ENTREVISTA a Directores de Turma
3 de Julho 2008 – 9h
Duração: 1h 35mn
ST1- Lecciono português, sou licenciado há 25 anos. Aqui na escola não tenho os números
precisos, por causa das minhas andanças como leitor que me baralharam um pouco. Quando fui
como leitor em 92 para a Escócia ainda não estava efectivo na escola, mas passado um ano ou
dois dos cinco que estive na Escócia entrei aqui na Escola. Depois estive aqui dois anos e resolvi
voltar a concorrer e fui colocado em Praga, onde estive 4 anos. Voltei e, sem qualquer tipo de
arrependimento, resolvi que não voltava a concorrer, para dar oportunidade aos novos.
Ainda que em níveis diferentes, fui fazendo uma espécie de comparação entre métodos de
trabalho, interesses de alunos... e cheguei à conclusão que a qualidade de ensino tinha decaído
muito. Comecei a pensar que tinha que me adaptar e adaptei-me à nova situação, que era a que
estava instalada em toda a comunidade escolar.
Destes 25 anos só não fui director de turma os 9 anos que estive no estrangeiro.
RSI
CC
EU- E porquê? Eras tu que pedias?
ST1- Porquê? Porque há sempre os que não querem ser pelo trabalho que dá...Porque “tens que
ser, porque tens muita paciência, quando há problemas tu resolves, etc” Queixo-me muito, mas
no fundo gosto. Gosto pelo contacto com os alunos, mais, do que propriamente com o contacto
com os pais. Aos encarregados de educação obrigava à presença, pelo menos mensal. Aliás, há
uma coisa que faço todos os períodos, que é convocar, mesmo sem razão aparente, todos os
encarregados de educação – convocar mesmo. Eles podem vir ou não, mas convoco. Chamo
sempre que haja faltas ou qualquer assunto, mesmo que não seja participação, porque é raro
receber participações escritas - não porque não haja muitas vezes motivo para elas, mas porque
os colegas cumprem o seu papel e tentam resolver os problemas dentro da sala e da disciplina. Eu
telefono aos pais, converso com os alunos e umas vezes os problemas resolvem-se, outras não se
resolvem, como contava há pouco, naquele episódio da entrega de notas no final do 2º período,
que eu designei de uma autêntica “peixeirada” e em que no final, ao fim de 25 de serviço, me
vieram as lágrimas aos olhos – “O que é que estou a fazer aqui? Isto é surrealista!” Ignoraram-me
completamente e tiveram comportamentos que nós criticamos nos alunos, como usar os
telemóveis para chamarem os filhos para irem e lá e para se defenderem, para dizer quem é que
é este e quem é que está a acusar e quem é que anda a perseguir aquele. Então eu disse: “O
objectivo da reunião está desvirtuado neste momento, foi feita a entrega de notas, foi feito o
comentário. Eu proponho que seja feita uma reunião de pais e encarregados de educação e
alunos e professores”. Tal como o ano passado houve logo quem se opusesse, porque não valia a
pena, porque o que era importante era os professores serem mais duros com os alunos.
ST1
ST1
CC/ST1
EU- De que ano são?
ST1- É um 11º ano. É um problema de...Eu acho que é geral neste momento. Não há mau
comportamento, de agressividade, de dizer asneiras...É imaturidade. Simplesmente. Falta de
consciência, como quem diz:”Nós não nos esforçamos...” – logicamente há quem trabalhe e tenha
bons resultados – “vamos fazendo o mínimo, porque o resto há-de vir ter connosco!” E nem se
apercebem que já estão num ano em que há exames. Tiveram que fazer exames e talvez agora
quando saírem as notas das estruturantes, eles comecem a cair um bocadinho mais na realidade,
até porque com a questão da continuidade pedagógica, esta turma ser-me-á atribuída como
direcção de turma no 12º ano.
ST2 – Sou de informática, licenciado há pouco tempo – há 4 anos. Fiz a profissionalização em
serviço; o ano passado concluí aqui o estágio e sou director de turma há dois anos, da mesma
CC
CE
RSI
1
turma do ano passado.
EU- Além da direcção de turma tens outras funções?
RSI
ST2 – Tenho. Sou Director de Curso e Coordenador TIC.
ST3– Sou professora há 22 anos, sou licenciada em Português, Latim e Grego, na Universidade
Católica de Viseu. Sou orientadora de estágio de latim há 15 anos. Estou aqui na Escola há 11,
represento a formação, os Estágios, no Conselho Pedagógico. Sou directora de turma...já não sei
bem, tenho sido quase sempre. Os primeiros anos que fui orientadora de estágio não fui, porque
o regulamento não o previa; mais recentemente prevê e voltei a ser. Sou DT de um 11º ano, mas
não sei se continuo, porque sou professora de latim nessa turma, logo para o ano sendo o latim
opcional, depende se os miúdos se inscrevem ou não.
RSI
EU- Vocês conhecem o facto da escola estar a desenvolver um processo de auto-avaliação. Sim.
Então gostaria que explicassem como tiveram conhecimento, através de que canal.
ST3- O 1º canal foi o CP.
OL
ST1- E depois via Departamentos.
OL
EU- E lembram-se se foi apresentado já como definido ou se vos foi pedida opinião?
ST1- Tanto quanto me recordo foi apresentado como facto consumado.
II
ST2- Mas participámos com o preenchimento de grelhas...
II
EU- Então a oportunidade para darem opinião, no início não houve. E agora há?
ST3- Foram-nos apresentados resultados numa reunião geral de professores, no final do ano
passado. A Comissão apresentou o que tinha feito, até porque tinham feito uma formação, não
foi? E depois vamos preenchendo as grelhas...
RD
EU- Vamos então esclarecer como é a vossa participação, como entra o vosso contributo no
dispositivo.
ST1- Temos fichas que recolhem dados dos resultados dos alunos, das faltas, das desistências.
Também se houve participações quer a nível oral quer a nível escrito, se foram resolvidas pelo DT,
se foi necessário recorrer ao CE. E havia sempre uma parte em que nos era pedido para
deixarmos a nossa opinião no sentido de melhorar.
ID
EU- Já usaram esse espaço para dar opinião?
ST2- Eu não.
ID
ST3- Também não, porque as questões que me punham eu não as tinha ainda...
ST1- Não, eu sou sincero. Eu penso que uma ou duas vezes terei usado, mas no sentido de
reforçar uma ideia que já é conhecida de todos que é incentivar os alunos nos seus tempos livres,
porque há muitas facilidades que eles não aproveitam, como frequentar as salas de estudo que
estão disponíveis àquela hora, mas eles preferem ficar encostados aí a uma parede a apanhar sol;
para marcarem trabalhos de casa com uma certa frequência para criar neles uma capacidade de
trabalho um pouco mais individual, sem ser necessário, depois de sensibilizados e orientados nas
CE
2
suas dificuldades, o professor estar sempre a dizer.
EU- Então e em outras questões de gestão da escola, é-vos pedida opinião, a vocês e aos alunos?
ST3- As turmas x e Y foram escolhidas para lhes passarem os inquéritos e às vezes questiono-me
porquê aqueles alunos, porquê aquela turma.
ID
ST2- Na direcção de turma deram-me os inquéritos para entregar aos encarregados de educação
e eu já recolhi os que vieram à reunião.
ID
ST1- Eu, dos 19, entregou-me um.
ST3- Estamos a falar de inquéritos diferentes. Esse sim, também entreguei. Mas eu estou a falar
de um que foi feito aos alunos.
ID
ST1- Esse de alunos não sei, não tenho ideia de ter passado na minha turma.
ID
ST3- Pois, numa reunião de departamento questionámos porquê aqueles e não os outros. Mas se
existe uma Comissão que decide...
II
EU- Se no Departamento puseram as questões, na Coordenação dos directores de turma também
podem pôr. Nessas reuniões de Coordenação nunca foi discutida esta questão da auto-avaliação?
Nunca foi sequer explicado o dispositivo?
ST3- Acho que não. Eu nunca faltei a reunião nenhuma, mas também por vezes há coisas que nos
passam. Dizer que não foi é correr um risco.
II
ST1- Eu também não tenho ideia.
II
EU- Vocês já pensaram, por vós mesmos, nestas questões da auto-avaliação? Já leram algumas
coisas, já se documentaram, já vos interessou, ou nem por isso?
ST1- Eu, sinceramente, comecei a ficar mais sensibilizado a partir do momento em que entrou
este processo, apesar de não ter ainda lido nada, também por falta de tempo. Claro que a autoavaliação é algo que tem que estar inerente em todos os momentos da nossa vida profissional e
não só. Aqueles momentos de reflexão que fazemos em casa, quando estamos a organizar,
pequenos momentos de auto-avaliação que temos...
IF
EU- Tu, ST2, fizeste o estágio há pouco tempo. Não havia nenhuma componente virada para a
auto-avaliação?
ST2- Fiz a minha auto-avaliação no final do ano, como faço agora com a direcção de turma, com o
relatório. Mas é individual. Às vezes as aulas correm mal e eu até posso explicar porquê, mas
cientificamente ainda não. Começo a interessar-me mais pela auto-avaliação, mas por causa da
preocupação com a avaliação dos professores. Vou lendo o que aparece nos jornais. Mas
cientificamente não tenho assim conhecimento.
IF/
CAD
EU- E no curso, na parte académica, não havia nada?
ST2- Na profissionalização em serviço nós temos 4 disciplinas, mas dá-se muito pouco. Aprendi
mais aqui na escola o ano passado do que no ano inteiro de formação contínua, mas isso é o
sistema e o modelo que nos ultrapassa a nós e às pessoas que nos dão formação. A nível
curricular foi muito insuficiente.
IF
3
ST3- Eu também nunca li assim nada. Embora não seja justificação, têm sido tantas as solicitações,
que uma pessoa tem que ir por prioridades.
IF
EU- Mas vocês presidem a um Conselho de Turma. Aí regula-se ou não o desenvolvimento
curricular e o que se faz na escola?
ST3- Claro que sim. Talvez que a auto-avaliação não esteja devidamente interiorizada, mas sem
darmos conta lemos muito, praticamos e fazemos isso todos os dias. Como diz o ST2, vamos
vendo os jornais, as revistas...Agora assim obras científicas, com princípio, meio e fim é que não.
IF
EU- E acham que será importante haver de facto um dispositivo de auto-avaliação da Escola?
ST3- Eu acho que é importante que haja. Há sempre necessidade de reflectir sobre o que está
bem feito e sempre se pode melhorar e aquilo que não resulta tão bem e em que são precisas
novas práticas para melhores resultados. E não falo de resultados só académicos, mas em tudo o
que contribui para esses resultados. No final do ano nós apreciamos, nos vários conselhos,
fazemos essa avaliação. Por exemplo, no CP de 2ª feira vai fazer-se o balanço do ano lectivo e na
reunião de Departamento já fizemos isso. Depois é preciso passar do “correu muito bem” e
“correu muito mal”.
ST2- Eu acho que a auto-avaliação é importante, mesmo para reforço da escola como instituição.
Nós fazemos esses balanços, mas acho que fica um bocadinho aquém. Nós reflectimos,
analisamos os resultados, mas não partilhamos soluções entre nós, não partilhamos experiências.
Eu costumo partilhar com o grupo de pessoas com que simpatizo mais aqui na escola, com que
tenho mais afinidades dentro e fora da escola, mas como escola em si não partilhamos essa
informação e para mim acho que era muito importante, por exemplo pessoas que têm muita
experiência que sempre dão uma grande ajuda aos mais novos. O ano passado tive muita
dificuldade com a direcção de turma, porque não sabia lidar com os encarregados de educação –
foi uma aprendizagem muito interessante, porque no fundo são pessoas mais velhas do que eu,
com outras expectativas, e realmente tive dificuldade em cumprir. Também mudei muito a minha
perspectiva do aluno, porque comecei a vê-lo como um todo. Comecei a ver os contextos sócioculturais, de que tinha ideia, mas que não estavam interiorizados. Isso é uma evolução que
fazemos individualmente, mas não há reflexão sobre as coisas, pontos de partida para novas
práticas. Penso que isso não é feito.
ST1- Depois de ouvir o ST2 e a ST3, logicamente que tudo isto é feito por nós, todos nós
trabalhamos a auto-avaliação, actividades desenvolvidas e tudo o mais, mas, isto foi uma ideia
que me surgiu agora - no fundo uma escola é uma empresa, também se define por metas a
atingir, por critérios, pela avaliação, etc, e nós fazemos essa reflexão, mas somos nós que
estivemos envolvidos que analisamos os dados...
PR
ST1
PR/
ST1
PR
EU- Achas que é preciso um olhar externo?
PR
ST1- Um olhar externo, talvez, para aferir.
EU- Vocês tiveram avaliação externa. Foram ouvidos?
CAE
ST3- Eu fui.
ST2- Eu não.
ST1- Eu fui, incluído no painel das necessidades educativas especiais, porque já tive alunos com
NEE e também por causa dos alunos estrangeiros que eventualmente tenho.
4
EU- E o que acharam dessa experiência? O que queriam saber era pertinente do vosso ponto de
vista?
ST1- Perguntaram-me, no meu caso pessoal, porque havia mais pessoas no meu painel, porque
tinha sido escolhido e eu disse porque no passado, sempre que há alunos com NEE eu tenho-os,
como um disléxico que acompanho há 3 anos e também os alunos estrangeiros, como os
ucranianos, e a quem a ST3 também dava apoio. Eu queria expandir-me um bocadinho mais a
propósito desse assunto, mas disse para me limitar ao aluno que eu tinha e não falar de mais
nada.
CAE
ST3- Eu também estive num painel da Assembleia de Escola.
EU- Também és da Assembleia de Escola? Não tinhas dito, escondeste essa informação!
ST3- Ai, pois foi! Estive nesse painel e quase todos os professores estiveram num, porque não se
podiam repetir os professores nos painéis. O que é que eu achei? Achei que vinham bem
preparados, com as questões muito bem orientadas, ainda que...eu percebo que tinham que ser
objectivos, mas muitas vezes as pessoas quereriam dar mais informações, mas não permitiam.
Não sei até que ponto foi respondido com objectividade àquilo que eles pretendiam. Em termos
de conhecer a escola, havia aspectos em que pensávamos “Bem se vê que não vivem numa
escola!”E depois não deixavam as pessoas consultarem os seus papéis. Por exemplo a Presidente
da Assembleia ter que saber a ordem de trabalhos de uma reunião não faz muito sentido. Mas
que a avaliação externa faz falta, faz.
CAE
EU- Bem, mas a mim interessa-me a do lado de cá e se as pessoas pensam que faz sentido a
escola auto-avaliar-se. Falaste da escola como empresa. Estão todos nessa linha?
ST2- Bem, numa empresa tem que haver objectivos e tem um lema que é adoptado por todos os
funcionários...
PR
EU- Achas isso adaptável à escola?
ST2- Bem, aqui as pessoas são todas diferentes, vejo isso nos Conselhos de Turma...É bom, para
que os alunos convivam com vários tipos de pessoas, tenham várias experiências. Agora remar
todos no mesmo sentido é difícil com a organização da escola. As metas e os objectivos até estão
definidos, mas depois não estão quantificados. Por exemplo, reduzir o abandono escolar, reduzir
o insucesso...mas não há quantificações.
PR
EU- Mas agora vai ser preciso, com a avaliação dos professores. Já pensaram isso, no cruzamento
da avaliação de professores com a auto-avaliação organizacional?
ST3- Metas e objectivos são importantes, como em qualquer empresa. Agora no dia em que a
escola passar a ser uma empresa, perde muito o lado humano e quem vai perder, se se caminhar
para aí, são os alunos. E os professores também. A nossa profissão não é de vir aqui descarregar,
fazer testes, corrigir...Não, há muito do lado humano! Se trabalharmos como uma empresa,
cumprimos objectivos e ponto final!
PR
ST1- Eu há pouco quando falei de empresa era no sentido dos objectivos, mas nunca, nunca sem a
perspectiva humanista e humanizante do ensino.
PR
ST3- E como directores de turma essa dimensão é fundamental. Não é só nossa, mas aí somos
muito importantes.
PR
5
ST1- Isto é um desabafo também – muitas vezes nos conselhos de turma, remamos sozinhos e
muitas vezes contra a maré, no sentido de nos propormos a ajudar determinado aluno. Pedimos
sugestões, mas a resposta é sempre “O director de Turma és tu!” O director de Turma é que tem
de encontrar a panaceia para os males.
ST3- E ao contrário do que muitas vezes pensamos, não são só os mais novos na carreira que
sentem dificuldades; ao contrário, eles tentam fazer tudo, mas há obstáculos complicados.
ST1
ST1
EU- Mas obstáculos de que natureza?
ST3- Então, como o ST1 já disse, és o director de turma, resolve!
ST1
EU- Então é a dificuldade de assumir as coisas colectivamente?
ST1
ST3- Às vezes, às vezes...
ST1- Isso! Isto é a minha opinião. Quando falo projecto muito da minha personalidade, da minha
insegurança e quando vou para uma reunião do Conselho de Turma eu vou num estado de
nervos! Preparo-me para que corra tudo na perfeição, de acordo com aquilo que eu queria e que
me contrapusessem se eu estou errado...Limitam-se a aceitar. Depois cá fora “Ah, ele portou-se
mal na minha aula...” “Mas por que não fazes uma participação por escrito?”
ST1
EU- Então o espaço do Conselho de Turma não será muito colectivo. E se compararmos com o
Departamento, este é mais colectivo?
ST3- Depende! Acho que sim, que aí dá para partilhar, mas depende do que se entende por
colectivo...
ST1
ST1- Tudo no mesmo sentido!
ST3- Também é diferente. Porque os Conselhos de Turma são no máximo dois por período e os
Departamentos reúnem mensalmente e às vezes mais. Há outras oportunidades. E também, no
final do período, temos de desculpar por que é que isso acontece – está toda a gente estoirada,
são reuniões umas atrás das outras e se calhar isso também acaba por desgastar. Essa será
também uma razão para não haver tanta partilha.
ST1
EU- Então agora vamos fazer um exercício teórico. Para vocês o que faz a qualidade de uma
escola? Se for difícil pensar no abstracto, podem juntar a outra pergunta que é, em relação a esta
escola, quais são as qualidades dela.
ST2- As instalações, os recursos. E depois, a nível dos recursos humanos, nesta escola acho que há
uma super-protecção em relação aos alunos do secundário que não se vê nas outras escolas. Eu
ando sempre em cima dos meus meninos, que têm 17 anos, mas que eu trato como se tivessem
13 ou 14.
CQ
EU- Mas essa super-protecção é positiva ou negativa?
ST2- É assim: eles estão numa faixa etária complicada, nem sempre obtemos os efeitos desejados
e telefonamos para casa...É positivo...
CQ
ST3- Mas com isso também desresponsabilizamos os pais, muitas vezes...É positivo, mas ...
CC
ST2- É verdade, também há o outro lado. E isto vê-se no 3º ciclo e faz parte da legislação, mas
CC
6
depois transpomos para o secundário em que não somos tão obrigados a ter esse tipo de atitude.
ST3- Eu acho positivo o que tu disseste. Nós fazemos e eu faço e se calhar se não fosse assim
alguns não tinham chegado ao final do 11º ano, mas esse tipo de atitude de ir buscar os pais a
casa, de ir à casa dos pais é extremamente negativa, pois desresponsabilizamos pais e alunos.
Levar justificações a casa para os pais assinarem? Por amor de deus! Eu também sou mãe e tenho
que arranjar maneira de chegar à escola. É importante responsabilizar os alunos e os pais. Senão,
chegamos ao final do 11º ano e a aluna só não chumbou por faltas porque se fez o pino. Não
estamos a contribuir para eles crescerem? Estamos! Porque uma aluna que podia ser brilhante
não passa de sofrível!
ST1- É. Vamos favorecer, estamos a prejudicar!
CC
CC
ST3- E essa miúda, analisando o historial dela e até onde consegui chegar, desde o 5º ano é isto!
EU- Portanto, um dos referenciais da direcção de turma é esse cuidar e essa proximidade com as
famílias, que por um lado consideram uma qualidade, mas que por outro lado precisa de ser
regulado para não cair no exagero. E para além desse, que outros referenciais encontram?
ST1- Na sequência do que a ST3 estava a dizer e na sequência das minhas memórias também, é o
facto da escola ser pequena que faz com que haja um ambiente humano bom. Não estou a dizer
que não haja excepções, mas é bom. Acho que poucas escolas, estou a especular certamente,
mas poucas escolas haverá que se preocupem com os alunos como esta, na elaboração de
horários, para os que têm disciplinas atrasadas poderem estar no 11º e frequentar disciplinas do
10 ao mesmo tempo, em termos de salas de estudo e tudo o mais. E ainda com a preocupação de
lhes dar os 90 minutos para almoço. Qual não foi o meu espanto quando uma encarregada de
educação me disse que estava arrependida de ter trazido o filho para aqui porque 90 minutos de
almoço era muito tempo e depois ele ficava aí na vadiagem.
CQ
CC
EU- E em termos de cuidar dos professores? Sentem esse acolhimento?
ST2- Eu posso falar, estou aqui há dois anos e sim, senti receptividade da parte de todos os
professores. No global fui muito bem recebido; sempre que solicitei...todos os materiais...A nível
da coordenação da direcção de turma também foi muito importante. E continua-se a verificar.
Sinto-me em casa, por todos os motivos. Como não sou de (a cidade), venho para a escola para
não estar sozinho em casa. A nível dos funcionários também.
ST1- Sim, os funcionários, tanto com os alunos, como com os professores, vê-se respeito,
dedicação, aqueles valores, entre aspas, antigos, a que estávamos habituados. Podemos contar
com eles, com a colaboração para tudo, para nós e para os alunos. Quando há qualquer problema
com a direcção de turma que eu não detectei, a funcionária do bloco que detectou tem a
preocupação de vir falar comigo.
CQ
CQ
EU- Se eu vos perguntar o que distingue esta escola, o que respondem?
ST3- Muitas vezes as pessoas não sabem o que se passa cá na escola. A ideia que passa lá fora é
contrária ao que se vê cá dentro.
CC
ST1- É contrária, porque esta escola tem uma espécie de estigma...
CC
EU- E tu, ST2, também já sabes isso...
CC
ST2- Sim, a mim disseram-me: “Vais para a P?!”
7
ST1- Já no meu tempo me disseram a mesma coisa...
ST2- Pois esta escola tem o estigma da antiga escola da P.e eu vim para cá com a expectativa que
o contexto sócio-cultural era muito mau, mas não, é uma escola normal com os problemas
normais das outras escolas.
CC
EU- Conseguem falar-me mais um bocadinho do vosso papel como directores de turma no fabrico
dessa qualidade da escola?
ST3- Não estou a perceber bem a pergunta.
EU- A escola constrói-se muito nos nós da prática diária e a direcção de turma será um desses
nós. Essas qualidades de que falaram – humana, acolhedora – são construídas com orientações da
coordenação ou é por outras formas?
ST3- Mas nisso entra a parte subjectiva. Porque uma coisa é o que é legalmente exigido e é isso
que nos é mais ou menos transmitido nas reuniões. Portanto, uma coisa é aquilo que nós somos
obrigados a cumprir – há regras. Depois há sempre aquela parte subjectiva.
ST1
ST1- Pois, aí não há nenhuma norma, nenhuma directiva. Somos todos. Uns puxam os outros. O
facto de ser uma escola muito pequena...
ST1
ST3- Esta escola também tem características muito especiais, não é? E há situações muito
complicadas, muitos miúdos que têm situações económico sociais muito complicadas. ..Numa
turma de 7 alunos há apenas uma miúda que, digamos, eu considero ter uma família nos
parâmetros normais ( se calhar já não são muito normais!)– o pai, a mãe e os irmãos a viverem
todos. Não quer dizer que não existam situações destas noutras escolas, mas nós sabemos da
nossa.
EU- Então é mesmo uma construção colectiva- uma adaptação automática à realidade que têm.
ST2- É, não vi isto nas outras duas escolas por onde passei e cheguei aqui, dei com isto e também
me adaptei. É um pouco da cultura da escola. Quase todos os professores fazem isto e, como
somos poucos, vamos conversando e pronto, temos práticas proteccionistas muito idênticas. Só
um exemplo: nas outras escolas as classificações são enviadas por carta, aqui reunimos com os
pais. Mas aqui são orientações que vêm de cima.
ST3- Por exemplo, nós aqui temos muito cuidado em fazer as reuniões com os pais em horário
pós-laboral. Nas escolas dos meus filhos nunca vi essa preocupação – são a meio da tarde, a meio
da manhã – quem quer vai, quem não quer não vai!
CC
ST1
ST1/
CP
ST1/
CP
EU- E no Projecto Educativo, acham que estas questões estão lá espelhadas em termos de linhas
de acção?
ST1
ST3- Não sei se está na letra, mas está no espírito e nas práticas.
ST1
ST2- Não, a caracterização sócio- económica está lá.
ST1
ST1- Mas eu continuo a dizer: ainda que a nossa escola não tivesse alunos com problemas
económico-sociais, nós procederíamos da mesma forma.
EU- As vossas preocupações prioritárias enquanto directores de turma são quais?
8
ST1- Basicamente...quantas vezes não digo isto aos meus alunos: “Vocês estão na vossa segunda
casa, têm aqui uma família para vos ajudar a crescer em todos os sentidos”. Portanto, é ajudá-los
a crescer. Eles passam mais tempo na escola do que em casa, portanto temos um papel de
responsabilidade também nesse sentido e logicamente que esse crescimento ajudará a atingir os
objectivos do ciclo de estudos com sucesso. A nossa preocupação principal é que eles tenham
bons resultados. Muitas vezes eles inscrevem-se já com a ideia de que não são capazes em certas
disciplinas, mas faz parte do processo nós ajudarmos e incentivarmos a serem mais confiantes.
CQ
EU- Tu achas que se avaliam esses aspectos?
ST1
ST1- Avaliar, avalia-se, sem ser através de papéis, de grelhas, não é? É através de um comentário
de um colega, de um pai, de uma mãe.
ST2- Eu acho que também se avalia, porque no básico 30% são da componente sócio-educativa e
nós avaliamos e vamos vendo a progressão. O ano passado, por exemplo, eu preocupei-me muito
com isso, porque eles vinham para informática a pensar que era jogar e depois a realidade ficou
longe das expectativas e isso criou muitos problemas a nível do comportamento e de sucesso
também. Nesse ano tive mais preocupação com a regulação dos comportamentos. Este ano,
mesmo sendo uma turma fraquinha, a preocupação maior foi com os resultados.
ST1
EU- Vou acrescentar uma pitada à pergunta: o que faz um bom director de turma? Que aspectos é
que salientariam numa auto-avaliação?
ST3- Primeiro tínhamos que começar pelo que está legalmente definido. E depois tudo o resto é
subjectivo. Eu posso considerar que uma coisa é errada, mas num determinado contexto o
director de turma pode considerar a melhor atitude. Porque o que nós queremos é que o aluno
esteja bem emocionalmente e depois que tenha bons resultados.
ST1
ST1- Um dos aspectos que iria evidenciar estaria relacionado com o projecto educativo construído
para a turma, baseado no trabalho, levando a que os alunos amadurecessem um pouco,
controlassem a indisciplina. Tentaria recolher a opinião dos colegas, através de um inquérito, que
permitisse evidenciar o progresso em cada aluno, não em termos numéricos evidentemente.
ST1
EU- Estás a falar do Projecto Curricular de Turma...
ST1- Sim. E depois, com mais calma, podiam pensar-se outras estratégias. Por que não elaborar
um questionário destinado aos próprios alunos da turma no sentido de eles avaliarem, não o
professor, mas a pessoa enquanto director de turma, se acharam que desempenhou o cargo no
sentido de os poder ajudar fora do âmbito da disciplina também?
RM
EU- Pois, também têm esse papel de regular a relação dos alunos com os professores...
ST2- Eu o ano passado tive alguns conflitos entre alunos e professores. Tive que os sentar à mesa,
e vamos lá resolver isto, porque senão o aluno desmotiva. Mas são casos pontuais.
ST1- Eu tive um caso semelhante no início do ano com dois grupos de meninas com a tal
imaturidade. Levei um texto já redigido e disse: “ Gostaria que vocês lessem e digam se
concordam ou não”. O texto dizia “...tal, tal. tal ... comprometo-me a melhorar o meu
comportamento, tal, tal, tal”. E depois, a partir daqueles dois grupos rivais juntou-se o melhor
grupo de meninas da turma.
ST1
ST1
EU- Na escola existe algum instrumento de avaliação que tenham que apresentar
independentemente dos previstos no dispositivo de que falamos? Algum instrumento em que
9
prestem contas no final do ano...
ST3- Temos o relatório.
ST1
ST1- Antes de irmos de férias temos que apresentar sempre um relatório.
EU- E o relatório tem orientações? Vocês sabem o que têm de referir no relatório?
ST1
ST1- Não. Cada um faz como entender. Temos essa liberdade na estrutura. Tanto dá para escrever
pouco, como escrever muito.
ST3- Mas já foi criado. Ainda não foi aprovado, mas já foi criado. Já foi a Conselho Pedagógico.
Tem a ver com a avaliação do desempenho. Foi-nos dito que se quiséssemos já podíamos usar,
mas eu já tinha feito o meu.
CAD
ST1- Eu não conheço.
ST3- Pois não, porque ainda não baixou.
EU- Portanto, nunca chegou a subir?...Foi criado por cima...
CAD
ST3- Sim, junto com os outros instrumentos da avaliação.
EU- Portanto, neste novo dispositivo de auto-avaliação não há nenhum instrumento uniforme
dirigido à gestão de turma. Nunca pensaram em propor?
ST3- Não. Eu uso um modelo que fui buscar a uns manuais...agora não me lembro qual é o
livro...Tem uma grelha, mas depois também faço um relatório mais descritivo. De facto nunca se
falou.
ST1
EU- E qual é o destino desses relatórios?
ST1
ST3- Entregamos no CE.
EU- E depois?
ST1
ST3- Não sei. Nunca pensei nisso.
ST1- Não há feedback.
ST1
ST3- Até pode haver reflexão sobre eles e até podem levar a algumas orientações, nós é que não
damos conta.
EU- Na vossa opinião, quais são os aspectos que na escola precisavam de mais regulação? Ou seja,
aqueles aspectos em que se devia contrariar o “cada um faz como lhe parece, ou apetece”. .. Não
estão a ver nada?... Então, em que pontos é que se tomam as decisões? Como eu digo aos miúdos
– quem manda mais?
CG
ST3- É o Executivo! Ainda que o órgão máximo seja a Assembleia de Escola.
ST2- Também há os departamentos...
CG
ST1- Sim, mas é significativo, por exemplo, que 90% das convocatórias que aparecem na sala de
10
professores venham do Executivo.
EU- Em algumas escolas existem núcleos de peso nas opiniões e decisões; ou grupos, ou
departamentos ou até mesmo pessoas que têm um grande poder informal, de influência. Aqui
não há?
CG
ST3- Nesta escola uns têm mais influência do que os outros, determinados departamentos,
sim...mas isso é subjectivo, é pelo que me parece a mim e a ti...
EU- Mas aqui interessam-me mesmo as percepções. Então aqui também haverá...ST2, já deste
conta?
ST2- Sei lá... O Conselho Executivo está sempre aberto a todas as pessoas...entramos sempre que
queremos…E há sempre preocupação que em algumas decisões os professores façam parte, por
exemplo na eleição dos professores avaliadores…Há esse cuidado.
CG
EU- O que acham que levou a escola a enveredar por um dispositivo de auto-avaliação?
OJ
ST3- Também pode ser porque obrigatoriamente íamos entrar num processo de avaliação, e
como tal…Vamos aprendendo!
ST2- Também é a minha opinião.
AC- Eu também acho que sim. Aliás, na altura, penso, não posso precisar quem, se terá sido
mesmo da parte do conselho executivo, mas que mais valia começarmos a praticar e a entrar no
processo para progressivamente nos adaptarmos.
OJ
EU- Então e agora acham mesmo que isto da auto-avaliação poderá ter algum impacto nas
práticas da escola, ou será mais uma coisa para passar ao lado?
II
ST2- Poderá melhorar algumas práticas administrativas e não só. Mas dentro da sala de aula acho
que não vai influenciar nada. Como professores somos todos muito diferentes e isso seria muito
complicado.
II
ST3- Lá está, estamos a viver um momento muito complicado, mas eu penso que deveria haver
mais contactos pessoais entre a comissão de avaliação e os professores. Nós só tivemos uma
reunião em conjunto.
II
ST2- Pois, e os resultados foram apresentados com gráficos. Esse tipo de resultados não vão
influenciar nada a minha prática na sala de aula. Pode influenciar a nível administrativo.
EU- Com é que propunham que se fizesse?
ST3- Porquê não haver uma oficina de formação?...Lá está, ainda não tinha pensado nisto, é
muito importante pormo-nos a pensar! Ou uma oficina, ou uma acção de formação, como
quisermos chamar. Eu sei que as coisas impostas não resultam, mas há situações em que tem que
ser. Haver outros momentos em que pudéssemos conversar com a Comissão, porque a comissão
fez formação, tem trabalhado imenso, mas aquilo que nos chega é muito pouco. Se calhar sou eu
que tenho que ir ter com as pessoas, se calhar sou… Claro que isso seria polémico, se é oportuno,
se não é…Mas há necessidade de haver mais contactos, por exemplo com os directores de turma.
Frequentemente trabalhavam connosco e nós vemo-los a trabalhar, mas devíamo-nos sentar
mais.
RM
II
11
ST1- Pois, na verdade nota-se o trabalho que a comissão faz no gabinete de trabalho e nós
sabemos que estamos a contribuir através daqueles pequenos inquéritos que nos vão dando,
mas…
II
II
ST3- Devíamos ter mais conhecimento…Claro que a formação também parte de nós, mas eu
penso que sim, que devia haver mais contacto.
II
ST2- Criar grupos de trabalho talvez, para discutir temas que eles achem pertinentes…
ST3- Pois! “Através do estudo dos inquéritos concluímos…Então vamos ver o que podemos fazer!”
EU- Bem, estou agora aqui a pensar como tu, mas se calhar essa não seria uma competência da
Comissão, mas mais dos órgãos de gestão, não?
II
ST3- Se calhar…
EU- Bom, há mais alguma coisa que gostassem de dizer?
RSI
ST3- Gostei muito! (Risos) Estou a brincar, mas é verdade. A reflexão…Há coisas que tu ou eu, em
casa, ou mesmo na escola, nunca falaríamos…
12
Download

ENTREVISTA a Directores de Turma – Escola D