ESTIMATIVA VISUAL E GONIOMETRIA UNIVERSAL PARA AVALIAÇÕES DA AMPLITUDE ARTICULAR ESTÁTICA DO COTOVELO Rodrigo Luis Ferreira da Silva¹; Renato Ramos Coelho²; Estélio Henrique Martin Dantas³. Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 RESUMO Objetivo: O presente estudo visou avaliar o grau de confiabilidade intra e interexaminador de medidas da ADM, do posicionamento angular estático do cotovelo, realizadas por meio da estimativa visual e da goniometria, bem como estabelecer o grau de correlação entre estas técnicas avaliativas. Método: A tomada de medida dos ângulos foi realizada em 03 dias diferentes, com intervalos de uma semana entre estes e repetindo-se os mesmos avaliados, examinadores e ângulos. Em cada um dos dias de procedimentos avaliativos os 10 avaliados tiveram sua articulação do cotovelo direito estabilizada por chapas de ferro e mensurada, por 02 examinadores, com cada uma das técnicas de avaliação empregadas perfazendo, ao final dos três dias, um total de 60 avaliações por técnica. Resultados: A confiabilidade intraexaminador para estimativa visual obteve valor de 0,26 (baixo; p=0,03) e a goniometria de 0,69 (moderado; p=0,00). O valor de confiabilidade interexaminador para estimativa visual foi de 0,66 (moderado; p=0,00), e para goniometria de 0,84 (alto; p=0,00). O teste de Spearman demonstrou uma correlação de 0,63 entre as duas técnicas e o teste de Wilcoxon demonstrou que não houve uma diferença significante entre as mesmas (p=0,13). Conclusões: Observou-se que a técnica goniométrica obteve melhores índices de confiabilidade intra e interexaminador do que a estimativa visual, além de uma correlação média alta (r = 0,63) entre estas técnicas, empregando-se o referido roteiro metodológico de avaliações. Palavras-Chave: Medida de movimento articular; estimativa visual; goniometria articular; cotovelo. ABSTRACT Objective: This study dedicated itself to evaluate realiability degree intra and interrater of ROM measurements, elbow static range position done by visual estimate and goniometry and also establish the correlation degree between these evaluation techniques. Method: the collection of the angles measurements was done in three different days, with stops of a week between them and repeating the same evaluated people, examinators and angles. In each of the days the evaluative procedures the ten evaluated people got their joints of the right elbow stabilized by steel plates and measured by two examinators each of them with one of the techniques, totalizing sixty evaluations by technique. Results: The reliability intrarater for visual estimate got 0,26 (down value; p=0,03) and goniometry 0,69 (moderate value; p=0,00). The reliability value interrater by visual estimate was 0,66 (moderate value; p=0,00), and for goniometry of 0,84 (high value; p=0,00). The Spearman test demonstrated a correlation of 0,63 between the two techniques and the Wilcoxon test demonstrated that it did not have a significant difference between the same ones (p=0,13). Conclusions: It was noted that the goniometric technique got better rates of reliability intra and interrater than visual estimate, beyond a medium high correlation (r = 0,63) between these techniques it was used the referred methodological script of evaluations. Keywords:Articular measurament of the movement; visual estimate; articular goniometry; elbow. ¹Professor titular da UEPA e FIT; Fisioterapeuta Mestre em Motricidade Humana, [email protected] ²Professor da Universidade Presidente Antônio Carlos/MG, Fisioterapeuta Mestre em Motricidade Humana, [email protected] ³Professor da Universidade Castelo Branco/RJ. Livre docente pela UFF, Profissional de Educação Física Pós Doutor em Psicofisiologia e em Fisiologia do Exercício. Bolsista de produção científica do CNPQ. [email protected] 82 1 INTRODUÇÃO Cada vez mais os fisioterapeutas têm aprofundado os seus estudos sobre a área de medidas e avaliações das principais variáveis do condicionamento físico. Dentre estas variáveis pode-se mencionar a amplitude articular de movimento (ADM) que é um importante componente na avaliação física e que permite constatar limitações articulares que causam incapacidades funcionais, bem como permite aos profissionais: determinar as estruturas que precisam de tratamento direcionado e acompanhar de modo quantitativo a eficácia das intervenções terapêuticas durante a reabilitação (FERREIRA DA SILVA et al, 2009; TEVEITA et al, 2008; BATISTA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006a; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b). Vale ressaltar que para mensurar adequadamente a ADM é necessário seguir protocolos adequados e utilizar os padrões referenciais apresentados na literatura científica. Além disso, é primordial a escolha de um equipamento e/ou técnica que atenda as necessidades desses protocolos e que seja utilizado corretamente (SACCO et al, 2007; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b). O goniômetro universal é tido como o instrumento mais empregado para medida de ADM na prática clínica fisioterapêutica (SACCO et al, 2007; BATISTA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b), já existindo diversos estudos que comprovam sua validade (BATISTA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006a; VENTURINI et al, 2006b). No entanto, a relativa morosidade para a aplicação dos testes goniométricos, que exigem certo grau de rigor e de experiência profissional (ARAÚJO; GIL, 2008), acaba por estimular o desuso desta técnica pelos profissionais mais jovens, popularizando procedimentos menos confiáveis, como a estimativa visual (MENADUE et al, 2006; NORKIN; WHITE, 2003). Norkin e White (1997) afirmam que as medidas obtidas com o goniômetro são mais precisas e confiáveis do que as estimativas visuais, mesmo quando estas últimas são realizadas por um examinador qualificado, uma vez que fornecem apenas informações subjetivas. Apesar destes pressupostos, Watkins et al (1991) relataram em seu estudo valores de boa confiabilidade e objetividade no emprego da estimativa visual para avaliação de ADM. Contudo, Terwee et al (2005) localizaram, em um ensaio envolvendo movimentos ativos e passivos do ombro sadios e lesionados, baixos índices de confiabilidade interexaminador para avaliações deADM por estimativa visual. Ponderadamente, Norkin e White (1997) ainda consideram que esta técnica pode ser útil quando realizada antes da goniometria, comparando-se a medida estimada com a goniométrica, para minimizar os erros de leitura desse instrumento. 83 Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 Dentro deste contexto a avaliação da ADM vem merecendo uma abordagem especial em relação aos instrumentos, técnicas e protocolos, principalmente no que diz respeito a aspectos como confiabilidade e reprodutibilidade (FERREIRA DA SILVA et al, 2009; TEVEITA et al, 2008; SACCO et al, 2007; BATISTA et al, 2006; BARAÚNA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006a; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b; COELHO, 2006; LIN; YANG, 2006; SPRIGLE et al, 2003; ELIS; BRUTON, 2002; WATKINS et al, 1991). Diante deste contexto, surgiu à necessidade de avaliar o grau de confiabilidade de avaliações da ADM, realizadas por meio da estimativa visual e da goniometria, assim como estabelecer o grau de correlação entre a estimativa visual e a goniometria, uma vez que esta última além de ser bastante empregada na prática fisioterapêutica, é considerada técnica validada (BATISTA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006a; VENTURINI et al, 2006b) e que, portanto pode servir de comparação para o estabelecimento de uma validação cruzada de outros métodos avaliativos daADM. Baseado no exposto o presente estudo visou avaliar o grau de confiabilidade intra e interexaminador de medidas daADM, do posicionamento angular estático do cotovelo, realizadas por meio da estimativa visual e da goniometria, bem como estabelecer o grau de correlação entre estas técnicas avaliativas. Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 2 METODOLOGIA Neste estudo experimental quantitativo os valores obtidos para aADM da articulação do cotovelo pelas técnicas de estimativa visual e goniometria foram confrontados entre si. Aamostra deste estudo foi dividida em dois grupos distintos, que foram selecionados randomicamente: O grupo dos avaliados foi selecionado à partir de um universo composto por 123 indivíduos do gênero masculino com idade variando entre 19-25 anos (22 + 2,79anos) sem histórico de patologias ortopédicas e/ou neurológicas que interferissem na mobilidade e anatomia normal dos ossos no membro superior direito (MSD). Foram sorteados 10 indivíduos para integrarem a amostra serviu de objeto de estudo, para avaliação da ADM de seu cotovelo direito. O grupo dos examinadores (GE) selecionado à partir de um universo constituído exclusivamente por fisioterapeutas, com idade variando entre 23-25 anos (24 + 1,41) e todos com pelo menos dois anos de experiência profissional. Deste grupo se sorteou os dois profissionais que integraram o GE que teve como tarefa mensurar aADM dos cotovelos direitos dos indivíduos que compunham o grupo de avaliados. Padronizou-se que cada um dos 10 avaliados deveria ter a sua ADM do cotovelo mensurada três vezes, por cada um dos dois examinadores, com cada uma das técnicas de avaliação, perfazendo um total de 60 avaliações por técnica. O presente trabalho buscou atender as diretrizes e normas da resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996, quanto à realização de pesquisas com seres humanos e obteve parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Pará/STM (Protocolo nº 048/2008) e da Universidade Castelo Branco/RJ (Protocolo nº 0148/2008). A pesquisa de campo foi desenvolvida no período de janeiro a fevereiro de 2009, no laboratório de Recursos Terapêuticos Manuais da UEPAem Santarém. Atomada de medida dos ângulos foi realizada com os avaliados tendo sua articulação do cotovelo direito 84 estabilizada por chapas de ferro retorcido que possuíam, entre si, ângulos diversos. Dentre estes ângulos apenas um repetia-se por cinco vezes e serviu como o ângulo chave da pesquisa. Foram utilizados outros ângulos intercalados ao ângulo chave, para evitar a possível memorização por parte dos examinadores. Vale ressaltar que em nenhum momento os examinadores tiveram acesso ao valor do ângulo existente entre as chapas de ferro retorcido e que a comunicação entre os examinadores foi evitada (cegada) durante a realização das medidas. Os procedimentos avaliativos desta experimentação científica foram executados em três dias diferentes, com intervalos de uma semana entre estes. Em cada um dos dias de procedimentos avaliativos os examinadores tomavam uma medida do ângulo chave, em cada um dos avaliados, com cada uma das duas técnicas empregadas. Os avaliados ficavam em uma sala separada dos examinadores, com o MSD estabilizado por meio de chapas de ferro retorcido, mantendo a articulação do cotovelo em ângulo fixo. Somente cinco indivíduos recebiam a fixação com as chapas de ferro, com o ângulo de interesse para o estudo, enquanto os demais recebiam a estabilização com chapas de ferro fixadas em outros ângulos. Cada examinador entrava individualmente nesta sala e realizava a palpação das estruturas ósseas de referência em cada avaliado, demarcando-as com uso de marcador metálico circular (Figura 1). Os pontos de referência foram: o epicôndilo lateral do úmero, a borda lateral do acrômio e o processo estilóide do rádio. Foram empregados marcadores coloridos com intuito de identificar cada examinador. Após a demarcação, o avaliado era posicionado em pé e em perfil, á frente de uma parede de fundo claro, e com o lado direito de seu corpo voltado ao examinador. O úmero do membro avaliado foi sempre posicionado em alinhamento com a linha média lateral do tronco e o cotovelo foi estabilizado em máxima supinação para todas as avaliações de ADM, para as duas técnicas de medida utilizadas. Figura 1. Palpação e demarcação dos pontos ósseos de referência para a posterior avaliação da ADM estática do cotovelo. Fonte: Arquivo do autor (2009). 85 Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 Para a realização das diferentes avaliações da ADM deste experimento, foi estabelecida a seguinte padronização, em cada dia de avaliação: Neste momento o examinador dava então início a sua seqüência de avaliações iniciando pela técnica de estimativa visual e seguindo-se ao registro com o uso do goniômetro. À medida que cada examinador completava sua seqüência de demarcações e avaliações, ocorria à troca de examinador, sendo seguidos os mesmos passos até que ambos tivessem realizado este mesmo procedimento uma primeira vez. Após os examinadores terem palpado, demarcado e mensurado todos os ângulos dos avaliados pela primeira vez, estes últimos realizavam então a troca das fixações de ferro, de maneira que outros cinco voluntários fossem estabilizados com as chapas de ferro correspondentes ao ângulo chave. Uma nova seqüência de avaliação era cumprida até que os dois examinadores tivessem novamente palpado, demarcado e mensurado todos os ângulos dos avaliados. Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 Desta maneira, ao final destes três dias de avaliações obteve-se: três medidas de estimativa visual e três medidas goniométricas, de cada examinador em cada um dos avaliados. Para a tomada das medidas angulares com cada uma das duas técnicas avaliativas, foram empregados procedimentos distintos e específicos: Estimativa Visual Após a palpação e demarcação das estruturas ósseas de referência para tomada de ADM do cotovelo em cada avaliado, o examinador observava o ângulo formado nos cotovelos dos avaliados e opinava sobre seus valores em graus, que eram registrados em planilhas pelo autor da pesquisa (Figura 2). Figura 2. Avaliação da ADM estática do cotovelo pelo método da estimativa visual. Fonte: Arquivo do autor (2009). Goniometria Após a palpação e demarcação das estruturas ósseas de referência para tomada de ADM do cotovelo em cada avaliado, o examinador alinhava um goniômetro metálico, tamanho grande, da marca Baseline Stainless, de acordo com o recomendado por Norkin e Whrite (1997): O centro do goniômetro alinhado ao 86 87 Tabela 1. Confiabilidade intraexaminador das medidas de dois examinadores, para as medidas do ângulo chave, pela técnica da Estimativa Visual. Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 CCI: Coeficiente de Correlação Intraclasse; p: Nível descritivo do teste de significância estatística (intervalo de confiança de 25%). Observa-se que, com a técnica de estimativa visual, os examinadores Ae B apresentaram valores baixos de confiabilidade. Quando as avaliações dos dois examinadores foram analisadas conjuntamente, também se observou um baixo nível de confiabilidade intraexaminador. Para a goniometria, os resultados demonstraram confiabilidade baixa para o examinador A e moderada para o avaliador B. Na análise de todos os achados colhidos pelos examinadores, observou-se uma confiabilidade apenas moderada. Os achados para confiabilidade interexaminador, em cada uma das três rodadas de medidas obtidas pelas duas técnicas estudadas, encontram-se na Tabela 2. Tabela 2. Confiabilidade Interexaminador das medidas de quatro examinadores para as ADM de um ângulo fixo da articulação do cotovelo de 10 indivíduos, como o uso da Estimativa Visual e da Goniometria. CCI: Coeficiente de Correlação Intraclasse; p: Nível descritivo do teste de significância estatística (intervalo de confiança de 25%). 88 Na Tabela 2 observa-se que com a técnica da estimativa visual, os examinadores alcançaram valores muito baixos de confiabilidade para as medidas da primeira e terceira rodadas, enquanto que para a segunda rodada observou-se alta confiabilidade. Na análise dos dados de todas as três rodadas de avaliação, foi observado um moderado grau de confiabilidade. Esta mesma tabela apresenta, para a técnica goniométrica, valor de moderada confiabilidade para a primeira rodada de medidas, muito alta para a segunda, e alta para a terceira rodada, o que resultou em uma alta confiabilidade também quando foram analisados os dados de todas as três rodadas de avaliação em conjunto. Tabela 3. Valor da correlação entre a média das medidas obtidas pela Estimativa Visual e pela Goniometria. SD: Desvio Padrão; N: Tamanho da amostra; p: Nível descritivo do teste de significância estatística. Quanto à comparação estatística entre os valores obtidos pelas duas técnicas, o teste de Wilcoxon, demonstrou que não houve uma diferença significante entre as mesmas (Z = -1,49; p=0,13). 4 DISCUSSÃO Corroborando com as afirmativas de Norkin e Writh (1999) e os achados de Watkins et al (1991) e Andrade et al (2003), os resultados obtidos neste estudo demonstraram uma perceptível maior confiabilidade para a técnica goniométrica sobre a estimativa visual, tanto para uma análise dos dados individuais de cada examinador, como para uma análise em conjunto dos examinadores em cada dia de avaliação. Com relação à confiabilidade intraexaminador os resultados com o uso da técnica de estimativa visual, discordam do observado por Croft et al (1994), que obteve em sua pesquisa níveis alto e muito alto para este tipo de confiabilidade. A comparação entre estes estudos, porém, é de difícil análise devido às grandes diferenças metodológicas entre eles, uma vez que Croft et al (1994) observou as avaliações pela estimativa visual daADM ativa dos 89 Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 Os valores de correlação entre estas técnicas são exibidos na Tabela 3, demonstrando a existência de uma correlação media alta (0,63) entre as medidas obtidas pelas técnicas de Estimativa Visual e Goniometria (p < 0,05). movimentos do ombro de apenas seis pacientes. Para as medidas goniométricas, foram obtidos dois níveis de confiabilidade intraexaminador (baixo e moderado) para os dois examinadores, demonstrando uma possível diferença quanto à habilidade para realizar este procedimento, entre os mesmos. Existem inúmeros outros exemplos de estudos que também observaram estes níveis de confiabilidade para as avaliações goniométricas (FERREIRA DA SILVA et al, 2009; MUTLU et al, 2007; VENTURINI et al, 2006a; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b), mesmo que não necessariamente em um mesmo ensaio científico, como o que foi constatado no presente. Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 Em relação aos índices de confiabilidade interexaminador uma grande variedade de níveis também foi observado, principalmente para as avaliações pela goniometria. Em comparação aos resultados de Watkins et al (1991), os mesmos não são totalmente concordantes no que diz respeito aos índices de confiabilidade interexaminador para estimativa visual, uma vez o referido autor observou surpreendentes valores favoráveis (alto e muito alto) deste tipo de confiabilidade em seu estudo, enquanto que no presente, foram observados predominantemente valores de baixa confiabilidade. Mais uma vez a comparação entre os estudos, torna-se de difícil análise, levando-se em consideração os diferentes arranjos metodológicos empregados, uma vez que Watkins et al (1991) analisou a ADM passiva do joelho de 43 pacientes. Croft et al (1994), por sua vez, também encontrou baixos índices de confiabilidade interexaminador para a estimativa visual, assim como Terwee et al (2005) avaliando igualmente a mobilidade ativa da articulação do ombro de 201 pacientes. Estes índices também se observaram no presente estudo para as avaliações estáticas daADM do cotovelo de 10 indivíduos. Os bons resultados quanto a confiabilidade interexaminador, com o uso de goniômetro, obtidos no presente estudo concordam com os achados de Watkins et al (1991), Mutlu et al, (2007) e Ferreira da Silva (2009), e conflitam com a afirmativa de Venturini et al (2006a) de que a goniometria possui reprodutibilidade limitada quando suas medidas provêm de diferentes avaliadores. A análise dos achados de confiabilidade interexaminadores, intrigantemente revelou ainda que o segundo dia (rodada) de medidas foi perceptivelmente o mais favorável tanto para o uso da técnica de estimativa visual quanto para a goniometria, não sendo encontrado, até o presente, estudos com resultados similares, ou ainda uma explicação pertinente. Percebe-se ainda que os resultados para a confiabilidade interexaminadores foram superiores aos resultados da confiabilidade intraexaminadores, demonstrando uma maior reprodutibilidade das medidas do ângulo chave quando se considerou as medidas alcançadas pelos diferentes examinadores em um mesmo dia. Este fato contradiz a afirmação de Youdas et al (1993), ao descreverem que a confiabilidade intraexaminador geralmente é maior que a confiabilidade interexaminador, por ser mais fácil reproduzir os resultados quando um único examinador realiza as medidas. 90 Contudo o intervalo de tempo de 07 dias, entre cada momento de avaliação, pode ter influenciado para a obtenção de valores baixos de confiabilidade intraexaminador para as duas técnicas. Esta observação já foi empregada por Venturini et al (2006a), na análise de seu estudo sobre a avaliação da amplitude da articulação do tornozelo, padronizando um intervalo de 02 dias entre suas medidas. Estes autores observaram ainda que a maioria dos estudos que apontam bons resultados, deste tipo de confiabilidade, padronizam um intervalo de tempo igual ou inferior a 15 minutos entre as avaliações. O longo intervalo de tempo empregado na presente pesquisa pode ter contribuído, por exemplo, para que os examinadores mudassem a sua padronização palpatória, necessária na definição dos pontos ósseos de referência, em cada dia de avaliação. Percebe-se, portanto, que o intervalo de tempo entre as avaliações pode ser um importante fator de imprecisão de medidas angulares, mesmo quando tomadas pelo mesmo examinador. Contudo, Terwee et al (2005) localizou, baixos índices de confiabilidade interexaminador para avaliações de ADM por estimativa visual, empregando o espaço de apenas uma hora entre as avaliações, denotando que para a estimativa visual, mesmo pequenos intervalos de tempo entre as avaliações não seja suficiente para melhorar os seus índices de confiabilidade. Por fim o grau de correlação entre estas técnicas (média alta), discorda dos resultados de Andrade et al (2003) analisando avaliações deADM para movimentos ativos do ombro, e do que também já havia sido constatado por Watkins et al (1991) analisando movimentos passivos do joelho, que observaram pouca concordância nos resultados destas duas técnicas. Contudo este achado reforça a afirmação de Norkin e Writh (1999) de que a técnica de estimativa visual somente pode ser útil quando realizada antes da goniometria. 5 CONCLUSÃO Os achados deste estudo apontam, por tanto, para baixo índice de confiabilidade intraexaminador e moderada confiabilidade interexaminador para a estimativa visual, enquanto a goniometria demonstrou moderado índice de confiabilidade intraexaminador, além de alta confiabilidade interexaminador. Além disso, a correlação media alta entre estas técnicas sinaliza para uma boa aplicação clínica em conjunto destes dois métodos avaliativos, desde que se empregando a estimativa visual como técnica auxiliar para a goniometria. 91 Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 No que diz respeito à análise dos dados goniométricos, este fato também justificaria os melhores resultados obtidos para confiabilidade interexaminadores, uma vez que esta é resultado da combinação dos dados de todos os examinadores em um mesmo dia de avaliação. REFERÊNCIAS Andrade JA, Leite VM, Teixeira-Salmela LF, Araújo PMP, Juliano Y. Estudo comparativo entre os métodos de estimativa visual e goniometria para avaliação das amplitudes de movimento da articulação do ombro. Acta Fisiatr 2003;10(1):12-6. Araújo C, Gil S. Avaliação da Flexibilidade: Valores Normativos do Flexiteste dos 5 aos 91 Anos de Idade. Arq Bras Cardiol 2008;90(4):280-7. Baraúna MA, Duarte F, Sanches HM, Canto RST, Malusá S, Campelo-Silva CD, Ventura-Silva RA. Avaliação do equilíbrio estático em indivíduos amputados de membros inferiores através da biofotogrametria computadorizada. Rev Bras Fisioter 2006;10(1):83-90. Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 Batista LH, Camargo PR, Aiello GV, Oishi J, Salvini TF. Avaliação da amplitude articular do joelho: correlação entre as medidas realizadas com o goniômetro universal e no dinamômetro isocinético. Rev Bras Fisioter 2006;10(2):193-8. Coelho RR. Validade e reprodutibilidade de um protocolo de avaliação de amplitude de movimento da articulação do joelho pela biofotogrametria computadorizada [Dissertação de Mestrado]. Rio de janeiro: Universidade Castelo Branco; 2006. Croft P, Pope D, Boswell R, Rigby A; Silman, A. Observer variability in measuring elevation and external rotation of the shoulder. Br J Rheumatol 1994;33:942-6. Ellis B, Bruton A. A study to compare the reliability of composite finger flexion with goniometry for measurement of range of motion in the hand. Clin Rehabil 2002;16:562–70. Ferreira da Silva RL, Coelho RR, Barreto GA, Aguiar JP, Dos Santos PO, Dantas EHM. Comparação entre a avaliação da amplitude articular estática do cotovelo por meio de três diferentes métodos: goniometria, biofotogrametria e goniometria da imagem radiológica. Fisioter Bras 2009;10(2):106-12. Lin J-J, Yang J-L. Reliability and validity of shoulder tightness measurement in patients with stiff shoulders. Man Ther 2006;11(2):146-52. Menadue C, Raymond J, Kilbreath SL, Refshauge KM, Adams R. Reliability of two goniometric methods of measuring active inversion and eversion range of motion at the ankle. BMC Musculoskelet Disord 2006;7:607. Mutlu A, Livanelioglu A, Gunel MK. Reliability of goniometric measurements in children with spastic cerebral palsy. Med Sci Monit 2007;13(7):323-9. Norkin CC, White DJ. Measurement of Joint Motion: A Guide to Goniometry . 3rd. Philadelphia: F. A. Davis Company; 2003. Paula RH, Vale RGS, Dantas EHM. Relação entre o nível de autonomia funcional de adultos idosos com o grau de fadiga muscular aguda periférica verificado pela eletromiografia. Fitness & Performance Journal 2006;5(2):95-100. Portney LG, Watkins MP. Reliability. In: Portney LG, Watkins MP. Foundations of clinical research applications to pratice. New Jersey: Prentice-Hall; 2000. Sacco ICN, Alibert S, Queiroz BWC, Pripas D, Kieling I, Kimura AA, Sellmer AE, Malvestio RA, Sera MT. Confiabilidade da fotogrametria em relação à goniometria para avaliação postural de membros inferiores. Rev Bras Fisioter 2007;11(5):411-7. 92 Sprigle S, Flinn N, Wootten M, McCorry S. Development and testing of a pelvic goniometer designed to measure pelvic tilt and hip flexion. Clin Biomech 2003;18:462–5. Terwee CB, Winter AF, Scholten RJ, Jans MP, Devillé W, Van Schaardenburg D, Bouter LM. Interobserver reproducibility of the visual estimation of range of motion of the shoulder. Arch Phys Med Rehabil 2005;86:1356-61. Tveitå EK, Ekeberg OM, Juel NG, Bautz-Holter E. Range of shoulder motion in patients with adhesive capsulitis; intra-tester reproducibility is acceptable for group comparisons. BMC Musculoskelet Disord 2008;9:49-57. Venturini C, Ituassú NT, Teixeira LM, Deus CVO. Confiabilidade intra e interexaminadores de dois métodos de medida de amplitude ativa de dorsiflexão do tornozelo em indivíduos saudáveis. Rev Bras Fisioter 2006a;10(4):407-11. Venturini C, André A, Aguilar BP, Giacomelli B. Confiabilidade de dois métodos de avaliação da amplitude de movimento ativa de dorsiflexão do tornozelo em indivíduos saudáveis. Acta Fisiatr 2006b;13(1):39-43. mates of knee range of motion obtained in a clinical setting. Phys Ther 1991;71(2):90-6. Youdas JW, Bogard CL, Suman VJ. Reliability of goniometric measurements and visual estimates of ankle joint active range of motion obtained in a clinical setting. Arch Phys Med Rehabil 1993;10:1113-18. 93 Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011 Watkins MA, Riddle DL, Lamb RL, Personius WJ. Reliability of goniometric measurements and visual esti-