4 REGIÃO CARBONÍFERA, TERÇA-FEIRA, 29 DE MARÇO DE 2011 [email protected] - (51) 3651.4041 Amanhã ou depois de amanhã? É interessante como alguns episódios da história brasileira (em especial, da história recente, entre os finais de 1800 a contemporaneidade) assumem maior ou menor importância na proporção direta da evolução do pensamento sócio-político nacional, obviamente sempre direcionado pela elite econômica e intelectual do país. Transformações sociais da envergadura de uma Abolição da Escravatura e Proclamação da República, não por mera coincidência acontecidas em sequência de dois anos seguidos(1888/89),a despeito das circunstâncias obscuras de como ocorreram, suas mazelas e contradições, a rigor só foram demonstrar mais profundamente suas repercussões depois do primeiro quarto do século vinte. Até a Revolução de 30, a República Velha, se construiu alguma novidade, foi apenas de o povo ter de chamar de presidente a quem, anteriormente, chamava de impera- (...) o que ficou do dor. Estruturalmente, golpe de estado o país continuou a viver dentro das mes- dado em 1964? mas pilastras sociais que sustentavam o sistema, inclusive no que diz respeito ao trato com os antigos escravos que, em agravo, passaram a conviver com uma adversidade ainda maior do que a enfrentada nos tempos da escravidão: tiveram de voltar “espontaneamente” para a condição de escravatura, jogados que foram à própria sorte, quando libertados, o que os levou, quase que fatidicamente, a morrerem pelos descaminhos da marginalização social. Na contemporaneidade, o que ficou do golpe de estado dado em 1964 pelas elites nacionais e estrangeiras, com o apoio dos militares, descontentes com os rumos políticos que o Brasil parecia tomar naquele período? Não esqueçamos que o 31 de março (ou 1º de abril, há controvérsias) está no calendário mais uma vez e, queiramos ou não, a data nos remete a olharmos para trás e pesarmos o que ficou de um Brasil pós trauma ditatorial. Na verdade, talvez não muito diferente de outros ciclos que também passamos, sob o estigma de outras ditaduras (Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Getúlio Vargas), ou seja, alguns benefícios materiais (um salto na tecnologia das comunicações, por exemplo) mas que, no entanto, em confronto com o que perdemos em vários outros componentes vitais para a constituição de uma sociedade consciente e equilibrada, amargamos hoje o rescaldo de vícios, falcatruas e desmoralizações na gestão da coisa pública, incrustrados em nossa cultura política, que, a duras penas, lutamos para apagá-los da vida do país. Amanhã (ou depois de amanhã?...), mesmo que quase ninguém mais dê qualquer importância à data, precisamos fazer, sim, um reflexão para averiguar se crescemos politicamente o necessário para estamos devidamente bem vacinados contra o vírus do autoritarismo e das atrocidades contra os direitos humanos. Portal_375.p65 4 OPINIÃO Editor: Marcos Barbosa - (51) 8401.2309 No Twitter: @colunadoaranha Colaboram: Renato Miller, Rodrigo Ramazzini, Susana Martins e Viviane Bueno Na frente Mobilização Reeleição Investimento da Multilab anunciado na edição passada é mais um exemplo de que o jornalismo do Portal de Notícias está léguas à frente. Em primeira mão: R$ 200 milhões em investimentos e 300 empregos. A IESA é outro caso: foi anunciada em primeira mão no Portal de Notícias. Mesmo que criticada por ambientalistas e pelos “caranguejos” (que se excluíram por burrice), a mobilização pró-instalação da IESA em Charqueadas foi válida. Mostrou um pouco da união que sempre faltou à região, já que lá estiveram representantes de vários municípios, convocados a participar pelo prefeito Davi Gilmar e organização do manifesto. Se a Fepam e o Governo do Estado foram ou não sensibilizados, é outra história. José Dirceu acha que a discussão sobre o fim da reeleição visa atingir o Partido dos Trabalhadores (PT). Bobagem, se, é claro, o fim da reeleição vier após a próximas eleições gerais e se Dilma puder concorrer. Afinal, foi ela eleita podendo se reeleger e não será justo mudar a lei no meio do caminho. Basta usarem o mesmo princípio utilizado pelo STF no julgamento da Lei da Ficha Limpa. E o mesmo pode valer para vereadores, deputados e senadores, que se perpetuam nos cargos muitas vezes comprando votos utilizando a máquina pública (que continuará a ser usada de qualquer forma). O fim da reeleição, caso venha a ser aprovado e inclua os legislativos, servirá para melhorar a política (ou não). Isso é o que importa. ISAÍAS Pela coerência Quando o jornal se propõe a tecer críticas a atuação de uma pessoa ou a uma organização é porque entende que o bem público, que deveria ser o primordial em qualquer ação, foi deixado de lado por outros interesses. Em contrapartida, quando essas mesmas pessoas ou organizações trabalham para o crescimento e desenvolvimento da população e região também merecem o registro jornalístico, por uma questão de coerência. O caso mais próximo é a atividade dos agentes políticos, sempre propensos a serem criticados ou elogiados no exercício de suas funções, devido à visibilidade e por agirem diretamente na vida das pessoas. Um exemplo recente que sintetiza a temática exposta é a atuação do vereador de São Jerônimo, Márcio Pilger, do Partido dos Trabalhadores (PT). Integrante de uma das combatidas Câmaras de Vereadores nas páginas do jornal por causa da falta de produtividade e excessos de gastos, o vereador, com apoio do ex-prefeito do município, Urbano Knorst, e do deputado estadual José Sperotto, participou de forma positiva e produtiva para articular junto ao governo do Estado que o Laboratório Multilab fizesse uma planejada ampliação de suas instalações no município jeronimense e não seguisse para a construção de uma unidade no Estado de Pernambuco, conforme noticiado na edição passada do jornal. Limite para a criação de CCs Paulo Odone* grande conquista da democracia, pois garante a igualdade no acesso A polêmica gerada na sociedade aos cargos públicos. A criação sem gaúcha com o envio, por parte do limites e critérios de Cargos em CoGoverno Estadual, de uma série de missão já virou uma deformação hisprojetos criando um número expres- tórica, uma prática que se alarga em sivo de Cargos em Comissão, moti- alguns governos, seja para cumprir vou a Bancada do PPS na acordos políticos partidários, seja Assembleia a apresenpara acomodar companheitar Emenda Constituros de partido. É necessácional que se destina a A criação rio, também, impedir que limitar o número e os se estabeleça uma política valores gastos com a sem limites e salarial que privilegie as incontratação de Cargos dicações partidárias em deem Comissão, em critérios de trimento dos servidores de percentuais associados Cargos em carreira, que já encontram ao total de cargos efetanta dificuldade para contivos de cada órgão da Comissão já quistar uma remuneração administração pública. digna, frente a um Estado As propostas que bus- virou uma sempre esgotado na sua cacam valorizar, organi- deformação pacidade de financiamento zar e moralizar as esdo gasto público. A meditruturas e as ações da histórica da será regularizada por Administração Pública projeto de lei complemensão uma tradição em tar que vai quantificar os linosso Partido. Para o PPS o Estado mites após um diagnóstico detalhatem que ser agente de promoção so- do dessa realidade que até aqui tem cial e de correção das desigualdades se mantido em segredo, apenas sob o sociais e as leis devem ser criadas controle dos governantes. Para isso, para eliminar as distorções e promo- um pedido de informação foi formaver o bem comum. A Emenda Cons- lizado ao Executivo Estadual. Essa titucional proposta pelo PPS justifi- proposta de Emenda Constitucional ca-se, uma vez que a Constituição do colocará um freio nos procedimenEstado do Rio Grande do Sul não tos abusivos e - tão importante quanestabelece limites nem critérios para to - dará à população uma ferramena criação de novos cargos de confi- ta eficaz de controle do Poder Públiança que são de livre provimento da co, prerrogativa do cidadão na Deadministração, sem a necessidade de mocracia que se quer madura em concurso público para a seleção dos nosso Estado. contratados. O concurso público é um imperativo republicano e uma (*) Deputado estadual 28/3/2011, 19:02 DO LEITOR Direitos ou Politicagem? Ocupo esse espaço em resposta a uma determinada coluna de um jornal coirmão, onde leva o título de “Folha Livre”. Livre para ser coerente? Humano? Solidário ou defensor de seus próprios interesses políticos? Os moradores da “Rua da Barca”, como somos rotulados, quando estamos lutando por nossos direitos de cidadãos, gritando por melhor qualidade de vida, não querendo mais do que viver dignamente, tendo no mínimo o direito de respirar um ar puro, que nos é garantido pela constituição federal. Quando se referem a “rua da Barca”, é preciso que saibam que estão falando da rua Rafael Athanásio, rua Flôres da Cunha (rua da barca), rua Ítalo Lena e Oscar Pereira de Abreu. Vivemos no meio da poeira 24 horas por dia. Esgoto a céu aberto onde as valetas são limpas quando não escoam mais, ficando crateras de 2 metros de profundidade. Não sabem e não se importam com nosso drama quem nunca precisou passar por ali para levar seu filho no carrinho de bebê para a creche da São Francisco em dia seco que a poeira sufoca, ou em dia de chuva que o barro atola. Sem falar que se abrirmos a casa em dia seco, a poeira invade. Se não abrirmos, os ácaros tomam conta, nos piorando da renite alérgica que já é um problema de muitos nesses bairros. Esperamos que nossos representantes políticos não pensem também que nosso apelo por melhorias seja “politicagem”, pois pelo que sabemos dentre as famílias prejudicadas e mal assistidas pelo poder público não tem ninguém candidato a nada. Mas esperamos que os que realmente vivem de cargos políticos, olhem um pouco para os bairros que hoje estão esquecidos. Iracema dos Santos Massena, residente na Rua Ítalo Lena, em São Jerônimo.