• ANNO SEMESTRE TRIMESTRE b ooo 9 $ooo 5 $>ooo A correspondência e r e c l a m a ç õ e s devem s e r diK-.uffe A R U A B E G O N Ç A L V E S D I A S , N ° 5 O, S O B R A » H 4 * mm ÉÉ8L M K ) B M zus ooo 11 Soo o 1 (ooo 50, O seu estylo, sem ser premeditadamente enfeitado,' t i n h a muitas loucanias e re+ flectia as cores mais brilhantes. Não t i n h a assumptos predilectos. Tudo lhe servia para bordar essas chronicas fíiOy 3 de Novembro, Í888 leves e fluctuantes, do mesmo modo que as u mulheres do norte bordam, a c a n t a r , ao ESCRIPTORIO E REDACÇÃO, som dos bilros polidos, as rendas escumosas que vão ornar os collos das noivas. R U A DE G O N Ç A L V E S D I A S , 5 0 , SOBRADO f J o a q u i m S e r r a Domingo, ultimo, notando que o Paiz não publicava o folhetim De domingo a domingo, que, como se sabe, era escripto por Joaquim Serra, o coração estremeceunos, tomado de um máu presentimento. P a r a quem conhecia, como nós, a tempera diamantina d'essa organisação litteraria, a sua ausência u'um posto que elle tanto amava e sabia honrar, era um terrivel p r e s a g i o . . . E , assim foi. O lutador intrépido e brilhante,retira vase da arena, seutindo-se ferido no coração, e apenas um momento antes de exalar o ultimo suspiro. E n t r e a sua ausência e a sua morte, o espaço foi tão curto, que o tempo não lhe chegou para depor a a r m a d u r a , cahindo como um heroe, em meio da refrega emp u n h a n d o ainda o estillete f u l g e n t e , de c u j a lamina ora faiscavam raios, ora partiam clarões sideraes,que envolviam as l^tt r a s e a politica u u m a athmosphera de l u z . * • * Dizer o q u e foi Joaquim Serra, é tarefa difficil, mesmo para quem, como nós, pôde a v a l i a r a sua estatura polo vácuo immenso, que essa quéda abriu no jornalismo, nas lettras e no coração de todos os seus admiradores . A sua organisação intellectual era puj a n t e e fecundissima e toda ella doirada por esse eflluvio da poesia, que é o único perfume das flores singelas da escripta. O seu espirito, muito cultivado e familiar ás litteraturas classicas, t i n h a um toque original, um mixto de lendas e de tradições entrelaçadas á apreciação dos factos da actualidade. Escrevia ao correr da penna, com summa facilidade, mas os moldes em que vasava as suas locubrações eram tão perfeitos,que a ideia sahia sempre nitida e bella, como u m a deusa das b a b u g e n s de um mar. E em todos esses lavores delicados, sempre a poesia, a graça e o riso, dando um encanto mysterioso e variado, a tudo o que sahia da penna encant ida d'esse artista da palavra. Joaquim Serra tinha o culto do folhetim e, como nós, via com sentimento, quererem substituir essa invenção eternamente nova, pelas chronicas modernas, alinhadas em altas columuas, como a fachada de um edifício demasiado austero, e confundindo-se lamentavelmente á primeira vista, com u m . . . artigo de fundo. D'este amor pelo folhetim deu elle sempre provas, lutando contra o injusto ostracismo a que o votaram e d'oude sahirá t r i u m p h a n t e qualquer dia, escrevendo folhetins na Reforma, na Gazeta de Noticias e ultimamente 110 Paiz. O folhetim era de facto a fórma litteraria que mais q u a d r a v a á sua índole delicada e humoristica. Como Julio J a n i n , com quem o comparam, elle fez do folhetim um pedestal, e collocou-o a tal a l t u r a que n i n g u é m até hoje o excedeu. * • * Como todo o coração, fauatico do bello e sensível ás dores e ás alegrias alheias, Joaquim Serra, ha muitos annos tomou-se de g r a n d e amor pela sorte do escravo. S u a alma revoltou-se com os martyrios d ' e s s a raça espolliada, e o seu sentimento era tão g r a n d e , que, por a l g u n s annos, o abolicionista offuscou o litterato. A causa libertadora teve-o como um dos seus melhores e mais activos combatteutes. Para esse reducto sagrado, aonde uma pleiade de combattentes, estava posta em estado de sitio pelo exercito permanente dos interesses, dir-se-hia que elle transportava tudo o que podesse dar força ou animo, aos seus companheiros de lucta. E, diariamente lá vinha elle, trazendo um auxilio, uma boa nova, uma palavra que levava a coragem a todos os corações. Bem h a j a I Elle figura entre os redemptores de uma raça escravisada! Bem h a j a l • • * Joaquim Serra trabalhou muito e deixa obras ijue hão de sobreviver aos despojos mortaes do seu auctor. Com o seu fallecimento toda a imprensa se cobre de lucto e a litteratura soffre irreparável perda. Como pallido reflexo, da amisade e da admiração, que sempre nos inspirou, honramos nossa primeira p a g i n a com .0 seu retrato e esboçamos n'estas l i n h a s , um preito, que, sentimos, não possa ter o clangor victorioso das bandas marciaes,quando acordam os echos, á passagem do feretro de um m a r e c h a l . Pobre Serra ! Mas, os corações, para terem o egoísmo das dores—como esta, são mudos ! O fallecimento de Joaquim Serra deu l u g a r a muitas manifestações de sentido pezar. A imprensa tarjou de luto, e dedicoulhe muitos artigos. Os despojos mortaes do fallecido tiveram um acompanhamento numeroso e distincto. A Escola Militar nomeou u m a commissão para acompanhar o enterro. Ao saliimento compareceram vários senadores e deputados. Todo o jornalismo e homens de letras, estiveram presentes. Notou-se muito que o ministério não se fizesse representar n'essa triste solem nidade. N i n g u é m déra ao gabinete 10 de Março, um apoio mais valioso e mais desinteressado, do que esse jornalista superior, esse adversario de hontein, esse liberal de todos os tempos. E i n f i m . . . Tambein, a ausência dos liberaes era muito commentada. A Confederação Abolicionista, de que o finado era socio beuemerito, acompanhou o enterro, cobriu o caixão com o seu estandarte e tomou luto. N a Camara dos Deputados o Sr. João Henrique Vieira da Silva, prouuuciou o seguinte discurso : O S R . J O Ã O H E N R I Q U E :—Como deputado e como maranhense, venho a esta tribuna cumprir o doloroso dever de communicar á Camara dos Srs. Deputados que acaba de fallecer o Sr. Joaquim Maria Serra So briuho e requerer á Camara que mand lançar na acta um voto de pezar pelo fal lecimento de tão preclaro cidadão. O Sr. C O E L H O R O D R I G U E S :—Já fez parte desta Camara. O S R . J O Ã O H E N R I Q U E : — O S r . Joaquim Maria Serra. Sobrinho fez parte d'esta Camara, e por consequência, de accôrdo com os estylos, tem direito á homenagem que acabo de solicitar. Mas, senhores, ainda que elle não houvesse sido deputado, eu creio que esti Camara,diante do seu catafalco, não recuaria de prestar-lhe semelhante homenagem. Joaquim Serra não é um 110 m vulgar, não foi uma d'essas existências que passam despercebidas pelo inundo. Espirito eminentemente liberal, o illustre maranhense, de quem não pretendo fazer agora a biographia, desde moço íiliou-se ao partido que t i n h a porcjtiefe na província do Maranhão o conselheiro Francisco José Furtado, de saudosa memoria. Não tenho necessidade de dizer á Camara o que foi, sob tal g u i a , o illustre morto. Na Assembléa Provincial, no jornalismo da província, nos couicios populares, a sua palavra era sempre flâmula ardente em torno da qual se aggremiavain todos os que militavam debaixo d'aquella bandeira. Mais tarde, veiu para o Rio de Janeiro, o o seu espirito tomou nova direcção. Joaquim Serra fez-se exclusivamente jornalista. Ha 11'estaCamara taieutos de primeira a g u a , filiado a escola con«cr. aiiora, que tiveram occasi^N imprensa, de medir suas arma? com o jornalista maranhense, que 11c seio da bancada liberal couta mais (te um companheiro d'essa phase brilhante do jornalisno brasileiro. (Apoio-*0*' -finito bem!) O bit. C F . S A R I O A L V I M : - Perda sensível, O S R . J O Ã O H E N R I Q U E : —Litterato de finos dotes, Joaquim Serra era o ultimo representante da escola maranhense, si assim posso denominar o movimento litterario que se operou na minha província, desde a época gloriosa da independeucia até a data em q u e floresceram (Jeutil B r a g a e Trajano de Carvalho. Espirito que se a d a p t a v a a vários generos litterarios, Joaquim Serra foi lyrico n e s s a época dos 1(5 a 20 annos, em que tudo nos eleva a abraçar a escola lamartiniana. Mais tarde, seu espirito, cedendo a torrente das novas idéas sobre esthetica, fezse realista, e as suas q u a d r a s constituem no genero, um bello especiuien. K' no jornalismo, porém, onde melhor podemos apreciar a extensão do seu puj a n t e talento. N'esse caracter tomou parte na camp a n h a mais notável que se feriu nos últimos 25 annos n'este paiz, campanha que se coucretisou na lei de 13 de Maio e de que o illustre m a r a n h e n s e foi um dos primeiros factores. (Apoiados.) Quando as urnas populares não permittiam que Joaquim Nabuco fizesse f u l g u r a r n'este. recinto os seus talentos, vibran lo a sua palavra eloquente em prol da causa' abolicionista, a defeza dos opprimidos era proferida n a imprensa, onde n i n g u é m a produziu melhor do que a penna f u l g u rante de Joaquim Serra. (Apoiados). Tenho justificado, portanto, o meu postulado : e a i n d a que Joaquim Serra não houvesse tido assento u'esta casa, embora não se podesse verificar a seu respeito o que pelos estylos da casa se tem observado quanto aos que d'ella hão feito parte,julgo que a Camara não recusará a sua approvação ao requerimento que vou dirigirl h e , porque t r a t a de prestar homenagem posthuma a um cidadão eminente por mais de um titulo. [Apoiados.) Concluindo, permitta a bancada conservadora que eu, em seu npme, declare á bancada liberal que nos associamos á dôr que a pftnge n'este momento. (Muito bem.) Requeiro, Sr. presideute, que se lance n a acta da sessão de hoje um voto de pezar pelo passamento de tão disuiucto brasileiro. [Apoiados ; muito bem ! muito bem !) Submettido a votos, o requerimento é approvado unanimemente. de secretario do presidente da projectada confederação do Equador. Supplantado o movimento revolucionário, os vencidos tiveram de ser julgados por uma com missão militar, mandada crear pelo overno imperial, a qual condemnou vários patriotas pena de morte. Entre elles figurava José da Natividade Saldanha, que se refugiara na cidade de Caracas, donde enviou a Thomaz Xavier, então presidente da província de Pernambuco, a seguinte procuração, cujo original se acha no archivo do instituto Historico : f PROCURAÇÃO HISTORIA TRIVIAL Uma aveestranhu « rara, A madrugada, por co^lutfifa ti-». ' Pousar n'um cMfo, par". Ver alsro^r» *ue á ju:.eiía sempre vinha. Qnasi dafallecia Quando á janella, súbito, doirado O seu perfil surgia Kiudo, por entre o livre descampado. Nas mãos d'essa princeza Para viver, a liberdade déra : Queria até ser presa Ella que andava na infinita e s p h e r a . . . E, vendo-se tào feio Este ser, entre o doce passaredo Alegre e triste e cheio De um indizivel e secreto medo Fugia, lasso e afilicto, Da luz, mordido de acerado ciúme Quasi a soltar um grito, Buscaudo a noite, a solidão, o cume De altíssimas montanhas. José da Natividade Saldanha, bi charei em direito civil pela universidade de Coimlra e advogado nos tribunaes da iíupublica de Colo nbia. Por esta bastante procuração por mim feita e assignada constituo meu bastante procurador na província da Pernambuco a n.eu collega o Illm. Sr. bacharel Thomaz Xavier Garcia de Almeida, para que em meu logar, como se eu proprio fôra, possa morrer enforcado e soffrer qualquer castigo, desautorisaçòes e penas, que a commissão militar julgar i npor-ine ; pois para tudo lhe concedo amplos poderes, que o direito me permitte. Caracas, capital da Republica de Oolombia, 19 de Agosto de 1825.— José da Natividade Saldanha. Nas costas da procuração e s t a v a m o s do s se-; guintes sonetos : SONETO Em vão pretendes, monstro sanguinoso, Contra mim desfechar teu golpe injusto ; Fui condemnado á morte ; eu não me assusto, Não me assusta o decreto rigoroso. Sim, a patria perdi, fui desditoso ; Mas vivo sob as leis de um povo augusto : O rei dos orbes poderoso e justo Não tardará de ouvir meu som queixoso. Une os escravos que o Brazil encerra, Invoca as fúrias do tremendo Averno Desfaze-te em furor ; nada me atterra. l i a de ser contra ti meu odio eterno Hei de emquanto viver iazer-te guerra No céu, na terra e mesmo até no inferno. F A L L A DO RFIO NO P A T Í B U L O Abjecto ser como era, que loucura De ter paixões tamanhas, De querer inspirar uma ternura ! Não supponhas oh ! déspota lnhumano, Que o patíbulo assusta um peito forte ; Amar a patria, desprezar a morte Caracter sempre foi pernambucano. E á noite, ao infinito As estrellas, ao céu profundo e vasto, O réprobo maldito Mostrava o seu amor, eterno e casto ! Se pensas hoje, pérfido tyranno, Firmar-te sobre nós, vibrando o côrte, Enganas-te ; pois sélla a nossa sorte Do teu fim o decreto soberano. Um dia, veio vel-a E , de um moço elle viu-a, pelo b r a ç o . . . Rasgas com ferro agudo o livre peito, Onde não reinas ; o punhal enterras, Mas não ha de valer tão duro feito. Como se fosse á estrella Mais alta, o vòo dirigiu no espaço... Voava estremecendo, N'um mixto de prazer e de a l e g r i a . . . Que dôr ser tào horrendo ! Quo prazer em soffrer como sofíria ! Ha de o sangue, que vés tingir a terra, lleroes mil produzir a teu despeito, A patria libertar, fazer-te guerra! repentinamente, Os doisL viram cahir ao pé da porta, Como um coração quente Ainda, uma ave que cahia morta 1 EMILIANO PERXETTA. H M O I S M O E E S P I R I T O Sob o titulo de Singular procuração, publica um. colleg*a o seguinte facto historico : José da Natividade Saldanha tomou parte na revolução pernambucana de 1821, exercendo o cargo INDUSTRIA NACIONAL Motivos de jubilo são sempre, para nós, as noticias da creaçã > de fabricas ou in dustrias, pois a nosso ver, esses tentameus preparam um futuro de gloria, e de bem estar ao nosso paiz. Dispondo de pequeno espaço, procuramos, todavia, honrar a iniciativa d'esses espíritos einprehendedores, nacionaes ou estrangeiros, que dotam nosso paiz com novos instrumentos de riqueza e prosperidade. Esta semana tivemos dois d esses auspiciosos acontecimentos. Sabbado passado inaugurou a conhecida casa de calçado nacional Cathiard e Alaphilippe, á r u a da Assembléa,as suas novas e imponentes officinas. Pasma-se a n t e o progresso que têm feito as machinas e assiste-se, tomado de admiração, MO complicado movimento, por meio do qual, ellas fazem o calçado, apenas dirigidas pela mão do homem. As machinas cortam o couro ou a solla, abrem os sulcos aonde tem de passar a cost u r a , cravam a solla, a p a r a m - n ' a , pulem- n'a, formam os saltos, n u i n a p a l a v r a , fazem os mais complicados trabalhos. Todas as officinas estão perfeitamente montadas e os Srs. Cathiard Alaphilippe, preparados para calçarem um povo. f- Felicitando-os pelos progressos realisados, fazemos votos pela prosperidade de seu utilíssimo estabelecimento. T a m b é m , no dia 27 houve a i n a u g u r a ção dos Moinhos da Gamboa, destinados ao preparo das f a r i n h a s de trigo. Foi um acontecimento auspicioso, pelo que, d a q u i felicitamos os seus empresários. REPÓRTER. ALZIRA A virgem colhe, cantando, Um bouquet de lindas flôres. Desprende finos olores A loira trança ondulando. A aurora vem l o i r e j a n d o . . . Fulgem no céu vivas c o r e s . . . Chispam do orvalho os f u l g o r e s . . . As aves amam trinando. CJm travesso colibri Beija a rosa, beija o lyrio Salta d'aqui para alli — —Mas vendo os lábios de Alzira Preso d'amor, em deli rio Detem-se triste e suspira. Recife» 30 - 9 - 8 8 . EDMUNDO CONTOS CASCÃO. TRANSPARENTES ÂS (Ao Dr. José Marianno) Quasi sempre, os episodios dos tempos de creança gravam-se de um modo indelevel na imaginação. E é admiravel a fidelidade, com que, a proposito de outros,a memoria os reproduz, dando-lhes o aspecto de fabulas inconscientes, cuja moralidade ou c u j a philosophia, não raro nos pode g u i a r na vida. E r a eu bem pequeno, teria u n s cinco annos, e estava passando a festa 110 M011t erio, delicioso arrabalde, a pequena dis- tancia do Recife, a minha linda cidade natal. E r a 11111 domingo, 11111 d'esses dias alegres e ruidosos, em que depois do j a n t a r , as famílias se reúnem nas largas calçadas,em frente das casas, vendo crusar os cavalleiros e trocando saudações com os grupos de senhoras e moças,que a todo o momento passam. Em casa havia varias visitas, umas 11a sala, outras 11a calçada, em cadeiras de balanço, e conversando animadamente. Nós, as creanças, brinca vamos em meeting, com as nossas respectivas mucamas, em um espaço liso, que ficava fronteiro ao oitão do sitio. Tínhamos recebido com bastante indifferença, as festas e os affagos obrigatorios de todas as visitas, não ligando mesmo importaucia a l g u m a aos beijos, cantados e gostosos, que as mais lindas moças nos depositavam nas rechonchudas faces. Oh ! como a infancia é tola e i n g r a t a ! N'isto chegara, 1H uma visita muito de casa, uma das nossas s y m p a t h i a s , uma formosa morena,que se i n t i t u l a v a a m i n h a namorada, e que tinha sempre o cuidado, de entreter o meu amor platonico, por meio dos pequenos presentes,ora 11111 brinquedo, ora uma gulodice, ora uma f r u c t a . Ouvindo, essa voz cheia de doçura, eu desertei instantaneamente, da grande e séria obra em que, depois do mceting,estavamos empenhados, de construir com pedaços de tijollo e pequenos paus, uma casa de dous palmos de a l t u r a . A voz approximava-se, quasi cantando, com um timbre angélico, estas meigas palavras : — Cá dê sinhosinho ? Eu hoje trago u m a coisa, que elle vae ficar muito contente . . . Um minuto mais e eu estava nos braços da m i n h a bella conquistadora. Mas os meus olhos apaixonados, não se fixavam nem nos seus bel los olhos sonhadores, nem 11a sua rosada bocca, d onde sempre, partiam, roçando-me as faces, dúzias de beijos em revoadas sonoras, que, de h a muito, passaram p a r a mim, á cathegoria de simples utupias. Meus olhos fixavam-se 11a mão de Y á y á , onde eu via duas f r u c t a s rosadas. — Tome, sinhosinho ; são m a n g a s de Itamaracá, que eu trouxe para você. E , eu, sem perda de tempo, a apoderarme dos dois appetitosos mimos. E a moca : — Então como se diz ? — Obrigado. — Você quer muito bem a sinliá ? — Quero. — Até o n d e ? — Até ao coracão. — Bravo, disse ella soltando uma g a r g a l h a d a . Este sinhosinho é os meus peccados... Mas, eu j á estava de posse das mangas, e ia-me desenvencilhando, conforme podia, dos beijos e das questões da m i n h a sympathica, só com o sentido nas m a n g a s . — Vá, vá, disse ella ; vá comer Mas, olhe, não suje o bibe, senão a mamãe fica muito zangada comigo. — Sim, s i m . . . Sahi d'ali, levando as duas formosas mangas, polpudas, de casca fina e lisa, onde o carmim e o amarello de Nápoles se confundiam, fructas de 11111 edeu, cujo perfume enchia a casa toda. Uma das m a n g a s era grande,!indissima, em elypse ; a outra pequenina, e muito redonda. Preparei-me para saborear u m a d'ellas, reservando a outra para o dia s e g u i n t e . Mas, aqui s u r g i u uma g r a n d e duvida. A qual (Tellas daria a honra de comer, em primeiro l u g a r ? Fiquei vacillante. — Se como a maior, para a m a n h ã ficame só a manga pequena. Não 1 Vou comer esta o u t r a . . . O melhor deve ficar sempre para o fim. M a s . . . Essa reticencia exprime a g r a n d e vacillação de espirito, em que fiquei, para me decidir, lucta tão g r a n d e , talvez, como os homens teem para resolverem 11111 problema internacional. Para me decidir se devia comer uma das m a n g a s ou as d u a s , e por qual começar, meu espirito travou uma discussão tão acalorada, que esse facto gravou-se-me 11a memoria com as cores nitidas de um grande acontecimento, uma d'essas coisas que só acontecem uma vez, na vida. Afinal, decidi-me, peia hypothese de comer a m a n g a pequena e de deixar para o dia seguinte a outra. Effectivamente assim fiz. Sabireei a m a n g a menor, que era um perfeito favo de mel e puz a outra u'um consolo da sala de visitas,por detraz de uma j a r r i n h a cheia de flores. D a h i a pouco, dormia esse bello somno dos 5 annos de idade, todo entremeado de cocadas, araçás, pitombas e outros sonhos suaves. No dia seguinte, ao acordar, a primeira cousa que me lembrou foi a m a n g a Logo que me vestiram e que pude andar pela casa, corri á sala de visitas, ancioso, impaciente, e com a g u a 11a bocca. Chego ao cousólo.. . Oli decepção ! . . . Bulo em tudo que estava em cima, porém, a m a n g a . . . Qual 1 sumira-se. D'ella não restava nem o s i g n a l . . . Fiquei inconsolável e abri uma bocca enorme. As l a g r i m a s cahiam-ine, de quatro em quatro, acompanhando este motte prolongado e que os soluços intercortavam, tornaudo-o ainda mais longo e p l a n g e n t e : — Quero a m i n h a m a n g a ! Quero a minha manga ! . . . # De 11111 lado e de outro da casa correram pessoas de família assustadas, pensando que eu tivesse dado a l g u m a grande queda, como era do meu costume. Do que se passou não guardei g r a n d e recordação. Só sei que tal m a n g a não tornou mais a apparecer e que eu fiquei inconsolável e indignado commigo mesmo, por ter sido tolo, por não ter comido logo as duas m a n g a s , ou ao menos, por não ter começado. . . pela melhor. Nunca mais me pude esquecer doesse facto, e ainda hoje, tantos annos depois, elle me apparece com as cores vivas.d essa época feliz e risonha, em que o único desgosto sério que tive, foi ess*\ de g u a r d a r uma bella m a n g a de Itamaracá, para coinel-a 110 dia seguinte, e, n'essa mesma noite, ella encontrar quem a saboreasse até ao ciiroco. Foi um g r a n d e desgosto.é verdade; custou-me l a g r i m a s a mim e um susto a toda a família. Mas, t a m b é m , g a n h e i a g r a n d e exper i e n c i a e convicção profunda, de que não h a principio mais verdadeiro do que este : — Não deixes para comer a m a n h ã as m a n g a s que poderes comer hoje. L . DE m p f / A. w Já passou em julgado e ó opinião corrente, que quem tiver bom gosto e amar a alegria, não pôde deixar de ser assignante da Revista Illustrada. E, em louvor d'esse publico, aqui damos o testem u n h o de que são innumeras as pessoas, que, por esse meio teem dado prova de seu espirito, das suas idéas desassombradas e do seu gosto cultivado. Em compensação, a Revista procura sempre lev a r - l h e s uma nota alegre, e muitas vezes lhes tem desenrugado a testa e feito brilhar em seus lábios um sorriso prazenteiro. E' ou não é verdade ? A todos nos confessamos summamente gratos. Mas, se a Revista tem podido combater a hypocondria das almas e os desmandos da politica, a esses benemeritos em grande parte se deve tal serviço de saneamento intellectual. Sem essa legião de assignantes, fieis, pontuaes, da„primitiva,o que seriamos nós ? Causa horror,até, p e n s a r em tal. Mas, o fim do anno ahi está, e com elle o vencimento das assignaturas de alguns cavalheiros, ue, embora não tenham mandado satisfazer essa importancia, nAo vacillamos em continuar a remetter-lhes a folha porque o seu passado era g a r a n t i a plena do seu procedimento futuro. Até hoje, não temos razão de queixa, por havermos assim procedido. Todos tem sabido corresponder ao que d'elles esperavamos, e, demais, cá o administrador ua casa, tem-nos dito varias vezes que fica doente, sempre que é obrigado a suspender alguma assignatura e nós temos todo o empenho ein conservar o mais possível a preciosa saúde do nosso... caixa. Pedimos, pois, aos nossos assignantes que se acham em atrazo (felizmente são muito poucos) a fineza de nos remetterem a respectiva importancia com o que muito se recommendarão a todos os hom e n s de principiossãos [e, em especial, á endiabrada gente cá de casa. Insaciavel! E como se o seu olhar não podesse enf r e n t a r com tanto e-plendor, pousou a cabeça nas mãos e c l a m o u : — Quero-te, só a ti. Caia o manto, caiam as sedas ! . . . Ouviu-se um frou-fron e a visão appareceu-lhe j â semi-núa, e com um gesto de pudor, e cobrindo os seios com os braços. O cabello desentrançára-se fluctuava sobre as brancas espaduas. Diante d'esse quadro, a paixão tocava o paroxismo. — Mais ! clamou elle, com a voz convulsa. E' a cada uma das suas palavras, as roupagens da visão, cahiam e ennovellavam-se aos pés ! — M a i s ! clamava elle n u m a febre insaciavel de nudez. — Mais ! Mais ! não cessava de c l a m a r . T i n h a a fronte pousada sobre o braço, e no seu arrebatamento não via o que se passava. Houve um momento, em que a ultima gaze, que ainda envolvia a belleza triump h a n t e cahira por t e r r a . . . Depois das roupas, só se as carnes cahissem também. E o allucinado coração, continuava sempre^a clamar : mais I mais ! como se não houvesse nudez que o saciasse. Elle estava de posse de um poder sob r e n a t u r a l , como esse que todos temos na região dos sonhos, e nem sequer i m a g i n a va como estava abusando d e l l e I A esse mando omnipotente t u d o c a h i a e se ennovellava aos pés da bella. Ella estava absolutamente n ú a , restando»] he apenas, como único vestido a ampla cabelleira que lhe cahia sobre os liombros e sobre o eólio t r e m e n t e de alabastro . — Mais ! clamava o doido coração e a cabelleira eunovellava-se-lhe aos pés. — Mais ! clamava a f ú r i a insaciavel do amor. E, d'esta vez, eram as carnes t e n r a s e macias,que se despegavam, como um novello de arminho e p u r p u r a . De repente, porém, Ernesto, levantouse de um pnlo, para encarar a belleza, e para sorver, em haustos, essa sublime felicidade. E r g u e u a cabeça. Fitou a v i s ã o . . . Horror ! . . . Diante d'elle estava um simples esqueleto. Passou a mão pelos olhos, ergueu-se de um pulo, recuou um passo, e fitando aquella ossada, fria e horrivel, sentiu, que dentro de si, por um movimento brusco, tudo voltava aos seus eixos, desde a razão, até ao sentimento da realidade. O amor, a febre, o delirio, tudo se evolára, diante d'esse quadro sinistro ! Fitou de novo o esqueleto. Não havia duvida ! Aquella que ali estava,era a imagem da m u l h e r a m a d a . Como se um ataque de loucura o tomasse curvou a cabeça p a r a traz — e com uma voz exaltada, exclamou : — Eis a belleza ! Eis o amor ! Eis a loucura 1 Um esqueleto enfeitado ! Tudo illusão. . . Seus lábios desferiram uma g a r g a l h a d a f r i a e cynica. N'isto o esqueleto avançou como querendo cingil-o, 11'um doce amplexo. A esse movimento, u m a sensação de rep u g n â n c i a e de medo toinou-o. Deu um salto para t r a z . . . Ao choque, que esse movimento lhe produzira, correspondeu uma forte pancada com a nuca 11a cabeceira da cama. O choque despertou-o. Abriu os olhos... Tudo silencioso, em redor. A vela ardia, indifferente e o livro que estivera lendo, estava cahido no chão. (Continua). J. V. S U R P R E S A S DO DIVORCIO Quarta-feira ultima, o Sant'Anna apresentava um aspecto extraordinariamente animador, tanto ás vistas curiosas do p u blico, como á luneta do emprezario. O bilheteiro não tinha mãos a medir : os espectadores entravam em ondas, e d e s tas, a cada momento s a h i a m diversas Vénus. Havia o bulicio que precede os acontecimentos esperados com curiosidade, e ao soarem os tv 111 panos, camarotes, plateia e galerias, estavam completamente cheios. Em verdade, as Surpresas do divorcio, vistas h a pouco, na companhia Coquelin, inspiravam muita curiosidade. Apezar da comedia ter tido u m a execução brilhantíssima, r a r a s pessoas a conheciam bem, pois tendo sido levada no Pedro II, a vastidão do theatro fazia com que se perdessem todas as phrases, pronunciadas a meia voz, que morriam pelo caminho, antes de vencerem a considerável distancia que as separava dos espectadores. • Essa comedia é uma obra p r i m a no seu genero, tão bem feita e tão s a t u r a d a de espirito, que fará sempre successo, q u a l quer que seja a interpretação que l h e derem. Assim,ainda que a companhia do Sant'A n n a , pelo habito das magicas, não désse u m a interpretação muito fina, a comedia agradou, mantendo-se a plateia em constante h i l a r i d a d e . Vasques, deu-nos uma boa victima das sogras, tirando muito partido de a l g u m a s situações e obrigando o publico a rir, a bom rir. Herminia, como m u l h e r e m u l h e r coquette, não quiz dar á sua physionomia, os traços de uma cara de sogra. Suas feições s y m p a t h i c a s não se casavam muito com os seus actos ferozes. D'ahi não ter tirado do seu papel todo o partido que podia tirar. Cynira Polonio foi muito bem. Deu-nos u m a ingénua, meiga, candida, uma perfeita cecein. Peixoto, um pouquinho exagerado, mas impagavel. Mattos, sempre correcto. Colás, muito á vontade no seu papel. Finalmente : u m a peça de grandes effeitos humoristicos e desempenhada de modo a a g r a d a r bastante. Parabéns ao Heller, e uma salva de palmas á íroupe do San t'Anna. A comedia repetir-se-ha todos estes dias, offerecendo assim óptima occasião a todos de passarem u m a noite divertidissima. E' aproveitarem. BINOCULO. Typ. J . Barbosa & O., r. da Ajuda n 81 Of i c h M V t i n l'o p l u S j 'o o -t n a s t \ ^ Í S Í N V C if^vsajVM . ** ^ r- Mter w m iW I V ; Á . ... • • çspnví «SS, 5 V- I w V. | % ... V \ - . - fV» ^ J S i n s : - ; F• - . . ' fr £ >* Í3L*' . . . tf* k C > >t V" : vc/ vp. i3^ ... - f: 3 H r w í t n s w i p r t P j p/O pi c o m m t r c i o J J l i x t m n i t l l U c j t f í h í n f e i v os l p t f l i m i t i * f i l o , c p t r r w n c e i s CfLiij p ^ U j w f n m l j pi^ ftronfjofo, t l h s t w m l i V i ; o i t h n c J e u , fi f i o d l pis j u s t e i s c h i c j H V Á r t c l h i u p i c m s Y H S f i o . d o i