Você não vê, mas está lá
por Marcelo Rezende
Conjunto A , 2008 (chapas de MDF com desenhos de padrões recortados a laser)
exibido na exposição Mão Dupla, SESC Pinheros, SP
Pensar as possibilidades da arquitetura para a arte (ou da arte para a
arquitetura) tem sido uma atitude constante nas obras e ações de Lucia
Koch. Arquitetura, aqui, significa menos a construção de um objeto como
uma cerca sobre um terreno, formando um quintal do que uma estratégia
para a ocupação do espaço. Em Lucia, as "ocupações" podem-se dar das
mais diferentes maneiras, sendo a luz e a cor sua matéria-prima essencial.
Mas a esses dois elementos muitas vezes ela soma um outro, que, para o
espectador de suas criações, é sempre uma experiência espantosa: a
invisibilidade, como em Conjunto A, um trabalho realizado para a exposição
Mão Dupla, em São Paulo. Ser visto parece ser uma exigência inescapável
da arte. Um "visto" que não se restringe apenas à visão, mas a uma
percepção real. A obra de arte é percebida pelo público e se realiza
plenamente a partir do instante em que existe para aquele que a observa, a
ouve, interage com ela. Lucia Koch, em Conjunto A, propõe um pequeno
www.luciakoch.com
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curto-circuito nessa relação. Sua obra pode ser vista, mas não percebida, e
mesmo o contrário pode ocorrer. Lucia usou a parede de vidro da unidade do
Sesc Pinheiros e nela instalou um conjunto de chapas de MDF (placas de
fibra de madeira usadas no artesanato) com padrões desenhados por ela e
depois cortados a laser. São formas que se apossam da arquitetura do lugar,
se confundem com ela, tornando- se mesmo diante das outras obras que
compõem a exposição um objeto tão intrusivo quanto integrado. Enquanto se
desloca da mostra Mão Dupla, se apropria do edifício alterando o ambiente.
Conjunto A é uma peça que, aparentemente estática, está, conceitualmente
(e fisicamente, pelas alterações de luz sobre a madeira desenhada), em
constante movimento.
Publicado na Revista Bravo, junho de 2008
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