Procedimentos linguístico-discursivos utilizados pelos
twitteiros para a composição de um texto sintético
Isaac Itamar de Mello Costa1 (COSTA, I.I.M.)
José André de Lira Silva2 (LIRA SILVA, J.A.)
Orientadora Prof. Ms. Sônia Virgínia Martins Pereira
Resumo:
O trabalho visa à discussão sobre o twitter como ferramenta pedagógica
que se utiliza do texto sintético, abrangendo diversos mecanismos
linguísticos (Koch, 2003) e proporcionando multiletramentos (SOARES,
2002). Objetivando expandir no aluno tais mecanismos (Ferreira e Spinillo,
2003), integrando os meios linguístico-discursivos aos meios tecnológicos,
vendo os gêneros digitais (Levy, 1993) como instrumentos de articulação
entre as práticas sociais e objetos escolares (Maturana, 1998), e mantendo
contato diário com a leitura/escrita. Os Resultados obtidos são apontados
através de pesquisa realizada dentro da rede social.
Palavras-chave: Tweets, Leitura/Escrita, Integração Pedagógica.
Abstract:
The project aims at the discussion on twitter as a pedagogical tool which
uses the synthetic text, covering several linguistic mechanisms (Koch,
2003) and providing multi-literacies (Soares, 2002). Aiming to expand the
student such mechanisms (Ferreira & Spinillo, 2003), integrating the means
linguistc-discursive to technological means, seeing the digital genres (Levy,
1993) as instruments of articulation between social practices and school
objects (Maturana, 1998) and maintaining daily contact with the read /
write. The results obtained are indicated by research conducted within the
social network.
Keywords: Tweets, Reading/Writing, Integrating Pedagogical
Introdução
Para a composição do trabalho, levaram-se em consideração os conceitos
Bakhtianos de gênero do discurso e sua empregabilidade didática abordada por Dolz
e Bronckart; todos retomados pelos estudos de Koch sobre o tema.
As perspectivas buscadas foram a ampliação das discussões sobre gênero
discursivo com o foco nos tweets, fragmentos concisos de texto de caráter social,
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comunicativo e às vezes meta-comunicativo dos quais se utiliza o twitter, rede
social mundialmente difundida, criada há aproximadamente quatro anos. A
pesquisa destaca que os alunos se utilizam dos recursos de estratégias de
sumarização ao usar o twitter, pois este exige que se faça uma leitura dos fatos,
interpretação do que foi lido, disposição mental e síntese escrita que se manifesta
em no máximo 140 caracteres (número máximo suportado pela rede social)
dispondo ou não da exposição de pontos de vista. Dessa forma os alunos utilizam
um gênero discursivo que exige a prática do resumo, além, é claro, de exercitar a
leitura, a interpretação, e em alguns casos, a paráfrase de notícias, comentários e
até mesmo outros resumos obtidos na internet.
Deixamos então uma sugestão para o educador exemplificar os conceitos de
gêneros (textuais, digitais, e do discurso), paráfrase (e conceitos de plágio),
intertextualidade, transtextualidade, texto cifrado, contexto e referenciação, além
da capacidade metatextual e intelecção de textos na sala de aula, e, ao mesmo
tempo, incentivar os alunos à exposição paulatina de suas opiniões, princípio muito
pouco difundido no ensino médio, em especial em escolas públicas. “Estamos no
momento em que a escola deve se modificar para acompanhar a realidade do
aluno. O professor deixou de ser somente um transmissor e passou a ser um tutor
de conhecimentos”, assegura Otacília Pereira (2008). E, essa realidade diz que
ferramentas como o twitter podem ser fortes aliadas do processo de ensino e de
aprendizagem, uma vez que muitos estudantes são usuários dele em contextos
extraescolares.
O Twitter como ferramenta pedagógica
No inventário das deficiências que podem ser apontadas como resultados do
que já nos habituamos a chamar de ‘crise do sistema educacional brasileiro’, ocupa
lugar privilegiado o baixo nível de desempenho linguístico demonstrado por
estudantes na utilização da língua, quer na modalidade oral quer na modalidade
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escrita. Não falta quem diga que a juventude de hoje não consegue expressar seu
pensamento; que, estando a humanidade na ‘era da comunicação’, há uma
incapacidade generalizada de articular um juízo e estruturar linguisticamente uma
sentença. E para comprovar tais afirmações, os exemplos são abundantes: as
redações de vestibulandos, o vocabulário da gíria jovem, o baixo nível de leitura
comprovado facilmente pelas baixas tiragens de nossos jornais, revistas, obras de
ficção etc.
Uma das propostas não burocráticas para amenização do problema, apesar de
simples, é difícil de ser cumprida: leitura e escrita contínuas. No geral, os alunos
associam o distanciamento da realidade acadêmica de seu cotidiano, em sentido
mais amplo, à face arcaica de algumas instituições, ou mesmo das diretrizes que a
regem. O professor pode não obter êxito ao exigir do aluno uma mudança de
concepção brusca como essa, mas pode interagir de modo a penetrar no universo
discente buscando integrar a disciplina à realidade do alunado. Essa forma de
interação seria o uso didático das redes sociais, dentre elas o twitter.
O twitter é uma rede social e servidor para microblogging que permite aos
usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos (em textos de
até 140 caracteres, conhecidos como "tweets"), por meio do website do serviço,
por SMS e por softwares específicos de gerenciamento. As atualizações são exibidas
no perfil de um usuário em tempo real e também enviadas a outros usuários
seguidores que tenham assinado para recebê-las. Desde sua criação em 2006 por
Jack Dorsey, o Twitter ganhou extensa notabilidade e popularidade por todo
mundo. Algumas vezes é descrito como o "SMS da Internet"
Esse serviço, por exigir que se leia com precisão e se escreva de forma concisa
(dentro
dos
140
caracteres),
constitui-se
em
uma
ferramenta
ideal
de
desenvolvimento de determinadas habilidades de leitura e escrita: numa
perspectiva mais detalhada, um melhor domínio dos processos de sumarização dos
textos, e uma leitura mais satisfatória. Essa constante alternância entre escrita e
leitura de que se vale o twitter deve ser utilizada pelo educador de modo amplo,
utilizando-se dos processos que são próprios dessa rede social. Sugere-se, assim,
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uma percepção do uso de gêneros no twitter, uma vez sabido que nele o aluno
pratica o resumo de forma intuitiva e uma escolha de objetos de ensino tão
próximos da sua vivência impactaria em melhor desempenho em suas atividades de
leitura e escrita.
Sobre as Competências Metatextuais
Entendemos as competências metatextuais como relacionadas à reflexão e
manipulação de textos (Gombert, 1992). Nelas estão incluídas as competências que
permitem o conhecimento das tipologias e gêneros de texto, a construção da
coerência textual e a utilização de recursos coesivos na produção de texto, entre
outras.
Ferreira e Spinillo (2003) examinaram a influência de atividades que têm
como objetivo desenvolver a consciência metatextual na produção de histórias
através de um estudo com crianças de sete e oito anos. Verificaram que as
atividades de identificação, ordenação e complementação dos componentes
estruturais próprios de histórias possibilitam a construção de textos mais
elaborados, pois essas atividades proporcionam a reflexão sobre o esquema
narrativo.
Desse modo, a consciência metatextual pode ser passível de desenvolvimento,
o que pode resultar na produção de textos mais elaborados. O contato com
diferentes gêneros textuais amplia a consciência metatextual e permite que se
perceba a importância de se atentar às estruturas específicas de cada um para que
na produção de textos se alcance seu objetivo básico, o da interação comunicativa.
Assim sendo, a competência metatextual está ligada aos usuários da rede de
forma a possibilitar que se organizem os diversos discursos (tweets) em gêneros
(exemplificados no tópico seguinte). É função do professor nesse sentido, focalizar
essa capacidade latente, estimulando-a, ao dar lugar no espaço da sala de aula
para as formas de leitura e escrita que se apresentam no ambiente virtual a fim de
desenvolver nos alunos a competência metatextual, pois, como assegura Koch “O
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contato com os textos da vida cotidiana (...) exercita a nossa capacidade
metatextual para a construção e intelecção de textos” (KOCH, 2003). Nisso é
reconhecida a capacidade dos usuários do twitter de organizar o discurso em
gêneros, ao se valerem de recursos organizacionais e comunicacionais, próprios das
ferramentas digitais acionadas que os institui como leitores e produtores de textos.
Os gêneros na escola
Como gênero próprio do espaço digital o tweet estabelece-se como um texto
conciso que se assemelha, em sua estrutura organizacional a outros gêneros
textuais. Percebemos os tweets como representações de gêneros de discurso
modernos, uma vez que eles seriam, assim como os scraps (texto sintético
ambientado no Orkut), uma modificação do gênero bilhete, que traria alguma
informação útil, ou lembrete para ser compartilhado, intermediado pela escrita.
Ele estaria, assim, localizado na colônia de gêneros textuais de troca
epistolar, agrupamento presente amplamente em propostas curriculares de muitos
sistemas educacionais de estados e municípios brasileiros. Isso bastaria para
conferir aos tweets estudo por parte os professores, de suas potencialidades
pedagógicas como gêneros utilizados pelos alunos fora da esfera escolar. Assim,
abre-se espaço para uma análise dos gêneros discursivos de forma ampla,
estudados como situações de comunicação (DOLZ & SCHNEUWLY, 1997) e não
totalmente isolados desses parâmetros, como pura forma linguística.
Deste modo, do que foi exposto, pode-se
destacar que é de extrema
importância a utilização em sala de aula, independente da disciplina de estudo, de
diferentes gêneros textuais/digitais, uma vez que fazem parte do universo dos
alunos. O professor/orientador deve chamar a atenção do aluno/produtor para o
plano composicional, o conteúdo temático e os estilos pertencentes a determinado
texto que se pretenda produzir e/ou que se está em interação. Com isto,
certamente, ele estará contribuindo para a construção do(s) sentido (s) dos textos
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produzidos pelos alunos, o que confirma a imbricação entre produção e
compreensão daqueles.
É compreensível que quanto maior for o contato do aluno com os diferentes
tipos de textos, quer sejam oriundos da esfera social cotidiana (diálogos, cartas,
bilhetes, scraps, tweets...), quer sejam provenientes de uma esfera pública mais
complexa de interação verbal (discurso científico, teatro, romance e outros) maior
será a sua capacidade de identificar e de refletir sobre os mecanismos linguísticos
e extralinguísticos que constituem o processo comunicativo. Em particular, aqui, a
produção sintética do texto escrito. É de suma importância chamar atenção,
entretanto, para o fato de que toda atividade de produção deve ser encaminhada
de acordo com um objetivo, para que ela tenha uma função comunicativa e não
seja, apenas uma mera redação escolar. Do contrário, corre-se o risco de se trazer
o tweet e outros gêneros digitais para o conteúdo escolar, mas negando-se sua
dinamicidade como texto empiricamente realizado.
Os Letramentos que propicia o hipertexto
Considerando que os tweets manifestam-se hipertextos, e que estes por sua
vez propiciam letramentos, analisemos os aspectos teóricos destas práticas para a
composição de um indivíduo multiletrado.
Letramento designa o estado ou condição em que vivem e interagem
indivíduos ou grupos sociais letrados, pode-se supor que as tecnologias de escrita,
instrumentos das práticas sociais de leitura e de escrita, desempenham um papel
de organização e reorganização desse estado ou condição. Lévy (1993) inclui as
tecnologias de escrita entre as tecnologias intelectuais, sendo responsáveis por
gerar estilos de pensamento diferentes; o autor afirma que as tecnologias
intelectuais não determinam, mas condicionam processos cognitivos e discursivos.
Há estreita relação entre o espaço físico e visual da escrita e as práticas de
escrita e de leitura. O espaço da escrita, na definição de Bolter (1991), é “o campo
físico e visual definido por uma determinada tecnologia de escrita”. Ou seja, todas
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as formas de escrita são espaciais, todas exigem um “lugar” em que a escrita se
inscreva/escreva, mas a cada tecnologia corresponde um espaço de escrita
diferente. Este espaço pode relacionar-se até mesmo com o sistema de escrita, ou
com os gêneros e usos de escrita, condicionando as práticas das mesmas.
No computador, o espaço de escrita é a tela, ou a “janela”; quem escreve
ou quem lê a escrita eletrônica tem acesso, em cada momento, apenas ao que é
exposto no espaço da tela: o que está escrito antes ou depois fica oculto (embora
haja a possibilidade de ver mais de uma tela ao mesmo tempo, exibindo uma
janela ao lado de outra, mas sempre em número limitado).
O que é mais importante, porém, é que a escrita na tela possibilita a criação
de um texto fundamentalmente diferente do texto no papel o chamado hipertexto
que é, segundo Lévy (1999), “um texto móvel, caleidoscópico, que apresenta suas
facetas, gira, dobra-se e desdobra-se à vontade frente ao leitor”. O texto no papel
é escrito e é lido linearmente, sequencialmente – da esquerda para a direita, de
cima para baixo, uma página após a outra; o texto na tela – o hipertexto – é escrito
e é lido de forma multilinear, multi-sequencial, acionando-se links ou nós que vão
trazendo telas numa multiplicidade de possibilidades, sem que haja uma ordem
predefinida.
Assim, a tela, como novo espaço de escrita, traz significativas mudanças nas
formas de interação entre escritor e leitor. No que diz respeito aos processos
cognitivos envolvidos na escrita e na leitura de hipertextos, a hipótese é de que
essas mudanças tenham consequências sociais, cognitivas e discursivas, e estejam,
assim, configurando um letramento digital, um multiletramento; certo estado ou
condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem
práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do estado ou condição – do
letramento – dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel. Para alguns
autores, os processos cognitivos inerentes a esse letramento digital reaproximam o
ser humano de seus esquemas mentais; Ramal (2002) afirma:
Estamos chegando à forma de leitura e de escrita mais próxima do
nosso próprio esquema mental: assim como pensamos em hipertexto,
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sem limites para a imaginação a cada novo sentido dado a uma
palavra, também navegamos nas múltiplas vias que o novo texto nos
abre, não mais em páginas, mas em dimensões superpostas que se
interpenetram e que podemos compor e recompor a cada leitura.
RAMAL (2002).
Pode-se concluir que a tela como espaço de escrita e de leitura traz não
apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos
cognitivos/formas de conhecimento, maneiras de ler e de escrever, enfim, um novo
letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas
de escrita e de leitura na tela. (SOARES, 2002).
O hipertexto é construído pelo leitor no ato mesmo da leitura: optando entre
várias alternativas propostas, é ele quem define o texto, sua estrutura e seu
sentido. Enquanto no texto impresso, cuja linearidade, por si só, já impõe uma
estrutura e uma sequência, o autor procura controlar o leitor, lançando mão de
protocolos de leitura que definam os limites da interpretação e impeçam a superinterpretação. “No texto eletrônico, o autor será tanto mais competente, quanto
mais alternativas de estruturação e sequenciação do texto possibilite, quanto mais
opções de interpretação, ofereça ao leitor” Eco (1995) apud Soares (2002).
Pode-se concluir que não é só este novo espaço de escrita que é a tela que
gera um novo letramento, para isso também contribuem os mecanismos de
produção, reprodução e difusão da escrita e da leitura. Segundo Eco (1996), os
eventos de letramento que ocorrem com intermediação da Internet exigem novas
práticas e novas habilidades de leitura e de escrita: “Precisamos de uma nova
forma de competência crítica, uma ainda desconhecida arte de seleção e
eliminação de informação, em síntese, uma nova sabedoria”.
Analisemos o seguinte: ao contrário da cultura de papel, a cultura digital
oferece letramentos, e não um único fenômeno singular: diferentes tecnologias de
escrita geram diferentes estados ou condições naqueles que fazem uso dessas
tecnologias, em suas práticas de leitura e de escrita: diferentes espaços de escrita
e diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita resultam em
diferentes letramentos. (SOARES, 2002).
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A permanência do processo educativo.
Sob a perspectiva de Vieira (2008) os espaços educativos constituem-se em
fenômenos
sociais
que
manifestam,
com
fundamento
nas
emoções,
os
pensamentos, os conceitos e os objetivos dos grupos sociais, num processo histórico
e relacional, criando realidades que, nesta interação constante, recria os sujeitos
dela participantes. Para Humberto Maturana (1998), este agir humano nas relações
é cooperativo. Ao tomarmos o Twitter enquanto grupo social, ambiente de
letramento, constituído de inteligência coletiva (Lévy, 1993) podemos estender o
conceito de Maturana de aprendizagem cooperativa às redes sociais, uma vez que
estas, são constituídas exclusivamente dessa interação sócio-comunicacional.
Assim existe um aspecto importante destacado por Maturana: a permanência
do processo educativo. Não existe intervalo no ato de educar no conviver. O ato
pedagógico é assim entendido como toda ação que alguém realiza no conviver. Os
espaços artificiais de educação são aqueles criados pelo grupo social para além do
convívio do núcleo familiar ou tribal próprios do ser humano. Valorizar e
possibilitar a plenificação do conviver nos espaços educativos é caminho para
existencializar o conhecer-viver e assumir a cultura como uma das dimensões do
convívio de tal modo que se torne – ela, cultura – cada vez mais humanizante, já
que, ao mesmo tempo, é comunicada aos sujeitos e transformada por eles na
congruência.
Nesse
sentido,
no
processo
educativo,
“ocorre
como
uma
transformação estrutural contingente com uma história no conviver, e o resultado
disso é que as pessoas aprendem a viver de uma maneira que se configura de
acordo com o conviver da comunidade em que vivem” (Maturana, 1998).
Dados da Pesquisa
Uma vez propostas as novas formas de letramento originadas a partir dos
gêneros digitais e embasadas as técnicas para um educar contínuo e de convívio
aplicadas às redes sociais, foi-se pesquisado alguns casos particulares no twitter
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nos quais se podem abstrair discussões a cerca de procedimentos sócio-linguistodiscursivos utilizados pelos usuários.
Para a análise dos textos sintéticos produzidos no twitter, foram levados em
consideração dois grupos de jovens entre quinze e dezessete anos (idade
geralmente correspondente ao ensino médio) os quais produzem tweets
diariamente. Coletamos alguns dos textos postados por eles para exemplificar
certos componentes curriculares presentes em suas atividades de escrita social.
Partimos da idéia de que esses jovens ao postarem um tweet estão
escrevendo um bilhete – daí julgarmos os tweets como evolução desse gênero.
A nossa intenção nessa pesquisa foi de tratar de linguística dentro dessa rede
social. Cabe ao educador, porém, aplicar seus inúmeros recursos extra-linguisticos
dentro da sua área de atuação. Pesquisas já foram levantadas sobre o tema pelo
professor do Colégio Hugo Sarmento (no perfil @hs_micro_contos) Tiago Calles, de
São Paulo, sobre o uso da literatura dentro do twitter, manifestando o uso da
dissertação na arte literária. O estudo propunha aos alunos a criação de
microcontos dentro do limite do twitter que mais tarde seriam analisados pelo
professor. Em entrevista ao Estadão, Tiago conta que aproveitou os limites de
espaço da rede para trabalhar a estrutura da narrativa e as poesias concretas,
abordadas em aula, de uma maneira diferente. "O fato de envolver uma outra
plataforma interessou os alunos, que se sentiram mais motivados".
Desta maneira, os exemplos que seguem são uma amostra do potencial
educacional do twitter, que pode ser trabalhado por diversas outras áreas, e até
mesmo disciplinas, dinamizando as formas de aprendizado, e aproximando o
professor da interação educacional abordada anteriormente.
Os exemplos a seguir têm suas situações de produção formatadas pela
pergunta What’s happening? “o que está acontecendo?” imposta pelo sistema, que
propicia a descrição de qualquer situação cotidiana. No geral, os abordados são
diversos assuntos aleatórios a escolha do usuário; porém, por vezes esse tema é
direcionado pelas sugestões que o site oferece baseado em buscas sobre do que as
pessoas mais estão falando no momento, chamados Trending Topics, ou TT’s. Assim
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o twitter fornece dados dos usuários sobre as discussões mais significativas daquele
momento; há um TT global, ou não territorial, intitulado Trends, assim como os
TT’s que delimitam regiões e nacionalidades, por exemplo, os TT‘s Brazil.
As amostras de conteúdos recolhidas manifestam certos aspectos lingüísticos,
mas que não perdem seu aspecto principal de texto conciso, adequado à
formatação da rede social (seus 140 caracteres).
Figura 1: Bilhete
Fonte: twitter.com
No exemplo dado acima, a menção ao nome (@asdecopas_) é chamada reply (termo inglês
correspondente a resposta) estabelecendo claramente um remetente. No tocante ao bilhete, este
afasta a situação de produção da de recepção, criando um vácuo temporal entre emissor e
receptor. O tweet, por sua vez, é instantâneo, reduzindo o espaço de tempo entre o envio de uma
mensagem e sua recepção, e simbolizando na mente a sensação de instantaneidade; o que no ramo
da comparação faz o tweet oscilar entre interação oral e escrita (COSTA, Maria Helenice Araújo,
2009).
Figura 2: Mensagem cifrada
Fonte: twitter.com
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A cifração das palavras é utilizada pelos usuários para se reduzir a estrutura morfossintática da
frase, adequando a mensagem aos 140 caracteres exigidos pelo sistema. Um dado interessante de
ser abordado pelo professor nessa situação é o vício de linguagem que culmina em transpor esta
forma cifrada, aceitável na web, para a forma escrita, e por vezes oral em qualquer contexto
sociocomunicativo, o que não atende ao princípio de adequação da linguagem em contextos formais
e informais.
Figura 3: Citação
Fonte : twitter.com
Tanto a citação direta como a paráfrase (citada adiante), podem ser usadas no tocante às
discussões sobre plágio, muito frequentes no âmbito escolar e acadêmico. As citações utilizadas
pelos tweeteiros são inúmeras, mas nem sempre vêm com o nome do autor no corpo do texto,
podem ser manifestadas em retweets (também tratados adiante). As citações literais de livros não
são tão comuns, o exemplo acima traz um raro caso desse acontecimento, com um trecho do livro
Crepúsculo (Twilight, em inglês) sobre vampiros, de autoria de Stephenie Meyer. Outro aspecto
interessante que poderia ser abordado pelos professores de literatura: essa garimpagem e também
divulgação de livros lidos. Interessante destacar que quando se utiliza o símbolo (#) antes do nome
do autor como em (#claricelispector), o site gera uma hashtag, um ponto comum, com caráter de
link, que reúne todas as informações postadas por outras pessoas sobre aquele autor/tema. Assim,
com um clique sobre esse link gerado, o usuário pode deter-se apenas nas informações relevantes
sobre determinado assunto, podendo inspirar-se em textos base para suas produções (KOCH, 2003).
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Figura 4: Crítica/Sátira
Fonte: twitter.com
Manifestada principalmente sobre política no período em questão, a crítica no twitter é ferrenha, e
às vezes dirigida ao twitter do próprio político (os que delem fazem parte, como @dilmabr e
@joseserra_ respectivamente dos candidatos à presidência do Brasil (2010), Dilma Rousseff e José
Serra). Nos exemplos, a expressão Facts depois do nome de Dilma, representa uma piada comum
entre os usuários; numa tradução grossa corresponderia à expressão “fatos sobre” e engloba
incontáveis pessoas/assuntos/fatos.
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Figura 5: Intertexto
Fonte: twitter.com
Os tweets destacados fazem remissão ao Rosh Hashaná (em hebraico
, literalmente "cabeça
do ano") é o nome dado ao ano-novo no judaísmo. O Shana Tova que se repete nos exemplos é a
expressão utilizada para saudar as pessoas nessa data. Nesse sentido, o intertexto utilizado de
maneira não explícita foi essa data (KOCH,2010). Assim, o professor poderia abordar os conceitos
não somente de intertextualidade, mas também do manuseio das complexas performances
intertextuais (BAZERMAN, 2006); como a explicitação ou não da fonte, e o détournement
(GRÉSILLON & MAINGUENEAU, 1984) #calabocalula em contraposição ao famoso #calabocagalvao,
utilizado como protesto dos twitteiros aos comentários do narrador Galvão Bueno, durante a Copa
do mundo de 2010. A intertextualidade é presente em todos os tweets, e amplamente difundido nos
TT’s - como mencionado, uma vez que estes dão subsídios textuais aos usuários para comentarem
sobre determinado assunto.
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Figura 6: Paráfrase
Fonte: twitter.com
A prática de se reportar parafraseando outro discurso é constante nessa rede social. Por vezes é até
utilizado como marcador de reformulação a expressão parafraseando, seguida ou não do nome do
autor do “É comum reformularmos várias vezes o que foi dito, sendo as paráfrases geralmente
introduzidas por um marcador de reformulação” (KOCH, 2010).
Figura 7: Receita
Fonte: twitter.com
Um pouco incomum no twitter, o gênero receita aparecenos como exemplo sólido de que existem
gêneros escondidos por detrás dos discursos dos twitteiros. É importante considerarmos a existência
do tweet como gênero distinto e a ocorrência de outros inúmeros gêneros textuais e do discurso.
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Figura 8: Referenciação externa
Fonte: twitter.com
Essa introdução e referencia a diversas unidades no texto é o que entendemos por referenciação
(KOCH, 2010). No twitter, assim como o intertexto, a referenciação é fator crucial para a
compreensão, uma vez que diversos aspectos presentes no texto só são entendidos tomados seus
contextos e textos base. O diferencial está na explicitação no tocante a referencia; o intertexto não
necesariamente traz esse conceito explícito, e aí está o fator que implica alguma dificuldade no
manuseio da ferramenta, uma vez que se é necessário um enorme arcabouço de informação que é
renovada a cada instante pelos próprios usuários. No caso a referência se dá a data que foi
recolhido o exemplo, oito de setembro, dia mundial da alfabetização.
Figura 9: Resumo (jogo)
Fonte: twitter.com
Chegamos no principal ato realizado pelos usuários e que nomeia este trabalho: o texto sintético.
Assim como as nossas considerações de todos os tweets serem considerados evoluções do gênero
bilhete, consagrando-se como gênero em si, podemos considerar que todos os tweets contêm algum
tipo de síntese, uma vez que é necessário focar as ideias gerais sobre um tema, sumarizando-as e,
por último, trasncrevendo-as, gerando assim uma síntese complexa e inconsciente de ideias, que
materializa-se no gênero textual resumo.
Como exemplo, escolhemos o resumo de uma partida de futebol. Nessa simples sequência de frases,
aferimos que 1)a autora torce para o Cruzeiro, 2)conhece os nomes dos artilheiros do time,
3)assistiu a partida de futebol e 4)é dotada de uma competência metatextual, que lhe permite
fazer um resumo que contempla todas as informações importantes da partida. Estas competências
metatextuais estão relacionadas à reflexão e manipulação de textos (Gombert, 1992). Nelas estão
incluídas as competências que permitem o conhecimento das tipologias e gêneros de texto, a
construção da coerência textual e a utilização de recursos coesivos na produção de texto, entre
outras.
Desta forma é que apontamos os tweets como prato cheio para os professores trabalharem o gênero
resumo (texto sintético) em sala de aula. Além desses processos metatextuais, o professor ainda
pode se utilizar das ferramentas utilizadas para a composição desse resumo, como cada uma das
partes essenciais do texto/evento; a progressão em que elas se sucedem e a correlação que o
texto/evento estabelece entre cada uma dessas partes (FIORIN & PLATÃO, 2008). Além de abordar a
diferenciação de colagem e resumo, apoiado por exemplo no uso das paráfrases e uso dos retweets,
que trataremos a seguir.
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Figura 10: Retweet
Fonte: twitter.com
O retweet é um recurso que poupa o twitter de ser processado por plágio e/ou uso indevido de
imagem, atribuindo créditos de autenticidade aos textos publicados. Se por ventura alguém queira
se utilisar desse texto, pode retweetar, ou seja, dizer novamente atribuindo créditos, o que
determinada pessoa postou em seu microblog. Essa ferramenta pode embasar várias discussões que
se detêm no uso de palavras alheias serem ou não plágio. É um recurso interessante a medida que
propõe a atribuição dos direitos devidos, e desinteressante a medida que desapropria de certa
forma a utilização do resumo e da paráfrase; já que para se reportar ao discurso, basta dizer de
novo, não acrescentando absolutamente nada ao que foi dito. Apesar do caráter aparentemente
negativo, o retweet não extingue nem a paráfrase, nem o resumo, uma vez que são amplamente
utilizados em outras formas e em fontes externas, como jornais, revistas, tv e até mesmo conversas
informais e jogos de futebol.
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Referências Bibliográficas
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Cortez, 2006.
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Magalhães, Organizadores. Gêneros e Sequências Textuais. Recife: Edupe, 2009.
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Isaac Mello COSTA, graduando em letras
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[email protected]
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
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Procedimentos linguístico-discursivos utilizados pelos twitteiros