REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP
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GÊNEROS TEXTUAIS NA PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE TEXTOS
EM LÍNGUA INGLESA
MARACCI, Christiane da Cruz1
MARECO, Raquel Tiemi Masuda2
O presente relato surgiu da materialização de uma atividade proposta na
disciplina de “Gêneros Textuais” do curso de pós-graduação em Ensino de Língua
Inglesa. Após a preparação da atividade, durante discussões com o grupo de pósgraduação, surgiram alguns questionamentos: a atividade estaria adequada ao públicoalvo? Os objetivos de aprimorar as habilidades de escrita em língua inglesa seriam
atingidos com a referida atividade?
Diante das questões levantadas em torno da efetividade da proposta, surge a
necessidade de aplicação da mesma em um contexto real utilizando os gêneros textuais
como instrumento de aprendizagem.
Parte-se do pressuposto que, atualmente, a prática das habilidades de leitura e
produção de texto em inglês nas escolas de idiomas têm se tornado um fator
preocupante, visto que as dificuldades apresentadas na produção textual estão
diretamente relacionadas ao não reconhecimento do gênero proposto.
Como aporte teórico para o referido relato, é importante considerar a existência
de diferentes abordagens relacionadas a gêneros textuais, bem como destacar, como
precursor de todas elas, Bakhtin (1997, p. 284), que afirma:
Uma dada função (científica, técnica, ideológica, oficial, cotidiana) e
dadas condições, específicas para cada uma das esferas da
comunicação verbal, geram um dado gênero, ou seja, um dado tipo de
enunciado, relativamente estável do ponto de vista temático,
composicional e estilístico.
Deste modo, sendo o gênero relativamente estável, segundo Bakhtin (1997),
deve-se considerar a natureza e as particularidades de gênero referentes à variedade do
discurso.
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Para Swales (2005, p.111), da abordagem sócio-retórica, “Os gêneros teriam um
valor sociocultural na medida em que atendem as necessidades sociais e espirituais nos
grupos sociais; é importante para o pesquisador perceber como a comunidade entende
os gêneros”.
Embora Hassan seja de outra abordagem, a sócio-semiótica, em relação a essa
temática, os pontos de vista de ambos são bastante semelhantes:
Cada ‘contexto de situação’ é um sistema de ‘relevâncias
motivadoras’ para o uso da linguagem, de forma que uma determinada
atividade humana em andamento e a interação entre os participantes
são mediadas pela linguagem. (HASSAN, 1996 apud MOTTA-ROTH
& HEBERLE, 2005)
Sinopse, de variados filmes, foi o gênero abordado na atividade proposta, a fim
de aproximar a realidade sócio-cultural do aluno ao contexto de sala de aula. Assim, a
escolha de uma sala com 15 alunos (13 a 15 anos), de nível intermediário de uma escola
de idiomas, localizada na cidade de Presidente Prudente – SP, se deu em virtude da
adequação do gênero proposto à faixa etária dos participantes, com o objetivo de
aprimorar a habilidade de escrita, por meio de reconhecimento e estruturação do gênero.
É importante salientar que a aula, com duração de 80 minutos, foi ministrada na
língua-alvo, sendo dividida em 3 partes:
1. Iniciou-se com uma discussão sobre filmes e o motivo das escolhas dos
mesmos, induzindo-os a citar, entre vários motivos, a leitura da sinopse.
2. Posteriormente, o docente apresentou à sala uma sinopse, destacando sua
estrutura. A sala foi dividida em 5 grupos de 3 alunos, e foi distribuída a
cada grupo uma sinopse diferente, para que pudessem identificar a estrutura
do gênero presente em seus textos.
3. Como avaliação da efetividade da atividade, foi solicitado, aos alunos, que
produzissem uma sinopse. Para tanto, o docente apresentou os elementos
presentes no gênero sinopse, tais como: Título, personagens e estilo de filme
(comédia romântica).
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Grande parte dos alunos (12) completou com êxito a atividade, escrevendo
textos coerentes com a proposta. Somente três alunos apresentaram dificuldades no
transcorrer da segunda parte da aula, identificação da estrutura e como consequência,
não conseguiram realizar, com sucesso, a atividade proposta na terceira parte da aula,
elaboração de sinopse a partir de elementos dados.
Levando em consideração que a primeira parte da aula (Warm-up) é definitiva
para a aceitação ou não da mesma, pode-se considerar que a proposta foi bem aceita
pela turma, uma vez que os alunos puderam expor suas próprias experiências e perceber
a similaridade de suas preferências, por meio de uma atividade comunicativa, na qual o
professor conduziu a sala ao assunto a ser abordado, expondo suas experiências e
instigando sobre as experiências dos próprios alunos.
Motivados pelo warm-up, a segunda parte da aula fluiu de maneira natural e
espontânea, contribuindo definitivamente para que a próxima etapa da aula pudesse ser
realizada com sucesso. O professor apresentou a sinopse de um filme, apontando para a
estrutura do texto, como um passo a passo. Posteriormente, o docente apresentou uma
segunda sinopse com a estrutura fora da ordem apresentada. Desse modo, a sala pode
reorganizar a estrutura da sinopse e responder algumas questões relacionadas à mesma,
com o propósito de perceber as informações principais, sobre o filme, que devem conter
em uma sinopse.
Para concretizar a estrutura do gênero textual proposto, a sala foi dividida em
grupos, cada grupo recebeu uma sinopse de um tipo de filme diferente, e teve por
objetivo identificar e destacar a estrutura já apresentada.
Em todas as etapas da aula houve a participação de todos os alunos, porém,
somente com a realização da terceira etapa, foi possível perceber, quantitativamente a
aprendizagem/dificuldade dos alunos. Na terceira etapa foram apresentados aos alunos
alguns dados, informações principais sobre o filme, reconhecidos na etapa anterior.
Com esses dados os alunos produziram uma sinopse de acordo com a estrutura que já
havia sido apresentada.
Diante dos dados obtidos com a avaliação, pode-se concluir que o objetivo da
aula foi alcançado com sucesso, pois em um grupo de 15 alunos, 80% conseguiu
realizar todas as etapas da aula, sem grandes dificuldades, produzindo textos coerentes
com a proposta.
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Os resultados da aplicação da aula vieram como resposta às questões levantadas
pelo grupo de pós-graduação, apresentadas no inicio do presente relato. Assim, diante
dos resultados obtidos, é possível considerar que a atividade proposta foi adequada ao
público escolhido e que é possível desenvolver a habilidade de escrita em língua inglesa
utilizando gêneros textuais como instrumento de aprendizagem, especialmente quando a
escolha do gênero textual a ser trabalhado é coerente com os interesses dos alunos. É
importante levantar preferências e características do grupo, respeitando suas
heterogeneidades, para desse modo propor uma atividade condizente com a idade,
realidade cultural, social, étnica de cada grupo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail
Mikhailovitch. Estética da Criação Verbal. Maria Ermantina G. G. Pereira (trad.). 2
ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HEMAIS, Bárbara; BASI-RODRIGUES, Bernardete. A proposta sócio-retórica de John
M. Swales para o estudo de gêneros textuais. In: MEURER, J. L.; MOTTA-ROTH, D.
(orgs.). Gêneros: teoria, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
MOTTA-ROTH, Désirée; HEBERLE, Viviane M. O conceito de “Estrutura Potencial
do Gênero” de Ruqayia Hasan. In: MEURER, J. L.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.).
Gêneros: teoria, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
1
Bacharel em Turismo pela Faculdade de Presidente Prudente (UNIESP). Pós-graduanda em
Ensino de Língua Inglesa na Unoeste.
2
Licenciada em Letras – Português/Inglês e Pós-graduanda em Ensino de Língua Inglesa na
Unoeste.
Relato de Experiência Recebido em 06 de abril de 2009
Aprovado em 17 de abril de 2009
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