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Augusto \ictorino Alves Sacrameatò
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de Macedo.)
(IV J. A.
BAHIA
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„„ií iirfRAL DO—SÉCULO
'uMndeS.
TYPOOBAPHU.LIBERAI,
M*4 ca»».'**G. !.-«*»
1850.
•
*. -
INDIC F
DAS
MATÉRIAS CONTIDAS NESTE VOLUME.
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üü» »ç>-
- 235
Academia de Seieuoias Médicas- - 197
Alma [a
- 13
Amor (° - - - - - - - .- 29
Amor, desprezo c desengano- - - 172
Amores d'uma crcatura barriguda- 229
Amores d'uma crealnra sem dentes
- 234
A' morle de F. O. Braga
12, 40. 180
Ancdoclas- - - -. - 176
-. Ao anno vclbo - - •
- 115
Ao sol poslo - - "-- •
- 68
*' _
Assassino (° - ¦
- 39
Athenco - - -?? - 52
Baile (° - - - i- 211
Baixei da esperança 2^
Beijo maternoBromalologia (apontamentos para um tra- -,.
•-';., lado de --------16
- - - 150
Cabellos ffos
81,141, 161
Calorico não é um corpo- - 104
Calorico não ô um corpo- ...
- 7, 59, 78
Calouro namorado (° - - - - 156
Canção a um nalalicio - h -. - 155
Cansonetas - - - - - - - 236
Cantos Brasileiros- - 95
70,
Carlos Linneo
Cartas do Dr. L. Coilinho - - - 99,116
Casamento antigamente em Roma (° - -191
21
Casas na cidade da Bahia
Cavalheiro da crusada [° - - - 152, 170
Chamado do Céo --------29
12,
40
Charadas Chloroformio esuas principaes applicações, 82
Chloroformio (machinas para applical-o - 101
-14
Cravo do noivado (° -----Crenças religiosas dos Tapuias - - - - 159
Diálogos sobre o Celibato . 122, U4, 1G4,183,198, 218
Direito de asylo no Oriente ----- 160
Discurso do Dr. João Baptista dos Anjos - 57
- 62
Dobres de sinos ------Dr. F. P. Araújo e Alimida - - 138, 156
Educação dos Bahianos - - - - 32, 89
Ella
212
9, 34,74, 91, 109, 127
Km ma - - - *. 193, 205, 225
Eugeitado (° '
Enterramontos- - - - - - - - - 62
Epidemia, (") e os médicos 186
Epigramina - - - - -< - - - -180
Èseriptó no Álbum dyurha Senhora - - 215
Expediente 12, GO, 80, 100
FacuRlado de Medicina da Bahia. - br» \- 180
235
Giiamabara (u
87
Historia de clinica interna - - 120
llorisonle [°
72
lndianna (a ------136
Instituições de caridade em Boma Introducçao - ¦ - - - - - Igrejas ------------- 63
Jesuítas (« - - - - - 18,27, W, 05
Legado da hora extrema - - - - --»t*«* Í88
Litteratura contemporânea - 107, 126. 148
2
Lupia (exlirpaçãod'um*a- -----, 80
Lysia Poética- - - - - - 160
Madeira incombustivel - - - 98
Maquina de calcular - - -»'-'- 146
Marcha da rasão humana - - 168
Marcha da Philosophia na Alemanha
- 15
Mareia- - - - - - - - 135
Marfida à- t- - - - t- s 5
Marilia à Medilação - - - - - - '-- - - - 43
. 23, 53
Medico (• ^ - I - - -69
Meu amor
32
Meu lhesouro
38
Meus desejos Minha amada á -------- 212
-134
Minha esperança Monólogo
-115
4
Mulher (a ---------Mulher (*---------- 192
Mulher e sua educação (a - - - 14. 25
- 132
Musica (a) as dores e as creanças - 233
No Álbum do Dr. A. V. A. S . - 58
Noite de S. Antônio
- 100
Nova arte de Versificação - - •
„í-H~'
ÍNDICE.
Obras de D. 1. Monteiro - - - - - 214
Opinião errônea dos antigos sobre os pbenomenos da natureza, etc. 4 -' -116
Os olhos delia - - — - - - - - -175
Pulmira ----------55
Pensamentos - r - - - -. - - t 12
Phthisica curada pelo assuear - - - - Cl
Pòílim de chá* calíé, e chocolate - - - 215
Poesia
190
Poesia ao Dr. J. S.Yelho - - - - -210
Prevenção sobre matança de cobras- - - 45
Principaes objeetos da attenção do medico
• nas moléstias --.----33
Processo para fazer sabonetes transparentes- 215
Progresso da Medicina na Bahia (qual?- - 217
- 234
Província da Bahia (á ----Ramalhele (o ---------54
Rasgo falai de piedade filial - - - - - 160
Receita para conserva de tomates - - - 196
Relações da Medicina com a Melaphi&ica - 121
Relógios electricos ------- 135
Ribeiro (o - ---------97
98
Rosa (n- ---------7
Saudade ---------65
Saudade ---------- 191
Sompre-viva (a ------Seus olhos- - - - - - - -. • - - 233
nwmmr-m m mm m
_¦
- - 1&8, 177
Símbolos numéricos - - 2Q
Soneto - -.
- - ~ 19
Suspiro da professa (o- - - *
Talento em Al moeda- ------ 113
Theses deffendidas na Escbola do Medicina
da Rama em 1849- - - - 216, 235
196
Tinia para marcar roupa- - 115
Um adeos fraternal - - - *^-' -¦ 50
Um faeto de clinica interna - - - 99
Um prêmio para 119 poemas - - ---- 19
lim sonho
Um suspiro --------- 97
Uma esperança -------- 134
Uma explicação da vida, sua idéia philosophica --------- 182
Uma lembrança -------- 34
'«" - - - - - 8
Uma noite de lua Uma noite de luar ------- 187
União do Chrislianismo com a civilisaçao
Grega - - - - - - - 204, 222
- - - 231
Uztirãrio (o -----Valsa (a---------- 24
Vegelaes (os) lambem sentem - - - - 202
Vi-a, c anun-a - - - - - -. • - 175
Viver, e morrer - - - . - - - - 6, 39
Visita das Priminhas- - - - - - - 213
Volúvel (a---------- 191
.-r^r-v
-----.
¦ fciilHMWII
1849?
ABRIL
- MAIO = NS.
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Q ÂÜSSÜTUO
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PERIÓDICO SCIENTIFICO E UTTERAWO.
O/i/ doce amor ias artes, das scmeiasl
Como tiver setw íi /.. .,••..?•
(P.e J. A. de Macedo,)
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apropriados. Geralmente conhecidos e pratica*
Experiência lom sobejamente demonsdos entre todos os povos cultos, oecupar-nos-hetrado, que o typo especial e característico
mos apenas de um que entre elles mais sobreè
o
achamos
nos
prodos tempos, em que
sabe,—é o jornalismo. De feito os jornaessão
conhecimentos
e dos
^resso rápido da civilisação
incontestavelmente um dos mais importantes
assíduo
o
humanos. Incansável em um trabalhar
da propagação das doutrinas boas:
vehioulos
nosso espirito nâo pode achar limites, que lhe
está tão geralmente provada •
influencia
sua
assignem—aqui estão fim de vossa obra: não
na câmara franceza um disreconhecida,
que
vos è licito dar nm passo adiante. Sôfrego de
estadista não duvidou apelidal-os o quiuneto
ti
deinda-.
descobrir verdades, de que se nutre,
constitucionaes.
uações
das
. #
to poder político
nascimento
dão
origens,
e
causas
as
que
gar
O jornalismo litterârio, ou aquelle que ese existência aos innumeros pbenomenos, que so
se dedica ás publicações scientifipecialmente
embargar
passão na natureza, quem o poderia
litterarias, è entretanto o que mais vaue
cas
em um empenho* como esse, tão nobre e sutagens e interesses offerece ao povo. N elles esbl i me ?
os mais bem elaborados e escotão
encerrados
É uma verdade, que a rasão ahi tios está toIbidos pedaços dos livros, sobre qualquer as*
dos os dias a pôr debaixo dos olhos, que as pri- sumpto
elles versem, n'elles sé registão as
que
meiras necessidades de um povo são d desenlitterarias, os artigos diversos de seus
novidades
volvimento de sua intelligencia c de seus cosredactores, que promiscuamente com b escripto
veria
se
tümcs. Sem a perfectibilidade da rasão
árido da seiencia collocão o agradável da poeelle ao mesmo nivel dos irracionaes, impossizia e do romance, o necessário da industria e d»
biUtado por conseguinte de Xaaer servir as neagricultura e o alegre das anedoctas e variedacessidades eprecisues de toda a casta, que o
des: com elle preenche-se por tanto aquelle
rodeião, os recursos innumeros que a natuseza
tâo geralmente conhecido e verdadeipreceito
tão prodigamente lhe offerecc: sem a moraliro da necessidade de misturar com o útil o
saç5o nâo passaria jamais a sociedade de uma
agradável.
todo
o
de
horda de perversos desconhecedores
E ainda mais uma vantagem tem os perio*
direito, desrespeitadores de todos bs princípios
dicost para as classes pobres do povo, eu*
e garantias indispensáveis á sua conservação.
meios pouco chegão para aquillo que é
jos
A primeira obrigação por tanto dos goverindispensável á satisfação de suas primeiras ne*
lualgumas
nos, dos indivíduos que possuem
cessidades, torna-se impossível haver aquellat
é
nações
e
m
xes e instrucção nos diversos povos
e livros, de que precisão para se instruiobras
n propagação desses conhecimentos para oderem; quando com um rediculo escote o jornal
•envolvimento da intelligencia publica» acompalhes franquôa a seiencia, a litteratura e tudo
da
nhados porem como inseparáveis parceiros
cmfim que lhes é mister f ara o aperfeiçoemos
emOnn
perfeição dos costumes, da moral
to de sua intelligencia e de seus costumes»
tamado
empresa
d'uma
Para a consecução
No Brasil o jornalismo litterârio tem infenbo resgate, como essa è, diversos sâo oi meios
1/de abril.
4
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O ATHENEO.
lizmente feito poucos progressos; verdade é,
que novel em seu existir, contando tão diminuta idade, como elle conta, não se poderia esperar mais, do que realmente elle tem dado. Nu
Bio de Janeiro, que em seu caracter de corto
tem de marchar sempre em frente no caminho
de civilisação e engrandecimcnto, que leva este império, com melhor êxito e rezultado tem
sido fundadas e conservadas semelhantes em'
prezas: o gosto da leitura alli está mais que em
•* '.***:
qualquer outro ponto do império generalisado:
mais facilidade e maiores recursos ha para o
desenvolvimento desse gosto eamor ás Icttras,
e tudo isso explica essa maior estabilidade e
duração. Nas demais províncias gradual e progressivamente vae apparecendo o espirito das
emprezas litterarias: é assim que ò Maranhão
já apresentou ahi o seu Archivo; Pernambuco
o Progresso, Phileydemon, Annctcs de Medicina
e Polymathico; S. Pedro do Sul o Semanário;
Minas o Recreador; e finalmente S. Paulo os
Ensaios Litlerarios, Aqui na Bahia onde as
associações litterarias sâo quasi sempre desajudadas poraqueiles mesmos, que maior interesse devião ter na sua estabilidade e conservação, e onde apenas os mancchos (com excepçào de um ou outro ancião) concorrem para
essas emprezas; nós vimos o Musaico c o Crepusculo sustentarem se com muita acceitação
por algum espaço de tempo; se bem que não
aquelle que fora para dezejar â essas producÇões, que tanto concorrerão para fazer desenvolver no povo esse gosto da leitura, que si
bem que pouco, já vae contudo apparecendo
entre nós.
A falta de animação, esse pouco interesse
que quasi geralmente aqui na Bahia se toma
por esses objectos, os embaraços e empecilhos,
que são de mister vencer para conservai-os, e
dar-lhes o preciso incremento, serião razões
poderosas, para que não tentássemos hoje nos
atirar á arriscada empresa da
publicação
d'este periódico; ninguém melhor do
que nós
conhece isso, Entretanto uma convicção igualmente temos, eéquea respeito da intelligencia dá-se-o mesmo que a respeito de outras coisas; o habito e costume nascem da acçáo consiànle e reiterada dos mesmos objectos. Certos das
vantagens que deve o povo tirar da instrucção,
nenhuma duvida temos de trabalhar ainda
com abnegação do nossos commodos e interesses particulares; não cmcivilisal-o, o instruil-o,
que não sobe á tanto o nosso orgulho; porem
ao menos em habilualo á ler.
O Atheneo enceta pois boje sua existência,
e continuará a ser publicado regularmente nos
dias l.°e 15 de cada mez. O seu programma
em poucas palavras explicaremos. E um
à
o
periódico dedicado unicamente instrucção
educação do povo. Certo nisto elle nào publicara outras matérias, que nâo sejão relativas
ás sciencias, litteratura, industria e costumes:
não se occuparâ jamais de questões políticas.
Assim pois esperamos que o Atheneo mereça
a protecção e sympathias de todas as classes da
sociedade.
EXTIRPACAÕ DE UMA — LUPIA—
(LOB1N1IO)
QUE PEZOU
MAIS DIS UMA ARHORA.
Depois de uma ausência de dez annos eu tinba voltado á Villa da Barra — esse lugar,
que deo-ino o ser, e cujo sempre me eu recordo e recordarei com saudado.
Então de simples atumno de humanidades,
que eu era ao de lá sahir, duas academias medicas linbão tido a bondade de erigir um doutor em medicina.
\ Durante o pequeno decurso de mez c meio
que me demorei nessa villa, reunindo as opcrações da pequena ás da grande cirurgia eu
pratiquei para mais de quarenta operações; o
d'entre estas— algumas que valião a pena de
serem referidas.
,', Dou conta por agora da exlirpação de uma
lupia (lobinho) que pesou mais de uma arroba: n'outra feita podo ser que dô noticias das
outras*
Eu curava um doente de uma operação nos
escrôtos, quando se me apresenta uma preta,
que já orçava em seos cincoenta annos, e pede-me que lhe ensine um remédio para seo
padecimento, que consistia em um tumor assentado no ílanco direito, na parte anterior
do tronco chegando-se das raias do emhigo. e
na parte posterior do mesmo, aproximando-se
á columna vertebral, mas tão volumoso que se
debruçava, partindo destes pontos de inserção,
sabre a raiz da coixa direita, e não era mais
possível ser acobertado pela saia (veslidura de
que usava a prôta) — um panno da Costa adre1de trasido para esse fim, era o encarregado da
O ÀTHEMÉO
,.
tarefa. Fi-la dcsajoujar-so dos invólucros, que
trazia, e examinei o tumor,
Do exame, conclui, que era uma lupia assaz volumosa, e que eu me achava disposto a
praticar a extirpação delia.
Então perguntei o preta — se era captiva; e
como dia me respondesse pela allirmativa, eu
acerescentei: — pois diga á seo senhor que o re»ihedio he extirpar-se o tumor, e eu faço a exiirpação,
Paucos minutos depois apparcceo o senhor,
e disse-me que era tal a fé que depozitava em
mim, que nâo duvidava confiar-me a preta para a operação; mas todavia (quiçá mirando dar
alguma quebra tia minha ousadia ou atrevimento) fez-me algumas reflexões, que talvez
por ignorância minha (que a ignorância he
atrevida) não produsirão o eíToito, que produsiriâo em um medico mais prudente consciencioso e inlelligcnte.—
Forão essas reflexões:—que aquella moléstia
não era de dez mais doze annos—quo já vinha
de longa data—que aquella enferma om diflerentes épocas tinha sido apresentada á diversos
professores, e alguns bem intelligentes, que
alguma feita transitarão por esses sertões—que
todos elles a uma voz aconselharão que não s°
tocasse naquclle tumor—eque finalmente um
jâ de muitos annos embalado na sciencia da organisaçSo, lhe dissera quo nào convinba a operação por forma alguma, porque aquelle tumor
tinha adquirido tamanho volume, em consequerida dos intestinos, que do abdômen íizerâo
uma irrupção bernial para osacco ou kistodo
tumor.
Com eíTeito—dentro destas poucas, mas pczadas reflexões estava tacitamente implícita a
conclusão, de que eu—nònnada nos mysterios
da organisaçâo—não devia ter o arrojo, já não
digo de levar o bisturi naquelle sanetuario vedado, f senão mesmo de refutar as dillerentes
opiniões e theorias apresentadas á respeito.
Mas eu não pude descer do meo presupposto: cheguei até a dizer à mim mesmo — quero
pczar aquelle tumor, separado do organismo,
seja o resultado qual fôr—(mas em abono da
verdade e da humanidade —• eu contava com
elle favorável).
¦
Preparei-me para a operação; não tinha que
contar, senão com os meos fracos recursos; porque infelizmente não havia um indivíduo matriculado na sciencia, de quem me eu valesse
como de um ajudante, ou á quem eu de bom
O
grado me prestasse na qualidade de ajudante,
Aprezentei me á hora emprazada o fiz a ex»
tirpaçâo sem a presença de professor algum; por
isso passo em silencio alguns prorneuores de
agilidade o delicadeza, que só a penna de fora
competia descrevô-los. Direi tão somente que
pratiquei a extirpação nTum tempo bem diminuto para quem attendesse ao volume do tumor.
Principiei a extirpação pelas visinhanças do
embigo (ao lado direito) e como he regra dos
operadores, que nestes casos a extirpação se faça de preferencia na parte inferior do tumor,
afim de quo começando-se na superior o sangue
não venha para adiante servir de obstáculo descendo da parte superior e mascara tido a inferior; principiei, digo, a extirpação na visinhança do embigo—desci até o nivel da crista iliaca
—fui no rumo da região lombar — cheguei
quasi a tocar na espinha — dahi subi até a região dorsal, e na altura pouco mais ou menos
da quarta vertebra do dòrso, procurei a parta
anterior do tronco, passei por sob a raiz da
mamma direita, e fui feichar a incizão na região embilical, onde eu a havia encetado/
O tumor era subeutaneo: não se podia dizer
pediculado, — bastava attender-se a larga baz*
que descreveo a incisão; mas depois de nascer
desta larga superfície tomava mais corpo, de»
forma que era hum assim à modo desses pote*
que se usão lá pelo sertão—o pescoço grosso assaz, porem o bojo com muito mais capacidade.
Extirpado o tumor vi-me bastante embaraçado na laqueaçâo dos vasos arteriaes, que sendo naquelles lugares, por via do regra, pouco
volumosos, naquellaconjunctura se apresentarão
com um calibre bem considerável —- em falta
de um ajudante babil soecorri-me de uma pin.
ça de mola, e consegui laquca-los todos, não
sem grande perda de sangue da parte da operada, que aliás de uma coragem exemplar durante a operação, teve dous desmaios no espaço»
intermédio à ablação do tumor e á ligadura,
dos vasos.
Feito isto appliquei o apparelho da cura, fiz:
a operada descartar-se dos patinos im mundos
humedecidos de sangue, e ordenei que fosse
recolhida ao quarto e leito jè preparados para
esse (im.
Procedi ao peso do tumor:—pesou mais de
uma arroba: grossa mó de gente corroo para ver o tumor, c algumas pessoas que já chegarão tarde, forão mordidas dá curiosidade
contemplar de perto a operada, que em conse-'
quencia do grande volume apresentado no ab-
¦
\
N
O ATHENEO.
i
dornen, era vulgarmente chamada—Anna-buxo
—appellido que não deixou talvez de concorrer
em grande parte para a kiéa de que os inlestines tiuhão de feito invadido o sacco do
tumor. O
A substancia do tumor era eminentemente
lardacia.
Pudera agora, comohe moda de muita gente bAa, encher paginas c mais paginas com a
menção de algumas modificações, dasdiversasM
a'terações e phases porque foi passando a cnferma até que chegasse á hum estado de restabeleeimento, porem de bom coração absolvo os
meos leitores desta penitencia. — Saibão simplesmente que a operação foi coroada de resultado; que antes da minha sabida já a preta
se ensaiava em suas tarefas caseiras, e escaldaza com uma lagrima de gratidão a mão que a
desquitlára de um mal encannecido nos orgâos e com os órgãos.
Nâo apresento uma novidade; mas digo, que
nem no hospital da Bahia onde militei pores— nem no do Bio de Japaço de quatro annos
neiro onde pelo de dous — nem na minha cstreita e acanhada clinica particular vi extirparse um tumor desta grandesa.
E entretanto era um tumor que a prudência
medica consentia, qual outro Tito — essa delicia romana que consentia em que se invadisse
e arrasasse acidade do Senhor, que a prudência
medica, digo, aconselhava que fosse deixado
por humanidade affligir e acabrunbar com sua
massa enorme uma organisação que já caminhava para o poente da vida*
Dr. Francisco Bonifácio de Abreu.
—Não —que è em suas entranhas que se *
gera o homem de seo sangue, para se nutrir
depois de seus seios, e se embalar em seus braços — é ella quem lhe diminuo o padecer, lhe
amenisa os trabalhos, e o accompanba cm todas as pbazes da vida, desde que elle respira livre, até que o pêndulo da existência lhe cessa
de bater no peito.
j
Será uma simples companheira do homem
no mundo?
—Não — que 6 cila quem lhe rege o seu destino cá na terra, quem lhe dá, e tira a vida,
quem sobre elle impera.
Será então a soberana do homem?
—Não — ainda mais, que o homem não precisa de palavras delia para romper muralhas,
atravessar barreiras, correr em chammas, e . . .
ohl tudo l .. . bosta um só olhar delia, um só
meneio seo para ello aos seos pés depor Ihesouro e vida—que um só meneio seo, um seo divino olhar expressão mais, cem vezes mais, quo
mil palavras d'homcm.
E o que será pois a mulher? um ents sobrenatural, uma Divindade acazo?
—Sim—é esse ente que inspira c faz praclicar o homem emprezas concebiveis apenas, —
è virtude, è amor, è substancia de Deus, é Deus
quasi. ....
Imaginai um resumo do ludo quanto ba de
grande, esublimo na creação;—imaginai um
resumo do perfeiçoens de'graças, de innocencia, de virtudes, de ternura, e de meiguices —
e eis o que é a mulher.
E' a obra que mais toca ao creador, é quasi
«...
a copia delle!
II
i
Vós sois as graças do dia, e a noite vos
ama como o or valho; o homem nasce
de vosso ventre para se suspender de
¦vosso seio, e de vossa boca. Vós sabeis
palavras mágicas, que adormecem todas as dores.—
Visconde de Chatcaubriand—Atala.
•
•
•
'•«.«•..<•
«..*••
E o que è a mulher? um ente como todos
os mais criados?
(*) Estava bem longe de conta com alguma testem unha oceu lar desta preta; mas conversando a este respeito com o meo amigo o Sr. Bomíim, digno
.estudante do 5. anno, elle disse-me que a tinha conhecido—o que muito me satisfez, porque deixei
de ficar em unidade,
E o homem deve ser para a mulher,
como o favonio d'aurora, ou o orvalho da noite são para a f ô.'; porque também ella é para o homem
como a fiôr para o prado, a f agra ticia para o zefiro, o surrizo para os
lábios, e a aventura para o coração.
Dr. J. M. de Macedo—Moto Louror
E o homem, esse ente, a quem o Eterno
quiz aditar dando-lhe a mulher, a quem a mulher divinisa com seos attributos tão divinos, e
por sobre cuja existência semeia rosai,—nem
sabe eslimal-a, nem sabe coroprehender o valor
deste presente do Eterno ! . . .
E não é somente não sabel-o apreciar — não,
,
¦.*/.."!..
S
O ATHENEO.
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' '>'d!'*":^"*V"-
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.¦
Elle chega a olvidar seus dotes, considerai-a
como um objecto de-s&üsfação somente â seus
prasores, e para esse fim a escravisa, a compra
a peso d'ouro. . . .
Ohí monstruosidade inclassificavel 1,. .
E como o homem é incomprchensivel, meu
Deusl Como é passível que em seo coração caba tanta maldade 1
Isso repugna — isso faz estalar de dor até a
ultima fibra d'alma! —
E' porem essa verdade. . .
Mas passemos um veo por sobre tanto horror!
E antes disso «omparcmos unicamente o ostado da sociedade no Oriente, entre os povos
da Turquia, e ou'.ros queijandos, onde as mães
por excessivo amor chegão a imolar suas fílhiiihás para as livrar de sua sorte futura,—com o
destes que honrão o reverencião a mulher, coroo o ente a quem o Altíssimo encheo de dotes
mais sublimes,—e concluiremos que a civilisação, e os custumes não marcharão bem, sompre que a mulher não for o que deve ser, e
não oecupar p lugar que lhe é devido.—
11 de Março de 1849.
Não tem mais rosas
Nem mais jasmim.
w
A negra trança
E' mais lusente,
Que os vivos raios *
Do um Sol ardente.
V
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J*
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*
Ella é terna como é terno
Da rola o meigo carpir:
Ella é bella como é bello ..*'-•:..¦.
Da estreita o vivo lusir
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Ella é doce como é doce
O despontar da manhâa:
Ella é pura como é puro
Um sorrir de tua irmaa
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Musa, musa de amor suspende o canto
Não mais as cordas firas,
Que meus males despertas!
Ainda julgo ver, a sós na praia. ! .
Com os quebrantados olhos—
Seguindo o meu batei' que no horisonte
Pouco a pouco se perde—
A Cândida Marilia;
« Com a madeixa subtil desentranhada »
Entregue ao pranto, ao lueto.
De seu divino rosto
Em borbotõens mil pérolas s*escoam
E nem da noite a faz amedrontada
O triste, e negro manto.
Em vão do casto seio mil suspiros
Rompem os ares demandando o amante
Que só e em plaga extranha
Saudosote triste geme,
2
.
¦¦¦
r*>¦-'.'*¦'_¦?»'.', '-.,-..¦
'¦'¦¦¦
¦¦'¦'¦.
Ok fortunali miei dolci martire
S'ímpetrerò che giunto seno a seno
Lanima mia neüa tua boeca iospiri!
Tasso G. Canto 2.°
As K ridas faces
De um Seraphim
-*¦'•¦¦•
.......
Musa, musa de amor, que a sós commigo
Pelo mundo vagueias,
E com saudosa vóz n'alnia nVinspiras
Al mos cantos de amor;
Canta-me a bella, e pudica Deidade
,
Quo meus dias anima.
Eu quero vel-a orn ílòr—no mais formoso
Dos Elysos jardins, que o Vate cria
Na mente embevecida—
Tão pura, tão formosa, como a Aurora
Desabrochada apenas.
1
^
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Byron.
¦¦
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>,
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Séparê de tout ce qui myetaii cher,
Je me consume, sólitaire, et desole.
.
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O branco lyrio
Em manhaa bella
Nâo é mais casto,
Que o seio d'elía . . j}
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V : ¦-vÍX"..;'"
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V*-.
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E' o seu rosto
Copia fiel
Do lindo quadro
De Raphael.
A Marilia,
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::';'vAÓ' '¦_..'.-/ ¦".:/: -v'~
:^i*v«<%-.
Os meigos olhos
Tem mais bellesa,
Que o grato aspecto
Da Naturcsa,
A, VictorinoA. do Sacramento.
"
. Ã.i|
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6
O ATHEMEO.
__L LU..!. Jü*
licidade, ou tragar—resignada—o feí asqueroso da desdita, minado pingo á pingo do aigar de mil desgraças.
Passados alguns annos—a partir do dia em
ella
que o singelo leito de virgem houvera-o
trocado pelo thalamode noiva-a; não era que
a nobre may dos robustos mancebos—-Prudencio e Braz.—
E seus pays? Ah! d'ellcs recebera a filha o
* osculo do passamento: já crão da tida d'alenr
sepulcro.
Na distancia de sete léguas da foz do rio
II
deS. Francisco, domina sua margem esquerth, nas faldas da rocha, quo primeiro se diviA athmo<mhera da desdita diffundia em torno
doro
sobre
e
cirna,
á
o
rio
sa—navegando
d'cssa família o miasma do infortúnio; o anjo
so pedregoso e irregular do penhasco, sele*
das dores esvonçava por sobre suas cabeças, avanta altiva e elegante a vistosa cidade do Pemeaçando de varrer da margem da vida os infenôdo, a mais bella de quantas villas e povoalisesque labutavão no pego da desgraça, como
dos orlão as ribas verdejanles d'esso gigante
o naufrago anhelante so debate em oceano
dominador de cinco províncias. Aos casebres
tempestuoso. Já o amor, o despreso, os desacanhados e mal construídos, tapados e cobertos do palmeiras, que em seu começo construigostos e o futuro dardejavão seitas acicaladas
rão os colonos portugueses enviados para ahi
que ião coar-so no adyto d'alma, e a desditosa
tem succcsjoujava no calre da morte! Moléstia de bofes
pelo governador do Pernambuco,
lhe alquebrava as forças, e a mào descarnada
sivamente substituído casas e sobrados bem
d'uma phtbysica pulmonar alçava vagarosomenconstruídos, e de architectura moderna. Taes
te a lapide do turnulo, que não muito tardo
são os caracteres irrefragaveis do progresso da
industria e do commercio.
houvera-a escondido para sempre á olhos huFoi n'cssa cidade—alé hoje refractaria dos
manos.
movimentos revolucionários da provincia de
Quando a enfermeira lhe aprasenleva a refeição, um — não — tremulo e sumido exque é importante porção—que teve lugar uma
scena dolorosa e merencoria do drama da vida.
pressava o fastio que lhe tirava as forças; e ha.
Huma senhora nascida, senão na abastanvia mister de muitos rogos de seus íülios, que,
ça, ao menos no centro dos meios que reunirecostados nas margens do leito, abraçavâo dolodos acaricião a vida independente e feliz do
rosamento o mirrado cotio da desditosa, para
homem virtuoso, desusava placidamente a pridicidi-la a receber de suas mãos o pão amassado
mavera de seus annos aquecida no doce bafejo
com lagrimas de — eminente orfandade; e dos
de virtuosa e desvelada mãe, o nas vivas effumesmos alimentos também comião.
encarando-a
Pay,
d'um
carinhos
dos
soes
que
Sc vinha a fresca e agradável ogua do caudademòstrações,
expressivas
em
por
prorompia
loso rio, em crystallino copo, com soffreguidão
ver na filha querida os traços physionomicos
a engolia, pois que sede ardente c voraz a troeique out'ora o fiserão enlevar-se em extasis de
dava; o da mesma água — no mesmo copo —
amor por aquella que á faço do altar recebotambém bebiâo. Junjlos e intimamente unidos,
ra por Esposa.
sopeádos pelos braços longos e exterminadores
Mas o infeliz olvidava, que o futuro é o sedo infortúnio, os tristes filhos inspiravão o argredo da Providencia: elle mal cuidava quo a
dente hálito da extenuada enferma: o suor vis.
ílòr mimosa, borrifada pelo orvalho, de eífusâo paternal, que risonha e fragranle ostentacoso que lhe banhava a fronte, enxugnYão-no
va seus vislumbres, houvera—algum dia—de
elles com a tremula dexlra, e do mesmo àr que
murmurava nos lábios da moribunda como o
pender sobre o pedunculo, tisnada pela alhmosphera sulphurosa da desgraça, ou por rnacrepitar de vela no ultimo lampejo—juntaJigno vendaval de dores.
mente respiravâol . . thò que o som lugubre
do campanário marcou a hora do passamento !
Para a virgem dispontou o dia cm que ligaE sobre o leito jasia a morto ao envez da
da eternamente aos destinos do Esposo, era
vida.
convidada por leis divinas e humanas á libar
Orfáos de Mãy, os infelises vestião a roupa
na auri-furgente taça da fortuna a pàz da fe-
E sem quo a possa ver dos seios d'alma
Mil gemidos cxhalla! .
Bio 1,° de Março de 1848*
M. M. do Amaral Júnior".
O ATHENEO.
do luto; baldos de arrimo, se partião juntos
para o pó do jasigoá derramarem o choro da
saudade. Abi conchcgados á loisa — prostra"
dos por terra — resavão oraçoens funereas,
entrecortadas de arfar anhelante que expressava o latejar do coração lanhado pela mão da
orfandadcl — e d'esse místico accento do infortunío sabia um som lugubre — como o echo
religioso que ao longe transmitte enfraquecido
o psalmodiar dos levitas ao pé do ataúdo.
• (Continua.)
J. S. Avelino Pinho.
SS m."QJ 3ES» -^B^IBGB IÉB3»
. Vida do coração, sustento d1 alma,
Querido enlevo de saudoso amante,
Suave refrigerio do infelizes.—
Dr. A. G. Teixeira de Souza.
O tempo, em que sem ti ver
Passei só na solidade,
Carpia de noite e dia
Do meo fado a crueldade;
Meo azylo era a tristeza,
Meo sentir era a saudade.
Entre prazeres vivia
Que p'ra mim orâo medonhos:
Minhas noites erão tristes,
Os meos dias enfadonhos.
Dormia com leo retrato,
Teos olbos erão meos sonhos.
?
Passei toda a tua ausência
Como passa o cego triste,
Sem conhecer neste mundo
Em que é que o prazer consiste:
Sem gozar o bem da vida
Sabendo que o bem existe—
Não posso emfim de meos males
Fazer-te uma exposição;
Porque ao homem não é dado
Com sua humana expressão
Definir os grandes males
Que supporta o coração!
17deMarçodel8/i9.
J. P.Canha Yalle Júnior.
o calouro mmm
r
Romance*
i
OS DOIS VETERANOS,
,
,
,~?-
<
¦'¦'•.,,
—Alfredo, queres tu saber de uma cousa
*toem
galante? pergunta um rapaz, (que tendo
um livro entre as mãos, stava asssentado à
janella da sala de jantar do terceiro andar de
de um sobrado na rua da Larangeira) a outro
que estirado sobre um canapé desprendia de
vez em quando uma baforada de charuto, que
subia em spiral para maior gozo do seu dono.
—O que e?~ diz este ultimo suspendendo o
charuto entre os dedos da mão esquerda, soltando com muito vagar mais uma baforada, o
abrindo para o companheiro os olhos que qua.
si já eslavão feixados pelo enlevo do charuto unido ao torpor que occazioua o stomago
cheio.
—E' que aquelle sujeito quo mora ali n'ame
quclla casinha amarella em S. Miguel está
namorando—disse elle rino-se.
—Namorando a queml — a ti ?
—A mim, sim.
—Mas quo sujeito?
—O Agapito.
—O Calouro ?
—Elle mesmo.
—Que estás dizendo, Carlos? tu te enganas!
a zombar aspois um calouro ba-de metter-se
sim d'um veterano? torna Alfredo levantandose do canapó, e dirigindo-se para a janella em
que stava Carlos.
—Espera lâ—diz-lhe este estendendo o braço com a mão aberta para elle como querendo
impedir assim, que se aproximasse.—Estou
me lembrando do uma cousa ....
—Quo cousa ?
—Do pregar uma peça ao calouro.
—Como?
—Eu te digo; e acenando com o lenço para
a casinha amarella ds S. Miguel retirou-se da
companheiro consigo para o
janella, levando o
canapé.
—Tu sabes, disse elle, que não ha oito dias
— mudou aquella rapariga que
que d'aqui se
me fazia as gravatinhas e que foi quem nosdeste andar.
passou a chave
—Sim, c por signal que bem bpnitinha,
Carlos. Olha, ainda me-lembra que uma
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¦¦¦¦.«..'
O ATIIENIÍO.
\ez que aqui vim achei-a com um par de bochechas tão çoradás que quasi que lhes jogo
um par do beijos.
—Também tu, Alfredo, namoras-to de tudo, e em toda parte jogarias o teu par de beijos.
—Olá! menos isso! em toda parte nao, que
é pulha. Eu gosto de jogar os meus beijos por
faces das
exemplo nas mãos, na testa e nas
de*
meninas bonitas, como essa tua cuslureira
grava tinhas.
—Bonita o que, homem! é moça e a mocia ti que gosdade sempre agrada, mormente
ou feias,
Ias de todas principalmente, bonitas
em fim sembem feitas ou mal feitas, porque
daquelle sujeito que dizia
opinião
da
és
pre
em escolher-se era tempo
tempo
o
gasto
que
perdido,
—Nosse caso eu sou o pego no que acho.
Vim?
—Sim o pegas no que achas, repete Carlos
rindò-se com malícia.
—Oh! tu queres hoje me-empulhar? pois eu
eu que
canto-te a cbronica; olha que não fui
apaguei aquella noite a luz da lamparina para
não
abraçar a velha cnidando que era a moça;
fui eu que. . . .-.
—Esta bom Alfredo! queres ou nüo ouvir o
meu plano a respeito do calouro.
—Ah! já uâo te-faz conta ouvir-me? Pois
bem, vamos com o teu plano.
—Como ia te-dtzendo, a Beovinda mudou-se
d'aqui não ha oito dias, e aquelle bobo do
é
Agapito mora ali ha muito tompo; ora provavel que antes delia mudar-se ja o nosso basbaque lhe-fizesse algumas foscas.
—Homem, e mais é que tens razão! Já eu
adivinho todo o enredo. O calouro sem duvida
não soube da mudança da rapariga, o tu que
tens uma cara redonda, com esta cabelleira
das orelhas e cotn este
penteada para atraz
chambre, podes muito bem figurar de moça
nesta distancia.
—E' isto justamente o que te queria dizer.
—Pois bem! vamos agora com a peça.
—A peça é esta . • . •
A este tempo porem bateram â porta e entrou um studante de olhos grandes e bonitos,
fearbas à italiana, casaca azul, sem colletc nem
suspensorios, charuto na boca e chibatina acoita ndo o ar.
—Como vae rapasiada? disse o recém cheè andangado, sem incommodar o seu chapèo
do em roda de uma meza que stava no meio>
da sala.
—Oh! quem nosapparecel o grande Mace*
donio! exclamam ambos ao mesmo tempo.;
Mais um companheiro para os nossos planos.
{Continua.)
Uma noite de Lua
:¦•
I
Vigília.Alta a noite já vae; um sé vivente
Do silencio a mudez quebrar não ousa,
Tudo, Enaira querida, tudo sente
Que o somno cm si repousa:
O agemmado canário, que dedia
Trinandoos cantos seus, alegrspula
De raminbo em raminho, já nem pia,
Jà cantos não modula.
A rola que juntinha aos filhos geme,
Que o sustento buscando o ar veleja.
Já da cauda nao faz o plumeo leme.
E nem aos filhos beija,
A lanosa ovelhina, que amamenta
O nevado burrego, os olhos cerra,
E si assim o filhinho não sustenta,
Tâobem nem elle berra.
O mísero soldado, que na guerra
Encostado a sua arma a noite vela,
Descança na tarimba, e mesmo em terra
Mal sabe da sentinella.
Aquelle que tem oiro, e que tem prata,
Porem que vil esconde a prata e oiro;
Si com langor o somno accaso o-trata
Esquece o seu thesoiro.
Tu mesma, bella Enaira, a tal deshora
Ao regaço da paz starás entregue,
E Deos queira que o céu, que te-namora
A paz uunca te-negue.
¦
>•
,..",»
A natureza toda emfim dormita;
Se Mirfino porem dormir procura,
Seu fido coração de amor palpita
Palpita de ternura.
-^;
O AT HENEO.
E Já que (ão cruel, tyranno o somno
Mo-nega o que permitte ao mundo inteiro
You chamar-me senhor, fazer-me domno
Da penua e do tinteiro.
II
Contemplação.
Do lugar em que stou profusamente
Agruparem-se as casas eu contemplo,
Yejoa rua alinhada curvamente
E vejo mais de um templo.
Levanto a vista e vejo em frente a Itía
Que serena gentil no céu passea,
Abaixo a vista e vejo a copia sua
No mar que ella pralea.
Que gosto os raios seus fruir nos fazem
Quando vão se-quebrar por sobre os mares?!..
Nunca ao peito porem o gosto trazem
Que trazom teus olhares.
Oh quanto é gracioso e quanto é bello
Seu molle passo com quo o ar traspassa!?.
Mas o teu minha Enaira, é maissingello,
E tem inda mais graça.
in
Desejo.
Que mo-valle porem ver tanta coisa,
Yer inteiro um systema planetário,
Si a idéia principal em li repousa
Si o mais é secundário?/..
Qcizera antes que fosse a noite escura,
Que atroasse o trovão, zunisse o vento;
Minha sorte seria menos dura,
Mais leve o meu tormento.
Por meu fado entretanto, o céu, a lua
As eslrellas, o mar, a terra eu vejo
Só não posso avistar a fronte tua,
Que mais que tudo almejo
1847.
Firminày Coelho do Amaral.
ROMANCE,
*¦ —Victor,
é dia? %
—Pois não, meu amo?
já sãa d nas horas
depois do meio dia!
i7
—Comol deixas-me dormir até tam tarde?
isto é uma vergonha! porque não meaccordaste ás déz horas?
—Porem, senhor....
—Não sabes
que eu tinha ensaio ao meio
dia...
—Porem, senhor.,..
—E que ás duas horas devia ler-se a minha
peça no Theatro-Franeez.
—Porem, senhor...
—L que ás três, o meu editor me conta
quatro mil francos pela impressão desse manuscripto em qne trabalho ha seis mezes?—
—Não, senhor, ignoro tudo isso; mas o
quo
sei muito bem é que esta madrugada, às
quatro horas, quando V. m. entrou, disse-me
que
o deixasse dormir alé
quando accordasse por
si mesmo.
—Victor!
—Senhor?..
—E's um toleirãol cala-te, e
prepara-me o
banho.
—V. m. toma o chá no banho?
—Nâo, vou fazer versos... Anda, levanta as
cortinas, não gosto de trevas à esta hora.»
Yictor corre à executar a ordem de seu amo.
« Yictor!.,
—Senhor?..
—Veio aqui alguém?..
—Sim, senhor, veio o sapateiro, o alfaiate,
e o mercador de raridades de meu amo...
—Oh basbaque!
pois essa casta de gento
também é alguém?
—Veio lambem aquelle sugeilo alto mal
encarado que tem não sei que n'um olho...
—Ah, ah! o director do
jornal que faz fortuna com os meos artigos.
—Isso mesmo, sim senhor,
—Entào, que queria elle?
—Entregar a V, m. aqnelles
papeis que eu
puz em cima da carteira; elle deixou-me encarregado de os entregar a V. ro,, e de lhe dizer que sentia profundamente que elles não
servissem para o seu negocio...
—Para o seu negocio! Da cá esses
papeis.»
Yictor vae à carteira de seu amo e traz um
rolo de papeis,
—« Ora isto! exclama este ultimo, são os
meus artigos: ah! carrasco, engeitar semelhaotes fragmentos de litteratura! aquelle míseravol vae matar o seu jornal... suffocar os seus
assignantes! Yictor!
—Senhor? .
—Dá cá uma penna e
papel.
—Aqui estão, senhor.
—Está bom....x>
..... ., :_;.
w
10
O ATHENEO.
O autor escreve algumas linhas, mcneando
vivamente a cabeça, para exprimir a sua indignação, e diz deqois ao seu creado:
'
ao
« Has de levar esta carta e estes papais
director da Presse; esse sim, que è homom que
sabe o seu oííicío: Híc est refugium pcccatorum; isto é: Lei é o refugio do gênio o do talento...que mais?
—Veio também um portador do Sr. ttossini; entregou-me este rolo de papel o esta carta.
—Dò cá. Por vida minha, 6 a minha opera!
Que contem esta carta?»
Lê:
« Meu caro senhor"
« Muito sinto dizer-vos quo o vosso poema
« não pode casar se de modo nenhum com a
« minha musica; eu vol-o reenvio, e vos peço
« que desculpeis o
« Vosso venerador e creado.
—Esto musico, que fatuidade!..Victor!
—Senhor.
—Este musico é um insolentel Has-de preparar-me a caixa das pistollas
—Precisa dellas já, meu amo?
—Pateta! pensas que eu vou bater-mo antes de tomar o meu banho, o de acabar os
meus versos?!., nâo veio mais ninguém?
—Veio também aquelle jovem autor aquém
Y. m. prometteU' lançar...
—Ah ahi Leão Dei vai.. Tem grande propensão, esse rapaz, ba de ir longe. Certamente
vinha me agradecer.
—Estava furioso contra V. m., e dizia que
V. m, lhe furtara o assumpto d'aquella peça
que mandou representar noGymnasío. '
—Victorl
'*
—Senhor?..
Quando esse rapaz aqui apparecer, deita o pela porta fora.... è um desavergouhadol
Dà cá os joruaes.
—Ei los.
Ah, ah! a Chronica de Paris Vejamos se
inferiram o meu artigo a cerca do sslão da pintura. Está bom! está bom! cá está. Este sim,
havia de produzir cffnitoL. Aposto que adquilio ao jornal alguns vinte e ciuco assignantes
mais...»
Vae percorrendo o seu artigo, ti Eisalii, eisâliicomo se deve tratar das questões d'arte!
Paulo Dclaroche...quadro de Carlos 1,° insuh
lado pelos soldados de Cromivel, o rei está nobiemente sentado em sua cadeira. . O soldado
que futna tem graça e gentileza!... Celestino
flanteuil.... Q Chriálo consolando 9s pobres,
'....»¦.¦ 1 .¦-
muita mageslade na posição e nas feições do
Chrislo.. . As personagens grupadas com ordeme harmonia. Seria talvez para desejar que
as jovens doentes tivessem o rosto mais corado;
o artista dando lhes um colorido similhante as
das faces dos velhos, desviou se da natureza.
Como é judiciosa esta observaçãol Eis aqui
um artigo que, certamente ha de ser roubado
pela maior parte dos joruaes... Vejamos agose deram conta da minha peça do Vaudeville..
Ah! cá está: A caça dos patos.... dos patos, pelos Srs... é isto mesmo; esta peça cheia de talento e de inigmas, obteve um triwnpho prodigioso; tíotiffé brilhou no primeiro papel... Es*
ta peça è um monumento de gloria para os autores e para o acior, ao passo que será uma
abundante origem de receitas para o director.
Eis o que se chama jornalistas que sabem
dar conta de uma peça; que critica judicioza e
sabia! Esta Chronica ha de fazer fortunal
Vamos ver agora o que diz o Nacional.,..
Nem sempre me è favorável este maldicto jornat; mas desta vez# espero que so hade ter visto forçado à seguir o impulso da opinião geral
que, qual um rio caudalozo, vomita em meu
seio torrentes do elogios e de.... Ahi está, eis
uma ideia poética que, por ciume, é capaz do
dar seis pcsadellos á Lemartine; vou tomar nota para a minha colleção de poesias..., Ah!
aqui está: Á caça dos patos, Vaudeville cm um
acto por....
Julgamos inútil enfastiar os nossos assignan*
tes com a analyse de ü.íwfi peça Iam ridícula;
diremos somente que ella tinha todas as qualidades possiveis para ser pateada, e que se o não
cuja
fêi, agradeçam-no os autores â Bouffè,
única presença ê sufliciente para excitar o mais
expansivo enthusiastno, e accrescentarcmos gti«
não podemos conceber como o director d'aqudle
theatro, aliás homem de tacto e de gosto, podsss*
admiltii1 uma peça tão detestável.
Viclor !
Senhor ?
-Esto redactor em chefe è um patife que
não sabe escrever ! . ^Has de revistar os meus
floreios, quero ensiná-lo á viver—Matando-o ?
—Deixa-te de gracejos, e dá cá as minhas
cartas, se as há . . .
—Aqui estão quatro, meu amo.
—Car.las de mulher 1 não tenho tempo de
as ler . . ,
—Creio que Vin. so engana, forão trazidas
pelos caixeiros dos fornecodores de . . .
Estás insipido com as luas obser-vações..'
Prepara o baubo, c depois traste o chá.
¦
.,¦;•
"
...
O ATHENEO
—Meu amo disse ha
pouco que proferia afxer versos. . .
—Pateta! pode-se fazer versos com o eslomago vazio? .. »
Victorsae, e alguns momentos depois vem
rolando uma banheira
para o quarto de dormir
de seu amo.
« Vm. pode entrar no banho.
—Está bom, Victor, è* um rapaz incomparavel. . . Este banho está em excedente
grau
do calor. . .
—Trazo o cha.
—Prompto, meu amo .' .
—Victor, este cha não
presta. . .
—Pois eu comprei em caza de Mar
V"
quis.
—Marquis é um enveuenador; farei
um artigo sobre o seu chá.
Quem diabo é que bate tào de rijo ?
Vae, Victor, se não for alguém da minha
intimidade, dize que não estou em caza. »
Victor sae, c volta logo.
—E' o editor de meu amo: elle diz
que Vm.
lhe escrevera que viesse.
—Sim, sim, manda entrar. Ora bons dias,
roeu editor! como vae isto de saúde? Haveis
do perdoar o recebei-vos no banho! mas eu
precisava delle para deseançar a minha pobre
cabeça; trabalhei toda a noite para acabar um
iriàldicto artigo que a Revista dos Dous Mun*
dos pede a todo o custo. Ah! meu caro editor,
acho-me em grande apuro; estou cercado
por
todos os lados. Ainda esta manhã recebi
quatro
cartas de quatro directores de ditíerentes
jornaes. que querem por força obter a minha colloboraçfio . . . Mas eu não posso partir-mo.
Sc nosso espirito é divino, o nosso corpo não
9 é. . .
w»
—Poderei saber a razão ? . . . .
—O astro pode sor inesgotável, mas o tempo, as forças*, os amores. . . .
—Poderei sabor a razão
porque o senhor?..,
—Eu bem quero merecer, a certos respeitos,
• reputação de homem universal que me fazem
ot jornaes. . .
—Poderei saber a razão
porque o senhor me
fez a honra? . . .
•-'•—Beoi sei
que ha algum acerto na comparação que de mim fazem as folhas lilterarias,
com o regente, esse deliciozo príncipe que tão
bem sabia conciliar. . . .
—Poderei saber a razão
porque o senhor
me fez a honra de me pedir que passasse por
aqui? eu estou com pressa, tenho de corrigir
*
provas.
¦
ti
—Por vida minha,
que tendes razão, meu
caro editor, razão sempre; vamos ao caso:
quereis publicar um livro
que ha pouco acabei? »
—O senhor hade estar lembrado
certamente quo perdi mais de dois mil francos com
a
publicação da sua ultima obra. Venderão-se
apenas sessenta exemplares.
—Ora! deixai-vos disso: è ouro em
barra esses exemplares que vos ficão na loja.
—Se o senhor
quizesse tomar esse ouro por
cobre, faríamos arranjo.
—Nãoé disso
que se trata; quereis publicar
o meu livro? Ia por esse fico eu, hade fazer
a
vossa fortuna.
—Não perde
quem apostar que elle faria a
minha rui na.
—Sois muito medroso, men caro editor,
não
tendes a bossa da livraria, nâosabeis fazer negocios por aUcado. Em fita, concordacs ou
não, em publicar o meu livro?
—Conforme as suas «ondições.
—Sereis razoável?
—Provavelmente mais do
que o senhor,
—Pois bem, dae-me duas notas de
mil francos, e o meu manuscripto é vosso.
—Huje em dia, meu caro, não se dá notai
do banco senão por ouro.
—Então é muito? servo
por sessenta luizes?
—E reciprocamente, meu caro senhor, não
se dá ouro senão por notas de banco*
—Quereis talvez
que voj, dô o manuscripto
de graça?
—O senhor não ignora
que o papel estacaro, as despezas da impressão exorbitantes; para imprimir o seu manuscripto,
que de certo
formará dois volumes, é precizo desembolsar
pelo menos três mil francos. . .
—Eentão? . .
—A livraria está em muito má
quadra,
peior ainda do que na época da publicação do
seu primeiro livro; portanto, se então se venderão sessenta exemplares, é de presumir que,
este anuo, se vendão quando muito cincoenta,
o que daria apenas uma receita de quinhentos francos. • .
—De sorte
.que..
—De sorte
que diminuindo esses quinhentos francos dos três mil desembolsados, restarifo
dois mil e quinhentos francos de
perda. . >;
—De modo que. . ,
"
>*
—De modo
que se o senhor me responder
por esses dois mil e quinhentos francos de peida certa, convenho em publicar olivro.
i
Ü
O ATHEMEO.
—E' a vossa ultima palavra?
—E' a minha ultima palavra.
—Dois mil francos não serião capazes de vos
dicidir?
—S6 se fosse inteiramente por lhe obzequÍ8r • •
—Pois bem, meu caro, meu caríssimo edi
tor, eu vo-los darei, mas com uma condição.
—Qual é?
—Direi á todo o mundo que me comprastes
o meu manuscripto por três. . . não, por cinco mil francos, porque, bem sabeis, eu tenho
que sustentar uma reputação litteraria, e . , .
ficaria perdido se . . .
—Oh! lá por isso fique descançado, direi
até que lhe paguei dez mil francos se o senhor
quizer dar-me somente quinhentos francos
mais»
—Não, não, pneu caro editor, assim está
muito na conta.—Mas batem aporta, quem
virá interromper-nos?
—Agora, senhor, nada mais temos á dizer,
dois mil francos de indemnisaçaõ, e eu publieo"o* seu livro.
—Sim, sim, está entendido, mas sede fiel
âs vossas condições,
—•Conforme o exemplo que o senhor me
der.»
Yictor abre a porta do quarto e apparece,
—« O Seuhor Camillo Verneut
quer fallar
à meu amo,
Manda entrar, é um dos meus melhores amigos—Por tanto meu caro editor, está o negofeito, até á vista. Iroi visitar-vos amanhã, e
concluiremos definitivamente.
—Sim, senhor, mas tenha o cuidado de
não se esquecer dos dois mil francos de indemnisaçâo.
(Continua.)
Não sou rei, mas tenho mando
E mando bem poderoso
Os jovens em si me tem
E o que for velho jocoso
O' dom querido
Prenda d'amor
Tu sua visas
Amarga dor !
Se minha Armia
Brauda m'odá,
Maior ventura
Pia mim não ha*
r.
?•?ei
ANEDOCTA.
Um italiano pintou um papa e um impera-*
dor, o junto delles um fidalgo
que dizia:
—Eu sirvo a estes dois.
Seguia-se logo um lavrador dizendo:
—Eu sustento a estes três.
Ao pé destes estava um mercador que dizia:
—Eu engano a estes
quatro.
Aparecia também um le*trado dizendo:
— Eu embrulho a estes cinco.
Ao lado destes urn medico que dizia:
—Eu mato a estes seis.
Entre elles um Franciscano apontando:
—Eu absolvo a estes sete.
E aos pés de todos o diabo dizendo:
—Eu levo a estes oito.
EXPEDIENTE.
Pensamentos.
As maiores acçoens perdem seu merecimento, quando são lançadas em rosto.
31. deLevignè%
De todas as paixões o amor é a qne ennobreee mais a alma, e o coração.
M. de Tencin.
Rogamos a todos os nossos collegas Estudantes da Eschola de Medicina desde o 1.° até o
G ° anno se dignem de mandar-nos escriptos
para o seu periódico.
Offereeemos igualmente as columnas do
Atheneo a todas as pessoas que não sendo Esludantes da Eschola nos quiserem honrar com
seus escriptos.
O Director*
'
flflWU i"í ¦ l| || rMtgaggWBBWMBagB!
O ATHEiVEO.
DISTRACÇÕES, DEVANEIOS.
O AMOfi (*).
¦
Aquillo que nasce acalma,
Elhe serpe de alimento;
Nâo 6 goso dos sentidos
E' goso do pensamento ..
Ha no Mundo um fogo, que encendeia o
homem inteiro, e sem matal-o!
Ha um sentimento, que faz da rasão um eswavo, do coração um instrumento, e
quo dá
ao homem um desejo infinito, uma omnipotencia de Deus , . . . e sem mudar lhe a essência.
Ha um elhor que cabe no coração, entrotanto queé o Mundo pequeno para contel-o.
Um nome existo .... familiar, cotnmum,
wro, e mysterioso! Um nomo doce, harmonico, rouco, o horrível . . , doce, como um
noctar do Céo, harmônico,
qual o ciciar da
brisa matutina, rouco qual o estampido do trovão, horrível como um pensamento de morte,
deopprobio, e de deshonra. .. horrível como
tim Inferno!
Esse nome é Amor—esse é o nome
quo lhe
compete... o homem ama.... è um tributo
paa
edade
como
a
morto
a vida! Em seu Amor
go
acha instantes do felicidade, a
que os mesmos
Deoses invejariSo, se
podessem coropreendendo-a gosal-a como elle a
gosa.
Tem instantes de amor.... amor em seu começo, ardente embriagante, vaporoso, cheio
de nectar, de perfumes, e de felicidades!... Ah!
feliz do mortal, se podcsso
parar,... abençoadoarnor, se tivera um termo,., termo no seu
principio/... Mas seus praseressão tão embriagantes, que como os narcóticos—envencnâo..:
suas flores são tão bellas, tfio mimosas,
que
quaes as flores, bem depressa murchâo...; suas
cbammas são vivas, e claras,
que quaes as chammas cegão .. seus pensamentos remontão
lanto, quase perdem e fazem elouquecor....;
teem
voses tão insinuantcs, fortes e scductoras,
que
hallucinfio.... suas forças tantas,
que achando
o movei pequeno o despedaçio na sua carreira.
E o homem ama.... tem dias de splendor
cheios de aroma, ede vida,ecomoa flórmur«ntf e se embebeda de
praseres, e como narcolisado cabiam profundo somno...t eouve
voses taõ persuasivas,
que se hallucina; e pen-
sa tanta coisa, tanta coisa
grande... o acha ttt.
do... ta5 pequeno
que pára. confunde-se, e
enlouquece.... e impellido
por força prodígiosa sobre-nalural obedece
a ella. « ej|a
0
vence e o tortura, ..o o mata.
E ella é amor
que Ibe dera a vida. para dar-lhe morte-mopl
<e nos horrores de uma
traição ou uma
parede
negra o eterna....
r
O bo,ne.n conhece tudo isso,
e assim ines-
mo ama ...
Com rasaõ ama elle.
que se o amor tem hora. d. Inferno lambem no
SüU regaço acha-se
instantes de Céo.
Cé° CaP" ^ Í8UaIar a° Céod*5
AmorH.T'
Naõ... q„c nunca mais o homem
fará cons-sl.r a sua fel.cidado cm coisas
taõ peque,,,,
e nem mais poderá saciar
os seos desejos"
preencher o fim d'um infinko, como
é oae»
pensamento
^.c»
Em
voses, fleugmatico, e «».
yàosãoasvefsas
lado velholAmAr nãoé uma
palavra vâa.éum^
ebamma ma e impetuosa....
é um fogo q„,
¦acendeu a imaginação,
que a esclarece, e
a ballucma, uma sede insaciável;
uma feVre
ardente,
perigosissima; e que só outro Amor
é capaz de cural-a Quo
lov. 0
lerro assassimo ás n,8os dainnocencia....Amor
e da
virtude... . assim como loiros á
fronte de um
ld,ola tembrae-vos dos
ardores da
vossa juventude! Ah !
que de incêndios
si não Ibe sentis o calor ainda é
que o
gelo dos annos já o tem roubado.. , .
A Naturesa deu certas fôrmas aos
corpos nara d.stinguil-os uns dos outros. . . Deus
poz „o
coração do homem ... o Amor,
para que ella
se podesse differençar dos outros homens,
csquecer-se do que é, remontar ao Ceo, ser admirado, e immortaüsar-so na ora dos tempos,
na
pagina da historia, no Farol da celebridade. >
na lembrança dos vindouros. .. !
Homem mais desgraçado do todo oüoirerso para serdes feliz, o primeiro dos homens..
se
quizerdes ,..só uma cousa existe, só uma cousa
vos falta.. . Um Amor om Amor>
C0m9
sente o coraçSo de uma Virgem, e como
«orauma
imaginação
prehende
de Poeta Aoiae,
Amae, com um Amor puro... e sereis
fali,,
nada
vai
a
maldicção
dos homens, quando
que
se tem a benção.... de Deus.
(Continua.)
A.J.Sou*.
() Onde tâo grandes Mestres teem erigido
15o amenos bellos
quadros — a nój seja-no3
permittido um traço disigual, t grosseiro, um
traço de dissipuIo.
15 DE ABKIL.
-
'
O ATHENEO.
1
O cravo do noivado.
VIII.
y' *
Negro fado de poeta
Que traz no peito embchida
Mortal sclla !!....
Si á outros cabem venturas,
Partilha o vate amarguras
N'csta vida
.
I
Lindo cravo que poisaste
No collo de noiva beíla,
E passaste
De suas mãos delicadas
As' mãos puras e nevadas
Do d»E&ella;
João Gualberlo de Passos.
II
A MULHER E SUA EDUCAÇÃO.
De amor, de ventura emblems,
E's d'hymenêo flor querida !
Lei suprema,
Que o fado rege das flores,
E te poz de viço e cores
Já despida, —
E porque nâo seria ella na escala
da creaçâo um anel da cadêa dos entes,
presa d'im lado á humanidade pela
fraqueza, e pela morte, e d*outro aos
spirilos puros pelo amor, e pelo mys*
terio?
(Alexandre Herculano.)
III y :.y'..;v"
Porqu'inda fresca e viçosa,
Recendendo ioda perfume, —
Esperançosa, —
Não te deixou hoje vir
De minhas mágoas sorrir
Ao negrume ? !
I
Porque já murcha e sem cheiro,
Triste como tlòr de morte, —
Lisongeiro
Porvir— nem se.qner me deixas
Vislumbrar por entre as queixas
Da má sorte ?\
De tanta cspVança em botão
Porque uma s^ nâo írouxeste
Ao coração
Do vate que já delira; —
E sons alegres á iyra
Lbe nãe deste ? !
VI.
¦
Oh! como dentro em meu seio
Esse botão precioso, —
Terno enlcio, ~
IVesperança a flor seria,
Que me espancara a agonia,
Milagroso 1
VII.
Mal haja meu negro fado,
Pois lhe sinistra é-me a flor
* Do noivado !.. .
Emquanto fi alguém mais feliz
Dezejadas — só prediz
de amor,...
. *
# Para conhecor-se o que seja no mundo a
mulher, não è de necessidade recorrer-se a
philosofia, que é somente precisa para as cousas, que estam subordinadas áos nossos sentidos, e que so torna disnecessaria, quando eiIas são evidentes, e de fácil intuição: n'esto
caso se acha a mulher, que é conhecida, e assaz apreciada pela sua belleza, pelos seus atIraclivos, e pela sua singelesa. E porque nâo
será ella o meio termo entre o Ceo $ a terra, como disse um litterato do nosso século? E porque este seu pensamento não merecerá todo o
nosso assenlimento, sendo elle tão conceituoso, e dedusido d'uma verdade tão conhecida?
Por ventura o homem no primeiro dia da sua
existência, insólito a ver esta obra de tanta perfeição, não julgou ser ella alguma divindade?
Das qualidades que a ornam deduz-se o seo
fim sobre a terra, o qual é em verdade nobre,
o sublime, attendendo-se aquelle, para que
foi creada a primeira mulher, alem d'aquelle,
que aulolhamas ,'mesmo na rasão direcla da
creaçâo; por que sem ella o gênero humano jamais poderia progredir.
Surgido o homem das mãos cfa Naturesa, e
collocado no Paraizo, alli via o astro do dia locar uma e outra vez o seu zenith com a mesma indiflerença; e, volvendo os olhos cm derredor de si, não encontrava um ser, que tivesse
a sua naturesa, ate que o Creador, á sua similliança, formou a mulher, vendo quera ella
necessária tanto á companhia do homem,
quan-
O ATHENBO.
to á povoação do mundo, esta obra primorosa de
sua ornnisciencia, quo, aliás, não estaria tão
illustrada; do homem, que sem ella teria vegetado, à imitação das mesm-ii plantas, até que
eôJo, ou tardo, preenchendo a sui
pènòsi missào, fizesse o seu divorcio d'este mundo,
quo
elle não teria sabido apreciar.
Não é possível, sem contradicção, ou sem
maldizer aquilío mesmo, cuja estimação ò reconhecida, o dar-se na mulher
pura, cbolla,
qualidades d'um ento, que nò> mova o nosso
inJifferentismo, o que mio mereça o nosio verdadeiro aunr; pois aqíiello,
que tem avançado
á uma tal proposição, nâo tem deixado de, sem
o maior embaraço, confessir ser ella a mola da
nossa felicidade, o idolo das nossos atmros, e a
maior gloria il'este mando. Alguns dizem
quo
ellas são aptas para aquillo
que somante fora
attribuido' ao honnm, b3m com) o valor
para
os combates, o talento
para as scieuoias, e a
propensão pnra as artes; o, sem com tu Jo procurar destruir estas verdade'3, elles se retractam, e cabem na mais palpável contradicção,
pondo ao nivel dum onto inútil, e dospresivel
aquolla mesma, a quem elles enchem de adoração; o que confirma Aristóteles,
que depois
de ter appellidado a mulher m >nstro da natureza, que com seus enganos flagela a humanidade, tornou-se escravo d'u:na, a
quem dispozou, a que era bem
pouco digna de sua mão.
Um dos fins, para que Doos colloeou a mulher n'este mundo, foi
para fazer a felicidade
do homem; por isso dotou-a de
qualidades taes
que neubum homem, por miis glaeiâl, quo
seja, deixará de s'iníhm nir, ao contemplai-a
na primavera de seus annos, e revestida de todos os atlractivos, que a natureza Iho
pro ligaQuem contemplasse com indifferença o todo
diurna mulher n'eslas circunstancias, diveria
•ser considerado um ente o mais abstrahido da
Lei da Natureza, e formado d'uma massa dihV
rente da dos outros homens;
pois o que no
mundo ha de mais interessante é a mulher, e
a não ser ella os prazeres da vida temporal seriam insipidos, e das mãos da disventura
passaria o homem à fria loisa, sem ter
gosado, por
assim dizer, da própria existência;
por quanto
Quem não arde de amor, quem não procura
Gostos celestes que do amor só nascem,
Em frouxa languidez consume os dias,
E desce à campa sem ter visto o mundo.
(*)
fl Castilho.
IK
O que soriam dos theatros, bailes, saraus,
si n'ellesse não encontrasse a mulher? Alli os
homens se cançariam da monotonia d*esse
passa-tempo, si nâo se achasse aquella,
que, pela
doçura de suas ternas expressões,
pela multiplicidade de seus encantos o pelo mysterioso de
seu amor, é capaz de fixar a atlenção do homem
á cousas ainda, de pouca importância, e fazer
com que elle ame aquillo
que, a não ser disfarçado pelas suas meiguices, aborreceria de
todo o coração
Quem vir, ou sentir tudo quanto ha de arrebalador n'esta obra da Natureza,
jamais deixará dccomfessar que é a mulher o ideal de
todos os nossos sonhos, o alvo de todas as nossas esperanças, o o principio de todos os nossos dezejos....
Oh! Quanto é bello contemplar esse
quadro
do amor, caminhando de parceria com o reconhecimento! Quanto é interessante vêr-se a
cara Mii afogar o seu tenro filhiaho, e contemplar n'csso precioso frueto do seu puro amor o
retracto do seu amado Espozo: no seu filhinho, digo, que do interior dó berço sorriso
em signal de gratidão, abrindo os tenros braços, como para entr'olles estreitar aquella quo
Ibe dé\) o ser, aquella
que lhe ministra os
meios para o seu desenvolvimento, aquella
em fim que lhe ensina a balbuciar as
primeira»
palavras, de que se serve!...,
(Conêinüa.)
*r
At L Ferreira da Silva.
(imitação.)
Criou te Deos acaso entre os humanos,
0* virgem tâo formosa,
Qual entre as flores, a roubar-lhe encantos,
A purpurina rosa ?
'¦k '¦¦ " - ¦:'*" ¦¦:'
.¦
A. F, de Serpa Pimento!.
'
"
¦
O' Mareia, teus olhos.
Teus olhos gentis,
.. Se ternos eu vejo
Seu doce lampejo
Me faz tào feliz! , .
Meu Deos! como poda
Somente um olhar»
O peito ferir,
A mente exbaltar ? !
".
\-::'':*'K''".'¦¦
¦'¦
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16
O ATHENEO.
¦ BB -BS H_1.J JggraBSMBgJi-lU-L11 *< K
Se vejo em teus lábios
Hum meigo sorriso,
Eu vejo anjos mil
Em brinco infantil
Lá no paraíso 1 . .
Meu Deos ! como pode
Somente um sorrir,
Da mente, e do peito,
Mudar o sonlir ? 1
Se vejo teu collo,
Teu collo de neve,
Eu vejo os amores
Brincando entre flores
Beijando-õ de leve-!
Meu Deos ! como pode
Hum collo somente
€crar doce amor,
No peito, e na menle ? !
Se te ouço fali ar,
Ouço um Chcrubim
Cantar para exemplo,
Ou ouço n'um templo
Sacro Serafim ! . .
Meu Deos ! como pod«
Somente uma voz,
Hum anjo dos teus
Trazer até nós ? !
Mulher, anjo, encanto,
Da terra o esplendor,
Eu vejo em teu rosto
Do Cco um composto
Hum Edon de amor ! . .
Meu i)oos! como pode
A mulher somente,
Dar vida, e matar,
De amores a gente ? ! 1
Pernambuco—Janeiro—18 ií).
J, F. Xavier Júnior.
Apontamentos para um
tratado de Bromaiolo-
gia publica da cidade de S. Salvador.
Tal è o organismo do homem, que elle se
de animaes
pode nutrir quer de vegetaes, quer
e quer de ambos: mas elle devo ficar sabendo,
herque a mansidão ó o apanágio dos animaes
bivoros e a ferocidade a doscarnivoros—e d'ahi
tirar preseitop, que lhe sejào úteis —
A alimentação dos habitantes da Cidade da
Bahia 6 variadissima—nóssó fallaremos damais
com mu m.
Alimentos.
Carnes. A carne de que mais usão os nossos
— os mais
pobres o escravos é a secça salgada
abastados servem-se ordinariamente da degaliriba e yacca — o carneiro, o porco e as outras
sves ontrão por muito pouco em nossas mesas a
só em dias reservados — esles alimentos são
muito tônicos, e nutrientes, quando o estornago pude reagir sobre elles, estão convenientemente preparados, e havidos de boa Conte —
E1 justamente esta ultima condição, essêncialissima, a que menos se dá cm nossas carnes,
— os animaes que
principalmente na do vacca
nol-a dão, vmdo-nos do partes longos, quando
cheaao ao nosso curral, alem de pelos caminhos
soíírorem mil (ormentos, devidos ao lamentavel estado de nossas estradas, á falta de abrigos,
bebedouros e pastos, cabem logo debaixo do
cutello do carniceiro. — Esta carne assim magra, havida de um animal cansado, transita sobre as costas do burros e cavallos por algumas
ruas de nossa cidade, descoberta, e pois exposta
ao sol, a chuva e a voragem de diversos inseelos, e vae dar em algum açougue. . . .
Levemos o leitor á um d'cstos receptaculof
da nossa principal alimentação. —
E' uma casinha ordinariamente de uma ou
duas portas, acaçapada, escura, mal arojada—¦
um mar de moscas é a sua atmospbera, lança
de si um fedor nauseante — devido a restos da
carnes putrifeitas. — Um negro nojento e coberto do suor tem na mão uma machadinha, o
sobre um cepo cheio de fragmentos de páo, ossos, &c. corta aquella porção de carne de que
necessita o comprador. . .
Eis a bygione a respeito das carnes de que
nos alimentamos de nossas açougues—antes casas do roubos e do descomposturas.—
Leite. A água ordinariamente falsifica o leite
—de que usamos, ou pura, ou de mistura com
a goma de mandioca.
Peixes. Os nossos peixes são seccos, salgados, ou frescos — é uma alimentação menoi
nutriente que as carnes — alguns d'elles são
saborosos — em algumas oceasiões ainda cheios
de vida — mas n'outras ora um peixo,
chnva, que
que tem levado muito sol, muita
tem passado por muitas mãos, que tem passeiado por todas as nossas ruas dentro de uma ga-
O ATHENEO.
mella, o que por ninguém o
quorcr, por estar
ja quasi podre, vai ser assado, não é lá das
melhores cousas,
Paizes. A farinha de mandioca é o
pão da
Bahia — Entretanto não é uma alimentação
muito salutar c nutriente. — Da mandioca ralada tira-se um sueco, que é venenoso — o
que
resta ò substancia lenhosa —¦ esta torrada cónstitue a nossa farinha —O inhame e o aipim
Sâo mnis salubres e nutrientes que a mandioca.
- Folhas. São as línguas de vacca,
as còuves,
os repolhos, as alfaces e mostardas — são substancias aquosas, fáceis de digirir
quando cosidas, e pouco nutrientes —
Grãos Salvo um ou outro padeiro oooscioncioso — os mais misturão diversas farinhas de
trigo — boas e más — dando-nos um
pão trigueiro e mal levédadò-— tornando assim do
alimento que Deos deo a seos discípulos um
aumento péssimo — O arroz ò um grão muito
nutriente, de fácil digestão, obra emollientenmníe — o milho gosa das duas primeiras
prodo
arroz
e alem disto ê tônico,—
priedades
Legumes. Sâo variadissimos entre nós—continuamento usadas causão ventosidades— alem
de que são de diflicil digestão para alguns estomagos —por causa desço episperma—e a prova
é que os excrementos do? meninos, que toem
comido feijões, ervilhas t&c, apresontão o episperma, ou casca d'estes legumes em quasi sua
integridade.
Condimentos. As pimentas, os coeníros, as
hortelàas, as cebolas, os alhos, as ervas doces,
a caneíla, os cominhos são tantas substancias incendiarias e de que muito usamos.
Fructas. Tem a preeminencia o ananaz a
manga, a laranja, a pinha e a banana — ns
duas primeiras sâo excitantes, o seo cheiro deJicioso e tirando a terebentina bem o demonsIra.—A laranja é um agradável e energieo
refrigerante — A pinha é um favo de mel —A
banana alem de sor uma comida saborosa e nutriente — ò a alimentação de muita
gente pobre — Alem d'estas fructas ha uma infinidade
de outras, que são um dos orgulhos da
Bahia
—Não esqueçamos entretanto as
fructas pães,
os maracujás, as jacas, as abóboras, os
quiabos e
os maxixes: as primeiras são uma saudável alimentação — as segundas e as terceiras são rivaes da pinha e da banana —
quanto as resioiiles são — todas emollientes e entrão
por
muito nos nossos
pratos—
Uma palavra agora sobre a cosinha bahiana
17
Sigatid lhe chama a cosinha eminentemente
nacional — e tem rasão — nenhuma outra no
Brasil lhe leva vantagem — E' n'ella
quo se
preparão os vatapás, as niorjuccadas e os carurus, que fazem suppor aos estrangeiros, não
habituados, que estão deitando
fogo € sangue
pela bncea — E' n'ella que se fazem estes doces
e estas confci<;ões tão deliciosas,
que dispuíão
a palma ao neclar,
que Gaoymódes servia a
Júpiter.
Beh idas.
Noé em sua imaginação bisarra achou,
quo
não bastava a bebida a mais natural, a mais
saudável e refrigerante - a água, e foi, c espremeo a uva, e de seo sueco fez uma bebida,
que lhe entorpece os sentidos, que lhe causou s mno... Também cite foi escarnecido
por
seoíiiho Can ! Esto passo de um
pai bêbado o
escarnecido por seo filho é sem -duvida uma
sublime lição de moral. . . .
Alcoólicas. — Os nossos pobres e negros bebem as diversas espécies de águas ardentes -de
todos os alcolicos os mais enérgicos. -Tambem os casos de embriaguez e inflammações da
estômago são communs entro elles. — As mais
pessoas usão ordinariamento do vinho e da
cerveja — esta é de todos os alcoólicos o menos
funesto e mais nutritivo. — Suppoe-sc,
que
os
—
ataques
orysipelatosos.
previne
Os alcoólicos são uma bebida estimulante c
incendiaria - elles, em pequena
quantidade,
são proveitosos aos fracos — mas aos fortes ainda assim activão lhes as hcmorrhoidas e orysipelas. — Os alcoólicos em demasia produzem a
embriaguez — esta enfermidade
que desnatura
o homem, que o faz esquecido de seos deveres
e de si, e lhe faz perder a razão e cobrir de injuriasas pessoas, que lhe devem ser mais caras — enifim os alcoólicos são uma causado
mortalidade — Na Inglaterra todos os annos eiles arrojão no túmulo, termo médio, 50,000
indivíduos (Michel) —
Aromaticas. — Até aqui erão bebidas
que
embrutecião a intelligencia, e dosenvolvião os
instinetos de animalidade —agora são bebidas
quecommunicão uma doce excitaçâo ás faculdades d'alma, e desenvolvem os instinetos de
sociabilidade, - Sim; bebei
quantocaífé, quanto chá quiserdes, quando muito ficareis nimiamente excitado e nervoso; mas nâo ficareis como os embriagados, não vos descereis, como eiles, a vospordes abaixo dos brutosl Todavia se
5
\
O ATHENEO.
18
quizerdes saúde sem o estado de excitação
mui pouco do caffé e do chá. —
O chocolate ó uma bebida agradável, excitanto e nutriente. —
Nós suppomos, que se cm algum dia esta
calamidade social — o vicio da embriaguez dezapparecei será ao caffé, ao chá e ao charuto a
quem, em grande parte deveremos tanta fortuna.—
As nossas águas farão o objecto de um artigo especial.
J. Cândido da G.
OS JESUÍTAS,
W d'essa ordem de Religiosos, que se espalharão pelas mais occultas rayas do Globo—
que tenho de tractar;—conheço a minha insuficiencia para fallar de um ponto por demais
melindroso: porém razões particulares me obrigarão á isso.
O Jesuíta foi esse homem, qno animado peIas doces palavras do Evangelio, e recordando-so do que disse o Salvador, confirmando o
Apostolado aos seos Discípulos, foi nas mais
longincuas plagas, tendo pendente do peito o
symbulo da verdadeira Religião — procurar a
palma do martyrio; — que féz soar por toda a
çifconferência do Globo as palavras do Filho
do Deos, que animado por um fogo divino —
soube espalhar as águas do baplismo, e adquerir neophytos, ou per entre os gellos da Sibéria,
ou entro as selvas Americanas— para a Fe do
Crucificado.
A Companhia de Jesus foi essa Ordem Religiosa, que fêz estrondar o mundo: do enjo
seio sahirão os verdadeiros sábios; sociedade,
quo soubo atrahir os corações de muitos monarchas, e que lambem (é forçoso confessar)
servindo de instrumento â Sé Romana —soube
abusar da franquesa, com que fora acolhida,
desviando-se da carreira, quo devia do seguir.
A historia Ecclesiaslica, e Profana — está patente; —vede: — nâo sou eu quem digo . ..
Pela continuação d'esto escripto alguém bradará em alta voz;a sois inimigo dos Jesuítas» —
e eu direi: — mas não de toda a sociedade. —
Quando deixarei de reverenciar um Vieira, do
adorar um Francisco de Borja, o do curvar-mo,
ao ouvir pronunciar o nome de um Francisco
Xavier, e de um Ignacio de Loyola? ...»
Ignacio de Loyola, filho de Beltrão Ignacio,
e Marinha Saes de Balde, nasceo em 1V91 no
lugar de Loyola em Biscaia, Filho de um dos*
maiores Pidalgos Hespanboes, foi destinado com
seus Irmãos ás armas; e como criado, que era
de D. Fernando— tôvo um lugar na sua Milicia. Achando-se em 1521 no cerco, que íizerão os Francezes à Pampelona — levou um tirode poça, ficando com uina perna quebrada;
o achando-so de cama pedi o quo Ihe-dcssem
um livro: —felizmente trouxerào-lhe a vida
dos Santos; e lendo n'ellc rasgos de virtude
Evangélica— tornou-se medilabundo, o seo coração penetrou se.
Loyola, com a leitura que tinha de Poetas,
o Novellas— mostrava em suas seções rasgoscavallerescos; e a imitação dos Paladinos romancescos dedicou-se ao serviço do N. S do
Monte-ferrato com o titulo de seo Cavaleiro: —.
Loyola já era outro; já sua imaginaç?io traçavaquadros risonhos; e ancioso por ver os lugares
por onde o Filho de Deus tantas vezes pulsou,
desejoso de proslar se ante o sepulcro santo,
em quo foi depasitado o corpo do Rcdemptor,
—imaginando já vôra terra onde se consumarão tantas, e tamanhas maravilhas — empunhando o bordão de Romeiro, e o saco de IVregrino—-foi em 1523 de jornada as regiões
da Palestina vevitar Jerusalém: e lá recordando-se dos milagres de Jesus, e chorando seu padecimento, e sua morto afroutosade Cruz —
dedicou-se todo a elle.
Em 152fc de volta a sua Pátria, ejá com
trinta e tantos annos de idade, fervoroso por
habHitar-so as ordens sacras, principiou a cstudar a grammatica latina; e não satisfeito
com as instrucções adqueridas em sua terra —
passou a Pariz; c Ia estudou humanidades no
Collegio de Monte-agudo, Philosophia uo
do Santa Barbara, o Tbeogia nos Dominicanos; o foi graduado Mestre — em— artes; o
conse bendo o alto projeeto de instituir uma
ordem religiosa , que so dedicasse a iiístrucção da mocidade, o fez em 1533k e teudo se associado a elle seis companheiros —em
1537, no dia da Assurnpção — íizerao voto cm
Monte — Marte (Igreja que fica nas emediações
de Pariz) a fim de sustentarem a sociedade; o
para que fosse confirmada dirigirão se à Roma;
o Paulo III., que por esse tempo governava a
cadeira de S. Pedro, depois de algumas duvidas, confirmou o novo instituto, em — loíO —
por uma bulla, com o nome do Companhia de
Jesus, o com GO professos: e como ella se tivesse
ao depois dedicado aos interesses da Sc Romawa —achou-se todo o Mundo cbeiodlesses Religiosos. Em 15M foi eleito Lnyola — Gera! do
sua Ordem, o por esse mesmo tempo sâo por
O ATHENEO.
elle organizadas as Constituições da
Sociedade.
Loyola governou
por mais de 15 annos, e em
1S56, com 65 annos de idade, morreo
em Roma, e Gregorio XV. ocanonisou era 1G22,
peIo mesmo tempo em
que o foi o Apóstolo' das
Índias.
J. P. Martins.
E não poisou; que saudoso,
Va poroso,
Qual nuvenzinha de incenso
Mal que do peito sahiu,
Se sumiu
Do céu no-espaço immenso.
(Continua.)
O suspiro da Professa,
Estende a noite o seu véu
Desde o céu
Até na terra e nas agoas,
Pesado o somno adormece, •
E arrefece
Do triste vivente as magoas.
Todo um Mosteiro dormia
Nem se-via
A mó Ias Freiras resarf
Apenas uma tocava,
E outra estava
A sós na cella a scismar
Solta uma nota do hymno
Pirigrinp
Que a Freira do coro entoa,
Perdida de cella em cella
Na que vela
Sosinba, scismando, echóa.
E a quo vellava era esposa
Esposa virgem de Dous,
De Deus quo a-negando ao mundo,
A-fizera Amores seus.
Mas essa nota perdida,
Tão sentida,
Dentro d'alma lhe-eclióou,
Que ao cchoar outra nota,
Bem remota
De dentro d'alma escapou.
E essa nota era um suspiro
Que a esposa de Deus soltou,
Suspiro, dado na terra
Que na terra não poisou.
E o suspiro da Professa
Lá foi so em busca de Deus.
De Deus, que de quem o-deu
Fizera os Amores seus.
lide Abril de 1849.
F. C. do Amaral.
Um sonho.
Jsto. . . ah\ isto, qne idéias,
que saudades
Dentro do coração me nâo desperta !
Delille - Poema dos jardins - trad. de
Bocage.
Um vasto silencio cercava a naturesa toda;
quando o relógio ôa torre do Carmo fez soar no
bronze sagrado dose badaladas,
que este silencio interromperão.
Era meia noite.
De ha muito que eu, lendo, velava, e cançado de ler, feixei o livro, e deitei-me,
pensando,
formando milhares de castellos sobre essa areia
movediça da imaginação.
Um peso sobre as minhas palpebras, e uma
espécie de molleza dos membros me annunciavão somno.
E com effeito um somno ameno veio cerrar*
me as palpebras em poucos momentos.
Então sonhei . . . sonhei. . . mas com
que?
Com algum desses anjos terrestres que es
Céos enamorão, que encantâo a naturesa, o
possuem graças, com que sabem arrebatar o
coração do homem ? I . . . Não.
Que me achava rico, cheio de thesouros, e
de poderes ? . . Não.
Que estava oecupando algum lugar brilhante, e elevado na sociedade? ! .. Não.
Outra cousa melhor, e mais palhetica era
o objecto de meo sonho.—Sonhei com um
objecto que eleva sempre o coração do homem:
sonhei com minha pátria. ...
E mesmo não me importaria de morrer nes*
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O ¦ ATHENEO.
20
te sonho, porquo a morto n"elle, eqüivale para
mim a existência n'um Ceo 1 ! . .
Eu estava no cume dessas montanhas de
Olinda, quo tanto a aformoseãOi vendo o romper da Aurora, csso bello e risonboquadro da
naturesa, que d?ahi visto, é mais bello, mais
risonho, e mais encantador, que doutra qualquer parte! ...
Por um desses mysterios que só em sonhos
se admittem, d'abi achei-me sentado na poupa
d'um ligeiro batei, que mansamente se deslisava pelas superfícies cristalinas das agoas do
Capibaribe.
E eu embevecido com a correnteza do rio,
contemplava os peixinhos que nadavão, e as
conchinhas que tapessavão a argentinea areia
que se via no fundo d'agua.
Levantei as vistas, e passei a contemplar as
suas margens tão cheias d'encantadoras bellozas, e os seos edifícios, que com uma graça admiravel formaõ entre si simetria.
Vi nos jardins que ornão essas habitações
magníficas, beldades do paraíso brasileiro, bumas descuidosamente passeando . . . outras
correndo para o cães, e a lançarem-me flores
festejando o meo regresso.
E nisto . . nisto accordei.
<
A principio me pareceo realidade, o que a
minha imaginação me fez ver sonhando ....
porem nada mais era que uma illusão, uma
chimera, uma fantasia, um sonho! . . .
Então chorei . . . chorei com saudade dessa
terra, cujosol virão os meos olhos primeiro. . ,
dessa terra onde comecei a respirar, onde achei
um berço e onde está tudo que me é mais caro.
Bahia 1.° de março de 18V9.
P. Autran Malta Albuquerque Júnior,
BEIJO MATERNO.
Quem tanto pôde alcançar
Que mais tem que dezejar?
(J. ia N. Saldanha.)
Quando oaprasivel trinadò do canário me
annunciava a vinda d'Aurora, o que de meo
leito me erguia, para receber a benção materliai,- minha alma se transbordava de alegria em
receber um beijo dessa, quo tão carinhosamento se desvelava* por mim !..
Qual seria o beijo quo mais gravado ficasse
no coração do homem ? I .. Qual seria o beijo
que se podesse comparar com esse ?!..-.
O beijo materna! be a expressão do amor para com o filho, be o símbolo damisade para
com o frueto, que delia emanou; he finalmcnte a lembrança, que neile grava, de que ella só
existe para elle 1 . • .
O do amante he uma faísca eleclrica, quo
desaparece depois de seo estrago: o da espoza
he o símbolo d*amisade, e da fidelidade que
desaparece, com o aniquilamento da existência
de bum dos dous: finalmente o do amigo he o
fogo, que se ateia com o seo aparecimento,, e
que se extingue com a sua auzencia.
Porem o materna! ? 1 Sim, esse beijo tSo
doce, tâo carinhoso, tão meigo, e tão encantador, que se eternisa no coração do homem, com
clie desce â fria campa: Sim, esse beijo he Divinal, e outro não ha, que com elle se com•
pare
PorDr. HA. M. A.
?•«
SC«TS3TO(*)
A louca presumpçao de ser
poeta,
a
verdade
Que
foliar nunca me invade,
Em mim quiz hoje ter tal potestado
Que por pouco me fez ficar pateta.
Ila de versos fdzer! diz me faceta—
Hade versos fazer! zune a vaidade
E houve tal vai-vem de hade não hade,
Que por fim ides ver o que acarreta.
—Nobre dona louça,
gentil donzcllo.,..
«Por ahi nâo vais bem, da-lhe outro
—Ora, Musa, nào dòsá taramella— geito»
« Oh! tu q,' tens do humano o
gesto e o peito,
« Emboca a tuba, brada-me então ella,
« Repete - Gratidão - tens tudo feito 1 »
J. J', Ignacio.
A charada do n.° antecedente significa Beijo —
O Este soneto foi feito por or.cazião dos ohsequios que ao autor fizerâo os otíiciaes da
FraConstituição
no
dia de seos annos.
gata
BAHIA —TYP. BAIHANA DE J. A. PÒRTELLA
GOHP. —RUADA ORAÇÃO CASA N. 21.
\%
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matutino calouro