ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO 1º ECOMUSEU DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO E DAS ATIVIDADES COMUNITÁRIAS DE SANTA CRUZ E DA ZONA OESTE EDITADO PELO NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO E PESQUISA HISTÓRICA DE SANTA CRUZ www.quarteirao.com.br FUNDADO EM 1983 – Ano XIX – SET/OUT 2011 COLÓQUIO Momento de escuta à comunidade. Páginas 8 e 9. Fonte Wallace na Praça Dom Romualdo Santa Cruz NESTA EDIÇÃO 05 Memórias Populares 06 Ecos da Semana de Santa Cruz 13 II Jornadas Formação em Museologia Comunitária 14 Tem Sarau no Centro Cultural Semana de Santa Cruz 16 Nova Sepetiba existe, resiste e pede passagem para a vida dígna QUARTEIRÃO 2 Setembro/Outubro 2011 PARTICIPAÇÃO O USO RESPONSÁVEL DO CENTRO CULTURAL DE SANTA CRUZ MOVIMENTO FINANCEIRO DO NOPH Coordenadoria de Assuntos Financeiros Jornal: 93 Período: 31/08/2011 a 26/09/ 2011 CONTA BANCÁRIA Foi pela Lei Municipal nº 465, aprovada pela Câmara Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, em 1983, que a comunidade de Santa Cruz conseguiu que o antigo casarão histórico, o Palacete Princesa Isabel, ex- Sede Administrativa do Matadouro Imperial, símbolo de 28 anos de lutas da Comunidade para ser restaurado, fosse transformado em CENTRO CULTURAL DE SANTA CRUZ. Foram anos e anos de promessas, obras parciais, obras de maquiagem, até chegar à restauração total do prédio símbolo da CULTURA em nossa região. Muitos morreram sem ver o fruto de sua militância cultural. Entretanto, as políticas excludentes deixaram sempre à margem a finalização desse projeto e, passados dois anos da inauguração, vemos que outras idéias surgem nos gabinetes, sem ouvir a comunidade e arriscam demolir os sonhos de várias gerações santacruzenses. Para essa comunidade, o uso do Centro Cultural, não pode descaracterizar completamente o Centro Cultural pelo qual ela bravamente lutou; como pólo irradiador da cultura viva local, esse projeto desejado e defendido pelos santacruzenses até agora não foi alavancado pelas inúmeras prioridades que se colocam para ele, sem que a comunidade possa participar das decisões. Convocamos toda a comunidade brasileira ligada, direta ou indiretamente, à história de Santa Cruz, a honrar essa luta e propagar pelas diversas mídias e canais que o CENTRO CULTURAL DE SANTA CRUZ É UM BEM INALIENÁVEL de cada santacruzense e por ele esta comunidade esteve disposta a vencer todos os obstáculos: abandono, descaso, incêndios, desvio de recursos para outros projetos. Mesmo quando estava em ruínas, dele emanam há 28 anos as ações culturais que não deixaram a comunidade se afastar das artes, da história, da memória desse lugar. São sábias as gestões que exercitam a ESCUTA da comunidade. E mais uma vez, não suportaríamos ver o fantasma reaparecer travestido de novas idéias e novos projetos, que desvirtuem a missão de um Centro Cultural. Esperamos que a gestão desse espaço possa conciliar os sonhos dos que deram tanto de si para que o CENTRO CULTURAL DE SANTA CRUZ cumpra suas funções com as expectativas de um futuro promissor, apoiado com os recursos necessários e pela autoridade logística que lhe foi confiada. Cultura e Educação são faces da mesma moeda: é com essa moeda que formaremos as futuras gerações. Por isso, é necessário que todos se solidarizem com a Santa Cruz Cultural e resistente que ainda espera ver esse Centro Cultural funcionando plenamente seja com recursos advindos das fontes públicas ou com os decorrentes de parcerias tão necessárias e esperadas. Uma luz brilha no fim do túnel: a perspectiva da sensibilidade da Educação e seus recursos que podem finalmente equipar o belo espaço: o teatro climatizado, mobiliado com cadeiras adequadas, som e iluminação próprios para o espaço, elevador funcionando e possibilitando a acessibilidade de idosos e portadores de mobilidade limitada. Façamos todos a nossa parte! Honremos os que se foram na luta para termos o Centro Cultural que Santa Cruz merece pela sua trajetória histórica e pela sua comunidade que tanto valoriza a cultura local. Mas, como um bem tombado, protegido por lei, é preciso respeitar alguns critérios e normas quanto ao seu uso, pois qualquer equívoco o descaracteriza ou o coloca em situação de risco. Algumas normas podem ser elencadas: a) Ornamentação: critério e cuidados para não descaracterizar um prédio tombado (não colocar qualquer cartaz, adesivos, em portas, janelas e paredes, ornamentação condizente com o status de prédio tombado, evitando-se ofuscar sua beleza ou sua espetacularização) b) Público limitado - o espaço deve ser usado em muitos momentos, evitando-se o impacto de um quantitativo simultâneo incompatível com o espaço, tendo-se em conta os deslocamentos coletivos entre salas, banheiros, bebedouros, jardins etc c) Som compatível com as demais atividades das outras salas, uma vez que as salas do prédio não passaram por tratamento acústico. Respeitando estas normas, estaremos cumprindo a missão do Centro Cultural. Saldo anterior 3.840,54 Créditos no período 1,36 Débitos no período 2.031,20 Saldo Atual 1.810,70 EXPEDIENTE JORNAL QUARTEIRÃO Conta Caixa Saldo Anterior (648,28) Recebido de Colaboradores 2.260,00 Despesas com Jornal 2.260,00 Saldo Atual (648,28) Resumo: Saldo bancário 1.810,70 Saldo de Caixa (648,28) SALDO Total 1.162,42 Santa Cruz, 26 de setembro de 2011 Rubens dos Santos Cardoso Coordenador de Assuntos Financeiros Órgão de divulgação das Ações Culturais desenvolvidas pelo NOPH e pelo Ecomuseu em Santa Cruz e na Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro, em especial em Santa Cruz. Editado pelo NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica - Santa Cruz, Localização: Centro Cultural Municipal de Santa Cruz - Dr. Antônio Nicolau Jorge - Rua das Palmeiras Imperiais, s/n - Santa Cruz Rio de Janeiro - Brasil - CEP: 23550-020. Comunicação: Telefones: 3395-0066 / 9618-0672 (Walter/Odalice); 3395-1273 (Dorotéa); 2418-3140 (Ecomuseu/Centro Cultural) Site: www.quarteirao.com.br E.mails: [email protected] [email protected] / [email protected] Publicidade: Dorotéa Racca da Silva - Tel: 3395-1273. Telefax: 3395-2701 Conselho Editorial: Bruno Cruz de Almeida, Dorotéa Racca da Silva, Odalice Miranda Priosti, Paulo Henrique Madeira, Regina Célia Gonçalves França, Rubens dos Santos Cardoso, Silvia Regina L C Cunha Melo, Pablo Ramoz, Walter Vieira Priosti. Editoração Eletrônica: Namélio Soares. Tel: 3903-5850 / [email protected]. Impressão: Folha Dirigida. ECOMUSEU NOPH - REUNIÕES As reuniões do NOPH acontecem na sala do Ecomuseu/NOPH, sita no Centro Cultural Municipal de Santa Cruz – Dr. Antônio Nicolau Jorge, Rua das Palmeiras Imperiais, s/n, todas as terceiras terças-feiras do mês, a partir da 19 horas. São abertas para toda a Comunidade. Informações: Tel: 2418.3140. Todos estão convidados. AJUDE O QUARTEIRÃO O Quarteirão é entregue inteiramente grátis. Ele tem um custo: circula graças ao apoio de colaboradores e pequenos anunciantes. Desse modo, você que lê o Jornal e gosta de suas matérias, pode colaborar com R$ 20,00 ou mais, depositando na conta do NOPH, no Itaú, Agência Santa Cruz nº 6312, Conta 16604-1. Envie o comprovante para o NOPH, endereço acima, para que possamos colocá-lo como AMIGO DO QUARTEIRÃO! Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro Lei Municipal nº 2.354, de 01/09/95 O Ecomuseu está inserido na estrutura da Subsecretaria do Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design, na Coordenação de Museus da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro. NOPH NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO E PESQUISA HISTÓRICA Associação civil, sem fins lucrativos, sem vínculos político-partidários, com o objetivo de realizar pesquisas, divulgar a História Local, dinamizar a cultura e desenvolver campanhas, visando a preservação dos bens culturais de Santa Cruz e da Zona Oeste. O NOPH é reconhecido de Utilidade Pública pelas Lei nº 590, de 15 de agosto de 1984 (Município) e Lei Estadual nº 1207, de 22 de outubro de 1987. Registrado no Ministério da Cultura como Pessoa Jurídica de Natureza Cultural, no Ministério da Fazenda CNPJ 30.031.223 / 0001-87 e no Município do Rio de Janeiro (ISS), com a Inscrição nº 02.107.368 O acervo do NOPH encontra-se no Palacete Princesa Isabel - Centro Cultural Municipal de Santa Cruz – Dr. Antônio Nicolau Jorge, situado na Rua das Palmeiras Imperiais, s/nº, Santa Cruz, Rio de Janeiro, CEP: 23550-020 – Tel. 2418.3140, desde abril de 2000, onde poderão ser prestadas e pesquisadas as informações sobre a História de Santa Cruz, de outros bairros da Zona Oeste, da Costa Verde e da Cidade do Rio de Janeiro. Endereço para correspondência: Rua das Palmeiras Imperiais, s/nº - Santa Cruz – Rio de Janeiro CEP: 23550-020 Centro Cultural Municipal de Santa Cruz – Dr. Antônio Nicolau Jorge Coordenação do NOPH (Biênio 2009/2011): Coordenadoria Geral: Walter Vieira Priosti; Coordenadoria de Assuntos Administrativos: Regina Célia dos Santos Gonçalves França;Vice: Paulo Henrique Madeira; Coordenadoria de Estudos e Projetos: Odalice Miranda Priosti; Vice: Silvia Regina Leite Costa Cunha Melo Coordenadoria de Divulgação: Dorotéa Racca da Silva; Vice: Bruno Cruz de Almeida; Coordenadoria de Assuntos Financeiros: Rubens dos Santos Cardoso; Vice: Pablo Ramoz. Conselho Fiscal do NOPH(2009/20011): Alcyr de Souza Solé, Raul Ramires Rosa, Antônio Veiga. QUARTEIRÃO Setembro/Outubro 3 PÁGINA DO HISTORIADOR TRANSPORTES: do carro-de- boi ao trem-de-ferro esse tempo existia a mais extensa linha de diligências entre a cidade, passando por Santa Cruz, e a então Vila de Itaguaí, com grandes veículos de quatro rodas e “animais novos”, saindo de quatro em quatro dias dos pontos de saída e de chegada e seus bilhetes podiam ser adquiridos na rua do Conde D´Eu (atual Visconde do Rio Branco), nº 7, loja. Inaugurada no dia 19 de março de 1856, partia do campo da Aclamação, na área atualmente praça da República, “em frente ao Museu” hoje Arquivo Nacional, às 6 horas da manhã, e seu ponto de parada final no Hotel Camargo ou Aires. Os preços das passagens, de acordo com a seguinte tabela: Campinho, 3$000; Campo Grande,4$000; Santo Antônio, 6$$000; Santa Cruz, 8$000; Itaguaí,10$000. Também se alugavam para viagem completa; para Santa Cruz, 40$000, para Itaguaí, 50$000, prevenindo-se três dias com antecedência”.(5) Em 1864, a Su perintendência ad quiriu um tílburi, e a se guir, uma ca le ça, am bas quan do so lici ta das, uti li za das em trans por te alu ga do até Sa po pem ba (De o do ro) para as pessoas que se di rigiam à ci da de. Em 1886, foi comprado um vis-a-vis para os (continuação) A Caleça Tílburi Vis-a-vis ser viços da Su pe rin ten dên cia, pe que no ve í cu lo de fa brica ção france sa, com assentos opostos e mu i to co mum nos trans por tes na ci da de. Tam bém com pra da uma vi tó ria, car ru a gem que se tornou popular entre nós ainda nas pri me i ras dé ca das des te sé cu lo, quan do uma lu zi dia des sas vi a tu ras ro da va es trip to sa mente nos paralele pípedos de nossos lo gra dou ros, trans por tan do o popular deputado Honório Pimen tel, vindo das ses sões do nos so Par la men to, ou seus fa miliares. Para os transportes de carga do Rio a esta localidade e vice-versa, a Casa Imperial possuía um iate de trinta e duas toneladas denominado “ Conceição”, desde 1814 e mais conhecido como “ Iate Real”, em 1860 totalmente reformado. Esta embarcação e o caíque Bom Sucesso”, se revezando nas viagens entre Sepetiba e a Praia do Caju, faziam todo o transporte de material, móveis e demais objetos para o Paço de santa Cruz, voltando com a produção da Fazenda, cereais, açúcar, aguardente, cerâmica rústica (tijolos, telhas) e louça de barro. Extraído da obra SANTA CRUZ – Fazenda Jesuítica, Real, Imperial, de Benedicto Freitas, vol. II, pp. 167-168 Nota 5 – Correio da Tarde, Rio, edição de 10 de março de 1856. QUARTEIRÃO 4 Setembro/Outubro 2011 PARTICIPAÇÃO AMIGOS DO QUARTEIRÃO Ailton Novaes / Luzinette Marques; Alain Brodin; Alcyr de Souza Solé; Aldo Goes de Oliveira; Alice da Silva Miranda(In memoriam); Antônio Leão de Jonas; Aurora G. Ferreira Menezes; Carlos Ludovico Crim Valente. CEEANO-Centro Educacional Estações do Ano; Celso de Figueiredo; Denize Brazil; Édipo Pontes de Mello; Fábio Gonçalves França; Dany Thomaz Gonçalves; Hélio Pinto e Souza/Yedda de Mello e Souza; ldalécio de Carvalho Cintra; Profª Iracema Ferreira; Israel Blajberg (BNDES); José Carlos Moreira da Silva; José Goez da Silva; José Luiz de Moura; José Nilo Ferreira; Laet José dos Anjos; Luciano Tarchiche Durão; Luiz Antônio C Abreu; Maria da Graça Cesário de Melo; Maria Helena Lichote; Maria Leite de Almeida; Marisa Travassos dos Santos; Mitu Ueoka; Napoleão dos Santos Nogueira; Odalice Miranda Priosti; Olandi Pinto da Silva; Ovídio Soares da Silva; Paulo Henrique Madeira; Paulo Mello Menezes; Paulo R. S. Nogueira; Regina Célia Gonçalves França; Silvia Regina Leite Costa Cunha Melo e Filhas; Vander Miranda Priosti; Walter Vieira Priosti; Yara Mattos. HOMENAGEM PÓSTUMA João Carlos de Barros nasceu em 20 de julho de 1936, na cidade de Cachoeira Paulista – SP. Em 1953, nas asas da Força A-B, migrou para Santa Cruz com a família, vindo a servir à Pátria na Base Aérea. Aqui radicou-se e não parou de dar frutos, a começar pela fundação do Colégio Gi- No detalhe "Seu João" e a filha rassol em 09 de março de 1992, Valéria no Desfile Cívico contribuindo com a instrução, a educação e o enraizamento do amor a nossa Pátria, o respeito à Bandeira, hasteada a cada semana, nas manhãs de aulas, nas sextas feiras, ao som cantado das estrofes do Hino Nacional. Falecido no dia 04 de outubro passado, por toda essa dedicação, recebe a homenagem dos parentes, dos funcionários, dos professores e dos amigos da coletividade santacruzense. EDITAL DE CONVOCAÇÃO DO NOPH De conformidade com o que estabelece o Estatuto do NOPH ficam, os seus membros, fundadores, associados e amigos, convidados para a AGO – ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA a se realizar no dia 9 de dezembro de 2011, às 19 h, no Centro Cultural Municipal de Santa Cruz Dr. Antônio Nicolau Jorge,(Rua das Palmeiras Imperiais, s/n- Santa Cruz- Rio de Janeiro) para a apresentação do relatório da gestão atual e eleição da gestão para o biênio 2011/2013. A apresentação de Chapas concorrentes, no referido Centro Cultural, deve respeitar o prazo estatutário : até sete dias antes da AGO, portanto até o dia 2 /12/2011. As chapas devem ser compostas com 5 membros coordenadores e seus- vices, suplentes e três membros do Conselho Fiscal e respectivos suplentes. A pauta da AGO será assim desenvolvida: 1. Apreciação do Relatório do Coordenador Geral relativo ao biênio 2009/2011. 2. Apresentação das Chapas concorrentes 3. Eleição e Posse da nova administração 4. Entrega do diploma do NOPH às pessoas e entidades que trabalharam em benefício do engrandecimento do NOPH e do bairro de Santa Cruz 5. Palavra aberta à Plenária 6. Confraternização e encerramento A COORDENAÇÃO MUSEU / ECOMUSEU ECOMUSEU é... Uma ação museológica consciente da COMUNIDADE com o objetivo de desenvolver o TERRITÓRIO que habita, a partir da valorização da História Local e do PATRIMÔNIO (natural e cultural) nele existente. ECOMUSEU NÃO é .. - Museu em um único prédio, mas num TERRITÓRIO; - Museu de coleção de objetos, mas um conjunto diversificado de bens coletivos , o PATRIMÔNIO; - Museu a serviço de um público que o visita por entretenimento e lazer, mas a serviço do desenvolvimento de uma POPULAÇÃO ( ou COMUNIDADE). MUSEU/ECOMUSEU Prédio à Coleção de objetos à Público/Visitante à Território / Espaço Vivido Patrimônio População/Comunidade Participante Ecomuseu é estímulo ao cooperativismo e empreendedorismo. Encontro Coosturart e Zoart, durante o Colóquio QUARTEIRÃO Setembro/Outubro 2011 5 MEMÓRIAS POPULARES/IMIGRANTES ITALIANOS inha avó Aurora nasceu em Veneza, na Itália, e era filha de pessoas que tinham um padrão de vida elevado. Não sei o sobrenome de seus pais, mas moravam em uma casa muito grande e tinham muitos empregados. A casa tinha um sistema de aquecimento movido a carvão e por isso consumiam bastante esse produto. Meu avô que se chamava Giovani era filho de um Piovesan, (não sei o primeiro nome, só o sobrenome - Piovesan) que era carvoeiro, produzia carvão e abastecia semanalmente essas residências. O filho deste carvoeiro era quem entregava o carvão nas casas. Numa dessas entregas, na cozinha, viu minha avó, jovenzinha que estava justamente na cozinha, junto à cozinheira, aprendendo a arte de cozinhar, um dos dotes imprescindíveis na formação das mulheres na época : dominar a arte de cozinhar, bordar, pintar, tocar piano, cantar, recitar, etc. Se apaixonaram perdidamente. Ela filha da nobreza, ele filho de carvoeiro. 1o. HIATO –(nunca nos foi dito como foi resolvida essa diferença social entre eles.) 2a. parte da história de amor: Os dois chegaram ao Brasil, casados (?), já com dois filhos, Honorina e Bianca e aqui tiveram os outros filhos, Luiz (meu pai), Hermith, Benígno, Itália e Julieto. Vieram da Itália para o Brasil e se instalaram em Santa Cruz. Meu avô Giovani aqui no Brasil ficou conhecido como João Piovesan. A Vó Aurora, em Santa Cruz, exercia a função de parteira. minha mãe dizia que meu avô Giovani, era “pau para toda obra”, Tinha um linguajar rude, diferente da Vó. Nas rusgas familiares, minha vó o chamava de “calabrês” que significava estúpido, ignorante. Eu cresci pensando que ele era nascido na Calábria, até que pesquisando a origem do nome Piovesan verifiquei sua real naturalidade. Há um fato que ficou em nossa memória como uma imagem de um avo herói e muito forte. Consta que de certa vez, num dia de carnaval, na praça do centro de Santa Cruz, onde meus avós moravam e onde estava muita gente reunida, um poste de ferro tombou e ele, Giovani amparou esse poste nas costas durante bastante tempo até que viesse socorro, evitando um acidente maior para as pessoas que M RUA FELIPE CARDOSO Célio de Oliveira Ferreira OS PIOVESAN Aproveitando a oportunidade de atender ao pedido do NOPH/ Ecomuseu de Santa Cruz, feito em momento tão alegre, onde as palavras correm soltas, as vezes ditas só mesmo para alimentar a alegria do momento, eu, com prazer, envio a história que minha mãe nos contava, a nós seus filhos ainda pequenos, sobre a família do nosso pai – os Piovesans. História que ele nunca contestou. Entendo que só chegou a nós o lado bom dessa história. Principalmente a mim que, sonhadora, achava a mais linda história de amor e coragem! Depois de adulta, constatei que havia “hiatos”; muita coisa “no ar”... Talvez se possa preencher esses “hiatos” com informações dos descendentes que ainda moram aí em Santa Cruz ou talvez nem vale a pena... Angela Savastano / neta dos Piovesan ali estavam. Por causa desse fato, houve desfunção em um dos rins e ele veio falecer desse mal. Todos os seus filhos nascidos no Brasil são filhos de Santa Cruz. Muitos netos de João e Aurora Piovesan ainda moram em Santa Cruz. Meu pai Luiz foi casado em segunda núpcias com minha mãe Arthurina. Ambos eram jovens e viúvos Arthurina era viúva de um filho também de Santa Cruz. Meu pai, Luiz, já tinha quatro filhos com a primeira esposa: Iracema (Didi), Édna, Ítalo e Luiza. Todos foram nascidos e criados em Santa Cruz pela minha vó Aurora e tias com exceção de Ítalo que foi morar com um parente, Gianerini, em Campo Grande. Tio Julieto, casado com Luzia morou toda a vida e criou os filhos nas casas da Vila do Matadouro. Seus filhos ainda moram em Santa Cruz. Tio Hermith casado com Alice sempre morou em Campo Grande, também meu pai e minha mãe sempre moraram em Campo Grande, onde nasci. A família dos Piovesans têm um traço bem próprio e interes- sante, com relação aos nomes que dão aos filhos. Como não poderia deixar de ser, há sempre a homenagem ao avô e a avó. Meu irmão mais velho tem o nome do avôGiovani. Uma filha de Julieto tem o nome da avó - Aurora (Lolinha). O Tio Hermith, amante de óperas, deu aos filhos nomes de personagens líricos – Tosca, Norma, Garibaldi, Alice. Minha mãe colocou nos nomes dos filhos homens, o prenome Luiz, nome do marido: Luiz Georges, Luiz Sergio, Arthur Luiz, Luiz Fábio.... e a tia Itália, nascida em Santa Cruz, casou-se com um rapaz que tinha o nome Brasil. Eles tiveram três filhos aos quais deram os nomes de : Roma, Grécia e México. Também me lembro bem das comemorações e desfiles carnavalescos que toda a minha família ia assistir na praça de Santa Cruz. Eram blocos de fantasiados, desfilando na praça e as famílias nas calçadas apreciando o movimento. Também tenho na memória a casa onde meu tio Julieto morava, na vila do Matadouro. Ele trabalhava Aurora (jovem e mais idosa) e Giovani Piovesan, meus avós paternos, que vieram da Itália casados e, segundo ouvi de minha mãe, com uma das filhas bem pequenina, (Onorina ou Bianca). Tiveram 7 filhos: Onorina, Bianca (uma delas nasceu na Itália) Luiz, Itália, Hermith, Benígno e Julieto. Uma filha nasceu na Itália e os outros 6 nasceram em Santa Cruz. no matadouro e levava para casa muito miúdo de boi que era distribuído aos funcionários. Meu pai trabalhava no Hangar do Zeppelin. Para mim, criança, era uma construção tão gigantesca, tão gigantesca que as pessoas lá dentro pareciam formiguinhas. Chegava-se em Santa Cruz e no Matadouro só de trem – Maria Fumaça. Não havia linha de ônibus, naquela época. Imagino que meu avô Giovani e minha avó Aurora tiveram que enfrentar momentos bem difíceis em suas vidas. Venceu por certo o amor e com certeza esse amor fortaleceu a garra e a coragem para enfrentarem o desafio de uma nova vida em outro país. Vencer a dificuldade da diferença da língua, dos costumes, da cultura. Vencer também as agruras das revoluções internas, pois a família sofreu preconceito por serem imigrantes (descendentes de italianos). Mas o que é mais legítimo que eles deixaram foi o caráter de seus descendentes: corajosos e amorosos. Todo bairro tem sua via principal: o meu também é igual. “Me encontre na Felipe” parece frase banal, mas pra quem lá nasceu, não é assim tão natural. Sempre fui orgulhoso da Felipe Cardoso. Era moderna, com todo o trajeto asfaltado, já possuindo mão e contramão separadas por canteiros arborizados. Da Estação à capela de Nossa Senhora da Glória uns três quilômetros mais um pedaço – havia casas, escolas, um comércio escasso que supria as pequenas necessidades, imaginava eu, e o “Solar dos Araújo”, prédio repleto de história. As procissões só engrossavam quando por ela passavam. E eu sorria vendo as moças indo e vindo, se mostrando para os rapazes nas calçadas: dali surgiram amores e casamentos. As festividades e os acontecimentos só na Felipe adquiriam porte de grande evento, até mesmo a Parada de Sete de Setembro. No carnaval, a sua festa maior, ficava enfeitada de coretos e de fantasias. De domingo à quarta-feira, somente o Centro da cidade e Madureira a ela se comparavam, em grandeza e em alegria. Desfilavam tantos blocos e escolas de samba, de Santa Cruz e suas cercanias, que a premiação difícil se fazia. Os assuntos se resolviam naquela rua, desde negócios a namoricos, debaixo de sol ou da lua. Nela aprendi a perder, a ganhar e num futuro melhor sonhar. Sofisticada, agora, pousa de senhorita a charmosa senhora. Será que a gratidão cai no esquecimento? Não é o meu caso, tive infância feliz. Hoje te reverencio e me penitencio pelos desencontros. São teus estes nobres sentimentos: saudade, agradecimento. De repente, o telefone toca. Alô! Tô com saudade de você! A gente precisa se ver! Tá legal, vou sim: “Me encontre na Felipe”. QUARTEIRÃO 6 Setembro/Outubro 2011 SEMANA DE SANTA CRUZ ECOS DA SEMANA DE SANTA CRUZ Foto Paulo Madeira Participantes mirins IX TORNEIO DE XADREZ Realizado no dia 18 de setembro no cassino dos oficiais do Batalhão-Escola de Engenharia, na Praça Ruão, Santa Cruz, a partir das 9 horas. Compareceu um bom número de enxadristas, 26 no total e um público de mais de 40 pessoas. O evento apresentou a seguinte colocação, ao final do Torneio: Adulto: 1º lugar – Wagner Peixoto; 2º lugar – Fernando Santana; 3º lugar – Luiz Rogério; 4º lugar – Juan Pablo; 5º lugar – Amandio César Infantil: 1º lugar – Lucas Guimarães; 2º lugar – César Pontes; 3º lugar – Michael Douglas; 4º lugar – Gabriel Izaías; 5º lugar – Lucas Brás Mirim: 1º lugar – Caio Rodrigues; 2º lugar – Rafael Albuquerque; 3º lugar – João Pedro; 4º lugar – Maria Alice; 5º lugar – Arthur Rocha Instituições: 1º lugar – CEVIC; 2º lugar – TRELELÊ; 3º lugar – COLÉGIO LIBERDADE Obs: Não houve inscrições na categoria juvenil. O torneio esteve sob a direção do Vice-Coordenador do NOPH Paulo Henrique Madeira. Foto Tiago Rodrigues Sérgio Vieira de Gouvêia ATELIER DE PINTURA ALCYR DE SOUZA SOLÉ - Fotos dos julgadores, foto dos premiados, foto do 1º lugar fez para outras grandes cidades pelo mundo afora. Com um corpo de julgadores formado pela artista plástica Verita, pela professora de Artes Visuais Silvia Regina Leite Costa Cunha Melo e pela Coordenadora de Assuntos Administrativos do NOPH, Profa. Regina Célia dos S. Gonçalves França, o Atelier de Pintura Alcyr Solé, realizado no dia 28 de setembro na Praça Dom Romualdo teve como tema em 2011 a Fonte Wallace. Houve premiação para os melhores trabalhos. Estas fontes foram fundidas na década de 1870, pela Fundição Val d’Osne, na França, e seu escultor, Charles Lebourg, captando o espírito de sua época (o período romântico francês), fez representar, através de quatro belas cariátides femininas (estátua usada como coluna de sustentação), algumas virtudes eternas: a Bondade, a Caridade, a Sobriedade e a Simplicidade. Sob um pedestal, destacam-se pois, as quatro delicadas estátuas femininas, trajadas em vestes gregas, que sustentam uma cúpula. A Fonte Wallace – observada e retratada de diferentes ângulos atraiu a curiosidade dos transeuntes, que muitas vezes passam indiferentemente por ela, por desconhecer que é um dos três exemplares da Fonte Wallace existentes no Brasil. Forjada em ferro fundido, a Fonte Wallace é uma réplica das que existem em Paris. Obras de arte em ferro fundido para embelezamento de praças e parques públicos, de grande beleza e raridade, produzidas no final do século XIX, o nome se deve ao seu idealizador, o filantropo inglês Sir Richard Wallace que doou 100 exemplares da Fonte à cidade de Paris em 1872 e, posteriormente, o Em Santa Cruz, inicialmente instalada em frente ao Palácio Imperial (atual Batalhão Villagran Cabrita) e mais tarde transferida para a Praça Dom Romualdo. Ao final do Atelier saíram vencedores os seguintes artistas plásticos: 1° colocado José Pereira Filho (Zito) 2º colocado Ana Iannibelli 3° colocado João Pedro da Costa. Foto Pâmella R. M. de Souza Coroinhas e Jurados da Paróquia São Benedito GINCANA CULTURAL EM AREIA BRANCA Foi realizado no dia 24 de Setembro mais uma etapa da gincana cultural e formativa feita pelo grupo de coroinhas da Paróquia São Benedito. Vários temas estão sendo abordado, o escolhido para Setembro foi Santa Cruz, uma homenagem do grupo pelo aniversário do bairro. Teve início as atividades com uma bela mensagem lida pela jurada Lília Castro falando um pouco da trajetória do bairro, ressaltando sua importância na história do nosso estado. Em seguida o Grupo D coordenado por Thainá Rangel, contou a história de Santa Cruz desde seu surgimento até os dias de hoje. O Grupo A destacou duas grandes obras de suma importância por suas construções e funções. São elas a Ponte dos Jesuítas e o Hangar do Zeppelin, dois pontos importantes de épocas e séculos diferentes mais com o mesmo significado, nosso patrimônio. Na bancada de jurados estavam presentes o Diretor do Ecomuseu/NOPH Walter Vieira Priosti, a Coordenadora de assuntos administrativos do NOPH Regina Célia S. Gonçalves França e membros de coordenação, pastorais e movimentos da Paróquia que ficaram felizes com o convite e se sen- tiram honrados por participarem de um evento grandioso onde o tema era Santa Cruz.” Realmente aprendi muito sobre o bairro, vou sair daqui hoje bem informada” diz a jurada Bianca Souza. Grandes aprendizados foram passados e recebidos naquela tarde onde houve um elo entre participantes e jurados, que puderam apreciar a decoração SantaCruzense da sala.Com a palavra o Diretor do Ecomuseu/NOPH Walter Priosti elogiou o trabalho e pediu que os jovens não desistam, mais persistam nos seus objetivos sempre fazendo com amor e dedicação.Completando a jurada Valéria de Souza disse que o futuro de Santa Cruz está nas mãos dos jovens de hoje e quem sabe serão eles que lutaram pelo bairro amanhã.Por fim foi feito a oração final, na despedida todos deram parabéns a Santa Cruz pelos seus 444 anos. Tiago Rodrigues/NOPH NOPH 1983-2011 28 anos trabalhando a história de Santa Cruz QUARTEIRÃO Setembro/Outubro 2011 7 HISTÓRIA / LITERATURA LANÇAMENTO DE “O VELHO OESTE CARIOCA VOL. II” Leocádia, a flor despetalada Autora: Rita Gemino Ilustrações de Alan Castilho Durante a Xv Bienal Internacional do Livro, no dia 07 de setembro de 2011 no estande P22 da Oficina, no Riocentro – Barra da Tijuca, foi lançado o livro infantil Leocádia, a flor despetalada da poeta e escritora Rita Gemino. Professora das Redes municipal(CIEP Ministro Marcos Freire) e estadual de Educação CE Vânia do Amaral Matias Edde), a autora é especializada em Língua Portuguesa e, Mestre em Educação, leciona disciplinas de Práticas Pedagógicas em instituições de ensino superior. Possui vários títulos publicados, entre eles Convívio(em parceria com Américo Mano). Tanto a autora quanto o ilustrador têm uma relação com o NOPH e o Ecomuseu de Santa Cruz, pois não foram poucas as ações dessa instituição em que estiveram envolvidos: campanhas, II Encontro Internacional de Ecomuseus / Sarau ao luar na BASC/ Exposição de painéis históricos (2000), Saraus da Semana de Santa Cruz, entre outros. Agora, reunidos num único trabalho dirigido ao público infantil, a delicadeza da escritora e os traços do artista trazem a história de Leocádia, a flor despetalada. Na dia 22, das 18h às 22h, foi lançado o segundo volume de “O Velho Oeste Carioca”,de André Luis Mansur, na livraria “República do Bardo”, em Copacabana (Av. Rainha Elizabeth, 122 - Loja E). No segundo volume de “O Velho Oeste Carioca”, André Luis Mansur continua a contar mais histórias do passado da região da cidade do Rio de Janeiro que vai de Deodoro a Sepetiba. Desta vez, mescla a pesquisa documental com a tradição oral dos moradores, que falam, com saudade, dos bondes que iam de Campo Grande a Guaratiba e ao Rio da Prata, do ramal de Mangaratiba com seu trem “macaquinho”, dos muitos cinemas que desapareceram, da época em que as praias de Pedra de Guaratiba e Sepetiba eram limpas e do modo de vida rural que prevaleceu na região até há algumas décadas, quando os agricultores recebiam o dinheiro das colheitas no Café e Bar do Lavrador e promoviam todo ano a eleição da Rainha da Lavoura. Mansur fala do pioneirismo de Realengo e do Campo dos Afonsos na aviação mundial, com projetos observados de perto por Santos Dumont, do estilo de vida dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II na Fazenda de Santa Cruz, do Polígono de Tiro da Marambaia, um pouco da história do Grumari, dos clubes de futebol, além de muitas curiosidades, como o possível plano de fuga de Tiradentes por Campo Grande e as passagens de duas grandes mulheres pela região no século XIX. Uma iniciativa das mais importantes é lembrada pelo autor, o Teatro Rural do Estudante, surgido nos anos 50 e que gerou nomes importantes da dramaturgia brasileira, como o ator Rogério Fróes, e deu origem ao projeto das Lonas Culturais, hoje uma das poucas formas de manifestação cultural da região que merece alguma atenção do poder público. QUARTEIRÃO 8 Setembro/Outubro 2011 COLÓQUIO Fotos Bruno Cruz COMUNIDADE, INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO LOCAL O DIÁLOGO POSSÍVEL om o tema “ Como as indústrias de Santa Cruz podem se inserir no desenvolvimento e na paisagem locais?”– A absorção da mão-de-obra local - A inserção dos trabalhadores que chegam ao território - O ecomuseu como mediador - o caso CSA e as comunidades de Santa Cruz e Sepetiba, o colóquio deveria reunir representantes das indústrias, do comércio, representantes das organizações sociais, representantes da educação, sindicatos, comunidade de Santa Cruz e de Sepetiba. Entretanto, um tema de tamanha relevância para o bairro, foi ignorado por setores que poderiam fazer a diferença. Como disse Hugues de Varine, o especialista em Desenvolvimento Local, o diálogo não é apenas possível, mas NECESSÁRIO. C Realização da ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários, de 13 a 18 de outubro, em Santa Cruz, o colóquio teve como parceiros o NOPH /Ecomuseu de Santa Cruz, a 10ª. CRE, a Casa Ser Cidadão, o CETEP/ FAETEC, a FAMA, a Universidade Cândido Mendes- UCAM e a Univ. Estácio de Sá – Santa Cruz - UNESA, a Colônia Japonesa, a COOSTURART, a ZOART, o Movimento Ecomuseu de Sepetiba, entre outros. Iniciando um circuito de consultorias a três ecomuseus brasileiros – Santa Cruz no Rio de Janeiro, Serra de Ouro Preto em Minas gerais e Amazônia em Belém, Pará, Hugues de Varine, criador e militante do conceito de ecomuseu, participou do Colóquio que teve por objetivo refletir sobre as relações entre as comunidades situadas em Santa Cruz e Sepetiba e as indústrias do Distrito Industrial de Santa Cruz e a sua contribuição para a conservação da paisagem e o desenvolvimento local. Com uma discussão itinerante junto às Comunidades , o programa do Colóquio contemplou a questão da participação das comunidades e das indústrias no desenvolvimento local, questionando de que forma esse desenvolvimento está interferindo na paisagem, no patrimônio e na vida do bairro. No último dia o Colóquio se estendeu a membros da Colônia Japonesa sobre o risco iminente de desaparição desse patrimônio que é a atividade agrícola na região, ante as dificuldades do adensamento populacional e industrial do bairro e pela baixas perspectivas que a atividade oferece aos jovens herdeiros desse fazer. A Agricultura existe em Santa Cruz há mais de 400 anos. Desse encontro participaram o engenheiro agrônomo Otávio Miyata e outros membros da Colônia. Ao final do Colóquio, pôde ser feita uma série de propostas, que deverão ser analisadas, para posterior encaminhamento aos setores responsáveis, para a tomada das medidas necessárias: • Criação do Conselho Consultivo De Desenvolvimento Local • Reflexão e discussão da participação das empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz no desenvolvimento local e sua inserção na paisagem • Fortalecimento da relação e do diálogo entre a comunidade e as empresas locais • Diagnóstico sobre o aproveitamento de recursos humanos de Santa Cruz e adjacências nas empresas do Pólo Industrial de Santa Cruz • Orientação de cursos técnicos do CETEP/ FAETEC e SESI/ SENAI para a demanda das empresas locais • Criação de um Centro de Capacitação para o Trabalho em Nova Sepetiba, além de creches, escolas de 1° segmento, hortas comunitárias e novas linhas de ônibus • Criação do mapa participativo da comunidade de Santa Cruz, sinalizando as potencialidades, os patrimônios e os recursos locais, refletindo sobre o turismo cultural de base comunitária • Criação de cursos de Extensão e de Especialização (lato sensu) em Educação Patrimonial e Gestão do Patrimônio • Valorização da História e do Patrimônio locais nas redes públicas e privadas de 1º e 2º graus. • Valorização do produto agrícola AIPIM DE SANTA CRUZ e criação de Cooperativas de beneficiamento do produto • Aprofundamento de estudos sobre a questão dos alagamentos na área de produção agrícola da Colônia Japonesa após a instalação da CSA • Implantação de um Hotel Escola para complementação profissional dos estudantes de Turismo • Criação de um projeto de Desenvolvimento Turístico na região, com os parceiros NOPH/ FAMA/ Empresas locais • Criação de Agência de Apoios a Micro – Empreendimentos e cooperativas comunitárias, valorizando e qualificando os saberes e fazeres locais • Mudanças na Lei do Ecomuseu – Ecomuseu de Santa Cruz, com a inclusão de todo o território do bairro • Retorno da Semana de Santa Cruz para o mês de setembro • Implantação de núcleos de memória nos Conjuntos Habitacionais • Criação do mapa participativo da comunidade • Preparação de Santa Cruz para os eventos mundiais agendados: * 2012 - IV EIEMC - Belém, * 2013 - Jornada Mundial da Juventude (Rio); ICOM 2013(Rio) / Conferência off de Ecomuseus e Museus Comunitários (Rio ou São Paulo), * 2014 – Copa do Mundo,* 2016 – Olimpíadas Palestra: Desafios do Desenvolvimento local. Universidade Estácio de Sá Mesa Redonda 3: História, Educação e Patrimônio na Relação Comunidade e Indústria. Universidade Cândido Mendes Conferência: Comunidade, Patrimônio, Paisagem e Desenvolvimento Local. Casa Sercidadão, por Hugues de Varine (França) Mesa Redonda 4: Turismo Cultural, Turismo de Base Comunitária e Empregabilidade. Faculdade Machado de Assis Operários de Tarsila do Amaral QUARTEIRÃO 10 Setembro/Outubro 2011 COMUNIDADE EM AÇÃO Colóquio Comunidade, Indústria e Desenvolvimento Local – o diálogo possível palavra colóquio por si só já define o objetivo desta série de “encontros” que teve início no dia 13 de outubro com a seguinte programação prevista: visita ao território Av. João XXIII / Parque Industrial CSA e COOSTURART e, encerrando o dia a palestra: Desafios do Desenvolvimento Local - proferida por Hugues de Varine – Consultor Internacional em Patrimônio e Desenvolvimento Local na Universidade Estácio de Sá – UNESA – Santa Cruz. Infelizmente não tivemos oportunidade de participar neste dia. Entretanto comparecemos no dia 14 de outubro, sexta-feira, na Conferência Comunidade, Patrimônio, Paisagem e Desenvolvimento Local – o diálogo possível, também proferida por Hugues de Varine, realizada na Casa Ser cidadão, diga-se de passagem, lugar demasiadamente aprazível e um dos ícones das lutas do NOPH e do Ecomuseu de Santa Cruz, além da “casa” ter sido moradia do médico sanitarista Julio Cesário de Melo, personagem de suma importância para a zona oeste, em especial para Santa Cruz e Sepetiba. Dentre muitos tópicos abordados na referida conferência, consideramos alguns como primordiais para nós, moradores de Sepetiba e adjacências, que serão abordados a seguir. Ao iniciar a conferência, Varine chamou atenção para a questão dos bens comuns (água, terra, ar...) necessários tanto para os indivíduos (comunidade) como para a indústria e demais atores econômicos, e sua gestão consciente e responsável, que são substancialmente indispensáveis para o desenvolvimento local (viver, trabalhar, produzir, consumir). Varine enumerou as atribuições da indústria e das comunidades (indivíduos) quando mencionou as responsabilidades comuns a ambos os grupos (ambiente, patrimônio, gestão, serviços (transporte, saúde, educação, alojamento). O museólogo e consultor destacou a importância do “conhecimento” do território, e como é primordial que os moradores saibam A Momento de escuta à Nova Sepetiba, no destaque Bianca Wild (Ecomuseu de Sepetiba) “explicá-lo”, pois conhecer o território em que vivemos, suas peculiaridades,deficiências, ausências, características específicas etc., é necessário para sua gestão consciente. O museólogo também mencionou a questão da paisagem, destacando o fator “coerência” entre os componentes urbanos, rurais - indústrias – evolução e observação enquanto responsabilidade partilhada, lembrando que o papel dos cidadãos, atores locais, econômicos, indústria, especialistas é diferenciado. Varine lembrou que a paisagem não é boa, nem má, e sim um reflexo, e faz parte do ambiente cultural (cultura viva- paisagem – gestão coerente da paisagem). Cabe aqui destacar a política territorial da paisagem, segundo Varine, o objetivo de qualidade paisagística deve ser formulado pelas autoridades competentes, não se deixando de levar em consideração a responsabilidade e a participação da comunidade nesse procedimento. Hugues de Varine ressaltou que a coletividade, a interação na gestão, criação e elaboração de programas de desenvolvimento é imprescindível (indústria/empresa – intervenções sobre os domínios para o desenvolvimento a partir de uma ação conjunta).Vale a pensa ressaltar, em se tratando de eco- museus, que o ecomuseu é o museu vivo, da vida, que valoriza o patrimônio vivo, e a cooperação e parcerias são de extrema valia para que tenha êxito em seus objetivos (conviver, partilhar o território e o patrimônio – população (comunidade, famílias, indivíduos) – atores econômicos (indústrias, comércio e produtores). Varine nos lembrou que os moradores possuem necessidades, mas também possuem deveres e responsabilidades na mesma medida (emprego, renda, transporte, saúde, educação) – (gestão responsável – diálogo – procura por solução – poluição).O consultor mencionou o fato dos novos moradores, e a necessidade destes de enraizar-se no território. Também destacou que as iniciativas devem vir de baixo para cima, impulsionando o desenvolvimento local e assim incentivando o turismo, a cooperação entre indústria e comunidade para capacitação dos moradores, o estudo conjunto de soluções e a preparação para a cooperação, tendo em vista sempre a informalidade, o papel consultivo e a presidência alternante (comissões, associações, oscips,etc) Ressaltando, para que o desenvolvimento local seja uma realidade torna-se mister a interação entre os parceiros com objetivos co- muns, uma estrutura mista de atores políticos, sociais, econômicos – devem ser estabelecidos objetivos permanentes a partir da elaboração de um dossiê enumerando os problemas, necessidades, projetos, conflitos, os métodos a serem utilizados são a troca de informações e o debate livre, é de suma importância a compreensão mútua e a solidariedade balizando uma comunidade de interesse, e claro a elaboração de uma “hierarquia de objetivos”, bem como o debate consciente e a autocrítica permanente. Nesse processo, o ecomuseu tem o papel de facilitador/ mediador, pois é um museu comunitário, aberto, centro de recursos documentais e humanos e de sinergias (atividades coordenadas e simultâneas, que contribuem para um objetivo comum). Enfim, a conferência foi por demasiado produtiva e esclarecedora, sem contar com a participação dos presentes e suas colocações, como a do professor Walter Priosti, do professor Sinvaldo, Odalice Priosti, do diretor do CETEP/Santa Cruz dentre outros não menos importantes. No sábado, dia 15 de outubro, dia do mestre, visitamos a comunidade Sebastião Lan, Nova Sepetiba, e lá, como professora, recebi uma lição de vida. Eu, enquanto moradora de Sepetiba, e representante no encontro do Ecomuseu de Sepetiba, sinto que me faltam palavras para descrever a importância do trabalho desenvolvido pelo pároco local Padre Geraldo Marques, pelo Diácono João Damaceno, pela professora Ana Cristina, Dona Val, Angela e todos e todas presentes. Esta experiência não só foi agradável como deveras produtiva, dentre os relatos e colocações o da moradora e voluntária Isma foi o que mais me chamou atenção, tamanha sua seriedade, simplicidade e certeza de suas convicções. Saí do centro comunitário com uma certeza: é primordial que nós, enquanto moradores e moradoras de Sepetiba tomemos consciência de que somos moradores da mesma região, Sepetiba e Nova Sepetiba fazem parte do mesmo território. Precisamos nos unir, somar forças para o desenvolvimento de nossa região. Conversamos sobre possíveis causas e soluções para os problemas da comunidade, dentre eles destacam-se a ausência de serviços básicos como saúde e educação, além, é claro, da falta de transportes. E decidimos que realizaremos um ato, uma manifestação pacífica para reivindicarmos o que é nosso por direito, além de termos chegado à conclusão de que a elaboração de um dossiê sobre a comunidade é de extrema importância para pensarmos soluções e definirmos objetivos específicos. (...)A situação desses homens, mulheres e crianças é lamentável. Não fosse o trabalho realizado pelo pároco e seus voluntários desde o início da ocupação seria ainda muito pior. O trabalho dessas pessoas é louvável e muito significativo e acredito que todos nós deveríamos tomá-los como exemplo e nos unirmos para que consigamos realizar a gestão consciente do nosso território e valorização dos nossos patrimônios, materiais, imateriais, tangíveis e intangíveis. Bianca Wild Movimento Ecomuseu de Sepetiba Fonte: http://ecomuseusepetiba.blogspot.com Setembro/Outubro 2011 QUARTEIRÃO 11 ECOMUSEOLOGIA/MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA 12 DE SETEMBRO No gráfico abaixo, a síntese da ação pedagógica patrimonial e a proposta de gestão do.patrimônio e do desenvolvimento local no Ecomuseu de Santa Cruz. Dia do Museu Comunitário O dia 12 de setembro é o DIA DO MUSEU COMUNITÁRIO na Rede de Museus Comunitários das Américas. O Ecomuseu de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, integra a rede como o pioneiro ecomuseu comunitário do Brasil. Reconhecido internacionalmente pela comunidade museal e já com 28 anos, considerando-se a fundação do NOPH, de onde emanam as ações desde a fundação em 03 de agosto de 1983, o Ecomuseu de Santa Cruz extrapolou os limites do Quarteirão do Matadouro, seu núcleo-sede e hoje atinge todo o território do bairro de Santa Cruz. Segundo o conceito ampliado de museu como a relação entre o trinômio alargado de Espaço Vivido / Território, Patrimônio E Comunidade Participante, o ecomuseu não é um museu nos padrões clássicos, que se resume na relação prédio,coleção e público. Por isso, sua ação pioneira que há 28 anos amalgama a comunidade ao seu território e ao patrimônio nele existente, não pode se restringir ao cômputo de quantidade de público que visita o seu núcleo-sede. Muito mais que as visitas, que também acontecem, priorizam-se as atividades integradoras que visam a apropriação dos segmentos da sociedade pelo seu patrimônio natural e cultural. PROPOSTA DE GESTÃO PATRIMONIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL HEXÁGONO DE AÇÃO DO ECOMUSEU COMUNITÁRIO DE SANTA CRUZ (Plano Diretor da Ação Ecomuseológica para o Desenvolvimento) 1. Núcleo Gerador - NOPH / Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro (EMQ) 2. Núcleo Residência da Fazenda de Santa Cruz –Batalhão Escola de Engenharia Villagran Cabrita 3. Núcleo Agrícola - Ponte dos Jesuítas (Entorno do Monumento tombado em 1938) 4. Núcleo Base Aérea de Santa Cruz(Entorno do Hangar do Zeppelin – BASC – Base Aérea de Santa Cruz) 5. Núcleo Sepetiba (Comunidade de moradores e pescadores da localidade Sepetiba) 6. Núcleo Comunidades (Comunidades dos Conjuntos Habitacionais : Antares, Cesarão, João XXIII, Palmares, Manguariba, Urucânia, Nova Sepetiba etc) 7. Núcleo Comercial e Industrial(AEDIN /Empresas do Distrito Industrial e ACISC/ Comércio do centro do bairro de S. Cruz) Cada um desses núcleos tem uma vida própria, autônoma, criativa e diferenciada, havendo sempre que possível a interrelação entre os diferentes núcleos e o núcleo gerador(Núcleo 1), o NOPH, e o fruto de suas ações – o Ecomuseu de Santa Cruz(Núcleo 2). Fonte : Memória, Comunidade e Hibridação: museologia da libertação e estratégias de resistência, tese de doutorado em Memória Social / UNIRIO- PPGMS, de Odalice Miranda Priosti, Rio de Janeiro, 2010. QUARTEIRÃO 12 Setembro/Outubro 2011 MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO À MESTRA, COM CARINHO PROFa. SILVIA DE ARAUJO TOLEDO xiste em Santa Cruz uma escola que se designa ESCOLA MUNICIPAL Profa. SILVIA DE ARAÚJO TOLEDO. Localizada no Conjunto Habitacional Otacílio Camará, mais conhecido como CESARÃO, a escola é dirigida há 20 anos pela Profa. Geisa dos Santos e atende a mais de 500 alunos. Numa rápida visita conheci a escola. Na sala da direção, uma fotografia esmaecida daquela que conheci quando estudei o curso primário na Escola Professor Coqueiro. Na época, a Diretora Sílvia trazia a escola com disciplina e dedicação, mas para mim não era apenas a Diretora, um vínculo maior e um olhar de quase avó a ligavam a mim. Ela tinha sido professora de minha mãe e não se cansava de me afirmar : - Sua mãe – Alice - foi uma de minhas alunas mais aplicadas! Mas não só isso: Dona Sílvia era irmã da minha primeira professora, a que me apresentou as primeiras letras e me ensinou os algarismos... Dona Mercedes praticamente me alfabetizou. Por não ter idade ainda para ser matriculada na Escola Pública, cursei alguns meses preliminares na escolinha que funcionava na casa da Família Araújo, aquele que hoje a comunidade conhece como Solar dos Araújo, ou carinhosamente, o “castelinho” ao lado do Santa Cruz Shopping. Eram todas E professoras leigas- Dona Mercedes, Dona Isabelinha, D. Ainê ensinavam em suas casas e no recreio nos deixavam compartilhar os frutos do seu pomar. Foi assim que conheci as carambolas, pitangas, amoras, abricós, romãs e abius, entre as primeiras palavras e frases e cálculos. Aprender tudo isso tinha cheiro e sabor de quintal. Entretanto, precisamos tirar das gavetas da memória quem foi a Profa. Sílvia Toledo. Casada, sem filhos de sangue, doou-se integralmente ao magistério. Passava o dia inteiro na Escola Professor Coqueiro, percor- rendo as salas, as rampas, os corredores e a área externa. A imprescindível sineta na mão, cujo toque anunciava o recreio ou a saída, reluzia prateada ao sol. Era nosso objeto de desejo, pois o toque era prenúncio de uma pausa esperada para merendar e brincar no pátio ou, ao final do período, a volta para casa. Ùltima escola onde trabalhou, a EM Professor Coqueiro era de frente para a Rua Felipe Cardoso, um prédio antigo de salas pequenas, algumas com lousa nas quatro paredes e portas e janelas imensas, pintadas de azul. Acompanhei a transição para o prédio novo, fruto de suas reivindicações, que estava sendo construído nos fundos do terreno, onde conclui o primário. Fiz os quatro anos iniciais do primário nesse prédio antigo, onde havia na lateral uma varanda com gradil de ferro, à moda da arquitetura da época. Dali, do alpendre, Dona Sílvia falava a todas as turmas perfiladas para cantar o Hino Nacional Brasileiro e hastear a Bandeira. Lembro também das comemorações cívicas onde alunos liam textos biográficos ou recitavam poesias sobre o motivo da comemoração: Tiradentes, Dia da Árvore (normalmente com plantio de mudas no terreno), chegada da Primavera, Dia de Anchieta, Dia do Soldado, Dia da Bandeira, etc. Muito tímida, nunca subi até aquela varanda para ler ou recitar, mas admirava as meninas que, com muita expressividade, recitavam de cor alguns poemas. Dona Silvia era também aquela que entregava medalhas de Honra ao Mérito aos destaques do mês: fitinha verde para o 1º lugar, amarela para o 2º e azul para o 3. Somos do tempo da competição saudável que nos tomava mais horas de dedicação aos estudos para alcançar essa medalha e quando não conseguíamos ninguém precisou de tratamento psicológico para superar traumas... Hoje volto à EM Silvia de Araújo Toledo e sinto aquele olhar do retrato na parede supervisionando tudo, acho mesmo que abençoando os profissionais daquele estabelecimento. Talvez seja essa segurança (que os homens não podem dar a esse espaço) que faz com que sejamos recebidos com um sorriso, olhos brilhantes de energia... Será que essa energia vem mesmo das crianças e jovens que ali estudam? Creio que não só... Duvido muito que aquele olhar do retrato não esteja influindo no bom astral de todos por ali. Afinal, D. Silvia não deve ter desistido da educação nunca e continua de outro plano a alimentar as esperanças e as energias de seus seguidores, alguns com mais de 20 ou 30 anos na mesma escola. Qual será o segredo? Odalice Priosti Professora/ NOPH-Coord. de Estudos e Projetos UMA BIOGRAFIA EXEMPLAR, A EDUCAÇÃO COMO MISSÃO Uma Unidade Escolar, localizada no Conjunto Otacílio Camará – Cesarão, recebeu o nome de Professora Sílvia de Araújo Toledo em homenagem à esta dedicada educadora que incansavelmente, deixou significativas marcas por onde passou. Sílvia de Araújo Toledo era natural do Rio de Janeiro, residia em Santa Cruz e iniciou sua carreira no magistério lecionando em escolas de Campo Grande, onde há registros de sua trajetória por uma escola no morro do Menda- nha pela qual tinha que cavalgar horas até chegar na U.E. Transferida para Santa Cruz, trabalhou em muitas escolas municipais a saber: General Gomes Carneiro, Tenente Renato César, Joaquim da Silva Gomes, Francisco Venâncio Filho, Ponte dos Jesuítas e Professor Coqueiro, onde nesta última, em 1950 assumiu a direção exercendo ali com muita competência suas atividades durante cerca de três décadas. Empreendedora, diligente e idealista, percebeu logo que a es- cola que dirigia, apesar de muito pequena e consequentemente incapaz de atender a demanda da região, era localizada em terreno de grande extensão, onde uma nova escola bem maior poderia ser construída. Perseverante, lutou bravamente durante dez anos até ver o seu sonho realizado. Em 1962, a sua nova escola Professor Coqueiro era inaugurada, com capacidade três vezes maior que a antiga. Nos seus 41 anos de trabalho, Sílvia de Araújo Toledo, nunca descuidou do seu aperfeiçoamento profissional, fez vários cursos e exerceu quase todas as funções do magistério da época, tais sejam: orientadora pedagógica, bibliotecária, tesoureira distrital, agente de pessoal e teve também destacada atuação na implantação da Reforma de Ensino de 1942. Nos últimos anos de sua vida foi acometida por um glaucoma irreversível tendo que se aposentar, completamente cega, em fins de 1966. Como soube plantar amor enquanto viveu, até hoje quem com ela conviveu, alunos, responsáveis, professores, serventes, amigos e parentes lamentam sua falta. Sílvia não teve filhos, mas lutou por uma geração para que tivessem uma vida honrada e feliz. Sílvia de Araújo Toledo nos deixou em 07 de dezembro de 1977 vítima de infarto. Fonte: PPP da EM 10.19.021 Profa. Sílvia de Araújo Toledo. QUARTEIRÃO Setembro/Outubro 2011 MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA MUSEU COMUNITÁRIO TREZE DE MAIO Ação e cidadania resgatando a cultura dos povos afrodescendentes Sede das II JORNADAS FORMAÇÃO EM MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA, a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul tornou-se também uma referência de Museologia Comunitária desde quando foi fundado o Museu Treze de Maio, a partir das memórias de um Clube de Negros. No ANO INTERNACIONAL DOS POVOS AFRODESCENDENTES, a ABREMC – Assoc. Bras. De Ecomuseus e Museus Comunitários e o Museu Treze de Maio e seus parceiros realizam de 30 de outubro a 03 de novembro as II Jornadas Formação em Museologia Comunitária em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Subtema: Metodologia de trabalho nos ecomuseus, museus comunitários e espaços de origem africana e afro-brasileira: aspectos comuns e aspectos singulares. A ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários, com sede no Rio de Janeiro e o Museu Comunitário Treze de Maio de Santa Maria-RS, com o apoio da Prefeitura Municipal de Santa Maria, da UMCO – Unión de Museos Comunitários de Oaxaca, do Ecomuseu de Itaipu Foz do Iguaçu – PR, convocam as comunidades e organizações interessadas em participar das II Jornadas Formação em Museologia Comunitária, a se realizarem em Santa Maria, RS, de 30 de outubro a 03 de novembro de 2011. OBJETIVOS DA JORNADA: Gerais: a) fortalecer iniciativas criativas e organizadoras dos povos afrodescendentes como potenciais incubadoras de processos museológicos comunitários, valorizando as questões étnico-raciais e de gênero que estimulem o debate acerca da superação dos entraves ao reconhecimento do patrimônio material e imaterial da população negra, estimulando o protagonismo, o empoderamento e ações afirmati- vas em prol do respeito à diversidade e aos valores civilizatórios africanos e afro-brasileiros; b) reunir comunidades e profissionais envolvidos em processos museológicos de ecomuseus, museus comunitários e outros para a reflexão sobre suas metodologias e abordagens específicas e a contribuição que esses museus podem dar pela participação comunitária; c) capacitar membros das comunidades como facilitadores que transmitam técnicas e métodos participativos para a criação e desenvolvimento de museus comunitários, catalisando processos de organização locais específicos; d) reconhecer, apoiar e divulgar novas experiências e metodologias próprias da museologia comunitária; e) estabelecer redes de intercâmbio continuado entre protagonistas, estudiosos e simpatizantes dos ecomuseus, museus comunitários e similares. LOCAL 1: Museu Comunitário Treze de Maio – Rua Silva Jardim, 1407 Bairro Rosário - Santa Maria, no Rio Grande do Sul – Fone: (55) 3226 6082 – [email protected] LOCAL 2: Hotel Morotin, Rua Ângelo Uglione, 1629 – Centro, Fone: (55) 3220 5200, [email protected], http://www.morotin.com.br/ Destacamos na programação: Conferência de abertura, mesas redondas, oficinas, visitas a territórios e variadas apresentações culturais. Acompanhe a programação completa no blog: http://museutrezedemaio.blogspot.com/ e no site da ABREMC: www.abremc.com.br 13 QUARTEIRÃO 14 Setembro/Outubro 2011 TRADIÇÃO SARAU EM TRÊS TEMPOS D. João e Dona Carlota Joaquina (foto do Museu Histórico) D. Pedro I ao cravo anima o sarau Sarau dos 15 anos do NOPH em 1998 TEM SARAU NO CENTRO CULTURAL! SARAU DOS 444 ANOS DE SANTA CRUZ ão 444 anos de história nessa terra que já foi de Piracema e hoje é de Santa Cruz. Essa data cabalística não podia passar sem deixar marcas. Sarau – reunião festiva entre amigos para cantar, ouvir e dizer poesia, dançar, representar... é uma das tradições santacruzenses mais antigas. Vem do tempo de D. João e seus filhos – os Imperadores D. Pedro I e D. Pedro II que no Palácio da Fazenda de Santa Cruz reuniam as pessoas para celebrar a vida. Dizem mesmo que, após o grito da Independência, D. Pedro I, passando por Santa Cruz, celebrou o acontecido com festa na Sede da Fazenda. Nos anos 90, quando o NOPH reconheceu-se como um ecomuseu, uma de suas ações consistiu em celebrar a luta pela dignidade histórica desse lugar, suas tradições, seus costumes, seu modo de ser e viver. Restauramos o sarau nas festas da Semana de Santa Cruz naquele que foi o Paço Real e Imperial da Fazenda. O Sarau dos 444 anosde Santa Cruz foi no Palacete e a gente vai querer mais. Esses salões não querem mais ficar vazios, essas pedras S Fotos Bruno Cruz querem ecoar poesia e música, esse chão quer ritmos variados. Por isso o Sarau dos 444 anos é só o primeiro ato de uma peça que apenas começa. TEM SARAU NO CENTRO CULTURAL vai acontecer sempre, trazendo o melhor de nossos músicos e poetas, a aura artística de nossa gente que traz no DNA o fazer mais simples dos habitantes da terra de piracema, a fome de cultura do branco que chegou aventureiro, e o ritmo e a sensualidade do negro que chegou despojado, só com suas memórias e cultura. TEM SARAU NO CENTRO CULTURAL vai mostrar o ouro da casa, nossa gente de brilho no olho e vontade de fazer mais, muito mais... Tem prosa, tem poesia, tem abraço, tem encontro, tem aconchego, tem afeto, tem gente que quer brilhar... Entre que a casa é nossa... foi por ela que tanto lutamos e agora é só festejar... Coral do NOPH sob a regência do prof. Júlio Queiroga QUARTEIRÃO Setembro/Outubro 2011 15 TRADIÇÃO Foto Célia Coutinho Dança de Salão: Juarez e Valéria Ângela Mangarás interpretou belas canções Foto Célia Coutinho Alunas do Ginásio Experimental Carioca/EM Princesa Isabel: dramatização sobre a história de Santa Cruz (texto do prof. Pedro de Assis/História) A magia da Dança do Ventre encantou a todos QUARTEIRÃO 16 Setembro/Outubro 2011 COMUNIDADE NOVA SEPETIBA EXISTE, RESISTE E PEDE PASSAGEM PARA A VIDA DIGNA A constatação da situação de abandono e descaso da população de Nova Sepetiba, que ali está há anos, constrange qualquer cidadão. A presença dos missionários católicos tenta de alguma forma diminuir o estado de necessidade da localidade com cestas básicas conseguidas com a solidariedade de outras paróquias do Rio e com o já conhecido “sopão”, para pelo menos satisfazer a necessidade primeira das famílias ali instaladas.Na maioria das casas já se pode constatar a presença de duas famílias, nos puxadinhos improvisados O patrimônio humano foi ali “depositado” como uma carga qualquer, sem o mínimo de condições de sustentabilidade e desenvolvimento. Nada ali é suficiente para o número de habitantes (cerca de 30 a 40 000 pessoas). Ainda hoje não há creches, escolas de 1º segmento, clínicas, UPAS (Unidades de Pronto Atendimento), e principalmente transporte suficiente para buscar SAÚDE, EDUCAÇÃO e EMPREGO fora de Nova Sepetiba. Os voluntários demonstraram quanto tem sido insuficientes seus esforços diante de tanta fome e doença. Mais: não há emprego, não há como vislumbrar saídas que não sejam pelas políticas públicas que deveriam criar ali um centro de recrutamento e capacitação de gente para o trabalho. Constrange a todos nós essa dura realidade: a de nada mais esperar e em nada acreditar, ter a desesperança e a baixa- estima como indesejáveis companheiras. Enquanto isso, campanhas por um Rio Maravilhoso vão transformando a face da cidade, deixando encobertas essas feridas sociais que somente envergonham os cidadãos de bom senso, Enquanto isso, nesse mesmo território o poder econômico de grandes indústrias mostra seu fôlego para tornar mais ricas outras localidades, sem mostrar qualquer sensibilidade com a qualidade de vida do seu entorno, sem contribuir decisivamente para diminuir esse contraste social. A riqueza de uma localidade não pode gerar a pobreza. Confirma-se o slogan do governo – País rico é país sem miséria. Fundamentados nisso, conclamamos todos a uma ação conjunta para que Responsabilidade Social não seja apenas uma expressão da moda no vocabulário das empresas, mas de fato uma iniciativa de estender a mão, o braço, o corpo inteiro para tirar essa comunidade da situação em que se encontra: sem saúde, sem educação, sem transporte, sem renda, sem dignidade. É URGENTE a criação de um Núcleo de Capacitação que aproveite essa mão-de-obra despreparada e a transforme em mão-de-obra qualificada para a demanda da região que tem potencial turístico, gastronômico, artesanal, além da sua própria história. É URGENTE a intervenção dos recursos da indústria em toda Sepetiba, transformando-a num novo pólo de lazer para os habitantes da região, muitos deles trabalhadores dessas indústrias- recuperação d a paisagem e do balneário, revitalização da gastronomia, turismo marítimo, implantação de um centro cultural (o esqueleto do antigo INSTITUTO SEPETIBA dos áureos tempos está à espera de um novo e glorioso destino, antes que se desmorone). Enquanto isso, jovens moradores, agarrem-se às bóias que os movimentos comunitários lançam. Um deles, o Ecomuseu de Sepetiba, já existe desde que alguns bravos moradores e pescadores se reuniram numa garagem de frente para a Ilha do Tatu para pensar como resistir a tudo isso. Isolados, no caminho onde só os moradores passam, continuam esquecidos, abandonados à própria sorte, dependentes do assistencialismo e da solidariedade de poucos. O resto é discurso, véu de fumaça... Odalice Priosti NOPH/ Ecomuseu de Santa Cruz INAUGURADA FAIXA DE AREIA NA PRAIA DE SEPETIBA Com a auto-estima renovada, a população descobre a sua nova área de lazer. Trecho foi inaugurado em setembro como parte das atividades do Dia Mundial de Limpeza deste ano, para uma das atividades do Dia Mundial de Limpeza das Praias (Clean Up The World) – evento que mobiliza globalmente mais de 125 países – serão liberados os primeiros 130 metros da faixa de areia da Praia de Sepetiba, onde há pouco mais de um ano teve início um extenso programa de restauração ambiental, saneamento e reurbanização. Na ocasião, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, e a presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, participam de uma ação de educação ambiental que envolverá 60 agentes ambientais que estão sendo formados na região. A recuperação da Praia de Sepetiba está entrando em nova fase de projetos e licitações. Para reverter décadas de degradação, foram gastos R$ 46 milhões do Fundo Estadual de Compensação Ambiental (Fecam) somente na primeira etapa das obras, que beneficiarão mais de 40 mil moradores. Na primeira etapa de intervenções – iniciada em junho do ano passado pela Construtora Ode- brecht – foram remanejadas cerca de 500 mil espécies de plantas invasoras e de mais de 780 mil caranguejos da área do manguezal, sob supervisão do biólogo Mário Moscatelli, a fim de evitar danos aos crustáceos e ao meio ambiente. Os 130 metros de extensão recuperados da praia equivalem a uma área de 500.000 m² e 400.000 m³ de areia, cuja faixa de extensão sem incidência da maré passou a ter 80 metros. A camada de lodo removida da areia passou por separação do lixo e foi encapsulada em mantas impermeáveis (geotêxteis) formando blocos que foram assentados em faixas interligadas no fundo do mar. O material, que permite o fluxo da água e de gases, foi coberto por nova camada de areia extraída com draga de jazida submarina na própria baía de Sepetiba. Na segunda etapa, também com recursos do Fecam, está prevista a continuação da limpeza da praia, urbanização da orla, incluindo pavimentação e saneamento. Serão 48 km de redes de drenagem de águas pluviais e 101 km de esgoto, nos bairros de Sepetiba, Praia da Brisa e Pedra de Guaratiba. Serão construídas duas Estações de Tratamento de Esgoto, uma em Sepetiba e a outra, em Pedra de Guaratiba. Sobre o Clean Up the World O movimento, que simboliza a união global em prol de um mundo mais limpo, teve início na Austrália e começou a ser promovido no Rio em 2003, com as campanhas Limpeza Na Praia, dos institutos Aqualung e Lagoa Viva. A participação do Governo do Estado do Rio de Janeiro no movimento, o mais pró-ativo em âmbito mundial, tem sido constante. A mobilização foi incluída na agenda anual do Pacto de Resgate Ambiental, da qual participam o poder público, empresas ambientalmente responsáveis, e a sociedade civil organizada. Fonte: Diário de Petrópolis Considerado bom por muitos moradores que começam a usar a faixa como área de lazer e encontro, resgatando um pouco da autoestima do bairro, a inauguração prematura é considerada polêmica para outros, uma vez que não foi apresentado o índice de qualidade da água que já está sendo usada por banhistas desavisados nem mesmo um laudo sobre a qualidade da areia onde todos já se expõem.