INCIDÊNCIA DE DOR LOMBAR EM GESTANTES¹
MACHADO, Bruna La Roque; SILVA, Franciely; BRAUNER, Greice da Silva
Ries; REFATTI, Jessica Ribeiro; GARLET, Patricia; GUEDES, Priscilla Fonseca
Guedes²; VAUCHER,Daniela Sanchotene³.
1 Artigo da Disciplina de Fisioterapia e Promoção da Saúde II, do Curso de FisioterapiaUNIFRA, Santa Maria, RS.
2 Acadêmicas do Curso de Fisioterapia - Centro Universitário Franciscano– UNIFRA, Santa
Maria, RS.
3 Docentes do curso de fisioterapia - Centro Universitário Franciscano– UNIFRA, Santa Maria,
RS.
Curso de Fisioterapia. Grupo de Pesquisa Promoção da Saúde e Tecnologias aplicadas à
Fisioterapia. Centro Universitário Franciscano - UNIFRA.
E-mail: [email protected]
RESUMO
Esta pesquisa teve o objetivo de avaliar a incidência de dor lombar em gestantes. Foram
entrevistadas oito gestantes com idade de 13 a 40 anos, a partir do segundo e terceiro trimestre de
gestação, período em que ocorre maior ganho de peso. Utilizou-se uma ficha de avaliação e para
verificar a intensidade da dor foi utilizada a Escala Visual Analógica. Os resultados mostraram que
62,5% das entrevistadas apresentaram dor lombar e 37,5% dor na região lombo-sacra. Destas, 75%
relataram desconforto ao dormir e 75% sentiram desconforto ao realizar alguma atividade ou esforço.
Dessa forma, constatou-se que estas gestantes apresentaram alta incidência de dor lombar, afetando
assim sua qualidade de vida.
Palavras-chave: Lombalgia; Gestantes; Dor.
1 INTRODUÇÃO
Durante a gestação ocorrem várias modificações fisiológicas na mulher, pelo
aumento dos hormônios estrogênio e progesterona. Dentre elas, cita-se a alopecia, aumento
da função renal, e na maioria das mulheres pode ocorrer no final da gestação, perda urinária
esporádica aos esforços, edema, diminuição do retorno venoso, deslocamento do centro de
gravidade causando um aumento da lordose lombar, frouxidão ligamentar, diminuição da
mobilidade estomacal, constipação intestinal, aumento frequência respiratória (FR) e
frequência cardíaca (FC), e elevação do diafragma (BARACHO, 2002).
Moura et. al. (2007) conceitua lombalgia como sendo um sintoma que afeta a área
entre a parte mais baixa do dorso e a prega glútea, podendo irradiar-se para os membros
inferiores e apresentar-se de três formas: dor na coluna lombar, dor no quadril e dor
combinada.
Lombalgia na gestação acomete cerca de 50% das gestantes, causando importantes
transtornos sociais. Durante a gestação, é comum o aparecimento de algias posturais,
também chamadas de dores nas costas e principalmente as lombalgias. Essas dores
aumentam principalmente se a mulher apresentava esta queixa antes de engravidar. Além
disso, esse sintoma pode perdurar no período puerperal e continuar interferindo com sua
rotina diária e, consequentemente, em sua qualidade de vida (MARTINS; SILVA, 2005).
A limitação funcional para as atividades da vida diária também pode ser prejudicada
durante a gestação e após o parto. Após três anos, 20% das mulheres que apresentaram
algias lombar e pélvica posterior, associadas e ainda persistiam com esta queixa
(MARTINS; SILVA, 2005).
Segundo Butler et al. (2006), o ganho de peso mais gradual característico do
primeiro trimestre da gestação, explica as não diferenças no equilíbrio corporal no primeiro
trimestre gestacional em comparação a não gestantes. A partir do segundo e terceiro
trimestres ocorre um ganho de peso maior o que pode explicar a diminuição em estabilidade
postural durante essas fases da gestação. Além disso, o aumento da altura do centro de
gravidade e a frouxidão ligamentar principalmente da região do quadril combinados
provocam as alterações no equilíbrio durante a gestação.
Com o ganho de peso característico da gestação, o centro de massa do corpo movese para frente, e assim afeta a estabilidade postural em resposta às perturbações que
ocorrem pela relação entre a posição do centro de massa e a resposta do torque do
tornozelo a este movimento (LIMA; OLIVEIRA, 2005).
Em vista disso, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a incidência de dor lombar em
gestantes.
2 METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se por ser descritivo com caráter quantitativo.
Esta pesquisa foi realizada no grupo de gestantes da Unidade Básica de Saúde
(UBS) Floriano Rocha, realizada no turno da manhã, durante os meses de abril a maio de
2011.
As gestantes que aceitaram participar desta avaliação assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a amostra foi tipo não probabilística ocidental.
Os critérios de inclusão foram: gestantes a partir do segundo trimestre e que
estivessem realizando pré-natal. Já os critérios de exclusão foram: relatos de abortos,
gestação gemelar e que relataram ter ingerido analgésicos nas últimas 4 horas ou que
faziam algum tratamento pra lombalgia.
Para a coleta de dados foi aplicada uma ficha de avaliação desenvolvida pelas
pesquisadoras que continha os dados de identificação, história obstétrica, história clinica e
uso ou não de medicamentos.
Foi aplicada também a Escala Visual Analógica (EVA), para identificar a intensidade
da dor, sentida na última semana, sendo uma escala de 0 a10 onde zero é dor nenhuma e
10 para dor intensa. Para utilizar a EVA o pesquisador questionou a gestante quanto ao seu
grau de dor sendo que 0 significa ausência total de dor e 10 o nível de dor máxima
suportável pelo paciente. Considerou-se intensidade de 1 a 3 leve, de 4 a 7 moderada e já
de 8 a 10 dor intensa.
Posteriormente, os dados foram analisados em estatística descritiva.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram entrevistadas oito gestantes, sendo duas no segundo trimestre gestacional e
seis no terceiro trimestre, com idades variando de 13 a 40 anos. Quanto à história
obstétrica, 50% relataram ser a primeira gestação; 25% segunda gestação; 12,5% na
terceira gestação e 12,5% na décima gestação, conforme Gráfico 1.
Gráfico 1. História obstétrica
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Primeira gestação Segunda gestção Terceira gestação Décima gestação
Nenhuma das gestantes era fumante, 100% das gestantes realizavam
acompanhamento pré-natal.
Estudo realizado comprovou que o período pré-natal é uma época de preparação
física e psicológica para o parto e para a maternidade e, como tal, é um momento de intenso
aprendizado e uma oportunidade para os profissionais da equipe de saúde desenvolver a
educação como dimensão do processo de cuidar. O número de consultas realizadas durante
o pré-natal também está diretamente relacionado com melhores indicadores de saúde
materno-infantil, ou seja, parece haver um efeito dose-resposta na atenção pré-natal
(HALPERN et al., 1998).
Gestantes que frequentam serviços de atenção pré-natal apresentam menos
doenças e seus filhos apresentam um melhor crescimento intra-uterino, menor mortalidade
perinatal e infantil (HALPERN et al., 1998).
Ao questionamento quanto a terem doenças associadas, 75% das gestantes não
apresentaram nenhuma patologia, 12,5% apresentaram hipertensão e 12,5% apresentaram
renite.
Os distúrbios hipertensivos são as complicações médicas de maior relevância
durante o período gravídico-puerperal. O termo “hipertensão na gravidez” é usualmente
utilizado para descrever desde pacientes com discreta elevação dos níveis pressóricos, até
hipertensão grave com disfunção de vários órgãos. A hipertensão incide em cerca de 10%
das gestações e, a exemplo do que ocorre em diversos países, representa a primeira causa
de morte materna (Sibai, 1996 apud BEZERRA et al., 2005).
Das gestantes entrevistadas no presente estudo, 62,5% apresentaram dor na região
lombar e 37,5% na região lombo-sacra. O gráfico 2 demonstra o período do dia em que
referiram a apresentar mais dor foi 62,5% durante todo o dia, já 25% das gestantes
queixaram-se mais de dor durante a noite e 12,5% no período da tarde.
Gráfico 2. Período do dia em que as gestantes referiram as algias
Durante todo o dia
Durante a noite
Durante a tarde
Quanto ao início do quadro álgico, 12,5% já referiram dor antes da gestação, 25%
começaram a sentir dor no quarto mês, 25% no sétimo mês, 25% no oitavo mês e 12,5% no
nono mês gestacional, de acordo com o gráfico 3.
Gráfico 3. Início do quadro álgico
Dor antes da Gestação
A partir do 4º mês gestacional
A partir do 7 º mês gestacional
A partir do 8º mês gestacional
A partir do 9º mês gestacional
O gráfico 4 refere-se aos resultados da EVA demonstraram que 75% apresentaram
dor moderada entrevistadas e 25% dor intensa.
Gráfico 4. Classificação da dor conforme a Escala Analógica de Dor
Dor intensa
Dor moderada
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Os fatos de os sintomas relativos à gravidez estarem associados à alta incidência de
lombalgia identificada nesta pesquisa, podem explicar a tentativa de compensação de
curvaturas da coluna vertebral para a manutenção do equilíbrio corporal. O centro de
gravidade vai se modificando com o avanço da gestação, e a região lombar acentua sua
curvatura com o crescimento uterino frontal (MARTINS; SILVA, 2005).
Em estudo desenvolvido na cidade de Paulínia-SP, foi aplicado um questionário com
203 gestantes em uma Unidade Básica de Saúde, sobre a prevalência de algias na coluna
vertebral durante a gravidez. Aproximadamente 80% relataram dores na coluna vertebral e
pelve, sendo que 51% das gestantes com idade gestacional entre 34 e 37 semanas
apresentaram dor que interferia significativamente em suas habilidades físicas e qualidade
de vida (MARTINS; SILVA, 2005).
Realizou-se um estudo com gestantes com idade gestacional entre 10 à 36
semanas, sendo 7 do segundo e 11 do terceiro trimestre, no qual a coleta de dados foi
realizada no período de janeiro a julho de 2004 e observou-se que uma gestante do primeiro
e duas do segundo trimestre verbalizaram inquietude, vontade de conversar e pensamentos
ruminantes que pareciam estar relacionados à preocupação em tentar dormir e com o medo
da insônia. (PEREIRA; BACHION, 2005).
Das participantes, 75% relataram desconforto para dormir, 75% delas apresentaram
dor ao realizar atividade física ou algum tipo de esforço, sendo que 25% não referiram
queixa de dor. Entre as gestantes 62,5% não deixaram de realizar Atividades de Vida
Diárias (AVD’s) devido à dor, sendo que 37,5% deixaram de realizar.
Ao analisar, a presença ou não de cansaço durante o dia, 87,5% das gestantes
sentiam-se cansadas devido a dor e 12,5% não apresentam queixas. Segundo Artal et al, as
mulheres sedentárias apresentam um considerável declínio do condicionamento físico
durante a gravidez. Além disto, a falta de atividade física regular é um dos fatores
associados a uma susceptibilidade maior a doenças durante e após a gestação.
Apesar da falta de evidências claras que as lesões músculo - esqueléticas são
aumentadas durante a gravidez, essas possibilidades devem, contudo, ser consideradas
quando se prescreve exercícios na gravidez (ARTAL; O’TOOLE, 2003).
Butler et al. (2006) encontraram que o equilíbrio corporal foi diminuindo no segundo e
terceiro trimestre de gestação, comparado a valores de não gestantes e, permaneceu
diminuindo após o parto (6 a 8 semanas). A diferença nos valores de equilíbrio ao se
analisar a influência da visão (olhos abertos e olhos fechados) foram maiores no terceiro
trimestre comparado aos valores de não gestantes e continuaram aumentando com o
progresso da gravidez, sendo a condição com ausência da visão a com os maiores valores
de oscilação.
Segundo Novaes et al, alguns trabalhos têm demonstrado que mulheres com uma
condição física melhor apresentam menos chances de desenvolver lombalgia durante
gestação. A importância da aquisição de novos hábitos posturais, a realização de exercícios
terapêuticos e técnicas de relaxamento proporcionam uma melhor preservação da
musculatura. Dois estudos mostram claramente a melhora da dor na região lombar e mesmo
a prevenção desta, antes e durante a gestação, na manutenção de uma atividade física
regular (NOVAES; SHIMO; LOPES, 2006).
4 CONCLUSÃO
Por meio deste estudo foi possível identificar o alto índice de dor lombar nas
gestantes entrevistadas. A dor acarreta muitas vezes prejuízos na qualidade de vida e
saúde geral das gestantes, pois mesmo com dor as gestantes não deixaram de realizar suas
atividades de vida diária (AVD’s).
As mesmas sentiram dor na maior parte do dia, cujo maior índice ocorreu no segundo
trimestre da gestação, mesmo com o atendimento médico.
Para melhorar esse índice, destacam-se a importância de orientações posturais e
como realizar as AVD’s, e também a necessidade de inserção do fisioterapeuta para a
prevenção das algias e atendimento às gestantes na atenção primária de saúde.
Contudo, recomenda-se um estudo com maior número de participantes para
perceber a real porcentagem da dor lombar em gestantes em outras fases e sugere-se que
deveria existir um grupo de controle para cada trimestre.
REFERÊNCIAS
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Gynecologists for exercise during pregnancy and the postpartum period. 2003.
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LIMA, Fernanda R.; OLIVEIRA, Natália. Gravidez e exercício. In: Revista Brasileira
de Reumatologia. São Paulo, v. 45, n. 3, p. 188-90, maio/jun., 2005.
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MOURA, Silvia Reis Vaz de et al. Dor lombar gestacional: impacto de um protocolo
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Acesso em: 6 de maio de 2011.
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SIBAI, B. M. Hypertension in pregnancy. 1996. In: BEZERRA, Elmiro Hélio Martins
[et al.]. Mortalidade materna por hipertensão: índice e análise de suas características
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NOVAES FS, Shimo AKK, Lopes MHBM. Lombalgia na gestação. Rev Latino-am
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