Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – UnB – 6 a 9 de setembro de 2006
Metodologias de crítica da mídia 1
Luiz Martins da Silva 2
Universidade de Brasília (UnB)
Luiz Gonzaga Motta 3
Universidade de Brasília (UnB)
Rogério Christofoletti4
Universidade do Vale do Itajaí (Univali)
Danilo Rothberg (coordenador)5
Universidade do Sagrado Coração (USC)
Resumo
A natureza da crítica de mídia necessária à atualidade insere-se no contexto dos
sistemas de responsabilização dos meios de comunicação. No Brasil, o papel da
universidade vem se afirmando cada vez mais na área, especialmente após a criação, em
2005, da Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi), que reúne iniciativas de
crítica de mídia provenientes de ambientes de ensino superior, pesquisa e extensão. As
metodologias de crítica da atuação dos veículos de comunicação desenvolvem-se, no
âmbito da Renoi, com foco nos problemas mais contundentes, em que os meios
descumprem obrigações básicas de pluralismo, ética da informação e independência
editorial. A vigilância relevante neste contexto inscreve-se na tradição teórica da
deontologia do jornalismo e assume sua correspondência aos traços das democracias
liberais contemporâneas e, ao mesmo tempo, às especificidades da mídia brasileira.
Palavras-chave
Crítica de mídia; Renoi; ensino superior.
1
Mesa apresentada no Multicom – Colóquios Multitemáticos em Comunicação
Jornalista, desde 1974, atuou em diversos órgãos de imprensa, entre eles,: Jornal de Brasília, O Globo,
Veja e Ciência Hoje. Professor do Departamento de Jornalismo da Universidade de Brasília, desde 1988.
Coordena, na UnB, desde 1996, o projeto “SOS-Imprensa”, que trata de erros, abusos e vítimas da mídia.
Pesquisador do CNPq (desde 1990); diretor-científico do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo
(FNPJ). Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UnB.
3
Jornalista, mestre em jornalismo pela Indiana University, doutor em comunicação pela University of
Wisconsin. Foi repórter, editor, produtor de vídeo e diretor de TV. Fez estágio de pós-doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona. Publicou artigos e livros no Brasil e no exterior. Pesquisador do
CNPq, é editor da revista Brazilian Journalism Research, da SBPJor. Atualmente é professor da Universidade de Brasília (UnB), onde coordena o Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política e edita o site de crítica
da mídia chamado Mídia&Política (www.midiaepolitica.unb.br).
4
Mestre em Lingüística pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. É professor do curso de Jornalismo da Univali desde 1999 e responde pelo projeto Monitor de Mídia, website que faz acompanhamento da grande imprensa catarinense.
5
Jornalista, mestre em comunicação e doutor em sociologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista).
É docente do curso de jornalismo da USC (Universidade do Sagrado Coração) em Bauru, SP, desde 1999
e coordena o projeto Análise de Mídia, observatório acadêmico que se dedica ao acompanhamento da
atuação de mídias locais e regionais (www.usc.br/analisedemidia).
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Leitura crítica da mídia: como ultrapassar o muro de lamentações
Luiz Martins da Silva
A atividade de media criticism tem-se centrado basicamente num dos dois lados
desse sistema de check and balances, ou seja, o padrão é a leitura crítica da mídia faze ndo peso apenas para um dos lados da balança que é, propriamente, a crítica que aponta
os ERROS, ABUSOS e VÍTIMAS DA MÍDIA. É claro que esse lado é necessário e,
poder-se-ia dizer, o principal, o mais importante, pois é o que denuncia a falta de decoro
profissional. Entretanto, os próprios códigos de ética possuem, além das aberturas gerais
que apresentam “os princípios” norteadores, duas colunas: uma, que se refere ao que
DEVE fazer o profissional; e, a outra, relativa ao que o profissional NÃO DEVE. Estamos, no entanto, levantando a necessidade e, portanto, a hipótese de que procedimento
técnico igualmente necessário, válido e equilibrador da balança é a realização de leituras
críticas que apontem EXPERIÊNCIAS EXEMPLARES de conduta deontológica, face a
situações dilemáticas, sobretudo, relativas a condutas adotadas profissionalmente diante
de exigências desafiadoras. Estamos admitindo, portanto, que há circunstâncias de exceção. Exemplo típico: não se usar câmera oculta, mas, em certos casos, não há outra
maneira de se materializar uma denúncia. O modo de fazê- lo, no entanto, é que pode
trazer achados em matéria de DECORO. Se ficarmos, porém, apontando só os procedimentos indecorosos não produziremos referências propositivas.
Crítica da mídia e mobilização social
Luiz G. Motta
A proliferação dos sites de crítica da mídia é um indicador de mobilização social. Na medida em que se democratiza, a sociedade brasileira abre espaços para novas
organizações e movimentos sociais. Os sites de crítica da mídia são a sociedade civil em
marcha. O crescimento dos sites é um indicador da generalização de uma consciência
sobre a necessidade de a sociedade vigiar seus próprios meios de comunicação para
além do Estado e da Empresa. É uma manifestação da criatividade da sociedade civil na
busca de alternativas para fazer frente à ultrapassada dualidade Estado-Mercado. Entre o
Estado e o Mercado, a sociedade parecer preferir o “público”. Cada vez mais sofisticados e profissionalizados, os sites oferecem uma alternativa à censura e aos ilusórios códigos de ética das empresas. A recente propagação dos sites universitários é, por outro
lado, um sinal de que as universidades se aproximam da profissão de uma forma crítica,
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mas sem a rejeição radical de momentos acadêmicos anteriores, que serviram para aumentar o fosso entre as escolas e a profissão.
Revisão metodológica de um observatório regional de meios
Rogério Christofoletti
O Monitor de Mídia (www.univali.br/monitor) foi a primeira iniciativa de media
watching com escopo regional no Brasil, concentrando-se nos maiores jornais de Santa
Catarina. Após cinco anos de atuação, é oportuno e necessário fazer uma avaliação dos
valores- notícia que sustentaram a observação sistemática empreendida. Clareza, Correção, Precisão, Equilíbrio, Novidade, Atualidade, Singularidade, Contextualização e Regionalização ainda devem ser as balizas de um observatório como o Monitor de Mídia?
Que outros critérios poderiam se somar a esses?
Pluralismo e crítica de mídia
Danilo Rothberg
Imparcialidade e apuração da verdade são valores sob ataque de diferentes fontes
na atualidade, sejam elas de atores científicos, como filósofos, lingüistas e semioticistas,
ou de agentes de campos profissionais, como jornalistas e editores. Para além e acima
desta controvérsia, a perspectiva daqueles que afirmam o compromisso dos meios massivos de comunicação com a preservação da legitimidade de uma sociedade democrática
está na afirmação do pluralismo de informações e interpretações como meta do jornalismo. Trata-se de abranger as diversas facetas dos assuntos cobertos, não com matemática dosagem de tempo ou espaço, mas com o equilíbrio requerido para a expressão das
diversas tessituras existentes em um regime democrático. Sob este contexto, encontramse os objetivos e os procedimentos da crítica de mídia necessária hoje: a ela cabe ident ificar e radiografar as matérias em que o pluralismo é descartado, relacionando essa falha
aos problemas mais freqüentes do meio hoje, como superficialidade, fragmentação, tendenciosidade, espetacularização e tendência ao entretenimento.
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