equipamentos Teste SDA da Uemis Mais que um computador de mergulho? Há pouco mais de um ano que se encontra à venda no mercado o computador de mergulho desenvolvido pela Uemis – Underwater Equipment Made In Switzerland. A designação atribuída ao novo instrumento é Scuba Diver Assistant (SDA) e pretende reflectir as suas inovadoras características. 64 PORTUGAL DIVE Texto e Fotos: Detlef Charné e Ulrike Figueiredo (Tubarão Madeira) A ideia do nome surgiu entre dois mergulhadores, um deles dispondo de vinte anos de experiência no desenvolvimento de computadores de mergulho, e o outro com o gosto de explorar exaustivamente todas as capacidades da internet. O objectivo era criar um instrumento de muito fácil utilização e que fosse capaz de partilhar dados com a internet. Principais características Novidade absoluta é a utilização da tecnologia OLED (Organic Light Emitting Diode). Trata-se de um semi-condutor orgânico com as seguintes vantagens: permite criar um forte contraste (10.000:1) entre o fundo negro e as várias cores das indicações, um ângulo de visão até 170º sem iluminação de fundo, o que reduz o consumo de energia para um valor mínimo. A bateria tem três maneiras diferentes de ser carregada: • através das células solares integradas; • um cabo USB que liga a um computador ou qualquer carregador com essa característica ou • ligada a uma tomada, passível de ser usada em quase todo o mundo, uma vez que inclui adaptadores para os EUA, UK e AUS. A utilização das três teclas, que podem ser movidas para a esquerda/direita ou para cima/baixo, faz com que a navegação nas páginas do menu seja rápida e intuitiva. Texto e números podem ser introduzidos através de um teclado virtual incorporado. A solução de prender o SDA ao braço com uma fita de 3,5 cm de largura e extrema robustez, fácil de abrir e fechar com uma mão só, revelou-se muito prática e segura. Todos os SDA podem comunicar durante a imersão com até seis instrumentos iguais até uma distância de 2 a 3 metros, a fim de se poder consultar as informações actuais sobre os tempos de fundo ou descompressão, o consumo de ar e os alertas activos dos nossos buddies. Uma função com relevância especial para os instrutores. No caso de se optar pelo modelo com emissor integrado, o mergulhador é permanentemente infor- mado sobre o seu consumo de ar e o restante tempo de mergulho disponível (RGT). Podem ser ligados a um SDA até três emissores, preparados para a utilização de todo o tipo de misturas de gases e até uma pressão de 350 bares. A pilha do emissor pode ser trocada pelo próprio mergulhador após receber do aparelho o respectivo aviso. O modelo em que se baseiam os cálculos de descompressão foi designado ‘Uemis ZH-L8+’ e é uma derivação do muito utilizado e aprovado modelo ‘ZH-L8’ criado pelo professor Bühlmann. Utiliza as informações sobre o consumo de ar e sobre a temperatura da água para completar os dados sobre a descompressão propriamente dita. E aqui foram considerados dois aspectos: a formação de bolhas de azoto no sistema arterial na sequência de uma demasiado rápida redução da pressão, bem como as sempre existentes micro-bolhas em cada imersão. A velocidade permitida de subida varia em função da profundidade e vai desde os 20m/minuto abaixo de 40 metros até 7m/minuto nos últimos metros antes de chegar à superfície. O utilizador pode definir vários níveis de segurança, bem como a inclusão do ‘deepstop’. O modo de altitude é activado automaticamente. O SDA regista os dados de até Pontos Fortes •C lareza do display e iluminação • Organização dos menus e utilização das teclas • Indicação do limite de altitude • Pulseira Pontos Fracos • Logbook digital apenas disponível na internet e não transponível para o computador pessoal 2000 imersões em intervalos de apenas cinco segundos e pode cumprir integralmente as funções de logbook. O perfil de mergulho é apresentado no ecrã e as restantes informações podem ser acrescentados, uma vez que está preparado para a introdução de texto. Para incluir informações mais completas está disponível a ligação a uma base de dados no portal da Uemis na internet. Para além das informações gerais acessíveis a todos os mergulhadores, como por exemplo sobre centros e locais de mergulho, cada um cria no ‘myUemis’ os seus registos individuais, protegidos por uma palavra-passe. Assim em qualquer local com acesso à internet o logbook digital pode ser consultado ou preenchido. É igualmente através)) Resultados SDA com ou sem emissor 1º mergulho SDA com emissor Descompressão sem deco Patamar de segurança5m/3min ao fim de 39 min Saturação 22,5 horas Inibição de voo 14,14 horas Limite de altitude 1.321 metros SDA sem emissor sem deco 5m/3min ao fim de 39 min 20,2 horas 12,31 horas 1.689 metros 2º mergulho SDA com emissor Descompressão sem deco Patamar de segurança5m/3min ao fim de 37 min Saturação 28,55 horas Inibição de voo 17,46 horas Limite de altitude 1.639 metros SDA sem emissor sem deco 5m/3min ao fim de 37 min 25,43 horas 17,08 horas 2.130 metros A utilização do emissor leva a mais três horas de saturação calculada, apenas a mais 38 minutos de inibição de voar e coloca um limite de altitude 491 metros mais baixo. PORTUGAL DIVE 65 ))A utilizar um SDA ligado a dois emissores O nosso plano era utilizar o SDA com vários gases, idealmente com três misturas diferentes: • Travelmix; • Bottommix e • Decomix. Mas infelizmente foi-nos enviado pela Uemis um emissor a menos, o que nos permitiu mergulhar apenas com duas misturas de gases: Nitrox 32 como Bottommix em duas garrafas de 7 litros e Nitrox 62 para a descompressão. A fim de poder testar com segurança o comportamento do SDA em situações tais como a não observância de ‘deepstops’ ou patamares de descompressão, foi introduzido no SDA Nitrox 21, isto é ar comprimido normal, para o Bottommix. Descemos então para o destroço do Pronto, permanecendo a profundidades entre os 28,9 e 32,6 metros. Ao fim de 13 minutos apareceu o primeiro aviso (foto 1): restam dois minutos de tempo de fundo. No entanto só ao fim de 26 minutos iniciamos a subida e como tínhamos activado a função de ‘deepstop’ apareceu o aviso de parar 1 minuto nos 15 metros (foto 2). Ignorámos de propósito esta recomendação, o que originou logo nos 14,6 metros o aviso amarelo com a seta para baixo (foto 3). De repente apareceu um novo aviso amarelo, este completamente inesperado: subir e efectuar um patamar a 9 metros, RGT = 0 (foto 4), e imediatamente a seguir a vermelho: terminar mergulho, RGT = 0 (foto 5). Sem ar? Não podia ser! Como ainda tínhamos mais de 90 bares na garrafa só se podia tratar de um erro (mais tarde consultámos os técnicos da Uemis, que afirmaram ter-se tratado de uma avaria de um dos emissores, muito provavelmente resultante dos múltiplos envios a que estão sujeitos os instrumentos teste). Continuamos então a nossa subida. Nos 13 metros fomos alertados para a mudança de garrafa (foto 6). Efectuámos então a troca para o decogás Nitrox 62, fizemos o patamar de 1 minuto nos 9 metros e subimos à velocidade de 7m/minutos até aos 3 metros, onde foi necessário ficar 6 minutos. O tempo total do mergulho foi de 41 minutos: 26 minutos de fundo mais 15 minutos de subida e patamares. Sem o Nitrox 62 teríamos tido mais 9 minutos de descompressão. Os mergulhos com mudança de gás podem ser efectuados sem os emissores, na maior parte dos casos a solução preferida no mergulho técnico. 66 PORTUGAL DIVE deste portal que o software do SDA poderá ser actualizado. Durante os nossos testes o SDA recebeu o último upgrade do software, a versão Firmware v 1.20, que engloba as seguintes opções: a paragem de segurança pode ser definida a partir dos 6 metros e no profundímetro pode ser activado um cronómetro. Dentro de pouco tempo surgirá a capacidade de utilização com trimix e para até seis misturas de gases e seis emissores. e finalmente com dois emissores. Tanto durante mergulhos meramente recreativos, nocturnos, em grutas e naufrágios, como nas aulas práticas com os nossos alunos e utilizando diferentes misturas de gases, testámos as funcionalidades acima descritas. Começar a utilizar o SDA é extremamente fácil. Embora seja sempre aconselhável a leitura das instruções completas (um pequeno livrinho em cartolina incluído no estojo do SDA fornece as Uma vez na água o mais surpreendente é a nitidez de todas as informações no display, uma verdadeira mais-valia em ambientes escuros como grutas, naufrágios ou nos mergulhos nocturnos Se tiverem curiosidade em conhecer o logbook digital, podem consultar os dados de oito dos mergulhos na página www.uemis.org No canto superior direito deve ser inserido no campo de procura: “tubarao madeira”. A experiência Durante o verão tivemos a oportunidade de experimentar dois SDA no Tubarão Madeira, cedidos pela Uemis a fim de fazer testes práticos e relatar os resultados aos leitores da Portugal DIVE. Efectuámos mais de uma centena de mergulhos na ilha da Madeira, a profundidades entre 10 a 40 metros e em vários cenários possíveis, utilizando o SDA sem emissor, com apenas um principais indicações). Uma vez habituado às teclas e à maneira de navegar no menu, o acesso às várias opções é rápido e intuitivo. O único pequeno senão é o facto de não existir o português entre as línguas disponíveis, que são o inglês, francês, alemão, italiano e espanhol. O primeiro passo será de atribuir ao SDA o nosso nome, que passa a constar do canto superior esquerdo e que nos identifica perante os nossos buddies. A seguir deve ser verificado se as definições base do instrumento correspondem às nossas preferências e necessidades pessoais. Principal atenção merece aqui o tipo de gás utilizado, o tamanho da garrafa e o desejado nível de segurança. Uma vez na água o mais surpreendente é a nitidez de todas as informações no display, uma verdadeira mais-valia em ambientes escuros como grutas, naufrágios ou nos mergulhos nocturnos. As indicações são dadas em três cores: • verde - valores meramente informativos; • laranja - valores que se aproximam de algum dos limites definidos e • vermelho - situações de alerta, estas últimas completadas por um sinal sonoro. Os alertas vão desde o tempo de mergulho, pressão da garrafa e velocidade de subida aos patamares de descompressão e segurança. Esses avisos são dados não só em valores numéricos como também em gráficos de muito fácil interpretação e exigem a confirmação por parte do mergulhador, movendo uma das teclas. Todas as informações e gráficos que não constam do ecrã principal são facilmente consultados durante o mergulho, como por exemplo a profundidade máxima atingida ou os dados dos nossos buddies. As teclas são facilmente tocáveis, mesmo com luvas grossas. Em patamares mais longos, e pela novidade que ainda é, transformou-se numa espécie de brinquedo para os próprios e outros membros do grupo. Verificamos que uma carga completa de bateria fornece energia > suficiente para cerca de 6 a 8 imersões de uma hora, ao contrário das 8 a 10 horas indicadas pela Uemis, no entanto mais que suficiente para a sua normal utilização. O apoio dado pela célula fotovoltaica incorporada não nos pareceu muito relevante e nunca será suficiente para uma viagem com muitos mergulhos sucessivos, pelo que devemos ter sempre disponível a alternativa de ligar o SDA à corrente eléctrica. Tabela Comparação da profundidade indicada e do tempo de fundo calculado Uma avaliação da segurança No próximo teste tentámos esclarecer qual o acréscimo de segurança que proporciona a utilização do emissor face ao modelo básico. Colocamos então ao braço os dois SDA, ambos sem mergulho registado durante três dias e com as mesmas definições. Exagerámos um pouco ao inserir para o tamanho da garrafa 30 litros. Mas com esta simulação conseguimos atingir um consumo de ar calculado de 38 l/minuto e 44 l/minuto no 1º e 2º mergulho respectivamente, valores realistas para imersões com fortes correntes. Fizemos então primeiro 53 minuto a 25,6 m e ao fim de quatro horas de intervalo de superfície 46 minutos a 22,5 m. Comparando os valores dados pelo SDA com os valores dos nossos computadores pessoais, verificámos que existiam diferenças na profundidade medida que atingiam cerca de um metro na zona dos 30 metros. Fazendo a média das várias marcas, o SDA indica um pouco menos profundidade, o que resulta do facto de ele ser programável para água salgada enquanto os res- tantes aplicam uma média entre água do mar e água doce. Já o modelo de cálculo de descompressão pré-definido revela na zona mais procurada pelos mergulhadores amadores, entre os 20 e 30 metros, um perfil mais conservador, consequência directa do modelo de cálculo utilizado que divide o corpo humano em oito tipos de tecidos distintos, com velocidades de saturação diferentes. Considerando o tecido com o processo de saturação mais acelerado o SDA chega a tempos de fundo mais reduzidos e penalizações maiores em mergulhos sucessivos (ver tabela). Tudo somado somos da opinião que o SDA realmente acrescenta novas capacidades aos tradicionais computadores de mergulho. Trata-se sem dúvida de um topo-de-gama, o que obviamente tem o seu custo, que pode ser consultado em www.uemis.com\ shop. Cada um terá de avaliar se o seu perfil e tipo de mergulhos que costuma fazer exige ou justifica a quantidade de opções e informações disponíveis. Mas reconhecemos que é uma peça que nos podia simplesmente fazer perder a cabeça... PORTUGAL DIVE 67