Tratores agrícolas
- Especial. 3
Tratores agrícolas
Conceito:
É uma unidade móvel de potência composta de motor, transmissão,
sistema de direção e de sustentação e componentes compLementares,
onde se acopLamimpLementos e máquinas com diversas funções.
e
trator é uma máquina composta de mecanismos
complexos,
que transforma a energia química
do combustível em energia útil para a realização dos trabalhos com implementos agrícolas. A ASAE (Amelican Society Q/Aglicultura1Engúzeers) conceitua o trator como uma
máquina de tração projetada e inicialmente
recomendada para proporcionar potência aos
implementos agrícolas. Um trator agrícola
desloca a si mesmo e proporciona uma força
na direção de avanço que permite engatar
implementos que tenham função agrícola. Ele
constitui-se na principal fonte de potência da
moderna agricultura. Alguns textos atribuem ao trator a função de servir como base ou
eixo da mecanização agrícola moderna.
O trator agrícola é aquele que tem suas
características voltadas ao uso nas operações
agrícolas.
Deve ser o mais versátil
possível, tendo condições de nele acoplar-se
os mais diferentes tipos de máquinas e implementos. O seu projeto deve prever con-
forto ao operador, assim como boa visibilidade lateral, frontal, traseira e manobrabilidade. Além disso, é importante
que a
ergonomia preveja a facilidade de acoplamento de implementos
e o incentivo
às operações de manutenção.
Este trator
deve ser simples, robusto e resistente ao clima.
Na indústria de tratores há uma diferença entre o potencial que o mercado pode absorver e necessita e o que realmente é fabricado, estabelecendo-se uma luta quotidiana
entre os setores (departamentos de uma empresa) comercial e de engenharia. Os projetos utilizados pelas fábricas são, na maioria
dos casos, importações das suas matrizes e
que contém muita tecnologia intrínseca. De
fato, um trator para ser lançado em um país
de agricultura pressionada por custos, como
é o caso do Brasil, deve ter o seu preço reduzido, resultando que esta diminuição se faz à
base de retirada de componentes de conforto
e segurança, por exemplo.
Na indústria
de tratores há
uma diferença
entre o
potencial que
o mercado
pode absorver
e necessita e o
que realmente
é fabricado,
estabelecendose uma luta
quotidiana
entre os
setores
(departamentos
de uma
empresa)
comercial e de
engenharia
o modelo mais Íltil
P
elas características
da agricultura brasileira
e informações
práticas, pode-se estimar que o trator mais útil poderia ser o modelo mais básico e versátil, e a partir daí poderia ser montado um leque de opções de equipamentos
disponíveis sob a forma de opcionais, que
variariam de acordo com as necessidades
de cada cliente, sistema de produção, cultura, região, nível de mão-de-obra, etc. Talvez uma espécie de trator sob medida.
Nas duas figuras 1 e 2 temos os dois tipos de projeto e construção de tratores que
atualmente se encontram no mercado. O
primeiro tipo, representado pela figura 2, é
o projeto que se encontra no mercado com
maior intensidade desde os anos 60 até os
dias atuais. Nesse caso o suporte do eixo
dianteiro (1), o motor (2), a caixa de câmbio
(3), a carcaça do diferencial (4) e do eixo traseiro (5) e a da TDP (6) e sistema hidráulico
(7) fazem uma estrutura única conhecida
como monobloco. A grande vantagem deste
sistema foi diminuir o peso do trator porque
a própria união entre as peças dá a rigidez
de que ele necessita. O ponto negativo fica
por conta das manutenções que se devem
realizar no motor, embreagem e diferencial
que obrigam que o trator tenha a sua estrutura desmontada, dificultando a realização
dos serviços fora de uma oficina especializada.
A segunda estrutura,
conhecida como
modular, é a que parece ser a tendênCia construtiva atual, incorporada pela nova linha de
tratores mundiais da John Deere e Case, inclusive no Brasil, que tem muitas vantagens,
entre as quais a possibilidade de se estabelecer famílias de tratores, barateando o custo
de um produto de muita qualidade tecnológica. Os beneficios se estendem também à
linha de produção, pois os componentes de
vários modelos de um trator podem ser montados a um mesmo chassi.
Março / Abril 2001
.
lVIáquinas
4 . Especial - Tratores agrícolas
foi assim que começou...
'T
alvez
o ano
de
1858
seja
o indi-
cativo do início da tratorização
agricola mundial, pois por esta data
foi desenvolvido um sistema de preparo do
solo por meio de cabos de aço, que tornava
possível que um arado de aivecas pudesse
utilizar a potência gerada por uma máquina
a vapor estacionária. Nessa mesma época
também começaram a ser utilizados os tratores movidos a vapor para as tarefas de arrasto. Eram máquinas muito pesadas, muito pouco eficientes e que utilizavam muita
mão-de-obra para sua manutenção e operação.
Em 1876, foi registrada a patente de um
motor de combustão interna por Otto, ainda
que de imediato este não tenha sido aplicado
em tratores, que permaneceram com os motores a vapor até o fmal do século XIX. No
ano de 1890, houve a introdução das esteiras metálicas nos tratores a vapor, até que
em 1906, aparece o primeiro trator com motor de combustão interna de ciclo Otto, movido a querosene.
As primeiras notícias de ensaio ou provas
de comparação entre tratores são do ano de
As primeiras
notícias de
ensaio ou
provas de
comparação.
entre tratores
são do ano
de 1908
1908, motivados pela febre de substituição
de motores a vapor por motores de combustão interna a gasolina e querosene.
No ano de 1911 se desenvolveu a primeira Feira de Demonstrações de Tratores, em
Nebraska, EUA, onde foram apresentados os
primeiros tratores com uma configuração
semelhante à que temos atualmente. O primeiro trator agricola fabricado em série foi
lançado em 1913, nos Estados Unidos.
Em 1920 começaram as primeiras provas de trator, em Nebraska, EUA, pela aplicação de uma lei aprovada pelo parlamento
do Estado (1919) que dava competência a
Universidade do Estado de Nebraska para
desenvolver as normas que permitiam a avaliação de tratores.
Alguns anos mais tarde estas permitiram
converter-se em Normas ASAE de aceitação
universal, até que se implantou os Códigos
de Ensaios da OCDE (Organização Cooperativa de Desenvolvimento
Econômico) e o estabelecimento de consenso por meio do Código de ensaios de tratores da OCDE e as
normas ISO (International Standard Organízation), que tratam do assunto.
FIG. 01
Esquema construtivo monobloco
utilizado pela maioria dos tratores atuais.
(Fonte: Solotractor. Márquez, L.)
CJ
FIG.02
k~
IJ
;a
Esquema construtivo modular utilizado
pelos tratores John Deere.
(Fonte: Renius, K.)
Uso generalizadO
utilização
efetiva do trator leve
'I de uso geral começou somente
~em
1923, com a introdução
da
tomada de potência e de uma significativa
diminuição
do seu peso total. Um ano depois foi lançado o trator triciclo, necessário
na época pela grande recomendação agronômica do cultivo em linha.
Em 1927, por fim, é introduzido
o mo-
21
~áquinas.
tor de combustão
interna de ignição por
compressão, que depois a passou a ser conhecido por ciclo Diesel, em um trator fabricado pela empresa Castelmaggiore,
de
Bolonha, Itália. Alguns textos americanos
afirmam que isto ocorreu comercialmente
somente em 1931, mas sem nenhuma dúvida o fato de introduzir este tipo de motor
foi a primeira grande inovação tecnológica
Março / Abril 2001
-
Tratores agrícolas - Especial.
na fabricação de tratores.
No ano de 1933 foi introduzida a segunda grande inovação, pois começaram-se a
substituir os rodados de ferro por pneus
de borracha. É claro que conjuntamente
a
essas importantes introduções, ocorria um
desenvolvimento industrial normal no produto, o que fazia incrementar a qualidade,
e tornando-os mais eficientes na sua utilização nos terrenos agrícolas.
A partir de 1935 passou -se a adotar com
mais freqüência os motores de combustão
interna de ignição por faísca, o que junto
com outros desenvolvimentos, tornou o trator agrícola mais versátil. Nessa mesma
época, o produto caminhou para uma crescente normalização.
No meio da segunda grande guerra mundial, ocorre a introdução do sistema de engate em três pontos de acionamento mecânico. Junto com este sistema foram lançados modelos de tratores a gás (grande parte do combustível líquido estava mobilizado para a guerra) e os microtratores. Estas
modificações foram devidas, em grande
parte, à rápida e intensa incorporação de
tecnologia proporcionada
pelos estudos
militares. A partir de 1949, os tratores passaram a incorporar o sistema de acionamento hidráulico de implementos.
Dois estudos realizados em 1982 e 1990
confirmaram que o peso específico do trator, isto é, a quantidade de kg do trator em
relação à potência do motor, diminui na
medida em que aumenta a potência. Isto
significa que os tratores de maior potência
(maiores) são proporcionalmente
mais le-
o aumento
E
ves que os tratores com menos potência no
motor. Vejamos um exemplo, retirado do
gráfico anterior: um trator de 40 kW de potência no motor tem um peso específico de
aproximadamente
72 kg por cada kW do
seu motor, ao passo que um trator de 100
kW no motor tem apenas uma relação de
68 kg de massa para cada KW de motor.
Como conclusão podemos afirmar que
os tratores maiores são mais dependentes
de lastre que os menores, para alcançar a
máxima eficiência e talvez os fabricantes
estejam baseando-se em modelos menores
e equipando-os com motores mais potentes. Também é verdade que o uso de materiais mais leves, como o polipropileno, a fibra de vidro e o alumínio, que passaram a
ser freqüentes
na indústria
automotiva,
tornou o trator um veículo mais leve.
Relaçãoentrepotêndado motor e o pesoespecífico
do trator.
100
~
~
""
.
90
j'
~
80
5
g
~
70
I..
~
60
'u
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.
8"'"
o" 50
'"
a.
40
30
40
.. .
60
.
80
100
140
180
Potencia en el motor, kW
da potência
tre os anos de 1959 e 1960 a potência média dos tratores aumen
a muito rapidamente, estabelecendo-se uma tendência que persiste nos dias
atuais. Nesta mesma década se consolida a
supremacia do combustível e do sistema Diesel e começa a ocorrer uma série de refmamentos técnicos, como a melhoria das transmissões, o que fez incrementar a oferta do
número de marchas, tornando-as mais práticas em condições de trabalho.
Em 1961 se dissemina a introdução comercial do sistema hidráulico de três pontos, em configuração muito semelhante a
atual, conhecido como sistema Ferguson,
que passa a ser a terceira grande incorporação tecnológica nos tratores agrícolas.
Na década de 70, se produz uma introdução intensa de tratores agrícolas de quatro rodas motrizes, geralmente de grandes
dimensões, nos EUA, e de pequeno porte na
Europa. Nos anos 80 o predomínio passou
a ser dos tratores de tração dianteira assis-
5
tida (TOA).
A década de 90 é marcada como a época
dos sistemas eletrônicos de auxilio à operação dos tratores agrícolas, pois um grande
número de tratores já pode sair de fábrica
equipada com sistemas de controle eletrônico de rendimento.
No Brasil o início da fabricação de tratores ocorre no ano de 1960, a partir da instituição do Plano Nacional da Indústria de Tratores Agrícolas, em 1959, pelo governo federal. Até essa década os tratores utilizados
na agricultura brasileira eram importados
da Europa e Estados Unidos.
Antes da etapa de fabricação de tratores
no Brasil havia una situação bastante singular, pois eram muitas marcas e modelos
que os agricultores adquiriam sem muitas
garantias de assistência técnica, mas com
preços bastantes
interessantes
principalmente devidos a financiamentos
oficiais.
Havia incentivos à importação, o que resultava em baixos preços de aquisição mas
Março / Abril 2001
Como
conclusão
podemos
afirmar que os
tratores
maiores são
mais
dependentes
de lastre que
os menores,
para alcançar a
máxima
eficiência e
talvez os
fabricantes
estejam
baseando-se
em modelos
menores e
equipando-os
com motores
mais potentes
.
lVIáquinas
I
6 .
Especial
-
Tratores agrícolas
poucas garantias de reposição dos componentes. Muitas vezes era mais fácil substituir um trator avariado do que repará-Io, pois
não existiam planos de manutenção. Nessa
época tampouco a indústria de componentes estava em condições e nem tinha segurança para encarregar-se de produzir o volume que as condições requeriam.
 indústria brasileira
t1
Partir do ano 60 aproveitando
as
'I facilidades
A densidade
tratória no
Brasil é de
aproximadamente
120 hectares
por unidade.
Esta média é
bastante
afetada pela
região onde se
executa a
análise
oferecidas pelo goverLo,
se instalaram no país, a Ford e
a Valmet, com 80% e 20% do mercado respectivamente.
Posteriormente
passaram a
ser importantes na comercialização a Fendt
e a Deutz, que já estavam no Brasil como
importadores.
Em 1965 estavam sendo comercializados
tratores das marcas Ford (20%), Massey Ferguson (35%), Valmet (21 %), Deutz (12%),
CBT (10%) e Fendt (2%). Ainda que estas
porcentagens sejam aproximadas,
pode-se
notar que a Ford já começava a diminuir
sua participação no mercado, e de fato se
retirou do Brasil em 1968. Pode-se notar
também que entrou em fabricação o primeiro trator nacional, o CBT, da Companhia
Brasileira de Tratores, indústria de capital
privado, instalada em São Carlos, SP.
No princípio da década de 70, a Massey
Ferguson predominava
no mercado, com
mais de 50% do total de tratores vendidos.
A outra metade se repartia entre CBT e Valmeto Nesses anos o mercado era de três marcas e as opções correspondiam aos modelos
que estas ofereciam. No ano de 1975 o governo federal voltou a incentivar a indústria
de tratores, o que fez com que os preços baixassem até 1976. Nesse ano outra vez as
dificuldades no crédito bancário provocaram
uma diminuição
na demanda, com o que
incrementou a ociosidade e os preços. Com-
Â
rodas e os motocultores, o total atingiu aproximadamente
72 mil unidades anuais.
densidade no Brasil
Brasil sempre foi um consumidor de seus próprios tratores por
que a parcela de exportação nunca
ultrapassava os 20%. Na década de 80 não
se pôde manter a produção nos altos níveis
dos anos anteriores e houve uma diminuição da produção com a devida estabilização
nos níveis das 25 mil unidades.
A densidade tratória no Brasil é de aproximadamente 120 hectares por unidade. Esta
média é bastante afetada pela região onde se
executa a análise. Na parte sul, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
há uma média de 40 hectares por trator, ao
passo que em regiões da parte norte este Índice cresce de maneira importante.
No mercado interno, a demanda por regiões é bastante maior na região Sul e Sudes-
O
~áquinas.
parando-se o preço do trator com um produto básico do país, o milho, se passou pela
situação de que para comprar um trator em
1967 se necessitava de 2147 sacos do produto, até que em 1975 o mesmo trator somente requeria 818 sacos. Foram anos muito importantes
para a indústria
nacional,
com o que se incrementou a capacidade potencial de produção, chegando a ser de 100
mil tratores anuais, o que de fato nunca se
alcançou.
No final de 1976 a relação entre o preço
do trator e o saco de milho havia incrementado a 1018, com o que provocou a quebra
técnica de algumas empresas fabricantes.
A conseqüência para as que permaneceram
no mercado foi uma redução das vendas,
diversificação
e a tentativa de exportação,
principalmente
para os países vizinhos da
América do Sul. Nesse período se nacionalizou a Massey Ferguson.
Em fmais da década de 70 a divisão do
mercado estava entre estes três fabricantes,
a Ford, que havia retornado ao país e três
empresas de pequena fabricação, Malves,
Brasitália, Agrale, com os microtratores, e a
Case, com os tratores de maior porte. Nessa
época se comercializava ao redor de 50 mil
unidades ao ano, sendo que os 63 mil de
1976 marcaram
o recorde de produção e
vendas. Se considerássemos os tratores de
te, onde se comercializam ao redor de 75%
dos tratores fabricados. Assim mesmo estas
vendas somente atendem a reposição do parque existente. A região mais promissora é
talvez a Centro-Oeste e o baixo Nordeste, onde
no futuro se pode formar uma região onde a
porcentagem de vendas pode incrementarse. Em dados aproximados a indústria de tratores no Brasil pode estar proporcionando
18
mil postos de trabalho diretos.
A parcela referente à exportação aumentou e chegaram a níveis ao redor de 29%
(1988). O principal
fabricante
a exportar
seus produtos era a Maxion, com 12% do
total de sua produção. Nessa época as crises do setor já haviam provocado o fechamento de algumas fábricas importantes, ou
pelo menos da linha agrícola de produção,
Março / Abril 2001
-
7
Tratores agrícolas - Especial.
Noprincipiodoono1990o distribuiçõodosvendoseroo seguinte:
Balancodo mercadobrasileiro
de tratores'de rodas nos anos 1988/89.
Fabricante
1998
%
1989
Móxiôri
14.997'
,.,...,~...".,
"11.568
Valmel..
10.097
25.B.
8.949
Ford
8.740
Z2J
5.926
01
2.644
M..
3.193
Ailrõfe
1.3.40
1.288
M.
3J
,1.204
Oulra$,
TOTAL
10
100
%
1.384
22
100
e reduzido bastante o nível de produção de
outras.
Neste mercado confuso e de poucas possibilidades para os menores fabricantes, al-
gumas empresas, como a Santa Matilde e
a Yanmar tiveram sua participação significativa. Outras empresas, como a Massey
Ferguson, mudaram de nome, passando a
produzir outra marca de tratores como era
o caso dos tratores Maxion.
Fazendo uma avaliação geral dos tratores brasileiros, se pode dizer que o nível técnico é bom, mas que os modelos fabricados caracterizam-se pela falta de alguns detalhes técnicos que os fazem menos seguros e confortáveis que os vendidos na Europa e nos Estados Unidos da América.
Quanto a inovações tecnológicas podese destacar a utilização do álcool combustível, ainda que não tenha sido satisfatório
tecnicamente. Durante alguns anos foram
produzidos modelos de tratores com este
combustível, tanto em ciclo Otto, como em
mistura, no sistema Diesel.
Baixa produção, preços altos
D
a capacidade instalada de produção, 100 mil tratores por ano, produz-se somente 25 mil, isso se reflete em incremento de preço da unidade, o
que diretamente incide no aumento da utilização do trator. Assim, estima-se que ao redor de 80% da frota de tratores do Brasil tenha mais de oito anos e 30% mais de 12 anos
de utilização. Considerando-se pelos níveis
de manutenção dos países desenvolvidos até
que isto não se configuraria em um problema importante, mas se se analisa sob o ponto de vista de que na maioria dos casos a
manutenção e as reparações são deficientes,
o problema passa a ser mais grave.
A partir do inicio da década de 90, o mercado voltou a abrir-se e começaram a entrar
os tratores importados, principalmente
da
Europa e Estados Unidos.
A situação atual é muito preocupante pois
nos últimos dois anos as vendas não passaram das 12 mil unidades anuais no mercado interno e as revendas de tratores de pequeno porte distribuídas pelo interior do país
não conseguiram suportar as novas condições de mercado estabelecidas pelo Plano
Real. A rede de revendedores diminuindo
desta forma fez com que o mercado se restringisse somente às grandes marcas. Recentemente instalou-se no Brasil a John Deere,
por meio de uma associação com a SLC, e
iniciou a fabricação de uma linha de tratores
semelhantes aos que já fabricava e comercializava no resto do mundo. A Maxion, do grupo Iochpe, foi adquirida pela AGCO e infelizmente a CBT encerrou a sua participação no
mercado depois de mais de 35 anos de atividade. A Ford e a Fiat juntas formaram o grupo New Holland.
Atualmente o Brasil é um dos grandes fa-
bricantes de tratores do mundo. A globalização da economia fez com que, por nossas
condições industriais particulares, fossemos
transformados em fabricantes e montadores
das mais importantes
marcas mundiais.
Nota-se que a maioria dos fabricantes produz tratores na faixa entre 50 e 199 cv de
potência bruta no motor. A exceção fica por
conta da Agrale e da Yanmar, que produzem
tratores pequenos, e da Muller e da JI Case,
que produzem tratores de grande porte.
A produção anual de 2000 foi de aproximadamente 27 mil unidades, um terço dos
quais fabricados pela AGCO do Brasil, a maior
do país. É de se ressaltar o volume crescente
e importante da SLC-John Deere, que mesmo entrando recentemente no mercado já
ocupa a quarta posição como fabricante de
tratores de rodas.
Ressalta-se que é uma particularidade
brasileira a manutenção de modelos de linhas antigas, mesmo com o lançamento de
novos produtos. Por uma questão de mercado os fabricantes mantêm em produção
linhas antigas, atendendo o desejo de gru-
A globalização
da economia
fez com que,
por nossas
condições
industriais
particulares,
fossemos
transformados
em fabricantes
e montadores
das mais
importantes
marcas
mundiais
Produçãode tratoresde rodasnacionaispor fabricantee por categoriano ano 2000
Morco
I Agrole
Até40cv 50o99cv
629
I J/Cose
:o:
I NewHoIlondloIinoAmericanoUdo O
,
-
I SlC JohnDeere
SA
I VoltrodoBrosilSA
I, YonrnordoBrasilSA
,o
O
291
1479
'38M
154
1000199cv Moisde200cv Totol
bf
84
3929
~
,2263
Q
,
lli8. .
97
O-
3742I
L
illlJ
O"
447
(Fonte: Anloveo).
Março / Abril 2001
.
~áquinas
I
8 . Especial - Tratores agrícolas
pos de agricultores conservadoresis que desejam comprar modelos semelhantes
aos
que compraram no passado. Mesmo linhas
que já saíram de fabricação há décadas nos
EUA e na Europa são ainda sucesso entre
nossos agricultores. Isso implica em uso de
modelos carentes de itens de segurança e
conforto.
Classificação de Tratores
e
assificar tratores por sua forma e
constituição é algo muito dificil e poêmico, porém quisemos estabelecer
um tipo de classificação que diferenciasse as
diversas formas de fabricação atual e pudesse
estabelecer uma relação de terminologia entre
os diferentes modelos.
TIatmes elerodas
Um eim:
. Tlatores
TRATOR
stondo(lhom lro!Õo nos rodostroseiros
(4x2)
ele rabiças
- São
os tratores
.
Trolor stondardcom Iraçõo dianteiro auxiliar
(4x2TDA)
.
Trolor com traçõo integral artirulado
(4x4)
(Fonte:MoIerial de alVulgo!ÕoJohn Deere)
de
rabiças, onde o peso do trator se apóia nas
rodas motrizes (alinhadas transversalmente em
um eixo) e sobre o implemento. Ex.: Tobatta.
São tratores de duas rodas, com direção por
meio de rabiças e com peso e dimensão reduzida. Têm a conformação geral bem diferente
dos tratores padrão. O apoio traseiro é feito no
implemento ao qual o trator está ligado.
DoJs ebos:
UtDitárloou stDndorr:l-São os tratores
normalmente encontrados na agricultura brasileira e mundial, diferem muito pouco de um
para para outro, de uma marca para outra,
mantendo constante estas características desde anos em tomo de 1919.Ainda que este trator
tenha muita semelhança aparente, apresenta
diferenças básicas, como a distância entre eixos e a altura minima, adequando-se a projetos e objetivo de utilização.
Um bom parâmetro de diferenciação dos
modelos é a sua relação massa/potência. Assim, um trator com uma relação próxima a 60
kg/kW se adapta mais às operações pesadas e
lentas. Esta relação é conseguida por meio de
pesos que se adicionam ao trator, na operação
de lastreamento. Um trator com 35 kg/kW é
um trator recomendado para as operações leves de cultivo, pulverização, transporte, etc.
4 z 2 Este trator tem a força de tração exercida somente no eixo traseiro. O eixo
dianteiro é somente diretriz. Ex.: MF 275. O
projeto deste trator permite boa eficiência de
utilização até potências próximas aos 75 kW,
utilizando uma distribuição de peso de 30% no
eixo dianteiro e 70% no traseiro ou 15/85 de
distribuição dinâmica.
Tração dianteJra Amn1fAr (mA) Também chamados de "tracionados" ou "traçados",
estes tratores têm rodas dianteiras menores
que as traseiras, embora providas de pneus
motrizes. A tração pode ser exercida no eixo
dianteiro, mediante o acionamento de uma alavanca que está ao alcance do operador. Ex.:
MF 296/4. Esses tratores podem ser projetados para obter boa eficiência em uma faixa de
potência entre 75 e 150 kW. A distribuição de
peso dinâmica recomendada é aproximada-
.
-
-
mente 40% no eixo dianteiro e 60% no traseiro, o que pode transformar-se em 30/60 dinâmico. Este tipo de trator pode desenvolver 15%
mais de potência na barra de tração que um
similar de mesmo peso na versão 4 x 2.
Tração integral: ArticuJado 4 z 4 A
tração pode ser exercida nas quatro rodas ou
nos dois eixos. Durante o trabalho e o deslocamento, o trator tem sempre a tração nos dois
eixos. A mudança da direção de deslocamento
se faz por meio da articulação do chassi, ficando as rodas sem movimento direcional em relação ao chassi. Ex.: Engesa 1124 e Muller
TM31.
Os tratores de tração integral geralmente
possuem motor de mais de 150 kW, pois é acima desta potência de motor em que esta versão supera em eficiência as demais configurações.
Microtlator - São tratores pequenos, de
quatro rodas ou esteiras, com dimensões e peso
reduzidas,
mas que conservam
conformação
geral e proporcionalidade
dos tratores standnrd
ou padrões. Não devem ser conftmdidos com
os motocultores ou tratores de rabiças. (Ex.:
Agrale e Yanmar)
.
-
.
.
Tlatores
ele esteJras
Esteira metáHca - O trator de esteiras
tem a sua tração desenvolvida por meio de
esteiras (ou lagartas), que unem os dois eixos,
sendo um motriz e o outro guia para a esteira. A direção de deslocamento
é variada por
meio da alteração da velocidade de deslocamento das duas esteiras (uma de cada lado). Seu
uso na agricultura é pequeno,
embora existam no Brasil tratores de esteira para o uso
agrícola. Se recomendam para serviços que
demandem
grande força de tração (preparo do
solo, subsolagem,
desmatamento,
etc).
Suas maiores desvantagens em relação aos
tratores de rodas são a baixa velocidade de deslocamento,
pequena
versatilidade,
custo de
manutenção alto, preço inicial alto e exigência
de transporte por caminhão entre uma lavoura e outra Ex.: Catterpilar D4.
EsteJra ele borracha
- A introdução dos
.
tratores de esteiras de borracha é muito recente e está restrita quase exclusivamente à região Centro-Oeste. São tratores bastante modernos que incorporam uma tecnologia que
pode vir a superar os pontos negativos do trator de esteira metálica. Ainda se desconhecem
com a mesma intensidade dos tratores de rodas o comportamento a longo prazo da manutenção necessária e dos custos operacionais.
Ex.: Catterpilar Challenger.
lVIáqulnas. Março / Abril 2001
.....
Tratores agrícolas - Especial.
4100,4230,
5070A, 5080,5080.4,
4120,1240,4230.4
5060.4T,
5070,5060
BX 4.130,BX4.150,BX 4.110,
BX6.150
MX135,MG8920
4630,4630E,5030,5630,5630T,6630,
6630T,5030T,6630T CAN,Tl65,mo,
T170TR,
R80, Tl80TR,Tl90, 4630T,
Tl65TR,Tl90TR,5630T CAN
AGCOdo BrasilCom.EInd. lIda
MF265,MF265E,MF265/4,MF250,
MF275,MF275/4,MF290,MF290/4,
MF292,MF292/4,MF283/4,MF275/4E,
MF290/4CANA,MF250/4,MF250/4E,
MF275E,MF610,MF610/4,MF290CANA,
MF5275,MF5275/4,MF5285,MF5285/4,
MF5290,MF5290/4,MF250A,MF2505E,
MF5300,MF5300/4,MF271/2,MF281/4,
MF281/2,MF2625E,
MF262/4,AA6.65/
9
I I
MG894
7630,8430 DT,8630DT,8830
DT,TU00 TR,7830,TU00,
TMll0, TMll0 TR,TM120TR,
TM130TR,TM140TR,7630TR4,
7830TR4,8030TR4,TMI35T
TM150TR,TM165TR
MF297,MF299/4,MF297/4,
MF620/4,MF630,MF620,
MF299,MF650/4,MF660/4,
MF680/4,MF640/4,MF630/4,
MF298/4,MF5310/4,MF5320/
4, MF5310/2, AA6.110/2,
AA6.110/4, AA6.125/2,
AA6.125/4,AA6.110/2
2, AA6.65/4,AA6.85/2,AA6.85/4,
MF251/2,MF251/4,MF271/4
TM16
56004)(2,57004x2,
56004x4,57004x4
63004x2,63004x4,66004x4,
75004x4,65004x2
685F,685,6854x4,785F,785,7854x4,
9854x4,8855,885TS,8854x4,885,800,
15804x4,17804x4,12804x4,
9854x45,11B04x45,13804x45,
16804x4~18804x45
8004x4, 6854x4F, 7854x4F, 8854x45,
8854x415, Premiun, Premiun4x4,PCR,
PCR4x4~ 700, 7004x4
1030,105OH,
10501,1040,10550'
2060XT, 1045, 1045DT
Tratores e usos
e
motor do trator tem uma função de
transformação,
fazendo com que
parte da energia do combustível seja
disponível na forma de trabalho mecânico, mas
devemos dispor da transmissão para que este
trabalho mecânico seja útil para as exigênci-
~
as das atividades agrícolas.
O trator agrícola pode ser utilizado nos trabalhos agrícolas de diferentes formas e estas
vão provocar a utilização de maneira diferente. O trator tem a função de desenvolver uma
força horizontal ou com pequena inclinação
no sentido do seu deslocamento e por meio
desta, e da velocidade em que o faz, oferecer
uma determinada potência ao implemento
agrícola. Um exemplo deste tipo de aplicação
é o trabalho com uma grade ou um arado.
Desta utilização pode-se ressaltar alguns
problemas técnicos e funcionais, começando
pela aderência. A tração se faz possível por
meio da aderência dos órgãos propulsores e
de uma certa reação do terreno, baseada nas
suas características físico-mecânicas. A condição desfavorável desta relação resulta em
patinamento excessivo.
A aderência é uma força resultante que
Março / Abril 2001
.
~áquinas
1O
.
Especial - Tratores agrícolas
ClASSIFICACÃO DOS TRATORES
(1. TRATORsh,nrlorrl, 2.Trator de cobino ovonçodo, 3. Trator4 x 4 comeixosdireõonois,
4. Trotor4 x 4 orticulodo,5. Microtratorderodos,6. Microtratordeesteiros,7. Trotor de robiços).
1.
2.
wna de contato, entre roda e solo.
O peso aderente depende da distribuição
de peso do trator, que é uma característica do
projeto e da operação de lastreamento. Nos
tratores de tração simples, é a parte do peso
total que fica no eixo traseiro, em operação.
Nos tratores de tração nas quatro rodas todo
o peso do trator é peso aderente, pois os dois
eixos exercem tração. As garras dos pneus
também servem para aumentar a aderência,
pois incrementam o coeficiente de aderência
ao apoiar em um solo mais consistente, inclusive quando o trator mantém o mesmo peso
aderente.
Dentro deste uso poderíamos distinguir
basicamente três condições mais freqüentes:
. Trator arrastando um reboque:
De uma maneira mais freqüente no Brasil,
realizando transporte interno, dentro da propriedade. Na Europa, utiliza-se bastante no
transporte externo, necessitando por isto maior rigor no cumprimento de normas de circulação viária, como registro, habilitação, sinalização, etc.
.
3.
4.
5.
6.
7.
(Fonte: Moteriol de divulgopio Deutz-Fohr)
aparece entre as rodas e o terreno, resultado de outras forças que estão localizadas
em diferentes pontos da wna de coritato entre ambos. Tem a direção igual à direção de
avanço e se pode considerar que esteja localizada no centro desta wna.
Geralmente a roda está coberta por um
pneu e a superficie de apoio é o solo agrícola.
Assim os dois se deformam ao mesmo tempo
e a wna de contato se torna curvilínea. A área
formada tem a forma elíptica para os pneus
diagonais e um pouco mais próxima ao retângulo no caso dos pneus radiais. A aderência
depende da carga dinâmica, que é a parte do
peso total que está apoiado sobre o eixo ou
eixos motrizes e da natureza e condição desta
~áquinas.
Março / Abril 2001
Trator
arrastando
equipamento
de tra-
balho com o solo pela barra de tração:
Este tipo de equipamento seria chamado
de arrastado e cada vez se utiliza menos no
Brasil, um pouco mais no Centro-oeste e norte que no sul-sudeste. A utilização da barra
de tração para o trabalho se utiliza bastante
quando esta compõe o engate juntamente com
o sistema de controle remoto de cilindros externos, freqüente em grades e semeadoras de
grande porte.
. Trator trabalhando com implemento preso aos três pontos do sistema hidráulico:
Este sistema bastante popularizado nos
últimos anos tem vantagens importantes em
relação ao uso da barra de tração, como a manobrabilidade e operacionalidade
do implemento, assim como a total integração entre
este e o trator.
. Trator trabalhando com um implemento
preso ao seu chassi:
É o caso de carregadoras frontais, máquinas de colheita de espigas, etc. O seu uso é
pequeno e bastante restrito.
Além da função anterior, o trator é o responsável por acionar mecanismos da máquina agrícola a que está conectado, por meio da
tomada de potência. Nesse segundo caso haverá o movimento relativo entre trator e máquina agrícola.
O Brasil utiliza bem menos esta forma do
que a Europa e o meio agrícola utiliza bem
mais que o meio rural, como a mecanização
nas atividades wotécnicas. Exemplo.: pulverizador, enxada rotativa, etc.
Há também o uso como central fixa. Essa
terceira maneira de uso do trator, bastante
mais restrita que as primeiras, utiliza somente o movimento da tomada de potência para
acionar máquinas estacionárias.
Exemplo:
bomba de água, trilhadora.
Fernando
Schlosser,
Universidade
de Santa Maria
i
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Tratores agricolas 3 e 4