Leitura e Escrita: um desafio na resolução de problemas matemáticos nos anos iniciais do Ensino Fundamental Susana Maria Pereira Coutinho [email protected] Regina Lúcia Tarquínio de Albuquerque [email protected] RESUMO Este trabalho é resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi investigar as dificuldades encontradas no processo de ensino e aprendizagem no contexto das práticas de leitura e escrita e suas influências na resolução de problemas matemáticos. O estudo teve seu foco no ensino fundamental, anos iniciais, sendo realizado na cidade de Ceará-Mirim-RN, no ano de 2008, envolvendo alunos do 5º ano de uma escola da rede estadual. Algumas temáticas permeiam este trabalho, dentre as quais se pode destacar: lendo, escrevendo e interpretando problemas: desafios na história e leitura escrita – algumas abordagens. O referencial teórico da pesquisa baseia-se, principalmente nos trabalhos de Smole e Dinniz e nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Na metodologia de caráter qualitativo, foi utilizado como instrumento de coleta de informações: entrevista, questionário e observação diagnóstica. Os resultados encontrados revelaram as dificuldades que os alunos enfrentam em relação à disciplina. Eles não percebem nenhuma ligação entre a matemática, a leitura e a escrita. Nesse sentido, é importante que o professor, desde o início da escolarização, trabalhe a matemática contextualizada, ou seja, integrada com situações significativas próximas ao aluno. Palavras-chave: Leitura. Escrita. Resolução de problemas. Aprendizagem 1. Introdução 1 Um dos problemas mais evidenciados pelos professores de todas as áreas do conhecimento está relacionado às dificuldades de escrita e leitura dos alunos. Em geral os professores afirmam que os alunos não interpretam adequadamente as questões propostas, apresentam dificuldades de argumentar seus pontos de vista e não conseguem resolver situaçõesproblema. Essa constatação se torna mais visível quando se focaliza o ensinoaprendizagem da matemática. Há uma crença, até certo ponto consolidada, que no processo da aprendizagem matemática não deve haver preocupação com as práticas de leitura e escrita. A leitura e a escrita, assim como o modo como os conhecimentos matemáticos são produzidos, são os conteúdos mais relevantes que se pode trabalhar, promovendo, dessa forma, o acesso aos alunos à cultura da qual fazem parte. Os professores das séries iniciais trabalham como professores polivalentes e ao abordar os conteúdos de matemática, percebe-se que estes se apresentam como uma linguagem de difícil compreensão para aqueles que não dominam a própria língua materna. Isso acontece, conforme expressa Carmen G. Granell (1998), porque enquanto a língua materna tem como função primordial a comunicação, a linguagem matemática é caracterizada pela abstração, rigor e precisão, apresentando como finalidade primordial a inferência, ou seja, a indução, e não a comunicação. Apesar disso, o ensino da matemática tem por objetivo também lidar adequadamente com a língua materna. Nele, os sujeitos (professores e alunos) comunicam idéias matemáticas, conceitos, saberes, pensamentos usando a linguagem. Portanto, e neste contexto, as práticas de leitura e de escrita deveriam fazer parte dos compromissos sociais e culturais dos professores de matemática. Essas constatações evidenciam a necessidade de cursos de formação que propiciem aos professores, condições para o desenvolvimento de práticas de leitura e escrita em que os sujeitos da aprendizagem sejam motivados a ler e a escrever, para que possam desenvolver habilidades como: levantar hipóteses, distinguir diferentes tipos de textos, saber como fazer uma 2 notação, consultar diferentes fontes de pesquisa, saber localizar uma informação, produzir e comunicar ao outro, um texto. Nesse sentido, esse estudo se propôs a desenvolver um trabalho no âmbito do ensino e aprendizagem da matemática, focalizando as práticas de leitura e de escrita como elementos importantes na própria compreensão do conhecimento matemático. Nessa perspectiva, teve como principal objetivo estudar as práticas de leitura e escrita e suas influências na resolução de problemas matemáticos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, especificamente no 5º ano de uma escola da rede pública estadual no ano de 2008. Buscou-se analisar a autoestima e o prazer com relação às atividades matemáticas, no contexto da resolução de problemas; revelar a leitura e escrita como ferramentas necessárias à compreensão de situações- problema e compreender o lugar da resolução de problemas no ensino da matemática. 2. Leitura e escrita – algumas abordagens Ensinar a criança a ler, a escrever a se expressar de maneira competente é atualmente o grande desafio dos professores do ensino fundamental. Desde o início dos anos 1980, o ensino de língua portuguesa na escola tem sido o centro da discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade da educação no País. No ensino fundamental, o eixo da discussão no que se refere ao fracasso escolar tem sido a questão da leitura e da escrita nos anos iniciais. Nos últimos dez anos, a quase totalidade das redes de educação pública desenvolveu, sob a forma de reorientação curricular ou de projetos de formação de professores em serviço, um grande esforço de revisão das práticas tradicionais de alfabetização inicial. Mas a verdade é que ainda há muito a fazer. O índice de repetência e de abandono nas escolas brasileiras, 3 um dos mais altos do mundo, é resultado, principalmente, da dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever. Sobre essa questão é importante considerar algumas orientações gerais sobre o básico a ser ensinado para que os alunos possam produzir e interpretar textos, orais ou escritos, tanto para as necessidades do dia a dia escrever um recado, ler as instruções de um eletrodoméstico, como para ter acesso aos bens culturais e à participação plena no mundo letrado. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) - Língua Portuguesa (1998) falar e escutar, além de ler e escrever, são ações que permitem produzir e compreender textos. Nesse sentido, ler e escrever são atividades que se complementam. Os bons leitores têm grandes oportunidades de escrever bem. Quem lê mais tem um vocabulário mais rico e compreende melhor determinados tipos de textos. Ainda de acordo com os PCN-Língua Portuguesa (1998, p. 4-6) ao término do quinto ano do ensino fundamental, espera-se que os alunos: * Façam a correspondência dos segmentos falados com os escritos. *Aprendam a escrever um texto separando as palavras. * Dividam o texto escrito em frases usando maiúsculas no início de frases e alguns sinais de pontuação. * Usem o dicionário. * Substituam o uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” ou “então” por “assim”, “mas” etc. *Formem critérios para selecionar leituras e desenvolver padrões de gosto pessoal. * Acentuem palavras utilizando as regras relacionadas à tonicidade. * explorem diferentes modalidades de leituras. Ex.: ler para se divertir, estudar, revisar etc. * Desenvolvam estratégias de escrita, como planejar o texto, redigir rascunhos, relê-los e refazer se necessário. * Utilizem os recursos coesivos oferecidos pelo sistema de pontuação e pelo uso de conectivos adequados, manter o tempo verbal. * Empreguem regências verbais e as concordâncias verbal e nominal. * Façam resumos. * Ouçam com atenção e respondam perguntas sem fugir do assunto. * Façam uma exposição oral. * Narrem fatos respeitando a temporalidade. 4 * Contem histórias já conhecidas, mantendo-se próximo do texto original. *Relatem experiências, sentimentos, idéias e opiniões de forma clara e ordenada (...). Para que o aluno alcance esses requisitos é indispensável que a escola viabilize-lhe o acesso ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos de diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defronta sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim, não consegue manejar, pois não há um trabalho planejado com essa finalidade. Nesse sentido, Smole e Dinniz (2001, p. 69) aponta que “em qualquer área do conhecimento, a leitura deve possibilitar a compreensão de diferentes linguagens, de modo que os alunos adquiram uma certa autonomia no processo de aprender.” Sem essa compreensão, o aluno não consegue utilizar textos cuja finalidade seja compreender um conceito, apresentar uma informação nova, descrever um problema, comparar diferentes pontos de vista, argumentar a favor ou contra uma determinada hipótese. É essa capacidade, que permite o acesso à informação escrita com autonomia, é condição para o bom aprendizado, pois dela depende a possibilidade de aprender os diferentes conteúdos. Por isso, todas as disciplinas têm a responsabilidade de ensinar a utilizar os textos de que fazem uso. Sobre este assunto, Smole e Dinniz (2001, p. 70) dizem: Compreender um texto é uma tarefa difícil, que envolve interpretação, decodificação análise, síntese, seleção, antecipação e autocorreção. Quanto maior a compreensão do texto, mais o leitor poderá aprender a partir do que lê. Se há uma intenção de que o aluno aprenda através da leitura, não basta simplesmente pedir para que ele leia, nem é suficiente relegar a leitura às aulas de língua materna: torna-se imprescindível que todas as áreas do conhecimento tomem para si a tarefa de formar o leitor. Nessa perspectiva, percebe-se que a leitura é uma atividade permanente da condição humana, uma habilidade a ser adquirida desde cedo e treinada em suas várias formas. Lê-se para entender e conhecer. Lê-se por 5 prazer e curiosidade. Lê-se para aprender e ficar informado. Lê-se para questionar e resolver problemas. Sendo a mais geral das habilidades, a leitura acaba determinando o sucesso ou fracasso na vida escolar. 2.1 Lendo, escrevendo e interpretando problemas: desafios na história. No início do século XX, o ensino da matemática foi caracterizado por um trabalho apoiado na repetição, no qual o recurso da memorização era considerado muito importante. Nessa época, o currículo ainda não estava bem definido. Anos depois, dentro de outra orientação, os alunos deviam aprender matemática com compreensão. Mas o professor ainda era visto como dono do saber, ele falava, o aluno escutava e repetia, não participava da construção de seu conhecimento, Então, nessa época começou-se a falar em resolver problemas como um meio de se aprender matemática. Somente nas últimas décadas é que os educadores matemáticos passaram a aceitar a ideia de que o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas merecia mais atenção. Mas afinal, o que são problemas matemáticos? Segundo Dante (1994), um problema matemático é qualquer situação que exija maneira matemática de pensar e conhecimentos matemáticos para solucioná-la. Sobre essa questão, Brasil (1998, p. 42) completo que “a resolução de problemas é o caminho para o ensino da matemática que vem sendo discutido ao longo dos últimos anos”. A história da matemática mostra que ela foi construída como resposta a perguntas provenientes de diferentes origens e contexto, motivadas por problemas vinculados a outras ciências (física, astronomia), bem como por problemas relacionados à investigação interna à própria matemática. Todavia, tradicionalmente, os problemas não têm desempenhado seu verdadeiro papel no ensino, pois, na melhor das hipóteses, são utilizados apenas como forma de aplicação de conhecimento adquiridos anteriormente pelos alunos. 6 A prática mais frequente consiste em ensinar um conceito, procedimento ou técnica e depois apresentar um problema para avaliar se os alunos são capazes de empregar o que lhes foi ensinado. Para a maioria dos alunos, resolver um problema significa fazer cálculos com os números do anunciado ou aplicar algo que aprenderam nas aulas. Desse modo, o que o professor explorar na atividade matemática não é mais atividade, ela mesma, mas seus resultados, definições, técnicas e demonstrações. Consequentemente, o saber matemático não se apresenta ao aluno como um sistema de conceitos, que lhe permite resolver um conjunto de problemas, mas como um interminável discurso simbólico, abstrato e incompreensível. Nesse caso, a concepção de ensino e aprendizagem subjacente é de que o aluno aprende por reprodução / limitação. De acordo com Brasil (1998, p. 43-44) ao colocar o foco na resolução de problemas, o que se defende é uma proposta que poderia ser resumida nos seguintes princípios: * O ponto de partida da atividade matemática não é definição, mas o problema. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, ideais e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos precisem desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las; * O problema certamente não é um exercício em que o aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo operatório. Só há problema se o aluno for levado a interpretar o enunciado da questão que lhe é posta e a estruturar a situação que lhe é apresentada. * Aproximações sucessivas ao conceito são construídas para resolver certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza o que aprendeu para resolver outros, o que exige transferências, retificações, rupturas, segundo um processo análogo ao que se pode observar na história da matemática; * O aluno não constrói um conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo de problemas. Um conceito matemático se constrói articulando com outros conceitos, por meio de uma série de retificações e generalizações; * A resolução de problemas não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação de aprendizagem, mas uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contexto em que se podem aprender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas. 7 Considerar esses princípios convém precisar algumas características das situações que podem ser entendidas como problemas. Um problema matemático é uma situação que demanda a realização de uma sequência de ações ou operações para obter um resultado. Ou seja, a solução não está disponível de início, no entanto, é possível construí-la. Em muitos casos, os problemas usualmente apresentados aos alunos não constituem verdadeiros problemas, porque, via de regra, não existe um real desafio nem a necessidade de verificação para validar o processo de solução. O que é problema para um aluno pode não ser para outro, em função do seu nível de desenvolvimento intelectual e dos conhecimentos de que dispõe. Resolver um problema pressupõe que o aluno elabore um ou vários procedimentos de resolução, compare seus resultados com os de outros alunos e valide seus procedimentos. Dessa forma, resolver um problema não se resume em compreender o que foi proposto e dar respostas aplicando procedimentos adequados. Aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode ser suficiente para que ela seja aceita e até seja convincente, mas não é garantia de apropriação do conhecimento envolvido. Além disso, é necessário desenvolver habilidades que permitam pôr à prova os resultados, testar seus efeitos, comparar diferentes caminhos, para obter a solução. Nessa forma de trabalho, o valor da resposta correta cede lugar ao valor do processo de resolução. O fato de o aluno ser estimulado a questionar sua própria resposta, a questionar o problema, a transformar um dado problema numa fonte de novos problemas, evidencia uma concepção de ensino e aprendizagem não pela mera reprodução de conhecimentos, mas pela via de ação refletida que constrói conhecimento. E qual o papel da leitura e da escrita nesse rico processo de conhecimentos? A leitura e a escrita são ferramentas essenciais na compreensão de situações-problema. É comum deparar-se com alunos que não sabem 8 interpretar o que o problema pede. E se ouvir frases do tipo: professora é de mais ou de menos? Discutindo exclusivamente sobre a leitura de problemas de matemática, baseadas no trabalho que realizaram com crianças, Smole e Dinniz (2001, p. 72) afirmam: A dificuldade que os alunos encontram em ler e compreender textos de problemas está, entre outros fatores, ligada à ausência de um trabalho específico com o texto do problema. O estilo no qual os problemas de matemática geralmente são escritos, a falta de compreensão de um conceito envolvido no problema, o uso de termos específicos da matemática que, portanto, não fazem parte do cotidiano do aluno e até mesmo palavras que têm significados diferentes na matemática e fora dela – total, diferença, ímpar, média, volume, produto – podem constituir-se em obstáculos para que ocorra a compreensão. Essas dificuldades de leitura geralmente aparecem nos textos de matemática em geral. Consequentemente os alunos apresentam grandes dúvidas e até medo da disciplina, por não compreenderem seu vocabulário exótico. É interessante mostrar aos alunos os diversos tipos de textos matemáticos, inclusive aqueles em que não apresenta linguagem verbal. São textos com poucas palavras, mas com muitos símbolos a serem interpretados. Carrasco (2000, p. 144) aponta eventuais problemas de leitura e de escrita, como responsáveis por dificuldades com a tarefa matemática e discute as soluções que se tem nesse sentido: A dificuldade de ler e escrever em linguagem matemática, onde aparece uma abundância de símbolos, impede muitas pessoas de compreenderem o conteúdo do que está escrito, de dizerem o que sabem de matemática e, pior ainda, de fazerem matemática. Nesse sentido, duas soluções podem ser apresentadas. A primeira consiste em explicar e escrever, em linguagem usual, os resultados matemáticos (...). Uma segunda solução seria a de ajudar as pessoas a dominarem as ferramentas da leitura, ou seja, a compreenderem o significado dos símbolos, sinais e notações. Portanto, ler não deve ser um ato mecânico de memorização ou decodificação de sinais gráficos, mas um meio de compreender e interpretar o 9 que está sendo expresso pela linguagem. Sendo assim, conhecer o sentido das palavras é essencial para compreender o texto. Quanto mais já se sabe de um assunto, mais se pode compreender o que se vai ler sobre esse assunto. Essa apreensão permite compreender o que se ler nas linhas e entrelinhas. Como se pode perceber é inegável a importância da leitura e escrita em todo processo de conhecimento. Nesse contexto, esse estudo foi desenvolvido numa perspectiva de se verificar as causas das dificuldades encontradas em alunos do ensino fundamental nos anos iniciais no que se refere à interpretação e resolução de problemas matemáticos. 3. Procedimentos metodológicos A pesquisa foi realizada em uma escola do setor público, mais especificamente, da Rede Estadual, localizada na zona urbana do Município de Ceará-Mirim-RN. Adotou-se o método etnográfico por princípio, voltado ao estudo do cotidiano da sala de aula. As informações coletadas para realização da pesquisa se deram a partir de uma investigação em sala de aula onde foi obtida uma série de dados através de questionários, entrevistas e registros de observação do desempenho do aluno em atividades de leitura oral, silenciosa ou em grupos de textos de problemas que exigiam a interpretação e resolução. Este trabalho foi desenvolvido no ano de 2008 com a finalidade de subsidiar o professor a encontrar caminhos alternativos na busca da superação das dificuldades que a maioria dos educandos enfrenta na resolução de problemas matemáticos no contexto da leitura e escrita, sendo estas, ferramentas necessárias à compreensão de situações-problema. A coleta de dados foi realizada por um período de dois meses e se deu em uma sala de aula de 5º (quinto) ano composta de 35 (trinta e cinco) alunos, na faixa etária dos 9 (nove) aos 15 (quinze) anos de idade. Para que se tenha um conhecimento da escola onde foi realizada esta pesquisa, serão apresentados alguns de seus aspectos significativos. 10 A escola campo de observação, situada no centro, Ceará-Mirim-RN, tem atualmente 42 (quarenta e dois) funcionários, sendo 24 (vinte e quatro) professores e 18 (dezoito) da equipe de apoio em diferentes funções. A referida escola funciona nos 3 (três) turnos com horário das: 7h às 11h30, no turno matutino, de 13h às 17h30, no turno vespertino e de 19h às 22h, no turno noturno. Quadro 1 – Estrutura física da escola Itens Sala dos Professores Salas de Aulas Sala de Vídeo Direção Banheiros Cozinha Praça de Alimentação Quantidade 1 9 1 1 4 1 1 Fonte: Direção da escola. Quadro 2 – Funcionários da escola Funcionários Professores ASG Merendeiro Supervisor Secretários Vigia Coordenadores Quantidade 24 1 3 3 8 1 2 Fonte: Direção da Escola. Ao utilizar a pesquisa do tipo etnográfico, foi possível o contato direto entre o pesquisador e as situações, pessoas ou grupos selecionados a partir principalmente da observação e análise adquiridas através de levantamentos de dados, que permitiram descrever a realidade estudada. Sobre a importância desse tipo de pesquisa Fazenda (1991 p. 39) diz: O estudo do cotidiano escolar se coloca como fundamental para se compreender como a escola desempenha o seu papel 11 socializador, seja na transmissão dos conteúdos acadêmicos, seja na veiculação das crenças e valores que aparecem nas ações, interações, nas rotinas e nas relações sociais que caracterizam o cotidiano da experiência escolar. Essa compreensão de como a escola transmite os conteúdos necessários à formação acadêmica ou não dos alunos é de fundamental importância no sentido de levar o professor a refletir sobre sua prática e, consequentemente entender melhor as dificuldades que os alunos apresentam em determinadas situações de aprendizagem em algumas disciplinas como a matemática, por exemplo. Diante da grande dificuldade dos alunos na compreensão de situaçõesproblema, iniciou-se a pesquisa, fazendo questionamentos orais a respeito da disciplina. Perguntando aos alunos se a leitura, interpretação e a produção de textos poderiam fazer parte das aulas de matemática. A surpresa foi constatar que os alunos não percebiam nenhuma ligação, associavam o ler, escrever e interpretar apenas a disciplina de Língua Portuguesa. Para eles a matemática trata apenas dos números. Essa concepção de ensino ainda é visível hoje nas instituições escolares, sustentando uma contradição de que a matemática é somente cálculo, sem ações de reflexão, e que essa disciplina é difícil. A dificuldade está na forma de ensinar e ver o ensino. Sobre essa questão, pode-se perceber a importância de o professor desde o início de escolarização, trabalhar a matemática contextualizada, ou seja: passar durante a representação de conceitos matemáticos, por outros tipos de linguagens como, por exemplo, a linguagem pictórica e a linguagem materna. Sobre isso, Machado (1990, p. 15) reforça: Mesmo no tempo em que se dizia que as pessoas iam à escola para aprender a “Ler, escrever e contar”, o ensino de matemática e o da língua materna nunca se articularam para uma ação conjunta (...). É como se as duas disciplinas, apesar da longa convivência sob o mesmo teto – a escola – permanecem estranhas uma a outra, cada uma tentando realizar sua tarefa isoladamente ou restringindo ao mínimo as possibilidades de interações intencionais. (Grifo do autor) 12 Diante de tantas questões, ensinar matemática tem sido um desafio. As dificuldades somam-se aos problemas causados por uma visão distorcida da matéria, estabelecidas desde os primeiros contatos. Um desses problemas é exatamente a descontextualização, o que leva a maioria dos alunos a sofrerem do conhecido medo da matemática, como se pode perceber a seguir: Em uma entrevista, pediu-se que os alunos falassem uma palavra que definisse a matéria, obtendo os seguintes percentuais como resposta: 60% dos alunos responderam que sentiam muita dificuldade, 30% ódio da matéria e, 10% outras definições. Num segundo momento, foi aplicado um questionário, em que os alunos teriam que optar marcando com X na disciplina que não gostariam de ter no currículo. Das oito opções propostas, 74% marcaram matemática. Em todas as justificativas estavam às dificuldades de compreensão de seus conteúdos. Quando questionados a respeito da importância da disciplina, todos reconheceram sua utilidade e importância principalmente na vida prática cotidiana. Mas, por que não conseguem aprendê-la? Diante dessa indagação, pode-se perceber que é justamente porque o estudo da matemática tornou-se uma mesmice e uma decoreba, que os alunos, jovens e adolescentes não se sentem motivados a aprendê-la e estudá-la. Sobre essa questão Pavanelo (1994, p.7) diz: A prática pedagógica presente nas aulas de matemática reserva ao aluno um papel passivo: a ele cabe apenas ouvir e registrar o que o professor expõe; efetuar exercícios semelhantes ao resolvido na lousa pelo mestre; memorizar regras, das quais nem sempre entende o significado, para a resolução de questões que não despertam seu interesse e que, em geral admitem uma única solução: responder corretamente questões propostas nas provas. Essa prática não leva em consideração as diferenças individuais. Devese reconhecer que as crianças são sujeitos intelectualmente ativos, que pensam, comparam, refletem e analisam, excluem, ordenam e que procuram compreender o mundo que as rodeiam, e que aprendem, por meio de suas 13 ações sobre os objetos do mundo, passando a ser objeto do seu conhecimento. O conhecimento lógico – matemático resulta da ação mental da criança sobre objetos. Portanto, ele não pode ser ensinado por repetição ou verbalização. Assim, trabalhar com as atividades de matemática que desenvolva e proporcione o desequilíbrio, investigando e provocando conflitos são aspectos fundamentais para o desenvolvimento da criança. Dessa forma, os professores devem estar atentos às opiniões e estratégias que a criança utiliza para resolver problemas, observando alguns indicadores de seu desenvolvimento. Como se pode perceber, a aquisição de todo conhecimento parte da ação. É nela que deverá estar baseado o ensino escolar. Ao invés de memorizar os conhecimentos expostos pelo professor, o aluno deverá aprender a sentir, perceber, compreender, conceituar, raciocinar, discutir e enfim transformar. 4. Considerações Finais Trabalhar o tema: Leitura e escrita um desafio na resolução de problemas matemáticos nos anos iniciais me fez refletir sobre minha prática atual, recordar experiências formativas e perceber o quanto é fundamental que o professor veja a leitura e a escrita como parte integrante de qualquer processo de aprendizagem, inclusive o da matemática. Foi a partir dessa pesquisa que iniciei um novo olhar para essa questão. Antes, eu mesma não percebia a importância da leitura e escrita nas aulas de matemática, em consequência tratava a disciplina como exata reproduzindo para os alunos a mesma formação que tive no passado, em que a disciplina não exigia nenhum tipo de interpretação, só tratava de números. Era concebida como lógica, pronta e acabada. Hoje percebo que a matemática está dentro de 14 um novo contexto social, exige interpretação, compreensão de significado e está em toda parte, integrando-se a todas as disciplinas. O tema da pesquisa surgiu a partir de minha inquietação diante das dificuldades observadas nos alunos quanto à resolução de problemas matemáticos. Queria entender o porquê dos medos e fracassos nas aulas de matemática e, de que forma a leitura e a escrita estavam inseridas nesse processo. Com o trabalho de pesquisa pude perceber que o professor pode contribuir ou não para que seus alunos superem as dificuldades em sala de aula. Nesse sentido faço parte do processo e pretendo a partir de então, colocar em prática tudo que aprendi. Sei que os medo e fracassos são provenientes de uma abordagem pouco significativa dos conteúdos, necessários a formação dos alunos. No entanto, é necessário ter em mente que a leitura e a escrita são imprescindíveis nesse processo e devem ser planejadas como atividades cotidianas presentes em todas as áreas do conhecimento, como já visto. No contexto da resolução de problemas é importante que o professor oportunize o aluno a entrar em contato com os diversos textos matemáticos, a fim de decodificar os sinais, símbolos e linguagem específicos da disciplina. Com isso, o professor ajudará o aluno a pensar sobre os conceitos matemáticos mais do que apenas exercitá-los mecanicamente, contribuindo para que ele perceba que é possível interpretar e compreender o que lhe parecia inacessível para ele: resolver situações-problema apoiado principalmente na compreensão, no qual se constroem significados. É nessa perspectiva, que devo estar consciente da necessidade de prosseguir em busca da formação continuada, para que possa mediar uma educação de qualidade que favoreça ao educando a construção crítica de seu aprender. Concluo este trabalho diante desta reflexão, me propondo buscar novos conhecimentos, no sentido de aperfeiçoar cada vez mais esse novo olhar e contribuir para que as práticas escolares no que se refere à leitura, escrita e resolução de problemas fragmentados sejam modificados. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e Cultura do. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. CARRASCO, Lucia H.M. Leitura e escrita na matemática. In: NEVES, Iara C.B et al. (Org). Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Editora da universidade de/ UFRGS, 2000, p. 192-204. DANTE, Luiz Roberto. Didática da resolução de problemas de matemática. São Paulo: Ática, 1994. FAZENDA, Ivani. Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, 1991. GRANELL, C. G. Rumo a uma epistemologia do conhecimento escolar: o caso da educação matemática. In: RODRIGO, M. J. e ARNAY, J. (org). 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