Transferências já são 37,5% da renda entre os mais pobres ZoomIndicadoresCompartilharImprimir Parcela de Bolsa Família e outros benefícios quase dobrou em 9 anos Cássia Almeida – O Globo 18/12/2014 As transferências do governo ganharam espaço no orçamento dos mais pobres. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2014, nas famílias nas quais o rendimento domiciliar per capita é de até um quarto do salário mínimo — o correspondente a R$ 170 em 2013 —, 37,5% da renda vêm dessa fonte pública, que podem ser Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada ( BPC) para idosos e deficientes mais pobres e as bolsas estaduais. Em 2004, essa parcela era de 20,3%. A participação praticamente dobrou em nove anos. — Mais que dobrou o número de famílias atendidas pelo Bolsa Família. E o BPC paga salário mínimo, que se valorizou muito nos últimos dez anos. Houve crescimento no número de beneficiários e no valor, o que explica essa participação maior — afirmou João Saboia, professor da UFRJ e especialista em mercado de trabalho. Com isso, a renda do trabalho para essa população perdeu espaço: caiu de 73,6% para 57%. Na média das famílias, a participação da renda dos benefícios, que também inclui aluguel e juros, caiu de 5,5% para 4,5%. Já a renda do trabalho caiu de 76,4% para 72,2%. Os pesquisadores do IBGE não veem relação entre a queda na força de trabalho que as pesquisas de emprego vêm mostrando e o aumento do alcance do benefício. — As transferências garantem que a renda da família não vai zerar num momento de crise, como aconteceu em 2008. Além disso, permite que o trabalhador não aceite ocupações degradantes para sobreviver. Pela distância no valor do Bolsa Família e do salário mínimo, a pessoa não vai recusar um emprego formal, com carteira assinada por causa do benefício — disse a pesquisadora Barbara Coco, coordenadora geral da Síntese. No Nordeste, o peso das transferências na renda é ainda maior. Chega a 43,8% entre os que ganham até R$ 170 por pessoa da família. Mas a renda do trabalho continuou crescendo para os mais pobres, mesmo perdendo participação nos ganhos totais. Enquanto o salário de 2004 a 2013 subiu 42,1%, na média, para os 20% mais pobres a alta foi de 84,8%. Mesmo assim, a concentração de renda ainda é muito alto no Brasil: os 10% mais ricos acumulam 41,7% da renda total, enquanto os 10% mais pobres, apenas 1,2%. Essas proporções eram de 45,8% e 1% em 2004, respectivamente.