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23, 24 e 25 de outubro de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
e palavras...
Livros
ELIS REGINA,
OUVIDO DE
MÚSICO
Jaime Cimenti
[email protected]
Novo olhar sobre
Machu Picchu
Machu Picchu, a cidade perdida dos incas, hoje patrimônio
da humanidade, é considerada uma das sete maravilhas do
mundo moderno. Machu Picchu
– A visão arquitetônica decifra o
mistério (Marcavisual, 132 páginas, edição bilíngue português-espanhol, formato 19x26cm), do
consagrado e experiente arquiteto e urbanista Manoel Joaquim
Tostes, a partir de um olhar singular sobre os tesouros guardados - e perdidos - da cultura inca,
instiga o pensamento e estimula
a pesquisa sobre o império que
dominou por 200 anos vasta porção da América do Sul.
Manoel Joaquim Tostes, há
mais de 35 anos, se envolve com
trabalhos nos setores público e
privado: atuou como auditor do
Tribunal de Contas do Estado do
Rio Grande do Sul e foi diretor de
aprovação de projetos de Porto
Alegre.
Em 2014, Manoel visitou Machu Picchu, registrou a viagem
em 60 fotos coloridas que estão
no livro e aproveitou para analisar a ocupação e a utilização
da lendária cidade de um modo
diferente. O império dos incas
abrangeu todo o povo do Equador até o Chile. Depois de abordar diversos pontos da cultura
inca, com destaque para os elementos construtivos que formavam a infraestrutura do império, o autor chegou à conclusão
de que Machu Picchu não seria
o palácio do inca ou um centro
espiritual, como muitos ainda
acreditam.
A obra, que tem projeto gráfico da Marcavisual e tradução
para o espanhol de Maria Soledad Mendez e revisão de Iara Salim Gonçalves, objetiva ser um
instrumento para fortalecer as
teses de autores e pesquisadores
pretéritos, atuais e futuros que
acreditam que Machu Picchu foi
planejada, projetada e executada
por homens e para os homens sem intervenção extraterrestre
ou divina - e com a finalidade
de cumprir o objetivo do ensino
e da evolução do conhecimento
técnico dos incas.
O autor pretendeu - e conseguiu - lançar luzes sobre os
segredos de Machu Picchu, mas,
ao se concentrar na tarefa específica e restrita de examinar as
técnicas perdidas das obras, com
sabedoria e humildade, refere
que, para ir além com o desvendamento dos mistérios, é preciso um projeto que conte com a
participação de pesquisadores e
universidades de todo o mundo,
e aí, quem sabe, consigamos escrever as páginas faltantes desta
história truncada.
Portanto, o público que gosta
de história da humanidade, engenharia e arquitetura certamente vai apreciar as informações
históricas, os dados sobre os incas, detalhes sobre Cusco, a capital do império e, principalmente,
vai entrar em contato com a visão arquitetônica do autor sobre
a cidade.
Se é certo que o famoso livro
Eram os deuses astronautas, de
Erich Von Däniken, sobre o tema
foi considerado fantasioso por
muitos, certo também é que os
críticos, arqueólogos e pesquisadores seguem sem respostas
definitivas para os mistérios de
Machu Picchu. Cada um defende
sua tese. Os mistérios continuam.
lançamentos
Certa vez, Elis Regina foi
pedir seu registro na Ordem
dos Músicos. Disse que seu
instrumento era a voz. Poderia ter dito também que tinha
ouvido de músico. Elis - uma
biografia musical (Arquipélago, 272 páginas), do músico,
compositor, arranjador, pesquisador, escritor e jornalista
Arthur de Faria conta fatos
como esse e muitos outros
sobre Elis. É a biografia musical que a cantora há muito
merecia, como escreveu Maria Luiza Kfouri na apresentação.
Mais de 33 anos depois
de sua morte, aos 36 anos,
Elis é como Carlos Gardel,
canta cada vez melhor. Maior
cantora brasileira de todos
os tempos, reveladora de
compositores, participante da
vida pública, social e política
brasileira, ela viveu num período em que não se votava
para presidente e se tornou
um tesouro nacional. O livro
mostra as muitas razões para
isso, com base em pesquisas,
depoimentos, fotos e estudos
sobre a profunda musicalidade da cantora.
Arthur de Faria trabalha
há mais de 20 anos em rádio,
é mestre em Literatura e já
publicou dezenas de ensaios,
artigos, livros e fascículos sobre música popular. Há três
décadas dedica-se à pesquisa
sobre a história da música
de Porto Alegre. Produziu 27
discos e escreveu 35 trilhas
para cinema e teatro. Ensina
música popular brasileira no
Brasil, Uruguai e Argentina.
Dá para dizer que realmente
é o maestro ideal para reger
a história da sinfonia (ou polifonia) que foi a vida de Elis.
“Elisófilo” como pouquíssimos, Faria passou uns
30 anos pesquisando e escre-
vendo essa biografia musical.
O autor fala da vida pessoal
de Elis com parcimônia e não
cai no sensacionalismo barato. Isso fica para as revistas
e para o resto da imprensa
marrom. A obra ressalta o
lado musical de Elis, peça
central de nossa cultura. É
o que mais importa. Desde
canções obscuras aos espetáculos mais fulgurantes, está
tudo no livro. Episódios saborosos e dramáticos envolvendo a Pimentinha não faltam,
claro, como a briga com
Bôscoli. Mitos são desfeitos.
Depoimentos de instrumentistas, compositores, produtores e arranjadores falam
da guria perfeccionista de
Porto Alegre que ganhou o
mundo. Elis dedicou a vida à
valorização e à proteção dos
músicos.
Um dos melhores momentos do livro é o encontro de Elis e Tom Jobim nos
Estados Unidos, quando
gravaram o que muitos chamam de “o LP brasileiro da
década”, com pérolas como
Águas de março, que muitos
consideram como uma das
dez músicas mais bonitas do
século XX. Muitos consideram esse disco o melhor de
Elis. Tom há dez anos não se
apresentava no Brasil e Elis e
ele, em São Paulo, fizeram o
show histórico, que deixou o
maestro feliz com o fato de,
novamente, ser admirado no
Brasil.
Nas páginas finais do
livro, o fim repentino da
viagem de Elis, que, aos
36 anos, quando estava no
auge, fez muitos brasileiros
chorarem e 25 mil fazerem
fila para lhe darem adeus no
Teatro Bandeirantes, palco
do lendário show Falso Brilhante.
a propósito...
››Guiness - World Record 2016
(Ediouro 260 páginas) é o famoso guia oficial dos recordes. Nesta edição apresenta dados sobre
alimentos, corpo humano, entrevistas exclusivas, cães, usinas de
energia, arqueologia, minecraft,
ecocidades, dublês corajosos e
muito mais, com fotos coloridas,
dados e ilustrações.
››Sobre o político (WMF Martins Fontes, 136 páginas), da
filósofa belga Chantal Mouffe,
trata dos grandes desafios
enfrentados pela política democrática no início do século
XXI. Para ela, o modelo polarizado de política está obsoleto
e é hora de pensar além de
esquerda e direita.
››Diário de uma ex-gorda
(AGE, 152 páginas), da
psicóloga e cronista Rosane Schotges Levenfus com
apresentação de Fernando
Lucchese e Mariana Kalil,
traz textos ágeis e bem-humorados sobre emagrecer,
dietas, compulsões, esteiras
e assuntos correlatos.
A qualquer momento, uma
edição das cinco horas de material que Roberto de Oliveira
e equipe registraram durante as gravações de Elis e Tom
deve aparecer. Que seja rápido.
Que venham logo as preciosidades. Maria Rita e Pedro,
filhos de Elis, têm, como todo
mundo sabe, carreiras estabelecidas como cantores e João
Marcello, filho menor, dirige a
Trama, gravadora que fundou
em 1997. Seu Romeu, pai, morreu em 1984, dois anos depois
da estrela. Dona Ercy, mãe de
Elis, morreu em 2014, com 92
anos e Rogério, irmão, morreu
em 1996 num acidente de moto.
Elis Vive! Elis canta! Sempre foi
uma estrela. Continua. Voz do
Brasil. (Jaime Cimenti)
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