22POLÍTICA A GAZETA SEXTA-FEIRA, 10 DE JULHO DE 2015 AINDA ESTÁ EM DISCUSSÃO Câmara aprova campanha menor e limite para gastos ALEX FERREIRA/AGÊNCIA CÂMARA Período da campanha eleitoral foi reduzido à metade, de 90 para 45 dias, mas pode mudar Texto cede quanto a doações BRASÍLIA Em votação simbólica, a Câmara dos Deputados aprovouontemotexto-base da regulamentação da reforma política que determina, dentre outros pontos, o limite de doações de empresas a campanhas eleitorais e a redução do tempo de campanha, de 90 para 45 dias. Noentanto,desentendimentos entre os deputados sobrediversositensdochamado texto infraconstitucional inviabilizaram a continuação da votação e as emendas só serão analisadas na semana que vem. Liderançaspartidáriaseo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se reuniram pela manhã para debater o relatório do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), lido na quarta-feira em Plenário. Para garantir ao menos a aprovação do texto principal, Maia realizou alterações: reduziu o tempo decampanhanorádioena televisão de 45 para 35 Na Câmara dos Deputados, sessão que aprovou o texto-base da reforma política foi tumultuada dias (a primeira versão do seu relatório previa um mês), o que gerou críticas de alguns deputados. “Para quem não tem recurso o instrumento principal para chegar ao eleitor é a televisão”, criticou a líder do PCdoB, Jandira Feghalli (RJ). O processo eleitoral tam- bém foi encurtado, de 90 para 45 dias. GASTOS Maia estabeleceu ainda que um candidato a deputadofederalnãopoderáultrapassar o limite de gastos de 65% das despesas realizadas pela campanha mais cara da eleição anterior, le- vando em consideração o mesmo cargo eletivo. Para as demais funções, o índice será de 70%. O relator suavizou a multa imposta ao deputado que desrespeitar essa regra: a intenção inicial era aplicar multa que variava de cinco a dez vezes a quantia que ultrapassar o limite. Agora, a pena foi suavizada para pagamento equivalente ao montante que extrapolar a norma. Foi mantido o trecho que diz que as empresas poderão doar, no máximo, 2% do seu faturamento do ano anterior para as campanhas políticas até o limite de R$ 20 milhões. Em outra mudança, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) também afrouxou dispositivos que proibiam contribuições eleitorais de determinadas empresas.Elehaviaestabelecido inicialmente que as companhiasfornecedorase que prestam serviçosao poder público não poderiam participardaseleiçõesonde vigoravam seus contratos. Essetrechoacabousuprimidoefoimantidaapenasa proibição de doações de companhias que realizam obras para o setor público na circunscrição da eleição. De acordo com Maia, trata-sedeumarespostadaCâmara aos desdobramentos das investigações da Operação Lava Jato. Em relação à punição dada a quem descumprir esse artigo, novo afrouxamento: a primeira versão previa multa de cinco a dez vezes a quantia doada, valor que passouaseroequivalenteao montante da contribuição. Cota para mulheres só vai valer por três eleições Após passar na Comissão Temporária da Reforma Política do Senado, será votada no plenário da Casa a proposta que define cotas para mulheres nas eleições legislativas. A emenda constitucional poderá ser apreciada por ser diferente da rejeitada na Câmara em junho. A PEC do Senado estabelece a reserva de cargos em apenas três legislaturas. Na primeira (em 2018), a cota seria de 10% das cadeiras disponíveis; na segunda, de 12%; e na terceira, de 16%. Noentanto,aregraétemporária:nãovaivaleralémdesse período. Trata-se de uma política afirmativa que terá seu resultado avaliado após essastrêseleições.Amedida tem de ser aprovada também na Câmara, onde uma série de outras propostas também está indo a voto. A legislação atual prevê que os partidos devem ter entre seus candidatos um mínimo de 30% para cada gênero (hipoteticamente, mínimo de 30% de mulher ou 30% de homem). É cota nalegenda,massurtepouco resultado prático. Por isso, além do escalonamento proposto para as próximas eleições do Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores, o movimento das mulheres congressistas também trabalha com duas PECs no Senado. A PEC 23 prevê 30% de mulheres no legislativo, sucessivamente aumentando5%atéaparidade.A PEC 24 pede que sejam eleitos por Estado um homem e uma mulher sempre na renovação de 2/3 da Casa. Não há consenso. (Rondinelli Tomazelli) A FAVOR CONTRA “Queremos mudar cultura machista” “Proposta fere igualdade de votos” O Congresso Nacional tem apenas 13 senadoras (16% das cadeiras) e 51 deputadas (9,94% da Câmara), mas as mulheres são a maioria da população brasileira (52%). No atual sistema, não vamos alcançar a adequada representação da maioria do povo. Dos 20 países latino-americanos, só perdemos para o Haiti. E 16 Estados não contam com representação de mulher no Senado. Queremos mudar essa cultura machista. As cotas de gênero nas candidaturas não obtiveram apoio partidário tanto no que se refere a recursos financeiros quanto no suporte na divulgação das postulantes. A cota de candidatura, portanto, se revelou insuficiente para ultrapassar o grande bloqueio enfrentado pelas mulheres na busca por participação no mundo político. — MARTA SUPLICY (SP) SENADORA A proposta fere o princípio da democracia já que o voto dado a uma mulher terá um peso maior do que o dado a um homem. É flagrantemente inconstitucional. Artigo 5º dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. A emenda proposta fere a igualdade de sufrágios, de votos. Voto universal é cláusula pétrea da Constituição, significa igualdade de votos. A proposta confere ao voto dado a uma mulher um peso maior do que o voto dado ao ho- mem. As mulheres terão um lugar garantido entre as cadeiras. Não se trata de ser feminista ou não. Eu sou feminista, mas temos uma questão grave do ponto de vista constitucional. Garantir eleição, só voto, e voto tem que ser igual para todos. — ALOYSIO NUNES (PSDB-SP) SENADOR