BARCELOS, Ana Maria Ferreira. Reflexões acerca da mudança de crenças sobre ensino e aprendizagem de línguas. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 7, n. 2, p. 109-138, 2007. RESENHA O artigo intitulado “Reflexões acerca da mudança de crenças sobre ensino e aprendizagem de línguas” trata-se do resultado de uma palestra proferida pela autora na IX Semana de Letras: “As Letras e seu ensino”, em setembro de 2006, na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana, MG. Ana Maria Ferreira Barcelos é professora da Universidade Federal de Viçosa e o principal foco de suas pesquisas são as crenças sobre aprendizagem de línguas estrangeiras, formação de professores, crenças de alunos sobre aprendizagem de inglês, crenças e emoções. A autora apresenta como objetivo do artigo tecer considerações e reflexões a respeito da mudança de crenças de alunos e professores em relação à aprendizagem de línguas em Linguística Aplicada (LA) e, para tanto, recorre a um arcabouço teórico retomando alguns conceitos de crenças e discutindo o conceito de mudança, bem como a relação entre crenças e ação. Neste artigo, a autora busca responder a estes principais questionamentos: a) o que é mudança? b) é possível mudar as crenças? c) como? d) quais fatores favorecem ou dificultam a mudança de crenças? E encerra o texto com possíveis implicações para o ensino e aprendizagem de línguas. Já na introdução, a autora recorre à definição de Borg (2003) para justificar sua pesquisa visto que o autor sugere que compreender a mudança nas crenças de professores seja objeto de pesquisas futuras. Por haver poucas pesquisas na área, Barcelos (2007) apresenta o artigo como relevante. É também na introdução que a autora apresenta o objetivo principal do trabalho que é refletir acerca da mudança de crenças verificando quais fatores são favoráveis e quais são inibidores nesse processo e o que fazer para encorajar as mudanças de crenças em professores, desde que sejam desejáveis. Acredito que ao pensarmos em mudanças desejáveis, há de se pensar ainda no porque e para que seriam ‘desejáveis’ tais mudanças, o que a autora não explicita. Na seção seguinte, Barcelos aponta várias definições de crenças para, enfim, retomar aquela que servirá como fundamentação básica da pesquisa, que é a definição apontada pela própria autora no ano anterior. Essa definição aponta crenças como uma forma de pensamento, construções de realidade, maneiras de ver e perceber o mundo construídas pelas experiências a partir de um processo interativo de interpretação e significação (BARCELOS, 2006). Barcelos ressalta ainda que essa definição é resultado do trabalho de outros autores (como KAJALA, 1995; KAJALA, BARCELOS, 2003; BARCELOS, 2000, 2001, 2004, 2006; RICHARDSON, 1996; BORG, 2003) e que, atualmente, as crenças podem ser caracterizadas como dinâmicas, emergentes, experienciais, mediadas, paradoxais, relacionadas à ação de uma maneira direta e complexa, não tão facilmente distintas do conhecimento, explicando, de forma clara, cada uma de tais categorias. É também nesta seção que a autora discorre sobre algumas crenças mais comuns em relação à aprendizagem de línguas tais como: a) só se aprende uma língua estrangeira no exterior; b) não é possível aprender inglês em uma escola pública e c) é preciso falar com um nativo para aprender a língua estrangeira. Segundo Barcelos (2007), compreender e falar sobre as crenças no ensino e aprendizagem de línguas é de suma importância para compreender o comportamento dos aprendizes, compreender como as crenças contribuem para a ansiedade dos alunos durante o processo de aprendizagem, à utilização de diferentes métodos e ainda a compreensão das crenças de professores e alunos pode prevenir um possível conflito entre eles. Após apontar a definição de crenças utilizada, a autora discorre sobre o conceito de mudanças e, do mesmo modo, recorre a alguns autores que já definiram este termo. Fullan (1991, p. 36) aponta mudança como “transformação de realidades subjetivas” enquanto Freeman (1989) compreende que a mudança não necessariamente significa fazer algo de maneira diferente, mas pode ser uma mudança na consciência. A autora apresenta ainda a importância do contexto para a mudança, apresentada por Almeida Filho (1993) que sugere que só há mudança nas rupturas de conceitos, ou seja, de nada adiantaria a mudança em materiais didáticos, recursos e afins se não houver uma mudança nas crenças dos professores e aprendizes. Por fim, apresenta a definição de Simão, Caetano e Flores (2005) como adotada no artigo. Essa definição aponta que a mudança é algo que demanda tempo e é resultado de um processo que necessita de “novas formas de pensar e de entender a prática”. Na seção seguinte, “Aspectos relacionados à mudança de crenças”, Barcelos (2007) faz um apontamento de grande importância para a compreensão da mudança de crenças: a natureza das crenças. Através da metáfora de um átomo que, segundo a autora, Rokeach (1968) usou para comparar à estrutura das crenças. Essa metáfora indica que assim como um átomo, as crenças se agrupam formando aquelas mais centrais (e, portanto, mais difíceis de serem modificadas) e as crenças mais periféricas, menos resistentes à mudança. Para melhor compreender esse conceito, é apresentada uma imagem, recurso que torna o texto bastante didático. Posteriormente, a autora discorre sobre a relação entre crença e ação. Segundo Barcelos (2007) a primeira relação é de causa e efeito, visto que as crenças exercem influencia direta nas ações, e aponta que alguns autores defendem que para que as ações sejam mudadas é necessário mudar primeiro as crenças, enquanto outros defendem o contrário. Já a segunda relação é interativa, aquela que crenças influenciam as ações e vice-versa. A terceira é a hermenêutica, que situa as ações do professor em cada contexto de ensino para que assim as crenças do professor possam ser divergentes, ou seja, mudam a cada contexto. Autora enfatiza que os fatores contextuais são de extrema importância nessas relações entre crenças e ação e complementa que podem exercer maior influência do que as próprias crenças. Na seção seguinte: “Condições para mudanças de crenças”, a autora aponta alguns estudos que investigaram possíveis mudanças a partir de práticas diversas. Um exemplo é de Blatyta (1999) que investigou o processo de mudança na abordagem de uma professora e que apontou uma “relação dialógica” com “ movimentos de aproximação e de afastamento” como cita Barcelos (2007). A partir de análises de algumas pesquisas, a autora sugere que as mudanças de crenças e de ações ocorrem de maneira gradual e em longo prazo, o que de fato é coerente. Acredito que a autora tenha sido feliz em sua colocação de que as mudanças de crenças sejam um processo de reconstrução e mobilização de teorias pessoais e ainda que não são algo fixo, mas sim, dinâmico que requer idas e vindas , reconstruções e ressignificações. Richard, Gallo e Renandya (2001), segundo Barcelos (2007), apontam que “a noção da mudança nas crenças de professores é multidimensional e engatilhada por fatores pessoais, bem como pelos contextos profissionais em que os professores trabalham.” Nas considerações finais, a autora retoma alguns conceitos discutidos durante o texto, complementando com suas considerações. O trabalho de Barcelos (2007) é, sem dúvidas, enriquecedor, tanto para os estudiosos da area, visto que apresenta e discute diversos conceitos de autores diferentes, quanto para os leigos nas pesquisas de crenças, pois a autora utiliza uma linguagem clara e bastante compreensível.