Identificando e Priorizando Necessidade
de Mudança de Comportamento
Tomando em consideração os limites de tempo e recursos dos implementadores, as
ferramentas da série Straight to the Point (Directo ao Ponto), da Pathfinder International,
oferecem-lhe uma orientação clara e concisa sobre uma série de questões relacionadas
com o design, implementação e avaliação de programas.
Organizações e grupos podem usar esta ferramenta para
orientar actividades em grupo com membros da comunidade
com quem eles estão a trabalhar. Os objectivos são:
1) conhecer quais são os principais obstáculos para se
adoptar um determinado comportamento saudável;
2) priorizar quais barreiras devem ser abordadas
inicialmente, e 3) a começar a planear a acção.
Entendendo Mudança de
Comportamento
Um “comportamento relacionado à saúde” é qualquer forma de
se comportar que nos faz mais ou menos saudáveis. “Mudança
de comportamento” é o que acontece quando uma pessoa
intencionalmente toma atitudes para mudar seus comportamentos
para prevenir problemas de saúde ou permanecer saudável.
Às vezes falamos sobre implementar um “projecto de mudança
de comportamento” ou uma “actividade de mudança de
comportamento”. Às vezes, os doadores dão dinheiro para
“mudança de comportamento”. Tudo isso nos faz pensar que
mudança de comportamento é algo muito diferente ou separado
do que acontece no dia a dia, mas isso não é correcto. Todos
temos vivenciado muitas mudanças de comportamento em
nossas próprias vidas. Por exemplo, mudar a dieta para comer
alimentos mais saudáveis é uma mudança de comportamento.
Muitas coisas nos ajudam a mudar – os chamados facilitadores
de mudança. Outras coisas nos impedem de mudar – os chamados
obstáculosà mudança.
Existem diferentes tipos de facilitadores e obstáculos à mudança
de comportamento. Podem ser:
• Individual (por exemplo, suas crenças pessoais, atitudes,
habilidades ou conhecimentos);
• Social (por exemplo, as formas com que a sua família, amigos ou
vizinhos lhe ajudam ou impedem a mudar o seu comportamento);
• Ambiental (por exemplo, quando as estruturas, serviços ou as
leis que você precisa para mudar não existem).
Quando trabalhamos com as comunidades, a nossa tarefa é
encorajar as pessoas a pensar sobre comportamentos mais
saudáveis. A partir daí podemos lhes ajudar a descobrir como
remover os obstáculos e criar facilitadores que os ajudem a
mover em uma direcção mais saudável.
Muitas pessoas (incluindo os financiadores e os trabalhadores de
saúde pública) pensam que mudança só é possível quando uma
nova informação é dada (é por isso que muitas vezes falam de
“comunicação para a mudança de comportamento” ou CMC).
Claro que às vezes isso é verdade, pois aprender novas informações
levará à mudança. Mas na maioria dos casos a mudança de
comportamento não é apenas aumentar conhecimento. Você
conhece algum médico que fuma cigarros? Você conhece algum
profissional de saúde que está acima do peso? Muitas vezes as
pessoas sabem o que devem ou não fazer, mas o conhecimento
por si só não é suficiente para fazê-los mudar. Mudança de
comportamento não é apenas ter conhecimento ou uma boa
comunicação; é sobre remover diferentes obstáculos para mudar
e aproveitar os facilitadores pessoais, sociais e ambientais que
já existem.
Antes de passar para o trabalho de identificação e priorização de
obstáculos, devemos lembrar que ninguém pode mudar outra
pessoa. As pessoas têm que querer mudar, saber como mudar e
ter os obstáculos para mudar removidos do caminho. Tudo isso
tem que vir da própria pessoa e a idéia de que a mudança é uma
coisa boa deve ser amplamente aceita na comunidade. Se o
desejo de mudar e idéias sobre como mudar não são aceitas pela
comunidade, vai ser difícil para as pessoas adoptarem novos
comportamentos.
exemplo: Vamos analisar o caso de um trabalhador de saúde que não come alimentos nutritivos. Ele sabe que seria melhor para a sua saúde
a comer mais verduras e beber menos bebidas açucaradas (como Coca-Cola ou Fanta). Mas ele gosta do sabor das bebidas açucaradas e ele
não acha que sua má alimentação afecte sua saúde porque ele é jovem e não tem nenhum problema de saúde grave (estas são os obstáculos
pessoais). Além disso, seus colegas sempre fazem uma pausa durante a tarde e tomar uma bebida juntos. Na casa dele a família tem atitudes
negativas em relação aos legumes, porque eles pensam que são alimentos para as pessoas pobres que não podem comprar carne e têm atitudes
positivas em relação bebidas açucaradas, porque elas são um luxo (estas são os obstáculos sociais). Finalmente, mesmo quando tentou mudar
sua dieta, ele descobriu que não há água potável onde ele trabalha e o lugar onde ele compra o seu almoço não serve legumes (estas são
obstáculos ambientais). Que iria ajudá-lo a comer melhor? Será que mais informações sobre nutrição ajudaria? Por que sim ou por que não?
Identificando Obstáculos-Chave
para a Mudança de Comportamento
Primeiro você precisa decidir qual comportamento você
quer tentar mudar ou que precisa ser mudado. Se você está
trabalhando com pessoas vivendo com HIV (PVHS), existem
vários comportamentos que você pode querer encorajar
(por exemplo, ir à unidade de saúde regularmente, tomar a
medicação, alimentar-se correctamente, usar preservativos
etc.). Escolha um comportamento para se concentrar.
Para encorajar pessoas a mudar um comportamento
em particular é preciso entender porque as pessoas se
comportam daquela maneira. O que dificulta sua mudança de
comportamento? O que pode fazer a mudança ser mais fácil?
Depois de obter algum conhecimento sobre estas questões,
pode-se trabalhar com a pessoas e outros actores na
comunidade para remover os obstáculos para a mudança.
Grandes organizações tentam obter conhecimento sobre esses
aspectos fazendo pesquisas formais, mas como membro de uma
comunidade você pode conversar com as pessoas de maneira
informal para entender o que seus amigos e vizinhos pensam
ser os problemas. Uma maneira de fazer essa avaliação informal
é usar um jogo chamado Caminhos para mudança,* mas há outras
técnicas de entrevista que também poder funcional, como
discussão ou grupo focal. Por exemplo, se você quer saber por
que alguns PVHS não comem bem, você pode reunir um grupo
de PVHS e seus familiares e fazer perguntas como: “Algumas
PVHS não comem bem; por que isso? Alguns PVHS comem
bem; o que torna isso possível? Que tipos de serviços existem
na comunidade que podem tornar mais fácil as PVHS comerem
bem? Há coisas coisa no lugar onde você vive que torne mais
difícil para PVHS se alimentarem bem?” Lembre-se de que haverá
muitas respostas para cada pergunta. Deixe claro para o grupo que
eles não estão sendo testados - não há respostas erradas.
Seja qual for a técnica que você usa, é importante não fazer
“perguntas directas”. Perguntas directas são aquelas que
levam as pessoas a pensar qual seria a resposta que você está
esperando ouvir. Por exemplo, se você quer saber por que as
mulheres não pedem a seus maridos para fazer o teste de HIV,
é melhor fazer uma pergunta do tipo: “Por que é difícil para as
mulheres pedir que seus maridos façam o teste de HIV?”, ao
invés de: “Você acha que as mulheres têm medo de pedir aos
seus maridos para o teste de HIV por causa de como eles podem
reagir” Se você perguntar da segunda maneira, as pessoas
vão saber que tipo de resposta que você quer delas. Eles vão
responder a pergunta de forma a agradá-lo, mas a resposta pode
não reflectir seus verdadeiros sentimentos.
* Email [email protected] para mais informações sobre Caminhos para mudança (Pathways to Change).
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Estabelecendo Prioridades para a Mudança de Comportamento
Depois de fazer uma avaliação informal com muitas pessoas, você vai começar a ver que algumas questões constantemente aparecem. Quando
tiver uma boa ideia dos obstáculos e facilitadores para a mudança de comportamento, faça uma lista deles. Em seguida, faça o seguinte exercício
de priorização com um grupo de membros da comunidade (6-20 pessoas) para decidir quais os obstáculos da lista devem e podem ser abordadas
em primeiro lugar. Planifique esta actividade para pelo menos 1 hora e no máximo 3 horas - não se preocupe, é fácil e pode ser muito divertido!
Você vai precisar de pelo menos oito folhas de papel gigante, marcadores e pelo menos duas pessoas que possam fazer anotações ou desenhar
símbolos no papel. Se os participantes do grupo têm dificuldade de leitura, você pode usar imagens ou símbolos para mostrar cada obstáculo.
Por exemplo, em vez de escrever “unidade sanitária frequentemente fechada”, você pode desenhar uma unidade sanitária com um X sobre ela e
concordar que esta representa uma unidade de saúde fechada.
• PASSO 1 : Rapidamente introduza o conceito de mudança
de comportamento, obstáculos e facilitadores. Relembre aos
participantes qual o comportamento específico está sendo
discutido e qual o grupo/público que precisa ser apoiado na
mudança de comportamento. Por exemplo: “ Hoje nós
conversaremos sobre as PVHS e o que torna mais fácil ou mais
difícil para elas tomarem os medicamentos que devem tomar.”
• PASSO 2 : Apresente a folha de papel com a lista de
obstáculos para a mudança de comportamento que foram
identificados na avaliação informal. Coloque-a na frente da
sala ou, se estiver em uma área aberta, peça a alguém para
segurá-la enquanto você fala.
• PASSO 3 : Guie os participantes na discussão sobre os
pontos que foram listados. Você pode fazer perguntas como:
“Existem obstáculos que foram listados que não haviam sido
pensados antes? Algum destes obstáculos afectam somente
algumas pessoas? Quais destes obstáculos afectam a todos? ”
Esta pode ser uma conversa aberta. O objectivo é fazer todos
compreenderem quais são os obstáculos.
• PASSO 4 : Usando a lista de obstáculos, peça ao grupo
para escolher 5-6 deles que sejam os maiores obstáculos
na sua comunidade. Isto pode ser feito como uma discussão
de grupo. Faça uma marca (√) em cada ponto identificado.
Este é um processo informal — levantar a mão é suficiente para
que os participantes mostrem quais os obstáculos que eles
acham que são os mais importantes.
• PASSO 5 : Quando o grupo identificar os pontos-chave,
em duas novas folhas grandes de papel escreva ou
desenhe os 5-6 pontos identificados pelos participantes.
• PASSO 6 : Divida o grupo em dois grupos menores. Dê a
cada grupo uma folha de papel com os 5-6 pontos e outra folha
de papel em branco.
Pergunte ao um dos grupos para ordenar os 5-6 pontos dos que
são mais fáceis de resolver (no topo da pagina) para as que
são mais difíceis de resolver (no fim da página). Estimule as
pessoas a pensarem de maneira concreta em como lidar com
cada um dos obstáculos. Quando estiverem avaliando o quão
fácil será lidar com cada obstáculo, as pessoas devem pensar
sobre o que elas podem fazer como grupo ou envolvendo
outras comunidades. Elas devem pensar sobre o que pode ser
feito com pouco ou nenhum recurso ou financiamento externo.
Elas também devem pensar sobre os facilitadores de mudança
que já existem e que podem ser usados para lidar com os
obstáculos.
Peça então ao outro grupo para ordenar (novamente em
uma folha papel em branco) os 5-6 pontos que são mais
importantes de se resolver (no topo) para as que são menos
importantes de se resolver (no fim da página).
Dê aos grupos todo o tempo que for necessário. É bom que
haja muita discussão e debates – isso significa que as pessoas
estão a pensar seriamente no assunto.
• PASSO 7 : Quando os dois grupos terminarem as suas
classificações sobre os mesmos pontos, reúna todos num único
grupo. Ajude o grupo a compartilhar suas anotações e produzir
uma lista única de prioridades em uma nova folha de papel.
Muitas vezes as pessoas tentam fazer esta parte do exercício de
uma forma matemática porque eles acham que deve haver uma
solução matemática. Assegure que a única maneira de combinar
as listas é debater e chegar a um acordo por meio de conversas
entre os membros do grupo.
Quando a lista final for criada, o topo da lista deve mostrar os obstáculos que são relativamente fáceis de tratar e mais importantes a
resolver. A parte inferior da lista deve mostrar os obstáculos que são
relativamente difíceis de tratar e menos importante para resolver.
Fazer essa lista é uma contribuição muito importante da
comunidade. A identificação das prioridades é uma parte essencial do processo de mudança de comportamento!
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Próximos Passos
O resultado deste exercício é uma lista de objectivos de mudança
de comportamento que a comunidade considera prioritários.
O que seu grupo faz com estas prioridades depende de você.
Como você usa a lista de prioridades será diversa em diferentes
comunidades e depende de muitas coisas (como entusiasmo
e organização de seu grupo, suas próprias habilidades
para desenvolver um projecto resultante da discussão, a
disponibilidade de recursos para alterar as questões ambientais
etc.). Geralmente é útil se concentrar em uma das prioridades
máximas (que são os obstáculos relativamente fáceis de tratar
e mais importantes para a comunidade). Então você pode:
1) identificar um objectivo e uma actividade para enfrentar
o obstáculo, e 2) criar um plano de trabalho simples para
implementar a actividade para se atingir o objectivo
exemplo: Um grupo discutiu o comportamento de ir a consultas
médicas regularmente e o que torna fazer isso mais difícil para as
PVHS. Eles decidiram que um dos obstáculos mais importantes é
o tratamento de má qualidade feito por um médico específico na
unidade sanitária mais próxima, e que deve ser relativamente fácil de
fazer algo a esse respeito. O plano de acção do grupo para enfrentar este obstáculo pode incluir o seguinte: um grupo de PVHS vai
solicitar uma reunião com o comité local de saúde para trazer a sua
atenção para o problema, ou o pessoal da sua organização vai falar
directamente com o provedor de saúde sobre o problema.
Você pode usar a ferramenta da Pathfinder Directo ao Ponto:
Preparação de um Plano de Trabalho para fazer o seu plano. Esta
ferramenta simples irá ajudar o seu grupo a dividir o projecto
em pequenas tarefas. Pode-se estabelecer um líder e uma
data de conclusão para cada tarefa. Ter um plano de trabalho
simples ajudará a mostrar à comunidade que os problemas
comportamentais podem ter soluções se as pessoas trabalham
juntas de uma forma organizada.
Esta ferramenta foi criada pela Pathfinder International,
com o apoio parcial do Positive Action for Children Fund.
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Agosto de 2013
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