INSTITUTO DE CIÊNCIAS DE SAÚDE FUNORTE/SOEBRAS Alex Antônio Maciel de Oliveira INFLUÊNCIA DO DESIGN DO IMPLANTE E DA INTERFACE IMPLANTEABUTMENT NA MANUTENÇÃO DA CRISTA ÓSSEA PERIIMPLANTAR Contagem 2009 Alex Antônio Maciel de Oliveira INFLUÊNCIA DO DESIGN DO IMPLANTE E DA INTERFACE IMPLANTEABUTMENT NA MANUTENÇÃO DA CRISTA ÓSSEA PERIIMPLANTAR Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Implantodontia do ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO CONTAGEM, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista. ORIENTADOR: Prof. MS. Marcelo C. Gonçalves Contagem 2009 RESUMO A manutenção da crista óssea periimplantar é considerada essencial para o tratamento implantodôntico, do ponto de vista funcional e estético, entretanto a perda precoce da crista óssea tem sido observada ao redor da porção perimucosa dos implantes dentários por décadas. Há evidências de que a quantidade de perda óssea é diferente nos distintos desenhos de implantes e determinadas características têm se mostrado bastante eficazes na tentativa de eliminar ou, pelo menos, minimizar esta perda. O objetivo deste trabalho é apresentar as características do design dos implantes e da interface implante-abutment eficazes na manutenção da crista óssea periimplantar. A metodologia proposta é a revisão da literatura científica e análises de casos clínicos acerca do tema proposto. Após a revisão bibliográfica, fica claro que a causa da perda prematura da crista óssea é multifatorial e vem sendo muito discutida, entretanto as conseqüências clínicas desta perda não trazem dúvidas de que a Implantodontia, desde o diagnóstico, plano de tratamento, estágios cirúrgicos e protéticos, deve se concentrar em sua eliminação. No atual momento da Implantodontia, as principais características do design dos implantes e da interface implante abutment que parecem ser mais eficazes na manutenção da crista óssea periimplantar são tratamento de superfície em todo o corpo do implante, inclusive no módulo da crista do implante; módulo da crista do implante com angulação superior a 20°; utilização de componentes protéticos de diâmetro reduzido em relação à plataforma do implante (preferencialmente de interface cônica) e posicionamento da interface implante-componente protético 4 mm subgengival para respeito às distâncias biológicas. ABSTRACT The maintenance of crestal bone is considered essential for the treatment with implants, from a functional and aesthetic, but the early loss of bone crest has been observed around the mucosal portion of dental implants for decades. It has been observed that the amount of bone loss is different in different designs of implants and certain features has been very effective in trying to eliminate or at least minimize this loss. The objective of this work is to present the characteristics of the design of implants and implant-abutment interface effective in maintaining of crestal bone. The proposed methodology is a review of scientific literature and analysis of clinical cases on the theme. After the review, it is clear that the cause of premature loss of bone crest is multifactorial and has been much discussed, but the clinical consequences of this loss does not bring doubt that the Implantodontics, since the diagnosis, treatment plan, surgical and prosthetic training should focus on their elimination. At the current time of Implantodontics, the main features of the design of implants and implant abutment interface that appear to be more effective in maintaining peri-implant bone crest are the surface throughout the body of the implant, including the crest of the implant module, the module crest of the implant with more than 20 ° angle, use of prosthetic components of reduced diameter in relation to the platform of the implant (preferably of conical interface) and placement of the implant-abutment interface 4mm subgingival to relate to biological distances. LISTA DE FIGURAS Figura 1. O espaço biológico periimplantar..................................................................9 Figura 2. Comparação dente x implante....................................................................10 Figura 3. Sondagem periodontal.........................................,,,....................................10 Figura 4. Sondagem periimplantar...................................,,,.......................................10 Figura 5. Reabsorção óssea em busca das distâncias biológicas.....,,,.....................11 Figura 6. Desaparecimento das papilas entre implantes devido à reabsorção óssea..........................................................................................................................11 Figura 7. Comprometimento estético devido à perda da papila entre implantes.......12 Figura 8. Aspecto radiográfico da remodelação óssea após fixação do abutment....13 Figura 9. Aspecto clínico da perda da papila entre implantes....................................13 Figura 10. Macroestrutura dos implantes dentários...................................................15 Figura 11. Implante com superfície coronária polida.................................................16 Figura 12. Implantes de superfície usinada, tratada e tratada com micro-roscas, respectivamente.........................................................................................................17 Figura 13. Implante com falsas roscas em seu terço coronário.................................18 Figura 14. Conceito Platform Switching™ (mudança de plataforma) em implantes de hexágono externo.......................................................................................................19 Figura 15. Emergência do componente protético no centro do implante...................20 Figura 16. Tecido mole de melhor qualidade devido à maior faixa de tecido conjuntivo sobre a plataforma do implante.................................................................21 Figura 17. O implante Astra Tech ST (Single Tooth).................................................22 Figura 18. Aspecto clínico e radiográfico de manutenção da crista óssea periimplantar...............................................................................................................23 Figura 19. Seqüência clínica de reabilitação unitária com implante de interface protética cônica..........................................................................................................24 Figura 20. Aspecto clínico inicial do incisivo lateral superior esquerdo.....................27 Figura 21. Radiografia periapical inicial do incisivo lateral superior esquerdo...........28 Figura 22. Modelo de gesso para confecção do guia cirúrgico e da coroa provisória....................................................................................................................28 Figura 23. Preparo do modelo de gesso até a broca 2.0 e confecção do guia em silicona........................................................................................................................29 Figura 24. Vista vestibular do guia de silicona em posição........................................29 Figura 25. Vista oclusal do guia de silicona em posição............................................29 Figura 26. Face estética da provisória em acrílico.....................................................30 Figura 27. O implante friccional kopp.........................................................................30 Figura 28. Extração atraumática do dente 22............................................................31 Figura 29. Dente 22 extraído......................................................................................31 Figura 30. Guia cirúrgico em posição.........................................................................32 Figura 31. Preparo do alvéolo cirúrgico......................................................................32 Figura 32. Implante Kopp® 3,75 x 13 mm instalado 4 mm abaixo da margem gengival .....................................................................................................................28 Figura 33. Munhão I 3,5 x 13mm................................................................................33 Figura 34. Munhão I personalizado no análogo.........................................................34 Figura 35. Prova do munhão I personalizado em boca..............................................34 Figura 36. Adaptação da provisória com perfil de emergência adequado................34 Figura 37. Cimentação extra-oral da coroa provisória...............................................35 Figura 38. Remoção dos excessos de cimento..........................................................35 Figura 39. Adaptação da provisória em boca.............................................................35 Figura 40. Ajuste oclusal............................................................................................36 Figura 41. Rx pós-operatório imediato.......................................................................36 Figura 42. Rx pós-operatório imediato mostrando componente protético reduzido em relação à plataforma do implante...............................................................................37 Figura 43. Rx após 6 meses com manutenção da crista óssea periimplantar..........37 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7 2 OBJETIVOS..............................................................................................................3 2.1 GERAL.........................................................................................................3 2.2 ESPECÍFICOS.............................................................................................3 3 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................................4 3.1 A CRISTA ÓSSEA PERIIMPLANTAR........................................................4 3.2 CAUSAS DA PERDA ÓSSEA PERIIMPLANTAR.......................................7 3.3 CARACTERÍSTICAS DO DESIGN DOS IMPLANTES E DA INTERFACE IMPLANTE-ABUTMENT EFICAZES NA MANUTENÇÃO DA CRISTA ÓSSEA PERIIMPLANTAR............................................................................................10 3.3.1 Design dos implantes...........................................................10 3.3.1 Interface implante-componente protético.............................13 4 RELATO DE CASO................................................................................................21 4.1 AVALIAÇÃO DO PACIENTE E PLANEJAMENTO DO CASO.................21 4.2 ETAPA CIRÚRGICA.................................................................................25 4.3 ETAPA PROTÉTICA................................................................................28 4.4 CONTROLE POSTERIOR.......................................................................31 5 DISCUSSÃO...........................................................................................................34 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................36 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................38 1 INTRODUÇÃO Os implantes dentários foram responsáveis por uma verdadeira revolução na Odontologia contemporânea. Desde que o conceito de osseointegração foi descrito em 1969, a ciência e a tecnologia dos implantes dentários tem passado por muitos avanços. O sucesso em longo prazo dos implantes osseointegrados, tanto em pacientes total quanto parcialmente edêntulos, tem sido vastamente demonstrado na literatura (ADELL et al., 1981, 1990; VAN STEENBERGHE et al., 1990; LEKHOLM et al., 1999). Inicialmente, o uso dos implantes osseointegrados se restringia às regiões anteriores de arcos totalmente edêntulos, devolvendo ao paciente o componente funcional, não sendo a estética um fator preponderante. Com a evolução da técnica, os implantes passaram a ser indicados para regiões com ausências dentárias parciais e unitárias, necessitando de condições ideais apresentadas pelos tecidos ósseo e mucoso para o alcance de bons resultados estéticos, o que é cada vez mais exigido pelos pacientes. Existem limites biológicos ao redor dos implantes que devem ser respeitados para que haja preservação da arquitetura gengival e sua manutenção em longo prazo. Um fator reconhecido como limitante da estética é o nível ósseo na região candidata ao implante. O reconhecimento da possibilidade de reconstruções ósseas visando otimização estética em determinados casos trata-se de um passo importante na curva de aprendizado com a terapia implantar, fato este que imputa critérios estéticos na análise de sucesso dos implantes. A distância adequada entre implantes; entre implante e dente e a quantidade de osso no aspecto vestibular dos implantes passam a assumir papel importante na previsibilidade de manutenção da papila gengival e da margem mucosa vestibular em regiões estéticas (GRUNDER et al.2005). De acordo com BAUMGARTEN (2005), a estabilidade da crista óssea periimplantar em longo prazo é considerada essencial para o tratamento implantodôntico, do ponto de vista funcional e estético. MISCH (2006) afirma que a perda precoce da crista óssea periimplantar é um fenômeno de significância clínica e numerosas explicações têm sido propostas, na tentativa de definir as causas desse problema. Existem algumas teorias que procuram explicar o fenômeno da perda óssea periimplantar (MISCH, 2006). Dentre elas, cabe mencionar o efeito do acúmulo de biofilme bacteriano na interface entre implante e o pilar protético. De acordo com OH et al. (2002), existem alguns fatores etiológicos plausíveis para a perda da crista óssea e dentre eles, destacam-se alguns aspectos relativos ao desenho do implante e à interface implante-componente protético. Tem sido observado que a quantidade de perda óssea é diferente nos distintos desenhos de implantes (MISCH, 2006). Segundo BROGGINI et al (2003), a ausência de uma interface implanteabutment (microgap) na crista óssea está associada à redução de inflamação periimplantar e a uma mínima perda óssea. Os implantes que utilizam um componente protético reduzido em relação ao diâmetro da plataforma do implante (microgap distante da crista óssea) também parecem ser capazes de preservar o nível ósseo periimplantar (BAUMGARTEN et al., 2005). Assim sendo, a determinação da causa primária da perda óssea prematura da crista ao redor dos implantes dentários é importante para se evitar tal ocorrência, melhorar a saúde do implante a longo prazo, e melhorar as taxas de sucesso dos implantes e, assim, o sucesso da prótese (MISCH, 2006). Dentro deste contexto, torna-se muito importante o estudo das características do design dos implantes e da interface implante-abutment eficazes na manutenção da crista óssea periimplantar, tendo em vista o alcance de benefícios funcionais e estéticos. 2 OBJETIVOS 1.1 GERAL: Apresentar as características do design dos implantes e da interface implanteabutment eficazes na manutenção da crista óssea periimplantar. 1.2 ESPECÍFICOS: Descrever a anatomia periimplantar em sua porção cervical Apresentar as principais causas da perda precoce da crista óssea periimplantar 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 A CRISTA ÓSSEA PERIIMPLANTAR A interface implante-tecidos moles é constituída de três zonas bem delimitadas: o epitélio sulcular, o epitélio juncional e o tecido conjuntivo periimplantar. O epitélio sulcular é uma extensão não-queratinizada do epitélio bucal, sendo contíguo ao epitélio queratinizado em sua porção coronária e com o epitélio juncional em sua parte apical. O epitélio juncional está em contato estreito com a superfície do implante, sendo uma barreira biológica importante para o sucesso da terapia implantar. O tecido conjuntivo se interpõe sempre entre o cume da crista óssea e a porção apical do epitélio. A integridade do tecido conjuntivo é de grande importância para prevenir a migração apical do epitélio e conseqüente manutenção da crista óssea periimplantar (DONATH et al.,2003). Figura 1. O espaço biológico periimplantar Um implante, diferentemente de um dente natural, não possui fibras conjuntivas na área do tecido conjuntivo inserido. A sondagem periimplantar penetra no sulco, na inserção do epitélio juncional, e na maior parte da área de inserção conjuntiva (MISCH, 2006). Figura 2. Comparação dente x implante Figura 3. Sondagem periodontal Figura 4. Sondagem periimplantar Após a instalação dos implantes dentais e a remodelação óssea inicial, observa-se uma área de transmucosa ao redor dos implantes submersos ou não submersos de 3 a 4 mm sobre o tecido ósseo que é ocupada pelo epitélio juncional e pelo tecido conjuntivo. (SCHWARZ et al., 2008). Em um estudo com cães, BERGLUNDH e LINDHE (1996) sugeriram que após a exposição do implante ao meio bucal e sua entrada em função, uma aderência da mucosa ao pilar protético é necessária para proteger a osseointegração, e que alguma reabsorção óssea poderá ocorrer para acomodar uma dimensão apropriada de mucosa. Figura 5. Reabsorção óssea em busca das distâncias biológicas Uma certa quantidade de reabsorção óssea periimplantar foi e ainda é considerada fisiológica. Dentre os critérios de êxito para os implantes osseointegrados, universalmente aceitos, ALBREKTSSON et al. (1986) descrevem que a perda óssea não deve exceder 1 mm durante o primeiro ano e 0,2 milímetros por ano, após o primeiro ano de utilização dos mesmos. A reabsorção óssea pode se manifestar sob diversos aspectos. Em casos mais graves, pode levar à perda completa da osseointegração e ao fracasso da terapia. Nas situações mais freqüentes, pode haver um comprometimento estético, tais como alterações dos tecidos moles, alongamento da coroa clínica, desaparecimento das papilas e a exposição da cinta metálica dos componentes protéticos, fatores estes que podem levar a falhas estéticas, especialmente importantes na região anterior (BELCASTRO et al.,2008) . Figura 6. Desaparecimento das papilas entre implantes devido à reabsorção óssea Figura 7. Comprometimento estético devido à perda da papila entre implantes SHIMPUKU et al. (2003) afirmam que, uma vez que a perda óssea inicial tenha ocorrido, após o tratamento protético ela pode aumentar, levando eventualmente à falha do tratamento com implantes. De acordo com MISCH (2006), é prudente diminuir a perda precoce do osso da crista, a fim de manter um ambiente local favorável à saúde periimplantar. 3.2 CAUSAS DA PERDA ÓSSEA PERIIMPLANTAR A perda óssea em implantes dentais pode ser classificada como inicial ou tardia. A perda inicial ocorre na região da crista óssea. Estudos têm demonstrado que a qualidade óssea, a quantidade de gengiva inserida, a sobrecarga oclusal, a resposta ao trauma cirúrgico, a presença de microgap na interface implanteabutment, a contaminação bacteriana, a exposição precoce do implante ao meio bucal antes da cirurgia de segundo estágio, o restabelecimento do espaço biológico e o módulo da crista do implante são possíveis fatores que influenciam nessa perda óssea inicial. (TOLJANIC et al. ,1999; OH et al., 2002; CHUNG et al., 2007; TAWIL, 2008; BOURI et al., 2008). A estabilidade dos tecidos periimplantares é resultado de um equilíbrio entre as forças funcionais e a reação das estruturas de suporte, sendo que a remodelação óssea pode ser uma expressão positiva em resposta aos estímulos mecânicos (TAWIL, 2008). Segundo BERGLUNDH et al. (1991), a fixação do abutment ao implante leva a uma perda óssea de 0,5 a 1mm, ocasionada pela formação de tecido conjuntivo apicalmente a esta conexão. Figura 8. Aspecto radiográfico da remodelação óssea após fixação do abutment Figura 9. Aspecto clínico da perda da papila entre implantes LEONARDO et al. (2008) compararam in situ as modificações ocorridas na crista óssea alveolar induzidas por implantes imediatos e as induzidas por dentes naturais, ambos preparados para suportarem dispositivos protéticos situados sobre a margem óssea cervical, sem carga oclusal. No grupo I, após a extração de 12 pré- molares inferiores de 4 cães adultos, foram instalados implantes do Sistema Branemark (MK III TiU RP 4,0 x 11,5 mm) e coroas totais acrílicas. No grupo II, os pré-molares foram submetidos a preparos convencionais, sendo cimentadas coroas totais metálicas. Após 16 semanas da instalação das coroas (38 semanas após a extração), a reabsorção da crista óssea alveolar foi avaliada in situ, por meio da mensuração das peças, com paquímetro digital. Para obtenção das medidas do grupo I, os pontos de referência foram a plataforma de assentamento do implante e a crista óssea alveolar e para o grupo II, foram a posição do limite cervical da prótese e o início da crista óssea. Os valores obtidos foram comparados pelo teste de Mann-Whitmey com nível de significância de 5%. A média de reabsorção da crista óssea foi de 1,528 + 0,459mm para o grupo I e de 1,570 + 0,263mm para o grupo II, não havendo diferença estatisticamente significante (p=0,880) entre os grupos. Os resultados do presente estudo permitiram concluir que a reabsorção perimplantar inicial que ocorre na crista óssea resulta de um padrão de remodelação necessário para o estabelecimento do espaço biológico na área, assim como ocorre nos dentes naturais preparados para receberem próteses convencionais. TOLJANIC et al. (1999), através de um estudo biométrico de 275 implantes, afirmam que pacientes com um ou mais sítios com exposição precoce do implante ao meio bucal antes da cirurgia de segundo estágio apresentam uma probabilidade de perda óssea 3,9 vezes maior do que pacientes sem exposição do implante. A perda precoce da crista óssea, 1mm além da interface implante-abutment, geralmente é causada por estresses excessivos no sítio perimucoso ou no desenho da crista do implante (OH et al., 2002). SHIMPUKU et al. (2003) relatam que o polimorfismo genético da BMP-4 também tem sido identificado como um possível fator de risco para a perda precoce da crista óssea ao redor dos implantes. BAUMGARTEN (2005) afirma que o nível ósseo interproximal de um implante dental está relacionado a diversos fatores, mas principalmente à junção entre o implante e o abutment. Em implantes de hexágono externo, a junção se estende à superfície lateral do implante e, geralmente, ocorre uma remodelação óssea aproximadamente 2mm apicalmente a esta junção. A presença de microgap na interface implante-abutment favorece o acúmulo de bactérias, com conseqüente inflamação e perda óssea, portanto é importante minimizar a presença bacteriana neste local (DIBART et al. 2005). 3.3 CARACTERÍSTICAS DO DESIGN DOS IMPLANTES E DA INTERFACE IMPLANTE-ABUTMENT EFICAZES NA MANUTENÇÃO DA CRISTA ÓSSEA PERIIMPLANTAR. 3.3.1 Design dos implantes O principal objetivo do desenho funcional de um implante dentário é distribuir e dissipar as cargas biomecânicas para otimizar a função da prótese implantossuportada. Tem sido observado que a quantidade de perda óssea é diferente de acordo com a densidade óssea e com o desenho do implante utilizado. Atualmente, na tentativa de se alcançarem os objetivos clínicos desejados, existem mais de 90 desenhos de corpo de implante disponíveis (MISCH, BIDEZ, 2006). A macroestrutura dos implantes osseointegrados pode ser dividida em três partes: ápice ou câmara, corpo e módulo da crista ou cervical (BERNARDES et al., 2008). Figura 10. Macroestrutura dos implantes dentários O módulo da crista do implante representa a transição do corpo do implante para a restauração ou intermediário protético. Esta região do implante não é projetada inicialmente para suportar carga, como já evidenciado por perda óssea como uma ocorrência comum, independente do desenho ou da técnica. Ao contrário, é uma zona de transição para a estrutura que suporta carga no corpo do implante. De fato, a perda óssea foi observada com tanta freqüência, que muitos módulos de crista de implantes são projetados para reduzir o acúmulo de placa bacteriana em caso de eventual perda óssea (MISCH & BIDEZ, 2006). LINKOW & CHERCHEVE (1970) propuseram que a porção mais coronária do implante deveria possuir superfície polida para prevenir o acúmulo de biofilme bacteriano, conceito este adotado pela maioria dos fabricantes. Estudos de elemento finito têm demonstrado que os picos de estresse, especialmente os oriundos de forças de tração, estão concentrados na crista óssea ao redor do colar dos implantes (KITH, 1988; MIJER, 1993). Figura 11. Implante com superfície coronária polida A partir do momento que o osso cortical é 65% mais susceptível a forças de tração especulado que quando a comparado perda óssea a forças perimplantar compressivas, pode ser tem atribuída a sido uma deficiente distribuição dos estresses na interface entre o osso cortical e o colar polido dos implantes. Muitos estudos longitudinais têm mostrado uma reabsorção óssea até a primeira rosca neste tipo de implante após um ano de função mastigatória (OH et al. 2002). De acordo com TAL et al. (1999), em implantes convencionais tipo Branemark, sempre que possível, o implante deve ser inserido na crista óssea ou acima dela para evitar o aumento da profundidade do sulco, relacionada à perda do osso da crista durante a colocação do abutment. Este conceito de se fabricar implantes com a porção cervical polida pode ter alguma valia se a perda da crista óssea não puder ser contida. Entretanto, nesse caso, o próprio desenho do módulo da crista contribui para a perda da crista óssea. Um módulo da crista paralelo e liso resultará em estresses de cisalhamento nessa região, tornando difícil a manutenção do osso. Um módulo de crista angular com mais de 20°, com uma textura de superfície que aumenta o contato ósseo, resultará em um leve componente compressivo benéfico ao osso contíguo e diminuirá o risco de perda óssea (MISCH & BIDEZ, 2006). SHIN et al. (2006) realizaram um estudo em que avaliaram radiograficamente o nível ósseo periimplantar após 1 ano em implantes com diferentes designs em sua porção cervical (1 com superfície usinada, 1 com superfície tratada e 1 com superfície tratada e com micro-roscas). Os implantes com superfície usinada apresentavam a junção implante-abutment distante da crista óssea, entretanto foram os que mostraram maior quantidade de perda óssea. Baseado neste resultado, os autores concluíram que apenas distanciar o microgap da crista óssea não é suficiente para evitar sua perda, e que mudanças adicionais devem ser feitas no design do implante, tal como o uso de micro-roscas e uma superfície tratada. Figura 12. Implantes de superfície usinada, tratada e tratada com micro-roscas, respectivamente. ZECHNER et al. (2004) compararam a quantidade de perda óssea marginal entre implantes com superfície lisa e superfície tratada e concluíram que uma perda óssea significativamente menor foi observada nos implantes de superfície tratada. Além disso, implantes com plataforma de diâmetros iguais ao corpo do implante e com roscas com tratamento de superfície no terço cervical auxiliam na manutenção e estabilidade do tecido ósseo a longo prazo após carregamento oclusal, sem favorecer a progressão da doença periimplantar (NORTON, 2006). Microssulcos horizontais (falsas roscas) no terço coronário dos implantes podem resultar em perda de estabilidade primária, pois este tipo de sulco não promove contato íntimo do implante dentário com o tecido ósseo (BERNARDES et al., 2008). Figura 13. Implante com falsas roscas em seu terço coronário 3.3.2 Interface implante-componente protético Os implantes osseointegrados são bem suportados pelo tecido ósseo, porém, se a interface implante-componente protético não for precisa, pode se tornar uma fonte de complicações microbiológicas e biomecânicas. O acúmulo de biofilme bacteriano na superfície dos implantes inicia uma reação na mucosa perimplantar, que se caracteriza pelo estabelecimento de uma resposta inflamatória. Essa resposta inflamatória pode ficar restrita à mucosa (mucosite) ou se estender ao tecido ósseo (perimplantite), podendo comprometer a manutenção da osseointegração (ZITZMANN et al., 2002). A micro-infiltração na interface implante-componente protético pode permitir a passagem de fluidos e bactérias, independente do sistema de implante. A incidência de cargas e o desaparafusamento do pilar protético podem aumentar a infiltração. Em contrapartida, a ótima adaptação dos componentes, o mínimo micromovimento do pilar protético e o ótimo planejamento protético e oclusal são fatores que podem prevenir ou minimizar a microinfiltração (GROSS, ABRAMOVICH, WEISS, 1999). Os espaços formados entre os componentes de implantes podem exercer uma influência negativa sobre as condições dos tecidos circunjacentes. A colonização bacteriana na porção interna de implantes osseointegrados devido à infiltração foi demonstrada em diversos sistemas (QUIRYNEN, VAN STEENBERGHE, 1993; JANSEN, CONRADS, RICHTER, 1997; GUINDY et al., 1998; PIATTELLI et al., 2001). Considerando-se que a desadaptação entre o implante e o pilar protético influencia os níveis da crista óssea, é possível que o tamanho da desadaptação e a subseqüente invasão bacteriana da interface exerçam um importante efeito na saúde perimplantar. Sistemas de implantes que apresentam interface implantecomponente protético em sua configuração estarão associados com mudanças biológicas, independentemente do tamanho da desadaptação (KING et al., 2002). O nível da perda óssea interproximal em implantes de hexágono externo pode diminuir devido a um sistema conhecido com Platform Switching™ (mudança de plataforma), onde um abutment com plataforma restauradora menor do que o diâmetro da plataforma do implante é colocado assim que o implante é exposto à cavidade bucal (CARPENTIERI, 2005). Essa conexão posiciona a interface implante-prótese (I-P) mais centralmente ao eixo do implante, afastando-a da crista óssea (BAUMGARTEM et al., 2005). Figura 14. Conceito Platform Switching™ (mudança de plataforma) em implantes de hexágono externo BAUMGARTEN et al. (2005) afirmam que a habilidade dos implantes de plataforma expandida em reduzir ou eliminar o perda da crista óssea traz significantes benefícios clínicos funcionais e estéticos. LAZARRA e PORTER (2006) sugeriram que a proximidade do infiltrado inflamatório do pilar com a crista óssea pode explicar, em parte, as observações biológicas e radiográficas de perda óssea ao redor de implantes de duas peças expostos ao meio bucal e reabilitados proteticamente. Esses autores sugeriram que a mudança de plataforma afasta o infiltrado inflamatório da crista óssea, fazendo com que ocorra pouca ou nenhuma remodelação óssea perimplantar. Esta hipótese é baseada em pesquisas que demonstram que a contaminação bacteriana na interface protética parece provocar uma resposta inflamatória e conseqüente perda óssea (ERICSSON et al., 1995; PERSSON et al., 1996). A emergência do componente protético no centro do implante proporciona uma situação favorável para a manutenção da crista óssea periimplantar e dos tecidos moles saudáveis, devido a uma maior faixa de tecido conjuntivo sobre a plataforma do implante (LAZARRA e PORTER, 2006). Figura 15. Emergência do componente protético no centro do implante Figura 16. Tecido mole de melhor qualidade devido à maior faixa de tecido conjuntivo sobre a plataforma do implante Os benefícios desta solução são funcionais, na medida em que mantêm o nível ósseo, e também estéticos, devido à manutenção dos tecidos moles periimplantares (GARDNER, 2005). O menor diâmetro do componente protético permite um aumento do volume dos tecidos moles periimplantares, constituindo uma barreira eficaz contra a penetração bacteriana e migração apical do epitélio do sulco, que conduziriam a uma reabsorção óssea (BELCASTRO et al, 2008). As principais indicações do implante de plataforma modificada são: em locais em que seja possível colocar um implante largo, mas o espaço protético é limitado; em áreas estéticas onde a preservação da crista óssea é essencial e em locais onde implantes curtos serão utilizados (BAUMGARTEN et al.,2005). Para se conseguir este efeito, a colocação do implante deve ser feita ao nível ou abaixo da crista óssea. É importante que o abutment reduzido seja colocado no dia em que o implante é exposto ao meio bucal, não devendo ser utilizado após o estabelecimento do espaço biológico ao redor da interface implante/abutment convencional (BAUMGARTEN et al.,2005). HÜRZELER et al. (2007), através de um estudo prospectivo, observaram que implantes com abutment de diâmetro reduzido em relação à sua plataforma limitam a reabsorção da crista óssea e preservam o nível ósseo periimplantar. Nesse estudo, mesmo 1 ano após a restauração final dos implantes, diferenças estatisticamente significantes na altura óssea periimplantar foram observadas quando se compararam implantes com abutments de plataforma modificada e implantes reabilitados com componentes protéticos convencionais, ou seja, abutment com mesmo diâmetro da plataforma do implante. PUCHADES-ROMAN, PALMER e PALMER (2000) realizaram um estudo para avaliar se o projeto do implante, especialmente da interface implantecomponente protético, poderia influenciar as dimensões e a saúde dos tecidos periimplantares, incluindo o nível da crista óssea. Quinze implantes unitários Brånemark e 15 Astra Tech, que estiveram em função por um mínimo de dois anos, foram avaliados em relação ao acúmulo de biofilme bacteriano, profundidade de sondagem e sangramento a sondagem, sendo então comparados ao dente contralateral. Os implantes Brånemark apresentaram profundidade de sondagem significativamente maior do que os implantes Astra Tech e o primeiro contato ossoimplante mais próximo da interface I-P foi encontrado nos implantes Astra Tech. Os autores concluíram que o projeto e a localização da interface I-P influenciaram o espaço biológico. NORTON (2006) também aponta excelentes resultados de manutenção da crista óssea com implantes Astra Tech ST (Single Tooth). Este implante tem um design baseado em estudos que demonstram que a interface cônica entre o implante e o abutment (que proporciona melhor estabilidade biomecânica e um melhor contorno gengival), as micro-roscas na porção cervical e a superfície rugosa podem contribuir para a redução do stress na crista óssea, quando os implantes são colocados em função oclusal. http://www.astratech.com/Library/716917.pdf Figura 17. O implante Astra Tech ST (Single Tooth) Um estudo in vitro foi realizado por DIBART et al. (2005) com o objetivo de testar se o selamento promovido pelo travamento cônico usado na conexão implante-componente protético seria capaz de prevenir a invasão por microorganismos orais. Em uma primeira fase, dez conjuntos formados por implante e pilar protético que não utiliza parafusos, do sistema Bicon® (Boston, MA) foram imersos em um caldo de bactérias contendo Actinobacillus actinomycetemcomitans, Streptococcus oralis e Fusobacterium nucleatum por 24 horas. Os pilares foram então separados dos implantes e a presença de bactérias avaliada por meio de microscopia eletrônica de varredura. Nenhuma bactéria foi detectada no interior dos implantes testados. Na segunda fase, os pilares foram inoculados com uma pequena gota de um gel com bactérias e montados nos implantes. Esses conjuntos foram incubados em um caldo nutriente estéril por 72h e amostras recolhidas para avaliar a presença de bactérias. Novamente, nenhuma bactéria foi detectada no meio nutriente ou nas placas de Agar. O sistema locking taper (travamento cônico) demonstrou in vitro ser selado hermeticamente contra a invasão bacteriana. A conexão protética representa uma área de importância crucial no contexto da reabilitação implantossuportada, uma vez que pode ser considerada como uma região de menor resistência do ponto de vista tanto mecânico, quanto biológico e estético. A falha mecânica dos elementos estruturais (desaperto dos parafusos protéticos) é o maior inconveniente das conexões tipo aparafusadas. A interface cônica apresenta vantagens em comparação com a união por parafuso, uma vez que elimina os problemas de afrouxamento ou fratura, garantindo uma solução protética de maior confiabilidade. Sem entrar em questões relacionadas com o contexto mecânico da prótese, de especial importância são aquelas relacionadas com aspectos biológicos, incluindo a manutenção da crista óssea, que também são afetados pelo tipo de interface protética. O deficiente selamento marginal, típico das conexões aparafusadas, associdado a micromovimentos na interface implantecomponente protético e à transmissão de carga máxima à crista, poderia ser responsável pelo padrão típico de remodelação óssea nesta região, que é observada nos implante convencionais que fornecem conexões tipo rosca. Por outro lado, o excelente selamento marginal típico das interfaces cônicas, bem como a falta de micromovimentos, associados à transmissão da carga em todo o corpo do implante, podem ser fatores relevantes nos melhores resultados de manutenção da crista óssea observados sistematicamente nestes tipos de implantes (BELCASTRO et al, 2008). Figura 18. Aspecto clínico e radiográfico de manutenção da crista óssea periimplantar Neste contexto, parece particularmente interessante o estudo de ERICSSON et al. (2005), realizado em cães, no qual, usando uma conexão convencional parafusada ao implante, era observada constantemente a presença de um infiltrado inflamatório em torno da prótese, o que foi apontado como a possível causa da reabsorção óssea de cerca de 1 mm, o que normalmente ocorre após um ano de função. Muito interessante também é o estudo de TENENBAUN et al. (2003), também realizado em cães, mas usando sempre um implante com conexão protética de interface cônica. Este estudo evidencia a ausência de infiltrado inflamatório nos tecidos moles peri-implantares. A ausência de micromovimentos na interface protética associada com a redução drástica do microgap, como foi demonstrado por estudos de WENG et al. (2004, 2005), DIBART et al. (2005) e ECCELLENTE et al. (2002), permite a manutenção óssea periimplantar a um nível quase idêntico ao do momento de instalação do implante. Assim, se as necessidades estéticas exigirem, existe a possibilidade de um posicionamento do implante abaixo da crista óssea, com pleno respeito à biologia óssea e aos tecidos periimplantares. A ausência de infiltrado inflamatório periimplantar determina igualmente um elevado nível de saúde dos tecidos moles com impacto significativo para a estética gengival da prótese implantossuportada (BELCASTRO et al., 2008). Figura 19. Seqüência clínica de reabilitação unitária com implante de interface protética cônica A mudança de plataforma em implantes convencionais, produzida artificialmente pela redução do diâmetro do componente protético em relação à plataforma, ou pelo aumento do implante comparado ao diâmetro do componente, não é útil para manter a crista óssea, uma vez que não permite uma redução de microgaps e micromovimentos, variáveis muito importantes para a manutenção da crista óssea (BELCASTRO et al., 2008). 4 RELATO DE CASO 4.1 AVALIAÇÃO DO PACIENTE E PLANEJAMENTO DO CASO Paciente M.E.V.S., sexo feminino, 50 anos de idade, foi encaminhada por seu cirurgião-dentista para avaliação do dente 22, com diagnóstico de reabsorção radicular externa. Ao exame clínico, observou-se que os tecidos periodontais apresentavam-se em boas condições, com manutenção das papilas, boa faixa de mucosa ceratinizada e ausência de sinais clínicos de infecção. Figura 20. Aspecto clínico inicial do incisivo lateral superior esquerdo A radiografia periapical do dente 22 mostrou tratamento endodôntico satisfatório e presença de pino intra-radicular de fibra de vidro. O exame radiográfico comprovou a presença de reabsorção externa e área radiolúcida na face distal do terço médio da raiz sugestiva de perfuração radicular. Constatou-se também que, após a extração do referido elemento dentário, haveria remanescente ósseo suficiente para a fixação de um implante. Em razão das condições clínicas gerais e locais favoráveis demonstradas pela paciente, bem como das suas necessidades funcionais e estéticas, foi indicado a remoção do dente, instalação de um implante submetido a carga protética imediatamente à sua instalação. Figura 21. Radiografia periapical inicial do incisivo lateral superior esquerdo Concluídas as avaliações e indicações para o caso, foram realizadas moldagens de ambas as arcadas dentárias da paciente e posterior confecção do guia cirúrgico. Figura 22. Modelo de gesso para confecção do guia cirúrgico e da coroa provisória Figura 23. Preparo do modelo de gesso até a broca 2.0 e confecção do guia em silicona Figura 24. Vista vestibular do guia de silicona em posição Figura 25. Vista oclusal do guia de silicona em posição Figura 26. Face estética da provisória em acrílico Baseado na avaliação óssea quantitativa da área, foi indicada a instalação de um implante Kopp ® (Sistema Friccional, Curitiba, PR, Brasil) de 3,75mm de largura por 13 mm de comprimento. Os implantes Kopp ® friccionais funcionam através do princípio de contato mecânico entre duas superfícies justapostas com ângulo muito pequeno (1.25°). Existe união direta de metal com metal, onde não há rotação e invasão bacteriana. O abutment é acionado dentro do implante ocorrendo uma alta pressão de retenção (KOPP, 2009). Os implantes Kopp ® apresentam superfície texturizada porosa por jateamento e dupla subtração ácida escalonada, além de diversas características favoráveis à manutenção da crista óssea periimplantar, tais como: ausência de superfície polida; presença de roscas até o terço cervical; módulo da crista do implante com angulação de 60°; selamento bacteriano entre o implante e o abutment; interface protética cônica com ausência de parafusos para fixação da prótese e utilização de componentes protéticos reduzidos em relação à plataforma do implante (Platform Switching™) (KOPP, 2009). Figura 27. O implante friccional kopp 4.2 ETAPA CIRÚRGICA Inicialmente, foram realizadas anestesias terminal infiltrativa e palatina. Em seguida, foi realizada a sindesmotomia, com o intuito de liberar as fibras gengivais e dar acesso ao ligamento periodontal, o qual foi descolado com a finalidade de não romper o contorno gengival e manter a papila em posição, evitando perda óssea e deslocamento do arcabouço côncavo regular existente. Com isso, conseguiu-se realizar a extração atraumática do elemento dentário. A partir daí, iniciou-se a osteotomia, avaliando-se sempre a posição ideal do implante associada à posição da futura prótese. Figura 28. Extração atraumática do dente 22 Figura 29. Dente 22 extraído Figura 30. Guia cirúrgico em posição Figura 31. Preparo do alvéolo cirúrgico A seqüência cirúrgica das perfurações seguiu o protocolo convencional de diâmetros progressivos, atentando-se para o posicionamento mesiodistal e vestibulolingual do implante. A osteotomia foi iniciada com a broca lança na posição ideal. Posteriormente, foi utilizada broca de 2,0 mm com indicador de direção a fim de se verificar a necessidade de ajustes na orientação do implante. Seguiu-se com a broca 2,8 e posterior instalação do implante. A fixação foi realizada em 20 RPM, mantendo o implante em torno de 4 mm abaixo da futura margem gengival. O travamento foi realizado com torque de 50 N/cm, o que revelou estabilidade primária suficiente para a utilização da filosofia de carga imediata. Figura 32. Implante Kopp® 3,75 x 13mm instalado 4mm abaixo da margem gengival 4.3 ETAPA PROTÉTICA Concluída a etapa cirúrgica, preparou-se o Munhão I 3,5 x 13mm ® com disco de óxido de alumínio e broca carbide 1557, utilizando-se o suporte de laboratório kopp® + conexão I para laboratório kopp ®, de forma a personalizar o abutment ao nível gengival, interproximal e oclusal. Após o preparo do componente protético, o provisório foi confeccionado com resina acrílica, tendo o perfil de emergência baseado na linha marginal gengival. Figura 33. Munhão I 3,5 x 13mm Figura 34. Munhão I personalizado no análogo Figura 35. Prova do munhão I personalizado em boca Figura 36. Adaptação da provisória co perfil de emergência adequado Após a prova do munhão e da provisória em boca, procedeu-se o ajuste oclusal. Em seguida, o conjunto foi removido para a cimentação extra-oral. Após remoção dos excessos de cimento fora da boca, o conjunto munhão-provisória foi readaptado e ativado em boca com o bate conexão e prótese kopp ®. Figura 37. Cimentação extra-oral da coroa provisória Figura 38. Remoção dos excessos de cimento Figura 39. Adaptação da provisória em boca Figura 40. Ajuste oclusal 4.4 CONTROLE POSTERIOR Concluídos os procedimentos clínicos e estando o implante em condições adequadas de estética e função, o paciente foi liberado para utilização do mesmo. O controle clínico foi realizado em intervalos regulares de 07, 15, 30, 45 dias, 02, 03, 04 e 06 meses. O controle radiográfico foi realizado imediatamente após a instalação do implante, após a instalação da prótese, após 30 dias, 04 e 06 meses. Figura 41. Rx pós-operatório imediato Figura 42. Rx pós-operatório imediato mostrando componente protético reduzido em relação à plataforma do implante Figura 43. Rx após 6 meses com manutenção da crista óssea periimplantar Os aspectos clínicos apresentados após a instalação do implante e da prótese foram satisfatórios, sem a ocorrências de sinais ou sintomas que indicassem qualquer tipo de irregularidade no processo de osseointegração. Transcorrido um período de 180 dias, a paciente relatou satisfação estética e estado funcional do implante semelhante aos demais dentes da cavidade bucal. Posteriormente, avaliações. controles longitudinais serão efetuados para futuras 5 DISCUSSÃO A perda precoce da crista óssea tem sido observada ao redor da porção perimucosa dos implantes dentários por décadas. As hipóteses atuais para a causa dessa perda variam do rebatimento do retalho durante a cirurgia, preparo da osteotomia, posição do microgap entre o implante e o abutment, micromovimento dos componentes do abutment, invasão bacteriana, estabelecimento da distância biológica e fatores de estresse (TOLJANIC et al., 1999; OH et al., 2002; CHUNG et al., 2007; TAWIL, 2008; BOURI et al., 2008). Tem sido observado que a quantidade de perda óssea é diferente nos distintos desenhos de implantes e determinadas características têm se mostrado bastante eficazes na tentativa de eliminar ou, pelo menos, minimizar esta perda (MISCH & BIDEZ, 2006). Implantes de superfície tratada têm perda óssea significativamente menor quando comparados aos implantes de colar usinado (ZECHNER et al.,2004). Em relação ao design do módulo da crista do implante, alguns autores observam bons resultados de manutenção da crista óssea periimplantar em implantes com micro-roscas no terço cervical (SHIN et al., 2006), outros, entretanto, afirmam que esse design pode ocasionar perda de estabilidade primária e conseqüente perda óssea, pois este tipo de sulco não promove contato íntimo do implante dentário com o tecido ósseo (PADOVAN et al., 2008). Um módulo de crista angular com mais de 20°, com uma textura de superfície que aumenta o contato ósseo, resultará em um leve componente compressivo benéfico ao osso contíguo e diminuirá o risco de perda óssea (MISCH & BIDEZ, 2006). O microgap entre o implante e o componente protético exerce uma influência negativa sobre as condições dos tecido periimplantares (QUIRYNEN, VAN STEENBERGHE, 1993; JANSEN, CONRADS, RICHTER, 1997; GUINDY et al., 1998; PIATTELLI et al., 2001). O afastamento desse microgap da região da crista óssea, através da redução do diâmetro do componente protético em relação à plataforma do implante, reduz ou elimina a perda óssea, trazendo significantes benefícios clínicos funcionais e estéticos (BAUMGARTEN, 2005.) O menor diâmetro do componente protético permite um aumento do volume dos tecidos moles periimplantares, constituindo uma barreira eficaz contra a penetração bacteriana e migração apical do epitélio do sulco, que conduziriam a uma reabsorção óssea (LAZARRA e PORTER, 2006). Entretanto, alguns autores afirmam que apenas a redução do diâmetro do componente protético em relação à plataforma do implante não é suficiente para eliminar a perda óssea. É de extrema importância, não só o distanciamento, mas também a eliminação do microgap e de micromovimentos na interface protética (BELCASTRO et al., 2008). O deficiente selamento marginal, típico das conexões protéticas do tipo parafusadas, associado a micromovimentos na interface implante-componente protético e à transmissão de carga máxima à crista, pode ser responsável pelo padrão típico de remodelação óssea nesta região (BELCASTRO et al., 2008). Por outro lado, a interface protética cônica, que oferece excelente selamento marginal, ausência de micromovimentos, melhor padrão de transmissão de carga e emergência do componente protético no centro do implante proporciona uma situação totalmente favorável para a manutenção da crista óssea periimplantar (WENG et al.,2004, 2005; DIBART et al., 2005 e ECCELLENTE et al., 2002). . 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após esta revisão bibliográfica, fica claro que a causa da perda prematura da crista óssea vem sendo muito discutida, entretanto as conseqüências clínicas desta perda não trazem dúvidas de que a Implantodontia, desde o diagnóstico, plano de tratamento, estágios cirúrgicos e protéticos, deve se concentrar em sua eliminação. Além disso, torna-se evidente que apenas distanciar o microgap da crista óssea não é suficiente para evitar sua perda, e que mudanças adicionais devem ser feitas no design do implante. Essa discussão impulsiona o esforço científico e o desenvolvimento tecnológico na direção da implementação de novas abordagens cirúrgicas e projetos de implantes que minimizem esse efeito, tendo como objetivo a redução do fenômeno de perda óssea marginal perimplantar e seu potencial risco no comprometimento dos resultados clínicos em regiões estéticas. No atual momento da Implantodontia, as principais características do design dos implantes e da interface implante abutment que parecem ser mais eficazes na manutenção da crista óssea periimplantar são: 1. tratamento de superfície em todo o corpo do implante, inclusive no módulo da crista do implante; 2. módulo da crista do implante com angulação superior a 20°; 3. utilização de componentes protéticos de diâmetro reduzido em relação à plataforma do implante (preferencialmente de interface cônica); 4. posicionamento da interface implante-componente protético 4mm subgengival para respeito às distâncias biológicas. Os implantes friccionais Kopp ® (Sistema Friccional, Curitiba, PR, Brasil) possuem todas as características mencionadas acima e têm se mostrado bastante eficazes na manutenção da crista óssea periimplantar nos mais diversos cenários clínicos, entretanto outros estudos devem ser realizados para a comprovação científica desta evidência. Além dos aspectos descritos acima, é importante ressaltar que existem outros fatores que influenciam a manutenção óssea periimplantar. Alguns estão relacionados com a técnica cirúrgica, tais como a preservação da cortical, em especial a vestibular, ou a escolha do diâmetro correto implante, que deve necessariamente ser cercado por pelo menos 1 mm de osso em todo o perímetro. Do mesmo modo, a aplicação de técnicas cirúrgicas avançadas, como a expansão horizontal da crista ou instalação de implantes imediatos pós-extração, podem ser seguidas por uma remodelação óssea da crista acima da média. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADELL, R.; LEKHOLM, U.; ROCKLER, B. et al. A 15-year study of osseointegrated implants in the treatment of the edentulous jaw. Int J Oral Surg. 1981; 10: 387-416. ADELL, R.; ERIKSSON, B.; LEKHOLM, U.; BRÅNEMARK, P.I.; JEMT, T. Longterm follow-up study of osseointegrated implants in the treatment of totally edentulous jaws. Int J Oral Maxilliofac Implants. 1990 Winter;5(4):347-59. ALBREKTSSON, T.; ZARB, G.; WORTHINGTON, P.; ERIKSSON, A.R. The long-term efficacy of currently used dental implants: a review and proposed criteria of success, Int J Oral Maxillofac Implants 1986 Summer; 1(1):11-25. BAUMGARTEN, H. A new implant design for crestarl bone preservation: initial observations and case report Pract Proced Aesthet Dent 2005;17(10):735-740. 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