Anais do Conic-Semesp. Volume 1, 2013 - Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3. ISSN 2357-8904 TÍTULO: AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DOS INGRESSANTES NO CURSO DE NUTRIÇÃO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: NUTRIÇÃO INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO AUTOR(ES): RENATA DEVEZAS ISMAEL FRANCISCHI, ADRIANA MARIA DA SILVA ORIENTADOR(ES): PRISCILA GIACOMO FASSINI AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DOS INGRESSANTES NO CURSO DE NUTRIÇÃO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO 1. RESUMO Introdução: A avaliação antropométrica é uma importante ferramenta para classificação do estado nutricional que permite avaliar a composição corporal estimando a relação entre massa magra e massa gorda. Em um país em que a obesidade alcança níveis epidêmicos torna-se relevante conhecer o perfil antropométrico dos universitários, pois encontram-se em situação de vulnerabilidade tendo em vista a nova fase da vida que se inicia. Objetivo: O objetivo do estudo foi determinar o perfil antropométrico dos alunos ingressantes no curso de Graduação em Nutrição do Centro Universitário de Rio Preto em 2012. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal que avaliou 36 alunos universitários, com idade entre 17 a 41 anos (M=18 anos; DP=5,32), dos quais 35 eram do sexo feminino, e um do sexo masculino. Foram analisados o índice de massa corporal (IMC), o percentual de gordura corporal total. Os dados foram analisados por média e desvio padrão. Esse estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo nº 35342/2012). Resultados: Os resultados mostraram que, segundo o IMC, 78% (n=28) dos alunos apresentavam-se em estado de eutrofia e 11% (n=4), em obesidade. No entanto, o percentual de gordura corporal total de 56% (n=20) dos estudantes foi classificado como obesidade. Conclusão: Os universitários apresentaram eutrofia com elevado percentual de gordura corporal, demonstrando que não podemos considerar apenas uma variável para a avaliação do estado nutricional. Palavras-chave: Antropometria. Composição corporal. Estudantes. 1 2. INTRODUÇÃO A avaliação nutricional é um processo sistemático, sendo o primeiro passo da assistência nutricional e tem como objetivo obter informações adequadas para identificar problemas ligados à nutrição, sendo constituída de coleta, verificação e interpretação de dados antes da tomada de decisões referentes à natureza e à causa de problemas relacionados à nutrição. Integra esse processo a análise da história médica, alimentar e social do indivíduo, e as avaliações antropométrica, bioquímica e clínica1. A avaliação antropométrica consiste em obter medidas físicas através da mensuração de estatura, peso, espessura de dobras cutâneas, medidas de circunferências e índices que permitem avaliar o crescimento, o desenvolvimento e o estado nutricional. Dentre os indicadores da avaliação antropométrica, o Índice de Quetelet ou Índice de Massa Corpórea (IMC) define o grau de adiposidade em relação à altura e classifica os indivíduos em subnutridos, eutróficos, excesso de peso e obesidade. Valores elevados do índice de massa corporal têm sido associados a índices altos de morbimortalidade2. A circunferência da cintura avalia a gordura abdominal, sendo um importante indicador que representa a quantidade de gordura visceral, a principal responsável pelo aparecimento de alterações metabólicas e de doenças cardiovasculares3. O percentual de gordura corporal pode ser obtido a partir da mensuração de dobras ou pregas cutâneas, que consiste em medir a espessura do tecido adiposo subcutâneo em diversas regiões do corpo como tríceps, bíceps, subescapular, supra-ilíaca, dentre outras, estimando-se a gordura corporal total devido à proporção constante entre a gordura subcutânea e a gordura total4. Determinar a quantidade de gordura corporal tem significativa importância para a saúde, uma vez que níveis elevados deste indicador estão associados com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, dentre as quais diabetes, hipertensão arterial, dislipidemias, alterações osteomusculares, insuficiência cardíaca, dificuldades respiratórias, dermatológicas, além do aumento da incidência de alguns tipos de carcinoma e dos altos índices de mortalidade3,4,5,6. 2 No Brasil, a obesidade é um problema de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS) gasta anualmente R$ 488 milhões com o tratamento de doenças associadas à obesidade7. 3. OBJETIVO O objetivo deste estudo foi descrever o perfil antropométrico e levantar dados relacionados ao estilo de vida dos alunos ingressantes no curso de graduação em nutrição do Centro Universitário de Rio Preto no ano de 2012. 4. MÉTODOS O estudo foi do tipo transversal e avaliou os alunos ingressantes no Curso de Graduação em Nutrição do Centro Universitário de Rio Preto, no ano de 2012. A avaliação do estado nutricional foi composta pelas variáveis antropométricas: peso atual, estatura, dobras cutâneas e circunferência da cintura. Posteriormente, foram calculados o índice de massa corporal (IMC) e a porcentagem de gordura corporal total. O IMC dos adolescentes e adultos foi classificado de acordo com a Organização Mundial de Saúde8,9. O peso e estatura foram aferidos após esvaziamento vesical, em balança tipo plataforma Filizola® Eletrônica, com precisão de 0,1 kg e 0,1 cm, respectivamente. As dobras cutâneas foram medidas utilizando-se um adipômetro científico da marca Lange® (Skinfold Caliper – Cambridge - Scientific Industries - USA), com pressão constante de 10g/mm2 na superfície de contato e precisão de 1 mm, com escala de 0 a 65 mm. O valor considerado foi a média de três medidas, desde que não houvesse variação maior que 3 mm entre elas. Foram medidas as dobras cutâneas do tríceps, do bíceps, subescapular e supra-ilíaca, de acordo com técnicas padronizadas por Lohman, et al.10. O percentual de gordura corporal total foi estimado utilizando-se a somatória das quatro pregas cutâneas segundo a equação de Durnin e Womersley 11, e interpretado conforme proposto por Lohman12. A prega cutânea do tríceps (PCT) 3 isolada foi comparada ao padrão de referência de Frisancho 13, e sua adequação calculada por meio da equação: A classificação do estado nutricional por meio da PCT foi feita de acordo Blackburn e Thornton14. A aferição da circunferência da cintura (CC) foi realizada com o paciente em pé, utilizando uma fita métrica não extensível, circundando o paciente na linha natural da cintura, no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. A leitura foi feita no momento da expiração. Os resultados foram classificados a partir do risco de complicações metabólicas associadas à obesidade, de acordo com a classificação proposta pela Organização Mundial de Saúde8. Os dados obtidos foram analisados utilizando-se a estatística descritiva com as medidas usuais de tendência central (Média) e de dispersão (Desvio - Padrão). Os participantes do estudo estavam de acordo com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, segundo a Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP-SP) sob o protocolo número 35342/2012. 5. RESULTADOS Foram avaliados 36 estudantes que ingressaram no curso de graduação em nutrição do Centro Universitário de Rio Preto, no início do primeiro ano letivo em 2012, sendo 35 do sexo feminino, e um do sexo masculino. A faixa de idade era de 17 a 41 (M=18, DP=5,32) anos. Nas figuras 1, 2 e 3, respectivamente, apresenta-se o diagnóstico do estado nutricional dos alunos segundo o IMC, a PCT, e o percentual de gordura corporal total. 4 Figura 1 - Distribuição, em porcentagem, dos alunos ingressantes no curso de nutrição segundo o índice de massa corporal. São José do Rio Preto-SP, 2012. Figura 2 - Distribuição, em porcentagem, dos alunos ingressantes no curso de nutrição segundo a prega cutânea triciptal. São José do Rio Preto-SP, 2012. 5 Figura 3 - Distribuição, em porcentagem, dos alunos ingressantes no curso de nutrição segundo a o percentual de gordura corporal total. São José do Rio PretoSP, 2012. Ao analisar o estado nutricional dos estudantes observou-se que a maior parte dos alunos foi classificada como eutrofia, segundo o índice de massa corporal (Figura 1). No entanto, quando foi considerada a prega cutânea triciptal, apenas 22% foram classificados como eutrofia, enquanto 47% foram classificados como obesidade (Figura 2), e, ao analisar o percentual de gordura corporal (Figura 3), a maioria apresentava classificação de obesidade. Em relação à circunferência da cintura, 80% (n=29) dos avaliados encontravam-se sem alteração, 17% (n = 6) apresentavam classificação de risco elevado, e 3% (n=1) com risco muito elevado, segundo o risco de complicações metabólicas relacionado à circunferência da cintura. 6. DISCUSSÃO O Ministério da Saúde, com base na recomendação da Organização Mundial da Saúde, preconiza índices e pontos de corte para determinar sobrepeso e obesidade baseados no IMC. Para Vasconcellos e Portela15, o IMC é uma medida 6 grosseira da massa corporal que não leva em conta a composição corporal (massa gorda e massa livre de gordura). Da mesma forma, o estudo de Glaner 4 questiona o uso do IMC para diagnosticar a gordura corporal em diferentes faixas etárias, sendo que o percentual de gordura corporal obtido a partir das dobras cutâneas possui maior aceitação por não diferir significativamente do percentual de gordura corporal decorrente da pesagem hidrostática, que é tida como critério para validação de outras técnicas. No presente estudo, apesar de a maioria dos estudantes apresentarem classificação de eutrofia pelo IMC, ao analisar o percentual total de gordura corporal, a maioria dos estudantes (56%) apresentaram excesso de gordura corporal, sendo que 47% foram classificados como obesos pela dobra cutânea do tríceps, demonstrando que não podemos considerar um único método para a avaliação do estado nutricional. Conforme alerta Vieira et al. (2005)16, muitos indivíduos podem estar satisfeitos com o peso atual, mas podem ser futuros candidatos à obesidade ou ao sobrepeso devido à composição corporal apresentada, já que o aumento da massa gordurosa provoca queda no metabolismo basal e favorece o ganho de peso. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os estudantes analisados no presente estudo, apesar do estado de eutrofia, verificado por meio do IMC, apresentaram elevado percentual de gordura corporal, demonstrando que não podemos considerar apenas uma variável para a avaliação do estado nutricional. 8. FONTES CONSULTADAS 1 Dias MCG, van Aanholt DPJ, Catalani LA, Rey JSF, Gonzales MC, Coppini L, Franco Filho JW, Paes-Barbosa MR, Horie L, Abrahão V, Martins C. Triagem e Avaliação do Estado Nutricional. Projeto Diretrizes - Associação Médica Brasileira, 2011 – [citado em 2012 Ago 10]. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/9_volume/triagem_e_avaliacao_do_estado_nutrici onal.pdf 7 2 Ricardo DR, Araújo CGS. Índice de Massa Corporal: Um Questionamento Científico Baseado em Evidências. Arq Bras Cardiol, v. 79, n. 1, p. 61-9, 2002 – [citado em 2012 Ago 10]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abc/v79n1/p07v79n1.pdf. 3 Rezende F, Lina R, Franceschinni S, Rosado G, Ribeiro R, Bouzas, MJC. Revisão crítica dos métodos disponíveis para avaliar a composição corporal em grandes estudos populacionais e clínicos. ALAN, Caracas, v.57, n.4, dez. 2007 - [citado em 2012 Set 16]. Disponível em: http://www.scielo.org.ve/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S000406222007000400004&lng=pt&nrm=iso. 4 Glaner MF. Índice de massa corporal como indicativo da gordura corporal comparado às dobras cutâneas. Rev Bras Med Esporte, Niterói, v. 11, n. 4, ago. 2005 - [citado em 2012 Nov 17]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151786922005000400008&lng=en&nrm=iso. http://dx.doi.org/10.1590/S151786922005000400008 5 Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica ABESO. Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 - 3.ed. - Itapevi, SP : AC Farmacêutica, 2009 - [citado em 2012 Ago 10]. Disponível em: http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf. 6 Mochel EG, Prazeres JS, Amate EM, Soares MSM, Lopes MLH, Sardinha AHL. Incidência à obesidade em universitários - São Luís-Ma. Revista do Hospital Universitário/UFMA 8(1): 41-47, jan./ jun. 2007 - [citado em 2012 Ago 10]. Disponível em: http://www.huufma.br/site/estaticas/revista_hu/pdf/Revista_HU_Volume_8_1_JAN_J UN_2007.pdf 7 Portal da Saúde. Prevenção e Tratamento: Doenças ligadas à obesidade custam R$ 488 milhões. [Atualizada em 2013 Mar 22; acesso em 2013 May 28]. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/9905/162/doencas-ligadas-aobesidade-custam-r$-488-milhoes.html 8 WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. World Health Organization Obesity. Preventing and managing the global epidemic: report of a WHO Consultation. Geneva, World Health Organization. Technical Report Series, 894. 1998. 9 WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. DE ONIS, M.; ONYANGO, A. W.; BORGHI, E.; SIYAM, A.; NISHIDA, C.; SIEKMAN, J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organ., v. 85, p. 660-67, 2007. http://dx.doi.org/10.2471/BLT.07.043497 10 Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric standardization reference manual. Abridged edition, p. 90, 1991. 8 11 Durnin JVGA, Womersley J. Body fat assessed from total body density and its estimation from skinfold thickness: measurement on 481 men and women aged from 16 to 72 years. Br. J. Nutr., 32:77-97, 1974. 12 Lohman TG. Advances in body composition assessment. Champaign, Illionois: Human Kinetics Publishers; 1992. 13 Frisancho AR. Anthropometric standards for the assessment of growth and nutritional status. The University of Michigan Press; 1990. 189p. 14 Blackburn GL, Thornton PA. Nutritional assessment of the hospitalized patients. Med. Clin. North Am., 1979, 63:1103-1115. 15 Vasconcellos MTL, Portela MC. Índice de Massa Corporal e sua relação com variáveis nutricionais e sócio-econômicas: um exemplo de uso de regressão linear para um grupo de adultos brasileiros. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(6):1425-1436, nov./ dez. 2001. [citado em 2013 Fev 12]. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v17n6/6968.pdf. 16 Vieira VCR, Priore SE, Ribeiro SMR, Franceschini SCC. Alterações no padrão alimentar de adolescentes com adequação pôndero-estatural e elevado percentual de gordura corporal.Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, v. 5, n. 1, Mar. 2005. [citado em 2013 Fev 12]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151938292005000100012&lng=en&nrm=iso>.http://dx.doi.org/10.1590/S151938292005000100012. 9