. As informações obtidas das entrevistas com os docentes, dos questionários dos estudantes, do material didático e do plano do curso se complementam e expõem a necessidade e importância da Matemática para a disciplina. 30 Os alunos não precisaram se identificar para preencher o questionário, afim de conseguir diferenciá-los, compará-los e realizar uma melhor análise eles foram numerados de acordo com a ordem em que foram sendo entregues a pesquisadora. 72 5.3. Disciplina: Agricultura II Plano do Curso No Plano do Curso Integrado em Agropecuária há, habilidades requeridas após a conclusão da disciplina Agricultura II, que tem duração de 240 horas/aulas anuais e é ofertada a alunos da segunda série: Quadro 06: Habilidades da Disciplina Agricultura II Conceituar e identificar agricultura, sua divisão e a sua importância social, econômica e política; Reconhecer e identificar origem, formação composição volumétrica, perfil, características químicas, físicas e biológicas do solo; Habilidades Estabelecer relações entre pH do solo e disponibilidade de nutrientes para às plantas e utilizar tabelas de corretivos e fertilizantes; Executar práticas de cultivo que possibilitem a exploração racional de áreas agrícolas com as culturas do feijão, milho, mandioca, soja e algodão. Fonte: Plano do Curso de Agropecuária Essas são habilidades relacionadas com conteúdos de matemática a serem lecionados no Ensino Médio. Observando diretamente a lista de assuntos, existente no Plano do Curso, a ser ministrados na disciplina, não é possível observar de imediato relações com a Matemática, o mesmo aconteceu com as competência requeridas pela disciplina. Entretanto, ao analisar os dados da disciplina, através do material didático disponibilizado pelo docente responsável, foi possível perceber a existência de conteúdos relacionados ás habilidades listadas anteriormente, tais como: Estatística, Função Exponencial e Funções Polinomiais. Material didático Analisando o material didático, disponibilizado pelo professor da disciplina Agricultura II, verificou-se que três apostilas tinham conteúdos que estavam diretamente relacionados com o conteúdo de Matemática que é lecionado no Ensino Médio Integrado do IFET pesquisado. 73 Dentre essas apostilas existe uma que é formada pelos slides utilizados pelo professor para apresentar o conteúdo sobre a Importância Econômica das Culturas Anuais31, outra sobre as Bases Hidrológicas da Erosão32 e a última sobre Identificação de Espécies para Cobertura do Solo33. Nos slides das aulas verificamos a existência de diversos gráficos (figura 10 e 12) e tabelas (figura 11), com diferentes formatos e quantidades de dados. Existem gráficos de barra (de duas e três dimensões) e de pizza. Esses gráficos e tabelas poderiam servir de exemplo para o estudo de estatística, assunto ministrado na terceira série do curso de Agropecuária, visto que muitos utilizam dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Figura 10: Produção das culturas anuais no Brasil Fonte: Material didático utilizado pelo docente 31 Não será mencionado o autor dos slides com o intuito de zelar pela identidade do professor da disciplina. 32 Não há referencia sobre o autor desse material. 33 FERNANDES, Jaíro Costa, et al. Identificação de Espécies para Cobertura do Solo e Rotação de Culturas no Vale do Iuiu, Região Sudoeste da Bahia. Parte da dissertação do primeiro autor. Magistra, Cruz das Almas-Ba, v. 19, n. 2, p. 163-169. 2007. 74 Figura 11: Produção brasileira de mandioca em 2007 Fonte: Material didático utilizado pelo docente Figura 12: Produção brasileira de mandioca Fonte: Material didático utilizado pelo docente 75 Os slides apresentam a produtividade, a produção e a importância econômica (o que se pode produzir/fabricar) do milho, feijão, mandioca, sorgo e algodão (espécimes cujas produtividades são determinadas em períodos determinados do ano). Durante esse estudo percebeu-se que o aluno precisa, através das informações retiradas de gráficos, tabelas e outros dados como o tipo de solo e clima, saber identificar se um dado terreno está produzindo como se deseja. O estudante deve ser capaz de fazer estimativas para uma determinada safra considerando as produções anteriores, verificar a importância econômica de cada produto (comparando com a produção mundial, nacional e regional) e saber fazer análises comparativas relacionando a produção regional / nacional (figura 13) com o consumo regional/nacional, para estimar valores e interessados na compra da safra. Figura 13: Produção brasileira de milho Fonte: Material didático utilizado pelo docente A apostila que trata sobre Bases Hidrográficas da Erosão, na sua primeira página, demonstra a necessidade da utilização da Matemática para o cálculo da velocidade de infiltração da água, como se pode ver no exemplo contido na figura 14 a seguir. 76 Figura 14: Velocidade de infiltração da água. Fonte: Material didático utilizado pelo docente Em seguida apresenta-se melhores resultados que foram obtidos por Philip (1957) com o uso de outra fórmula, em que . Nota-se que, essa segunda fórmula, se trata de uma potência, o que permitiria o seu estudo em uma aula de Matemática na primeira série, apesar da disciplina Agricultura II ser ministrada apenas na segunda série. A apostila apresenta um gráfico de função, não mencionada, onde se verifica a velocidade de infiltração para três tipos de solos: Argiloso, Franco e Arenoso. 77 Figura 15: Velocidade de infiltração em diferentes solos. Fonte: Material didático utilizado pelo docente Com essas fórmulas e gráficos é possível planejar em uma aula de Matemática contextualizando o estudo dessas funções, construindo e analisando gráficos, valores máximos e mínimos (caso existam), crescimento e ou decrescimento, a velocidade no tempo inicial ou a velocidade em um determinado tempo. Também pode-se fazer uma análise das duas fórmulas exponenciais que variam em função do tempo e possuem expoentes diferentes. O professor de matemática pode explicitar para os estudantes as diferenças existentes entre expoentes maiores que zero e menores do que um, expoentes maiores do que um e expoentes negativos. Esses exemplos permitiriam o uso de uma metodologia contextualizada de se fazer isso, apesar do conteúdo de Agricultura II só ser lecionado na segunda série e função exponencial ser ministrado aos alunos da primeira série do curso. 78 A terceira apostila em que se verificou relação entre o conteúdo ensinado na disciplina e a Matemática apresentou o assunto sobre a Identificação de Espécies (tipos de vegetais) para Cobertura do Solo. Este é um estudo sobre o assunto em uma determinada região do Sudoeste Baiano. Nesse estudo os autores apresentam tabelas e gráficos sobre o crescimento de algumas espécies vegetais Dias Após Emergência (DAE)34. São utilizadas funções35 para representar o crescimento de seis tipos de espécies vegetais ao longo do ciclo (figura 16). As funções de segundo e terceiro graus, permitem o estudo, na disciplina Matemática, de polinômios, construção de gráficos, comparações entre funções, análise da variação de gráficos ao alterarmos o sinal de um dos termos da função e a obtenção dos valores de crescimento obtidos no estudo. O conteúdo referente a polinômios é lecionado aos alunos durante a terceira série do curso, o que permitiria fazer uma abordagem contextualizada do conteúdo. Figura 16: Equações de Regressão Fonte: Material didático utilizado pelo docente 34 Dias Após Emergência: A palavra Emergência significa o momento em que a planta desponta do solo (definição explanada pelo docente D13 em sua entrevista). 35 No material é utilizado o termo Equações de Regressão, mas na realidade se trata de funções onde o crescimento de cada espécie varia em função do tempo. 79 Entrevista com o docente O professor da disciplina36 relatou, durante a entrevista, que usa os conteúdos de geometria, função e trigonometria para explicar os conteúdos da disciplina Agricultura II. Também detalhou em que parte da disciplina esses conteúdos se fazem necessários. F: Eles usam o que? Ângulo, geometria… D3: Ângulo, trigonometria um pouquinho… F: Seno, cosseno… D3: É isso… F: Eles tem que saber… D3: Tem que saber essas funções né?! F: E eles não sabem… D3: Eles não sabem… Só alguns sabem… digo assim, não sabe a maioria. Mas sempre tem um grupo que é a minoria que sempre vai bem. F: Mas você, a gente sempre vai pela maioria. D3: É pela maioria. F: Esse assunto, por exemplo, ele é no começo da disciplina? D3: É na metade da disciplina. -Trecho da entrevista com o docente D3. Outro assunto relacionado com os conteúdos de Matemática e mencionado pelo docente com necessário em sua disciplina foi logaritmos. Considerando o Plano do Curso realmente pode-se afirmar que o uso desse assunto se faz necessário para o uso de cálculos envolvendo pH (conforme afirma o docente) entretanto, nada foi encontrado sobre o assunto no material didático disponibilizado. Apesar de logaritmo ser um assunto que, segundo o Plano do Curso, deveria ser lecionado durante a primeira série, os professores de Matemática do IFET em questão só ministram esse conteúdo na segunda série, devido o reduzido número de aulas da disciplina (duas horas/aulas semanais), conforme conta nos documentos do Instituto que foram estudados. Nesse sentido seria possível a realização de um ensino interdisciplinar. F: E tem mais alguma coisa relacionada a Matemática na disciplina, não?! Você lembra? D3: Tem uns cálculo assim, pH do solo, que usa um pouquinho de logaritmo, mas é um cálculo mais simples, é só calcular a atividade do hidrogênio, e ai calcular o pH, mas é simples. F: È uma fórmula? D3: É só uma fórmula. Mas de repente seria importante eles entenderem o logaritmo, o que é o logaritmo. Por que eles calculam… F: Nessa etapa eles já deveriam saber né?! 36 Na transcrição da entrevista, com o objetivo de manter sigilo quanto a identificação do docente, utilizamos a nomenclatura D3. 80 D3: Eles usam, porque vão na calculadora que tem a função de log, mas não sabem o que é, o que realmente representa o logaritmo. F: Isso é no começo do curso? D3: É junto com os cálculos de adubação e calagem. Mas eu só falo como exemplificação, porque eles não entram muito nesse detalhe, só o cálculo, em si, da calagem e da adubação. Eu coloco a fórmula, peço pra eles calcularem, como exercício, só pra eles saberem de onde vem né?! Como realmente calcula. -Trecho da entrevista com o docente D3. Questionários dos estudantes Analisando os questionários respondidos pelos estudantes percebeu-se que apenas um não mencionou relação existente entre a disciplina de Agricultura e Matemática. Entretanto os outros não especificaram qual disciplina de Agricultura eles estavam relacionando (no curso existem as disciplinas Agricultura I, Agricultura II e Agricultura III, lecionadas na 1ª, 2ª e 3ª séries respectivamente, quase todos, com a exceção de um, listou apenas a disciplina “Agricultura”. O único estudante que separou as disciplinas, relacionou o assunto “Adubação e Calagem” (Questionário Respondido nº 04) de Agricultura II com porcentagem, que não faz parte do grupo de conteúdos de Matemática lecionados no Curso de Agropecuária Integrado ao Ensino Médio. Todos os alunos que não especificaram qual das três disciplinas estavam mencionando, apontaram apenas assuntos referentes ao Ensino Fundamental, tais como de regra de três e operações envolvendo porcentagem. 5.4. Disciplina: Agricultura III Plano do Curso A disciplina, que tem uma carga horaria anual de 240 horas, é ministrada a estudantes que estão cursando a terceira série do curso de Agropecuária. De forma semelhante a disciplina Agricultura II ao analisar, no Plano do Curso de Agropecuária, a lista de conteúdos a serem ministrados durante a disciplina, não foi possível perceber a existência do uso de Matemática para o seu desenvolvimento. Essa 81 inobservância se deu também na verificação das habilidades e competências requeridas do estudante após a conclusão da disciplina. No entanto, no material didático disponibilizado pelo docente responsável pelas aulas da disciplina e durante a realização de sua entrevista, verificou-se a existência de tais conteúdos. Material didático O docente dessa disciplina apresentou o material didático que usa com os estudantes e disponibilizou para a realização desse estudo uma série de apostilas sobre os diversos conteúdos que leciona durante o ano letivo. Analisando-os encontrou-se relação com conteúdos de Matemática em algumas dessa apostilas. No material didático referente à Importância Econômica da Fruticultura (formada por slides usados pelo docente) foi possível encontrar gráficos e tabelas que relatam a quantidade de frutas produzidas no Brasil e no mundo durante os últimos anos, quantidade exportada/importada pelo país e a evolução da produção de determinadas frutas no estado da Bahia. A utilização desse conteúdo pode acontecer, em Matemática, dentro do assunto Estatística, e concomitantemente, visto que é um assunto ministrado na terceira série, ser lecionado de forma interdisciplinar. Quando os alunos estudam, nessa disciplina, a comercialização de frutas, devem compreender a estimativa de produção, visto que a quantidade produzida interfere no valor final do produto, e a estimativa de coeficientes técnicos para a implementação e manutenção de uma lavoura. Esses são cálculos relacionados a matemática financeira, onde se busca estimar valores de lucro e prejuízo. Os assuntos relacionados ao preparo do solo e esquema de plantio 37 para a formação de pomares utilizam conhecimentos de geometria plana e espacial em seu estudo, já que se faz necessário o estabelecimento do alinhamento para plantação e preparação das covas. 37 As informações que utilizamos sobre esses assuntos foram todas retiradas do material didático disponibilizado pelo docente. Esse material é formado por slides usados nas aulas para explanar os conteúdos e trechos do livro Tratado de Fruticultura, cujo autor é Salim Simão, p.199-213 (não há referência sobre a editora e ano de publicação). 82 Dos sistemas de alinhamento (esquemas de plantio) existentes os mais usados são o quadrado, o retângulo e o triangulo retângulo. No alinhamento quadrado as plantas ocupam os vértices do quadrado (figura 17), guardando entre si a mesma distância, isso reduz a área útil do terreno. Figura 17: Esquema de um pomar na forma quadrangular. Fonte: Embrapa. In: http://www.cpact.embrapa.br. Acesso em 18 de junho de 2012. No retângulo (figura 18), método um pouco mais utilizado, o aproveitamento do solo é melhor, além disso facilita o transito de máquinas para controle de pragas e colheita. O número de plantas nesse tipo de plantio é dado pela fórmula N = S / (L x C), onde L corresponde ao lado maior, C ao lado menos e S a área plantada. Um exemplo existente no material didático é o plantio de 1 hectare de pessegueiro, onde o quadrado possui 6m por 4m, assim N = 10.000m² /24m²= 417 plantas.ha-1. 83 Figura 18: Plantio em esquema Retângulo. Fonte: Embrapa. In: http://www.cpact.embrapa.br. Acesso em 18 de junho de 2012. Já o esquema de plantio triângulo equilátero (figura 19) permite um acréscimo de 15% no aproveitamento da área. Por esse sistema quatro mudas permanecem equidistantes de uma colocada no centro. O alinhamento é feito partindo-se de uma linha base e o parelho utilizado é simples: consta de uma vara com comprimento igual a espaçamento a ser adotado, em cujas extremidades prende-se uma corda fina, com o dobro do comprimento da vara, tendo no centro uma argola, isto é, no ápice do triangulo amara-se uma argola de modo a obter três lados de idêntico comprimento.Material didático utilizado pelo docente – slides. Nesse esquema a determinação do número de plantas é feita usando a fórmula S/LxL x 1/0,866, onde S = área a ser plantada e L = lado do triângulo. Figura 19: Esquema de um pomar na forma triangular. Fonte: Embrapa. In: http://www.cpact.embrapa.br. Acesso em 18 de junho de 2012. 84 Conhecendo esses três tipos de esquemas para alinhamento é possível estudar, em geometria plana, o aproveitamento da área e fazer alguns questionamentos aos estudantes: Qual a real vantagem do uso do esquema triângulo equilátero? Quanto de área de perde ao utilizar os outros esquemas? A fórmula N = S / (L x C), usada no esquema retângulo, realmente funciona? É possível elaborar uma formula para o esquema quadrado? Como ela seria? Porque a técnica utilizada no esquema triângulo equilátero funciona? Apesar de geometria plana ser um assunto ministrado na primeira série é possível explanar rapidamente esses conceitos aos estudantes e realizar atividades relacionadas com a disciplina. Também é viável a associação com a disciplina Agricultura I já que os alunos estudam o cultivo de oleícolas, fazendo comparações entre as diferentes culturas. O coveamento (figura20) é outro assunto estudado na disciplina Agricultura III. As covas são os espaços abertos na terra (buraco) para que se possa efetuar o plantio. O tamanho da cova está relacionado com a espécie e o tipo de solo. A maioria das covas varia de 0,60x 0,60 x 0,60 m a 0,40 x 0,40 x 0,40 m. É importante que nesse caso os estudantes compreendam o estudo de volume (geometria espacial) já que na abertura das covas separe-se o solo e o subsolo para que, utilizando apenas o primeiro coloque-se matéria orgânica, fertilizantes e corretivos, e em seguida efetue-se o plantio. A quantidade desses materiais deve está associada ao volume de subsolo retirado, com a finalidade de não exceder a capacidade da cova. 85 Figura 20: Exemplo de coveamento Fonte: Material didático do docente. Entrevista com o docente O docente D13, responsável pela disciplina Agricultura III, relata que em sua disciplina há necessidade do uso da Matemática tanto com assuntos de nível Fundamental, bem como do Médio, entretanto percebe-se, no decorrer da entrevista, que grande parte dos conteúdos se relacionam com assuntos de Matemática lecionados no Ensino Fundamental: F: Ai eu queria saber se você vê alguma relação dos assuntos de Agricultura III com Matemática D13: Nossa, demais, varias coisas, primeira adubação. Cálculo de Adubação. (Um aluno entrou na sala e a professora foi atendê-lo) Sim, vamos voltar né?! Cálculo de adubação, para saber quanto, em quantidade, em gramas, em quilos, em toneladas … precisa de regra de três simples, eles tem que fazer operações de multiplicação, soma, tem que ter… Cálculo de adubação… Cálculo de densidade, de plantio, número de plantas por hectare, tamanho de área, é… número de sementes por hectare, que eles tem que saber pra poder regular a plantadeira, tem que calcular também. Mas a maioria das operações são regra de três. Densidade, adubação, cálculo de sementes, tamanho de área, que mais?! Acho que só. É sempre isso. - Trecho da entrevista do docente D13. Dentre todos os conteúdos de Matemática mencionados pelo docente durante a entrevista apenas um, relacionado a estatística, se mostrou condizente com os assuntos lecionados para os estudantes do IFET, levando-se em consideração as assuntos da disciplina Matemática listados no Plano do Curso. D13: Tem, tem sim. Importância econômica. Tem sim, Ai (mostrando a apostila que utiliza) o que eu vou dar esse semestre para eles (referente ao segundo semestre letivo de 2011). Importância econômica a gente só vai ver dados de preços, por exemplo, países mais produtores, isso em porcentagem. Por exemplo, tem uma parte que a gente fala de 86 agropecuarista amador, não sei se leva algo de conhecimento matemático, acho que não. (fomos interrompidas por um professor – nesse momento aproveitei para olhar o material da entrevistada) F: Hum… gráfico D13: Talvez você entenda que tenha que ter algum conhecimento de matemática pra saber isso. Assim, gráfico de produção, toneladas, quantidade de frutas no mundo. F: É a parte de leitura de gráficos. D13: É, não sei se pra você é interessante. Assim, produção brasileira de frutas em 2009, né?! Eu sempre trabalho com dados mais recentes. Ai tem as frutas ai é plantado em hectare, no Brasil é laranja é que é maior plantado. Volume e tonelada, de produção, colhida de laranja. Todas as culturas né?! Aqui, valor em reais, que foi vendido, e aqui em porcentagem, participação no volume, dos 100% de frutas no Brasil 42% é laranja. Então, não sei se pra você isso é interessante. - Trecho da entrevista do docente D13. Questionários dos estudantes Conforme já foi mencionado na disciplina Agricultura II, os estudantes não especificaram em seus questionários a qual das três disciplinas de Agricultura estavam se referindo. Consideramos que esse fato não influencia diretamente no resultado do estudo visto que os assuntos de Matemática listados pelos discentes são todos referentes aos lecionados no Ensino Fundamental. 5.5. Disciplina: Irrigação e Drenagem A análise da disciplina Irrigação e Drenagem ocorreu pelo fato de discentes e professores, que convivem com a pesquisadora, relatarem constantemente que a dificuldade da disciplina encontra-se na necessidade de conhecimentos matemáticos para seu desenvolvimento. Junto a isso pode-se relatar que um dos docentes entrevistados mencionou o uso de matemática na disciplina Irrigação e Drenagem, expressando que está seria fundamental para seu estudo. Não foram verificadas referencias sobre ela nos questionários respondidos pelos estudantes, visto que estes estavam cursando as segunda e terceira série e ainda não haviam obtido aprovação nessa disciplina. É importante evidenciar que a pesquisadora tentou entrevistar alguns dos docentes responsáveis por essa disciplina, no entanto não obteve êxito. Apesar disso, devido os 87 relatos já mencionados, resolveu-se realizar a análise da disciplina haja que o material didático utilizado foi disponibilizado por um dos docentes. Plano do Curso A disciplina é lecionada aos alunos que estão cursando a terceira série do curso e tem carga horária anul de 120 horas. Observando e analisando o plano do curso encontramos algumas competências, habilidades e conteúdos que, aparentemente, necessitam da Matemática para sua efetivação. Quadro 07: Competências, habilidades e assuntos em Irrigação e Drenagem Entender e aplicar métodos para calcular encanamentos de forma econômica; Competências Entender e aplicar métodos adequados para o cálculo de bombeamentos. Determinar as características do solo, da planta e do clima para calcular a quantidade de água necessária à irrigação; Empregar de maneira racional e econômica os diferentes métodos de irrigação; Habilidades Empregar de maneira racional e econômica, os diversos tipos de sistemas de irrigação por aspersão, para a melhoria da produção agrícola; Empregar de maneira racional e econômica os métodos de irrigação por microaspersão e gotejamento, para a melhoria da produção agrícola. Quantidade de água necessária para irrigação; Assuntos Cálculos em bombeamento. Fonte: Plano do Curso de Agropecuária Material didático 88 O material didático utilizado pelo docente38foi disponibilizado aos alunos do IFET em que ocorreu a pesquisa em um site de relacionamentos e a na reprografia da instituição. Segundo relato de estudantes, durante a atuação docente da pesquisadora no IFET, e de um dos professores entrevistados, essa é uma disciplina com alto índice de reprovação devido a exigência de conhecimento de assuntos do componente Matemática para sua apreensão. “D8: A disciplina que tem mais matemática é irrigação. Irrigação. Irrigação é pura matemática e há um elevado índice de reprovação. Os alunos que tem nota baixa, que estavam no conselho, a maioria é irrigação. Então olha a matemática que tem lá…” – Trecho da entrevista com o docente D839 Analisando o material didático disponibilizado percebemos que é grande o número de cálculos matemáticos que se fazem necessários para que se logre êxito na disciplina. O objetivo da irrigação é satisfazer as necessidades hídricas das culturas, aplicando a água uniformemente e de forma eficiente. Este objetivo deve ser alcançado sem alterar a fertilidade do solo e com mínima interferência sobre os demais fatores necessários à produção cultural, tudo numa completa inter-relação, de tal forma que se um deles não se encontrar bem ajustado, o conjunto ficará comprometido, prejudicando o objetivo a ser alcançado que é a máxima produtividade (Mello e Silva, 2007). No inicio da disciplina os alunos trabalham com matemática financeira e função do primeiro grau, ao analisar a vantagem do uso da técnica em locais onde é feita cobrança pelo uso da água para irrigação. Esses cálculos dizem respeito a necessidade do aumento da produção para que haja viabilidade na implementação de um sistema de irrigação. Em alguns casos se verifica que a implementação do sistema irrigatório não é vantajosa. Alguns dos projetos existentes no semi-árido do Brasil já vêm realizando a cobrança há algum tempo, com preços de até R$ 0,06 por metro cúbico de água utilizado. Blanco et al. (1999) realizaram simulações dos efeitos da cobrança pelo uso da água sobre a viabilidade de implantação de um 38 Material de autoria dos professores Jorge Luiz Pimenta Mello e Leonardo Duarte Batista Da Silva, que ministram aulas das disciplinas IT 157 (Irrigação) e IT 115 (Irrigação e Drenagem), para os cursos de Licenciatura em Ciências Agrícolas, Agronomia e Engenharia Agrícola, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 39 Docente responsável pela disciplina Gestão do Agronegócio. 89 sistema de irrigação para a cultura da manga, em Petrolina (PE), e verificaram haver uma necessidade de aumento na produção de 40, 60 e 80%, em média, para viabilizar a irrigação, caso o preço cobrado pela utilização da água fosse de US$ 0,01, 0,03 e 0,06, respectivamente (Mello e Silva, p. 24, 2007). A irrigação de uma região possui outros fatores que influenciam diretamente na sua aplicação, dente eles a evapotranspiração, que é “a transferência de água para a atmosfera sob a forma de vapor que se verifica em um solo úmido sem vegetação, nos oceanos, lagos, rios e outras superfícies de água” (Melo e Silva, 2007, p. 27). Informações da quantidade de água evaporada e ou evapotranspirada são necessárias para adequado planejamento e manejo. O conhecimento da evapotranspiração é essencial para estimar a quantidade de água requerida para irrigação, e para que a administração da irrigação seja feita de forma mais racional, de acordo com a real exigência da cultura (Melo e Silva, 2007). A apostila apresenta várias equações que podem quantificar a evapotranspiração, através de diferentes métodos e diversos recursos (figuras 21, 22 e 23). Serão mostradas aqui algumas dessas equações para demostrar o uso da Matemática nessa etapa da disciplina. As siglas que aparece Evapotranspiração; ETpc possuem os seguintes significados: - Evapotranspiração potencial ETP da cultura - (é a evapotranspiração que ocorre em uma cultura ); ETrc - Evapotranspiração real (é a evapotranspiração de uma determinada cultura sob condições normais de manejo, sendo que a ETrc < ETpc); ETPp - Estimativa da evapotranspiração potencial; e ETo Evapotranspiração da cultura de referência (é a evapotranspiração que ocorre em uma cultura de referência quando o solo não apresenta restrição de umidade ). 90 Figura 21: Método de Thornthwaite Fonte: Melo e Silva, p.43, 2007. Figura 22 : Método da Radiação40 Fonte: Melo e Silva, p.49, 2007. Podemos destacar o método Hargreaves – Samanique necessita do conhecimento de trigonometria para ser compreendido. Esse método requer cálculos que necessitam, também, do conhecimento básico de Topografia que o estudante aprendeu na segunda série do curso. Trata-se um uma equação em que o aluno apenas precisa substituir os valores encontrados, assim como as anteriores. 40 N é o número máximo de horas de brilho solar ; e n é o numero real d horas de brilho solar 91 Figura 23 : Hargreaves – Samanique Fonte: Melo e Silva, p.53, 2007. Adentrando a assuntos da disciplina que podem ser lecionados no Ensino Médio Integrado, pois na parte inicial da disciplina usa-se apenas equações, podemos falar sobre a infiltração da água no solo. Neste assunto o estudante precisará compreender equações exponenciais e logarítmicas (figuras 24 e 25). A infiltração é o processo pelo qual a água penetra no solo através de sua superfície. Após a passagem da água pela superfície do solo, ou seja, cessada a infiltração, a camada superior atinge um “alto” teor de umidade, enquanto que as camadas inferiores apresentam-se ainda com “baixos” teores de umidade (Melo e Silva, p.68, 2007). 92 Figura 24: Velocidade de infiltração (Vi) Fonte: Melo e Silva, p.69, 2007. Figura 25: Velocidade de infiltração acumulada (l)41 Fonte: Melo e Silva, p.69, 2007. Para determinar os valores da velocidade de infiltração acumulada são utilizadas duas equações representativas da infiltração. A primeira equação é do tipo potencial, denominada Kostiakov (figura 26). Essa equação descreve bem a infiltração para pequenos tempos de irrigação (Melo e Silva, 2007). 41 A velocidade de infiltração acumulada (l) é a quantidade total de água infiltrada, durante um determinado tempo. 93 Figura 26: Equação de Kostiakov. Fonte: Melo e Silva, p.70, 2007. A determinação dos valores da constante dependente do solo é feito utilizando-se o método analítico (regressão linear) ou o método gráfico. No método analítico é preciso transformar a equação exponencial em uma equação linear, para isso aplica-se operações logarítmicas correspondentes à equação de infiltração (Melo e Silva, 2007).Assim: Log I = Log K + a . Log T Esse pode ser um exemplo aplicado nas aulas de logaritmo (primeira série do curso) afim de se estudar as propriedades logarítmicas de um forma contextualizada. O que permitiria, inclusive, o entendimento do gráfico que será futuramente estudo pelos estudante na disciplina Irrigação e Drenagem. Dentre os sistemas de irrigação estudados na disciplina existe a Irrigação por Pivô Central (figura 27), que “consiste em se aplicar água ao solo sob a forma de aspersão, onde os aspersores são instalados sobre uma haste apoiada em torres que se movem auxiliadas por rodas pneumáticas acionadas por motores” (Melo e Silva, p. 147, 2007). 94 Figura 27: Fotografia de um pivô central. Fonte: Melo e Silva, p.147, 2007. Segundo Melo e Silva (2007) as torres de um pivô central se movimentam de forma circular, assim a área irrigada é determinada pela função do comprimento do pivô (raio) ao quadrado. Com isso é possível trabalhar na disciplina Matemática, em geometria plana, com turma de primeira série, o valor do comprimento do pivô para a irrigação de uma determinada área, ou o contrário, sabendo o tamanho do comprimento determinar a possível área irrigada. Também é possível fazer cálculos relativos à quantidade de água precipitada pelo pivô e a velocidade de deslocamento da torre (quanto tempo demora pra dar uma volta). Sabendo a quantidade precipitada em função do tempo é possível fazer estudo relacionados a quantidade de agua que será gasta (geometria espacial) e estudar esse conteúdo com estudantes da segunda série do curso de Agropecuária. 95 5.6. Eixos de Análises A criação de eixos de análise é essencial nesse estudo por permitir o agrupamento e comparação dos dados e observações realizadas, sendo possível assim tecer considerações com embasamento a respeito do objetivo da pesquisa a partir da triangulação dos dados coletados. A partir da análise dos materiais didáticos utilizados pelos professores participantes da pesquisa, do referencial teórico-bibliográfico, das entrevistas realizadas com docentes e dos questionários respondidos pelos estudantes, foi possível estabelecer os seguintes eixos de analise: - A percepção e análise dos professores sobre a relação e necessidade de conteúdos matemáticos para a aprendizagem de disciplinas técnicas; - A percepção e análise dos alunos sobre a relação e necessidade de conteúdos matemáticos para a aprendizagem de disciplinas técnicas; - A comparação entre os documentos oficiais e a realidade percebida no estudo à luz da interdisciplinaridade e da contextualização. 5.6.1. A percepção e análise dos professores sobre a relação e necessidade de conteúdos matemáticos para a aprendizagem de disciplinas técnicas As entrevistas realizadas com os docentes serviram de embasamento teórico nesse estudo já que estes participantes são os que compreendem melhor as necessidades das disciplinas técnicas na formação do futuro trabalhador, ou seja, do estudante. Como dito anteriormente, todos os docentes entrevistados possuem formação e experiência na área em que lecionam / atuam, o que qualifica e embasa suas afirmações. Dentre os entrevistados apenas um afirmou a inexistência de assuntos de que utilizam-se da Matemática e da necessidade destes assuntos para a compreensão e entendimento, por parte dos estudantes, dos conteúdos específicos da disciplina em que leciona. 96 Os outros docentes afirmaram que existe relação entre as disciplinas que ministram e a Matemática. Essa relação está associada, segundo os próprios docentes, a necessidade do uso de conteúdos de Matemática para a explanação e compreensão dos assuntos que eles ministram. Um exemplo é o dado pelo professor da disciplina Agricultura I: F: Sim, você trabalha com Agricultura I. Quando você dá aula, você vê se tem alguma relação da disciplina, dos assuntos, com a matemática? D1: Fernanda... Sim, em alguns assuntos sim. Em relação a quantidade dos fertilizantes, quando a gente trabalha isso tem uma certa relação com a matemática. Que mais?! Quando a gente vai para o segundo modulo, de Olericultura, que a agente tem que calcular quantidade de semente utilizada, é... peso da produção… Então tem bastante correlação com a disciplina matemática. – Trecho da entrevista com o professor D1 Os assuntos das disciplinas técnicas, que foram mencionados pelos professores, necessitam de cálculos e de regras matemáticas para que sua aplicação aconteça. Por esse motivo os docentes afirmam que a Matemática pode ajudar no desenvolvimento de suas disciplinas e que a dificuldade dos estudantes na compreensão e desenvolvimento na disciplina, algumas vezes, está relacionada a dificuldade que eles possuem em relacionar a parte prática da disciplina com os conteúdos de Matemática, conforme trechos das entrevistas dos professores de Agricultura II e Agricultura III: D3: Agora por exemplo, em cálculo de adubação, né?!Fertilizações. Eles atrapalham um pouquinho por que tem que ir na tabela, porque existem tabelas de interpretação pra você poder fazer o cálculo - Trecho da entrevista com o professor D3 D13: Então não sei qual é o problema deles ao certo. Se era interpretação ou se era conseguir fazer a operação. Mas eles, eu lembro que muitos erravam a montagem da regra de três. Errava ai o cálculo tava errado, ai eles diziam “ah professora ta certo aqui”, “mas a conta ta errada”. Não adianta “Como é que você vai indicar pra um produtor, compre mil quilos de calcário, e na verdade precisava só de quinhentos?! Na verdade ele vai gastar o dobro do que ele precisava?” Eu falo isso direto. “Gente, vocês não podem errar cálculo de adubação porque demanda dinheiro… é um erro muito grave. Você pode danificar a planta, a planta morrer, acabou! Eles não entendem isso… “Ah Foi só um zero que faltou.” Sim, mais um zero representa quanto no bolso?! Isso eles não compreendem. - Trecho da entrevista com o professor D13 Alguns docentes explanaram que se, dentro da disciplina Matemática, fossem abordados os conteúdos que são necessários para a compreensão dos assuntos que eles 97 ministram, usando exemplos contextualizados, os estudantes teriam maior facilidade. Já outros acreditam que o ideal seria se o estudante já chegasse sabendo o assunto, para que não se utilizasse o tempo da disciplina ministrando conteúdos que, supostamente, os estudantes deveriam ter conhecimento. Isso facilitaria a atuação desses docentes, já que alguns afirmaram que não possuem a formação para explicar conteúdos de Matemática: D1: Se pegasse, assim, os exemplos de vocês e leva-se esses exemplos todos, assim, para a área de agricultura. Vamos calcular, sei lá, tantas coisas ai ... Vamos calcular... quantos quilos de feijão, calcular... Levar isso pra junto de agricultura. Eu acho que talvez eles, sei lá... não sei... despertasse ou facilitasse mais. Quando a gente fosse resolver isso com eles mais adiante, acho que já ajudaria bastante. - Trecho da entrevista com o professor D1 D14: Por exemplo, quando eu começo a dar topografia mesmo, o primeiro assunto que eu dou, que nem é de topografia, eu dou aquela parte de polígonos para eles. […] Olhe, eu acho que se ele chegasse sabendo tudo era melhor, se ele chegasse sabendo tangente, trabalhar com essas funções trigonométricas todas. Porque você sabe o assunto, a gente não sabe aquele tanto de coisa de matemática pra repassar as coisas né?! Então se a gente fosse usar tudo de seno, cosseno, cateto oposto, marca um ponto A e um ponto B e acha a distancia, se ele chegasse sabendo seria muito melhor. - Trecho da entrevista com o professor D13 Com base nisso pode-se afirmar que os docentes que participaram da pesquisa percebem a necessidade de conteúdos de Matemática para a aprendizagem das disciplina que lecionam. Essa necessidade pode está atrelada a dificuldade que os estudantes tem em associar as disciplinas, com a precisão de contextualizar os conteúdos ou com a dificuldade que o docente tem em explanar, em suas aulas, conteúdos da disciplina Matemática. 5.6.2. A percepção e análise dos alunos sobre a relação e necessidade de conteúdos matemáticos para a aprendizagem de disciplinas técnicas. Através de questionários os estudantes participantes da pesquisa puderam listar quais disciplinas técnicas do curso necessitam de conteúdos de Matemática para que o processo de aprendizagem aconteça. 98 Após listarem as disciplinas eles mencionaram quais foram os conteúdos que precisavam da Matemática e quais eram os assuntos de Matemática que se faziam necessários. Foi possível perceber que, diante do grande número de disciplinas que possuem, conforme explanado no Capítulo 04, os estudantes se limitaram a listar assuntos de Matemática que conheciam (figuras 28 e 29). Esses assuntos estavam, quase que em sua totalidade, relacionados a conteúdos do Ensino Fundamental. Isso aconteceu sobre tudo nas respostas dos questionários dos estudantes que estavam cursando a segunda série. Figura28: Resposta da questão 03 - questionário nº 01 Fonte: Questionários respondidos pelos estudantes Figura 29: Resposta da questão 03 – questionárioº 07 Fonte: Questionários respondidos pelos estudantes 99 Já nos questionários dos estudantes que estavam cursando a terceira série foi possível encontrar conteúdos referentes ao Ensino Médio (figura 30), inclusive em disciplinas que são ofertadas a alunos da primeira série, como é o caso de Agricultura I. Figura 30: Resposta da questão 03 – questionário nº 04 Fonte: Questionários respondidos pelos estudantes Os estudantes também foram questionados sobre a forma como a Matemática poderia auxiliar na compreensão dos conteúdos desses assuntos, das disciplinas técnicas, que foram listados por eles. Aqueles que responderem a essa pergunta afirmaram que seria preciso que os professores de Matemática ministrassem aulas que os auxiliassem a relembrar conteúdos do Ensino Fundamental, com o objetivo deles tentarem associar os conteúdos. 100 Figura 31: Resposta da questão 04 – questionário nº 01 Fonte: Questionários respondidos pelos estudantes Foi possível perceber que os estudantes admitem que as dificuldades na aprendizagem de conteúdos matemáticos influenciam na aprendizagem das disciplinas técnicas. Entretanto eles demostram perceber que a Matemática é fundamental para o aprendizado de muitos assuntos referentes as disciplinas da área técnica, mesmo quando os conteúdos necessários são referentes ao Ensino Fundamental. 5.6.3. A Comparação entre os Documentos Oficiais e a Realidade Percebida no Estudo à Luz da Interdisciplinaridade e da Contextualização Como já mencionado nesse trabalho, a contextualização e a interdisciplinaridade são inerentes a um Curso de Ensino Médio Integrado ao Técnico. Não é possível conceber uma educação integrada em que os conteúdos sejam apresentados aos estudantes de forma desassociada, aparentado a inexistência de interligação entre as disciplinas. A concepção do Ensino Médio Integrado ao Técnico prevê um curso único, com matriz curricular única, não sendo aceitável a realização de dois cursos (médio e técnicos) de forma separada, transformando-o em um curso concomitante disfarçado. A contextualização é um recurso que associa a teoria com a prática a fim de dar significado à aprendizagem de um dado conteúdo (Brasil, 1998b). Isso pode ser feito, em uma disciplina, levando em consideração os conceitos de uma outra ou de diversas disciplinas, afim de reproduzir situações originais do cotidiano dos estudantes. 101 Considerando os dados levantados a partir das falas dos docentes, dos estudantes e as análises realizadas nessa pesquisa, a contextualização dentro da disciplina Matemática se faz possível em alguns conteúdos que são ministrados no curso integrado de Agropecuária. O mesmo acontece em relação à interdisciplinaridade, que é uma necessidade dentro do princípio curricular do ensino integrado (Brasil, 2007). Segundo Ivone Yared (2008) a interdisciplinaridade leva o aluno a ser protagonista da própria história, personalizando-o e humanizando-o. Numa educação interdisciplinar o estudante deixa de ser mero espectador de uma disciplina e passa a ser participante da formação do seu conhecimento, que agrega conteúdos das mais diferentes áreas. Segundo Ramos (2005), no currículo integrado nenhum conhecimento é só geral, posto que estrutura objetivos de produção, nem somente específico, pois nenhum conceito apropriado produtivamente pode ser formulado ou compreendido desarticuladamente da ciência básica. (Ramos, 2005, p. 120) Essa é a formação que se deseja no Ensino Médio Integrado ao Técnico e que pode acontecer entre as disciplina conforme demonstrado neste capitulo. Entretanto foi possível perceber que os docentes entrevistados preferem ministrar suas aulas de forma independente, em que a Matemática apenas seria uma disciplina suporte, talvez sem considerar as dúvidas apresentadas pelos estudantes referentes aos conteúdos de Matemática. Esse fato não impede que o docente que esteja lecionando Matemática busque realizar aulas usando desses recursos metodológicos. 102 Considerações Finais Concluindo esse trabalho pode-se mencionar Ramos (2005) quando afirma que um currículo integrado tem o trabalho como princípio educativo no sentido de que este permite, concretamente, a compreensão do significado econômico, social, histórico, político e cultural das Ciências, das Artes e da Tecnologia. Um currículo assim deve ser baseado em uma pedagogia que vise a construção conjunta de conhecimentos gerais e específicos, para que os primeiros fundamentem os segundos e estes mostrem o caráter produtivo dos primeiros. Nessa perspectiva a formação geral e especifica são “indissociáveis e, portanto, não podem ser predeterminadas e recortadas quantitativamente” (Frigotto, Ciavata e Ramos, 2012, p.1099). É nesse cenário de articulação entre disciplinas que se faz necessário rever o ensino de Matemática nos curso de Ensino Médio Integrados a Educação Profissional Técnica. O processo de ensino em um curso integrado deve acontecer de forma instigante e que seja capaz de propiciar um ambiente de busca onde se desenvolva o espirito investigativo dos estudantes. Um ambiente que leve os professores, em conjuntos com os alunos, a buscarem estratégias para um processo de ensino e de aprendizagem dinâmico e inerente as atribuições profissionais que se deseja formar. Nesse ponto o trabalho encontra respaldo, também, nas afirmações de Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) que remetem ao professor um papel ativo na aprendizagem e associação dos conteúdos a serem lecionados nessa modalidade de ensino. Com base nessas afirmações se faz necessário tecer considerações finais sobre a conclusão dessa pesquisa. Ao realizar as análises das disciplinas da área técnica foi possível apontar conteúdos curriculares de Matemática que podem auxiliar professores dessa disciplina a desenvolver um ensino interdisciplinar e contextualizado com os estudantes do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Agropecuária. 103 Nos subitens dedicados a essas disciplinas, no último capítulo dessa dissertação, as análises listaram os conteúdos que podem auxiliar os professores de Matemática. A forma como esses conteúdos podem ser abordados foram exemplificadas levando-se em consideração as falas dos professores entrevistados, as informações que constam no Plano do Curso de Agropecuária, nos materiais didáticos disponibilizados pelos docentes e nas respostas dadas pelos alunos nos questionários. Assim além de apontar quais conteúdos podem auxiliar os professores, também se exemplificou como, e em qual momento do curso, esses mesmos conteúdos podem ser trabalhados dentro da sala de aula. A lista de conteúdos e as sugestões de como abordá-los possibilita que um professor de Matemática, que esteja atuando no curso integrado de Agropecuária, possa agregar ao ensino de Matemática características técnico-profissionais, através da contextualização e da interdisciplinaridade, sem deixar de considerar as características fundamentais dessa disciplina. Seria possível realizar um estudo, frente aos conteúdos listados, utilizando tendências da Educação Matemática, tal como a Modelagem Matemática. Assim há a possibilidade da realização de um estudo interdisciplinar mais completo, que serviria de suporte para aplicações e teorias, não se valendo apenas de soluções particulares (Biembengut e Hein, 2009). De uma forma geral pode-se afirmar que é possível estabelecer relação entre os conhecimentos gerais da Matemática e os específicos das disciplinas da área técnica, em que a Matemática serve de fundamentação para as especificidades das outras disciplinas sem deixar de englobar seus objetivos didáticos. Visando contribuir para a atuação de outros professores de Matemática, esse trabalho gerou um produto educacional que pretende ser um veículo de socialização da proposta desenvolvida e analisada. Foi produzido um livreto com sugestões de implementação da interdisciplinaridade e da contextualização durante cada série do Ensino Médio. Espera-se que esse material sirva de auxilio para os professores no processo de ensino de um curso integrado. Acredita-se que esse trabalho é apenas o início, já que pode servir de inspiração para outros estudos que visem tornar o currículo integrado nos mais diferentes cursos 104 técnicos existentes. Com os dados aqui levantados é possível a realização de estudos semelhantes, mais aprofundados e que levem em consideração perspectivas como as da Modelagem Matemática, que não foi foco do presente estudo, mas muito contribuiriam no desenvolvimento de estudos da Educação Matemática e do Ensino Médio Integrado ao Técnico. 105 Referencial Bibliográfico BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em Educação: fundamentos, métodos e técnicas. In: Investigação qualitativa em educação. Portugal: Porto Editora, 1994, p. 15-80. BRASIL. Lei nº 1.076/50, de 31 de Março de 1950. Assegura aos estudantes que concluírem curso de primeiro ciclo do ensino comercial, industrial ou agrícola, o direito à matrícula nos cursos clássico e científico e dá outras providências. 1950 _____. Lei nº 4.024/61, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1961. _____. Lei nº 5.692/71, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências.Brasília, 1971. _____. Lei Federal nº 7.044/82, de 18 de outubro de 1982. Altera dispositivos da Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, referentes a profissionalização do ensino de 2º grau. Brasília, 1982. _____. LEI nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996 _____. Decreto nº 2.208/97, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2º do art.36 e os arts. 39 a 42 da Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1997. _____. Resolução CEB nº 03, de 26 de junho de 1998.Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, 1998a. _____. Parecer CNE nº 15/98, aprovado em 1ºde junho de 1998. Diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio. Brasília, 1998b. _____. Parecer CNE/CEB Nº 16/99, de 05 de outubro de 1999. Trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico.Brasília, 1999a. _____. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. MEC, SEMTEC. Brasília, 1999b. _____. PCN + Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. MEC, 2002. _____. Decreto nº 5.151 de 23 de julho de 2004. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências. Brasília, 2004a. 106 _____. Parecer CNE/CEB 39/ 2004, 8 de dezembro de 2004. Aplicação do Decreto nº 5.154/2004 na Educação Profissional Técnica de nível médio e no Ensino Médio. Brasília, 2004b. _____. Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio: Documento base. MEC, SETEC. Brasília, Dezembro de 2007. _____. Lei nº 11.741/2008. Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica. Brasília, 2008a. _____. Lei nº 11.892/2008, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, 2008b. _____. Diário Oficial da União, Seção 1, pp.9 -11, de 04 de setembro de 2009. _____. Institutos Federais: Uma conquista de todos os brasileiros. MEC, SETEC. Brasília, 2010a _____. Um novo modelo de Educação Profissional e Tecnológica. MEC, SETEC.Brasília, 2010b _____. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio: em debate. MEC, SETEC. IN: http://portal.mec.gov.br. Acesso em 21 de fevereiro de 2011. BIEMBENGUT, Maria Sallet. HEIN, Nelson. Modelagem Matemática no ensino. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2009. CIAVATTA, Maria. A Formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade. In: FRIGOTTO, Gaudêncio. (Org.); RAMOS, Marise (Org.); CIAVATTA, Maria (Org.) . Ensino Médio Integrado: Concepção e contradições. São Paulo: pp. 83-105, Cortez, 2005. CORDIOLLI, Marcos. A relação entre disciplinas em sala de aula. Curitiba: A casa de Asterion, 2002. COLL, César. Psicologia e Currículo: uma aproximação psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. São Paulo:Ática, 2006. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade e a proposta de uma nova universidade. In: http://vello.sites.uol.com.br/meta.htm. Acesso em 09 de janeiro de 2012. DOLL JR, William E. Currículo: uma perspectiva pós-moderna. Tradução de: Maria Adriana Verríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. FAZENDA, Ivani (Org.). Dicionário em construção: interdisciplinaridade. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002. 107 FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade-transdisciplinaridade: Visões culturais e epistemológicas. In: O Que é interdisciplinaridade? / Ivani Fazenda (org.). —São Paulo: pp. 17-28, Cortez, 2008. FRIGOTTO, Gaudêncio. ; CIAVATTA, Maria. A busca de articulação entre trabalho, ciência e cultura no Ensino Médio. In: FRIGOTTO, Gaudêncio.(Org.) ; CIAVATTA, Maria(Org.). Ensino Médio: Ciência, Cultura e Trabalho. Brasília: MEC, SEMTEC, pp. 11-34, 2004. FRIGOTTO, Gaudêncio. (Org.); RAMOS, Marise (Org.); CIAVATTA, Maria (Org.) .Ensino Médio Integrado: Concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005. FRIGOTTO, Gaudêncio. RAMOS, Marise. CIAVATTA, Maria. A Política de Educação Profissional No Governo Lula: Um Percurso Histórico Controvertido. Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 92, p. 1087-1113, Especial - Out. 2005. In: http://www.scielo.br/pdf/es/v26n92/v26n92a17.pdf. Capturado em 21 de junho de 2012. KUENZER, Acacia Zeneida. Ensino Médio e Profissional: as políticas do Estado Neoliberal. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2001. MANFREDI, Silvia Maria. Educação Profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. MELLO , Jorge Luiz Pimenta, SILVA, Leonardo Duarte Batista da. Irrigação. UFRRJ, Instituto de Tecnologia, Departamento de Engenharia: 2007 MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 6.ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 1996. NICOLESCU, Basarab. A Evolução Transdisciplinar a Universidade Condição para o Desenvolvimento Sustentável. In: http://basarab.nicolescu.perso.sfr.fr/ciret/bulletin/b12/b12c8por.htm. Acessado em 12 de maio de 2011. PACHECO, Eliezer. Os Institutos Federais: Uma revolução na educação profissional e tecnológica. MEC, 2010. RAMOS, Marise. Possibilidades e desafios na organização do currículo integrado. In: FRIGOTTO, Gaudêncio. (Org.); RAMOS, Marise (Org.) ; CIAVATTA, Maria (Org.) . Ensino Médio Integrado: Concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005; pp. 106-127. REGATTIERI, Marilza, CASTRO, Jane Margareth (Orgs.). Ensino médio e educação profissional: desafios da integração – Brasília: UNESCO, 2009. SACRISTAN, J. Gimeno. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Tradução de: Ernani F. da F. Rosa. 3 ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000. SAVIANI, Dermeval. Da nova LDB ao FUNDEB: por uma outra política educacional. Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. 108 SAVIANI, Nereide. Saber escolar, currículo e didática: problemas da unidade conteúdo/método no processo pedagógico. Campinas, SP: Autores Associados, 1998. SAVIANINereide. Currículo – Um Grande Desafio Para o Professor.In: Revista de Educação. nº 16 - São Paulo, 2003 – pp. 35-38. SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, EsteraMuszkat. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 3a edição. UFSC/PPGEP/LED. Florianópolis, 2001. SILVA, Marcio Antonioda.Currículos de Matemática no Ensino Médio: em busca de critérios para escolha e organização de conteúdos. Tese de Doutorado. PUC/SP, 2009. SILVA, Caetana Juracy Rezende (Org.) Institutos Federais Lei 11.892, de 29/11/2008: comentários e reflexões. Natal – IFRN: 2009. VEIGA, Luis Augusto Koenig. ZANETTI, Maria Aparecida Z. FAGGION, Pedro Luis. Fundamentos de Topografia. Curitiba IFPR: 2007. In: www.cartografica.ufpr.br/docs/topo2/apos_topo.pdf. Acesso em 14 de maio de 2012. VIANA, M. C. V. Perfeccionamiento del currículo para la formación de profesores de Matemática en la UFOP. Tese (Doctorado en Ciencias Pedagógicas). Instituto Central de Ciências Pedagógicas. . La Habana, Cuba: ICCP, p.165, 2002. YARED, Ivone. O que é interdisciplinaridade? In: O Que é interdisciplinaridade? / Ivani Fazenda (org.). —São Paulo: pp. 17-28, Cortez, 2008. 109 Apêndice A – Roteiro de Entrevista dos Docentes Universidade Federal de Ouro Preto Mestrado Profissional em Educação Matemática Pesquisadora: Fernanda Pereira Santos Pesquisa: Ensino Médio Integrado ao Técnico: Uma Análise do Currículo de Matemática Roteiro de Entrevista Para os Docentes 1. Que disciplina que leciona para o Curso de Agropecuária? 2. Para qual série essa disciplina é ministrada? 2. Existe relação de algum assunto ministrado com a Matemática? 3. Que relação é essa? 4. Que assuntos são esses? 5. Como a Matemática poderia ajudar no processo de ensino e aprendizado desses conteúdos? 6. Em que período da disciplina esses assuntos são ministrados? 110 Apêndice B – Questionário dos Docentes Universidade Federal de Ouro Preto Mestrado Profissional em Educação Matemática Pesquisadora: Fernanda Pereira Santos Pesquisa: Ensino Médio Integrado ao Técnico: Uma Análise do Currículo de Matemática Questionário para professores Caro(a) colega professor(a), Gostaria de saber um pouco sobre sua trajetória profissional. Para isso, basta responder com sinceridade às questões. Não é necessário assinar. Sua contribuição é muito importante! Obrigada! Para uso do pesquisador. № ______ 1. Sexo a. ( ) F b. ( ) M 2. Formação Básica a. Graduação: __________________________________________________ b. Especialização: _______________________________________________ c. Mestrado: ____________________________________________________ d. Doutorado: ___________________________________________________ e. Outras: ______________________________________________________ 3. Regime de trabalho a. ( ) 20h b.( ) 40h c.( ) D.E. 4. Tempo em leciona no curso de Agropecuária do IFBaiano – Campus Guanambi: a. ( ) até 2 anos b.( ) de 2 até 5 anos c. ( ) de 5 a 10 anos d. ( ) mais de 10 anos 5. Tempo em trabalha em cursos da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio (incluindo o trabalho no IFBaiano) a. ( ) até 2 anos b. ( ) de 2 até 5 anos c. ( ) de 5 a 10 anos d. ( ) mais de 10 anos 6. Possui publicações relacionadas ao campo de pesquisa e trabalho do curso de Agropecuária do IFBaiano? Em caso afirmativo liste os temas das publicações. ____________________________________________________________________________ 7. Tem experiência em outras áreas ou modalidades de ensino. Em caso afirmativo descreva-as. ____________________________________________________________________________ 111 Apêndice C – Questionário Aplicado aos Estudantes Universidade Federal de Ouro Preto Mestrado Profissional em Educação Matemática Pesquisadora: Fernanda Pereira Santos Pesquisa: Ensino Médio Integrado ao Técnico: Uma Análise do Currículo de Matemática Questionário – Estudantes Questionário - Estudantes Caro (a) aluno (a), Gostaria de saber um pouco sobre sua opinião acerca das atividades realizadas no curso de Agropecuária. Para isso, basta responder com sinceridade às questões. Não é necessário assinar. Sua opinião é muito importante! Obrigada! Para uso do pesquisador. Q: nº ____ 1. Qual série você está cursando? 2ª série ( ) 3ª série ( ) 2. Considerando as disciplinas técnicas que você já foi aprovado (nas séries anteriores), em quais delas você percebeu alguma relação ou necessidade de conteúdos de Matemática para que o processo de aprendizagem acontecesse? (caso necessário você pode utilizar a parte de trás da folha) a. __________________________________________________________ b. __________________________________________________________ c. __________________________________________________________ d. __________________________________________________________ 3. Das disciplinas que você mencionou, quais foram os assuntos que necessitava da Matemática para serem compreendidos, e que assuntos de matemática você acha que seriam necessários? Disciplina Técnica Assunto (técnica) Assunto (Matemática) 4. Em sua opinião, a disciplina Matemática poderia auxiliar na compreensão desses assuntos? Em caso afirmativo diga como isso poderia ser feito. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 112 Apêndice D – Termo de Esclarecimento Universidade Federal de Ouro Preto Mestrado Profissional em Educação Matemática Pesquisadora - Fernanda Pereira Santos Pesquisa - Ensino Médio Integrado ao Técnico: Uma Análise do Currículo de Matemática Termo de Esclarecimento Caro Professor (a), Após conversar com a direção do Campus e contar com sua colaboração e consentimento, venho convidá-lo a participar de uma pesquisa, realizada por mim, Fernanda Pereira Santos, minha orientadora Célia Maria Fernandes Nunes e minha coorientadora Marger Ventura Viana. Nessa pesquisa pretendemos apoiar o trabalho realizado por você em sala de aula, buscando a contextualização e a interdisciplinaridade nas aulas de matemática. Isso acontecerá por meio de entrevistas gravadas e questionários que serão respondidos por você. Ao usar esses instrumentos de pesquisa, procuraremos verificar as afinidades e semelhanças entre a disciplina que você leciona no curso técnico integrado ao médio e a disciplina de Matemática. Participarão voluntariamente desse trabalho 13 professores dos cursos integrados. A entrevista acontecerá nas dependências do Campus Guanambi, em horário e dia escolhido por você, elas acorrerão durante um mês, porém, dependendo dos resultados e de sua avaliação, poderão se estender para dois meses. De forma semelhante orientamos que os questionários sejam respondidos no Campus e a caneta esferográfica de tinta azul ou preta. Dada a natureza da pesquisa não percebemos qualquer possibilidade de desconforto, constrangimento ou situação desagradável que possa incomodar os professores envolvidos. Como tal trabalho fará parte de uma pesquisa de Mestrado, solicitaremos permissão para gravar em áudio as entrevistas realizadas. Os dados coletados, uma vez organizados, estarão à sua disposição. Tais informações serão armazenadas em um CD ou DVD que se constituirá em fonte de análise. Asseguro-lhe que nenhum professor ou mesmo o Instituto, terá seu nome real mencionado na pesquisa. Além disso, tanto você, quanto qualquer outro professor, em qualquer momento ao longo da pesquisa, poderá retirar sua participação se julgar necessário. Esclareço também que toda a pesquisa será realizada fora do horário de aulas, sem ônus para os professores ou para a escola. Caso ainda tenha alguma dúvida, por favor, sinta-se à vontade para nos consultar, ou ainda ao Comitê de Ética da UFOP. Se você se sentir esclarecido em relação à proposta e concordar em participar voluntariamente desta pesquisa, peço-lhe a gentileza de assinar e devolver o termo de consentimento anexo. 113 Atenciosamente, Fernanda Pereira Santos Pesquisadora (71) 9191-9152 [email protected] Célia Maria Fernandes Nunes Pesquisadora responsável (31) 8721 1993 [email protected] Profª. Drª. Marger Ventura Viana Pesquisadora responsável (31)8567 8237 [email protected] Comitê de Ética na Pesquisa Universidade Federal de Ouro Preto Márcio André – Secretário (31) 3559-1368 e-mail: [email protected] 114 Apêndice E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Universidade Federal de Ouro Preto Mestrado Profissional em Educação Matemática Pesquisadora - Fernanda Pereira Santos Pesquisa - Ensino Médio Integrado ao Técnico: Uma Análise do Currículo de Matemática TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, professor(a) __________________________________________________, fui convidado(a) pela professora Fernanda Pereira Santos, aluna do Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Federal de Ouro Preto, a participar de sua pesquisa, permitindo a criação de uma orientação curricular para a disciplina Matemática, na tentativa de melhorar o processo de ensino aprendizagem da disciplina.. Tal pesquisa conta com o apoio da direção do Instituto. Estou ciente de que o trabalho envolverá a participação de outros professores, com o objetivo de melhorar o ensino de Matemática e que serão realizadas entrevista e respondidos questionários dentro das dependências do IFET. Também estou ciente que toda a pesquisa acontecerá sem ônus para os professores participantes e para o Instituto.Fui informado (a) que a qualquer momento posso retirar minha participação da pesquisa se julgar necessário.Sei que posso a qualquer momento consultar o Comitê de Ética da UFOP, para me informar sobre questões éticas da pesquisa cujo endereço se encontra no pé dessa página, e aos pesquisadores cujos endereços se encontram abaixo. Finalmente, estou ciente de que terei acesso aos resultados da pesquisa tão logo estejam disponíveis, por meio de uma reunião no Instituto. Sinto-me esclarecido (a) acerca da proposta e concordo em participar desse trabalho. _______________________________, Participante ________ de ____________ de 2011 Fernanda Pereira Santos - Pesquisadora (71) 9191-9152 [email protected] Célia Maria Fernandes Nunes - Pesquisadora responsável (31) 8721 1993 [email protected] Profª. Drª. Marger Ventura Viana - Pesquisadora responsável (31)8567 8237 [email protected] Campus Universitário – Morro do Cruzeiro – 35.400-000 – Ouro Preto – MG – Brasil Comitê de Ética na Pesquisa(31) 3559-1368 e-mail: [email protected]