População e alimentos Algumas notas
José Mendes Ferrão
A população mundial cresceu muito nos fins do século passado e apareceu o
conceito de explosão demográfica e por isso tem sido repetida a ideia de que os
alimentos não chegariam para alimentar todos os seres humanos que iam nascendo
ao ritmo desse fim de século.
Primeiro. A população mundial passou de mil milhões de 1900 para 6.4 mil
milhões em 2000, o que representa um aumento de 6,4 vezes num século.
Segundo. Os departamentos especializados das Nações Unidas prevêem que
por volta de 2095 a população mundial atingira entre 12 e 15 mil milhões, isto é, a
população crescera no próximo século cerca de 1,6 vezes, 0 que significa um
notável abrandamento do crescimento.
Terceiro. Os mesmos serviços prevêem que no fim do século a população
mundial tendera para a estacionaridade.
Quarto. Os crescimentos da população estão longe de ser uniformes nas
diferentes regiões do mundo. Nos países ricos os aumentos são muito pequenos e
em muitos casos preocupantes quanta à manutenção do número dos seus
habitantes. Nos países mais pobres os crescimentos são muito acentuados e em
muitos casos a possibilidade de alimentar aqueles que nascem e de lhes
proporcionar uma vida decente merece muita reflexão.
Assim, a evolução mundial da população faz encarar dois problemas
diferentes conforme se trata de países ricos ou pobres.
Quinto. A produção de alimentos tem crescido muito nos últimos anos tanto
nos países ricos como nos pobres, mais significativamente nos primeiros.
Sexto. Os países ricos debatem-se com excedentes alimentares para
manterem as suas economias em funcionamento. As ajudas alimentares, para alem
de representarem solidariedade, são influenciadas por esta realidade.
Sétimo. Dos países pobres uns tem conseguido aumentar significativamente
as suas produções de alimentos e mesmo com os aumentos da população as
disponibilidades têm aumentado, ou pelo menos não piorado, outros mantêm uma
população «per capita» em decréscimo, isto e, as disponibilidades alimentares não
têm aumentado.
Oitavo. A fome atinge cerca de 800 milhões de seres humanos (quantitativa e
qualitativa) 0 que representa mais de urn decimo da popula9Bo mundial. Verificase principal mente nos países mais pobres mas e também real nos países ricos,
onde os alimentos não faltam.
Há casos, infelizmente frequentes, em que a fome se instalou gravemente
devido a carência absoluta ou quase absoluta de alimentos, (secas prolongadas,
inundações, campos de refugiados, ataques de pragas e doenças das culturas e dos
animais, doenças dos humanos etc.). Para estes as ajudas em alimentos são
questão de vida ou de morte e se e certo que muitas vezes estes alimentos se
desviam dos caminhos que deveriam prosseguir, a realidade e que conseguem
salvar da morte muitos seres humanos.
Há infelizmente muitos casos em que os alimentos existem mas as
populações, pela sua pobreza, a eles não têm acesso fácil. A fome não é no geral
causada pela falta de alimentos mas filha da pobreza e do subdesenvolvimento.
Nos países mais pobres que tem «moeda convertível» pode comprar-se geralmente
tudo que e típico dos países ricos.
Nono. As ajudas alimentares fornecidas pelo os países ricos são importantes
para acudir a situações de emergência ou para permitir que estes povos mais
pobres possam mudar as suas estruturas produtivas, mas pod em retardar 0
desenvolvimento desses países porque não e possível produzir mais barato que um
produto oferecido.
Decimo. De ha muito que os especialistas recomendam aos governos e as
Institui90es vocacionadas para o apoio aos países mais pobres que em vez de
darem o peixe ensinem a pescar. Hoje em dia, salvo nas situações de calamidade,
em vez de se mandarem sacos de trigo deveremos ajudar a formação profissional
das pessoas destes países e fornecer - lhe os bens necessários para que eles
possam tirar partido dos seus recursos, por vezes muito grandes, mas inexplorados
ou insuficientemente explorados. S6 assim será possível fazer «desenvolvimento»
Decimo primeiro. Num mundo global, o «desenvolvimento» dos países
economicamente mais atrasados e a chave do progresso dos restantes. Se não
houver quem compre o que os países ricos produzem, as economias soçobram. Se
não houver nesses países actividades que fixem as suas populações a procura de
melhores condições de vida nos países mais desenvolvidos e mais que evidente.
Decimo segundo. S6 quem não acredita na técnica e na força da tecnologia e
que poderá ter medo que os alimentos vão ser insuficientes para uma população
em crescimento.
Decimo terceiro. Se dividíssemos a produção mundial de alimentos pelo
número mundial de habitantes, verificar-se-ia que hoje eles seriam mais que
suficientes para alimentar decentemente toda a humanidade. Naturalmente com
excessos de produção nos países ricos onde, contando apenas com o abastecimento
interno, não interessaria fazer grandes esforços para aumentar a produção de bens
alimentares e insuficiência de alimentos nalguns países mais pobres (mas não em
todos aqueles em que a fome devasta) onde a produção de alimentos deve crescer
para que haja desenvolvimento. Se neles a pobreza fosse contida, seria fácil
encontrar alimentos num mercado internacional cada vez mais aberto e
competitivo.
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