ESTADO DE MINAS - SEXTA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2001 "O CLUBE DA ESQUINA, MAIS ABRANGENTE E MAIS PROFUNDO MUSICALMENTE DO QUE O TROPICALISMO, ASSUME, COMO ESSE, A INFLUÊNCIA DA ERA DOS BEATLES" CHICO AMARAL Coisa & tal PÁGINA 10 ● SEGUNDA-FEIRA - Alcione Araújo e Fernando Sabino ● TERÇA-FEIRA - Roberto Drummond ● QUARTA-FEIRA - Fernando Brant ● QUINTA-FEIRA - Frei Betto ● SEXTA-FEIRA - Chico Amaral ● SÁBADO - Cyro Siqueira ● DOMINGO - Affonso Romano de Sant’Anna & MAIS CONVERSA c m y k Toninho Horta (do “pólo Gershwin”) cria o selo Minas Records, voltado para a música instrumental mineira de hoje, e para o registro das tradições festivas mineiras folclóricas. Toninho é um dos principais agentes na criação de uma escola mineira de música popular. Seu bom gosto harmônico, suas composições sofisticadas e seu domínio rítmico estão nos corações e ouvidos de muitos músicos, não só mineiros. Dentro de sua proposta e de seu caminho, é um dos maiores do mundo. Acho mais que palpável a sua visão de uma “grife” musical mineira. Minas é um caso especial na música do planeta. O s ladrões entraram e levaram o som. Com ele, todos os discos, exceto o Clube da Esquina 1. Fiquei olhando a estante vazia. “Que sorte, deixaram o Clube da Esquina”! Contei a estória pro Milton, que fez um comentário sucinto: “Não quiseram este disco? Manda prender!” O disco é um marco no trabalho de modernização da música brasileira que interessava a vários músicos mineiros, não só de uma geração. Alguns, a maioria, vindos da influência da bossa nova. Outros, os mais jovens, influenciados pelo pop dos Beatles. O Clube da Esquina produzia, assim, à sua maneira, uma espécie de som fusion – fusão de duas colunas da música popular, que eu já resumi no binômio Gershwin/Beatles. A música até os anos 60, a música depois disso. A toda hora, se vocês repararem, um artista sai de um pólo e entra no outro. Ella Fitzgerald canta Hey Jude (ainda em 1969!); artistas pop gravam Jobim e Cole Porter. A modernização da música brasileira efetivada no Clube da Esquina já estava sendo processada na música de Elis, nos afro-sambas de Baden, no samba-jazz-contemporâneo do Tamba Trio, nos arranjos de Eumir Deodato, de Moacir Santos... Era a cena pósbossa nova. O Clube da Esquina, mais abrangente e mais profundo musicalmente do que o tropicalismo, assume, como esse, a influência da era dos Beatles. Nenhum dos dois produziu música derivativa. Não se esqueça também que a poesia do tropicalismo é um dos grandes momentos da cultura brasileira. & CHEGA DE PAPO A gente aqui tentando falar de arte e jornais falando do sucesso televisivo de Casa dos Artistas em termos puramente numéricos. Jornalistas adoram comparar os números do Ibope de SBT e Globo, contribuindo, e muito, para o baixo nível da cultura brasileira. O que interessa é a vitória sobre a concorrência, a qualquer custo. Sílvio Santos é competente, mas é irritante a sua compulsão de vendedor de tele-senas e baús. Devia ser proibido usar a concessão do espaço (público) televisivo dessa forma. Se é assim, vamos dizer que Bruno e Marrone são geniais, pois ganham de qualquer outro na venda de discos (sei lá se ganham!; deixemos os números para os cadernos de economia e para as revistas paulistas!). Quanto mais a sociedade brasileira se afunda, mais sobe o simpático Sílvio. A primeira página do ESTADO DE MINAS no início da semana foi emblemática: a garota vencedora do jogo de Sílvio Santos numa foto imensa em cima; da metade pra baixo, os demais assuntos. Chame-se a isto bajular o gosto do público. c m y k CYAN MAGENTA AMARELO PRETO