A LITERATURA NOS DOMÍNIOS DA HISTÓRIA: ALGUMAS PERSPECTIVAS
HISTORIOGRÁFICAS PENSANDO A OBRA DE MANOEL DE BARROS
Fernanda Martins da Silva (UFGD)1
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Numa sociedade pautada no imediatismo e no
pragmatismo das coisas, torna-se particularmente
interessante investigar a presença da matéria sem
prestigio no trabalho poético.
Ricardo Alexandre Rodriguês
Considerando que a temática desse artigo encontra-se centrada no âmbito da teoria
literária, esse trabalho busca outro enfoque que é a análise em uma perspectiva de cunho
histórico. O estudioso de literatura visa fundamentalmente ao conhecimento e análise do
texto literário, enquanto o historiador visa á análise do contexto do texto literário em suas
múltiplas relações com a própria obra. Sendo assim, se propõe entender o documento
artístico como uma representação histórica de um indivíduo constituído historicamente, ou
seja, ele constitui a história e é constituído por ela.
Dessa forma, busco analisar não só o rompimento que a poesia de Manoel de Barros
faz com o conceito de metrificação tradicional, onde o autor abandona a simetria silábica e
se dedica a construir um verso enumerado, mas pretendo ir mais além, proporcionando uma
reflexão sobre o contexto sócio histórico da obra de Manoel de Barros.
A sociologia da literatura, desde há muitos anos, circunscrevia o texto ficcional no seu
tempo compondo o quadro histórico, no qual o autor vivera e escrevera sua obra. A história,
por seu lado, enriquecia por vezes seu campo de análise com uma dimensão “cultural”, na
qual a narrativa literária era ilustrativa de sua época. Neste caso, a literatura cumpria, face à
história, um papel de descontração. Entendemos que, atualmente, estas posturas foram
ultrapassadas, não porque não tenham valor em si, no caso da contextualização histórica da
1
Mestranda em História pelo programa de pós-graduação da faculdade de ciências humanas da
Universidade Federal da Grande Dourados.
narrativa literária, ou porque sejam consideradas erradas, caso de enfocar a literatura
somente como passatempo. Tais posturas se tornam ultrapassadas pelas novas questões
que se colocam aos intelectuais na contemporaneidade.
Entendamos nosso tempo, como colocou Roger Chartier2, pela já conhecida “crise dos
paradigmas”, que questionou as verdades e os modelos explicativos do real ou entendamos
nosso tempo pelo recente enfoque da globalização, dotado hoje de forte apelo, o que parece
evidente é que nos situamos no meio de uma complexificação da realidade, onde é preciso
encontrar novas formas de acesso para compreendê-la. Não longe do que diz Chartier,
Baczko3 vai dizer que a interrogação atual das ciências humanas deriva da perda da certeza
das normas fundamentadoras de um discurso cientifico unitário sobre o homem e a
sociedade.
Os historiadores que trabalham com a cultura não devem deixar-se
desanimar pela diversidade teórica, pois acabamos de entrar numa nova e
extraordinária fase em que as outras ciências humanas (incluindo-se aí, em
especial os estudos literários, mas também a antropologia e a sociologia)
4
estão nos redescobrindo.
A rigor, cada geração coloca problemas para solucioná-los, valendo-se para isso de
um arsenal de conceitos que se renova no tempo5. Os conceitos se colocam como artifícios
mentais, que se propõem a interrogar e explicar o mundo e que articulados resultam em
teorias, se é que podemos assim chamar. Não se trata, aqui no caso, de desenvolver toda
uma gama de conceitos e de redefinições teóricas orientadas das diferentes correntes que
estudam a cultura, Buscarei apenas discutir um pouco como os conceitos de representação
e do imaginário que passa pelo simbólico, perpassam a relação da história com a literatura.
2
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Á beira da Falésia: a historia entre incertezas e
inquietudes. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 2002. p. 61 – 79.
3
BAZCKO, Bronislaw. Imaginação social. IN: ROMANO, Ruggiero. Enciclopédia Einaudi. Vol5. AnthoroposHomem. Lisboa: Casa da Moeda, 1985. p.298 – 332.
4
HUNT, Lyn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p.29.
5
PESAVENTO. Sandra jatahy.Historia e literatura: uma velha-nova historia. In. COSTA, Cléria Botelho da e
MACHADO, Maria ClaraTomaz. (orgs.) Historia e Literatura: identidades e fronteiras. Uberlândia-MG:
EDUF, 2006. p.11 a 28.
Contudo, o imaginário encontra a sua base de entendimento no conceito de
representação6. Neste ponto, as diferentes posturas convergem: o imaginário é sempre um
sistema de representações sobre o mundo que se coloca no lugar da realidade, sem com
ela confundir-se, mas tendo nela o seu referente. Mesmo que os pesquisadores da história
Cultural sejam freqüentemente atacados por negarem a realidade, acusação absurda, pois,
nenhum pesquisador, em sã consciência poderia desconsiderar a presença do real. Os
pesquisadores da historia Cultural apenas parte do pressuposto de que este real é
construído pelo olhar enquanto significado, o que permite que ele seja visualizado,
vivenciado e sentido de forma diferente, no tempo e no espaço.
Ao construir uma representação social da realidade, o imaginário passa a substituí-la,
tomando o seu lugar. O mundo passa a ser tal como nos concebemos, sentimos e
avaliamos. Ou como diria Castoriadis7, a sociedade, tal como é enunciada, existe porque eu
penso nela, porque eu lhe dou existência, ou seja, significação, através do pensamento. É a
objetividade histórica gerando a subjetividade que por sua vez volta para nossa objetividade.
Admitindo a possibilidade de conjugar estrategicamente, as duas posturas, que
combinadas associariam os traços de permanência de estruturas mentais com as
configurações específicas de cada temporalidade, desembocamos na redescoberta da
literatura pela história. História e Literatura correspondem a narrativas explicativas do real
que se renovam no tempo e no espaço, mas que são dotadas de um traço de permanência
6
Sobre Representação. Cf.: BLÀZQUEZ, Gustavo. Exercícios de apresentações: antropologia social, rituais e
representações. In: MALERBA, Jurandir; CARDOSO, Ciro Flamarion. (Orgs.) Representações: contribuições a
um debate transdisciplinar. Campinas: SP, Papirus, 2000, p. 169 – 196.
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Á beira da Falésia: a historia entre incertezas e inquietudes.
Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 2002. p. 61 – 79.
FALCON, Francisco. História e representação. In: MALERBA, Jurandir; CARDOSO, Ciro Flamarion.(orgs.)
Representações: contribuições a um debate transdisciplinar. Campinas: SP, Papirus, 2000, p. 41 – 79.
GINZBURG, Carlo. Olhos de madeira. Nove reflexões sobre a distância. São Paulo: Companhia das Letras,
2001, p.85 – 103.
SILVA, Helenice Rodrigues. A história como a ‘representação do passado’: novas abordagens da historiografia
francesa. In: Representações: contribuições a um debate transdisciplinar. Campinas: SP, Papirus, 2000, p. 81 –
99.
7
CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1982. p. 139 –
197.
ancestral: os homens, desde sempre expressaram pela linguagem o mundo do visto e do
não – visto, através das suas diferentes formas: a oralidade, a escrita, a imagem e a
musica8. Assim, literatura e história são narrativas que têm o real como referente para
confirmá-lo ou negá-lo. Como narrativas, são representações que se referem à vida e que a
explicam. Contudo, vale ressaltar, que a literatura é um discurso privilegiado de acesso ao
imaginário das diferentes épocas, o texto literário nada mais é que o que poderia ter
acontecido ficando a história como a narrativa dos fatos verídicos. Todavia temos
pesquisadores que trabalham com o imaginário e que discutem não só o uso da literatura
pela história como fonte, mas coloca em pauta o próprio caráter da história como uma forma
de literatura, ou seja, como narrativa portadora de ficção, como é o exemplo da polêmica
obra de Hayden White “Metahistória”9.
Lembrando que os textos literários existiram de fato para o narrador, existiram
enquanto possibilidades, como perfis que retraçam sensibilidades. Foram reais como diria
Pesavento na “Verdade do Simbólico” que é formador de modos e costumes, de um senso
comum. O texto literário não é dotado de uma realidade que foi vivida no cotidiano, mas
parte de uma realidade porque encarnam defeitos e virtudes dos humanos, porque nos
falam do absurdo da existência, das misérias e das conquistas gratificantes da vida, porque
falam das coisas para além da moral e das normas. Segundo as leituras de Hunt sobre
Roger Chartier, para ela ele observa que as “próprias representações do mundo social são
componentes da realidade social”10.
Os documentos que descrevem ações simbólicas do passado
não são textos inocentes e transparentes; foram escritos por
autores com diferentes intenções e estratégias, e os
historiadores da cultura devem criar suas próprias estratégias
8
PESAVENTO. Sandra jatahy.Historia e literatura: uma velha-nova historia. In. COSTA, Cléria Botelho da e
MACHADO, Maria ClaraTomaz. (orgs.) Historia e Literatura: identidades e fronteiras. Uberlândia-MG:
EDUF, 2006. p.11 a 28.
9
WHITE. Hayden. Metahistoria. São Paulo: Universidade de São Paulo. 1992
10
CHARTIER. Roger. Apud HUNT, Lyn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p.09
para lê-los (...) Chartier vai ainda mais além, defendendo uma
11
crítica de documento baseada em um novo tipo de leitura.
Vale ressaltar que como diria Paul Ricoeur12 os fatos narrados na trama literária
existiram de fato para a voz narrativa. Entretanto, o processo de construção da escrita
literária não é o mesmo da escrita da história. Na escrita da historia também temos um
narrador posta na fugira do historiador que tem também tarefas narrativas a cumprir: ele
reúne os dados selecionas, estabelece conexões e cruzamentos entre eles, elabora uma
trama, apresenta soluções para decifrar a intriga montada e vale-se das estratégias de
retórica para convencer o leitor, com vistas a oferecer uma versão o mais possível
aproximada do real.
Dentro dessa perspectiva esta comunicação busca fazer uma breve analise do Livro
de pré-coisas (1985) do poeta Manoel de Barros13. Livro de pré-coisas é uma prosa-poética
de Manoel de Barros em que ele conduz o leitor para dentro do Pantanal. Nos quatro
capítulos do livro o poeta apresenta os rios, personagens e cenários do Pantanal. No
entanto, a natureza pantaneira não funciona nem como cenário, nem como arsenal retórico,
ela é a matéria-prima da poesia.
A característica principal da poesia de Barros é a utilização de lirismo e delicadeza
para falar das coisas e bichos "menos importantes" da natureza. O homem mais importante
dessa terra, segundo Barros, é Bernardo14, o primeiro habitante da cidade pantaneira, um
andarilho que atravessa a obra de Manoel de Barros.
Através da leitura desta obra, percebemos que a poesia vai se revelando de pequenas
coisas, elementos corriqueiros, aparentemente banais, mas que dentro do cenário
pantaneiro são de extrema importância, pois são esses os elementos que constroem a vida
11
Op cit: HUNT. 1995. P. 18
RICOEUR. Paul, Temps et récits. Paris: Seuil, 1983; 1985.3V.
13
BARROS, Manoel. Livro de pré-coisas: roteiro para uma excursão poética no pantanal. 4º ed. Rio de Janeiro,
Record, 2003.
14
Bernardo da Mata é um personagem real, que na ficção aparece em quase todas as obras de Manoel de Barros.
12
no Pantanal. Alguns autores como Ricardo Alexandre Rodrigues acreditam que os
elementos da poética de Barros são em geral considerados como inútil, uma vez, que
vivemos pautados em uma sociedade capitalista e imediatalista. Nesse sentido Rodrigues
analisa a obra do poeta como “a poética da desutilidade”15
A influência da esquerda, advinda de sua militância no Partido Comunista do Brasil, é
uma constante na obra de Manoel de Barros, pois como ele mesmo afirma em entrevista a
Bosco Martins16, sua poética é de esquerda porque enxerga o que o capitalismo rejeita.
Podemos obsevar ainda sua influencia esquerdista à partir do poema “O militante” publicado
na Folha de São Paulo.
O MILITANTE
Foi assim:
Eu era do Partidão.
Um dia precisei de fazer uma autocrítica.
Fi-la.
Mas não fui aprovado pela direção.
A autocrítica estava muito subjetiva – disseram.
Expliquei que eu também não era tão objetivo assim.
Me chamaram de pequeno burguês filhinho do papai.
Isso eu era.
Vai daí me afastei do Partido.
Fui mexer com palavras.
Vi que a palavra é uma coisa que não pode ficar na
boca de militantes
sob pena de morrer por clichê.
Passei a estudar o assunto.
Comecei a transver o mundo.
Inclusive só andava pelo lado esquerdo da tarde.
O que era visivelmente um vício adquirido na militância.17
Os recursos usados pelo poeta na elaboração de sua escrita são diversos. As palavras
ganham sentidos múltiplos, pois segundo o próprio poeta, “fazer defeito na frase é mais
15
RODRIGUES, Ricardo Alexandre, A poética da Desutilidade: Um passeio pela poesia de Manoel de Barros.
Dissertação (mestrado em ciência da literatura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006
16
MARTINS, Bosco. www.youtube.com/watch?=VZeUUXAEZw Acesso em 6/04/2009.
17
Poesia inédita do registro poético da fase de militância política de Manoel de Barros publicada na Folha de
São Paulo, de 14/11/1993.
saudável”18. A palavra na sua composição poética não tem um sentido só, vai além, não tem
fronteiras: “Palavra é deslimite”19.
Pode-se observar uma tendência biográfica em suas poesias, pois o sujeito lírico vai
se revelando aos poucos e construindo sua identidade. Mesmo não sabendo o local de
nascimento do autor, através de sua poesia podemos identificar sua origem. Isto ocorre
porque o sujeito lírico de Manoel de Barros demarca para o leitor uma vivência geográfica, o
Pantanal Sul-mato-grossensse construído através da matéria poética do autor. É um sujeito
contador de estórias que descreve e demarca os elementos naturais. E é a partir desta
poesia que nos é revelada aspectos do cotidiano do pantaneiro
Dentro dessa conjuntura, analisamos o que Manoel de Barros chamou de pré-coisa,
ou seja, a matéria natural (espaço/Pantanal) transformada em matéria de poesia (a précoisa), que uma vez transformada em matéria de poesia deixa de ser a coisa em si e passa
a ser apenas a anunciação da coisa, portanto, uma pré-coisa.
Neste contexto, entendemos através das poesias de Barros, que o lugar de onde parte
suas referências é o Pantanal sul-mato-grossense. Por conseguinte, quando Manoel de
Barros escreve sobre o Pantanal, não é de todo o território pantaneiro que ele está falando,
mas, especificamente, do pantanal de Mato Grosso do Sul, como fica claro em alguns
poemas, tais como Um rio desbocado, no qual o poeta nos dá a região territorial de onde
está transcrevendo, sendo esta o Pantanal do Taquari, que fica situado dentro do território
sul-mato-grossense, lembrando que território aqui existe apenas como fronteira simbólica.
A invenção de palavras que dão mais sentidos e poesia a seus poemas, também é
uma constante na obra de Barros, como por exemplo, o segundo verso deste poema
“Empeixado e cor de chumbo, o rio Paraguai flui entre árvores com sono...” Manoel de
Barros usa a palavra empeixado para dizer que o rio está cheio de peixe, para alguns
18
MARTINS, Bosco; LOPES, João Carlos; SANTINI, José. Um Privilégio nosso e de nossos leitores. Caros
Amigos. Dezembro 2008.p.39
19
BARROS, Manoel. Livro de pré-coisas: roteiro para uma excursão poética no pantanal. 4º ed. Rio de Janeiro,
Record, 2003. p 39
autores como Alexandre Ricardo Rodrigues20 estas são palavras cursivas e por isso não
formam imagem, já para outros como Maria Adélia Menegazzo21 o uso desse tipo de
linguagem é o que possibilita a construção de imagens surreais.
Outra constante, que podemos observar na obra de Manoel Barros é o
redimensionamento das figuras de linguagem como metáfora e a catacrese, que na falta de
uma palavra que expresse o sentido almejado, é aproveitada uma palavra já existente na
língua portuguesa para dar sentido.
Em Geral, os poemas de Barros assumem a função de desconstruir e construir
algumas cenas da realidade do Pantanal, trabalhando as cenas mais importantes para o
povo pantaneiro, como o rio, o mutualismo das coisas, a chuva e os meios de vida e
trabalho deste povo que, como diria Albana Xavier Nogueira22, é tão menos civilizado e tão
evoluído ao mesmo tempo, tão sábio.
Vale ressaltar que a partir do momento que o poeta redimensiona a condição das
coisas no pantanal ele conseqüentemente redimensiona a condição do homem, ainda que
igualando-os, e é justamente essa inversão que leva o poeta a construir seus personagens
sempre partindo da natureza, ou seja, todos os personagens de Barros são retirados da
natureza e interagem com as cenas do cotidiano; (Grilos, lagartos, cágados, larvas, sapo,
tênias, formigas, Arrais, tatu, vermes, crianças, homens, mulheres , Bernardo, etc. etc.).
Bernardo é um exemplo dessa condição, pois no primeiro poema do capítulo O
Personagem, onde o poeta apresenta Bernardo, Barros deixa claro que Bernardo está
pronto a poema à medida que fica comprovado sua total interação com a natureza.
Todavia, todos esses itens são revelados nos poemas a partir da importância que tais
têm para Manoel de Barros, nesse sentido, dar vida às coisas, animar, tornar expressivas
20
RODRIGUES, Ricardo Alexandre. A poética da desutilidade: um passeio pela poesia de Manoel de Barros.
Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de janeiro, 2006.
21
MENEGAZZO, M. A..A poética visual de Manoel de Barros. In: IV Congresso Internacional da Associação
Portuguesa de Literatura Comparada, 2004, Évora. Estudos literários/Estudos culturais. Évora: Ed. Universidade
de Évora/APCL, 2004. v. 3. p. 1-8.
22
C.f. NOGUEIRA, Albana Xavier: Pantanal: Homem e cultura. Campo Grande/MS: ed. UFMS, 2002
essas coisas, apresenta - se para Barros de fundamental importância, para classificar esses
seres em como indivíduos, seres dotados de vida, revelando a importância da vida desses
seres em um lócus especifico, ou seja, o Pantanal Sul-Mato-grossense. Assim esses
indivíduos partilham da existência única de viver nesse ambiente. É por isso que eles são
revelados somente a partir da sua relação com a terra e com as águas. É nesse sentido que
cabe ressaltar que o Livro de pré-coisas nos revela dois momentos o primeiro é a animação
das coisas e seres, logo a equidade dos homens em relação a outros bichos e seres
inanimados, e a segunda, a relação desses seres nesse ambiente das águas e da terra,
lembrando que as águas são de fundamental importância para a valorização das terras no
Pantanal, aumentando sua importância. Assim Manoel de Barros transfaz a matéria natural
em matéria de poesia e dá origem á pré-coisa, que não é a coisa em si, mas antes uma
anunciação da coisa.
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38. Fernanda Martins da Silva - IV Congresso Internacional de