Inovação Com Impacto:
Financiando O Desenvolvimento Do Século 21
Resumo Executivo
Um relatório de Bill Gates para os líderes do G20, Reunião em Cannes, Novembro de 2011
A liderança do G20 tem sido de extrema importância atualmente, considerando que a situação
econômica global atual é tão frágil como há 50 anos. Como líderes do G20, vocês enfrentam um difícil desafio:
como solucionar a crise imediata e ao mesmo tempo continuar a fazer investimentos inteligentes em crescimento
de longo prazo e melhores condições de vida?
Durante toda a minha vida, inovações nos negócios, na ciência e tecnologia fomentaram a economia de mercado
global de maneiras inéditas. A economia mundial é 500% maior que em 1960. Muitos países que antes viviam à
margem agora são importantes impulsionadores de crescimento. É comum enxergar o sucesso deles como milagre.
Esse progresso beneficiou todo mundo, não somente os mais ricos. Vocês podem ver o progresso no aumento do
PIB de vários países ao redor do mundo. Também é possível observar a diminuição das taxas de pobreza e outros
indicadores de qualidade de vida obtidos pelas MDGs (Millennium Development Goals), metas estabelecidas
pelos líderes mundiais em 2000 e acordadas por todas as nações participantes do G20.
Nos últimos 50 anos, um bilhão de pessoas foram salvas contra a fome após serem realizados avanços na agricultura.
A melhoria na saúde foi impressionante, graças a vacinas inovadoras, por exemplo. Em 1960, morreram 20 milhões
de crianças com menos de 5 anos de idade. Em 2010, foram menos de 8 milhões de crianças. A população mundial
mais que dobrou durante esse período, o que significa que a taxa de mortalidade foi reduzida em mais de 80%.
A ajuda comunitária desempenhou um papel importante para a conquista desses números. Apesar da crise
econômica atual, sou otimista quanto ao fato de que podemos ampliar a generosidade e as inovações que
funcionaram no passado. O grupo de países capazes de contribuir com recursos para o desenvolvimento nunca
foi tão grande, e o número de pessoas que podem impulsionar inovações é muito maior do que antes. Por todos
esses motivos, estou convencido de que podemos criar uma nova era de desenvolvimento.
A assistência tem ajudado a reduzir drasticamente a mortalidade infantil, e pode continuar reduzindo
milhões
20
A ampliação dos
recursos básicos
de saúde evitará
a morte de
27 milhões de
crianças em 2025
15
10
Vacinas + prevenção
e tratamento contra
a malária + tratamento
contra diarreia e
pneumonia + melhoria
dos cuidados neonatais
5
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
2015
2020
2025
Source: Institute for Health Metrics and Evaluation, United Nations
Neste relatório, discuto sobre os investimentos de longo prazo e as parcerias que acredito serem essenciais para
nos manter no caminho do crescimento econômico e do aumento da igualdade de direitos entre as pessoas.
Começo o relatório descrevendo a suprema importância da inovação. Inovações importantes, como novas
sementes e vacinas — e novas formas de fornecê-las aos mais pobres — podem multiplicar o impacto dos recursos
que já estamos dedicando ao crescimento. Fizemos uma grande diferença, mas ainda podemos melhorar as
ferramentas básicas de desenvolvimento, tornando-as mais viáveis economicamente, mais fáceis de usar e mais
eficientes — ou inventando ferramentas totalmente novas.
Um dos recursos mais recentes para o desenvolvimento — e provavelmente um dos mais transformadores —
é a capacidade de inovação dos países emergentes. Países como Brasil, China, Índia e México estão em uma
posição privilegiada para trabalhar com países pobres, pois possuem experiência recente na redução da pobreza,
bem como recursos técnicos enormes. Essa combinação única confere a eles as ideias e habilidades para criar
ferramentas de desenvolvimento inovadoras. Estou bastante entusiasmado com a possibilidade de estabelecer
“parcerias triangulares” entre países emergentes, doadores tradicionais e países pobres, pois eles exploram as
vantagens comparativas de muitos países diferentes.
Em última análise, os recursos internos dos países em desenvolvimento serão a maior fonte de recursos para
o desenvolvimento. Para maximizar o impacto desses recursos, os países pobres devem levantar mais fundos
e gastá-los em setores prioritários, como agricultura e saúde, o que muitos já estão comprometidos em fazer e,
seguindo a liderança dos países do G20 que criaram a avaliação de impacto, avaliar o custo-benefício de seus
programas. Uma maneira importante de os países do G20 ajudarem os países pobres a levantar fundos está em
transferir obrigações de transparência juridicamente vinculativas a empresas de mineração e petróleo listadas em
suas bolsas de valores, garantindo, assim, que os recursos naturais sejam bem utilizados.
Nesse ínterim, os doadores tradicionais devem tomar as medidas necessárias para atender aos seus compromissos de
assistência e distribuir sua ajuda de maneira estratégica. Se os países que prometeram assistência se mantiverem
firmes em seu propósito de ajudá-los, será gerada uma receita adicional de US$ 80 bilhões anualmente a partir de
2015. Com o passar dos anos, a ODA (Official Development Assistance) causou um impacto enorme, e continuará
a desempenhar um papel central no desenvolvimento, juntamente com todos os novos recursos que descrevemos
anteriormente. Uma assistência bem planejada reduz a pobreza instantaneamente e acelera o progresso dos países
Opções de financiamento e gastos com desenvolvimento
Fontes anuais ilustrativas:
US$ 8 bilhões
Investimento anual por
mais de 5 anos com base
em um fundo de
infraestrutura soberano
(SWF) de US$ 40 bilhões
US$ 80 bilhões
Atender os compromissos
com assistência
US$ 9 bilhões
Pequeno imposto sobre
transações financeiras,
implementado por
países europeus
US$ 11 bilhões
Participação global do imposto sobre
tabaco, amplamente implementado
US$ 4 bilhões
Emissão de títulos para
imigrantes que valem
1% da poupança dos
migrantes de países
em desenvolvimento
US$ 16 bilhões
Redução de 50% dos custos
com transferências de fundos
US$ 37 bilhões
Imposto global sobre
combustível naval
Usos anuais ilustrativos:
US$ 72 bilhões
US$ 93 bilhões
US$ 5 bilhões
US$ 3 bilhões
US$ 4 bilhões
US$ 34 bilhões
Atingir as MDGs
na África
Atender às
necessidades de
infraestrutura da
África
Dobrar os gastos com
P&D em agricultura
tropical, tirando
280 milhões de pessoas
da pobreza
Comprar vacinas para
todos os bebês que
vivem em países pobres
Tratar todos os casos
não resistentes de TB
no mundo todo
Responder às
necessidades de
adaptação a mudanças
climáticas no Sul da
Ásia e na África
Fontes: estimativas do Banco Mundial, Nações Unidas, FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco de Desenvolvimento Africano, OMS
(Organização Mundial da Saúde), IFPRI (Instituto Internacional de Pesquisas de Políticas Alimentares), Fundação Bill & Melinda Gates
pobres até o momento em que eles não precisarão mais dela. Existe muita pressão sobre os orçamentos assistenciais,
dadas as condições econômicas, mas a assistência constitui uma parcela muito pequena dos gastos governamentais.
O mundo não irá equilibrar suas contas reduzindo gastos com assistência, mas causará danos irreparáveis à
estabilidade global, ao potencial de crescimento da economia mundial e ao sustento de milhões de pessoas
necessitadas. No relatório, incluí algumas propostas fiscais que podem ajudar os países do G20 a cumprir seus
compromissos de assistência e quem sabe até a expandi-los.
Por fim, discuto maneiras de fazer o setor privado se envolver mais nas questões de desenvolvimento. Como homem
de negócios, acredito que o livre comércio seja o combustível para o crescimento. Infelizmente, o mercado falha
com frequência em atender as necessidades dos mais pobres, mas existem coisas relativamente simples que
podemos fazer para encorajar o investimento privado em desenvolvimento. Os países do G20, por exemplo,
poderiam facilitar um fundo de infraestrutura — com fundos soberanos como estrutura central — que gerasse
tanto impacto no desenvolvimento quanto retornos financeiros. Também faço recomendações sobre aproveitar
a credibilidade das comunidades de imigrantes, emitindo títulos, reduzindo o custo de remessas de valores e
criando mecanismos fomentadores para incentivar investimentos privados em desenvolvimento.
Quando vocês conseguirem reunir tudo isso, acredito que começarão a ter uma ideia de por que o Encontro do
G20 é um lugar importante para tratarmos sobre desenvolvimento. Podemos abandonar nossos antigos padrões
de assistência, distinguindo-os de investimentos privados e de gastos internos. Os países do G20 podem puxar
todas essas alavancas de uma só vez, oferecendo ao mundo uma abordagem mais compreensiva e cooperativa para
melhorar a vida dos mais pobres como jamais fizemos antes
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